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Moscas frugívoras (Tephritidae e Lonchaeidae): ocorrência em pomares comerciais de tangerina (Citrus reticulata Blanco) do município de Matinhas, Estado da Paraíba

Frugivorous flies (Tephritidae and Lonchaeidae): occurrence in commercials tangerine orchards (Citrus reticulata Blanco) in Matinhas, state of Paraíba, Brazil

Resumos

O município de Matinhas, Estado da Paraíba com aproximadamente 1,3 milhões de plantas de tangerina, é responsável por 90% da produção do Estado. A pesquisa foi conduzida em cinco regiões geográficas do município de Matinhas, onde foram coletados 20 frutos na copa e 20 sob a copa da planta, objetivando pesquisar a ocorrência de moscas frugívoras e seus níveis de infestação em tangerina. Os resultados obtidos evidenciaram que a tangerina é infestada por Ceratitis capitata (Wiedmann,1824), Neosilba zadolicha (McAlpine e Steyskal) e Neosilba glaberrima (Wiedmann,1830). O índice médio de infestação de C. capitata nas cinco regiões não ultrapassou 0,5 pupa fruto-1. A percentagem de emergência (P.E.) de C. capitata em frutos coletados na planta e solo variou entre 14,0 a 54,0% de adultos fruto-1. Os índices de infestação de N. zadolicha, em frutos coletados na planta e solo, variaram entre 0,4 a 4,3 pupários fruto-1. Os dados da percentagem de emergência (P.E.) de N . zadolicha variaram entre 49,9 a 65,9% de adultos fruto-1, sendo considerada a espécie mais abundante, dominante e com uma alta taxa de sobrevivência. N. zadolicha foi considerada praga primária da tangerina nas condições de Matinhas. Este é, também, o primeiro relato das espécies N. zadolicha e N. glaberrima infestando tangerina na Paraíba.

moscas-das-frutas; índice de infestação; Ceratitis capitata; Neosilba zadolicha; Neosilba glaberrima


The municipality of Matinhas, with approximately 1.3 million tangerine trees, is responsible for 90% of the tangerine production in the state of Paraíba. This research was carried out in five geographic regions of Matinhas, where 20 fruits on plant and 20 fruits in soil were collected, with the aim of searching for the frugivorous flies and their levels of infestation in tangerine. The results showed that tangerine is infested by frugivorous flies Ceratitis capitata (Wiedmann, 1824), Neosilba zadolicha (McAlpine e Steyskal) and Neosilba glaberrima (Wiedmann, 1830). The mean infestation index of C. capitata in five regions did not exceed 0.5 pupae fruit-1. The emergence percentage (EP) of C . capitata adults in fruits collected on plant and in soil varied between 14.0% and 54.0% of adults fruit-1. The infestation index for N . zadolicha had variations between 0.4 and 4.3 pupae fruit-1. The data on the emergence percentage (EP) of N . zadolicha varied between 49.9% and 65.9% of adults fruit-1, which made it the most abundant and dominant species, with a high survival rate. N. zadolicha was considered the pest with the highest economic impact to tangerines in Matinhas. The present work is also the first report of the N. zadolicha and N. glaberiima species causing infestation in tangerine fruits in the state of Paraíba.

fruit flies; infestation index; Ceratitis capitata; Neosilba zadolicha; Neosilba glaberrima


FITOSSANIDADE

Moscas frugívoras (Tephritidae e Lonchaeidae): ocorrência em pomares comerciais de tangerina (Citrus reticulata Blanco) do município de Matinhas, Estado da Paraíba

Frugivorous flies (Tephritidae and Lonchaeidae): occurrence in commercials tangerine orchards (Citrus reticulata Blanco) in Matinhas, state of Paraíba, Brazil

Edson Batista LopesI,* * Autor para correspondência. E-mail: edsonbatlopes@uol.com.br ; Jacinto de Luna BatistaII; Ivanildo Cavalcanti de AlbuquerqueI; Carlos Henrique de BritoI

IEmpresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba, Estação Experimental de Lagoa Seca, Estrada de Imbaúba, Km 3, 58117-000, Lagoa Seca, Paraíba, Brasil

