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“NÃO BASTA PRODUZIR BORRACHA”: JOSÉ VERÍSSIMO (1857-1916) E A “CIVILIZAÇÃO” DO SERTÃO AMAZÔNICO NO GRÃO-PARÁ (1883-1886)

“IT IS NOT ENOUGH TO PRODUCE RUBBER”: JOSÉ VERÍSSIMO (1857-1916) AND THE ‘CIVILIZATION’ OF THE AMAZONIAN BACKLANDS IN GRÃO-PARÁ (1883-1886)

Resumo

O artigo analisa o projeto político-intelectual de José Veríssimo dedicado à investigação do sertão amazônico em contexto de modernização. Argumenta-se que José Veríssimo operou uma atualização do projeto científico de Ferreira Penna (1818-1888), institucionalizado no Museu Paraense, por meio das publicações da Revista Amazônica (1883-1884) e da escrita do ensaio “As populações indígenas e mestiças da amazônia” (1886). “Não basta produzir borracha” foi a resposta de ambos para a “civilização” do sertão amazônico, evidenciado no projeto de “reforma dos costumes” das populações indígenas e mestiças por meio do trabalho sedentário agrícola, ao qual José Veríssimo acrescentou a mestiçagem sob os auspícios da Geração 1870.

Palavras-chave:
Amazônia; civilização; política científica; sertão amazônico

Abstract

This paper analyzes José Veríssimo’s political-intellectual project dedicated to investigating the Amazonian backlands in the context of modernization. It argues that José Veríssimo updated Ferreira Penna’s (1818-1888) scientific project, institutionalized in the Paraense Museum, by publishing the Revista Amazônica (1883-1884) and writing of the essay “The Indigenous and Mestizo Populations in the Amazon” (1886). “It is not enough to produce rubber” was their answer to the “civilization” of the Amazonian backlands, evidenced in the project to ‘reform the customs’ of the indigenous and mestizo populations via sedentary agricultural work, to which José Veríssimo added miscegenation under the auspices of the 1870 generation.

Keywords :
Amazon; Civilization; Scientific Policy; Amazonian backlands

1. Introdução

A abertura à navegação estrangeira do rio Amazonas, entre 1850 e 1870, contribuiu para o aumento da exportação de borracha para o mercado internacional3 3 GREGÓRIO, Vitor Marcos. O progresso a vapor: a navegação e o desenvolvimento da Amazônia no século XIX. Nova Economia, Belo Horizonte, v.19, n.1, p.185-212, 2009; WEINSTEIN, Barbara. A borracha na Amazônia: expansão e decadência (1850-1920). São Paulo: Hucitec/Edusp, 1993. . A intensificação dos fluxos de capitais ingleses e de bens simbólicos franceses demarcaram a inserção da região na modernidade oitocentista: reestruturação e embelezamento urbano, assim como a modificação do mundo do trabalho, conforme a razão econômica e a estética cosmopolita do mundo industrial em consolidação. Belém do Pará transformou-se em uma capital produtiva e moderna - o cartão-postal da Belle Époque amazônica4 4 COELHO, Geraldo Mártires. Na Belém da Belle Époque da borracha (1890-1910): dirigindo olhares. Escritos (Fundação Casa de Rui Barbosa), Rio de Janeiro, v.5, p.141-168, 2011. .

Após o cataclismo social e político provocado pela Cabanagem, houve a restauração das instituições imperiais na província do Grão-Pará - sobretudo, o Liceu Paraense e os Corpos de Trabalhadores5 5 FULLER, Claudia Maria. Os corpos de trabalhadores e a organização do trabalho livre na província do Pará (1838-1859). Revista Mundos do Trabalho, v.3, n.6, p.52-66, 2011; FRANÇA, Maria do Perpetuo Socorro. Raízes históricas do ensino secundário público na Província do Grão-Pará: o Liceu Paraense (1840-1889). 1997. Dissertação (Mestrado em Educação). Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1997; RICCI, Magda. Do sentido aos significados da Cabanagem: percursos historiográficos. Anais do Arquivo Público do Pará, v.4, tomoI, p.241-274, 2001. . Esta reorganização ensejou na elite política provincial o debate a respeito dos vetores de desenvolvimento econômico para a região ao colocar em questão as atividades extrativistas e a produção agrícola6 6 BATISTA, Luciana. Muito Além dos seringais: elites, fortunas e hierarquias no Grão-Pará, c. 1850-c.1870. 2004. Dissertação (Mestrado em História Social). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004; NUNES, Francivaldo. Sob o signo do moderno cultivo: Estado imperial e agricultura na Amazônia. 2011. Tese (Doutorado em História). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2011. .

O projeto político-econômico de uma “Amazônia agrícola” se consolidava ao passo que se arraigava na consciência da elite política provincial a importância do seringal como “unidade produtiva”. A disputa entre a agricultura e o extrativismo, enquanto vetores de desenvolvimento econômico, tornavam a Amazônia um espaço de fronteira geográfica suscetível ao processo de modernização7 7 OLIVEIRA FILHO, João Pacheco. O Caboclo e o Brabo. Notas sobre duas modalidades de força de trabalho na expansão da fronteira amazônica no século XIX. Encontros com a Civilização Brasileira, v.10, p.101-148, 1979. .

A ampliação do conhecimento científico sobre os potenciais naturais e os modos de vida das populações nativas representou uma demanda da modernização entre o governo provincial e os grupos letrados. Ao desenvolver essa empreitada científica, as expedições de Domingos Soares Ferreira Penna8 8 Domingos Soares Ferreira Penna nasceu em 1818, em Minas Gerais. Antes de radicar-se em Belém, em 1858, ocupou vários cargos na província natal, em São Paulo e na Corte. Foi nomeado Secretário de Governo na gestão de Manoel Frias e Vasconcellos frente à província do Pará - permaneceu no cargo por nove anos, no qual empreendeu várias viagens pelo interior amazônico coletando produtos naturais e objetos arqueológicos, cujos relatórios foram importantes memórias sobre as riquezas naturais e a situação social das populações do Sertão. Foi também naturalista-viajante a serviço do Museu Nacional entre 1872 e 1884. Participou de importantes debates científicos com Ladislau Netto, então diretor do Museu Nacional, a respeito do patrimônio arqueológico na Amazônia. Sobre a trajetória intelectual de Ferreira Penna, cf.: CUNHA, Osvaldo. Domingos Soares Ferreira Penna: uma análise de sua vida e sua obra. In: PENNA, Domingos Soares. Obras completas de Domingos Soares Ferreira Penna. Belém: Conselho Estadual de Cultura, 1973. p.11-41. assinalavam o interesse pela coleta de produtos naturais, artefatos arqueológicos e estatística regional. Buscavam também aferir o “estado de civilização” do sertão amazônico por meio da coleta de informações acerca dos recursos naturais (flora e fauna), das povoações do interior e o mapeamento/medições geográficas9 9 SANJAD, Nelson. A Coruja de Minerva: o museu paraense entre o Império e a República (1866-1907). Brasília: Instituto Brasileiro de Museus; Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi; Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2010. .

Neste cenário, entre 1860 e 1880, o sertão amazônico significava um amplo e diversificado espaço social, cultural, econômico e natural configurado por vilas, povoados e cidades no interior das províncias do Pará e do Amazonas. O sertão amazônico oitocentista era delimitado pela natureza exuberante (fauna, flora e bacia hidrográfica) e pela “indolente” população indígena e mestiça dedicada às atividades extrativistas (caça, pesca, extração de seringa e castanha etc.). Este espaço convertia-se em objeto de saber e, posteriormente, em objeto de controle social. O sertão inculto precisava ser investigado pela ciência e civilizado pelas políticas públicas do Estado imperial. Havia uma geografia imaginativa10 10 SAID, Edward.Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. p.60-82. que estruturava a percepção dos agentes sociais empenhados em conhecer e intervir naquele espaço, no qual a barbárie do sertão, marcada pela natureza indomável e o modo de vida tradicional, sazonal e errante dos seus habitantes, deveria ser modificada - a chamada “reforma dos costumes” - pelas tecnologias, demandas e estilo de vida da civilização industrial, assinalada pela organização do espaço urbano, a transformação da natureza em mercadorias e a estabilidade do trabalho sedentário assalariado11 11 Para uma discussão aprofundada sobre o sertão amazônico no Grão-Pará oitocentista, cf.: NUNES, Francivaldo Alves. Roceiros, extratores e o viver nos sertões amazônicos: interesses de observação e estratégias de controle do Estado Imperial. In: NUNES, Francivaldo Alves; SILVA, Bruno de Souza (org.). História agrária em diferentes temporalidades: terra, trabalho e deslocamento. Belém: Cabana, 2021. p.80-94. .

O artigo analisa o projeto político-intelectual de José Veríssimo12 12 José Veríssimo de Mattos nasceu em 8 de abril de 1857, em Óbidos, oeste do Pará. Em Belém escreveu regularmente nos jornaisO Liberal do Pará,A Província do Pará,A RepúblicaeGazeta de Notícias. Publicou os livros Primeiras páginas (1878), Cenas da vida Amazônica (1886) e Estudos Brasileiros - 1a série (1877-1889) (1889). No campo educativo, integrou a Sociedade Paraense Promotora da Instrução (1883-1884), organizou o Colégio Americano(1884-1890), escreveuA Educação Nacional(1890) e assumiu a direção da Instrução Pública do Governo Provisório Republicano (1889-1891). Para aprofundamento sobre fatos da vida e aspectos da obra de Veríssimo, cf.: PRISCO, Francisco. José Verissimo. Sua vida e suas obras. Rio de Janeiro: Brigueit, 1937. dedicado à investigação do sertão amazônico em contexto de modernização. Argumenta-se que José Veríssimo operou uma atualização do projeto científico de Ferreira Penna, institucionalizado no Museu Paraense, por meio das publicações da Revista Amazônica (1883-1884) e do ensaio “As populações indígenas e mestiças da Amazônia” (1886). Aponta-se, do ponto de vista teórico, que a revista interviu no debate político da província enquanto forma de “organização da cultura”13 13 GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere. 2.ed. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. e uma instância representativa da “política científica” da Geração 187014 14 ALONSO, Angela. Ideias em movimento: a geração de 1870 na crise do Brasil-Império. São Paulo: Paz e Terra, 2002. . Assim, estas publicações representam o recorte temporal deste estudo, de 1883 a 1886.

