Acessibilidade / Reportar erro

Sexto Empírico e as diferenças entre o Pirronismo e a filosofia dos Acadêmicos: Tradução de Esboços Pirrônicos 1.220-235

Sextus Empiricus and the Differences between Pyrrhonism and the Philosophy of the Academics: A Translation of Outlines of Pyrrhonism 1.220-235

Resumo:

Trata-se aqui de apresentar a primeira versão da tradução de Sexto Empírico, Esboços Pirrônicos 1.220-235, trecho em que o filósofo/médico cético compara o pirronismo com a filosofia da Academia.

Palavras-chave:
Pirronismo; Sexto Empírico; Esboços Pirrônicos; tradução; Academia

Abstract:

This paper consists in the presentation of the first version of the Greek/Portuguese translation of Sextus Empiricus’ Outlines of Pyrrhonism 1.220-235, passage where Sextus traces a comparison between the Pyrrhonism and the Academic philosophy.

Keywords:
Pyrrhonism; Sextus Empiricus; Outlines of Pyrrhonism; translation; Academy

I. Introdução

O texto que se segue é a tradução de parte dos últimos passos do livro I de Esboços Pirrônicos, do filósofo e médico Sexto Empírico. Mais especificamente, aqui apresentamos a seção PH 1.220-235, em que o autor pretende elencar semelhanças e diferenças entre a abordagem filosófica da escola Pirrônica, da qual ele próprio faz parte, para com a da Academia. Assim, Sexto nos narra uma breve história das ideias da Academia, desde Platão, até a chamada “quinta Academia”, mas tendo por eixo argumentativo a delineação de uma distinção mais precisa entre as duas abordagens.

Por conta disso, trata-se não só de um trecho imprescindível para compreensão tanto do Pirronismo quanto da Academia, mas também da agenda sextiana de reivindicar consistência para sua concepção de Pirronismo.

Achamos por bem não anotar o texto, não avançando nossas interpretações, mas oferecer uma versão bilíngue para que xs leitorxs possam fazer suas próprias comparações. Vale ressaltar que esta é uma tradução preliminar que ainda ganhará mais outras revisões, seguindo a mesma metodologia de trabalho que empregamos na tradução das obras de Sexto Empírico que publicamos anteriormente pela mesma editora que provavelmente publicará nossa tradução completa de Esboços Pirrônicos, a EdUNESP (Contra os retóricos: Huguenin & Brito, 2013HUGUENIN, R.; BRITO, R. P. (trads.) (2013). Sexto Empírico. Contra os retóricos. São Paulo, EdUNESP.; Contra os gramáticos: Huguenin & Brito, 2015HUGUENIN, R.; BRITO, R. P. (trads.) (2015). Sexto Empírico. Contra os gramáticos. São Paulo, EdUNESP.; Contra os astrólogos: Huguenin & Brito, 2019HUGUENIN, R.; BRITO, R. P. (trads.) (2019). Sexto Empírico. Contra os astrólogos. São Paulo, EdUNESP.).

Caso haja dúvidas, críticas ou sugestões, por favor, contatem-nos.

Desejamos a todxs uma boa leitura.

II. Tradução

Em que o ceticismo difere da filosofia da Academia

τίνι διαφέρει τῆς Ἀκαδημαϊκῆς φιλοσοφίας ἡ σκέψις

(220) Contudo, alguns dizem que a filosofia Acadêmica é a mesma que o ceticismo; eis porque discutiremos isso detalhadamente a seguir. As Academias, como muitos dizem, foram três: a primeira e a mais antiga, a do círculo de Platão; a segunda e média, a do círculo de Arcesilao, ouvinte de Pólemon; a terceira e nova, a do círculo de Carnéades e Clitômaco. Mas alguns adicionam uma quarta, a do círculo de Fílon e Cármidas, outros contam uma quinta, a do círculo de Antíoco.

