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Análises de livros

Análises de livros

HORIZONS IN NEUROLOGICAL EDUCATION. Editado sob os auspicios do Barrow Neurological Institute. Um volume (15,5 x 24) com 199 páginas e 70 figuras. Charles C. Thomas, Springfield (Illinois) U.S.A., 1965.

Êste livro contem material que interessa a todos os que têm responsabilidades no ensino da Neurologia e ciências afins, constituido pelos discursos pronunciados por eminentes autoridades reunidas em simpósio organizado pela Western Neurological Society (Phoenix, Arizona) para celebrar, em outubro de 1962, a inauguração do Barrow Neurological Institute. Na introdução, David D. Daly, Chefe da Divisão de Neurologia do novo instituto, aponta as razões que levaram à fundação dêsse organismo, salientando que, além do principal que é o diagnóstico e tratamento das doenças neurológicas, merecerão cuidados especiais a pesquisa e o ensino. Iniciando o simpósio, Augustus S. Rose, professor de Neurologia na Universidade de Califórnia que, na qualidade de elemento da Diretoria da American Neurological Association, tinha sido encarregado de um inquérito sôbre o ensino da Neurologia nas escolas médicas norte-americanas, expôs o panorama geral da educação neurológica nos Estados Unidos da América do Norte, mostrando os grandes progressos feitos na última década e os defeitos ainda existentes, indicando as linhas gerais para uma planificação melhor dos estudos durante o curso de graduação para despertar maior interêsse dos estudantes pela especialização em Neurologia. Mac Donald Critchley, chefe do Departamento de Neurologia do National Hospital (Queen Square, Londres) discorreu sôbre o treinamento de neurologistas, defendendo a idéia de que são necessários nove (9) anos de curso pós-graduado para a formação de um especialista em Neurologia (18 meses em Clínica Médica, 18 meses em ciências básicas correlatas à Neurologia, 4 anos de residência em Clínica Neurológica, dois anos de trabalho em ciência básica e em clínica em países estrangeiros). Eric Goldberg, chefe do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da Universidade de Illinois, delineou as linhas mestras que devem pautar a educação de neurocirurgiões. John D. French, diretor do Brain Research Institute da Universidade de California, mostrou o papel preponderante da pesquisa para o progresso das ciências neurológicas indicando as etapas necessárias para a promoção de um pesquisador; além disso, baseado em longa experiência e em dados estatísticos demonstrando que o maior número de pesquisadores neste setor é colhido, não entre os doutores em Medicina (M.D.), mas entre os doutores em ciência (Ph.D.), French, embora reconhecendo que os pesquisadores médicos têm vantagens na correlação entre os resultados das pesquisas e os dados da prática clínica, defende o ponto de vista de que as escolas médicas devem preocupar-se, primacialmente, com a formação de bons neurologistas capazes de diagnosticar, de tratar e de prevenir as doenças do sistema nervoso, deixando a pesquisa como parte acessória, utilizável pelos que tenham vocação para trabalhos de laboratório. H. Houston Merritt, professor de Neurologia na Universidade de Columbia (New York), depois de referir as linhas de desenvolvimento da Neurologia e ciências afins através dos tempos e citar os nomes dos pioneiros, expõe, de maneira sucinta, seus pontos de vista a respeito da educação de neurologistas que, além de ter aptidão para diagnosticar e localizar as lesões do sistema nervoso, devem saber interpretar por si mesmos os exames complementares e, ainda mais, conhecer os mecanismos fisiológicos e bioquímicos cujas alterações condicionam a ocorrência de distúrbios neurológicos. Percival Bailey, diretor de pesquisas do Illinois State Psychiatric Institute (Chicago), internacionalmente considerado como um dos maiores educadores em ciências neuro-psiquiátricas, discorreu sôbre a Pesquisa Biológica, setor que está hoje em pleno desenvolvimento e que, ao lado da Psiquiatria organicista, certamente terá papel relevante para a melhor compreensão da pato- genia e para o tratamento de doenças mentais. Kenneth M. Earle, chefe da Secção de Neuropatologia do Armed Forces Institute of Pathology (Washington, D.C.), expôs o quanto se ampliaram os horizontes da neuropatologia com o advento de novos métodos de pesquisa. Theodore Rasmussen, diretor da Montreal Neurological Institute (Canadá), discorreu sôbre a evolução da neurocirurgia, indicando, depois, as linhas de seu desenvolvimento no futuro. Por fim, Paul C. Bucy, professor de Neurocirurgia da Northwestern University Medical School (Chicago) referiu os grandes benefícios auferidos pela Neurocirurgia com o apoio dos fundos proporcionados pelo National Institute of Health (Chicago).