O ensaio “As populações indígenas e mestiças da Amazônia” representou a intervenção de Veríssimo no debate sobre a “reforma dos costumes”. No ensaio, ele elaborou uma análise histórico-antropológica ao conjugar um diagnóstico sobre a conjuntura política contemporânea e uma retomada histórica do processo de colonização na região. Nessa análise ele buscava entender a situação de “degradação” e “indolência” da população livre e pobre, corporificada na figura do “tapuio”, o mestiço de branco com indígena.

A atualização do projeto de Ferreira Penna de investigação do sertão amazônico estava pautada na “política científica”. Ao considerar a mestiçagem, a imigração, a colonização (a agricultura) e a educação como meios para “reformar os costumes” da população indígena e mestiça, José Veríssimo estabelecia um projeto de civilização agrícola na Amazônia. Esses pontos do projeto de Veríssimo, apropriados do debate político na província, asseguravam uma agenda política “reformista” conforme os parâmetros da “Geração 1870” no Grão-Pará.

Segundo Angela Alonso15 15 Ibidem. , os grupos marginalizados do establishment político saquarema apresentavam suas “teorias da reforma” no debate político imperial. Por um lado, liderado por Joaquim Nabuco e o seu livro O Abolicionismo, os “novos liberais” dirigiram suas críticas à herança colonial na construção do Brasil; com uma interpretação positivista da formação brasileira, cujos expoentes foram Miguel Lemos e Teixeira Mendes, os “positivistas abolicionistas” indicavam uma “reforma social” baseada precipuamente na abolição da escravidão. Por outro, os “liberais republicanos” eram capitaneados por Quintino Bocaiúva; os “federalistas positivistas gaúchos” eram representados por Julio de Castilhos e Assis Brasil; e os “federalistas científicos paulistas”, como Perreira Barreto e Alberto Salles, assinalavam a relação entre a autonomia provincial e a formação do Estado nacional e demandavam uma “reforma política”, cujo desdobramento fosse a Federação como forma de governo.

Felipe Moraes16 16 MORAES, Felipe Tavares de. José Veríssimo (1857-1916), intelectual amazônico: Geração 1870 e a educação no Grão-Pará (1877-1891). 2018. Tese (Doutorado em Educação). Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018. , ao contribuir com a discussão de Angela Alonso, identificou mais um grupo regional de contestação vinculado ao movimento da Geração 1870: o “grupo paraense” formado por liberais e republicanos, cujos grandes expoentes intelectuais eram, respectivamente, José Veríssimo e Lauro Sodré. Esse grupo articulava a proposição de uma “reforma social” - nas análises de José Veríssimo - baseada na imigração de estrangeiros e na colonização pela agricultura intentando à civilização do sertão amazônico. Também defendiam uma “reforma política” - nas formulações de Lauro Sodré -, em que a forma federalista representada pela República e a abolição da escravidão seriam as duas principais armas para acabar com o cetro do imperador e chicote do senhor.

Em função do trabalho de redator na Revista Amazônica, considera-se José Veríssimo o “organizador da cultura”. Segundo Antonio Gramsci, intelectuais assumem uma dimensão decisiva nos processos de construção de hegemonia e direção moral e intelectual da sociedade - notadamente, o papel do “intelectual orgânico” como mediador dos interesses dominantes na sociedade civil e a sua introdução na sociedade política. A própria construção da hegemonia, para Gramsci, era pressuposta pela “organização da cultura” no âmbito da sociedade civil. A esse respeito, Gramsci assinalou a vinculação entre publicação periódica e difusão cultural: […] Revistas e jornais como meios para organizar e difundir determinados tipos de cultura17 17 GRAMSCI, Antonio. Op.Cit., p.32. (grifo nosso). .

A Revista Amazônica constituiu-se em um espaço de aglutinação de determinadas posições e visões difusas na sociedade civil paraense sobre o seu desenvolvimento econômico e social. Assim, a revista significou um espaço de “organização da cultura”, isto é, uma instituição privada de hegemonia que buscava dar legitimidade a um projeto de civilização agrícola direcionado à Amazônia - inclusive, Ferreira Penna foi um dos seus colaboradores ativos -, cuja palavra de ordem era “Não basta produzir borracha”.

2. Ferreira Penna e “Museu Paraense”: a emergência de um projeto político-científico no Sertão amazônico

A primeira expedição de Ferreira Penna ocorreu em 1863, na exploração dos rios Tocantins e Anapu. O primeiro, conhecido pelas dificuldades de navegação, devido às cachoeiras no médio Tocantins e a falta de pontos de rotas e expedições; o segundo, pelo potencial de navegação e comunicação comercial com o rio Xingu18 18 SANJAD, Nelson. Op.Cit. . O relatório de Ferreira Penna, intitulado “O Tocantins e o Anapu”, dedicava a primeira parte ao Tocantins e a segunda ao Anapu, e o conteúdo estruturava-se conforme as instruções do presidente de província Antônio Coelho de Sá e Albuquerque.

A viagem pelos rios Tocantins e Anapu estimulou a inclinação de Ferreira Penna para a expedição geográfica e o registro de informações de caráter estatístico, de história natural e de etnologia. Tal disposição transformou-se em habilidade científica de coletar e montar coleções de exemplares da fauna e flora amazônica e colaboração com o Museu Nacional, bem como a vários viajantes nacionais e estrangeiros de passagem pelo Pará.

Um exemplo disso aconteceu em 1866: o presidente Couto de Magalhães e Ferreira Penna receberam a Expedição Thayer, sob o comando de Louis Agassiz, que pretendia investigar a fauna ictiológica do rio Amazonas. Durante a viagem pelo Amazonas, Ferreira Penna ocupou-se de organizar a coleção de peixes da expedição, e as referências ao seu trabalho foram realizadas com distinção no relato de viagem do naturalista suíço, no Viagem ao Brasil19 19 MACHADO, Maria Helena. A ciência norte-americana visita a Amazônia: entre o criacionismo cristão e o poligenismo “degeracionista”. Revista USP, São Paulo, n.75, p.68-75, 2007. .

Couto de Magalhães, em fevereiro do mesmo ano, enviou um ofício ao Museu Nacional oferecendo objetos de história natural e em anexo uma relação dos objetos inventariados por Ferreira Penna: uma pedra de talho abundante nas margens do Rio Negro, nove mamíferos e alguns exemplares taxidermizados de aves; todos os artefatos identificados com as nomenclaturas científicas e os nomes populares em português e francês. Segundo Nelson Sanjad, em razão das expedições e interlocução com viajantes, Ferreira Penna tornara-se uma autoridade científica dentro e fora da província:

Sua viagem ao Tocantins e Anapu o projetou nos círculos políticos locais como explorador e analista do ‘estado de civilização’ das ‘povoações do interior’. O intelectual também vinha se destacando na interlocução com viajantes e coletores de passagem pela região, bem como com as instituições científicas da Corte.20 20 SANJAD, Nelson. Op.Cit., p.53.

Por sua vez, a visita de Louis Agassiz e a realização da Segunda Exposição Provincial de Produtos Agrícolas e Industriais foram eventos decisivos para o surgimento da Sociedade Filomática e do Museu Paraense. Durante sua estadia em Belém, Louis Agassiz realizou algumas conferências públicas nas quais insistira na necessidade de um Museu de História Natural na região, uma instituição científica para reunir, organizar e expor objetos da fauna e flora locais. Embora de forma pontual, a Exposição Provincial desempenhou o papel de divulgação das potencialidades agrícolas e industriais dos recursos naturais da província21 21 MACHADO. Op.Cit. .

Agassiz foi convidado de honra da exposição, participando do seu encerramento, em 1866. Ferreira Penna publicou uma carta circular nos jornais convocando interessados na fundação de uma Sociedade Filomática, demonstrando com isso o engajamento no projeto de criação de um museu de história natural; inclusive, entrou em contato com os membros da comissão organizadora da Exposição Provincial. A reunião realizou-se em 2 de agosto de 1866, embora estivesse marcada desde julho, no salão principal do Palácio do Governo Provincial22 22 Ibidem. .

Com o apoio do presidente interino Antônio Lacerda de Chermont, o barão de Arary, e a sua posição estratégica de funcionário da Secretaria do Governo, Ferreira Penna incorporou a Sociedade Filomática, uma iniciativa da sociedade civil, no interior da sociedade política provincial, transformando o projeto particular em matéria de utilidade pública. Como ambos eram membros do Partido Liberal, também procuraram nesta instância apoio para a iniciativa. Não por acaso, dos oito membros23 23 Os oito membros assinantes dos estatutos da Associação Filomática eram: dr. Américo Marques de Santa Rosa, dr. José Ferreira Cantão, padre Felix Vicente de Ledo, Francisco Accacio Corrêa, Antonio Nicolau Monteiro Baena, José de Carvalho Serzedello, José Antonio Affonso e Domingos Soares Ferreira Penna. Cf.: CRISPINO, Luís Carlos Bassalo etal. (org.). As origens do Museu Paraense Emílio Goeldi: aspectos históricos e iconográficos (1860-1921). Belém: Paka-Tatu, 2006.; SANJAD. Op.Cit. que formaram a comissão nomeada pelo presidente para redigir os estatutos da Sociedade, quatro eram filiados ao partido, inclusive o líder do partido à época Francisco Acácio Corrêa.

No dia 1o de setembro de 1866, a comissão se reuniu novamente para discutir o estatuto; no dia 15, foi formalmente aprovado pelo presidente; no dia 20, publicado em expediente oficial. O estatuto era constituído por 28 artigos que evidenciavam a concepção dos políticos e intelectuais sobre a função e a demanda de um museu de história natural: instrução pública e divulgação científica. A finalidade principal da Associação Filomática, como ficou conhecida, conforme o primeiro artigo, era criar e manter um “Museu de história natural e de artefatos indígenas”. Suas atividades científicas consistiam, por um lado, na formação e exposição de coleções de produtos naturais e objetos etnográficos; e, por outro, a “preleção” e “lições” de geografia, hidrografia, etnografia, história natural e história do Brasil e do Pará - bem como a montagem de uma biblioteca dedicada a esses assuntos24 24 Ibidem. .

