Acessibilidade / Reportar erro

Leveduras associadas a Spermologus rufus Boheman (Coleoptera: Curculionidae)

Yeasts associated with Spermologus rufus Boheman (Coleoptera: Curculionidae)

Resumo

Larvae and adults of Spermologus rufus Boheman can cause severe damage to seeds of Brazilian pine, Araucaria angustifolia. In this study, yeasts were isolated from seeds of A. angustifolia and from the digestive tract of S. rufus to verify their similarity and determine the existence of feeding sites in order to elaborate an artificial diet for this insect. Pichia spp. were found in seeds and Pichia spp. and P. stipitis Pignal in the digestive tract of S. rufus. The low variability among observed microorganisms suggests a food preference, which can facilitate the elaboration of artificial diets.

Insecta; Coleoptera; Curculionidae; yeast; Pichia; artificial diets; Brazilian pine


Insecta; Coleoptera; Curculionidae; yeast; Pichia; artificial diets; Brazilian pine

COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

Leveduras associadas a Spermologus rufus Boheman (Coleoptera: Curculionidae)

Yeasts associated with Spermologus rufus Boheman (Coleoptera: Curculionidae)

Marliton R. Barreto; Eriana S. Barreto; Norivaldo Anjos

Departamento de Biologia Animal, CCB, UFV, 36571-000, Viçosa, MG

ABSTRACT

Larvae and adults of Spermologus rufus Boheman can cause severe damage to seeds of Brazilian pine, Araucaria angustifolia. In this study, yeasts were isolated from seeds of A. angustifolia and from the digestive tract of S. rufus to verify their similarity and determine the existence of feeding sites in order to elaborate an artificial diet for this insect. Pichia spp. were found in seeds and Pichia spp. and P. stipitis Pignal in the digestive tract of S. rufus. The low variability among observed microorganisms suggests a food preference, which can facilitate the elaboration of artificial diets.

Key words: Insecta, Coleoptera, Curculionidae, yeast, Pichia, artificial diets, Brazilian pine.

A associação de leveduras com insetos pode ser dividida em: puramente mecânica, quando os insetos atuam como vetores de disseminação das leveduras no meio ambiente e nenhum benefício nutricional é derivado da associação; e benéfica, quando o inseto pode atuar não somente como vetor, mas também utilizar produtos metabólicos de leveduras que crescem no seu substrato de alimentação ou de reprodução (Phaff & Starmer 1987). Leveduras formam uma dieta adequada para certas larvas de mosquitos, baratas e besouros que se desenvolvem em substâncias fermentescíveis e em decomposição (Brues 1972) e, por isso, são importantes na nutrição de larvas e adultos de insetos, criando um potencial para interações mutualísticas, sendo utilizadas também no preparo de dietas artificiais. O curculionídeo Spermologus rufus Boheman cria-se em sementes oleosas de dicotiledôneas, atacando-as no chão ou em depósitos, como é o caso das amêndoas de Virola oleifera (Anônimo 1944), de Theobroma cacao (Bondar 1945), de sapotáceas e leguminosas (Delobel & Tran 1993). No pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia), S. rufus causa severos danos por utilizá-lo como alimento, tanto na fase jovem quanto na adulta (Barreto et al. 1996). Leveduras têm sido isoladas de insetos das famílias Bostrichidae, Cerambycidae e Buprestidae (Phaff & Starmer 1987) e é conhecido, também, que coleópteros das famílias Scolytidae, Lymexylidae e Platypodidae possuem associações mutualísticas com leveduras (Kinuura 1995). Entretanto, nenhum relato foi encontrado a respeito de leveduras em Curculionidae. Desta forma, isolou-se leveduras de sementes de A. angustifolia e do tubo digestivo de S. rufus, para verificar sua similaridade e determinar a existência de sítios de alimentação, visando a possível elaboração de uma dieta artificial para este inseto.

Os experimentos foram conduzidos nas dependências do Núcleo de Biotecnologia Aplicada à Agropecuária (BIOAGRO) da Universidade Federal de Viçosa (U.F.V.), MG e os insetos foram obtidos da criação existente no Laboratório de Biologia de Insetos da U.F.V.. Sementes de A. angustifolia foram maceradas com 5 ml de água destilada estéril, sendo 0,2 ml da mistura espalhada em placas contendo ASD (Ágar Sabouraud dextrosado) (2% de dextrose, 1% de peptona e 1,5% de ágar) e incubadas a 28ºC por 72 h. As colônias de leveduras foram repicadas para tubos contendo o mesmo meio de cultura, onde cresceram por 48 h nas mesmas condições. Os tubos digestivos dos insetos foram dissecados em solução salina a 0,9% e, posteriormente, macerados de acordo com o procedimento acima citado e 0,2 ml da mistura foi espalhada em placas com ASD mais rifampicina (16 mg/ml). As placas foram incubadas na mesma temperatura e as leveduras isoladas como descrito acima. A caracterização das leveduras foi feita segundo Van der Walt & Yarrow (1984) e sua identificação pela chave de Kreger-van Rij (1984). As culturas foram mantidas em tubos contendo GYP ágar inclinado (2% de glicose, 0,5% de extrato de levedura, 1% de peptona e 2% de ágar), acrescido de óleo mineral e água destilada estéril, sob refrigeração.