IILaboratório de Entomologia, Departamento de Fitotecnia, Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal da Paraíba, Areia, Paraíba, Brasil

RESUMO

O município de Matinhas, Estado da Paraíba com aproximadamente 1,3 milhões de plantas de tangerina, é responsável por 90% da produção do Estado. A pesquisa foi conduzida em cinco regiões geográficas do município de Matinhas, onde foram coletados 20 frutos na copa e 20 sob a copa da planta, objetivando pesquisar a ocorrência de moscas frugívoras e seus níveis de infestação em tangerina. Os resultados obtidos evidenciaram que a tangerina é infestada por Ceratitis capitata (Wiedmann,1824), Neosilba zadolicha (McAlpine e Steyskal) e Neosilba glaberrima (Wiedmann,1830). O índice médio de infestação de C. capitata nas cinco regiões não ultrapassou 0,5 pupa fruto-1. A percentagem de emergência (P.E.) de C. capitata em frutos coletados na planta e solo variou entre 14,0 a 54,0% de adultos fruto-1. Os índices de infestação de N. zadolicha, em frutos coletados na planta e solo, variaram entre 0,4 a 4,3 pupários fruto-1. Os dados da percentagem de emergência (P.E.) de N . zadolicha variaram entre 49,9 a 65,9% de adultos fruto-1, sendo considerada a espécie mais abundante, dominante e com uma alta taxa de sobrevivência. N. zadolicha foi considerada praga primária da tangerina nas condições de Matinhas. Este é, também, o primeiro relato das espécies N. zadolicha e N. glaberrima infestando tangerina na Paraíba.

Palavras-chave: moscas-das-frutas, índice de infestação, Ceratitis capitata, Neosilba zadolicha, Neosilba glaberrima.

ABSTRACT

The municipality of Matinhas, with approximately 1.3 million tangerine trees, is responsible for 90% of the tangerine production in the state of Paraíba. This research was carried out in five geographic regions of Matinhas, where 20 fruits on plant and 20 fruits in soil were collected, with the aim of searching for the frugivorous flies and their levels of infestation in tangerine. The results showed that tangerine is infested by frugivorous flies Ceratitis capitata (Wiedmann, 1824), Neosilba zadolicha (McAlpine e Steyskal) and Neosilba glaberrima (Wiedmann, 1830). The mean infestation index of C. capitata in five regions did not exceed 0.5 pupae fruit-1. The emergence percentage (EP) of C . capitata adults in fruits collected on plant and in soil varied between 14.0% and 54.0% of adults fruit-1. The infestation index for N . zadolicha had variations between 0.4 and 4.3 pupae fruit-1. The data on the emergence percentage (EP) of N . zadolicha varied between 49.9% and 65.9% of adults fruit-1, which made it the most abundant and dominant species, with a high survival rate. N. zadolicha was considered the pest with the highest economic impact to tangerines in Matinhas. The present work is also the first report of the N. zadolicha and N. glaberiima species causing infestation in tangerine fruits in the state of Paraíba.

Key words: fruit flies, infestation index, Ceratitis capitata, Neosilba zadolicha, Neosilba glaberrima.

Introdução

O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de frutas, superado apenas pela China e Índia (Mello, 2005) e o maior produtor mundial de citros com mais de 19 milhões de toneladas (FAO, 2004), sendo o Estado de São Paulo o principal polo produtor, com quase 83% da produção brasileira (Agrianual, 2004). O cultivo de tangerinas e seus híbridos cresceram, sendo o Brasil o terceiro maior produtor mundial com 1.263.000 toneladas colhidas na safra 2003, numa área plantada superior a 50 mil hectares, tendo São Paulo com cerca de 59% da produção, o principal Estado produtor (Agrianual, 2004; FAO, 2004).