Entretanto, mesmo com o reconhecimento oficial da Associação Filomática, a existência do Museu Paraense ainda não estava assegurada. Muito contribuiu para essa institucionalização uma outra viagem científica, conduzida por Charles Frederick Hartt, chamada Expedição Morgan, em duas viagens em 1870 e 1871. Formada por uma comitiva de estudantes da Universidade de Cornell, o objetivo da expedição era investigar a natureza e as populações do Baixo Amazonas, no oeste do Pará25 25 FREITAS, Marcus Vinicius de. Charles Hartt: um naturalista no Império de D. Pedro II. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2000; Ibidem. .

Ferreira Penna já havia visitado e escrito dois relatórios sobre a região do Baixo Amazonas; um deles chamado “A região ocidental da Província do Pará - resenhas estatísticas das Comarcas de Óbidos e Santarém”, apresentado ao presidente conselheiro José Bento da Cunha Figueiredo e publicado em 1869. Como Frederick Hartt e sua comitiva pretendiam excursionar na região, Ferreira Penna auxiliou-os com roteiros e informações sobre a localização de sítios arqueológicos. A partir disso, estabeleceu com Hartt uma sólida interlocução a respeito de etnologia e arqueologia amazônica: ambos eram interessados em cerâmica arqueológica e pinturas e gravuras rupestres, abundantes em Monte Alegre e Óbidos. Note-se, portanto, que os caminhos percorridos pela Expedição Morgan fossem semelhantes aos itinerários das viagens de Ferreira Penna. A colaboração entre Ferreira Penna e Frederick Hartt foi relevante para que este fizesse carreira como especialista em assuntos amazônicos e se tornasse um assíduo colaborador do Museu Paraense26 26 FREITAS, Marcus Vinicius de. Op. Cit.; SANJAD, Nelson. Op.Cit. .

Na segunda expedição, em 1871, Hartt doou volumes e produtos naturais e arqueológicos ao museu e livros novos e especializados, vindos do Estados Unidos, para a biblioteca. No início de 1871, diante das articulações de cientistas estrangeiros e da própria elite política provincial, o presidente de província Joaquim Pires Machado Portella instituía oficialmente o Museu Paraense e a Biblioteca Pública, ao transformar ambos em repartição pública, com verba própria, funcionários e uma sala no térreo do Liceu Paraense27 27 CRISPINO, Luís Carlos Bassalo etal. Op.Cit.; Ibidem. .

O projeto científico do Museu Paraense surgiu no contexto de debate sobre o progresso econômico da província e a contribuição das atividades científicas nesse processo. Se uma das qualidades dos museus de história natural era a divulgação científica, conforme estabelecia os estatutos da Associação Filomática, a exposição de acervos e coleções de recursos naturais, como vegetais, minerais e animais, deveria tornar esses produtos atraentes ao comércio e à indústria, bem como incentivar o fomento da agricultura e a diversificação das exportações.

Entre presidentes de província e naturalistas havia a percepção comum do “progressivo abandono dos produtos tradicionalmente cultivados e exportados pelo Pará”, ao mesmo tempo que “clamava contra as condições de trabalho dos seringueiros e a excessiva dependência da economia paraense sobre um único produto”, notadamente a borracha28 28 Ibidem, p.57. (grifo nosso). . Diante do potencial econômico para a agricultura e a diversidade de espécies vegetais desprezadas, conforme esses discursos, em razão da extração e exportação do látex, Ferreira Penna era partidário ao “caráter civilizador da agricultura”29 29 Ibidem, p.57. .

O projeto político-científico de Ferreira Penna, em resumo, consistia na investigação científica no interior do Grão-Pará, cuja institucionalização ocorreu nos estatutos do Museu Paraense. As expedições locais, as colaborações ao Museu Nacional e as interlocuções com viajantes estrangeiros transformaram Ferreira Penna, nas décadas de 1860 e 1870, em referência científica sobre a fauna, a flora e as populações nativas. Do ponto de vista político, em pleno processo de modernização, nas disputas entre extrativismo e agricultura, inclinava-se na defesa desta última enquanto vetor de desenvolvimento econômico e instrumento de “civilização” do sertão amazônico. Desse modo, o seu projeto científico posicionava-se por uma Amazônia agrícola, o gérmen da contestação “Não basta produzir borracha”.

3. Ferreira Penna e José Veríssimo: a continuidade de um projeto político-científico no Sertão amazônico

José Veríssimo, em 1877, visitou as cidades de Óbidos, sua terra natal, e Monte Alegre, ambas localizadas no oeste do Pará. Essas viagens resultaram em dois densos relatos:“Visita a Monte Alegre” publicado, em março, no jornal O Liberal do Pará, e “Do Pará a Óbidos”, no mesmo jornal, divulgado entre abril e maio de 1877. Os relatos de viagem faziam parte da seção “Viagens no Sertão”, do livro Primeiras páginas, de 1878.

Ferreira Penna por suas viagens de exploração, compilando informações, resenhando estatísticas e produzindo etnografia nos seus relatórios sobre o “estado de civilização” no sertão amazônico, foi considerado uma autoridade científica, dentro e fora da província do Pará, por estudiosos de Ciências Naturais e arqueologia amazônica. Tornou-se também uma referência para José Veríssimo.

A amizade entre José Veríssimo e Ferreira Penna construiu-se no cotidiano burocrático da Secretaria de Governo da Província:

A amizade entre Veríssimo e Ferreira Penna […] deve ter se fortalecido nessa época, quando primeiro - recém-contratado como Oficial da Secretaria de Governo - assumiu interinamente a administração da Biblioteca Pública, enquanto o segundo dirigia o vizinho Museu Paraense.30 30 SANJAD, Nelson. Op.Cit., p.143.

Existem fortes indícios que José Veríssimo buscou atualizar o projeto científico de Ferreira Penna nas obras Primeiras páginas (1878) e Cenas da vida amazônica (1886); e na fundação da Revista Amazônica (1883-1884). Observa-se a constituição de uma rede de sociabilidade de José Veríssimo e a construção do seu projeto político-intelectual no contexto dos dilemas vividos pela elite política da província, a partir da sua ligação com Ferreira Penna. Conforme Nelson Sanjad:

Souza Dantas [então presidente de província do Pará] também foi o responsável pela nomeação de José Veríssimo Dias de Mattos para dirigir interinamente a biblioteca [pública]. Oficial da Secretaria da Presidência, Veríssimo recebeu a missão de organizar o catálogo da instituição. Foi provavelmente nessa ocasião que Veríssimo teve a oportunidade de conhecer de perto os problemas que afligiam os diretores da biblioteca e do museu. Permaneceu no cargo durante pouco tempo, mas certamente o suficiente para se aproximar do Barão do Marajó e do próprio Ferreira Penna. Datam de 1883, por exemplo, as publicações de Ferreira Penna no periódico que Veríssimo fundou (e que duraria apenas um ano), a ‘Revista Amazônica’[…]31 31 SANJAD. Op.Cit, p.137-138.

Neste espaço editorial de “organização da cultura”, ressalto que se estabeleceu uma rede de sociabilidade32 32 Sobre a formação de redes de sociabilidade intelectual, principalmente em torno de projetos editoriais (revistas), cf.: SIRINELLI, Jean-François. Os intelectuais. In: REMOND, René (org.). Por uma história política. 2.ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003. p.231-270. empenhada na investigação do sertão amazônico paraense. Isto fica evidenciado nas colaborações de Ferreira Penna no periódico33 33 Ferreira Penna publicou os estudos “Communicações antigas entre Matto-Grosso e Pará” (março, 1883, p.7-15) e “Scenas da Cabanagem no Tocantins” (junho, 1883, p.113-119, primeira parte; julho, 1883, p.157-166, segunda parte). e na posição “Não basta produzir borracha” presente no editorial da revista (citado adiante), comprometida com o projeto da Amazônia agrícola.

O ensaio “As populações indígenas e mestiças da Amazônia” foi a entrada de Veríssimo nesses debates, ao investigar as populações do sertão amazônico, seu modo de vida, suas crenças e linguagens, assim como propunha o fomento da agricultura e do trabalho sedentário como forma de civilizar e tirar do “abatimento/indolência” o tapuio amazônico.

Os relatórios de Ferreira Penna resultaram numa etnografia das condições de vida e cultura da população do interior amazônico e uma arqueologia do passado das populações indígenas; ao passo que perscrutava escalas geográficas das cidades e vilas, principais atividades de subsistência, enfim, todos os elementos do modo de vida dos ribeirinhos, seringueiros e populações tradicionais que viviam das atividades extrativistas da pesca e da caça34 34 SANJAD. Op.Cit. .

Esse projeto científico, cuja dimensão institucional foi o Museu Paraense, procurava produzir um conhecimento ilustrado com objetividade narrativa e rigor na apuração dos dados sobre a sociedade, a cultura e a história amazônica. Esses estudos, relatórios e ensaios despertavam o interesse científico dos viajantes e naturalistas estadunidenses e europeus, ao mesmo tempo pretendiam intervir politicamente, de modo a fornecer argumentos científicos ao debate sobre a “reforma dos costumes” da população livre e pobre da província. Ferreira Penna era um defensor da agricultura e do trabalho sedentário como elemento moralizador e civilizador.

As viagens de José Veríssimo a Óbidos e a Monte Alegre carregaram esse ímpeto de exploração e investigação do sertão amazônico, desbravando o seu “estado de civilização”. Tais viagens, além das informações nos relatórios de Ferreira Penna, serviram de material etnográfico para o ensaio “Raças cruzadas no Pará”, integrante do livro Primeiras páginas, e os contos e esbocetos de Cenas da vida Amazônica.

As similitudes entre os relatos de viagem de José Veríssimo e os relatórios de exploração de Ferreira Penna eram equivalentes à relação discípulo e mestre: “A estrutura narrativa de ambos é muito próxima dos relatórios de viagem de Ferreira Penna, isto é, incluem a descrição detalhada da paisagem, dados estatísticos e históricos, enriquecidos com uma crônica de costumes e algumas impressões de viagem”35 35 SANJAD. Op.Cit., p.145. . Embora Veríssimo fosse natural da cidade de Óbidos e por isso familiarizado desde a infância com a paisagem, as condições sociais e as sociabilidades culturais, retornar ao torrão natal talvez tenha lhe causado bastante impacto. Em 1876, ainda era aluno de engenharia civil na Escola Politécnica, na capital do Império36 36 PRISCO. Op.Cit. . O tom pessimista e passional das narrativas destacava a “decadência” do sertão amazônico como dever moral e político, uma vez que emprestavam à denúncia um rigor científico.

