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ANÁLISES DE LIVROS

CEREBRO VASCULAR DISEASES: THIRTEENTH RESEARCH (PRINCETON) CONFERENCE. M. REIVICH d R.I. HURTG, editores. Um volume (15 x 24) com 437 páginas. Raven Press, New York, 1984.

Essas conferências Princeton, que se realizam desde 1954, têm seu contexto reunido agora na 13» edição. É curioso, ao se compulsar a seriação dos volumes, podermos avaliar os progressos que se processaram nestas três últimas década no que concerne ao conceito, fisiopatologia, processos diagnósticos e terapêutica da afecção vascular cerebral.

No presente volume estão consubstanciados, em 4 tópicos: a ressonância nuclear magnética (MNR), a tomografia por emissão de positrons (PET), os índices prognósticos na afecção vascular cerebral e os fatores intravasculares nas enfermidades cerebrovasculares. No primeiro item, Lauterbur e Bundinger estudaram, comparativamente, a MNR e o PET, processos em que a medicina brasileira ainda carece de. maior experiência própria. Ainda nessa sessão do livro destinada à investigação das doenças cerebrovasculares, merece destaque o estudo dos efeitos do envelhecimento e do icto nos padrões de utilização cerebral local da glicose. É utilizado o processo (18F) - fluorodeoxiglicose (o FDG), através do qual é possível comparar o metabolismo praticamente inalterado em todas as idades, incluindo nos indivíduos idosos e as alterações registradas em pacientes com a doença de Alzheimer. Hachinski, abrindo a segunda sessão do livro, estuda os indicativos prognósticos na doença cerebrovascular, os quais são função da fase em que o processo é focalizado (fase aguda, fase de recuperação, fase de recorrência). Um problema que freqüentemente se apresenta ao neurologista ou ao cirurgião vascular é o futuro de pacientes com sopros carotídeos assintomáticos. Segundo Morris e D'Alton, os dados publicados no que concerne à história natural do tratamento cirúrgico desses pacientes não são, no momento, adequados para se decidir sobre a conduta mais correta. A hoie reconhecida redução do ritmo de ictos e de mortes e, por outro lado, o aumento da mortalidade por lesões cardíacas dificultam muito a avaliação da atitude conservadora ou não nesses pacientes. Com freqüência, deve-se identificar um subgrupo de alto risco no qual o risco do icto significantemente supera os riscos combinados da angiografia e da endarterectomia carotídea. A seguir, Wilkinson e col. elaboram questionário para os sintomas de ataques isquémicos transitórios, que permitiria predizer a probabilidade de um icto subseqüente. Schoenberg e col. investigam, no capítulo seguinte, a doença cardiovascular como precursora do ataque isquémico completado de ataques isquémicos transitórios; salientam que as investigações correntes demonstraram a importância de fornias específicas de hipertensão e de doenças cardíacas como fatores que aumentam o risco de ataque isquémico, completo ou transitório. Levy e col. investigam os fatores que predizem recuperação de ataque isquémico. Assim, estudos clínicos de mais de 107 pacientes com ictos contribuíram com dados estatiísticos no conhecimento da prevalência, significância clinica, de evolução e etiologia nesses pacientes. Robinson e col. notaram vários distúrbios depressivos ou, então, depressões mitigadas e um estado de apatia e de abulia. Há probabilidades dessas diversas alterações afetivas dependerem do hemisfério que foi lesado e da localização da lesão isquémica dentro desse mesmo hemisfério. Uma pergunta bastante interessante é motivo do capítulo de Torner e col., «melhorou o prognóstico de pacientes com hemorragia subaraenóidea de causa aneurismática»? Concluiu, através de seus casos recolhidos entre 1963 a 1967 que o prognóstico de pacientes hospitalizados realmente melhorou e que a mortalidade é aproximadamente a metade do que ocorria em 1960. Entretanto, é importante frisar que a mortalidade das hemorragias subaraenóideas ainda se mantém em níveis inaceitáveis. O dano da célula cortical está, habitualmente, no jogo de dois fatores: duração e gravidade da isquemia. Heiss e Rosner concluíram, através de seus resultados, que a duração da isquemia tem uma influência marcante, na viabilidade das células corticais. Vários trabalhos registram, a seguir, aspectos do dano tissular na isquemia cerebral, assim como do metabolismo de ácidos gordurosos no mecanismo da lesão cerebral isquémica. A escola inglesa de Newcastle e de Londres, através de capítulo de autoria de Strong e col., investigou questão fascinante: estão os mecanismos de recaptação de neurotransmissores seletivamente danificados na penumbra isquémica? No que concerne à isquemia focal cerebral, a penumbra pode ser definida como área sujeita a supressão eletrofisiológica mas na qual são raros aumentos da atividade do potássio extracelular. Dados histológicos sugerem, alternadamente, que uma diasquise local resultante da falência isquémica de pequena população de neurônios pode ser responsável pelas propriedades da penumbra. A seguir Pulsinelli e Francis estudam o dano isquémico dos neurônios estriados gabaérgicos. Na última secção do livro são estudados os fatores intravasculares na doença cerebrovascular. Entre outros capítulos, são mencionados os aspectos hematológicos das tromboses, as alterações das paredes arteriais nos estenoses experimentais, a atividade cerebrovascular da nimodipina, um antagonista do cálcio, assim como os ensaios clínicos da heparina subcutânea em baixas doses.