(220) Φασὶ μέντοι τινὲς ὅτι ἡ Ἀκαδημαϊκὴ φιλοσοφία ἡ αὐτή ἐστι τῇ σκέψει· διόπερ ἀκόλουθον ἂν εἴη καὶ περὶ τούτου διεξελθεῖν. Ἀκαδημίαι δὲ γεγόνασιν, ὡς φασὶ<ν οἱ> πλείους [ἢ], τρεῖς, μία μὲν καὶ ἀρχαιοτάτη ἡ τῶν περὶ Πλάτωνα, δευτέρα δὲ καὶ μέση ἡ τῶν περὶ Ἀρκεσίλαον τὸν ἀκουστὴν Πολέμωνος, τρίτη δὲ καὶ νέα ἡ τῶν περὶ Καρνεάδην καὶ Κλειτόμαχον· ἔνιοι δὲ καὶ τετάρτην προστιθέασι τὴν περὶ Φίλωνα καὶ Χαρμίδαν, τινὲς δὲ καὶ πέμπτην καταλέγουσι τὴν περὶ [τὸν] Ἀντίοχον.

(221) Assim, comecemos pela primeira e vejamos a diferença das filosofias mencionadas <para com a nossa>. Então, uns disseram que Platão é dogmático, outros [que é] aporético, outros [que é] aporético por um lado e dogmático por outro lado; pois em seus discursos ginásticos - onde Sócrates é apresentado ou brincando com uns ou debatendo com os sofistas - dizem que ele tem um caráter ginástico e também aporético; mas [dizem que é] dogmático onde se ocupa de demonstrar [algo], ou através de Sócrates ou de Timeu ou de alguns outros.

(221) ἀρξάμενοι τοίνυν ἀπὸ τῆς ἀρχαίας ἴδωμεν τὴν <πρὸς ἡμᾶς> διαφορὰν τῶν εἰρημένων φιλοσοφιῶν. τὸν Πλάτωνα οὖν οἱ μὲν δογματικὸν ἔφασαν εἶναι, οἱ δὲ ἀπορητικόν, οἱ δὲ κατὰ μέν τι ἀπορητικόν, κατὰ δέ τι δογματικόν· ἐν μὲν γὰρ τοῖς γυμναστικοῖς [φασι] λόγοις, ἔνθα ὁ Σωκράτης εἰσάγεται ἤτοι παίζων πρός τινας ἢ ἀγωνιζόμενος πρὸς σοφιστάς, γυμναστικόν τε καὶ ἀπορητικόν φασιν ἔχειν αὐτὸν χαρακτῆρα, δογματικὸν δέ, ἔνθα σπουδάζων ἀποφαίνεται ἤτοι διὰ Σωκράτους ἢ Τιμαίου ἤ τινος τῶν τοιούτων.

(222) Então, sobre os que disseram que ele é dogmático, ou como dogmático por um lado e aporético por outro lado, seria supérfluo falar agora; pois eles próprios concordam com a diferença [dos Acadêmicos] para conosco. Mas sobre se é absolutamente cético, tratamos amplamente nos nossos “Comentários”; mas agora, como em um esboço, dizemos ao círculo de Menodoto e de Enesidemo (pois eles são os principais defensores dessa posição), que quando Platão faz declarações sobre as ideias, ou sobre a providência ser, ou sobre a vida com excelência ser preferível à viciosa, se ele assente a isso como subjacente, dogmatiza; se ele acata essas coisas como mais prováveis, uma vez que julga algo quanto à plausibilidade ou implausibilidade, afasta-se do caráter cético; pois que isso nos é alheio é evidente pelo que foi dito anteriormente.