Nos relatos de viagem, Veríssimo descrevia a beleza dos rios e da floresta, as potencialidades do solo para a lavoura, a riqueza das espécies animais e vegetais, que contrastavam com a ignorância e a indolência “entre os seus habitantes - caboclos ou tapuios - como indistintamente os chamam, o mesmo fatalismo embrutecedor, essa indolência nociva e a falta completa de ambição de um viver melhor”37 37 VERÍSSIMO, José. Primeiras páginas. Belém: Tipographia Guttemberg, 1878. p.20. . Conforme Veríssimo, os “caboclos ou tapuios” dedicavam-se pouco ao trabalho na agricultura, consumindo uma alimentação péssima e vulgar, habitando em casas improvisadas e sem conforto, aplicando-se, por fim, às “industrias extractivas” expressa na coleta da borracha: “Ha duas moléstias que atrazam regularmente a população do Pará e de todo o valle amazônico, são: a extracção da borracha e da castanha”38 38 Ibidem, p.20. (grifo nosso) .

A lavoura do algodão era a cultura mais produtiva de Monte Alegre, mas não granjeava cuidado regular, pois “[…] falla-se a qualquer plantador de mandioca sobre as vantagens da cultura do algodoeiro, e elle vos virará as costas”39 39 Ibidem, p.22. . Ao tratar de Óbidos, Veríssimo assegurava que os tapuios passavam meses na coleta da seringa, vivendo nas piores condições no interior da floresta, “deixam tudo quanto é estável, a casa, a cidade, a roça, a fabrica! Insticto nomade tão prejudicial a esta terra […] cria a falta absoluta de ambição, matando assim o amor ao trabalho productor40 40 Ibidem, p.49. (grifo nosso) .

Se não fosse “uma medida antiliberal”, Veríssimo aboliria a extração de borracha e de castanha, pois ambas atividades “roubam a provincia centenas, senão milhares de braços que aplicados a lavoura augmentariam, em pouco tempo, a sua riqueza”41 41 Ibidem, p.49. (grifo nosso) . Nestes dois relatos, José Veríssimo arrazoava o debate realizado pela elite política e intelectual da província a respeito de qual vetor - agricultura ou extrativismo - deveria promover a prosperidade material do Grão-Pará e, por extensão, da Amazônia.

De Bernardo Franco a Couto de Magalhães, passando por dom Macedo Costa e Ferreira Penna, havia a unanimidade no julgamento da população livre e pobre como preguiçosa e indolente - no limite, “degenerada”. Tal posicionamento estigmatizava a abdicação à agricultura e ao trabalho regular, ao desejo de ter propriedades e acumular bens. O contraste entre a agricultura como civilizadora e moralizadora e o extrativismo como “moléstia do atraso”42 42 BATISTA, Luciana. Op.Cit.; HENRIQUE, Márcio Couto. O general e os tapuios: linguagem, raça e mestiçagem em Couto de Magalhães (1864-1876). 2003. Dissertação (Mestrado em Antropologia). Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Pará, Belém, 2003; MARTINS, Karla Denise. Cristóforo e a romanização do Inferno Verde: as propostas de D. Macedo Costa para a civilização da Amazônia (1860-1890). 2005. Tese (Doutorado em História). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2005; NEVES, Fernando Arthur Freitas. Solidariedade e conflito: estado liberal e nação católica no Pará sob o pastorado de Dom Macedo Costa (1862-1889). 2009. Tese (Doutorado em História Social). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2009. .

Ao terminar o relato sobre Óbidos, dialogando com Ferreira Penna, que considerava os filhos daquela cidade “[…] bons brazileiros, optimos paraenses e ainda melhores obedienses”, Veríssimo indagava-se: “Terão elles degenerado?”. Em seguida, respondia: “Não sei; mas tenho fé, que não hão de desmentir essa asserção justa do illustrado sr. Ferreira Penna. Mas, não obstante, em lugar do bairrismo - que é um vicio, eu peço-lhes patriotismo - que é uma virtude”43 43 VERÍSSIMO, José. Primeiras páginas…, p.61. (grifo nosso) . Esta referência direta fortalece os apontamentos de Nelson Sanjad sobre a incorporação dos procedimentos analíticos dos relatórios de Ferreira Penna nos relatos de viagens; ao mesmo tempo pondero que tal referência representou um ensaio inicial da discussão desenvolvida nos estudos posteriores de José Veríssimo em 1878 e 1886, e da posição política assumida no editorial da Revista Amazônica, em 1883.

Entre bairrismo e patriotismo, avultava a questão acerca das razões da “decadência” da população livre e pobre na província, cuja argumentação histórico-antropológica estava registrada nos ensaios “As raças Cruzadas do Pará - sua linguagem, suas crenças e seus costumes”, de 1878, e “As populações indígenas e mestiças da Amazônia - sua linguagem, suas crenças e seus costumes”, de 1886. Embora fosse um mesmo ensaio, havia muitas distâncias entre as versões de 1878 e 1886, sobretudo, nos conceitos e na escala: raças cruzadas/mestiçagem e Pará/Amazônia. Nesse ínterim, em 1883, era fundada a Revista Amazônica, na qual foram publicados os artigos-rascunho44 44 Os artigos-rascunho foram: “A linguagem popular amazônica”, publicado entre março e junho de 1883; “Tradições, crenças e superstições amazônicas”, publicado em agosto e setembro de 1883; e “As populações indígenas e mestiças da Amazônia”, a versão preliminar do ensaio final de 1886, publicado em janeiro-fevereiro de 1884. , revisando, modificando e aumentando o ensaio de 1878, tendo como resultado a versão de 1886.

Assim, antes de tratar deste processo de revisão e ampliação, é necessário abordar o projeto científico-literário da Revista Amazônica. É relevante ressaltar que o projeto da revista como “organização da cultura”, participando do debate político da província, guardava muitas semelhanças com a Revista Brasileira sob a organização de Franklin Távora e Nicolau Midosi, entre 1879 e 188145 45 MORAES. Op.Cit. .

4. Revista Amazônica: o projeto político-científico de José Veríssimo

Os primeiros exemplares da Revista Amazônica, em março de 1883, entraram em circulação nas ruas de Belém do Pará. O editorial movimentava as forças político-intelectuais das duas províncias - Pará e Amazonas. Aos interessados na investigação da região, na perspectiva de um “espírito novo” que atualizava o mundo intelectual, solicitava a formação de uma “comunidade de desejos” que permitisse de maneira combinada o “desenvolvimento material e o progresso moral” da Amazônia.

A revista reunia, publicava e divulgava os estudos das forças da “política científica” que estavam disputando a direção intelectual e moral do processo de modernização na região. Portanto, por desempenhar esse papel político e cultural, empenhava-se enquanto “organizador da cultura”.

Eis o texto do editorial:

Abrir um campo em que venham lavrar quantos se interessem pelo desenvolvimento moral da esplendida região amazonica; torná-la conhecida, dentro e fóra do paiz, pelo estudo dos multiplos aspectos porque pode ser encarada, aos sabios, letrados, economistas e financeiros emprehendedores; estreitar n’uma comunidade de desejos e, até certo ponto, de idéas, as relações entre as duas provincias que formam a Amazonia; propagar o espirito novo que actualmente agita o mundo intellectual; offerecer aos estudiosos de ambas essas provincias um meio menos ephemero do que o jornal, de dar publicidade ao resultado de suas locubrações - tal é o fim desta publicação.

Entendemos que no meio do febril movimento commercial que a riqueza nativa do valle do Amazonas entretem não só n’esta Liverpool dos Tropicos - como já lhe chamaram - mas ainda na futurosa cidade de Manaos, havia lugar para um jornal consagrado a promover directa ou indirectamente, o engradecimento moral e, portanto, dirigir melhor o material da Amazonia, e que publical-o seria, sinão um serviço que prestavamos, ao menos uma lacuna que cobríamos.

Não basta - cremos nós - produzir borracha, cumpre tambem gerar idéas; não é sufficiente escambar productos, é ainda preciso trocar pensamentos; e um desenvolvimento material que se appoiasse n’um correlativo progresso moral seria, não somente improfícuo, mas funesto, pela extensão irregular que faria aos instinctos - já a esta hora muito exagerados - do mercantilismo.

Si uma publicação que se consagre às letras, às artes e às sciencias, póde concorrer para esse fim, a Revista Amazonica quer e espera ser essa publicação, comtanto, - é claro - que não lhe faleçam nem a collaboração de todos os escriptores que para elle quiserem contribuir, nem a protecção do generoso publico das duas provincias a que a dedicamos.

Os editores46 46 VERÍSSIMO, José. Editorial. Revista Amazônica, anoI, tomoI, p.5-6, 1883.

Circulava nas ruas e estradas de Belém uma revista literária, artística e científica que organizava a baioneta de ideias das forças da “política científica”. A revista congregava uma rede de sociabilidade, uma “comunidade de desejos”, pautada em um “espirito novo” que contestava “Não basta produzir borracha”! O grupo “paraense” da Geração 1870 defendia um projeto de Amazônia agrícola que representava uma forma de “desenvolvimento material” e de “progresso material” em oposição ao “funesto mercantilismo” do extrativismo da borracha.

Os artigos-rascunho publicados na Revista Amazônica intermediaram a edição revista e aumentada da versão inicial de 1878 - “As raças cruzadas do Pará” - para a versão final de 1886 - “As populações indígenas e mestiças da Amazônia”. Além das modificações no interior do texto, incluindo mais informações e transformando notas de rodapé em texto corrido, as alterações mais marcantes ficaram registradas na introdução e conclusão de ambos os textos.

Não obstante, convém indicar um elemento comum às duas versões, marcando a “singularidade” de José Veríssimo no debate político na província: a investigação dos hábitos, dos costumes e das crenças da população livre e pobre na perspectiva do “grande elemento histórico das raças”47 47 VERÍSSIMO, José. Primeiras páginas…, p.134. . Na versão inicial, José Veríssimo mobilizou o repertório da “política científica”, sobretudo, pelo tom anticlerical e antirromântico - ao realizar um diagnóstico social, cultural e econômico da sociedade paraense, cuja explicação histórico-etnográfica-científica para os problemas identificados indicava um “programa” de reforma exposto nas conclusões do ensaio.