Na Paraíba, o município de Matinhas com apenas 29 km2, encontram-se plantados 939,5 hectares de tangerina, variedade 'Dancy' (Citrus reticulata Blanco). Estima-se que existem, no município, aproximadamente 1,3 milhões de plantas, responsável por 90% da produção do Estado (Lopes et al., 2006). No trienio 2002 a 2004, a Paraíba, assumiu a posição de maior produtor de tangerina do Nordeste e o 7º no ranking nacional (IBGE, 2002; 2003 e 2004). Apesar do destaque que o município apresenta na produção, os pomares comerciais de tangerina vêm sendo infestados por moscas frugívoras, que assumiram importância econômica pelos danos e queda prematura de frutos, reduzindo significativamente a colheita (Lopes et al., 2006), bem como outras pragas, entre estas as cigarrinhas: Dilobopterus sp. e Acrogonia sp. (Gonçalves et al., 2008).

As moscas-das-frutas (Diptera: Tephritidae) são, mundialmente, reconhecidas como pragas da fruticultura, inclusive no Brasil, particularmente do gênero Anastrepha (Schiner) e da espécie Ceratitis capitata (Wiedmann), que são também vulgarmente denominadas de "bicho das frutas" ou "bicho da goiaba" (White e Elson-harris, 1992; Malavasi e Zucchi, 2000). Devido aos danos que causam, são consideradas pragas "chaves" dos citros, exigindo constante monitoramento populacional e intervenções oportunas para reduzir suas populações nos pomares (Moraes et ai, 1995; Souza Filho et ai, 1998).

Em estudo de hospedeiros de moscas-das-frutas de ocorrência no Brasil, Malavasi e Morgante (1980) verificaram que 13,7% das moscas que emergiram de Citrus spp. foram insetos do gênero Anastrepha, 43,1% eram insetos da espécie C. capitata e 43,2% eram lonqueídeos do gênero Neosilba. Enfatizaram esses autores que citros foi o hospedeiro preferido pela Neosilba, demonstrando sua importância como praga dessa fruteira e, em trabalho complementar, relataram duas espécies de tefritídeos em laranja doce (Citrus sinensis) quais sejam: C. capitata e A. fraterculus e lonqueídeos do gênero Neosilba. Em outras espécies do gênero Citrus como C. aurantium, C. deliciosa, C. grandis, C. madurensis e C. reticulata, também ocorreram as três espécies de moscas frugívoras, C. capitata, Anastrepha sp. e Neosilba spp.

Grande parte dos danos econômicos causados por insetos, na fruticultura brasileira, é devido ao ataque de espécies de moscas-das-frutas: Anastrepha spp. e C. capitata (Malavasi et al., 1980; Souza Filho et al., 2000). Mais recentemente, têm sido constatados danos provocados por espécies de Neosilba em várias fruteiras de importância econômica, como laranja (C. sinensis), goiaba (Pisidium guajava), néspera (Eriobotrya japonica) e maracujá (Passiflora edulis) (Del Vecchio, 1991; Souza Filho et al., 2002; Uchôa-Fernandes et al., 2003; Strikis, 2005).

No Mato Grosso do Sul, Uchôa-Fernandes (1999) observou em pomares de citros que a população de N. zadolicha encontrada foi superior a de tefritídeos, mais de dez vezes, sugerindo, ser impossível os tefritídeos terem produzido tantas puncturas em laranjas abrindo tamanho espaço para os lonqueídeos ocuparem. No mesmo Estado, Uchôa-Fernandes et al. (2002) detectaram Neosilba spp. em sete municípios, associados a 22 hospedeiros e N. zadolicha associada ao maracujá-silvestre (Passiflora sp.). Ainda, no Mato Grosso do Sul, Uchôa-Fernandes et al. (2003) verificaram a predominância de Neosilba, sendo também a única mosca que emergiu de frutos de laranjas. Sugeriram que esse inseto pode ter importância econômica como praga de citros naquele Estado. A mosca-domediterrâneo, C. capitata, foi a espécie mais abundante e frequente, sendo dominante nos pomares dos municípios Anastácio e Terenos.

A ocorrência de N. pendula na região de Mossoró/Assú, Estado do Rio Grande do Norte foi relatada por Araújo e Zucchi (2002) em alguns hospedeiros e, entre esses, encontrava-se a tangerina. O índice de infestação calculado por esses autores para essa praga foi 0,03 pupários fruto-1.