(222) περὶ μὲν οὖν τῶν δογματικὸν αὐτὸν εἶναι λεγόντων, ἢ κατὰ μέν τι δογματικόν, κατὰ δέ τι ἀπορητικόν, περισσὸν ἂν εἴη λέγειν νῦν· αὐτοὶ γὰρ ὁμολογοῦσι τὴν πρὸς ἡμᾶς διαφοράν. περὶ δὲ τοῦ εἰ ἔστιν εἰλικρινῶς σκεπτικὸς πλατύτερον μὲν ἐν τοῖς ὑπομνήμασι διαλαμβάνομεν, νῦν δὲ ὡς ἐν ὑποτυπώσει λέγομεν κατὰ <τοὺς> περὶ Μηνόδοτον καὶ Αἰνησίδημον (οὗτοι γὰρ μάλιστα ταύτης προέστησαν τῆς στάσεως), ὅτι ὅταν ὁ Πλάτων ἀποφαίνηται περὶ ἰδεῶν ἢ περὶ τοῦ πρόνοιαν εἶναι ἢ περὶ τοῦ τὸν ἐνάρετον βίον αἱρετώτερον εἶναι τοῦ μετὰ κακιῶν, εἴτε ὡς ὑπάρχουσι τούτοις συγκατατίθεται, δογματίζει, εἴτε ὡς πιθανωτέροις προστίθεται, ἐπεὶ προκρίνει τι κατὰ πίστιν ἢ ἀπιστίαν, ἐκπέφευγε τὸν σκεπτικὸν χαρακτῆρα· ὡς γὰρ καὶ τοῦτο ἡμῖν ἐστιν ἀλλότριον, ἐκ τῶν ἔμπροσθεν εἰρημένων πρόδηλον.

(223) Mas se profere algo ceticamente, com dizem, quando [expressa seu caráter] ginástico, não por isso será cético. Pois quem dogmatiza sobre uma coisa, ou julga uma impressão a todas as outras impressões de acordo com a plausibilidade ou implausibilidade, <ou faz declarações> sobre coisas não-evidentes, vem a ter o caráter do dogmático, como Timão deixa claro por seus ditos sobre Xenófanes.

(223) εἰ δέ τινα καὶ σκεπτικῶς προφέρεται, ὅταν, ὡς φασί, γυμνάζηται, οὐ παρὰ τοῦτο ἔσται σκεπτικός· ὁ γὰρ περὶ ἑνὸς δογματίζων, ἢ προκρίνων φαντασίαν φαντασίας ὅλως κατὰ πίστιν ἢ ἀπιστίαν <ἢ ἀποφαινόμενος> περί τινος τῶν ἀδήλων, τοῦ δογματικοῦ γίνεται χαρακτῆρος, ὡς δηλοῖ καὶ ὁ Τίμων διὰ τῶν περὶ Ξενοφάνους αὐτῷ λεγομένων.

(224) Pois em muitas [ocasiões] ele aplaude [Xenófanes], como ao dedicar seus “Poemas satíricos” a ele, fazendo-o dizer este lamento:

como também eu tive, por uma mente sábia, que suplicar, olhando os dois lados; mas o caminho traiçoeiro enganou-me, já velho era e não de todo atento ao ceticismo. Pois para onde quer que eu minha mente direcionasse, para o uno e o mesmo tudo vagava; tudo sempre sendo ao todo levado, em uma mesma e única natureza, para manter-se o mesmo.

Por isso então que [Timão] o chama de quase despretensioso, e não de totalmente despretensioso, pois dele diz:

Xenófanes, quase despretensioso, da farsa de Homero debochador, moldou, apartado dos homens, um deus, totalmente igual [a si mesmo], <imóvel>, incólume, e além do pensamento no pensar.

Pois é quase despretensioso, uma vez que era despretensioso de algum modo, e debochador da farsa de Homero, uma vez que ridicularizou a farsa [contada] por Homero.

(224) ἐν πολλοῖς γὰρ αὐτὸν ἐπαινέσας [τὸν Ξενοφάνην], ὡς καὶ τοὺς σίλλους αὐτῷ ἀναθεῖναι, ἐποίησεν αὐτὸν ὀδυρόμενον καὶ λέγοντα

ὡς καὶ ἐγὼν ὄφελον πυκινοῦ νόου ἀντιβολῆσαι ἀμφοτερόβλεπτος· δολίῃ δ' ὁδῷ ἐξαπατήθην πρεσβυγενὴς ἔτ' ἐὼν καὶ ἀμενθήριστος ἁπάσης σκεπτοσύνης. ὅππῃ γὰρ ἐμὸν νόον εἰρύσαιμι, εἰς ἓν ταὐτό τε πᾶν ἀνελύετο· πᾶν δ' ἐὸν αἰεί πάντῃ ἀνελκόμενον μίαν εἰς φύσιν ἵσταθ' ὁμοίην.