Havia, assim, uma inclinação “reformista” entre as forças da “política científica”, representada pelos liberais e republicanos, na qual o ensaio de Veríssimo representou uma proposição de “reforma social” por meio da combinação entre colonização estrangeira, trabalho sedentário, agricultura, miscigenação e educação. Significava, em última instância, a imposição da sociabilidade burguesa e temporalidade capitalista sobre o modo de vida cíclico e sazonal da população livre e pobre composta de indígenas e mestiços48 48 Esta discussão estava inserida em um processo mais amplo de “civilização dos índios” na Amazônia, cujas forças envolvidas eram diversas, desde a Igreja Católica aos presidentes de Província, incluindo intelectuais e viajantes, passando pelos “regatões”, todos preocupados com a incorporação das populações indígenas à sociedade nacional, e cujos empreendimentos datam desde o século XVIII, com o advento do Diretório dos Índios. A este respeito, cf.: COELHO, Mauro Cezar. Do Sertão para o mar: um estudo sobre a experiência portuguesa na América, a partir da Colônia: o caso do Diretório dos Índios (1751-1798). 2005. Tese (Doutorado em História Social). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005; HENRIQUE, Márcio Couto; MORAIS, Laura. Estradas líquidas, comércio sólido: índios e regatões na Amazônia (século XIX). Revista de História (USP), São Paulo, v.171, p.49-82, 2014; SAMPAIO, Patrícia Melo. “Vossa Excelência mandará o que for servido…”: políticas indígenas e indigenistas na Amazônia Portuguesa do final do século XVIII. Tempo, v.12, p.39-55, 2007. .

Na introdução da versão de 1878, José Veríssimo apontava que, perante os avanços científicos realizados na Europa, o Brasil não poderia mais ficar alheio aos cientistas e viajantes que analisavam não apenas a fauna, a flora e o solo do país, mas também as populações nativas, a raça49 49 Para uma discussão aprofundada sobre as doutrinas raciais do século XIX, cf.: SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: instituições, cientistas e a questão racial no Brasil - 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. p.43-66. “quasi morta pelas cruas guerra que soffreu, pelos cruzamentos ou occulta na vastidão de nossas florestas com medo á civilisação”50 50 VERÍSSIMO. Op.Cit., p.133. .

Para Veríssimo era imperativo investigar o passado do ponto de vista antropológico51 51 No que tange à produção etnográfica de José Veríssimo sobre as populações amazônicas, cf.: BARBOSA, João Alexandre. A tradição do impasse: linguagem da crítica e crítica da linguagem em José Veríssimo. São Paulo: Ática, 1974; BEZERRA NETO, José Maia. O homem que veio de Óbidos: pensamento social e etnografia em José Veríssimo (1877/1915). Anais do Arquivo Público do Estado do Pará, Belém, v.3, n.2, p.239-262, 1998; CASTILHO, Marina Moreno. O indígena no olhar de José Veríssimo. 2012. Tese (Doutorado em História) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012; SOUSA, Eveline Almeida de. Os ideais de civilização na Amazônia imperial: um estudo sobre os projetos de civilização indígena no Pará (1845-1889). 2011. Dissertação (Mestrado em História Social). Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Pará, Belém, 2011. , pois a narrativa histórica ainda era escrita na forma de crônica, ignorando a relação entre o “meio” e o “povo”. Nesse sentido, a história do povo brasileiro era a análise antropológica dos cruzamentos raciais e sua relação com a natureza.

Na conclusão do ensaio de 1878, constatava o estado de “degradação” - devido ao predomínio do modo de vida indígena - das raças cruzadas no Pará e apontava o efeito impotente da “catequese” para civilizar os indígenas, questionando-se: “E o que ha a fazer para arrancar as raças cruzadas do Pará ao abatimento em que jazem?”. Em seguida, apresentava uma solução “darwinista social”:

Pensamos que nada. Esmagal-as sob a pressão enorme de uma grande emigração, de uma raça vigorosa que n’essa luta pela existencia de que falla Darwin as aniquile assimilando-as, parece-nos a única cousa capaz de ser util á esta provincia. E ai d’ella se assim não for!52 52 VERÍSSIMO. Op.Cit., p.211.

Na versão definitiva, de 1886, José Veríssimo introduzia, assinalando, a “missão histórica” assumida pela miscigenação no caminho da “unidade étnica à humanidade”. Nessa perspectiva, a América seria a vanguarda frente à “velha Europa”, ultrapassando Ásia e África e apontando um novo rumo para a civilização. A América era a unidade continental que integrava o Brasil e a Amazônia. Destaca-se a sua premissa “monogenista” de unidade do gênero humano e orientação “evolucionista cultural”53 53 SCHWARCZ. Op.Cit. da classificação dos estágios de desenvolvimento: a “mestiçagem” apresentava novas perspectivas de civilização.

Fica, assim, evidente a mudança de uma postura “darwinista social” do ensaio parcial de 1878 para a defesa de pressupostos “evolucionistas culturais” na versão final de 1886. Ao invés do aniquilamento assimilacionista, José Veríssimo declarava a miscigenação como uma das dimensões do seu programa de “reforma social” para a população livre e pobre da Amazônia: “A gente brasileira, antochtone ou não, mistura-se em larga escala nas duas provincias [Pará e Amazonas] banhadas pelo rio-mar [Rio Amazonas]”54 54 VERÍSSIMO, José. Scenas da vida amazonica - com um estudo sobre as populações indigenas e mestiças da Amazonia. Lisboa: Livraria Editora de Tavares Cardoso & Irmão, 1886. p.10. (grifo nosso) .

Com a inserção da região no contexto latino-americano miscigenado, José Veríssimo averiguava a formação social, cultural e demográfica do “tapuio e os seus descendentes”. Com a ausência de estatísticas oficiais, Veríssimo estimava que a maioria da população da província do Pará era mestiça, em razão, unicamente, da adaptação dos portugueses ao clima e à disposição geográfica da região. O processo de colonização constituiu gerações com pai europeu e mãe indígena. Desses cruzamentos55 55 A respeito da “Geração 1870” e a questão da mestiçagem, cf.: DAMATTA, Roberto. Digressão: fábula das três raças, ou problema do racismo à brasileira. In: DAMATTA, Roberto. Relativizando: uma introdução à Antropologia Social. Rio de Janeiro: Rocco, 1993. p.58-85; ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional. São Paulo: Brasiliense, 1985; SCHWARCZ. Op.Cit.; SKIDMORE, Thomas. Preto no branco: raça e nacionalidade no pensamento brasileiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976; VENTURA, Roberto. Estilo tropical: história tropical e polêmicas literárias no Brasil, 1870-1914. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. derivou dois tipos predominantes: o “curiboca” (branco e índio) e o “mameluco” (curiboca e branco).

Para Veríssimo, o “curiboca” era conhecido erroneamente como “tapuio”, mas acabou assumindo essa nomenclatura. A distinção entre “tapuio” e “mameluco” era a aproximação, pelos sucessivos cruzamentos, em relação ao branco. Havia uma predominância de tapuios porque a presença indígena era maior do que a de brancos na região. O “tapuio” era o limiar entre o branco e o indígena, com a predominância de caracteres físicos, morais e culturais dos “selvagens”. Desse modo, “tapuios” e “mamelucos” eram extremamente “degradados”. Nesse sentido, Veríssimo incorporava a “ilusão do primitivismo” das populações indígenas às suas análises etnográficas56 56 CUNHA, Manuela Carneiro. Introdução a uma História Indígena. In: CUNHA, Manuela Carneiro (org.). História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p.11. .

O conceito “caboclo” foi objeto de um intenso debate historiográfico, conforme Déborah Lima, com formulações, abordagens e significados que foram se modificando segundo o contexto histórico, expresso geralmente por oposições: “pobre versus rico, selvagem versus civilizado, floresta versus cidade e, na avaliação moral, indolente versus empreendedor”57 57 LIMA, Deborah de Magalhães. A construção histórica do termo caboclo sobre estruturas e representações sociais no meio rural amazônico. Novos Cadernos NAEA, v.2, n.2, 1999, p.20. (grifo nosso) . Nesse debate, José Veríssimo assumiu um lugar importante. Segundo Carlos Araújo Moreira Neto, Veríssimo era “uma das poucas fontes disponíveis para o estudo do tapuio da Amazônia como categoria étnica”58 58 MOREIRA NETO, Carlos Araújo. Índios na Amazônia: de maioria a minoria (1750-1850). Petrópolis: Vozes, 1988. p.48. (grifo nosso) . O intelectual paraense, a meu ver, estava ponderando a “mestiçagem” no contexto de oposição entre selvagem/civilizado e indolente/empreendedor.

O termo “tapuio” era originalmente utilizado pelas próprias populações indígenas para assinalar pejorativamente membros de outras etnias, significando “hostil” e “inimigo” e associado pelos colonizadores ao “índio bravo” - resistente à assimilação59 59 ARENZ, Karl. Anticaboclismo. Revista de Estudos de Cultura, n.3, p.30-31, 2015. . No século XIX, o termo “tapuio” foi ressignificado e relacionado aos mestiços de branco com indígena, também conhecidos por “caboclos”60 60 Sobre a historicidade do termo “caboclo”, cf.: CASTRO, Fabio Fonseca. A identidade denegada. Discutindo as representações e a autorrepresentação dos caboclos da Amazônia. Revista de Antropologia, São Paulo, v.56, n.2, 2013.; HENRIQUE, Márcio Couto. Sem Vieira nem Pombal: índios na Amazônia do século XIX. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2018.; HARRIS, Mark. What it means to be Caboclo: some critical notes on the construction of Amazonian Caboclo society as an anthropological object. Critique of Anthropology, New York, v.18, n.1, p.83-95, 1998; MOTTA-MAUÉS, Maria Angélica. A questão étnica: índios, brancos, negros e caboclos. In: MOTTA-MAUÉS, Maria Angélica. Estudos e problemas amazônicos: história social e econômica e temas especiais. Belém: Secretaria de Educação; Idesp, 1989. p.195-203. . Todavia, José Veríssimo avaliava como equivocado designar tais mestiços por “tapuio”, uma vez que defendia a nomenclatura “mameluco” ou “curiboca”. Apesar da observação crítica, acabou utilizando, no ensaio “As populações indígenas e mestiças da Amazônia”, a nomenclatura corrente e popular “tapuio”.

