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A idade bíblica dos juízes sem a letra ‘g’: tradução do Livro VII do lipograma De aetatibus mundi et hominis de Fulgêncio, o Mitógrafo

The biblical age of judges without the letter ‘g’: translation of Book VII of the lipogram De aetatibus mundi et hominis by Fulgentius the Mythographer

Resumo:

Este trabalho consiste na primeira tradução lipogramática e na primeira já realizada para a língua portuguesa do Livro VII da obra De aetatibus mundi et hominis, creditada ao escritor tardio e africano Fulgêncio, o Mitógrafo (final do séc. V - início do séc. VI d.C.). A De aetatibus se trata de um lipograma consecutivo que possui um prólogo e outros 14 Livros, com constrição nas 14 letras iniciais do alfabeto fulgenciano. Nesta sétima seção da obra, Fulgêncio discute a idade bíblica dos juízes, evitando o emprego de unidades lexicais que contenham a letra ‘g’, o que foi cultivado no texto tradutório proposto, que foi desenvolvido a partir da edição crítica efetuada por Rudolf Helm (1898).

Palavras-chave:
Juízes bíblicos; Fulgêncio; Antiguidade Tardia; Tradução Lipogramática; Escrita Constrangida

Abstract:

This work consists of the first lipogrammatic translation and the first ever made into the Portuguese language of Book VII of the work De aetatibus mundi et hominis, credited to the late and African writer Fulgentius, the Mytographer (late 5th - early 6th century). De aetatibus is a consecutive lipogram that has a prologue and other 14 Books, with constriction in the initial 14 letters of Fulgentius’ alphabet. In this seventh section of the work, Fulgentius discusses the biblical age of the judges, avoiding the use of lexical units containing the letter 'g', which was cultivated in the proposed translation text, which was developed from the critical edition by Rudolf Helm (1898).

Keywords:
Biblical Judges; Fulgentius; Late Antiquity; Lipogrammatic Translation; Constrained Writing

Apresentação

Ainda são poucos os estudos desenvolvidos em língua portuguesa que se dediquem ao exame da Antiguidade Tardia. Desse modo, visando a preencher parte dessa lacuna, realiza-se a primeira tradução lipogramática e a primeira para a língua portuguesa do Livro VII da obra De aetatibus mundi et hominis (Das idades do mundo e da humanidade), atribuída a Fábio Plancíades Fulgêncio, conhecido pelo epíteto de Mitógrafo. Assim, deve-se frisar que já foram engendradas uma tradução para o inglês por Leslie Whitbread (1971WHITBREAD, L. G. (1971). Fulgentius, The Mithographer. Ohio, State University Press.) e outra para o italiano por Massimo Manca (2003MANCA, M. (2003). Le età del mondo e dell’uomo. Allesandria, Edizioni dell’Orso.), todavia esses tradutores não cultivaram a forma poética lipogramática, aqui explorada.

Por lipograma, compreende-se uma modalidade de escrita constrangida em que seu compositor evita o emprego de unidades lexicais que contenham um ou mais grafemas. A De aetatibus, consoante assevera Georges Perec1 1 Destaque-se que Perec é um célebre lipogramista, tendo se notabilizado pela obra La Disparition, traduzida para o português por Zéfere (Perec, 2015). (OULIPO, 1973OULIPO (1973). La littérature potentielle : Créations, Re-créations, Récréations. Paris, Gallimard.), diz respeito ao mais antigo lipograma efetivamente atestado, na medida em que, dos exemplares a ela pretéritos, só remanesceram breves fragmentos em grego antigo atribuídos a Laso de Hermione.2 2 Para um estudo mais detalhado de outras informações relativas à tradição de escrita constrangida, ver Santos Júnior, 2019b; 2020c; Santos Júnior & Amarante, 2019.

Refletindo acerca da dimensão semântica do escrito, deve-se destacar que Fulgêncio busca discutir quais seriam as fases do mundo e do ser humano, desenvolvendo, a partir de uma óptica moral cristã, um conjunto de narrativas em que são articuladas alusões às Escrituras Sagradas, revelando-se, ainda, uma forte influência do pensamento teológico de autores como Santo Agostinho e Paulo Orósio. Ocorre que, em cada seção de sua obra, subdividida em catorze livros, é evitada uma letra de seu alfabeto líbico-latino,3 3 Considera-se, segundo elucidam Whitbread (1971) e Manca (2003), que o alfabeto latino adotado por Fulgêncio possui 23 letras e se assemelha a nosso atual alfabeto português com a retirada do grafema ‘w’ e das letras ramistas ‘j’ e ‘v’. com restrições que vão de ‘a’ a ‘o’.4 4 Já podem ser digitalmente apreciadas as traduções lipogramáticas do Livro II (Abest B; Santos Júnior, 2019c), do Livro III (Abest C; Santos Júnior, 2020b), do Livro IV (Abest D; Santos Júnior, 2019d) e do Livro XII (Abest M; Santos Júnior, 2020a).