Das 30 colônias isoladas e identificadas 25 foram de Pichia spp. e cinco de Pichia stipitis Pignal. As colônias de Pichia spp. foram isoladas de sementes e do tubo digestivo de S. rufus e as de P. stipitis apenas do tubo digestivo. Numerosas espécies de Pichia, um gênero de levedura considerado inócuo a humanos (Buckholz & Gleeson 1991), têm sido encontradas em associação com insetos das famílias Bostrichidae, Cerambycidae e Buprestidae (Phaff & Starmer 1987). Espécies de Pichia podem ser isoladas de fezes de insetos, de tubos digestivos de besouros que invadem madeira em decomposição, de larvas de Calcophora sp. (Phaff & Starmer 1987), de Cetonia sp., de Dorcus parallelipipedus e de Laphria sp. (Kurtzman 1984), de galerias feitas na madeira por escolitídeos (Hutchison & Hiratsuka 1994, Kinuura 1995), das superfícies de Drosophila spp. (Morais et al. 1995) e de nitidulídeos na cactácea Pilosocereus arrabidae (Rosa et al. 1994).

As leveduras parecem direcionar os sítios de alimentação dos insetos como acontece nas abelhas africanas, nas quais a similaridade entre as leveduras isoladas de seu trato digestivo e das flores que lhes servem de alimento é significante (Phaff & Starmer 1987). As leveduras isoladas de frutos e de espécies de Drosophila da floresta amazônica mostraram uma boa correspondência e os isolados representaram as espécies utilizadas como alimento pelas moscas (Morais et al. 1995). As leveduras isoladas dos tratos intestinais de larvas de Drosophila serido Vilela e Sene foram, principalmente, as espécies que prevaleceram nos caules da cactácea P. arrabidae (Morais et al. 1994). Segundo Brues (1972), parece que os microrganismos devem apresentar alguma relação com o processo digestivo dos insetos. Há evidência de que os microrganismos são ingeridos com os substratos nos quais eles estão crescendo e formam uma parte da dieta do inseto. Uma mesma similaridade parece ocorrer entre as leveduras isoladas da semente de A. angustifolia e do tubo digestivo de S. rufus. Portanto, para o desenvolvimento de uma dieta artificial, visando a criação deste inseto, o extrato de levedura adicionado à dieta poderia ser de espécies do gênero Pichia.

Literatura Citada

Recebido em 09/07/97. Aceito em 12/03/98.

  • Anônimo. 1944. Uma broca da bicuíba como praga do cacao. Chácaras e Quintais 69: 314-315.
  • Barreto, M. R., N. Anjos & M. P. Souza. 1996. Ocorrência de Spermologus rufus (Coleoptera: Curculionidae) em sementes de Araucaria angustifolia An. Soc. Entomol. Brasil 25: 567-568.
  • Bondar, G. 1945. Notas Entomológicas da Baía XV. Rev. Entomol. 16: 112.
  • Buckholz, R. G. & M. A G. Gleeson. 1991. Yeast systems for the comercial production of heterologous proteins. Bio/Technology. 9: 1067-1072.
  • Brues, C. T. 1972. Fungi and microbes as food; symbiosis with microorganisms, p. 192-242. In: Insects Food and Ecology. New York, Dover Publications Inc., 466 p.
  • Delobel, A. & M. Tran. 1993. Les Coleoptères des denrees alimentaires entreposées dans les regions chaudes, Paris: Orstom, Faune Tropicale, 32, 854 p.
  • Hutchison, L. J. & Y. Hiratsuka. 1994. Some wood-inhabiting yeasts of trembling aspen (Populus tremuloides) from alberta and northeastern Birtish Columbia. Mycologia 86: 386-391.
  • Kinuura, H. 1995. Symbiotic fungi associated with Ambrosia beetles. Jarq 29: 57-63.
  • Kurtzman, C. P. 1984. Genus 21: Pichia Hansen, p. 295-378. In N. J. W. Kreger van-Rij (ed.) The yeasts: a taxonomic study, 3rd ed. Amsterdam, Elsevier Science Publishers, 1082 p.
  • Kreger-van Rij, N. J. W. 1984. The yeasts: a taxonomic study, 3rd ed. Amsterdam, Elsevier Science Publishers, 1082 p.
  • Morais, P. B., M. B. Martins, L. B. Klaczo, L. C. Mendoça-Hagler & A. N. Hagler. 1995. Yeast sucession in the amazon fruit Parahancornia amapa as resource partitioning among Drosophila spp. Appl. Environ. Microbiol. 61: 4251-4257.
  • Morais, P. B., C. A. Rosa, A. N. Hagler & L. C. Mendonça-Hagler. 1994. Yeast communities of the cactus Pilosocereus arrabidae as resources for larval and adult stages of Drosophila serido. Antonie van Leeuwenhoek 66: 313-317.
  • Phaff, H. J. & W.T. Starmer. 1987. Yeasts associated with plants, insects and soil, p. 123-180. In A. H. Rose & J. S. Harrison (eds.), The yeasts. London, Academic Press, 508 p.
  • Rosa, C. A., P. B. Morais, A. N. Hagler, L. C. Mendonça-Hagler & R. F. Monteiro. 1994. Yeast communities of the cactus Pilosocereus arrabidae and associated insects in the sandy coastal plains of southeastern Brazil. Antonie van Leeuwenhoek 65: 55-62.
  • Van der Walt & D. Yarrow. 1984. Methods for isolation, maintenance, classification and identification of yeasts, p 45-104. In N. J. W. Kreger van-Rij (ed.) The yeasts: a taxonomic study, 3rd ed. Amsterdam, Elsevier Science Publishers, 1082 p.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Jul 2006
  • Data do Fascículo
    Jun 1998

Histórico

  • Aceito
    12 Mar 1998
  • Recebido
    09 Jul 1997
Sociedade Entomológica do Brasil Caixa postal 481 - CEP 86001-970, Londrina - PR - Brasil, Fone:(43) 3376 2262, Fax: (43) 3342 3987 - Londrina - PR - Brazil
E-mail: suemart@sercomtel.com.br