Se no ensaio de 1878 Veríssimo abordava a “mestiçagem” na chave de “degradação” tão somente, no ensaio de 1886, embora ainda sustente este pressuposto negativo, já ponderava a “mestiçagem” como um meio para a “civilização”. Desse modo, o “tapuio” era um sujeito intermediário entre o branco e o índio, que ainda exibia mais características “selvagens” indolentes e do trabalho sazonal do que “civilizadas” do trabalho sedentário e com livre iniciativa.

Nesse sentido, Veríssimo citava em “As populações” um trecho de Viagem ao Brasil, do “sábio” Agassiz, que afiançava essa constatação: os cruzamentos raciais geraram um povo “degenerado”. Entretanto, Veríssimo ressaltava que

Esta observação, com quanto até certo ponto justa, e de um sabio eminente, é superficial, principalmente se se quizer, como ele, concluir d’ella contra os cruzamentos. É preciso ir ao fundo e estudar a historia dos cruzamentos e dos aldeamentos do selvagem no Pará e no Amazonas.61 61 VERÍSSIMO, José. Scenas da vida amazonica…, p.15. (grifo nosso)

No processo de colonização, jesuítas e colonos portugueses deveriam representar os marcos civilizatórios das populações indígenas. Ao contrário, sua ação predatória seria a causa da dissolução, da ignorância e do desmazelo em que viviam as populações mestiças62 62 Embora baseado em premissas do racismo científico, José Veríssimo tinha uma percepção da agência indígena, logo as populações indígenas poderiam ser “civilizadas”, se fossem incorporados elementos do seu modo de vida - os fracassos das iniciativas laicas e religiosas residiam na imposição cultural, que por si só geravam resistência. Nesse sentido, há um profundo olhar colonial nos seus estudos etnográficos, ao mesmo tempo devidamente assentado nas condições sociais e histórias da colonização portuguesa na Amazônia. Dessa forma, é relevante relacionar esse ponto de vista com as discussões da nova história indígena, mesmo que extrapole o escopo deste estudo, é uma promissora frente de pesquisa. Sobre esta historiografia, cf.: ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. A atuação dos indígenas na História do Brasil: revisões historiográficas. Revista Brasileira de História, v.37, n.75, p.17-38, 2017.; CARVALHO JÚNIOR, Almir Diniz de. Índios cristãos no cotidiano das colônias do Norte (séculos XVII e XVIII). Revista de História, São Paulo, v.168, n.1, p.69-99, 2013.; CUNHA. Op.Cit.; HENRIQUE. Op.Cit.; MONTEIRO, John Manuel. Tupis, tapuias e historiadores: estudos de História Indígena e do Indigenismo. 2001. Tese (Livre Docência em História) - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2001. . Ao invés de ensinarem os elevados valores da religião cristã, os jesuítas utilizaram a “catequese” como uma forma de dominar a força de trabalho indígena, jogando-os ao encontro dos colonos. Estes, por sua vez, com o encargo de incutir os valores benéficos do trabalho, submeteram os indígenas à escravidão, destruindo suas famílias e transformando as mulheres em concubinas. Isto influenciou na conformação do “estado moral” dos tapuios, caracterizado pela ausência de iniciativa, ambição, ação e energia. Mesmo que seu desenvolvimento intelectual seja superior aos indígenas, eles não seriam dotados de boa índole e instintos pacíficos, demonstrado por sua propensão à prática de atos criminosos, herança atávica dos “selvagens”.

Assim, ao tratar a formação dos hábitos, crenças e linguagens dos tapuios amazônicos, Veríssimo apresentava alguns pontos de conclusão: a) a população mestiça estava degenerada; b) as condições sociais, políticas, religiosas e climáticas nas quais aconteceram as misturas contribuíram para o seu estado; c) há predominância do elemento indígena sobre o branco português na região; d) a população que não pertence a estes grupos também sofreu com as suas influências. Além disso, questionava: “E o que há a fazer para arrancar as raças cruzadas do Pará do abatimento em que jazem?”. Replicava os pontos e a questão colocada na conclusão da versão de 1878.

Contudo, na versão de 1886, acrescentou alguns parágrafos de revisão63 63 “Foi assim que conclui este estudo na sua primeira edição. Hoje julgo dever fazer uma observação, que vem modificar a minha maneira de ver de ha tres annos [indica em nota de rodapé: “Escrevia isto em 1880”] acerca do remedio a dar para arrancar as raças cruzadas do Pará (e Amazonas) ao abatimento em que jazem”. Cf.: VERÍSSIMO, José. Scenas da vida amazonica…, p.93. (grifo nosso) , sobretudo, do “remedio” recomendado na versão anterior, cuja sugestão era a imigração de uma “raça forte” que esmagasse o processo de luta pela vida da “raça degenerada”. A mudança de posição ocorreu por uma questão política, refletindo as dificuldades de implementação da medida: “Não via que essa raça privilegiada não virá tão cedo, não virá talvez nunca, em razão das condições mesológicas da região, e alvitrei um expediente cujo principal defeito era ser inexequivel”64 64 Ibidem, p.93. .

Como já assinalava na introdução da versão de 1886, em José Veríssimo, a mestiçagem adquiria uma “missão histórica” de unificação do gênero humano e a América ostentava um papel de destaque, incluídos o Brasil e a Amazônia em sua unidade continental. Essa nova abordagem incidia na conclusão, subscrevendo o postulado de Émile Littré, seu mestre positivista, presente na obra Fragments de Phylosophie positive et de sociologie contemporaine, de 1876: “o problema politico consiste em utilisar no maior proveito das sociedades a força natural que lhes é propria”65 65 Ibidem, p.93. (grifo nosso) .

A mestiçagem, enquanto “força natural”, exercia o papel de estratégia política para a civilização do sertão amazônico. Logo, a força natural representava o “povo” formado pelas populações indígenas, “puras” ou “cruzadas” com os conquistadores e colonizadores portugueses: “Si me fóra permittido dar um aviso, era que as aproveitassemos em bem da vastissima e riquissima região amazonica”66 66 Ibidem, p.93. .

“Aproveitá-las”, neste contexto, desdobrava-se em “reformar seus costumes” por meio da mestiçagem com raças europeias enérgicas e vigorosas (alemã e inglesa, de preferência), que o lado da educação e o trabalho sedentário na agricultura contribuíssem para a elevação moral e intelectual daquelas populações. Veríssimo concluía categoricamente, ao ressaltar o “elemento mestiço” como o verdadeiro “elemento nacional”, que:

Mostrei com máxima boa fé e franqueza o que são essas populações, acompanhei-as desde que appareceram na nossa história até hoje; a outros, áqueles que, talvez sem consciencia da difficuldade da empreza, se mettem de hombro com os phenomenos sociaes, cabe a tarefa infinitamente mais ardua, de facultarem-lhes os meios de se desenvolverem progressivamente. Si este trabalho valle alguma cousa, sirvam-se d’elle no aproveitamento do elemento mestiço - o nosso verdadeiro elemento nacional -; si não, façam novos e mais perfeitos estudos que lhes possam servir de base para a resolução d’esse difficil e momentoso problema. Em todo caso, trabalhem.67 67 VERÍSSIMO, José. Scenas da vida amazonica…, p.93-94. (grifo nosso)

Vê-se, pois, que esse ensaio foi forjado na oficina da luta político-intelectual em nome da “comunidade de desejos” que ambicionava o “desenvolvimento material” e o “progresso moral” da região. Em razão do diagnóstico pessimista, da explicação histórico-etnográfica-científica rigorosa e do programa de “reforma social” relativamente otimista, esse estudo, mesmo que indiretamente, foi uma resposta categórica à conferência “A Amazônia - meio de desenvolver sua civilização”68 68 Nessa conferência, dom Macedo Costa apresentou o programa político-cultural da Igreja Católica para a “reforma dos costumes” dos habitantes do Sertão amazônico. Esse projeto retomava a tradição histórica da Igreja de “civilização dos índios” baseada na catequese e na política de aldeamentos; se os habitantes do sertão se encontravam em “decadência” e com “costumes corrompidos”, isto devia-se à ausência da doutrina católica e o relaxamento das práticas da vida cristã - a civilização do Sertão amazônico pautava-se no fortalecimento dos sacramentos desdobrada na catequese e no aldeamento. Portanto, o ensaio de José Veríssimo discursava exatamente o oposto da conferência de dom Macedo Costa. Sobre o projeto de “civilização católica” na Amazônia oitocentista, cf.: MARTINS. Op.Cit.; NEVES. Op.Cit. , realizada por dom Macedo Costa em 1883. Dessa maneira, Veríssimo considerava abertamente a catequese e a política de aldeamentos retumbantes fracassos, cuja ação contribuiu, aliás, utilizando palavras de Couto de Magalhães, mais para a “degradação” do que para a “civilização” dos indígenas.

5. Considerações finais

Nestas palavras de encerramento do artigo, assinalo o papel estruturante do processo de modernização da Amazônia no século XIX na emergência do projeto científico de Ferreira Penna e do projeto político-intelectual de José Veríssimo. Assim, enquanto instância “organizadora da cultura” na sociedade civil, a Revista Amazônica firmou-se, embora de forma efêmera, como um espaço editorial que congregou uma rede de sociabilidade em torno da investigação do Sertão amazônico; o periódico reuniu uma “comunidade de desejos” daqueles imbuídos do “espirito novo”, uma vez que o grupo “paraense” da Geração 1870 defendia um projeto de Amazônia agrícola que efetivamente representasse o “desenvolvimento material” e o “progresso moral” da província do Pará.

O editorial da Revista Amazônia, ao bradar claramente a contestação “Não basta produzir borracha”, retomava um argumento levantado nos estudos de Ferreira Penna baseado no caráter civilizador da agricultura. Entre 1860 e 1870, Ferreira Penna teve uma atuação fundamental, por meio da Sociedade Filomática e do Museu Paraense, assim como pelas expedições científicas estrangeiras Morgan e Thayer e institucionalização da produção científica na Amazônia. A partir dos seus estudos, relatórios e viagens pelo interior do Pará, Ferreira Penna tornou-se uma referência científica dos aspectos naturais e humanos que caracterizavam a “geografia imaginativa” do sertão amazônico. A Amazônia agrícola no editorial da Revista Amazônica surgiu do projeto científico de Ferreira Penna, devidamente apropriado pelos estudos de José Veríssimo.