Nesta sétima parte de sua composição, o Mitógrafo, assim conhecido pela repercussão de suas Mitologias,5 5 As Mitologias de Fulgêncio foram recentemente traduzidas para o português por José Amarante (2019). Também já foram traduzidas a Continentiae, por Raul Moreira (2018), e a Sermonum, por Shirlei Almeida (2018), de forma que a De aetatibus é a única obra que ainda carece de uma tradução integral em nosso idioma. Em relação às práticas tradutórias para línguas estrangeiras, as Mythologiae ostentam uma versão para o inglês, feita por Leslie Whitbread (1971) e outra para o francês, empreendida por Étienne Wolf e Philippe Dain (2013), bem como traduções parciais em italiano de seu prólogo por Martina Venuti (2009; 2018), de determinadas passagens por Ferruccio Bertini (1974) e de excertos poéticos por Silvia Mattiacci (2002). A Continentiae tem traduções para o inglês, concebidas por Whitbread (1971) e Zanlucchi (vd. Agozzino, 1972), para o italiano, feita por Fábio Rosa (1997), para o francês, engendrada por Étienne Wolff (2009), e para o espanhol, desenvolvida por Valero Moreno (2005). A Sermonum já foi traduzida para o inglês por Whitbread (1971) e para o italiano por Ubaldo Pizzani (1968). A De aetatibus, por fim, possui apenas uma tradução para o inglês de Whitbread (1971) e outra para o italiano de Massimo Manca (2003). narra a idade bíblica dos juízes, evitando o emprego de termos que contenham a letra ‘g’, o que foi mantido na proposta de tradução, que parte da edição crítica fixada pelo filólogo latinista Rudolf Helm (1898HELM, R. (ed.) (1898). Fabii Planciadis Fulgentii V. C. Opera. Lipsiae, Teubner.). Assim, evitando para cada Livro uma letra, Fulgêncio varia o grau de constrição, também oscilando o próprio registro linguístico, o que contribui para a aproximação realizada por Gregory Hays (2019HAYS, G. (2019). A World Without Letters: Fulgentius and the De aetatibus mundi et hominis. The Journal of Medieval Latin 29, p. 303 -339.) do estilo fulgenciano com a antiga técnica compositiva conhecida como spoudaiogeloion, já presente na obra As Rãs de Aristófanes.

Sublinhe-se, ainda, a escassez de informações para o conhecimento da biografia desse autor, que teria vivido no norte da África entre os séculos V e VI d.C., sob dominação do povo vândalo. Assim, alguns pesquisadores acabam recorrendo a citações de outros escritores, referências intratextuais, questões linguísticas e aspectos estilísticos. Os prólogos, por seu teor informativo, são também valorizados, assumindo relevo aquele que principia o Livro I das Mitologias, que foi significativamente examinado por Martina Venuti (2009VENUTI, M. (2009). Il prologo delle Mythologiae di Fulgenzio: Analisi, traduzioni, commento. Tese di Dottorato in Filologia greca e latina. Parma, Università degli Studi di Parma.; 2018). Hays (2003HAYS, G. (2003). The Date and Identity of the Mythographer Fulgentius. The Journal of Medieval Latin 13, p. 163-252.) alerta, contudo, que muitas informações ali contidas, a exemplo de um cenário sócio-político conturbado, podem dizer respeito a simples topos poético.

Por fim, merece destaque que, da mencionada carência de dados biográficos, surgiu, inclusive, uma problemática de ordem filológica, atinente à atribuição de seus escritos a um homônimo, o bispo de Ruspe.6 6 As dificuldades filológicas atinentes à fortuna fulgenciana são exploradas, em português, por Santos Júnior, 2019a. De qualquer modo, sua produção ocupa certo relevo em virtude do registro lipogramático e da influência exercida em escritores como Dante Alighieri, Giovanni Boccaccio7 7 Recentemente, Marcos Martinho Santos (2016) examinou algumas interferências das Mitologias na Genealogia de Bocaccio. e os Mitógrafos do Vaticano, além do fornecimento de um certo testemunho da visão religiosa do homem medieval, que pode servir de objeto a estudos históricos, filosóficos e teológicos.

