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Impacto das alterações da retroalimentação auditiva em indivíduos com gagueira Como citar este artigo: Fiorin M, Marconato E, Palharini TA, Picoloto LA, Frizzo AC, Cardoso AC, et al. Impact of auditory feedback alterations in individuals with stuttering. Braz J Otorhinolaryngol. 2021;87:247-54. , ☆☆ ☆☆ Trabalho realizado no Laboratório de Estudos da Fluência (Laef), Departamento de Fonoaudiologia, Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), Marília, SP, Brasil.

Resumo

Introdução

Evidências eletrofisiológicas têm reforçado a hipótese de que a gagueira está associada a um déficit na modulação do sistema auditivo cortical durante o planejamento da fala, o que contribui para um monitoramento ineficiente da retroalimentação auditiva e, consequentemente, resulta em disfluências.

Objetivo

Verificar o impacto das modificações da retroalimentação auditiva na fala espontânea de indivíduos com gagueira.

Método

Participaram 16 indivíduos de ambos os sexos, na faixa de 8 a 17 anos e 11 meses, com diagnóstico de gagueira neurodesenvolvimental persistente, divididos em dois grupos: grupo de gagueira moderada e grupo de gagueira grave. Os procedimentos constaram de três etapas: coleta dos dados de identificação, avaliação audiológica e avaliação da fluência da fala espontânea em quatro condições de retroalimentação auditiva (habitual, atrasada, mascarada e amplificada). A amostra de fala obtida na retroalimentação habitual foi considerada controle; as demais foram consideradas como condições de escuta modificadas.

Resultados

Com relação às disfluências típicas da gagueira, na análise intragrupo do grupo de gagueira moderada, observou-se diferença estatisticamente significante entre a retroalimentação auditiva habitual e a mascarada (p = 0,042); assim como entre a habitual e a amplificada (p = 0,042). No grupo de gagueira grave, houve diferença estatisticamente significante em todas as modificações de retroalimentação auditiva em relação à habitual (atrasada p = 0,012; mascarada p = 0,025 e amplificada p = 0,042). Verificou-se, ainda, redução dos fluxos de sílabas e de palavras por minuto no grupo de gagueira moderada na retroalimentação auditiva atrasada, quando comparada com a habitual (p = 0,017 e p = 0,025; respectivamente).

Conclusão

O efeito da retroalimentação auditiva atrasada foi favorável para o grupo de gagueira grave, pois promoveu a fluência da fala. As condições de retroalimentação auditiva mascarada e amplificada ocasionaram benefícios na fala espontânea de ambos os grupos, diminuíram a quantidade de disfluências típicas da gagueira. A velocidade de fala não foi prejudicada por nenhuma condição de escuta analisada.

PALAVRAS-CHAVE
Fonoaudiologia; Distúrbios da fala; Gagueira; Audição; Retroalimentação

Abstract

Introduction

Electrophysiological evidence has reinforced the hypothesis that stuttering is associated with a deficit in modulation of the cortical auditory system during speech planning, contributing to an inefficient auditory feedback monitoring and, consequently, resulting in disfluencies.

Objective

To verify the impact of auditory feedback modifications on the spontaneous speech of individuals with stuttering.

Methods

Sixteen individuals, of both genders, aged 8-17 years and 11 months, with a diagnosis of persistent neurodevelopmental stuttering, were divided into two groups: Moderate Stuttering Group and Severe Stuttering Group. The testing procedures consisted of three stages: collection of identification data, audiological assessment and fluency evaluation of spontaneous speech in four auditory feedback conditions (non-altered, delayed, masked and amplified). The speech sample obtained in the non-altered feedback was considered the control; the others were considered as modified listening conditions.

Results

Regarding the stuttering-like disfluencies, a statistically significant difference was observed in the intragroup analysis of the Moderate Stuttering Group between non-altered and masked auditory feedback (p = 0.042), as well as between non-altered and amplified (p = 0.042). There was a statistically significant difference in the Severe Stuttering Group for all auditory feedback modifications in relation to the non-altered (delayed p = 0.012, masked p = 0.025 and amplified p = 0.042). There was also a reduction in flows of syllables and words-per-minute in the Moderate Stuttering Group for the delayed auditory feedback, as compared to non-altered (p = 0.017 and p = 0.025, respectively).