διὰ τοῦτο γοῦν καὶ ὑπάτυφον αὐτὸν λέγει, καὶ οὐ τέλειον ἄτυφον, δι' ὧν φησι

Ξεινοφάνης ὑπάτυφος, ὁμηραπάτης ἐπισκώπτης, εἰ τὸν ἀπ' ἀνθρώπων θεὸν ἐπλάσατ' ἶσον ἁπάντῃ, <ἀτρεμῆ> ἀσκηθῆ νοερώτερον ἠὲ νόημα.

ὑπάτυφον μὲν γὰρ εἶπε τὸν κατά τι ἄτυφον, ὁμηραπάτης δὲ ἐπισκώπτην, ἐπεὶ τὴν παρ' Ὁμήρῳ ἀπάτην διέσυρεν.

(225) Mas Xenófanes, afastando-se das preconcepções dos outros homens, dogmatizou que o um é tudo, e que deus é consubstancial a tudo, e que é esférico, sem afetações, imutável e racional; donde ser fácil mostrar a diferença de Xenófanes para conosco. Porém, é evidente, a partir do que dissemos, que também Platão, embora lance aporias sobre algumas coisas, uma vez que às vezes aparece ou fazendo declarações sobre a existência de coisas não-evidentes, ou julgando os não-evidentes de acordo com a plausibilidade, não seria um cético.

(225) ἐδογμάτιζε δὲ ὁ Ξενοφάνης παρὰ τὰς τῶν ἄλλων ἀνθρώπων προλήψεις ἓν εἶναι τὸ πᾶν, καὶ τὸν θεὸν συμφυῆ τοῖς πᾶσιν, εἶναι δὲ σφαιροειδῆ καὶ ἀπαθῆ καὶ ἀμετάβλητον καὶ λογικόν· ὅθεν καὶ ῥᾴδιον τὴν Ξενοφάνους πρὸς ἡμᾶς διαφορὰν ἐπιδεικνύναι. πλὴν ἀλλ' ἐκ τῶν εἰρημένων πρόδηλον, ὅτι κἂν περί τινων ἐπαπορῇ ὁ Πλάτων, ἀλλ' ἐπεὶ ἔν τισι φαίνεται ἢ περὶ ὑπάρξεως ἀποφαινόμενος πραγμάτων ἀδήλων ἢ προκρίνων ἄδηλα κατὰ πίστιν, οὐκ ἂν εἴη σκεπτικός.

(226) Mas os da Nova Academia, se também dizem que tudo é inapreensível, diferem dos céticos quanto ao próprio dito de que tudo é inapreensível (pois eles asserem sobre isso, mas o cético admite a suposição de que algumas coisas sejam apreensíveis), e evidentemente diferem de nós ao separarem as coisas boas e as más. Pois os Acadêmicos, não como nós, dizem que algo é bom ou mau, porém convencidos de que o que dizem ser bom é mais provável do que o contrário, e o mesmo quando ao mau; nós dizemos que algo é bom ou mau sem considerarmos o que dizemos como provável, porém não dogmaticamente seguimos a vida, para não ficarmos inativos.