Texto de partida latino (Abest G)

Tricesimus humanae uitae annus obuoluitur librorum nostrorum uolumine disponendus, in quo quidem rationalia uitae instituta monstranda sunt fluctuantis aetatis ebullitionibus defecata, illum huic mundi conferens tempus, ubi iudicum dominatui dependebat Hebraicus populus. Ibi etenim Annae conceptionalis uiscerum carceratus perenniter torpor partificum perdiderat mercimonium, et sterilitatis neruo catenata natura bonae fecunditatis exul[t]at fermentum, quod et marcidulis coeuntibus uulua folliculis seminum liquores despueret et pulchritudo sterilitatis fuscata nebulo maritalem adfectum in odium uerteret. Instabat etiam ex aduerso sororis aemula creando fecunditas [p. 151 Helm] et frequentibus conceptrix tumida puerperiis animum tormentabat adflictae consortis; sed ecce diuina clementia tristitiarum medelatrix interuenit et adflictorum salutare antidotum Deus non cessat adesse propitius. Accipit namque sterilis unam de sacrificiis partem et triplarum portiuncularum munere cumulatam infremuit maestificata sororem, et quamuis maritali animata solatio, inerat tamen ulcerulenta cicatrix zelotipo toxicata cauterio. Posthaec quantum doloris acredo dicitauerat, sacrario templi prostrata internis fletibus ac secreto cordis aestuantis affectu caelestis portae assulam tacita clamositate pulsabat. Sed ecce ille indormitabilis medicus, cui non uocis admonitio, sed secretorum debetur inspectio, auris secreta admirabiliter pura, quam non instruit uerbale commercium, quam non latet secretale silentium, penes quem taciturnitas clamoso personat strepitu et conscientia quantumque obscura sit nescit celare secretum, adest sterilitatis aridae fecundator, oculorum lacrimantium desiccator, desideriorum concessor, dans uotum optantium et humilitates subleuans infirmorum. Ecce enim inter tam sacra admirandaque conmercia mulieris petentis et domini concedentis, dum dolens quae desiderat quaerit et dominus desiderata concedit, sacerdos interuenit et inconsideratione praepropera merorem mentis merulentiam credidit mulieris; sed dum scisset quod potandi non erat culpa, sed plorandi fuerat poena, exoptator etiam ipse causae iam factus est inpetratae et quia deus per se loqui noluit, sacerdotis ore quod promiserat confirmauit. Itaque Annae uiceribus incubans uernacula olim sterilitas forinsecus pellitur et fertilitas uuluae domicilium ubi numquam interfuit habitare iubetur. Discit mater esse quod [p. 152 Helm] non nouit, et fecunditas cum sterilem nouum conmercium nundinauit. O fletus concipiens et oratio pariens obsecratione flebili maritante: in templo filium concipit, quod in lecto maritum amplexibus coiens non inuenit. Apparet itaque nihil esse de naturae munere praesumendum, ubi diuinitatis cessat auxilium. Sed ecce qualem supplicantibus dare oportuit dominum prolem, talem natiuitas contulit Samuelem; ex templo petitus, de templo conceptus, templo etiam traditur seruiturus; placet Deo moribus, cui ante placuerat nasciturus. Iam enim sacerdos displicebat in filiis et male parcendo suboli non pepercerat sibi; omnis enim qui frequenter indulserit multas culpas adquirit et qui particulae ruenti non suffulcierit, totum quod sanum est secum trahit. O diuina secreta admirandaque iudicia, quae quantum clementia contribulationes dum commodat, non habet modum, tantum dum peccatorum incursu succenditur, percussionis non est remedium; quippe duorum errantium culpa nec arcae testamenti parcitur nec milium innocentum interitus temperatur. Tantane duorum hominum exundauerant scelera, quo et sacra sanctorum contaminationibus incircumcisorum polluenda perducerent et populorum nihil tale peccantium copiositas innumeranda succumberet? Sed diuinitas, sicut in mundi opere laboris non fuit incapandam uniuersitatem efficere, ita nulla detrimenti cura est unius culpae intercidente incursu mundi partem absumere; neque enim ut sibi utilem bonum quaerit aut <ut> suis utilitatibus aduersam malitiam punit; [p. 153 Helm] sed utique quaerit bonos pro se, punit malos pro se; nam abest ut euidenti rerum manifestatione consideres, potens est in <...> malorum finem secundae mortis punitione damnare et bonorum inmerentem exitum perpetuae uitae commoditate ditare. Denique cerne quod quamuis testamentalem arcam ipse captiuitate damnauerit, ultionem tamen nequaquam in contaminatoribus temperauit. Inicit podicibus tumentia uulnera, ulcera putredinis uirulentia toxicata. Redibetur cum praemio facinus et uictoria aduersariis leta poenale fit scelus. Carent tormentaliter heiulantes quod laeti inuaserant triumfantes et illud quod putabatur corona uictoriae, tormentalis ultio facta est poenae; quaerit remedium, quo iure quod uicerat careat, et tormentum putat, si possideat quod praedarat. Dat dotem suo damno uitulas cum uehiculo, format ex auro et poenam et locum et suae uictoriae cruciatu staurat interitum. Redit arca pereuntibus aduersariis quae perierat cadentibus suis. Qualis in Deo ira quae nec sibi pepercit, qualis uictoria quae nonnullo ante triumphans de hostibus redit. Cerne itaque secretum Dei iudicium; hic puerilis adfectatur infantia, illic senilis damnatur socordia; hic e somno Heli elicitus nuntius praemandatur et sacerdos promittitur, ille accepto nuntio exanimis ex cathedra propellitur et eius posteritas perenni sacerdotio repulsatur. Huius itaque uniuersos temporis ordines sequi ualde prolixum est. Quid enim memorem tam flexuosam rerum obuolutarum historiam, [p. 154 Helm] ubi excipit Samson inuincibilem criniti muneris palmam, dum leone fortior, ferro durior, solus etiam milleno hoste superior Dalilae superatus mollescit amplexu. Quos non uirtutum muros libido prosternat, quae Nazareo et diuini muneris comam abscidit et priuatum lumine tenebris exulauit et quibus ante timor fuerat ludibrium reddidit. Omitto et Manue filium diuini nuntii enuntiatione conlatum, quem mater non petitum suscipit, pater obseruandum ad monitus expauit, Israel subitum defensorem promeruit, Filisteus etiam interfectorem inuenit. Prosternuntur trecentis milia milium, et discit belli uictoria urceo triumphare, non ferro. Quid uero haec omnia humanae uitae conpetat statui, demonstremus. Nonne in tricesimo quinto humanae aetatis anno res uertitur? Filiis laboratur; ut nunc quosdam in laetitia parentum natos ut Samuhelem inuenies, nunc etiam ut Ophni et Finees non solum in patris quantum etiam in filiorum detrimento repperies. Ad uero matrimonii ordines - quantas sterilitas damnat et forma conmendat, alias ornat fecunditas, maculat foeditas. In omnibus laudanda est diuina temperies, quod et tristitiae ex parte praebet solatium ne plus consumat et superbiae modum temperat ne plus adsumat.