A segunda parte do livro contém discursos pronunciados no ato inaugural do do Barrow Neurological Institute, sendo de destacar aquêle em que John R. Green, encarregado da chefia da secção de Neurocirurgia do estabelecimento, relata com pormenores os trâmites seguidos e as dificuldades vencidas para criação dêsse instituto cujos fundadores visaram, além de ministrar assistência a doentes neurológicos, desenvolver a pesquisa e expandir conhecimentos neurológicos. Êste discurso, útil de ser lido, por todos aquêles que pretendem criar Institutos de Neurologia, é complementado, nas últimas páginas dêste livro, com o histórico, feito pelo mesmo John R. Green, da criação de alguns dos mais prestigiosos institutos do mundo, como sejam a famosa célula-mater da Neurologia que é o The National Hospital, Queen Square (Londres), fundado em 1860 e onde pontificaram, entre outros, Charles Edouard Brown-Sequard, John Hughlings Jackson, William R. Gowers, David Ferrier, Victor Horsley, S. A. Kinnier Wilson, Gordon Holmes e J. C. Greenfield. Além desta instituição pioneira, são relembrados fatos relativos à fundação do Instituto Psico-Neurológico de Leningrado por Bechterew em 1903, do Neurological Institute of New York (1909), do Montreal Neurological Institute (1930), do Instituto Bunge (Antuérpia, Bélgica) em 1934, do Illinois Neuropsychiatric Institute (Chicago) em 1935, do National Institute of Neurological Disease and Blindness (Bethesda, U.S.A.) em 1950.

O. Lange

CHROMATOGRAPHIC AND MAGNETIC STUDIES ON HUMAN CERULOPLASMIN. Lars Broman. Monografia (15X22) com 85 páginas, 33 figuras e 7 tabelas. Suplemento 7 do volume 69 de Acta Societatis Medicorum Upsaliensis. Almqvist & Wiksell, Uppsala-Stockholm, 1964.

Após rápida revisão do metabolismo do cobre, o autor estuda, no capitulo 1, a localização da ceruloplasmina nos cromatogramas de hidroxiapatita em pH aproximadamente neutro, utilizando sôros de indivíduos somáticamente normais, sendo a atividade da ceruloplasmina determinada com substrato de N,N-dimetil-p-fenile-nodiamina e a cromatografía feita usando hidroxiapatita como adsorvente; foi encontrada relação direta entre a concentração da ceruloplasmina e a formação catalítica do composto corado, sendo a zona de atividade catalítica dos cromatogramas constituída de dois picos diferentes na região das globulinas.