(226) Οἱ δὲ ἀπὸ τῆς νέας Ἀκαδημίας, εἰ καὶ ἀκατάληπτα εἶναι πάντα φασί, διαφέρουσι τῶν σκεπτικῶν ἴσως μὲν καὶ κατ' αὐτὸ τὸ λέγειν πάντα εἶναι ἀκατάληπτα (διαβεβαιοῦνται γὰρ περὶ τούτου, ὁ δὲ σκεπτικὸς ἐνδέχεσθαι καὶ καταληφθῆναί τινα προσδοκᾷ), διαφέρουσι δὲ ἡμῶν προδήλως ἐν τῇ τῶν ἀγαθῶν καὶ τῶν κακῶν κρίσει. ἀγαθὸν γὰρ τί φασιν εἶναι οἱ Ἀκαδημαϊκοὶ καὶ κακὸν οὐχ ὡς ἡμεῖς, ἀλλὰ μετὰ τοῦ πεπεῖσθαι ὅτι πιθανόν ἐστι μᾶλλον ὃ λέγουσιν εἶναι ἀγαθὸν ὑπάρχειν ἢ τὸ ἐναντίον, καὶ ἐπὶ τοῦ κακοῦ ὁμοίως, ἡμῶν ἀγαθόν τι ἢ κακὸν εἶναι λεγόντων οὐδὲν μετὰ τοῦ πιθανὸν εἶναι νομίζειν ὅ φαμεν, ἀλλ' ἀδοξάστως ἑπομένων τῷ βίῳ, ἵνα μὴ ἀνενέργητοι ὦμεν.

(227) As impressões, nós dizemos, são iguais quanto à plausibilidade ou implausibilidade, no que diz respeito à argumentação, mas eles dizem que algumas são prováveis e outras improváveis. E dizem haver diferenças entra as prováveis; pois umas são consideradas como somente prováveis, outras como prováveis e testadas, outras como prováveis, testadas e garantidas. Por exemplo, quando uma corda jaz enrolada em um quarto escuro, simplesmente a impressão provável advinda a quem de repente entra é a de que é uma cobra;

(227) τάς τε φαντασίας ἡμεῖς μὲν ἴσας λέγομεν εἶναι κατὰ πίστιν ἢ ἀπιστίαν ὅσον ἐπὶ τῷ λόγῳ, ἐκεῖνοι δὲ τὰς μὲν πιθανὰς εἶναί φασι τὰς δὲ ἀπιθάνους. καὶ τῶν πιθανῶν δὲ λέγουσι διαφοράς· τὰς μὲν γὰρ αὐτὸ μόνον πιθανὰς ὑπάρχειν ἡγοῦνται, τὰς δὲ πιθανὰς καὶ διεξωδευμένας, τὰς δὲ πιθανὰς καὶ περιωδευμένας καὶ ἀπερισπάστους. οἷον ἐν οἴκῳ σκοτεινῷ ποσῶς κειμένου σχοινίου ἐσπειραμένου πιθανὴ ἁπλῶς φαντασία γίνεται ἀπὸ τούτου ὡς ἀπὸ ὄφεως τῷ ἀθρόως ἐπεισελθόντι·

(228) contudo, para quem examinar mais precisamente e atentar às circunstâncias - por exemplo: que não se move, que é de tal cor, e cada uma das outras [características] - parece uma corda, de acordo com uma impressão provável e testada. E a impressão garantida é do seguinte modo. Dizem que Héracles, tendo morrido Alceste, trouxe-a do Hades e a mostrou para Admeto, que apreendeu uma impressão provável e testada de Alceste; contudo, uma vez que sabia que ela havia morrido, seu pensamento desviou-se do assentimento e inclinou-se à implausibilidade.

(228) τῷ μέντοι περισκοπήσαντι ἀκριβῶς καὶ διεξοδεύσαντι τὰ περὶ αὐτό, οἷον ὅτι οὐ κινεῖται, ὅτι τὸ χρῶμα τοῖόν ἐστι, καὶ τῶν ἄλλων ἕκαστον, φαίνεται σχοινίον κατὰ τὴν φαντασίαν τὴν πιθανὴν καὶ περιωδευμένην. ἡ δὲ καὶ ἀπερίσπαστος φαντασία τοιάδε ἐστίν. λέγεται ὁ Ἡρακλῆς ἀποθανοῦσαν τὴν Ἄλκηστιν αὖθις ἐξ Ἅιδου ἀναγαγεῖν καὶ δεῖξαι τῷ Ἀδμήτῳ, ὃς πιθανὴν <μὲν> ἐλάμβανε φαντασίαν τῆς Ἀλκήστιδος καὶ περιωδευμένην· ἐπεὶ μέντοι ᾔδει ὅτι τέθνηκεν, περιεσπᾶτο αὐτοῦ ἡ διάνοια ἀπὸ τῆς συγκαταθέσεως καὶ πρὸς ἀπιστίαν ἔκλινεν.

