ANÁLISES DE LIVROS
Clinical neurology A. B. Baker (Editor). By 65 Authors. Três volumes, com 2.023 páginas. Hoeber-Harper, New York, 1955.
Neste livro, amplamente ilustrado e de caráter enciclopédico, foram estudadas não apenas as afecções neurológicas e síndromes raras, mas também as múltiplas repercussões neurológicas nos campos da Medicina Interna, da Pediatria, da Endocrinologia, da Psiquiatria, da Oftalmologia e da Otorrinolaringologia. Em grandes linhas foi dividido em 5 secções: a primeira compreende a semiologia neurológica, clínica e paraclínica; na segunda e terceira são estudadas a patologia encefálica e as afecções da medula espinhal; na quarta são consideradas as enfermidades do sistema nervoso periférico e doenças musculares; na última são expostos assuntos relacionados às carências vitamínicas, aos distúrbios endócrinos com representação neurológica e aos aspectos psicossomáticos e genéticos da Neurologia.
A semiologia neurológica é estudada em duas partes: na primeira, De Jong estuda a anamnese, a semiotécnica e a interpretação dos achados do exame neurológico. Vários subcapítulos são reservados para a análise dos diversos métodos instrumentais ou laboratoriais de diagnóstico: Peterson analisa o valor da radiologia, passando em revista sucessivamente as informações fornecidas pelas radiografias simples do crânio, pela pneumencefalografia e pneumoventriculografia, pela angiografia carotídea e vertebral, pelas radiografias da coluna vertebral, simples ou contrastadas; Jasper e Daly se encarregaram da técnica da eletrencefalografia e seus resultados (nas várias formas de epilepsia, nas lesões expansivas intracranianas, nos traumatismos cranianos, nas afecções cérebro-vasculares e em distúrbios psíquicos), da técnica e aplicações da eletromiografia e da técnica e interpretação do eletrodiagnóstico; a contribuição da Oftalmologia para o diagnóstico neurológico é exposta por Wagener e Wilbur Rucke; Ayer e Schwab se encarregaram do líqüido céfalo-raquidiano, estudando sua composição em condições normais e patológicas; infelizmente, este subcapítulo está pouco atualizado, pois não há referências à eletroforese, à cromatografia e às investigações com isótopos radioativos. Encerrando o estudo dos métodos paraclínicos, para o diagnóstico, Hunt passa em revista os principais testes psicológicos.
Iniciando o estudo da patologia encefálica, Forster resume os principais dados sôbre a fisiologia e as localizações cerebrais; Nielsen estuda as agnosias, apraxias, linguagem e afasias; Peyton, French e Baker consideram as neoplasias intracranianas, analisando as manifestações clínicas, a sintomatologia geral e topográfica e os princípios gerais do tratamento. As doenças vasculares são estudadas em dois subcapítulos: no primeiro, escrito por Harris e Towler, são consideradas as intracerebrais, entre as quais incluem, aceitando um conceito assaz discutível, as psicoses pré-senis, do tipo Alzheimer ou do tipo Pick; as doenças vasculares extracerebrais são revistas por Voris, que incluiu as hemorragias subdurals espontâneas, as hemorragias subaracnoidéias não traumáticas com suas causas mais freqüentes, sobretudo os aneurismas intracranianos. Courville estuda as conseqüências neurológicas da anóxia cerebral. O excelente capítulo sôbre as cefaléias, de autoria de Kunkle e Wolff, é praticamente uma transcrição do artigo escrito por estes autores no "Modem Trends in Neurology", editado por Feiling em 1951. No capitulo destinado às infecções da dura-máter, Boris estuda o abscesso extradural, as tromboflebites dos seios durais e o abscesso subdural. Sahs é o autor do artigo sôbre meningites, tornando-o perfeitamente atualizado. Zimmerman estuda os abscessos cerebrais e as encefalites supurativas difusas. Baker considera as encefalites a vírus e suas conseqüências; com a denominação de formas secundárias da encefalite, êste autor engloba as repercussões encefálicas de infecções provocadas por microrganismos viscerotrópicos, as encefalopatias secundárias e doenças exantemáticas e as encefalites que complicam várias outras infecções. Walter Bruetsch foi encarregado do estudo da sintomatologia e da anatomia patológica da sífilis nervosa em suas diversas formas, enquanto que para O'Leary foi reservado o subcapítulo correspondente à sua terapêutica; os diversos processos de tratamento e suas técnicas são analisados, sendo expostos esquemas de tratamento apropriados para cada forma de neurolues. Cohen estuda os efeitos clínicos e as alterações anátomo-patológicas, assim como a respectiva terapêutica, produzidas pelas intoxicações por metais pesados, por hipnóticos e anticonvulsivantes, por analgésicos e antipiréticos e por drogas convulsivantes e analéticas; êste autor passa em revista os efeitos farmacológicos, sôbre o encéfalo, de drogas que agem sôbre o sistema nervoso autônomo, dos anti-helmínticos, dos solventes orgânicos e de outras substâncias ativas sôbre o sistema nervoso central; depois, são estudados os efeitos tóxicos secundários sôbre o sistema nervoso provocados ocasionalmente por agentes terapêuticos (atebrina, quinina, sulfas, penicilina, estreptomicina, digitalina, quinidina, BAD; excelente análise do quadro da intoxicação por toxinas endógenas e bacterianas (diftérica, tetânica, botulínica) encerra êste capítulo. As toxicomanias pelos opiáceos, pelos diversos analgésicos sintéticos, pelos barbitúricos, pela cocaína, pela benzedrina e pela mescalina são revistas por Wikler e Altschul. O alcoolismo e as síndromes por êle determinadas são estudadas por Leo Alexander. Voris se incumbiu de estudar os traumatismos crânio-cerebrais, suas diversas modalidades e conseqüências, seu tratamento e as diversas formas clínicas com que se apresentam suas seqüelas. O problema das epilepsias e distúrbios convulsivos é tratado por Forster; embora o artigo esteja bem cuidado, acreditamos que em obra do vulto desta que estamos analisando, o estudo de assunto de tanta importância deveria merecer maior desenvolvimento. Buchanan se incumbiu do estudo das doenças desmielinizantes do sistema nervoso, passando em revista, sucessivamente, as escleroses múltiplas, as escleroses difusas em suas várias formas, a mielite neuro-óptica, a doença de Leber, a degeneração progressiva difusa da substância cinzenta cerebral, a degeneração combinada subaguda da medula e a esclerose tuberosa. As doenças extrapiramidais são revistas por Herz e Meyers que expõem os dados anátomo-fisiológicos básicos do sistema extrapiramidal e as principais manifestações e entidades clínicas. Haymaker e Anderson se encarregaram do estudo de um assunto muito atual como sejam as perturbações do hipotálamo e da hipófise. Brown se incumbiu do estudo do cerebelo, revendo os dados fundamentais de anatomia e fisiologia clínica, de semiologia e das diferentes doenças cerebelares; merecem destaque vários esquemas de elevado valor didático com que o autor auxilia a compreensão da intrincada fisiologia cerebelar. As afecções do tronco do encéfalo e dos nervos cranianos são objeto de artigo de Haymaker e Kuhlenbeck.