No capítulo 2 é estudada a heterogeneidade da ceruloplasmina em sôros de indivíduos normais e em pacientes com doença de Wilson. Os dois picos cromato-gráficos ativos não podem ser, segundo o autor, devidos a artefatos do método analítico. Não existe heterogeneidade biológica, pois nos cromatogramas de ceruloplasmina purificada foram encontrados 3 picos, sem que as frações correspondentes revelassem diferenças quer no conteúdo de cobre, quer na atividade cobre-oxidase. O autor refere que sòmente os sôros de recém-nascidos e os de pacientes com doença de Wilson possuem concentrações de ceruloplasmina significantemente baixas; encontrou o mesmo modêlo cromatográfico da ceruloplasmina em indivíduos normais e em pacientes com degeneração hepatolenticular, admitindo, entretanto, que não pode ser afastada a possibilidade da origem genética heterogênea nos últimos. No capítulo 3 é estudada a purificação cromatográfica da ceruloplasmina humana. No capítulo 4 são apresentados os resultados de investigações físico- químicas com a ceruloplasmina e, em especial, a relação entre a côr azul e a atividade catalítica, sendo também analisadas suas propriedades magnéticas. Após rápida revisão do significado das propriedades magnéticas das moléculas, o autor determinou experimentalmente a rotação óptica e a variação da densidade óptica da ceruloplasmina em função do tempo, assim como investigou a desnaturação da ceruloplasmina com a uréia; destes estudos conclui Lars Broman que a côr azul da ceruloplasmina é provavelmente devida ã presença dos ions cúpricos. No capítulo 5 é investigada a valência do cobre nas formas oxidadas da ceruloplasmina e de uma outra cuproproteína, a lacase, confirmando a existência, na ceruloplasmina, de quatro pares cuproso-cúpricos e, na lacase, de dois pares cuproso-cúpricos, o que deve ter alta significação biológica. No capítulo 6 é estudada a cinética química da lacase e da ceruloplasmina, evidenciando a formação de complexos do tipo substrato-enzima. No capítulo 7 são discutidas as possíveis funções da ceruloplasmina, admitindo o autor que os ions cuprosos da molécula podem interferir com os sistemas de eletrons pi dos seus substratos, e então discute a ação do par cuproso-cúprico no processo biológico. Quanto ao transporte do cobre lembra que êste metal é tão indispensável quanto o ferro para o organismo humano. Termina formulando a hipótese de que o transporte do cobre do fígado para as células do organismo é realizado pela ceruloplasmina. O cobre assim transportado é cedido nos locais da célula onde a citocromo-oxidase é sintetizada.

O trabalho oferece subsídios novos para o esclarecimento de pontos obscuros do metabolismo do cobre e deve ser lido por todos quantos se interessem pelas alterações químicas que ocorrem em numerosas afecções degenerativas, em particular do sistema nervoso.

F. B. De Jorge

VESSEL-PLAQUE RELATIONS AND CEREBROSPINAL FLUID AND BRAIN TISSUE CHANGES IN MULTIPLE SCLEROSIS. Sven J. Dencker, ed. Um volume (16X24) com 94 páginas, 14 figuras e 18 tabelas. Suplemento 10 do volume 40 de Acta Neurológica Scandinavica, E. Munksgaard, Copenhagen, 1964.

Neste opúsculo estão reunidos trabalhos apresentados ao Segundo Simpósio Escandinavo sôbre Esclerose Múltipla (EM) reunido em junho-1963 (Göteborg). De acôrdo com a divisão adotada para a apresentação dos temas no simpósio, os artigos estão reunidos em dois grupos: aquêle referente à natureza das lesões vasculares ao nível das placas de esclerose e o referente a alterações do líquido cefalorraqueano (LCR) e do tecido cerebral. Da primeira parte constam 4 trabalhos: Sôbre as relações entre vasos e a placa no cérebro (T. Fog.); Alterações das veias da retina (M. Haar); Lesões da barreira hêmato-encefálica verificadas com coloração supravital (T. Broman); Alguns aspectos teóricos da disfunção da barreira hêmato-encefálica (O. Steinwal). Da segunda parte constam 5 trabalhos: Perfil clínico e eletroforese em papel (L. Bergmann e cols.); Microeletroforese em gel de agar das proteínas do LCR (J. Clausen e col.); Análise imuno-eletrofo-rética das globulinas gama do LCR (S. J. Dencker); Alterações de atividades enzimáticas em placas de pacientes com EM (J. Clausen e col.).

Em apêndice é discutida a padronização da análise das proteínas do LCR, problema estudado por comissão especial constituída de três especialistas no assunto (J. Clausen, S. J. Dencker e L. Svennerholm) em vista da dificuldade de comparar resultados provenientes de laboratórios diversos. Os autores discutem o problema da metodologia a ser empregada para o estudo das proteínas do LCR segundo três itens principais: no primeiro são verificados problemas referentes à colheita e aos cuidados a serem observados com a amostra do LCR em estudo; no segundo é discutida a determinação da concentração protêica total do LCR; no terceiro são abordados problemas referentes à concentração da amostra de LCR e à análise eletroforética de suas frações proteicas. São discutidas as possibilidades de vários métodos de concentração do LCR e comparadas as vantagens e desvantagens de vários tipos de eletroforese (eletroforese em papel, eletroforese em gel de agar e imuno-eletroforese). As vantagens dêstes dois últimos métodos são particularmente salientadas.