O projeto político-intelectual do autor de Cenas da vida Amazônica, que operou uma atualização dos apontamentos analíticos de Ferreira Penna, foi assinalado no editorial da Revista Amazônica e desenvolvido no ensaio “As populações indígenas e mestiças da Amazônia”. A inflexão realizada por Veríssimo foi interpretar o Sertão amazônico, sobretudo suas populações indígenas e mestiças, em função da “política científica” da Geração 1870 na perspectiva do “racismo científico” de corte evolucionista cultural. Nesse sentido, em sua análise histórico-antropológica da “degradação” do tapuio amazônico, a mestiçagem representa uma saída política para a civilização do sertão, somada à colonização, à imigração estrangeira, à educação e à agricultura.

Aliás, Veríssimo, nos relatos de viagem a Óbidos e Monte Alegre, em 1877, vislumbrava, tal qual Ferreira Penna, o caráter civilizador da agricultura; em 1886, no ensaio “As populações”, Veríssimo incorporava este pressuposto e ampliava o escopo de intervenção política ao estimular a “reforma dos costumes” da população indígena e mestiça pautada na imposição do modo de vida da civilização europeia: a agricultura e a mestiçagem transformavam-se na plataforma política do “Não basta produzir borracha” conforme as demandas do processo de modernização, intensificando a razão econômica do mundo burguês industrial sobre o modo de vida tradicional das populações indígenas e mestiças do sertão amazônico.

Portanto, a palavra de ordem “Não basta produzir borracha” registrou um complexo processo de apropriação intelectual da obra de Ferreira Penna pelos estudos de José Veríssimo. Ambos procuraram responder ao processo de modernização em curso e suas respectivas produções científicas foram reconhecidas dentro e fora da província do Pará69 69 BEZERRA NETO, José Maia. O homem que veio de Óbidos…; FIGUEIREDO, Aldrin Moura de. A cidade dos encantados: pajelanças, feitiçarias e religiões afro-brasileiras na Amazônia, 1870-1950. Belém: EDUFPA, 2008; BARBOSA, Maurel. O Pajé: literatura, naturalismo e história no Pará do século XIX. Belém: Instituto de Artes do Pará, 2013; MORAES. Op.Cit. . Enquanto intelectuais da região, seus projetos científicos tornaram-se incontornáveis para o conhecimento do sertão amazônico oitocentista entre 1860 e 1880.