Em São Paulo, Raga et al. (2004) citaram que a 'Tangerina Cravo' (C. reticulata) e 'Laranja Azeda' (Citrus aurantium) apresentaram os maiores índices de infestação por fruto 3,4 e 2,4 pupários fruto-1, respectivamente. Neosilba spp. estiveram presentes em 38% das amostras infestando C. sinensis, C. aurantium, C. reticulata, tangor 'Murcot', Fortunella sp. e C. limonia. Kunquat teve a mais alta incidência relativa de Neosilba spp. (62,3%).

No Rio Grande do Norte, Araújo et al. (2005) determinaram o índice de infestação de C. capitata em plantas do semi-árido, nas condições de Mossoró/Assú. As maiores infestações ocorreram em kunquat (Fortunella margarita) e tangerina: 159,1 e 21,1 pupários kg-1, respectivamente. Esses autores concluíram, ainda, que o índice de infestação de tangerina levando-se em consideração o número de pupários fruto-1, foi 1,05.

Em alguns municípios do Rio de Janeiro, Aguiar-Menezes et al. (2006) relataram 16 hospedeiros de mosca-das-frutas, em que C. capitata e A. fraterculus infestação foram 172,3 pupários kg-1 de frutos e 26,5 pupários fruto-1, variando de 3 a 101 pupários fruto-1.

O conhecimento de moscas-das-frutas, na Paraíba, segundo Araújo et al. (2000), é muito insipiente e restrito ao município de Areia, onde foram constatadas em frutas de araçá (Psidium cattleyanum), goiaba (P. guajava), cajá (S. mombin L.), cajarana (Spondias sp.), seriguela (S. purpurea) e pitanga (Eugenia uniflora L.), as seguintes espécies: A. antunesi, A. fraterculus, A. obliqua, A. sororcula e A. zenildae. Nesse levantamento, não foi detectada a presença de C. capitata. No entanto, essa espécie já havia sido relatada em recente diagnóstico da citricultura de Matinhas (Lopes et al., 2006).

Objetivou-se com essa pesquisa, detectar a ocorrência de tefritídeos e lonqueídeos e seus níveis de infestação em pomares comerciais de tangerina do município de Matinhas, Estado da Paraíba.

Material e métodos

A pesquisa foi conduzida em pomares comerciais de tangerina 'Dancy' (Citrus reticulata Blanco) no município de Matinhas - PB, nas seguintes regiões geográficas: norte, sul, leste, oeste e centro.

As avaliações da ocorrência, na safra 2006, nos pomares avaliados, não receberam nenhum tratamento fitossanitário nos cinco anos anteriores à pesquisa. A coleta dos frutos foi feita em cinco plantas, por meio de catação manual, sendo que 20 frutos foram coletados na copa e os outros 20 sob a copa (caídos no solo), conforme sugere Carvalho (2005). Foram feitas cinco coletas, sendo uma por semana, em cada pomar comercial pré-selecionado. Os frutos coletados foram conduzidos ao Laboratório de Fitossanidade da Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S/A (Emepa-PB), no Município de Lagoa Seca, Estado da Paraíba.

No laboratório, os frutos foram colocados em bandejas plásticas (20 x 30 x 6 cm), contendo uma camada de 3 cm de areia fina (esterilizada a 120ºC) para a obtenção dos pupários. As bandejas foram etiquetadas contendo informações sobre a data de coleta, o número de frutos, nome do produtor e identificação do pomar. As bandejas contendo os frutos foram mantidas em sala com temperatura de 25±2ºC e umidade relativa de 70± 5%, pelo período de 30 dias para a saída das larvas do interior dos frutos para pupação.

Após dez dias, a areia passou a ser peneirada, semanalmente, com o auxílio de uma peneira de malha 1,5 mm 2 para a retenção dos pupários, estendendo-se o processo por 35 dias, até que os frutos não contivessem mais larvas para pupação. As bandejas plásticas foram protegidas com tecido fino (filó) visando diminuir a infestação por moscas drosófilas e possível fuga de adultos emergidos. Os pupários obtidos foram quantificados e acondicionados em frascos de vidro transparentes, devidamente, etiquetados contendo, no seu interior, papel filtro umedecido a cada dois dias para facilitar a hidratação das pupas e emergência dos adultos. Diariamente, foram feitas contagens do número de adultos emergidos até 30 dias após a retirada da última pupa da bandeja. As variáveis respostas biológicas calculadas, conforme Carvalho (2005) foram: índice de infestação de frutos (I.F.) e percentual de emergência (P.E.).