Conclusion

The effect of delayed auditory feedback was favorable for the Severe Stuttering Group, promoting speech fluency. The conditions of masked and amplified auditory feedback resulted in speech benefits in both groups, decreasing the number of stuttering-like disfluencies. The speech rate was not impaired by any listening condition analyzed.

Keywords
Speech-language pathology; Speech disorders; Stuttering; Hearing; Feedback

Introdução

A gagueira é um distúrbio do neurodesenvolvimento multidimensional e complexo, que apresenta uma base neurobiológica amplamente investigada. Há evidências científicas de que indivíduos que gaguejam apresentam anomalias estruturais e funcionais nas áreas responsáveis pela linguagem oral. Os achados mais comuns envolvem a redução da substância branca ao longo das partes do fascículo longitudinal arqueado/superior em crianças e adultos com gagueira.11 Chang SE, Garnett EO, Etchell A, Chow HM. Functional and neuroanatomical bases of developmental stuttering: current insights. Neuroscientist. 2018;:1-17. Estudos de neuroimagem também demonstraram: conectividade reduzida nas áreas do cérebro responsáveis pelo processamento do tempo e do ritmo;22 Chang SE, Horwitz B, Ostuni J, Reynolds R, Ludlow CL. Evidence of left inferior frontal-premotor structural and functional connectivity deficits in adults who stutter. Cereb Cortex. 2011;21:2507-2518. desenvolvimento atípico das redes neurais auditivo-motora e dos gânglios da base-tálamo-cortical;33 Chang SE. Subtle differences in brain network connectivity in children who stutter. Procedia Soc Behav Sci. 2015;193:285. déficit primário na rede da fala do hemisfério esquerdo, e envolvem especificamente o córtex pré-motor lateral e o córtex motor primário.44 Garnett EO, Chow HM, Nieto-Castñón A, Tourville JA, Guenther FH, Chang SE. Anomalous morphology in left hemisphere motor and premotor cortex of children who stutter. Brain. 2018;141:2670-2684.

Investigações recentes têm apresentado resultados relevantes sobre as regiões auditivas e suas conexões com áreas cerebrais na produção da fala.33 Chang SE. Subtle differences in brain network connectivity in children who stutter. Procedia Soc Behav Sci. 2015;193:285.,55 Lu C, Long Y, Zheng L, Shi G, Liu L, Ding G, et al. Relationship between speech production and perception in people who stutter. Front Hum Neurosci. 2016;10:1-11.,66 Daliri A, Wieland EA, Cai S, Guenther FH, Chang SE. Auditory-motor adaptation is reduced in adults who stutter but not in children who stutter. Dev Sci. 2018;21:1-11. Evidências eletrofisiológicas têm reforçado a hipótese de que a gagueira está associada a um déficit na modulação do sistema auditivo cortical durante o planejamento da fala, o que contribuiu para um monitoramento ineficiente da retroalimentação auditiva e, consequentemente, resulta em disfluências.77 Daliri A, Max L. Modulation of auditory processing during speech movement planning is limited in adults who stutter. Brain Lang. 2015;143:59-68.

Com a finalidade de elucidar o importante papel da audição na continuidade do fluxo da fala, muitas pesquisas têm contribuído com implicações clínicas no diagnóstico e na terapia da gagueira. Entre essas implicações, encontram-se as modificações na retroalimentação auditiva, que têm sido usadas como recursos terapêuticos para a promoção da fluência de indivíduos que gaguejam.

Os gânglios da base e o cerebelo exercem uma função pertinente na produção do discurso sob as modificações da retroalimentação auditiva. De acordo com o modelo pré-motor duplo,88 Goldberg G. Supplementary motor area structure and function: review and hypotheses. Behav Brain Sci. 1985;8:567-588. existem dois sistemas envolvidos no planejamento e na execução dos movimentos da fala: o sistema lateral, formado pelo córtex pré-motor lateral e pelo cerebelo, responsável pela resposta motora a estímulos sensoriais externos; e o sistema medial, formado pelos núcleos da base e pela área motora suplementar, dominante na fala espontânea, sem modificações da retroalimentação auditiva. O modelo sugere que a área motora suplementar é responsável pela programação motora de cada segmento da fala e que os gânglios da base auxiliam nesse processo, e fornecem pistas temporais internas para facilitar o início dos movimentos.