Texto de chegada em língua portuguesa (Ausente G)

O ano de número trinta da vida humana se desenvolve, o qual deve ser disposto no volume dos nossos livros, em que certamente os institutos racionais da vida devem ser mostrados, purificados pelas ebulições da idade flutuante. Isso conforme aquele tempo do mundo em que o povo hebraico dependia do domínio dos juízes.8 8 Consoante assevera Manca (2003), Fulgêncio altera a partir do início deste livro o sistema de contagem temporal adotado nas seções anteriores. Assim, deste livro em diante, cada narrativa cobre apenas cinco anos na vida do homem, não mais buscando dar conta de toda uma idade do mundo. Lá, decerto, o torpor conceptivo das vísceras da perenemente encarcerada Ana arruinara o comércio do parto, e a natureza, acorrentada pelo nervo da esterilidade, ferve o fermento da boa fecundidade.9 9 A tradução busca cultivar o jogo aliterante apresentado no texto latino. Em latim, é visível uma repetição em ‘t’ na sentença fecunditatis exul[t]at fermentum. Em português, por sua vez, foi intencionalmente valorizada a repetição em ‘f’. Isso porque tanto a vulva, com márcidos e secos folículos, lançava fluidos seminais, como a beleza, ofuscada pela névoa da esterilidade, vertia em ódio o afeto marital.10 10 Vide 1 Samuel 1.

Estava também à sua frente a fecundidade da irmã, adversária em procriar, e, inchada pelos frequentes puerpérios, a conceptora atormentava a alma da aflita consorte.11 11 Ana e Penina não eram irmãs, mas sim esposas de Elcana. Mas eis que a clemência divina, curadora das tristezas, interveio, e Deus não cessa de se apresentar propício como um antídoto salutar dos aflitos.