Espécimes adultos de lonqueídeos foram identificados pelo Biólogo Pedro Carlos Strikis, taxonomista de Lonchaeidae do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas-Unicamp.

Resultados e discussão

Os resultados da presente pesquisa, sobre a ocorrência dos tefritídeos e lonqueídeos que infestaram a tangerina no município de Matinhas - Estado da Paraíba, evidenciaram baixa diversidade de moscas frugívoras no tocante ao número de espécies. Foram identificadas as espécies Ceratitis capitata (Wiedmann, 1824), Neosilba zadolicha (McAlpine e Steyskal) e Neosilba glaberrima (Wiedmann, 1830).

Ocorrência de Ceratitis capitata (Wiedmann, 1824) em pomares comerciais de tangerina no município de Matinhas, Estado da Paraíba

A espécie C. capitata foi novamente assinalada infestando a tangerina 'Dancy', corroborando com o trabalho de Lopes et al. (2006). Esse resultado assemelha-se também, com os relatos de Araújo et al. (2005), em frutos de tangerina 'Dancy', nas condições de Mossoró/Assú, e de Aguiar-Menezes et al. (2006) no município Araruama, Estado do Rio de Janeiro, também, em tangerina 'Dancy'. Espécimes adultos de C. capitata emergiram dos pupários oriundos dos frutos coletados nas cinco regiões geográficas do município de Matinhas. A infestação de C. capitata em frutos de tangerina 'Dancy' foi de baixa intensidade (Tabela 1).

Os resultados evidenciaram, também, baixa diversidade de tefritídeos, representada apenas pela espécie C. capitata. Esse fato, provavelmente, está relacionado ao pequeno número de coletas realizadas (somente cinco coletas foram feitas, sendo uma a cada colheita). A ocorrência de C. capitata infestando frutos de tangerina 'Dancy' no município de Matinhas é um resultado importante do ponto de vista da exportação da fruta fresca, tendo em vista o inseto ser praga quarentenária para muitos países.

C. capitata ocorreu em Matinhas, Estado da Paraíba, com baixa intensidade de infestação em tangerina e com pouca frequência em todos os pomares investigados, diferindo do relato de Uchoa-Fernandes et al. (2003), em que a espécie C. capitata foi abundante e frequente, sendo dominante nos pomares de Citrus spp. nos municípios de Anastácio e Terenos, Estado do Mato Grosso do Sul. A baixa infestação de C. capitata, em tangerina, pode ser em função da grande diversidade de plantas hospedeiras como araçá, laranja, manga, goiaba e seriguela existentes na região, que coincidem na frutificação, com a época de colheita da tangerina, onde a praga em vez de realizar a oviposição em tangerina, talvez, prefira os hospedeiros intermediários. Em outras regiões do Brasil, ocorre em populações elevadas em pomares de citros, conforme relataram Malavasi e Morgante (1980) e Uchôa-Fernandes et al. (2003).

A importância de C. capitata, nos pomares comerciais de Matinhas, ficou caracterizada não só pelos danos que este inseto causa nos frutos, mas, também, por ser praga quarentenária, o que é ratificado por Moraes et al. (1995) e Souza Filho et al. (1998).

Ocorrência de Neosilba zadolicha (McAlpine e Steyskal) e Neosilba glaberrima (Wiedmann, 1830) em pomares comerciais de tangerina no município de Matinhas, Estado da Paraíba

Os lonqueídeos frugívoros identificados em nível de espécie foram: Neosilba zadolicha (McAlpine e Steyskal) e Neosilba glaberrima (Wiedemann, 1830). Este é o primeiro registro das espécies que infestam a tangerina na Paraíba.

