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Classificação do carcinoma diferenciado de tireóide baseada no prognóstico. Qual e quando usar?

CARTAS AO EDITOR

Classificação do carcinoma diferenciado de tireóide baseada no prognóstico. Qual e quando usar?

Pedro Weslley S. do Rosário

Departamento de Tireóide – Clínica de Endocrinologia e Metabologia da Santa Casa de Belo Horizonte, MG

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Pedro W.S. Rosário Centro de Estudos e Pesquisa da Clínica de Endocrinologia e Metabologia (CEPCEM) Av. Francisco Sales 1111, 5º andar, ala "D" 30150-221 Belo Horizonte, MG E-mail: cepcem.bhz@zaz.com.br

VÁRIAS CLASSIFICAÇÕES SÃO PROPOSTAS para o carcinoma diferenciado de tireóide (CDT) com base em variáveis independentes de prognóstico. A utilização de estadiamentos diferentes dificulta a comparação de resultados de publicações e, em parte, a aplicação plena dos achados em pacientes classificados de forma distinta. Apesar de alguns estudos demonstrarem diferenças na acurácia em situações específicas, de maneira geral estas classificações correlacionam muito bem com o prognóstico do CDT (1).

American Joint Committee on Cancer (AJCC) / Tumor Nodes Metastasis (TNM) (2), classificação mundialmente usada para os tumores malignos, é bem conhecida, tem ampla abrangência das variáveis implicadas no prognóstico do CDT, guardando uma correlação estreita com a evolução da doença (1,3,4). Apesar de imperfeições, esta é a forma de estadiamento atualmente recomendada (1,3,4) e que sugerimos como padronização aos diversos serviços em nosso país. A tabela 1 mostra o estadiamento do CDT pela AJCC/TNM.

Avaliamos 168 pacientes com CDT acompanhados por, pelo menos, 5 anos após a terapia inicial (tireoidectomia total seguida de radioiodoterapia em todos) e classificados pela AJCC/TNM em estadiamento I (qualquer T, qualquer N, M0 se <45 anos e T1N0M0 se >45 anos) em 62; II (metástases distantes se <45 anos e T2-3N0M0 se >45 anos) em 36; III (T4N0M0 ou qualquer T N1M0 em >45 anos) em 40; e IV (metástases distantes em >45 anos) em 30. A taxa de mortalidade e de pacientes livres de doença em 6,1 anos, em média, são apresentados na tabela 2.

Além do prognóstico, o estadiamento tem um papel importante na definição terapêutica e no seguimento dos pacientes após a terapia inicial. Sabemos que pacientes de baixo risco (estadiamento I se <45 anos e I e II se >45 anos) podem ser avaliados inicialmente apenas com a tireoglobulina sérica estimulada, tendo este marcador um alto valor preditivo negativo (5). E casos classificados como T1N0M0 não se beneficiam da radioiodoterapia pós-operatória, do ponto de vista de recorrência, aparecimento de metástases e mortalidade (4).

Na Santa Casa de Belo Horizonte, dos pacientes considerados de baixo risco e procedentes de diferentes serviços para a realização de varredura com radioiodo após o tratamento inicial, 70% apresentam Tg em hipotireoidismo <2ng/ml, dosada no momento da varredura, o que demonstra uma rotina ainda presente de solicitação conjunta de Tg e varredura durante o hipotireoidismo, o que aumenta desnecessariamente o custo da avaliação nestes casos. E, considerando que pacientes T1N0M0 não se beneficiam da radioiodoterapia, 16% dos casos tratados neste serviço, a princípio, não deveriam receber radioiodo, e a maioria foi tratada com altas doses de iodo 131 (3,7GBq). Schlumberger já havia chamado a atenção que cerca de 1/4 a 1/3 dos casos de CDT não tinham indicação de radioiodoterapia (6).

Defendemos que a classificação AJCC/TNM seja padronizada no CDT e, mais importante, seja aplicada na definição do tratamento inicial e seguimento dos pacientes, reduzindo custos e poupando-os de eventuais efeitos diversos.

REFERÊNCIAS

1. Brierley JD, Panzarella T, Tsang RW, Gospodarowick MK, O'Sullivan B. A comparison of different staging systems predictability of patient outcome. Thyroid carcinoma as an example. Cancer 1997;79:2414-23.

2. American Joint Committee on Cancer. Cancer Stating Manual, 5th ed. Philadelphia: Lippincott-Raven, 1997.

3. Mazzaferri EL. NCCN thyroid carcinoma practice guidelines. Oncology 1999;13 (suppl. 11A):391-442.

4. AACE/AAES medical/surgical guidelines for clinical practice: management of thyroid carcinoma. American Association of Clinical Endocrinologists. American College of Endocrinology. Endocrinol Pract 2001;7:202-20.

5. Mazzaferri EL, Robbins RJ, Spencer CA, Braverman LE, Pacini F, Wartofsky L, et al. A consensus report of the role of serum thyroglobulin as a monitoring method for low-risk patients with papillary thyroid carcinoma. J Clin Endocrinol Metab 2003;88:1433-41.

6. Schlumberger M. Use of radioactive iodine in patients with papillary and follicular thyroid cancer: towards a selective approach. J Clin Endocrinol Metab 1998;83:4201-3.

  • Endereço para correspondência

    Pedro W.S. Rosário
    Centro de Estudos e Pesquisa
    da Clínica de Endocrinologia e Metabologia (CEPCEM)
    Av. Francisco Sales 1111, 5º andar, ala "D"
    30150-221 Belo Horizonte, MG
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      27 Ago 2004
    • Data do Fascículo
      Jun 2004
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