Certamente, a estéril recebe somente uma parte dos sacrifícios e, entristecida, disse em arrepio sua irmã estar cheia das triplas porciúnculas, e, mesmo animada pelo consolo do marido, encontrava-se uma cicatriz ulcerosa envenenada pelo cautério do ciúme. Depois, com um tão tácito clamor quanto a acidez da dor havia imposto, prostrada no sacrário do templo, com lamentos privados e com o afeto secreto do fremente coração, tocava o batente da porta celeste.

Mas eis aquele médico que nunca descansa, a quem se deve não a advertência de sua palavra, mas o exame dos próprios mistérios, uma escuta confidencial, admiravelmente pura, a qual não é um troca verbal que produz, a qual o silêncio encoberto não esconde; nas mãos daquele, o silêncio retumba com um estrépito ressonante e a consciência, por mais obscura que seja, não sabe manter silêncio, e se apresenta a fecundar a árida esterilidade, a secar os olhos lacrimosos, a conceder os desejos, efetuando a oração dos que procuram e levantando os doentes da debilidade.12 12 Vide Ezequiel 21:26.

Eis, de fato, entre tão sacras e admiráveis trocas da mulher pedinte e do concedente Senhor, quando, dolente, aquela pede o que deseja, e o Senhor concede seus desejos, o sacerdote intervém e, com uma inobservância precipitada, acreditou que o lamento do espírito é inebriante da mulher. Contudo, quando tivesse sabido que não era a culpa de beber, mas a pena de implorar, também, a desejar veementemente, o mesmo já foi feito das causas obtidas, e, porque Deus não quis falar por si, pela boca do sacerdote confirmou aquilo que tinha prometido.

E assim a esterilidade doméstica, já há muito tempo incubada nas vísceras de Ana, é banida para fora, e a fertilidade da vulva é ordenada a habitar o domicílio em que nunca esteve. Aprende a ser mãe, o que ela não sabia, e a fecundidade alienou um novo comércio com uma estéril. Ó choro conceptivo e oração que pare pela flébil obsecração fecundante! No templo, concebe o filho, o que no leito não obteve, se unindo ao marido com amplexos.

Por isso, é perceptível que nada deve ser presumido da dádiva da natureza quando cessa o auxílio da Divindade. Mas eis que, assim como ocorreu com a prole que foi necessário o senhor dar aos suplicantes, da mesma o nascimento trouxe também Samuel. Chamado a partir do templo, concebido pelo templo, é, então, oferecido a servir o templo. Ele, que antes, quando nascituro, já tinha cativado, cativa, neste momento, a Deus por seus costumes.

Decerto, o sacerdote aborrecia por causa dos filhos, e, poupando infelizmente os descendentes, não poupara a si.13 13 Vide 1 Samuel 2:22-25. De fato, todo aquele que tiver frequentemente sido permissivo adquire muitas culpas, e quem não tiver tolerado a partícula que rui traz para si tudo que é são.

Ó divinos mistérios e juízos admiráveis, os quais, tanto quanto a clemência não tem limite quando acomoda as tribulações, da mesma forma, não há remédio de pancada, quando se incendeia pela incursão dos pecados. Indubitavelmente, por causa de dois errantes, a Arca da Aliança não é poupada, nem é freada a morte de milhares de inocentes.14 14 Vide 1 Samuel 4. Os malfeitos de dois homens tanto sobejam de modo que os cultos dos santos a serem profanados conduziram às máculas dos incircuncisos, e nenhum tipo similar de pecado não sucumbiria?

Mas a Divindade, como na laboriosa construção do mundo, não tentou produzir um universo impalpável,15 15 Conforme ressalta Manca (2003), incapabilem é conjectura de Helm, visto que os manuscritos fornecem as lições in capandam (PR) e in creandam (S). assim, o cuidado é nulo de dano da única culpa que, ocasionalmente, pelo ímpeto, dissipar uma parte do mundo. Decerto, não busca o bem porque lhe é útil, tampouco pune a malícia contrária às suas utilidades, mas, de qualquer modo, procura o bem para si e pune os maus por si. Na realidade, visto que consideras pela evidente manifestação das coisas, é poderoso em... condenar o fim dos maus com a punição de uma nova morte e em enriquecer o término imerecido dos bens com a misericórdia da vida eterna.