A. Spina-França

ELEMENTI DI VIROLOGIA. A. Spanedda. Um volume (24X17) com 463 páginas, 121 tabelas e 641 figuras. Edizione "Omnia Medica", Pisa (Italia), 1964.

Conforme Brotzu salienta na apresentação, a matéria reunida no presente volume é apresentada de modo sintético, mas suficiente para dar idéia quanto ao estado atual dos conhecimentos sôbre a virologia; atendendo à finalidade do livro o tema é limitado até certo ponto ao estudo dos zoovírus relacionados a vertebrados e suas implicações na patologia humana. A matéria é distribuida em 13 capítulos: no primeiro são apresentadas generalidades sôbre o virus (classificação, morfologia, composição e cultivo), ao lado de dados referentes às infec-ções por êles determinadas, entre os quais se destacam aquêles relacionados com a imunologia e o diagnóstico; nos capítulos seguintes são apresentados dados sôbre os vírus do grupo Myagawa (responsáveis, entre outras, pela ornitose, psitacose, meningopneumonite do homem, linfogranuloma venéreo e tracoma), sobre os vírus responsáveis por afecções vesículo-pustulosas (varíola humana e de animais), por afecções herpetiformes (herpes simples, herpes B, varicela, febre aftosa, entre outras) e por afecções do aparêlho respiratório (resfriado comum, pneumonia atípica primária, adenovirus, mixovirus e outros); seguem-se capítulos em que são estudados o vírus do sarampo, os arbovirus, os enterovirus e o vírus da raiva. Em capítulo especial são estudados os tumores relacionados com vírus, destacando-se os dados sôbre o molusco contagioso, sôbre o sarcoma de Roux e sôbre tumores humanos. Completam o livro três capítulos dedicados ao estudo dos micoplasmas, dos fagos e de rickettsias. Embora refira a classificação proposta por Sabin, em 1932, para a sistemática dos enterovirus, o autor prefere separá-los em 4 subgrupos: no primeiro são reunidos os vírus órfãos de diversas espécies animais, inclusive os do homem (vírus ECHO); no segundo, os poliovirus, incluindo os relacionados com a poliomielite anterior aguda, com a encefalomielite murina e com a encefalomielite suína; os vírus Coxsackie constituem o terceiro subgrupo, sendo o último constituido pelos vírus responsáveis por encefalomiocardites. O estudo dos vírus da poliomielite anterior aguda é iniciado por breve apanhado sôbre aspectos clínicos da doença, sendo, em seguida, reunidos dados sôbre a classificação e a ultrastrutura dos vírus do grupo e sõbre as lesões que êles podem determinar no homem e em animais de laboratório. Os problemas das reações imunológicas desencadeadas pelos vírus da poliomielite são também mencionados e, a partir dêles, são discutidos aspectos do diagnóstico (demonstração da presença de anticorpos específicos) e dos tipos de vacinação atualmente empregados.

A orientação adotada pelo autor para a feitura do livro é sobretudo didática e, nesse sentido, êle alinha dados da literatura, cia qual extraiu também a maioria das tabelas e ilustrações apresentadas. É de lamentar que as referências da bibliografia consultada não constem da obra, dificultando seu acesso a quem queira analisar de modo mais aprofundado alguns temas discutidos.

A. Spina-França

PRINCIPLES OF CLINICAL NEUROLOGY. Bernard H. Smith. Um volume (15X23 cm) com 623 páginas e 69 figuras. Year Book Medical Publishers Inc., Chicago, 1965.

