Acessibilidade / Reportar erro

COMENTÁRIO: INTERNAÇÕES POR COLECISTITE E COLELITÍASE NO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL

COMENTÁRIOS

Caro Editor:

Lemos com interesse a pesquisa recentemente publicado por Nunes CE et al11. Nunes EC, Rosa RDS, Bordin R. Hospitalizations for cholecystitis and cholelithiasis in the state of Rio grande do Sul, Brazil. Arq Bras Cir Dig ABCD Braz Arch Dig Surg. 2016;29(2):77-80. e acreditamos que este é um estudo muito interessante considerando o quão prevalente é a doença calculosa da vesícula biliar na América Latina. No entanto, gostaríamos de fazer algumas observações, como há alguns aspectos que podem ser discutidos.

  1. Pode colecistite e colelitíase ser integradas no mesmo universo? Nós não acreditamos. A primeira é condição de emergência e requer, de acordo com seu estado no momento da admissão, tratamento médico anterior e cirurgia, que pode ser adiado e re-entrar em algum outro tempo; a segunda é admissão eletiva. Colecistite será mais propensa a ter mais hospitalizações do que colelitíase; solução cirúrgica diminui o número de hospitalizações.

  2. Os autores referem-se, como uma das variáveis ​​do estudo, o número total de hospitalizações, mas não é bem entendido; por isso que o indicador de "hospitalização/população em geral", como a diferença proporcional desta frequência relativa, é o mesmo que o número absoluto. É mais conveniente para medir a taxa específica de hospitalizações por faixa etária que faz a análise econômica da estadia hospitalar mais realista. Também é útil para medir a concentração de hospitalizações por caso e ajustá-lo por variáveis ​​que podem ser confusas, como status socioeconômico, escolaridade, poder de compra, educação nutricional, a adesão ao tratamento; o último é, ao mesmo tempo, influenciado pelo horário de trabalho, cultura alimentar, e a capacidade de decidir a refeição de casa. Essas variáveis ​​que poderiam ser intervenientes não estão sendo analisados ​​no estudo: o número de vezes de admissão e a internação. Para análise mais econômica atualizada, despesas médicas já não são feitas com base em um evento, mas a partir de um processo; por isso, é necessário diferenciar hospitalizações por caso de incidente para não confundir as hospitalizações dos casos prevalentes. Isso melhora a análise econômica e permite propor intervenções sobre a questão dos custos de hospitalização para colecistite e colelitíase.

  3. Em relação à gravidade da doença calculosa da vesícula biliar, os autores levantam a hipótese de que a gravidade estaria associada com as características antropométricas, distribuição da gordura corporal e limiar de dor; no entanto, neste ponto existem outras variáveis ​​que podem explicar as condições de severidade em pacientes que chegam aos serviços de emergência e estes são devido à outras variáveis, tais como a automedicação, o acesso aos serviços de saúde, idiossincrasias dos pacientes, entre outros, que muitas vezes envolvem atraso no atendimento hospitalar, com o consequente aumento da gravidade da colecistite.

  4. Em termos de mortalidade, ela foi elevada em idosos, provavelmente por estar associada à comorbidades, maior gravidade da doença na admissão hospitalar e menos reservas fisiológicas característica deste grupo de pacientes. Por outro lado, não houve nenhum critério de exclusão, o que significa que não foram misturados diagnósticos, tais como colangite, câncer da vesícula biliar, pancreatite aguda, entre outros. Além disso, a colecistectomia precoce nestes pacientes pode resultar em morbidade até 41% e mortalidade perioperatória de até 18%2.

  5. Considerando a média de tempo cirúrgico da colecistectomia aberta e laparoscópica, ela é reivindicada ser semelhante entre os idosos e os jovens; no entanto, devemos diferenciar entre operação eletiva ou de emergência para estes grupos de pessoas; sabe-se que os idosos têm aumento da presença de fatores de risco para a conversão de colecistectomia laparoscópica para laparotômica, como fibrose da parede da vesícula biliar devido à colecistite repetitivo que também provoca uma vesícula biliar retraída, aumento da probabilidade de síndrome de adesão pela história de operação anterior3.

  6. Houve restrição, pois o estudo não estabeleceu se a operação foi realizada no contexto de eletivo ou emergencial; o estudo refere-se ou distingue colecistite e colelitíase, de modo que pode aproximar-se indiretamente com distribuição de dados mais precisos, o que significa que os pacientes com colelitíase são candidatos a operações eletivas e os com doenças agudas - significando colecistite - serem operados de emergência. Análise a partir desse ponto de vista teria sido mais esclarecedora e não analisar como um todo. O estudo não classifica os pacientes de acordo com a sua gravidade, ou seja, colecistite aguda de grau I, II ou III de acordo com as diretrizes de Tóquio; portanto, não podemos dizer se o tratamento era precoce, tardio ou intermediário, o que pode afetar a mortalidade.

  7. Refere-se que houve grande despesa com crianças com menos de quatro anos que evoluíram com colelitíase ou colecistite, provavelmente devido à estranheza do pensamento de colelitíase como um diagnóstico neste grupo que exige novos estudos e um tratamento mais complexo do que nos adultos4 .

