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PREFÁCIO

Seguem, após certo atraso, os artigos procedentes do Simpósio em Ambientes Fluviais apresentados no 44º Congresso Brasileiro de Geologia em Curitiba (outubro de 2008). Os trabalhos foram selecionados de um total de 27 resumos e constituem uma ótima amostra da pesquisa de ambientes fluviais feita pelos geocientistas. À primeira vista, percebe-se uma ampla variedade, tanto nos temas como nos sistemas fluviais abordados. Da hidrossedimentologia à geologia estrutural, da análise de áreas impactadas à evolução quaternária dos sistemas fluviais, os artigos compilados revelam-nos uma riqueza de temas, métodos e enfoques que refletem a própria natureza da pesquisa em geociências e em especial da geologia, que modernamente se associa em caráter transversal a outras áreas como a geomorfologia, hidrologia, ecologia, entre outras.

Este foi o primeiro simpósio realizado, no âmbito de um congresso brasileiro de geologia, com enfoque específico em sistemas fluviais atuais e, com sucesso tal, que se repetiu no 45º Congresso Brasileiro de Geologia de Belém (outubro de 2010) e deverá acontecer também no próximo congresso em Santos (2012), onde ocorrerá o “Simpósio de Sistemas fluviais: dinâmica, processos e controle”. Muito interessante foi a coincidência de Curitiba ter também abrigado, em 1997, o Paleohydrology in South America junto ao IV Congresso da ABEQUA, que pode ser considerado como o primeiro encontro de geocientistas voltado aos ambientes fluviais atuais.

Nesses últimos 15 anos a pesquisa fluvial avançou significativamente em nosso país. Um volume especial foi editado previamente pela Revista Brasileira de Geomorfologia (2005, 6/2), com mais de uma dezena de artigos devotados exclusivamente aos estudos fluviais. Vários centros especializados em estudos fluviais foram criados em instituições de todo o país. Mesmo em redutos tradicionalmente geológicos, como na Universidade Federal de Ouro Preto, foram criados grupos para estudos fluviais. Uma interessante visão da evolução e difusão dos estudos fluviais em geociências pode ser obtida no trabalho de Salgado et al. (2008Salgado A.A., Biazini J., Hennig S. 2008. Geomorfologia brasileira: panorama geral da produção nacional no início do século XXI (2001-2005). Revista Brasileira de Geomorfologia, 9(1):84-91.). Os autores aferiram que no período de 2001 a 2005, os artigos relacionados a temas fluviais compreendiam 25,5% da produção geomorfológica brasileira, mas estavam restritos a alguns centros. Somente os centros da UFGO em Goiânia e da UEM em Maringá eram responsáveis por quase 50% dessa produção para artigos em periódicos internacionais (Salgado et al. 2008Salgado A.A., Biazini J., Hennig S. 2008. Geomorfologia brasileira: panorama geral da produção nacional no início do século XXI (2001-2005). Revista Brasileira de Geomorfologia, 9(1):84-91., Fig. 6, p. 89). Atualmente, tomando-se o Simpósio de Ambientes Fluviais como parâmetro, pode-se observar que mais de duas dezenas de instituições, de diferentes regiões do Brasil, estão empenhadas nos estudos fluviais das mais variadas abordagens. Atualmente uma variedade de pesquisadores brasileiros atua ativamente em diversos projetos e grupos de pesquisas nacionais e internacionais como o IGCP 582- Unesco Tropical Rivers Project e o Tropical Geomorphology Working Group, da Associação Internacional de Geomorfologia - IAG, ambos sob nossa coordenação agregam dezenas de pesquisadores nacionais e estrangeiros.

Este volume é um exemplo da expansão da temática e das instituições dos estudos fluviais. Dentre os nove artigos selecionados, três referem-se a rios Amazônicos. O fluxo de água e de sedimento do maior rio do planeta é apresentado por Filizola e Guyot. Nesta mesma bacia, a grande cheia de 2008 é estudada por Vale e colaboradores e por Franzinelli na maior confluência fluvial do mundo: rio Negro e Solimões. Ainda sobre a Amazônia, Prates apresenta uma síntese da paisagem da imensa bacia hidrográfica desde o Pré--Cambriano. Dois artigos tratam do rio Ivaí, o maior afluente da bacia do Paraná ainda em estado prístino. Leli e Fujita e seus colaboradores analisam a dinâmica da carga suspensa e o perfil longitudinal desse rio. Uma visão geral do desconhecido megaleque do Nabileque no Pantanal Matogrossense é apresentado por Kurten e Assine. Finalmente, dois trabalhos de cunho metodológico são apresentados por Wittman e colaboradores na aplicação do 10Be para determinação da taxa de transporte de sedimento na bacia de Beni, Bolívia; e por Lana e Castro sobre a relação entre geodiversidade e a morfossedimentologia do córrego da Gameleira, MG.

Assim, o presente volume não é apenas uma destacada contribuição aos estudos fluviais, mas dá também uma pequena idéia da diversidade desses estudos no campo das geociências.

Referências

  • Salgado A.A., Biazini J., Hennig S. 2008. Geomorfologia brasileira: panorama geral da produção nacional no início do século XXI (2001-2005). Revista Brasileira de Geomorfologia, 9(1):84-91.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Oct-Dec 2011
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