Valium endovenoso no tratamento do estado de mal epiléptico

Mega, Décio; Lison, Michel P.

doi:10.1590/S0004-282X1968000200008

Resumos

Um grupo de 25 pacientes em "estado de mal epiléptico" foi submetido a tratamento pelo Valium endovenoso. Vinte desses pacientes apresentavam afecção cerebral crônica e, os restantes, afecção aguda. A droga mostrou-se extremamente eficaz no controle das crises, principalmente nos casos com afecção cerebral crônica. Depressão respiratória foi observada em apenas um paciente com afecção cerebral aguda. O eletrencefalograma, obtido durante a administração do Valium, evidenciou o desaparecimento completo da atividade paroxística, que foi substituída, no hemisfério normal, por ritmo beta bem desenvolvido. No hemisfério comprometido o ritmo apresentou-se bastante deprimido ou desorganizado e com discreta ou nenhuma atividade beta. Baseado em nosso trabalho e naqueles previamente relatados, concluimos: 1) Valium endovenoso constitui atualmente a droga de escolha para o controle de qualquer tipo de estado de mal epiléptico; 2) em pacientes com afecção cerebral aguda, sua administração deve ser feita com maior cautela em virtude de efeitos colaterais indesejáveis que pode determinar; 3) o exame eletrencefalográfico, obtido durante a administração do Valium, pode ser um elemento importante para se determinar o hemisfério comprometido.

Twenty five patients in status epilepticus were submitted to treatment by intravenous Valium. Twenty of them were afflicted by chronic cerebral disorders and the others by acute cerebral disorders. The treatment proved to be extremely efficient in the control of the seizures, specially in the cases with chronic lesions. Respiratory depression was observed in only one patient afflicted by acute cerebral lesion. Electroencephalograms obtained during the administration of Valium showed complete extinction of the paroxystic activity, which was replaced, in the normal hemisphere, by well developed beta rythm. In the injured hemisphere the background activity was quite depressed or desorganized and presented little or no beta activity. These findings and those previously reported by others allow the following conclusions: 1) intravenous Valium is presently the drug of choice for the control of any type of status epilepticus; 2) in patients with acute cerebral disorders, the administration of Valium should be made with care, because of its undersirable collateral affects; 3) the electroencephalographic examination during the administration of Valium may be important for the determination of which cerebral hemisphere is injured.

Valium endovenoso no tratamento do estado de mal epiléptico

Intravenous Valium in treatment of status epilepticus

Décio Mega; Michel P. Lison

Assistentes; Departamento de Neurologia (Prof. J. Armbrust-Figueiredo) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo

RESUMO

Um grupo de 25 pacientes em "estado de mal epiléptico" foi submetido a tratamento pelo Valium endovenoso. Vinte desses pacientes apresentavam afecção cerebral crônica e, os restantes, afecção aguda. A droga mostrou-se extremamente eficaz no controle das crises, principalmente nos casos com afecção cerebral crônica. Depressão respiratória foi observada em apenas um paciente com afecção cerebral aguda. O eletrencefalograma, obtido durante a administração do Valium, evidenciou o desaparecimento completo da atividade paroxística, que foi substituída, no hemisfério normal, por ritmo beta bem desenvolvido. No hemisfério comprometido o ritmo apresentou-se bastante deprimido ou desorganizado e com discreta ou nenhuma atividade beta.

Baseado em nosso trabalho e naqueles previamente relatados, concluimos: 1) Valium endovenoso constitui atualmente a droga de escolha para o controle de qualquer tipo de estado de mal epiléptico; 2) em pacientes com afecção cerebral aguda, sua administração deve ser feita com maior cautela em virtude de efeitos colaterais indesejáveis que pode determinar; 3) o exame eletrencefalográfico, obtido durante a administração do Valium, pode ser um elemento importante para se determinar o hemisfério comprometido.

SUMMARY

Twenty five patients in status epilepticus were submitted to treatment by intravenous Valium. Twenty of them were afflicted by chronic cerebral disorders and the others by acute cerebral disorders. The treatment proved to be extremely efficient in the control of the seizures, specially in the cases with chronic lesions. Respiratory depression was observed in only one patient afflicted by acute cerebral lesion. Electroencephalograms obtained during the administration of Valium showed complete extinction of the paroxystic activity, which was replaced, in the normal hemisphere, by well developed beta rythm. In the injured hemisphere the background activity was quite depressed or desorganized and presented little or no beta activity.

These findings and those previously reported by others allow the following conclusions: 1) intravenous Valium is presently the drug of choice for the control of any type of status epilepticus; 2) in patients with acute cerebral disorders, the administration of Valium should be made with care, because of its undersirable collateral affects; 3) the electroencephalographic examination during the administration of Valium may be important for the determination of which cerebral hemisphere is injured.

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Departamento de Neurologia Faculdade de Medicina Ribeirão Preto, SP Brasil.

Nota dos autores Agradecemos a Produtos Roche Químicos e Farmacêuticos S.A. pelo fornecimento do Valium.