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  • WEINSTEIN, Barbara. A borracha na Amazônia: expansão e decadência (1850-1920). São Paulo: Hucitec/Edusp, 1993.
  • 3
    GREGÓRIO, Vitor Marcos. O progresso a vapor: a navegação e o desenvolvimento da Amazônia no século XIX. Nova Economia, Belo Horizonte, v.19, n.1, p.185-212, 2009; WEINSTEIN, Barbara. A borracha na Amazônia: expansão e decadência (1850-1920). São Paulo: Hucitec/Edusp, 1993.
  • 4
    COELHO, Geraldo Mártires. Na Belém da Belle Époque da borracha (1890-1910): dirigindo olhares. Escritos (Fundação Casa de Rui Barbosa), Rio de Janeiro, v.5, p.141-168, 2011.
  • 5
    FULLER, Claudia Maria. Os corpos de trabalhadores e a organização do trabalho livre na província do Pará (1838-1859). Revista Mundos do Trabalho, v.3, n.6, p.52-66, 2011; FRANÇA, Maria do Perpetuo Socorro. Raízes históricas do ensino secundário público na Província do Grão-Pará: o Liceu Paraense (1840-1889). 1997. Dissertação (Mestrado em Educação). Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1997; RICCI, Magda. Do sentido aos significados da Cabanagem: percursos historiográficos. Anais do Arquivo Público do Pará, v.4, tomoI, p.241-274, 2001.
  • 6
    BATISTA, Luciana. Muito Além dos seringais: elites, fortunas e hierarquias no Grão-Pará, c. 1850-c.1870. 2004. Dissertação (Mestrado em História Social). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004; NUNES, Francivaldo. Sob o signo do moderno cultivo: Estado imperial e agricultura na Amazônia. 2011. Tese (Doutorado em História). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2011.
  • 7
    OLIVEIRA FILHO, João Pacheco. O Caboclo e o Brabo. Notas sobre duas modalidades de força de trabalho na expansão da fronteira amazônica no século XIX. Encontros com a Civilização Brasileira, v.10, p.101-148, 1979.
  • 8
    Domingos Soares Ferreira Penna nasceu em 1818, em Minas Gerais. Antes de radicar-se em Belém, em 1858, ocupou vários cargos na província natal, em São Paulo e na Corte. Foi nomeado Secretário de Governo na gestão de Manoel Frias e Vasconcellos frente à província do Pará - permaneceu no cargo por nove anos, no qual empreendeu várias viagens pelo interior amazônico coletando produtos naturais e objetos arqueológicos, cujos relatórios foram importantes memórias sobre as riquezas naturais e a situação social das populações do Sertão. Foi também naturalista-viajante a serviço do Museu Nacional entre 1872 e 1884. Participou de importantes debates científicos com Ladislau Netto, então diretor do Museu Nacional, a respeito do patrimônio arqueológico na Amazônia. Sobre a trajetória intelectual de Ferreira Penna, cf.: CUNHA, Osvaldo. Domingos Soares Ferreira Penna: uma análise de sua vida e sua obra. In: PENNA, Domingos Soares. Obras completas de Domingos Soares Ferreira Penna. Belém: Conselho Estadual de Cultura, 1973. p.11-41.
  • 9
    SANJAD, Nelson. A Coruja de Minerva: o museu paraense entre o Império e a República (1866-1907). Brasília: Instituto Brasileiro de Museus; Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi; Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2010.
  • 10
    SAID, Edward.Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. p.60-82.
  • 11
    Para uma discussão aprofundada sobre o sertão amazônico no Grão-Pará oitocentista, cf.: NUNES, Francivaldo Alves. Roceiros, extratores e o viver nos sertões amazônicos: interesses de observação e estratégias de controle do Estado Imperial. In: NUNES, Francivaldo Alves; SILVA, Bruno de Souza (org.). História agrária em diferentes temporalidades: terra, trabalho e deslocamento. Belém: Cabana, 2021. p.80-94.
  • 12
    José Veríssimo de Mattos nasceu em 8 de abril de 1857, em Óbidos, oeste do Pará. Em Belém escreveu regularmente nos jornaisO Liberal do Pará,A Província do Pará,A RepúblicaeGazeta de Notícias. Publicou os livros Primeiras páginas (1878), Cenas da vida Amazônica (1886) e Estudos Brasileiros - 1a série (1877-1889) (1889). No campo educativo, integrou a Sociedade Paraense Promotora da Instrução (1883-1884), organizou o Colégio Americano(1884-1890), escreveuA Educação Nacional(1890) e assumiu a direção da Instrução Pública do Governo Provisório Republicano (1889-1891). Para aprofundamento sobre fatos da vida e aspectos da obra de Veríssimo, cf.: PRISCO, Francisco. José Verissimo. Sua vida e suas obras. Rio de Janeiro: Brigueit, 1937.
  • 13
    GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere. 2.ed. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
  • 14
    ALONSO, Angela. Ideias em movimento: a geração de 1870 na crise do Brasil-Império. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
  • 15
    Ibidem.
  • 16
    MORAES, Felipe Tavares de. José Veríssimo (1857-1916), intelectual amazônico: Geração 1870 e a educação no Grão-Pará (1877-1891). 2018. Tese (Doutorado em Educação). Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018.
  • 17
    GRAMSCI, Antonio. Op.Cit., p.32. (grifo nosso).
  • 18
    SANJAD, Nelson. Op.Cit.
  • 19
    MACHADO, Maria Helena. A ciência norte-americana visita a Amazônia: entre o criacionismo cristão e o poligenismo “degeracionista”. Revista USP, São Paulo, n.75, p.68-75, 2007.
  • 20
    SANJAD, Nelson. Op.Cit., p.53.
  • 21
    MACHADO. Op.Cit.
  • 22
    Ibidem.
  • 23
    Os oito membros assinantes dos estatutos da Associação Filomática eram: dr. Américo Marques de Santa Rosa, dr. José Ferreira Cantão, padre Felix Vicente de Ledo, Francisco Accacio Corrêa, Antonio Nicolau Monteiro Baena, José de Carvalho Serzedello, José Antonio Affonso e Domingos Soares Ferreira Penna. Cf.: CRISPINO, Luís Carlos Bassalo etal. (org.). As origens do Museu Paraense Emílio Goeldi: aspectos históricos e iconográficos (1860-1921). Belém: Paka-Tatu, 2006.; SANJAD. Op.Cit.
  • 24
    Ibidem.
  • 25
    FREITAS, Marcus Vinicius de. Charles Hartt: um naturalista no Império de D. Pedro II. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2000; Ibidem.
  • 26
    FREITAS, Marcus Vinicius de. Op. Cit.; SANJAD, Nelson. Op.Cit.
  • 27
    CRISPINO, Luís Carlos Bassalo etal. Op.Cit.; Ibidem.
  • 28
    Ibidem, p.57. (grifo nosso).
  • 29
    Ibidem, p.57.
  • 30
    SANJAD, Nelson. Op.Cit., p.143.
  • 31
    SANJAD. Op.Cit, p.137-138.
  • 32
    Sobre a formação de redes de sociabilidade intelectual, principalmente em torno de projetos editoriais (revistas), cf.: SIRINELLI, Jean-François. Os intelectuais. In: REMOND, René (org.). Por uma história política. 2.ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003. p.231-270.
  • 33
    Ferreira Penna publicou os estudos “Communicações antigas entre Matto-Grosso e Pará” (março, 1883, p.7-15) e “Scenas da Cabanagem no Tocantins” (junho, 1883, p.113-119, primeira parte; julho, 1883, p.157-166, segunda parte).
  • 34
    SANJAD. Op.Cit.
  • 35
    SANJAD. Op.Cit., p.145.
  • 36
    PRISCO. Op.Cit.
  • 37
    VERÍSSIMO, José. Primeiras páginas. Belém: Tipographia Guttemberg, 1878. p.20.
  • 38
    Ibidem, p.20. (grifo nosso)
  • 39
    Ibidem, p.22.
  • 40
    Ibidem, p.49. (grifo nosso)
  • 41
    Ibidem, p.49. (grifo nosso)
  • 42
    BATISTA, Luciana. Op.Cit.; HENRIQUE, Márcio Couto. O general e os tapuios: linguagem, raça e mestiçagem em Couto de Magalhães (1864-1876). 2003. Dissertação (Mestrado em Antropologia). Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Pará, Belém, 2003; MARTINS, Karla Denise. Cristóforo e a romanização do Inferno Verde: as propostas de D. Macedo Costa para a civilização da Amazônia (1860-1890). 2005. Tese (Doutorado em História). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2005; NEVES, Fernando Arthur Freitas. Solidariedade e conflito: estado liberal e nação católica no Pará sob o pastorado de Dom Macedo Costa (1862-1889). 2009. Tese (Doutorado em História Social). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2009.
  • 43
    VERÍSSIMO, José. Primeiras páginas…, p.61. (grifo nosso)
  • 44
    Os artigos-rascunho foram: “A linguagem popular amazônica”, publicado entre março e junho de 1883; “Tradições, crenças e superstições amazônicas”, publicado em agosto e setembro de 1883; e “As populações indígenas e mestiças da Amazônia”, a versão preliminar do ensaio final de 1886, publicado em janeiro-fevereiro de 1884.
  • 45
    MORAES. Op.Cit.
  • 46
    VERÍSSIMO, José. Editorial. Revista Amazônica, anoI, tomoI, p.5-6, 1883.
  • 47
    VERÍSSIMO, José. Primeiras páginas…, p.134.
  • 48
    Esta discussão estava inserida em um processo mais amplo de “civilização dos índios” na Amazônia, cujas forças envolvidas eram diversas, desde a Igreja Católica aos presidentes de Província, incluindo intelectuais e viajantes, passando pelos “regatões”, todos preocupados com a incorporação das populações indígenas à sociedade nacional, e cujos empreendimentos datam desde o século XVIII, com o advento do Diretório dos Índios. A este respeito, cf.: COELHO, Mauro Cezar. Do Sertão para o mar: um estudo sobre a experiência portuguesa na América, a partir da Colônia: o caso do Diretório dos Índios (1751-1798). 2005. Tese (Doutorado em História Social). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005; HENRIQUE, Márcio Couto; MORAIS, Laura. Estradas líquidas, comércio sólido: índios e regatões na Amazônia (século XIX). Revista de História (USP), São Paulo, v.171, p.49-82, 2014; SAMPAIO, Patrícia Melo. “Vossa Excelência mandará o que for servido…”: políticas indígenas e indigenistas na Amazônia Portuguesa do final do século XVIII. Tempo, v.12, p.39-55, 2007.
  • 49
    Para uma discussão aprofundada sobre as doutrinas raciais do século XIX, cf.: SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: instituições, cientistas e a questão racial no Brasil - 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. p.43-66.
  • 50
    VERÍSSIMO. Op.Cit., p.133.
  • 51
    No que tange à produção etnográfica de José Veríssimo sobre as populações amazônicas, cf.: BARBOSA, João Alexandre. A tradição do impasse: linguagem da crítica e crítica da linguagem em José Veríssimo. São Paulo: Ática, 1974; BEZERRA NETO, José Maia. O homem que veio de Óbidos: pensamento social e etnografia em José Veríssimo (1877/1915). Anais do Arquivo Público do Estado do Pará, Belém, v.3, n.2, p.239-262, 1998; CASTILHO, Marina Moreno. O indígena no olhar de José Veríssimo. 2012. Tese (Doutorado em História) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012; SOUSA, Eveline Almeida de. Os ideais de civilização na Amazônia imperial: um estudo sobre os projetos de civilização indígena no Pará (1845-1889). 2011. Dissertação (Mestrado em História Social). Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Pará, Belém, 2011.
  • 52
    VERÍSSIMO. Op.Cit., p.211.
  • 53
    SCHWARCZ. Op.Cit.
  • 54
    VERÍSSIMO, José. Scenas da vida amazonica - com um estudo sobre as populações indigenas e mestiças da Amazonia. Lisboa: Livraria Editora de Tavares Cardoso & Irmão, 1886. p.10. (grifo nosso)
  • 55
    A respeito da “Geração 1870” e a questão da mestiçagem, cf.: DAMATTA, Roberto. Digressão: fábula das três raças, ou problema do racismo à brasileira. In: DAMATTA, Roberto. Relativizando: uma introdução à Antropologia Social. Rio de Janeiro: Rocco, 1993. p.58-85; ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional. São Paulo: Brasiliense, 1985; SCHWARCZ. Op.Cit.; SKIDMORE, Thomas. Preto no branco: raça e nacionalidade no pensamento brasileiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976; VENTURA, Roberto. Estilo tropical: história tropical e polêmicas literárias no Brasil, 1870-1914. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.
  • 56
    CUNHA, Manuela Carneiro. Introdução a uma História Indígena. In: CUNHA, Manuela Carneiro (org.). História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p.11.
  • 57
    LIMA, Deborah de Magalhães. A construção histórica do termo caboclo sobre estruturas e representações sociais no meio rural amazônico. Novos Cadernos NAEA, v.2, n.2, 1999, p.20. (grifo nosso)
  • 58
    MOREIRA NETO, Carlos Araújo. Índios na Amazônia: de maioria a minoria (1750-1850). Petrópolis: Vozes, 1988. p.48. (grifo nosso)
  • 59
    ARENZ, Karl. Anticaboclismo. Revista de Estudos de Cultura, n.3, p.30-31, 2015.
  • 60
    Sobre a historicidade do termo “caboclo”, cf.: CASTRO, Fabio Fonseca. A identidade denegada. Discutindo as representações e a autorrepresentação dos caboclos da Amazônia. Revista de Antropologia, São Paulo, v.56, n.2, 2013.; HENRIQUE, Márcio Couto. Sem Vieira nem Pombal: índios na Amazônia do século XIX. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2018.; HARRIS, Mark. What it means to be Caboclo: some critical notes on the construction of Amazonian Caboclo society as an anthropological object. Critique of Anthropology, New York, v.18, n.1, p.83-95, 1998; MOTTA-MAUÉS, Maria Angélica. A questão étnica: índios, brancos, negros e caboclos. In: MOTTA-MAUÉS, Maria Angélica. Estudos e problemas amazônicos: história social e econômica e temas especiais. Belém: Secretaria de Educação; Idesp, 1989. p.195-203.
  • 61
    VERÍSSIMO, José. Scenas da vida amazonica…, p.15. (grifo nosso)
  • 62
    Embora baseado em premissas do racismo científico, José Veríssimo tinha uma percepção da agência indígena, logo as populações indígenas poderiam ser “civilizadas”, se fossem incorporados elementos do seu modo de vida - os fracassos das iniciativas laicas e religiosas residiam na imposição cultural, que por si só geravam resistência. Nesse sentido, há um profundo olhar colonial nos seus estudos etnográficos, ao mesmo tempo devidamente assentado nas condições sociais e histórias da colonização portuguesa na Amazônia. Dessa forma, é relevante relacionar esse ponto de vista com as discussões da nova história indígena, mesmo que extrapole o escopo deste estudo, é uma promissora frente de pesquisa. Sobre esta historiografia, cf.: ALMEIDAALMEIDA, Maria Regina Celestino de. A atuação dos indígenas na História do Brasil: revisões historiográficas. Revista Brasileira de História, v.37, n.75, 2017, p.17-38., Maria Regina Celestino de. A atuação dos indígenas na História do Brasil: revisões historiográficas. Revista Brasileira de História, v.37, n.75, p.17-38, 2017.; CARVALHO JÚNIOR, Almir Diniz de. Índios cristãos no cotidiano das colônias do Norte (séculos XVII e XVIII). Revista de História, São Paulo, v.168, n.1, p.69-99, 2013.; CUNHA. Op.Cit.; HENRIQUE. Op.Cit.; MONTEIRO, John Manuel. Tupis, tapuias e historiadores: estudos de História Indígena e do Indigenismo. 2001. Tese (Livre Docência em História) - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2001.
  • 63
    “Foi assim que conclui este estudo na sua primeira edição. Hoje julgo dever fazer uma observação, que vem modificar a minha maneira de ver de ha tres annos [indica em nota de rodapé: “Escrevia isto em 1880”] acerca do remedio a dar para arrancar as raças cruzadas do Pará (e Amazonas) ao abatimento em que jazem”. Cf.: VERÍSSIMO, José. Scenas da vida amazonica…, p.93. (grifo nosso)
  • 64
    Ibidem, p.93.
  • 65
    Ibidem, p.93. (grifo nosso)
  • 66
    Ibidem, p.93.
  • 67
    VERÍSSIMO, José. Scenas da vida amazonica…, p.93-94. (grifo nosso)
  • 68
    Nessa conferência, dom Macedo Costa apresentou o programa político-cultural da Igreja Católica para a “reforma dos costumes” dos habitantes do Sertão amazônico. Esse projeto retomava a tradição histórica da Igreja de “civilização dos índios” baseada na catequese e na política de aldeamentos; se os habitantes do sertão se encontravam em “decadência” e com “costumes corrompidos”, isto devia-se à ausência da doutrina católica e o relaxamento das práticas da vida cristã - a civilização do Sertão amazônico pautava-se no fortalecimento dos sacramentos desdobrada na catequese e no aldeamento. Portanto, o ensaio de José Veríssimo discursava exatamente o oposto da conferência de dom Macedo Costa. Sobre o projeto de “civilização católica” na Amazônia oitocentista, cf.: MARTINS. Op.Cit.; NEVES. Op.Cit.
  • 69
    BEZERRA NETO, José Maia. O homem que veio de Óbidos…; FIGUEIREDO, Aldrin Moura de. A cidade dos encantados: pajelanças, feitiçarias e religiões afro-brasileiras na Amazônia, 1870-1950. Belém: EDUFPA, 2008; BARBOSA, Maurel. O Pajé: literatura, naturalismo e história no Pará do século XIX. Belém: Instituto de Artes do Pará, 2013; MORAES. Op.Cit.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Dez 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    02 Out 2021
  • Aceito
    21 Fev 2022
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