Como consta do prefácio, êste livro se destina primacialmente a estudantes e, para isso, o autor procurou reduzir a proporções utilizáveis no ensino o enorme cabedal da Neurologia. Procurando não se afastar dessa diretriz, Smith desen- volve em sucessivos capítulos um programa em que os princípios da clínica neurológica são apresentados de modo claro e analítico, merecendo cada um dos temas desenvolvimento proporcional à sua importância prática, salientando os dados clínicos fundamentais, devidamente estribados em conhecimentos de neuranatomia e de neurofisiologia. Não foram esquecidos os aspectos dinâmicos da Neurologia como capítulo da clínica médica e suas interrelações com as demais especialidades. O exame neurológico, as particularidades do diagnóstico e os exames paraclínicos diretamente relacionados com a Neurologia são apresentados nos primeiros capítulos. Nos 10 capítulos seguintes são analisadas as principais alterações da sensibilidade, da motri-cidade neocinética, do sistema nervoso autônomo, da medula espinhal, dos nervos cranianos, dos gânglios da base e do cerebelo, além do estudo de aspectos clínicos das agnosias, das apraxias, das desordens da fala e das perturbações da consciência. Seguem-se estudos de temas da patologia, merecendo capítulos especiais as cefaléias, as epilepsias, os traumatismos crânio-encefálicos, as encefalopatias infantis, as hidrocefalias, os tumores intracranianos, as perturbações circulatórias cerebrais, os processos infecciosos do sistema nervoso, as afecções desmielinizantes, a de-generação medular combinada subaguda, as desordens ligadas a nervos raquea-nos, as polineuropatias em particular e as miopatias. No capítulo sobre cefaléias o autor apresenta de modo sumário alguns dados sôbre a anatomia e analisa as diversas estruturas passíveis de serem relacionadas com a dor e o seu desenvolvimento; baseado nesses dados, discute os caracteres principais dos diversos tipos de cefaléia orientando o estudante no sentido do diagnóstico, chamando a atenção, também, para os dados do exame físico e de exames de laboratório que devem ser explorados; atendendo ao interêsse prático, termina o capítulo pela revisão dos aspectos principais (etiologia, patofisiologia, sintomatologia, diagnóstico, evolução e tratamento) da enxaqueca e de seus equivalentes.

É impressão de quem analisa o livro que, sem se aprofundar em qualquer um dos temas, o autor conseguiu reunir os princípios básicos que devem nortear o ensino sistemático da clínica neurológica, tendo sido, portanto, atingida a finalidade a que se propõe. Ao lado disso, é de salientar outra qualidade da obra, qual seja a de ter sido escrita por um único autor, fato que permitiu manter uniformidade na apresentação da matéria e na conceituação dos temas discutidos. Excelente índice remissivo final facilita sobremodo a consulta a êste livro. No fim de cada capítulo são feitas referências bibliográficas fundamentais.

A. Spina-França

TRANSIENT GLOBAL AMNESIA. C. miller Fisher e raymond D. adams. Monografia (16X24) com 83 páginas. Suplemento 9 do volume 40 de Acta Neurológica Scandinavica. E. Munksgaard, Copenhagen, 1964.

Não raramente o neurologista ou o psiquiatra enfrenta o problema de determinar a causa de episódios de amnésia temporária. Baseados em 17 casos em que os pacientes, sem a associação de qualquer sinal focal, apresentaram uma crise transitória de perda de memória para fatos recentes, mantendo-se intacta a identificação pessoal e a consciência, os autores descrevem nova síndrome clínica caracterizada como amnésia transitória. Minuciosas observações clínicas apresentadas inicialmente permitem analisar, nos capítulos subseqüentes da monografia, o mecanismo da síndrome, sendo aventadas várias hipóteses para a sua patogenia. A maior duração das crises, a normalidade eletrencefalográfica na maioria dos casos, bem como a ausência de perturbações de consciência (torpor ou desorientação) são elementos que tornam difícil incluir as manifestações apresentadas pelos pacientes estudados no grupo da epilepsia temporal. Os autores tiveram o cuidado de rever seus casos de epilepsia temporal registrados nos últimos 10 anos, verificando que em nenhum dêles as manifestações clínicas se superpunham ao grupo em estudo; na opinião deles a amnésia global transitória poderia ser explicada supondo-se que houvesse descarga de um foco relacionado unicamente com a memória. Na hipótese de se tratar de manifestação vascular e de acôrdo com os conceitos atuais da anatomia da memória, a localização pode ser no giro hipocampal (ou nas conexões com o sistema límbico e o diencéfalo), nos corpos mamilares, na substância cinzenta periventricular do tronco cerebral e no tálamo ou na região têmporo-parieto-occipital dominante. No entanto, o comprometimento isolado dos corpos mamilares ou dos fórnices por doença vascular nunca foi relatado, ao passo que a amnésia temporária resultante de doença cérebro-vascular é, em geral, acompanhada de comprometimento da consciência, alterações do campo visual ou de afasia.