1. GASTAUT, H.; CAVENESS, W. F.; LANDOLT, H.; LORENTZ DE HAAS, A. M.; MC NAUGHTON, F. L.; MAGNUS, O.; MERLIS, J. R.; POND, D. A.; RADERMECKER, J. & STORM VAN LEEUWEN, W. A proposed international classification of epileptic seizures. Epilepsia 5:297-306, 1964.
2. GASTAUT, H.; ROGER, J.; LOB, H. & TASSINARI, C. A. Les nouveaux medicaments anti-épileptiques. L'Encéphale 54:407-421, 1965.
3. GASTAUT, H.; ROGER, J.; SOULAYROL, R.; SAINT-JEAN, M.; TASSINARI, C. A.; REGIS, H.; BERNARD, R.; PINSARD, N. & DRAVET, C. L'encéphalopathie épileptique de l'infant avec pointe-ondes lentes diffuses (alias "Petit Mai Variant") ou syndrome de Lennox. Ann. Péd. 42:2093-2103, 1966.
4. GIBBS, F. A. & ANDERSON, E. M. Treatment of hypsarhythmia and infantile spasms with a Librium analogue. Neurology 15:1173-1176, 1965.
5. LISKE, E. & FORSTER, F. M. Clinical study of a new benzodiazepine as an anticonvulsivant agent. J. New Drugs 3:241-244, 1963.
6. LISON, M. P. & MEGA, D. Espasmos em flexăo: estudo clínico e eletren-cefalográfico de paciente tratados com Ro 4-5360. Arq. Neuro-Psiquiat. (Săo Paulo) 25:87-105, 1967.
7. LIVINGSTON, S. The epilepsies: diagnosis and treatment. InDisease-a-month, Year Book Medical Publishers, Chicago, 1967.
8. LOMBROSO, C. T. Treatment of status epilepticus with Diazepam. Neurology 16:629-634, 1966.
9. MARKHAM, C. H. The treatment of myoclonic seizures of infancy and childhood with LA-1. Pediatrics 34:511-518, 1964.
10. MILLICHAP, J. G. & ORTIZ, W. R. Nitrazepam in myoclonic epilepsies. Am. J. Dis. Child. 112:242-248, 1966.
11. MÜLLER, H. R.; KLINGLER, M.,- KAESER, H. E.; WURMSER, P. & HIRT, H. R. Zur Behandlung des Status Epilepticus mit Diazepam (Valium). Erfahrungen in 12 Fallen. Schweiz. med. Wschr. 96:121-127, 1966.
12. PRENSKY, A. L.; RAFF, M. C; MOORE, M. J. & SCHWAB, R. S. Intravenous Diazepam in treatment of prolonged seizure activity New Eng. J. Med. 276:779-784, 1967.
13. RALLO PIQUÉ, E. & HENKING, R. Experimentation clinique et électro-encéphalographique du Diazepam intraveineux chez les malades épileptiques. Psychiat. Neurol. 150:214-229, 1965.

Datas de Publicação

Publicação nesta coleção
14 Maio 2013
Data do Fascículo
Jun 1968

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[1] 1. GASTAUT, H.; CAVENESS, W. F.; LANDOLT, H.; LORENTZ DE HAAS, A. M.; MC NAUGHTON, F. L.; MAGNUS, O.; MERLIS, J. R.; POND, D. A.; RADERMECKER, J. & STORM VAN LEEUWEN, W. A proposed international classification of epileptic seizures. Epilepsia 5:297-306, 1964.

[2] 2. GASTAUT, H.; ROGER, J.; LOB, H. & TASSINARI, C. A. Les nouveaux medicaments anti-épileptiques. L'Encéphale 54:407-421, 1965.

[3] 3. GASTAUT, H.; ROGER, J.; SOULAYROL, R.; SAINT-JEAN, M.; TASSINARI, C. A.; REGIS, H.; BERNARD, R.; PINSARD, N. & DRAVET, C. L'encéphalopathie épileptique de l'infant avec pointe-ondes lentes diffuses (alias "Petit Mai Variant") ou syndrome de Lennox. Ann. Péd. 42:2093-2103, 1966.

[4] 4. GIBBS, F. A. & ANDERSON, E. M. Treatment of hypsarhythmia and infantile spasms with a Librium analogue. Neurology 15:1173-1176, 1965.

[5] 5. LISKE, E. & FORSTER, F. M. Clinical study of a new benzodiazepine as an anticonvulsivant agent. J. New Drugs 3:241-244, 1963.

[6] 6. LISON, M. P. & MEGA, D. Espasmos em flexăo: estudo clínico e eletren-cefalográfico de paciente tratados com Ro 4-5360. Arq. Neuro-Psiquiat. (Săo Paulo) 25:87-105, 1967.

[7] 7. LIVINGSTON, S. The epilepsies: diagnosis and treatment. InDisease-a-month, Year Book Medical Publishers, Chicago, 1967.

[8] 8. LOMBROSO, C. T. Treatment of status epilepticus with Diazepam. Neurology 16:629-634, 1966.

[9] 9. MARKHAM, C. H. The treatment of myoclonic seizures of infancy and childhood with LA-1. Pediatrics 34:511-518, 1964.

[10] 10. MILLICHAP, J. G. & ORTIZ, W. R. Nitrazepam in myoclonic epilepsies. Am. J. Dis. Child. 112:242-248, 1966.

[11] 11. MÜLLER, H. R.; KLINGLER, M.,- KAESER, H. E.; WURMSER, P. & HIRT, H. R. Zur Behandlung des Status Epilepticus mit Diazepam (Valium). Erfahrungen in 12 Fallen. Schweiz. med. Wschr. 96:121-127, 1966.

[12] 12. PRENSKY, A. L.; RAFF, M. C; MOORE, M. J. & SCHWAB, R. S. Intravenous Diazepam in treatment of prolonged seizure activity New Eng. J. Med. 276:779-784, 1967.

[13] 13. RALLO PIQUÉ, E. & HENKING, R. Experimentation clinique et électro-encéphalographique du Diazepam intraveineux chez les malades épileptiques. Psychiat. Neurol. 150:214-229, 1965.