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Achados oculares entre habitantes do Município de Pauiní e possível associação entre lesões corneanas e mansonelose na Amazônia

Ocular findings in Pauiní (Southwest of the Brazilian Amazon) and possible corneal lesions caused by Mansonella

RESUMO

Introdução:

A mansonelose causada por infestação pela microfilária é encontrada no Brasil em áreas da floresta amazônica (Amazônia, Roraima) e Mato Grosso. Sua patogenicidade é discutida e em oftalmologia é referida como possível causa de prurido ocular e conjuntivite. Alterações corneanas associadas Mansonella spp. não existem na literatura. O sudoeste do estado do Amazonas está entre as regiões do Brasil ainda sem registro oftalmológico, desconhecendo-se as suas necessidades e prioridades.

Objetivo:

Relatar os achados oftalmológicos dos habitantes do município de Pauiní (localizado a sudoeste do estado da Amazônia, a 915 km de Manaus, a beira do rio Purus) e apresentar as lesões corneanas encontradas, possivelmente relacionadas à Mansonella, bem como verificar a porcentagem de habitantes que necessitavam de óculos.

Pacientes e Métodos:

Em setembro de 1997, 524 moradores de Pauini foram submetidos a exame oftalmológico. Os óculos necessários foram doados, enviados e entregues aos moradores. Quatro pacientes foram submetidos à biopsia cutânea para pesquisa de oncocercose e outros quatro à venoclise para pesquisa de mansonelose.

Resultados:

As ametropias foram as alterações oftalmológicas mais freqüentes nesta população. Foi indicada a prescrição de óculos em 178 (33,59%) pacientes. Destes, 21 (4%) necessitaram correção apenas para longe, 104 (20%) apenas para perto e 53 (10%) para perto e para longe. Quarenta e nove pacientes apresentaram pterígio (9,35%) e 36 (6,90%) catarata levando a baixa visual importante. Cicatriz retiniana compatível com toxoplasmose no pólo posterior causando grande perda visual esteve presente em pelo menos 6 pacientes (1%). Vinte e dois olhos de 20 pacientes (3,8%) apresentavam opacidades periféricas de córnea. Todas as lesões eram circulares, de 0,5 a 1,0 mm de diâmetro, com área translúcida de córnea entre a lesão e o limbo, sem neovascularização e sem afetar a visão, sendo bilaterais em 2 pacientes. Tracoma, oncocercose, conjuntivite cicatricial, alterações pupilares ou uveíte não foram encontradas. Nenhuma biópsia de pele foi positiva para oncocercose. Dois dos quatro pacientes submetidos a venóclise apresentavam Mansonella spp. no exame de sangue.

Conclusão:

A falta de óculos é a causa mais importante de baixa acuidade visual na região estudada, seguida pela catarata. As lesões corneanas sem causa conhecida e a presença de Mansonella a sugerem como possível causa das opacidades corneanas encontradas.

Palavras-chave:
Pauiní; Córnea; Microfilárias; Mansonella; Amazônia; Óculos

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