(229) <...> Então os da Nova Academia preferem a impressão provável e testada de que a simplesmente provável, e [preferem] a provável, testada e garantida de que essas duas. Mas se os da Academia e também os céticos dizem que são persuadidos por algumas coisas, é evidente a diferença entre estas filosofias.

(229) <...> προκρίνουσιν οὖν οἱ ἐκ τῆς νέας Ἀκαδημίας τῆς μὲν πιθανῆς ἁπλῶς τὴν πιθανὴν καὶ περιωδευμένην φαντασίαν, ἀμφοτέρων δὲ τούτων τὴν πιθανὴν καὶ περιωδευμένην καὶ ἀπερίσπαστον. εἰ δὲ καὶ πείθεσθαί τισιν οἵ τε ἀπὸ τῆς Ἀκαδημίας καὶ οἱ ἀπὸ τῆς σκέψεως λέγουσι, πρόδηλος καὶ ἡ κατὰ τοῦτο διαφορὰ τῶν φιλοσοφιῶν.

(230) Pois “persuadir” pode ser dito de diferentes modos: como não resistir, mas simplesmente seguir, sem inclinar-se ou afetar-se excessivamente, como dizem que a criança é persuadida pelo tutor; mas às vezes é assentir a algo, através de escolha e por simpatia, devido a um querer excessivo, como o devasso é persuadido por quem valoriza a vida extravagante. Por isso, uma vez que os do círculo de Carnéades e de Clitômaco dizem que estão excessivamente inclinados [a algo] por estarem persuadidos, e também que as coisas são persuasivas, mas [dizemos] que [as coisas] simplesmente parecem-nos, sem muitas afetações, [nós] assim diferiríamos deles.

(230) τὸ γὰρ πείθεσθαι λέγεται διαφόρως, τό τε μὴ ἀντιτείνειν ἀλλ' ἁπλῶς ἕπεσθαι ἄνευ σφοδρᾶς προσκλίσεως καὶ προσπαθείας, ὡς ὁ παῖς πείθεσθαι λέγεται τῷ παιδαγωγῷ· ἅπαξ δὲ τὸ μετὰ αἱρέσεως καὶ οἱονεὶ συμπαθείας κατὰ τὸ σφόδρα βούλεσθαι συγκατατίθεσθαί τινι, ὡς ὁ ἄσωτος πείθεται τῷ δαπανητικῶς βιοῦν ἀξιοῦντι. διόπερ ἐπειδὴ οἱ μὲν περὶ Καρνεάδην καὶ Κλειτόμαχον μετὰ προσκλίσεως σφοδρᾶς πείθεσθαί τε καὶ πιθανὸν εἶναί τί φασιν, ἡμεῖς δὲ κατὰ τὸ ἁπλῶς εἴκειν ἄνευ προσπαθείας, καὶ κατὰ τοῦτο ἂν αὐτῶν διαφέροιμεν.

(231) Porém, também diferimos dos da nova Academia quanto à finalidade; pois, por um lado, eles dizem que se ordenam a si mesmos segundo a probabilidade, que usam de acordo com a vida; por outro lado, nós vivemos não dogmaticamente, seguindo as convenções e os costumes, e as afecções naturais. E diríamos mais ainda com vistas à distinção, se não objetivássemos concisão.