Nos cinco pomares estudados, N. zadolicha foi a espécie que apresentou as maiores infestações e a maior abundância nas regiões norte, sul, oeste e centro do município (Tabela 1). Estes dados apresentaram padrões semelhantes aos obtidos por Uchôa-Fernandes (1999) no Estado do Mato Grosso do Sul, onde foram observados, em pomares de citros, a população de N. zadolicha encontrada foi superior, dez vezes mais que a de tefritídeos. Uchôa-Fernandes et al. (2003) verificaram que a mosca predominante foi Neosilba, sendo também a única que emergiu de frutos de laranjas. Esses autores sugeriram que este inseto tem importância econômica como praga de citros no Estado do Mato Grosso do Sul. N. zadolicha é também relatada como mosca frugívora em citros no Amazonas (Silva, 1993), no Rio Grande do Sul (Silva et al., 2006) e em São Paulo (Del Vecchio, 1991).

Considerando-se que N. zadolicha esteve presente em todas as regiões e respectivos pomares comerciais de tangerina e, tendo em vista sua alta infestação nos frutos, comprometendo seriamente a colheita, esta espécie tem o "status" de praga primária nas condições de Matinhas, Estado da Paraíba. A ocorrência de N. zadolicha como mosca frugívora de citros, representado neste trabalho pela tangerina, vem corroborar com os resultados de diversos autores (Uchôa-Fernandes, 1999; Malavasi e Morgante, 1980; Del Vecchio, 1991; Souza Filho et al., 2002; Uchôa-Fernandes et al., 2002; Uchôa-Fernandes et al., 2003; Strikis, 2005; Silva et al., 2006) que citam essa espécie como frugívora de citros.

A espécie N. glaberrima não foi computada nos cálculos de índice de infestação (I.F.) e percentagem de emergência (P.E.), tendo em vista ocorrer junto com outras espécies, no mesmo fruto. A infestação dos frutos por N. zadolicha e N. glaberrima, no tocante aos sintomas de ataque após a oviposição, evidenciou que estas espécies não fazem puncturas profundas no fruto como C. capitata, e, se fazem, não são visíveis a 'olho nu'. Não apresentam sintomas característicos como C. capitata, em que o fruto atacado fica mole e apodrecido, apresentando, geralmente, uma mancha circular marrom amolecida e/ou apodrecida, com colapso de polpa sob pressão manual. Frutos caídos na copa das árvores exibem orifício de postura com a presença da larva em seu interior e de saída das larvas, quando estas migram para o solo.

Índice de Infestação (I.F.) e percentagem de emergência (P.E.) das moscas frugívoras Ceratitis capitata (Wiedmann, 1824) e Neosilba zadolicha (McAlpine e Steyskal)

O índice médio de infestação de C. capitata, nas cinco coletas, conduzidas nas cinco regiões (Tabela 1), foi de 0,34 pupários fruto-1, para planta e solo, não ultrapassando 0,5 pupa fruta-1, bem inferior aquele encontrado por Araújo et al. (2005), cujo valor para a tangerina, nas condições de Mossoró/Assú, foi de 1,05 pupários fruto-1. Os valores dos índices de infestação de C. capitata nas cinco regiões pesquisadas foram baixos, variando entre 0,2 e 1,0 pupa fruto-1.

Em amostras isoladas, Raga et al. (2004), em 'Tangerina Cravo' (C. reticulata) e 'Laranja Azeda' (C. aurantium) relataram os maiores índices de infestação por fruto (3,4 e 2,4 pupários fruto-1, respectivamente). Amostras de 'Kunquat' (Fortunella sp.) e 'Tangerina Cravo' alcançaram níveis altos de infestação (64,0 e 37,9 pupários kg-1 de frutos, respectivamente). Estudos de infestação de moscadas-frutas, em pomares de citros, em São Paulo onde havia laranja 'Pêra', tangerina 'cravo' e tangor 'Murcote' evidenciaram que o dano causado em laranjas é maior que em tangerinas (Branco et al., 2000). Os resultados para C. capitata evidenciaram que 90% das amostras não foram infestadas por esse díptero (Raga et al., 2004).

Em Matinhas, ocorreu o inverso, ou seja, a tangerina 'Dancy' não deixou de ser infestada, mesmo em baixa intensidade de infestação, corroborando ser C. capitata praga de citros, merecendo constante monitoramento e atenção, conforme é relatado por Moraes et al. (1995); Souza Filho et al. (1998); Branco et al. (2000); Raga et al. (2004) e Aguiar-Menezes et al. (2006).