Hollinshead estuda a anatomia e a fisiologia medular, tecendo Rooke e Corbin considerações clínicas gerais. Finlayson se incumbiu do artigo sôbre a siringomielia e certas condições correlatas (hidromielia, doença de Morvan). Craig fêz a revisão do problema dos tumores intra-raquidianos. As hérnias dos discos intervertebrals são estudadas por Love. Stegmann escreveu sôbre as doenças vasculares da medula, expondo dados fundamentais da anatomia, da circulação arterial e venosa intra-raquidiana e as síndromes clínicas decorrentes de oclusões ou de hemorragias dêsses vasos. Naffziger e John Adams estudam os traumatismos medulares quanto a seus mecanismos, sua anatomia patológica e seus aspectos clínicos e terapêuticos. As mielites, incluindo formas especiais (abscessos medulares, abscessos subepidurais, a poliomielite, as neuronites, a paralisia de Landry), as mielites secundárias a várias outras infecções, as mielopatias tóxicas são objeto do artigo de Schaller. O estudo das atrofias e distrofias musculares foi entregue à competência de Robert Air que as classificou em cinco grupos: 1) por comprometimento do neurônio motor superior; 2) por comprometimento associado do neurônio motor superior e do neurônio motor periférico; 3) por comprometimento do neurônio motor periférico; 4) por comprometimento da sinapse neuromuscular; 5) por comprometimento primitivo do músculo. Em cada um dêsses grupos, o autor inclui diversas afecções, adotando conceitos por vêzes discutíveis; assim, a miotonia congênita, a distrofia miotônica de Steinert e a paralisia periódica familial são enquadradas no grupo das doenças primitivamente musculares, quando, ao que parece, seriam melhor situadas no grupo dos distúrbios da sinapse neuromuscular, ao lado da miastenia grave. Woltman e Kernohan tratam da patologia dos nervos periféricos, revendo os elementos gerais de anatomia e fisiologia; a seguir, estudam as diversas neurites, isoladas, associadas ou generalizadas. Adson, Baker e Svien relatam as diversas neuralgias; êste capítulo é bem atualizads, fazendo menção ã recente técnica de Taarnoj para o tratamento da neuralgia essencial do trigêmeo. Rasmussen revê, com cuidado e boa documentação, as diversas anomalias do desenvolvimento do sistema nervoso central; Klingman analisa várias afecções congênitas e pré-natais; para o estudo da paralisia cerebral infantil foi reservado um capítulo (Perlstein). A patologia do sistema nervoso vegetativo foi estudada por Abbott em capítulo bem atualizado e de alto interêsse clínico. Tichy e Spies se incumbiram das questões relativas às carências vitamínicas e dos quadros clínico-neurológicos que elas desencadeiam. As repercussões nervosas dos distúrbios endócrinos são discutidas por Hurxthal, Musulin e Dynes, que consideram, sucessivamente, as disfunções tireoidéias, paratireoidéias, suprarrenais e gonadais. Capítulo assaz interessante e de valor prático é o da lavra de Chalgren, que analisa as conseqüências neurológicas das doenças hemáticas, de afecções vasculares sistêmicas, das lipoidoses e de outras entidades clínicas gerais de etiologia ainda obscura. Pearce Bailey foi incumbido de assunto cuja importância aumenta diàriamente - a reabilitação neurológica - "sistema de terapêuticas dinâmicas destinadas a conduzir o enfêrmo com redução de sua capacidade ao máximo nível funcional de reajustamento físico, psicológico, social e vocacional compatível com sua lesão". Finalmente, nos dois últimos capítulos, Aring expõe os problemas psicológicos da Neurologia e Refsum aborda os aspectos genéticos da especialidade.
Na avaliação global da obra, deve ser salientada a excelente supervisão do editor, impedindo, no natural embricamento de matérias de diversos capítulos, repetições ou omissões de assuntos. Com algumas ressalvas, os capítulos são de desenvolvimento bem equilibrado em função de sua importância clínica. Em suma, êste compêndio é excelente para o manuseio de internistas, para os quais foi destinado, assim como para os neurologistas, sobretudo para aquêles que possuem também funções didáticas. Completo índice alfabético facilita sobremodo a procura do que se deseja estudar.
R. Melaragno Filho
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
08 Abr 2014 -
Data do Fascículo
Set 1955