(231) ἀλλὰ καὶ ἐν τοῖς πρὸς τὸ τέλος διαφέρομεν τῆς νέας Ἀκαδημίας· οἱ μὲν γὰρ κατ' αὐτὴν κοσμεῖσθαι λέγοντες ἄνδρες τῷ πιθανῷ προσχρῶνται κατὰ τὸν βίον, ἡμεῖς δὲ τοῖς νόμοις καὶ τοῖς ἔθεσι καὶ τοῖς φυσικοῖς πάθεσιν ἑπόμενοι βιοῦμεν ἀδοξάστως. καὶ πλείω δ' ἂν εἴπομεν πρὸς τὴν διάκρισιν, εἰ μὴ τῆς συντομίας ἐστοχαζόμεθα.

(232) Contudo, Arcesilao, que dissemos ser o líder e fundador da média Academia, de fato me parece que compartilhou os argumentos Pirrônicos, tendo em vista que sua conduta é muito próxima da nossa; pois nem declara ter descoberto algo sobre a existência ou inexistência das coisas, nem prefere uma coisa à outra de acordo com a plausibilidade ou implausibilidade, porém, suspende o juízo sobre tudo. E a finalidade é a suspensão de juízo, que é acompanhada pela imperturbabilidade, como nós falamos.

(232) Ὁ μέντοι Ἀρκεσίλαος, ὃν τῆς μέσης Ἀκαδημίας ἐλέγομεν εἶναι προστάτην καὶ ἀρχηγόν, πάνυ μοι δοκεῖ τοῖς Πυρρωνείοις κοινωνεῖν λόγοις, ὡς μίαν εἶναι σχεδὸν τὴν κατ' αὐτὸν ἀγωγὴν καὶ τὴν ἡμετέραν· οὔτε γὰρ περὶ ὑπάρξεως ἢ ἀνυπαρξίας τινὸς ἀποφαινόμενος εὑρίσκεται, οὔτε κατὰ πίστιν ἢ ἀπιστίαν προκρίνει τι ἕτερον ἑτέρου, ἀλλὰ περὶ πάντων ἐπέχει. καὶ τέλος μὲν εἶναι τὴν ἐποχήν, ᾗ συνεισέρχεσθαι τὴν ἀταραξίαν ἡμεῖς ἐφάσκομεν.

(233) E também diz que suspensões fracionadas de juízo são boas, e que assentimentos fracionados [são] maus. Não obstante, alguém poderia dizer que nós, por um lado, dizemos isso de acordo com o que nos aparece e não assertoricamente, mas ele, por outro lado, [diz isso] como se fosse de acordo com a natureza, de modo dizer a suspensão de juízo ser boa e o assentimento mau.

(233) λέγει δὲ καὶ ἀγαθὰ μὲν εἶναι τὰς κατὰ μέρος ἐποχάς, κακὰ δὲ τὰς κατὰ μέρος συγκαταθέσεις. ἐκτὸς εἰ μὴ λέγοι τις, ὅτι ἡμεῖς μὲν κατὰ τὸ φαινόμενον ἡμῖν ταῦτα λέγομεν καὶ οὐ διαβεβαιωτικῶς, ἐκεῖνος δὲ ὡς πρὸς τὴν φύσιν, ὥστε καὶ ἀγαθὸν μὲν εἶναι αὐτὸν λέγειν τὴν ἐποχήν, κακὸν δὲ τὴν συγκατάθεσιν.

(234) Mas, se deve-se crer no que se diz sobre ele, falam que primeiramente parece ser Pirrônico, mas na verdade era um dogmático; e, uma vez que testava seus companheiros através do [método] aporético, para saber se naturalmente tinham disposição para a assimilação dos dogmas de Platônicos, suas opiniões eram aporéticas, contudo, de fato ele transmitia [os dogmas] de Platão aos companheiros naturalmente dispostos. Daí Aríston dizer sobre ele

Pela frente, Platão; por trás, Pirro; no meio, Diodoro.

Por empregar a dialética de acordo com Diodoro, mas ser estritamente um Platônico.