Não se limitam os autores ã análise dos dados clínicos, tecendo extensas considerações sôbre o significado da amnésia retrógrada e as bases neurofisiológicas da memória e do aprendizado. O trabalho vem de encontro a certas tendências, observadas últimamente, no sentido de relegar a plano secundário o estudo anamnéstico e semiológico detalhado, demonstrando que a Neurologia apresenta ainda, no terreno da clínica, setores não desbravados.

Sylvio Saraiva

CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA HISTOLOGIA DO GÂNGLIO DE GASSER. José Antonio Fernandez Cardillo. Tese para concurso de Docência Livre de Histologia e Embriologia Geral. Salvador, Bahia, 1965.

O autor estuda histológicamente 100 gânglios de Gasser, obtidos de individuos falecidos de causas variadas, mas que não envolviam diretamente as referidas estruturas. A maior parte do material proveio de doentes mentais que faleceram de moléstias intercorrentes e, outra, de necropsias de casos de acidentes ou suicídios. As células componentes do gânglio de Gasser são estudadas sob diversos aspectos - tamanho, forma, tipo e número dos prolongamentos - estabelecendo o autor, estatisticamente, as percentagens e respectivos desvios padrões com que tais tipos ocorrem. O autor registra o fato de que as moléstias determinantes da morte dos pacientes não parecem ter influído no número de células atípicas encontradas, sendo este sensivelmente igual nos gânglios dos dois lados, na maioria dos casos. Por outro lado, o autor assinalou aumento progressivo no número destas células nos pacientes de maior idade, estabelecendo que, com o aumento da idade, haveria aumento proporcional de atipias celulares.

Walter C. Pereira

VEIN OF GALEN MALFORMATION. Arnold P. Gold, Joseph Ransohoff e Sidney Carter. Monografia (16x24) com 30 páginas e 10 figuras. Suplemento 11 do volume 40 da Acta Neurologica Scandinava, E. Munksgaard, Copenhagen, 1964.

Os autores fazem uma revisão das malformações artério-venosas, dando ênfase à malformação da veia de Galeno. O estudo se baseia em 8 casos pessoais com documentação clínica e neurorradiológica, em sua maioria; em 4 casos o diagnóstico foi confirmado mediante intervenção cirúrgica; em dois a malformação foi encontrada durante necropsia. Baseados nestes 8 casos pessoais e na revisão de 34 casos da literatura, os autores verificaram a variação do quadro clínico de acôrdo com a fase etária em que se manifestaram os sintomas. No recém-nascido os sintomas básicos se manifestaram no sistema cardio-circulatório (estase circulatória periférica e insuficiência cardíaca congestiva), em decorrência da magnitude do shunt artério-venoso. Na infância as manifestações cárdio-circulatórias, ainda que presentes, são escassas, decorrendo o quadro clínico da compressão exercida pela veia de Galeno dilatada; assim a hidrocefalia é dominante (geralmente secundária à compressão do aqueduto de Sylvius), sendo freqüentes as convulsões; a ausculta de um ruído intracraniano é frequente, sendo importante diferençar tal ruído daquele encontrado em algumas crianças normais. Em crianças mais idosas e em adultos a dilatação da veia de Galeno é mais moderada; em geral não ocorrem manifestações cárdio-eireulatórias e hidrocefalia, sendo mais freqüentes a cefaléia os episódios de hemorragia subaracnóidea; as radiografias de crânio freqüentemente mostram calcificação da parede da malformação. Os exames complementares de maior interêsse para o diagnóstico foram os neurorradiológicos: a pneu-moventriculografia evidencia massa deslocando o aqueduto para baixo e o terceiro ventrículo para a frente; a arteriografia cerebral foi o exame que mais freqüentemente confirmou o diagnóstico e orientou a terapêutica cirúrgica, sendo a imagem radiológica representada por massa contrastada de 4 a 5 cm de diâmetro, de situação mediana e posterior, com a visibilização de artérias nutrientes e seios venosos dilatados.