Para a percentagem de emergência (P.E.) de adultos de C. capitata (Tabela 1), em frutos coletados na planta e no solo, houve variação média de 24,28 a 29,32% de adultos fruto-1, no solo e planta, respectivamente. Estes percentuais indicam que a prole dessa espécie teve uma baixa sobrevivência e, mesmo assim, a prole e/ou indivíduos remanescentes deveriam voltar aos pomares, onde a tangerina seria o repositório alimentar ou hospedeiro primário.

Os índices de infestação, obtidos para N. zadolicha, apresentados na Tabelas 1, variaram de 0,4 a 4,3 pupários fruto-1. Esses dados em nível de infestação foram altos, quando comparados com o índice de infestação calculado por Araujo e Zucchi (2002) para N. pendula, na região de Mossoró/Açu, no Rio Grande do Norte, cujo valor foi 0,03 pupário fruto-1 em tangerina. Em 2003, o índice de infestação com A. fratercullus para a laranja 'Céu' foi 0,86 pupário fruto-1 e 0,34 pupário fruto-1 para tangor 'Murcott'. Em 2004, os índices foram 0,40 e 0,30 pupário fruto-1 para a laranja 'Céu' e para tangor 'Murcott ', respectivamente (Silva et al., 2006).

Do ponto de vista das infestações nos frutos, os valores de 1,4; 1,6; 1,7; 2,4; 3,0; 3,2 e 4,3 pupários fruto-1 são considerados altos, configurando N. zadolicha como praga primária e de importância econômica para a tangerina nas condições de Matinhas, Estado da Paraíba. Pelos elevados número de larvas que infestam a tangerina, N. zadolicha é praga primária. Além dos pomares de tangerina 'Dancy', 'laranja comum', 'laranja bahia', 'laranja cravo' e 'ponkan', existem no município, outros hospedeiros como manga (M. indica), goiaba, araçá, cajá e seriguela, que são os repositórios das espécies encontradas.

Quanto aos dados da percentagem de emergência (P.E.) de adultos, que variaram entre 49,9 a 65,9% de adultos fruto-1 (Tabela 1). N. zadolicha foi a espécie mais abundante nos pomares estudados. Os percentuais de emergência (P.E.) indicaram que a prole dessa espécie teve uma taxa média de sobrevivência (49,9 a 65,9%) e que, se estivesse em condições de campo, certamente os indivíduos oriundos da prole estariam voltando aos pomares, onde a tangerina seria o repositório alimentar.

A comparação dos índices de infestação obtida neste trabalho, para C. capitata e N. zadolicha com os da literatura, como exemplo, Raga et al. (2004) e Aguiar-Menezes et al. (2006), foi prejudicada, em parte, pois na maioria dos trabalhos, os autores não calcularam os índices de infestação por tefritídeos e lonqueídeos separadamente, ou seja, os índices levaram em consideração os pupários de todos os dípteros frugívoros juntos. Dados de percentagem de emergência (P.E.) na literatura no tocante a C. capitata e N. zadolicha em relação à tangerina ou mesmo citros, praticamente não foram encontrados e, diante de tal situação, não foi possível uma discussão comparativa com outros trabalhos.

Conclusão

Ceratitis capitata (Wiedmann, 1824), Neosilba zadolicha (McAlpine & Steyskal) e Neosilba glaberrima (Wiedmann, 1830) foram as espécies encontradas infestando a tangerina 'Dancy';

N. zadolicha e N. glaberrima são relatadas pela primeira vez, infestando tangerina no município de Matinhas, Estado da Paraíba;

N. zadolicha é praga primária e fator limitante ao cultivo de tangerina no município de Matinhas, Estado da Paraíba.

Received on June 20,2007.

Accepted February 22,2008.

License information: This is an open-access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution License, which permits unrestricted use, distribution, and reproduction in any medium, provided the original work is properly cited.

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    Autor para correspondência. E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      23 Dez 2011
    • Data do Fascículo
      2008

    Histórico

    • Recebido
      20 Jun 2007
    • Aceito
      22 Fev 2008
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