(234) εἰ δὲ δεῖ καὶ τοῖς περὶ αὐτοῦ λεγομένοις πιστεύειν, φασὶν ὅτι κατὰ μὲν τὸ πρόχειρον Πυρρώνειος ἐφαίνετο εἶναι, κατὰ δὲ τὴν ἀλήθειαν δογματικὸς ἦν· καὶ ἐπεὶ τῶν ἑταίρων ἀπόπειραν ἐλάμβανε διὰ τῆς ἀπορητικῆς, εἰ εὐφυῶς ἔχουσι πρὸς τὴν ἀνάληψιν τῶν Πλατωνικῶν δογμάτων, δόξαι αὐτὸν ἀπορητικὸν εἶναι, τοῖς μέντοι γε εὐφυέσι τῶν ἑταίρων τὰ Πλάτωνος παρεγχειρεῖν. ἔνθεν καὶ τὸν Ἀρίστωνα εἰπεῖν περὶ αὐτοῦ

πρόσθε Πλάτων, ὄπιθεν Πύρρων, μέσσος Διόδωρος,

διὰ τὸ προσχρῆσθαι τῇ διαλεκτικῇ τῇ κατὰ τὸν Διόδωρον, εἶναι δὲ ἄντικρυς Πλατωνικόν.

(235) Os do círculo de Fílon dizem que, quanto ao critério Estoico, ou seja, a impressão apreensiva, as coisas são inapreensíveis; mas quanto à natureza das próprias coisas, [são] apreensíveis. Mas, além disso, Antíoco transferiu a Stoá para a Academia, de modo que se dizia sobre ele que “na Academia filosofa à [maneira] Estoica”; pois demonstrou que os dogmas dos Estoicos subjazem em Platão. Assim, é evidente que a conduta cética difere tanto da chamada quarta quanto da quinta Academia.

(235) Οἱ δὲ περὶ Φίλωνά φασιν ὅσον μὲν ἐπὶ τῷ Στωικῷ κριτηρίῳ, τουτέστι τῇ καταληπτικῇ φαντασίᾳ, ἀκατάληπτα εἶναι τὰ πράγματα, ὅσον δὲ ἐπὶ τῇ φύσει τῶν πραγμάτων αὐτῶν, καταληπτά. ἀλλὰ καὶ ὁ Ἀντίοχος τὴν Στοὰν μετήγαγεν εἰς τὴν Ἀκαδημίαν, ὡς καὶ εἰρῆσθαι ἐπ' αὐτῷ ὅτι ἐν Ἀκαδημίᾳ φιλοσοφεῖ τὰ Στωικά· ἐπεδείκνυε γὰρ ὅτι παρὰ Πλάτωνι κεῖται τὰ τῶν Στωικῶν δόγματα. ὡς πρόδηλον εἶναι τὴν τῆς σκεπτικῆς ἀγωγῆς διαφορὰν πρός τε τὴν τετάρτην καὶ τὴν πέμπτην καλουμένην Ἀκαδημίαν.

Bibliografia

  • ANNAS, J.; BARNES, J. (trans.) (2000). Sextus Empiricus. Outlines of Scepticism Cambridge, Cambridge University Press.
  • BURY, R. G. (trans.) (2006) The Complete Works of Sextus Empiricus 4 vols. Loeb Classical Library. Cambridge, Harvard University Press.
  • HUGUENIN, R.; BRITO, R. P. (trads.) (2013). Sexto Empírico. Contra os retóricos São Paulo, EdUNESP.
  • HUGUENIN, R.; BRITO, R. P. (trads.) (2015). Sexto Empírico. Contra os gramáticos São Paulo, EdUNESP.
  • HUGUENIN, R.; BRITO, R. P. (trads.) (2019). Sexto Empírico. Contra os astrólogos São Paulo, EdUNESP.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Set 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    14 Fev 2019
  • Aceito
    25 Maio 2019
Universidade de Brasília / Imprensa da Universidade de Coimbra Universidade de Brasília / Imprensa da Universidade de Coimbra, Campus Darcy Ribeiro, Cátedra UNESCO Archai, CEP: 70910-900, Brasília, DF - Brasil, Tel.: 55-61-3107-7040 - Brasília - DF - Brazil
E-mail: archai@unb.br