A afecção requer tratamento médico e cirúrgico. O tratamento médico visa combater a descompensação cardíaca, controlar o volume sangüíneo, manter o equilíbrio hidro-eletrolítico e evitar as convulsões. O tratamento cirúrgico é o definitivo, embora o risco seja grande, pois as complicações cárdio-vasculares são de realce no pós-operatório imediato. O prognóstico depende da fase etária em que se manifestou a sintomatologia, sendo tanto mais favorável quanto mais tardia seja a manifestação clínica.

W. Tognola

LA PARÁLISIS CEREBRAL: SU ESTRUCTURACIÓON DINÂMICA. L. Barraquer Bordas, J. Ponces Vergé, J. Corominas Vigneaux e E. Torras de Bea. Um volume (16X23) com 197 páginas e 66 figuras. Editorial Científico-Médica, Barcelona, Espanha, 1964.

Trata-se de compêndio que estuda a Paralisia Cerebral em vários de seus aspectos, baseado em dados recolhidos em 422 observações clínicas do arquivo do "Centro Piloto de Paralisia Cerebral Arcanjo São Gabriel" de Barcelona e em bom levantamento bibliográfico. Os autores, após análise critica dos conceitos existentes e ressaltando o artificialismo da expressão "Paralisia Cerebral", consideram que se trata de um agrupamento de moléstias de etiologias diversas, tendo como caráter comum os transtornos motores de origem central. Discorrem, a seguir, sôbre a etiologia, comparando os achados de diversos autores com os seus, incorrendo na crítica feita à maior parte dos trabalhos sôbre êste assunto, ou seja, a utilização de levantamentos retrospectivos. Depois de breve revisão sôbre a patologia expõem, em três capítulos, os aspectos semióticos, focalizando o tono muscular, a postura e a movimentação em várias idades. Êstes capítulos nos parecem a parte principal do trabalho, apresentando ótima exposição semiológica da paralisia cerebral como processo dinâmico, comparando a fisionomia clínica com o desenvolvimento da criança normal. A seguir, estudam, de maneira sintética mas profunda, os problemas da organização defeituosa da linguagem, tecendo considerações, também, sôbre a evolução da psicoafetividade e a influência que as lesões neurológicas exercem sôbre o desenvolvimento do esqueleto. No que diz respeito à terapêutica e à reabilitação, o livro é pràticamente omisso, o que restringe o valor prático desta obra que, ainda assim, é de grande interêsse para neurologistas e pediatras.

Creusa Serrano

NEUROLOGY FOR NURSES. Erwin M. Jacobs e Phyllis M. Denault. Um volume (16X23,5) com 195 páginas e 43 figuras. Charles C. Thomas, Springfield (Illinois) U.S.A., 1964.

Êste livro consta de dezenove capítulos e, de modo sucinto e explicativo, abrange as diferentes síndromes neurológicas. Os primeiros três capítulos descrevem a anatomia e fisiologia do sistema nervoso, bem como o exame neurológico e os exames auxiliares. O quarto capitulo, o mais importante para a finalidade do livro, refere os cuidados de enfermagem nos casos de doença neurológica; estes aspectos são vistos detalhadamente em relação aos vários órgãos e sistemas, sendo analisados os métodos e referidas as aparelhagens necessárias. Os capítulos restantes tratam de vários temas neurológicos, sem apresentar divisão específica em sistemas, mas abordando as afecções mais freqüentes e citando as mais raras, sendo cada capítulo completado pelos cuidados de enfermagem relativos. Todo o livro é escrito de modo preciso e resumidamente, sendo todos os capítulos ilustrados com esquemas e fotografias, algumas coloridas e todas bastante nítidas. Em conclusão: é um livro que deve ser lido não somente por enfermeiras, mas também por quem queira ter uma visão resumida e rápida sobre os principais aspectos da Neurologia.