Nessa perspectiva, a gagueira seria causada por um distúrbio no sistema medial, especialmente na região dos gânglios da base.99 Alm PA. Stuttering and the basal ganglia circuits: a critical review of possible relations. J Commun Disord. 2004;37:325-369. Essa teoria justifica o aumento da fluência sob as modificações da retroalimentação auditiva, uma vez que indivíduos que gaguejam compensam esse déficit com um mecanismo externo de temporização que é apoiado pelo cerebelo e córtex pré-motor.99 Alm PA. Stuttering and the basal ganglia circuits: a critical review of possible relations. J Commun Disord. 2004;37:325-369.

A retroalimentação auditiva refere-se aos sons da fala percebidos pelo sistema auditivo do próprio falante durante a emissão oral e é um componente que auxilia nos mecanismos de controle dos movimentos da fala.1010 Cai S, Beal DS, Ghosh SS, Tiede MK, Guenther FH, Perkell JS. Weak responses to auditory feedback perturbation during articulation in persons who stutter: evidence for abnormal auditory-motor transformation. PLoS One. 2012;7:1-13. Quando uma irregularidade súbita ocorre em um parâmetro acústico específico da retroalimentação auditiva, falantes fluentes conseguem corrigir o erro em sua produção oral instantaneamente, enquanto indivíduos com gagueira têm mostrado uma compensação mais fraca do que o normal ao experimentar essas ocorrências.1010 Cai S, Beal DS, Ghosh SS, Tiede MK, Guenther FH, Perkell JS. Weak responses to auditory feedback perturbation during articulation in persons who stutter: evidence for abnormal auditory-motor transformation. PLoS One. 2012;7:1-13. Essas constatações indicam que indivíduos que gaguejam não são capazes de comparar auditivamente os movimentos da fala desejados com os movimentos reais de maneira eficaz como os falantes fluentes.1111 Hudock D, Dayalu VN, Saltuklaroglu T, Stuart A, Zhang J, Kalinowski J. Stuttering inhibition via visual feedback at normal and fast speech rates. Int J Lang Commun Disord. 2011;46:169-178.

O atraso foi a condição de retroalimentação auditiva mais comumente indicado para indivíduos que gaguejam.1212 Curlee RF, Perkins WH. Effectiveness of a DAF conditioning program for adolescent and adult stutterers. Behav Res Ther. 1973;11:395-401.

13 Sparks G, Grant DE, Millay K, Walker-Batson D, Hynan LS. The effect of fast speech rate on stuttering frequency during delayed auditory feedback. J Fluency Disord. 2002;27:187-200.

14 Stuart A, Kalinowski J, Saltuklaroglu T, Guntupalli VK. Investigations of the impact of altered auditory feedback in-the-ear devices on the speech of people who stutter: one-year follow-up. Disabil Rehabil. 2006;28:757-765.

15 Antipova EA, Purdy SC, Blakeley M, Williams S. Effects of altered auditory feedback (AAF) on stuttering frequency during monologue speech production. J Fluency Disord. 2008;33:274-290.

16 O’Donnell JJ, Armson J, Kiefte M. The effectiveness of SpeechEasy during situations of daily living. J Fluency Disord. 2008;33:99-119.
-1717 Unger JP, Gluck CW, Cholewa J. Immediate effects of AAF devices on the characteristics of stuttering: a clinical analysis. J Fluency Disord. 2012;37:122-134. No entanto, existem outros tipos de modificações da retroalimentação auditiva, como o mascaramento e a amplificação, que foram pouco investigados nesta população.

As pesquisas feitas com a retroalimentação auditiva atrasada (RAA) em indivíduos com gagueira contrastam com relação às variáveis analisadas. A maioria observou o efeito da RAA na frequência de disfluências,1212 Curlee RF, Perkins WH. Effectiveness of a DAF conditioning program for adolescent and adult stutterers. Behav Res Ther. 1973;11:395-401.