Em resumo, trata-se de uma série de capítulos de interesse fundamental para a compreensão dos efeitos tissulares da isquemia cerebral.

ROBERTO MELARAGNO FILHO

CÉREBRO VASCULAR DISEASES: POURTEENTH RESEARCH (PRINCETON-WlLLIAMSBURG) CONFERENCE. F. PLUM & W.A. PULSINELLI, editores. Um volume (15 x 24) com 259 páginas. Raven Press, New York, 1985.

Em mais este volume, prosseguem os relatórios da já tradicional Reunião Bienal destinada à atualização das investigações e do estudo clínico das doenças vasculares cerebrais. Essas afecções, apesar do decréscimo de sua incidência nesses últimos anos, ainda permanecem problema universal, colocando-as entre as principais causas de morte logo abaixo das cardiopatias e do câncer. Entretanto, como causa de invalidez, as doenças vasculares cerebrais ainda superam esses dois grupos de afecções. Na 14* Conferência, Barnett, Plum, Pulsinelli, Rainnunth e Reivich procuram focalizar tópicos ou ainda não recentemente discutidos ou então que se mantêm controversos. Soma-se a esses capítulos, a contribuição de convidados especiais sobre assuntos correlatos.

Na abertura, D.J. Reis e col. analisam o controle do fluxo sangüíneo cerebral e o metabolismo mediado no encéfalo por sistemas neurais. Com efeito, até há 30 anos atrás, poucos admitiam que fatores neurogênicos desempenhassem papel importante no ajustamento da circulação cerebral à sua demanda metabólica ou na proteção contra as amplas flutuações da circulação sistêmica. A sessão 1 do livro, reservada a problemas clínicos controvertidos, ainda não solucionados, é aberta pelo capítulo de Barnett: prevenção e tratamento do icto, suas pedras angulares, perspectivas e desafios. Este capítulo é fundamental e necessita ser lido e meditado. Com efeito, o autor reconhece quatro ocorrências maiores que impõem critérios diagnósticos e reexame na prevenção e no tratamento do icto completado. Desta forma, analisa sucessivamente o decréscimo dramático da mortalidade e da incidência do icto, a contribuição da epidemiologia e da estatística na avaliação do tratamento (endarterectomia, por exemplo), a melhora do diagnóstico pela imagem, não só pelo CT como também pelos dados fornecidos pela imagem cardíaca e, finalmente, os resultados oriundos do emprego dos agentes antitrombóticos. Este último item, aliás, é objeto de capítulo a parte, de B.B. Weksler. Ainda Barnett investiga as condições cardíacas em função do acidente vascular cerebral, salientando os subsídios fornecidos pela ecocardiografia e pela angiografia por radioisótipos. O fascinante problema da endarterectomia carotídea, intervenção da qual ultimamente muito se usou, é considerado através dos depoimentos de Warlow, Whisnant e Dyken. Por sua vez, Charles Drake e Vinters expõem sua experiência pessoal e sua impressão no que concerne à hemorragia intracerebral. O capítulo muito atualizado sobre a cardiopatia e o icto é da incumbência de P.A. Wolf. Com efeito, indivíduos de ambos os sexos com evidência clínica de cardiopatia coronária (angina de peito ou infarto do miocárdio), apresentam fator de risco aumentado de cerca de três vezes para afecções vasculares cerebrais. Em uma série de capítulos, são estudados os fatores reológicos no icto, incluindo a influência do diabete, da aterogênese e da viscosidade sangüínea. Vários aspectos concernentes aos problemas vasculares cerebrais neonatais são realizados em uma seqüência de capítulos. Os mecanismos moleculares do dano isquémico encefálico, por sua vez, constituem relatórios muito interessantes de diferentes autores. Entre eles, destacamos o estudo de Siesjo e Wieloch sobre as lesões isquémicas cerebrais correlacionadas com o cálcio. Finalmente, retomando os trabalhos fundamentais de Plum e col., é estudada a ação da hiperglicemia e da acidóse cerebral no que concerne ao dano isquémico encefálico. As tentativas terapêuticas da prostaciclina no icto agudo são também revistas por Miller e col. Por sua vez Marder, no capítulo final indaga se agentes fibrinolíticos são exeqüíveis no tratamento do acidente vascular cerebral.