Finalmente, observe que, embora ele próprio tivesse condenado a Arca da Aliança com cativeiro, de modo nenhum diminuiu a punição pelos contaminadores.16 16 Vide 1 Samuel 4-6. Forma, no ânus, feridas edemaciadas, úlceras intoxicadas pela virulência do pus.17 17 Manca (2003) aponta que uulnera é conjectura de Helm, visto que os códices registram as formas ulce (PR) e ulcus (S). O delito é retribuído com o prêmio, e a leda vitória aos adversários se torna infração penal.

Lamentando aos berros pelo tormento, carecem do que, felizes, usurparam triunfantes, e daquilo que era reputado como coroa da vitória foi feito uma tormentosa sentença de punição. Procura remédio onde justamente seria privado do que tinha vencido e considera ser um tormento se possuísse o que tinha capturado. Dá, como dote, vitelos com um veículo, em desfavor próprio. Forma, a partir do ouro, não só a pena, como também o meio, e instaura por tortura a ruína de sua vitória. Retorna para os adversários padecentes à arca, a qual perecia por seus combatentes. Qual é a ira em Deus que nem se poupou? Qual é a vitória que retorna aos adversários antes de ser triunfante?

Portanto, observe o mistério do juízo de Deus: aqui é aspirada a infância pueril, lá é condenada a inércia senil. Aqui é ordenado um aviso a Eli,18 18 Vide 1 Samuel 3. evocado em sonho, e o sacerdote vaticina. Recebido o aviso da prova, aquele é lançado da cátedra e sua descendência é repelida pelo eterno sacerdócio.

De fato, foi prolixo acompanhar intensamente todas as sequências do tempo dessa era. Então, qual coisa é tão memorável como a sinuosa história das coisas veladas, como quando Sansão obteve o prêmio da invencibilidade de dever com o favor dos cabelos, quando mais forte que um leão, mais duro que o ferro e mil vezes superior ao rival ainda quando sozinho, é amolecido pelo abraço de Dalila?19 19 Vide Juízes 14, 16. Como os muros de virtudes, a libido não se abate, o que corta ao Nazareno sua coroa de dever. Ele, privado pela luz, viveu no exílio em trevas e aos que antes causava temor restituiu o ludíbrio.

Ademais, omito o filho de Manoá, levado pela enunciação de um anúncio divino, que a mãe concebeu sem pedido, o pai temeu admoestado a observar, Israel mereceu como inesperado defensor e assim o filisteu encontrou como assassino.20 20 Vide Juízes 13. São aniquilados, por trezentos, milhares de milhares, e a vitória do combate aprende a triunfar com cântaro, não ferro.21 21 Vide Juízes 7, 8.

Demonstremos em que, em realidade, todas estas coisas coincidiriam à posição da vida humana. Não é talvez verdade que o acontecimento se desenvolve no ano de número trinta e cinco da idade humana? Trabalha-se pelos filhos. Neste momento, tu encontrarás uns nascidos para a felicidade dos pais, como Samuel. Mas também neste momento descobrirás outros como Hofni e Fineias, prejudiciais não apenas aos pais, como também aos filhos.

Aos desenvolvimentos dos fatos do casamento, quantos a esterilidade condena e a formosura adorna. Outros ornam a fecundidade, e a deformidade os macula.22 22 Segundo Manca (2003), o jogo linguístico entre os termos fecunditas e foiditas é recorrente na escrita medieval, representando uma das poucas semelhanças entre o léxico do Fulgêncio Mitógrafo e o do Fulgêncio Ruspense. Em todas as circunstâncias, a temperança divina deve ser louvada, o que também à tristeza fornece, em parte, uma consolação - para que ela não consuma mais - e decreta uma medida à soberba - para que não acresça mais.