Ruth Illoz

LIVROS RECEBIDOS

Nota da Redação - A notificação dos livros recentemente recebidos não implica em compromisso da Redação da revista quanto à publicação ulterior de uma apreciação. Todos os livros recebidos são arquivados na biblioteca do Serviço de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

TEST DE RORSCHACH: EVOLUCION Y ESTADO ACTUAL. Julio Endara. Um volume (15,5X21) com 323 páginas. Editorial Casa de la Cultura Ecuatoriana, Quito, 1964.

ELEMENTI DI VIROLOGIA. Antonio Spanedda. Um volume (16,5X24) com 463 páginas, 641 figuras e 120 tabelas. Edizione Omnia Medica, Pisa (Italia), 1964.

MANUAL DE PSIQUIATRIA. O V. KERBIKOV, N. I. OSERETZKI, E A. POPOV, A. V. SNESHNEVSKI. Um volume (15X21) com 420 páginas. Traduzido do russo para o castelhano, pelo Dr. F. Villa Landa. Editora: Revista Del Hospital Psiquiátrico de La Habana, Habana (Cuba), 1965.

LA DETERMINAZIONE QUANTITATIVA DEGLI ORMONI PROTEICI CON METODI IMMUNOLOGICI. Marcello Negri. Monografia (17X24,5) com 90 páginas e 11 figuras. Edizioni Omnia Medica, Pisa (Italia), 1964.

PSEUDOHYPOPARATHYREOIDISMUS UND PSEUDO-PSEUDOHYPOPARATHYREOI-DISMUS. Gerhard Schwarz. Monografia (15,5X23,5) com 140 páginas e 37 figuras. Springer Verlag, Berlin-Göttingen-Heidelberg-New York, 1964. Preço: DM 32.

AUTOGENES TRAINING. CORRELATIONES PSYCHOSOMATICAE. W. Luthe. Um volume (17X24) com 327 páginas, 39 figuras e 34 tabelas. Georg Thieme Verla, Stuttgart, 1964. Preço: DM 45.

PRINCIPLES OF CLINICAL NEUROLOGY. Bernard H. Smith. Um volume (15x23) com 623 páginas e 68 figuras. Year Book Medical Publishers Inc., Chicago, 1965. Preço: US$ 13,50.

HORIZONS IN NEUROLOGICAL EDUCATION AND RESEARCH. Editado pelo Barrow Neurological Institute. Um volume (15,5X24) com 199 páginas e 70 figuras. Charles C. Thomas, Springfield (Illinois) U.S.A., 1965. Preço: US$ 10.00.

THE BRITISH MENTAL HOSPITAL SYSTEM. David J. Vail. Um volume (15X23,5) com 114 páginas. Charles C. Thomas, Springfield (Illinois) U.S.A., 1965. Preço: US$ 6,50.

SCHIZOPHRENIA IN MALE MONOZYGOTIC TWINS. Einar Kringlen. Monografia (16X24) com 76 páginas e 8 tabelas. Suplemento nº 178 de Acta Psychia-trica Scandinavica. E. Munksgaard, Copenhagen, 1964.

DRUG ADDICTION AND HABITUATION. N. Retterstöl e A. Sund. Monografia (15,5X24) com 120 páginas e 26 tabelas. Suplemento nº 179 de Acta Psychia-trica Scandinavica. E. Munksgaard, Copenhagen, 1965.

LA THÉORIE DES PASSIONS À LA LUMIÈRE DE LA PENSÉE MÉDÍCALE DU XVIIe SIÈCLE. Walther Riese. Monografia (17,5X25) com 74 páginas. Suplemento ao volume 8 de Confinia Psychiatrica. S. Karger A. G., Basel-New York, 1965.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Ago 2013
  • Data do Fascículo
    Set 1965
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