Em resumo, trata-se de uma coletânea de trabalhos extraordinariamente, útil aos neurologistas e, em vários aspectos, também aos cardiologistas e internistas.

ROBERTO MELARAGNO FILHO

RECENT ADCANCES IN EPILEPSY (3). T.A. PEDLEY & B.S. MELDRUN, editores. Um volume (16 x 24) encadernado, com 315 páginas, 67 figuras e 35 tabelas. Churchill-Livingstone, Edinburgh, 1986.

Os editores conseguiram fazer um conjunto de revisões objetivas de assuntos importantes e atuais em epileptologia. A ênfase é clínica, os textos foram claramente editados, pois o inglês é límpido apesar de muitos autores não serem anglo-saxões. Os 14 artigos cobrem neurocitologia, genética, sono, monitorização ambulatorial de EEG, toxicidade de drogas e situações clínicas nas quais ocorreram avanços recentemente, como epilepsias localizadas sintomáticas de origem frontal e hipocampo-amigdalar, epilepsias localizadas benignas da infância, epilepsias mioclônicas progressivas e síndrome de Aicardi. Alguns dos assuntos abordados não são freqüentes na literatura internacional, como atualizações sobre barbitúricos e etosuximide e extenso artigo sobre desordens sexuais na epilepsia.

A escolha dos autores é, sem dúvida, o ponto forte do volume. Sem exceção, têm extensa experiência sobre seus assuntos, como por exemplo Jean Aicardi na sua síndrome, Mattson em barbitúricos, Lerman e Kivity nas epilepsias localizadas benignas da infância e Greg Stores em status epilepticus não convulsivo.

O volume é recomendado a todos epileptófilos como adjunto ao livro-texto que talvez já tenham. Talvez a única frustração seja que nem Heinz Wieser e nem L.F. Quesney consigam convencer o leitor da utilidade da subclassificação de crises parciais complexas em frontais, amígdalo-hipocampais ou outras. Suas contribuições, contrariamente a quase todas as outras, deixam a desejar em clareza, objetividade e utilidade clínica imediata.

PAULO ROGÉRIO M. BITTENCOURT

SENILE DEMENTIA OF THE ALZHEIMER TYPE: EARLY DIAGNOSIS, NEUROPATHOLOGY AND ANIMAL MODELS. J. TRABER á W.H. GISPEN, editores. Springer-Verlag, Heidelberg, 1985.

Assunto verdadeiramente pungente são as conseqüências neurológicas, psicológicas e mesmo sociológicas da doença de Alzheimer. Embora possa ocorrer em grupos etários presenis, a doença de Alzheimer atinge em percentagem impressionante indivíduos idosos, cujo número aumenta impressionantemente em decorrência do aumento da longevidade humana. A decadência alarmante e rápida das funções intelectuais que conduz ao estado demencial, em número importante dos indivíduos idosos constitui desafio à ciência. Foi a súplica de um membro do primeiro Simpósio Internacional do Envelhecimento Cerebral: «façamos alguma coisa; nós não estamos aqui tratando de mais uma doença; nós lidamos com a dignidade humana».

No presente volume estão contidos os relatórios do segundo Simpósio Tropon-Bayer sobre o Envelhecimento Cerebral, desenrolado em Colónia, em novembro de 1984. Esses relatórios focalizam três tópicos, o primeiro dos quais concerne ao diagnóstico precoce de demência senil, especialmente do tipo Alzheimer. Seus autores descrevem os aspectos clínicos, a relevância dos testes neurológicos para o diagnóstico precoce, a aplicação da tomografia por emissão de positrons (PET) e a ressonância nuclear magnética (MNR), para o diagnóstico das doenças correlacionadas ao envelhecimento cerebral anormal. O segundo tópico deste livro revê os desenvolvimentos recentes na neuropatologia do encéfalo humano idoso e enfermo. Os relatórios nesta área dizem respeito não apenas às alterações celulares ocorrendo no encéfalo durante o envelhecimento normal mas, também, ao papel de fatores neurológicos sobre estruturas encefálicas na patogênese da doença de Alzheimer. Finalmente, o último tópico está reservado para a seleção e a avaliação dos modelos animais no envelhecimento «normal e anormal» do sistema nervoso humano. Estes estudos descrevem novas possibilidades da investigação da acetilcolina encefálica em relação ao funcionamento encefálico, assim como estuda sua eventual utilidade em macacos e ratos, na avaliação dos aspectos comportamentais do envelhecimento cerebral.

Em todo o conteúdo, revela-se o valor deste compêndio para neurologistas, psiquiatras e, ainda, médicos generalistas.

ROBERTO MELARAGNO FILHO

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Jun 2011
  • Data do Fascículo
    Mar 1987
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