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  • WHITBREAD, L. G. (1971). Fulgentius, The Mithographer Ohio, State University Press.
  • WOLFF, É. (2009). Fulgence. Virgile dévoilé Villeneuve-d’Ascq, Presses Universitaires du Septentrion.
  • WOLFF, É.; DAIN, P. (2013). Fulgence. Mythologies Villeneuve d’Ascq, Septentrion Presses Universitaires.
  • 1
    Destaque-se que Perec é um célebre lipogramista, tendo se notabilizado pela obra La Disparition, traduzida para o português por Zéfere (Perec, 2015PEREC, G. (2015) O sumiço. Trad. Zéfere. 1ed. Belo Horizonte, Autêntica.).
  • 2
    Para um estudo mais detalhado de outras informações relativas à tradição de escrita constrangida, ver Santos Júnior, 2019bSANTOS JÚNIOR, C. (2019b). Rastros da tradição literária experimental. Estudos linguísticos e literários 62, p. 130-147.; 2020cSANTOS JÚNIOR, C. (2020c). Vestígios do experimentalismo poético greco-latino. Anuário de Literatura 25, n. 1, p. 172-191.; Santos Júnior & Amarante, 2019SANTOS JÚNIOR, C.; AMARANTE, J. (2019). Elementos da tradição palindrômica antiga. Afluente 4, p. 195-213..
  • 3
    Considera-se, segundo elucidam Whitbread (1971WHITBREAD, L. G. (1971). Fulgentius, The Mithographer. Ohio, State University Press.) e Manca (2003MANCA, M. (2003). Le età del mondo e dell’uomo. Allesandria, Edizioni dell’Orso.), que o alfabeto latino adotado por Fulgêncio possui 23 letras e se assemelha a nosso atual alfabeto português com a retirada do grafema ‘w’ e das letras ramistas ‘j’ e ‘v’.
  • 4
    Já podem ser digitalmente apreciadas as traduções lipogramáticas do Livro II (Abest B; Santos Júnior, 2019cSANTOS JÚNIOR, C. (2019c). Refletindo a fenomenologia de uma tradução lipogramática da De aetatibus mundi et hominis. Percursos linguísticos 9, p. 101-119.), do Livro III (Abest C; Santos Júnior, 2020bSANTOS JÚNIOR, C. (2020b). Fulgêncio sem a letra ‘c’: tradução do livro III do lipograma De aetatibus mundi et hominis. Belas Infiéis 9, n. 1, p. 243-249.), do Livro IV (Abest D; Santos Júnior, 2019dSANTOS JÚNIOR, C. (2019d). Traduzindo o quarto livro do lipograma fulgenciano. A Palo Seco 12, p. 90-94.) e do Livro XII (Abest M; Santos Júnior, 2020aSANTOS JÚNIOR, C. (2020a). A vida de Jesus Cristo sem a letra ‘m’, por Fulgêncio, o Mitógrafo: tradução do livro XII do lipograma De aetatibus mundi et hominis. PhaoS 20, p. 1-8.).
  • 5
    As Mitologias de Fulgêncio foram recentemente traduzidas para o português por José Amarante (2019AMARANTE, J. (2019). O livro das Mitologias de Fulgêncio: os mitos clássicos e a filosofia moral cristã. Salvador, Edufba.). Também já foram traduzidas a Continentiae, por Raul Moreira (2018MOREIRA, R. (2018). A “Exposição dos conteúdos de Virgílio”, de Fulgêncio: estudo introdutório e tradução anotada. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Literatura e Cultura. Salvador, Universidade Federal da Bahia.), e a Sermonum, por Shirlei Almeida (2018ALMEIDA, S. (2018). A ‘Expositio Sermonum Antiquorum’, de Fulgêncio, o Mitógrafo: estudo introdutório, tradução e notas. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Literatura e Cultura. Salvador, Universidade Federal da Bahia.), de forma que a De aetatibus é a única obra que ainda carece de uma tradução integral em nosso idioma. Em relação às práticas tradutórias para línguas estrangeiras, as Mythologiae ostentam uma versão para o inglês, feita por Leslie Whitbread (1971WHITBREAD, L. G. (1971). Fulgentius, The Mithographer. Ohio, State University Press.) e outra para o francês, empreendida por Étienne Wolf e Philippe Dain (2013)WOLFF, É.; DAIN, P. (2013). Fulgence. Mythologies. Villeneuve d’Ascq, Septentrion Presses Universitaires., bem como traduções parciais em italiano de seu prólogo por Martina Venuti (2009VENUTI, M. (2009). Il prologo delle Mythologiae di Fulgenzio: Analisi, traduzioni, commento. Tese di Dottorato in Filologia greca e latina. Parma, Università degli Studi di Parma.; 2018VENUTI, M. (2018). Il prologus delle Mythologiae di Fulgenzio. Introduzione, testo critico, traduzione e commento. Napoli, Paolo Loffredo.), de determinadas passagens por Ferruccio Bertini (1974BERTINI, F. (1974). Autori latini in Africa sotto la