José Caballero

REFERENCES

  • 1
    Nunes EC, Rosa RDS, Bordin R. Hospitalizations for cholecystitis and cholelithiasis in the state of Rio grande do Sul, Brazil. Arq Bras Cir Dig ABCD Braz Arch Dig Surg. 2016;29(2):77-80.
  • 2
    Wang C-H, Wu C-Y, Yang JC-T, Lien W-C, Wang H-P, Liu K-L, et al. Long-Term Outcomes of Patients with Acute Cholecystitis after Successful Percutaneous Cholecystostomy Treatment and the Risk Factors for Recurrence: A Decade Experience at a Single Center. PloS One. 2016;11(1):e0148017.
  • 3
    Philip Rothman J, Burcharth J, Pommergaard H-C, Viereck S, Rosenberg J. Preoperative Risk Factors for Conversion of Laparoscopic Cholecystectomy to Open Surgery - A Systematic Review and Meta-Analysis of Observational Studies. Dig Surg. 2016;33(5):414-23.
  • 4
    Chhabra SK, Ahmed Z, Massey A, Agarwal S, Vij V, Agarwal B, et al. Laparoscopic cholecystectomy in a 2 year old male child with choleilithiasis and recurrent right hypochondrial pain: Case report and review of literature. Int J Surg Case Rep. 2016;26:142-5.

RESPOSTA

Caro Editor:

Em resposta aos comentários e questões levantadas para discussão por Caballero, Tresierra e Diaz, respeitando a mesma ordem de apresentação dos itens, temos a considerar que:

  1. Nosso foco abordado, das hospitalizações por colecistite (CID-10 K80) e colelitíase (CID-10 K81), foi considerando ambas como parte do mesmo universo de doença da vesícula biliar. Como a imensa maioria dos casos de colecistite é devido à obstrução do ducto biliar pelo aparecimento de cálculos biliares (colelitíase), pareceu-nos adequado apresentar em conjunto o panorama das internações por ambas as doenças.

  2. Concordamos que outras variáveis ​​podem ser incorporadas na análise. No entanto, a nossa fonte de dados foi o Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH / SUS, em Português). Este sistema de informação foi desenvolvido na década de 1980 com base no pagamento de todas as contas hospitalares do sistema público brasileiro. Este sistema é de utilização obrigatória por todos os prestadores de serviços no país e tem uma média de 11 milhões de internações por ano. Os dados são administrativos, secundários, e estão disponíveis ao público na internet. Dada a sua finalidade, a sua unidade de análise é a hospitalização e não o paciente. Devido à sua estrutura de banco de dados, carece de diversas variáveis, tais como o número de vezes de admissão dos pacientes, situação socioeconômica, nível educacional, poder de compra, educação nutricional, a adesão ao tratamento de cada paciente. Entendemos que na Tabela 2, apresentamos indicadores específicos por idade (admissões por 10.000 pessoas / ano).

  3. Na verdade, outras variáveis ​​poderiam explicar a gravidade da condição. Neste ponto, citamos apenas a referência de Peron, Schliemann e Almeida ("Compreender as razões para a recusa de colecistectomia em pacientes com colelitíase: como ajudá-los na sua decisão? ABCD Arq. Bras. Cir. Dig. 2014 Apr-Jun; 27 (2): 114-19").

  4. O SIH / SUS não tem dados sobre comorbidades de pacientes hospitalizados. No entanto, considerando que são cerca de 20.000 internações por ano para CID-10 K80 e K81, por um período de três anos, todos realizados pelo sistema público brasileiro no Rio Grande do Sul, entendemos que este número é representativo do perfil da população que se pretendeu apresentar.

  5. O presente estudo não teve como objetivo analisar as diferenças entre admissões ou de emergência eletivas, o que efetivamente poderia ser realizado.

  6. O SIH / SUS não dispõe de dados tais como a classificação dos pacientes de acordo com as diretrizes de Tóquio. Esses dados estão nos prontuários dos pacientes e não no banco de dados secundário que foi construído pelo poder público para todos os tipos de internação e não apenas colelitíase e colecistite.

  7. Estamos de acordo, mas como mencionado, o SIH / SUS não tem essas variáveis. Para obter tais dados seria necessário um estudo concebido para a utilização dos dados primários. Este não é o caso do nosso artigo, que utiliza dados secundários disponíveis publicamente na internet.

Finalmente, gostaríamos de agradecer aos comentários feitos. Eles contribuíram para um exame mais aprofundado do assunto em questão a partir de outras perspectivas.

Emeline C Nunes, Roger S. Rosa e Ronaldo Bordin

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Nov-Dec 2016

Histórico

  • Recebido
    21 Ago 2016
  • Aceito
    17 Out 2016
Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva Av. Brigadeiro Luiz Antonio, 278 - 6° - Salas 10 e 11, 01318-901 São Paulo/SP Brasil, Tel.: (11) 3288-8174/3289-0741 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revistaabcd@gmail.com