dominazione vandalica. Genova, Tilgher.) e de excertos poéticos por Silvia Mattiacci (2002MATTIACCI, S. (2002). ‘Divertissements’ poetici tardoantichi: i versi di Fulgenzio Mitografo. Paideia 57, p. 252-280.). A Continentiae tem traduções para o inglês, concebidas por Whitbread (1971)WHITBREAD, L. G. (1971). Fulgentius, The Mithographer. Ohio, State University Press. e Zanlucchi (vd. Agozzino, 1972AGOZZINO, T. (1972). Secretum quaerere veritatis. Virgilio, vates ignarus nella Continentia Virgiliana. In: Studi classici in onere di Quintino Cataudella. Vol. 3. Catania, Università di Catania - Facoltà di Lettere e Filosofia, p. 615-630.), para o italiano, feita por Fábio Rosa (1997ROSA, F. (1997). Fulgenzio. Commento all’Eneida. Milano/Trento, F. R.), para o francês, engendrada por Étienne Wolff (2009WOLFF, É. (2009). Fulgence. Virgile dévoilé. Villeneuve-d’Ascq, Presses Universitaires du Septentrion.), e para o espanhol, desenvolvida por Valero Moreno (2005)VALERO MORENO, J. M. (2005). Expositio Virgilianae de Fulgencio: poética y hermenéutica. Revista de poética medieval 15, p. 112-192.. A Sermonum já foi traduzida para o inglês por Whitbread (1971)WHITBREAD, L. G. (1971). Fulgentius, The Mithographer. Ohio, State University Press. e para o italiano por Ubaldo Pizzani (1968PIZZANI, U. (1968). Fulgenzio. Definizione di parole antiche. Roma, Ateneo.). A De aetatibus, por fim, possui apenas uma tradução para o inglês de Whitbread (1971)WHITBREAD, L. G. (1971). Fulgentius, The Mithographer. Ohio, State University Press. e outra para o italiano de Massimo Manca (2003MANCA, M. (2003). Le età del mondo e dell’uomo. Allesandria, Edizioni dell’Orso.).
  • 6
    As dificuldades filológicas atinentes à fortuna fulgenciana são exploradas, em português, por Santos Júnior, 2019aSANTOS JÚNIOR, C. (2019a). O problema da transmissão textual entre os dois Fulgêncios. Tabuleiro de Letras 13, p. 208-226..
  • 7
    Recentemente, Marcos Martinho Santos (2016SANTOS, M. M. (2016). Les références aux Mythologies de Fulgence dans la Généalogie des dieux païens de Boccace. In: CASANOVA-ROBIN, H.; LONGO, S. G.; LA BRASCA, F. (eds.). Boccace humaniste latin. Paris, Classiques Garnier, p. 251-280.) examinou algumas interferências das Mitologias na Genealogia de Bocaccio.
  • 8
    Consoante assevera Manca (2003MANCA, M. (2003). Le età del mondo e dell’uomo. Allesandria, Edizioni dell’Orso.), Fulgêncio altera a partir do início deste livro o sistema de contagem temporal adotado nas seções anteriores. Assim, deste livro em diante, cada narrativa cobre apenas cinco anos na vida do homem, não mais buscando dar conta de toda uma idade do mundo.
  • 9
    A tradução busca cultivar o jogo aliterante apresentado no texto latino. Em latim, é visível uma repetição em ‘t’ na sentença fecunditatis exul[t]at fermentum. Em português, por sua vez, foi intencionalmente valorizada a repetição em ‘f’.
  • 10
    Vide 1 Samuel 1.
  • 11
    Ana e Penina não eram irmãs, mas sim esposas de Elcana.
  • 12
    Vide Ezequiel 21:26.
  • 13
    Vide 1 Samuel 2:22-25.
  • 14
    Vide 1 Samuel 4.
  • 15
    Conforme ressalta Manca (2003MANCA, M. (2003). Le età del mondo e dell’uomo. Allesandria, Edizioni dell’Orso.), incapabilem é conjectura de Helm, visto que os manuscritos fornecem as lições in capandam (PR) e in creandam (S).
  • 16
    Vide 1 Samuel 4-6.
  • 17
    Manca (2003MANCA, M. (2003). Le età del mondo e dell’uomo. Allesandria, Edizioni dell’Orso.) aponta que uulnera é conjectura de Helm, visto que os códices registram as formas ulce (PR) e ulcus (S).
  • 18
    Vide 1 Samuel 3.
  • 19
    Vide Juízes 14, 16.
  • 20
    Vide Juízes 13.
  • 21
    Vide Juízes 7, 8.
  • 22
    Segundo Manca (2003MANCA, M. (2003). Le età del mondo e dell’uomo. Allesandria, Edizioni dell’Orso.), o jogo linguístico entre os termos fecunditas e foiditas é recorrente na escrita medieval, representando uma das poucas semelhanças entre o léxico do Fulgêncio Mitógrafo e o do Fulgêncio Ruspense.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Ago 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    17 Abr 2020
  • Aceito
    01 Jul 2020
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