13 Sparks G, Grant DE, Millay K, Walker-Batson D, Hynan LS. The effect of fast speech rate on stuttering frequency during delayed auditory feedback. J Fluency Disord. 2002;27:187-200.

14 Stuart A, Kalinowski J, Saltuklaroglu T, Guntupalli VK. Investigations of the impact of altered auditory feedback in-the-ear devices on the speech of people who stutter: one-year follow-up. Disabil Rehabil. 2006;28:757-765.

15 Antipova EA, Purdy SC, Blakeley M, Williams S. Effects of altered auditory feedback (AAF) on stuttering frequency during monologue speech production. J Fluency Disord. 2008;33:274-290.

16 O’Donnell JJ, Armson J, Kiefte M. The effectiveness of SpeechEasy during situations of daily living. J Fluency Disord. 2008;33:99-119.
-1717 Unger JP, Gluck CW, Cholewa J. Immediate effects of AAF devices on the characteristics of stuttering: a clinical analysis. J Fluency Disord. 2012;37:122-134. outras verificaram as modificações na velocidade 1212 Curlee RF, Perkins WH. Effectiveness of a DAF conditioning program for adolescent and adult stutterers. Behav Res Ther. 1973;11:395-401.,1818 Kalinowski J, Stuart A. Stuttering amelioration at various auditory feedback delays and speech rates. Eur J Disord Commun. 1996;31:259-269. ou na naturalidade da fala 1414 Stuart A, Kalinowski J, Saltuklaroglu T, Guntupalli VK. Investigations of the impact of altered auditory feedback in-the-ear devices on the speech of people who stutter: one-year follow-up. Disabil Rehabil. 2006;28:757-765.,1919 Armison J, Kiefte M. The effect of Speech Easy on Stuttering frequency, speech rate, and speech naturalness. J Fluency Disord. 2008;33:120-134. e poucas investigaram o impacto na gravidade da gagueira.1313 Sparks G, Grant DE, Millay K, Walker-Batson D, Hynan LS. The effect of fast speech rate on stuttering frequency during delayed auditory feedback. J Fluency Disord. 2002;27:187-200.,1515 Antipova EA, Purdy SC, Blakeley M, Williams S. Effects of altered auditory feedback (AAF) on stuttering frequency during monologue speech production. J Fluency Disord. 2008;33:274-290.

Nesse contexto, não há consenso sobre os resultados das investigações da retroalimentação auditiva atrasada em indivíduos com gagueira. Alguns estudos mostraram benefícios na fluência2020 Carrasco ER, Schiefer AM, Azevedo MF. Effect of the delayed auditory feedback in stuttering. Audiol Commun Res. 2015;20:116-122.

21 Ritto AP, Juste FS, Andrade CRF. Impacto do uso do SpeechEasy® nos parâmetros acústicos e motores da fala de indivíduos com gagueira. Audiol Commun Res. 2015;20:1-9.
-2222 Ritto AP, Juste FS, Stuart A, Kalinowiski J, Andrade CR. Randomized clinical trial: the use of SpeechEasy® in stuttering treatment. Int J Lang Commun Disord. 2016;51:769-774. e outros concluíram que há uma diversidade nos resultados encontrados nessa população.1717 Unger JP, Gluck CW, Cholewa J. Immediate effects of AAF devices on the characteristics of stuttering: a clinical analysis. J Fluency Disord. 2012;37:122-134.,2323 Andrade CRF, Juste FS. Systematic review of delayed auditory feedback effectiveness for stuttering reduction. J Soc Bras Fonoaudiol. 2011;23:187-191.

24 Foundas AL, Mock JR, Corey DM, Golob EJ, Conture EG. The SpeechEasy device in stuttering and nonstuttering adults: fluency effects while speaking and reading. Brain Lang. 2013;126:141-150.
-2525 Picoloto LA, Cardoso ACV, Cerqueira AV, Oliveira CMC. Effect of delayed auditory feedback on stuttering with and without central auditory processing disorders. CoDAS. 2017;29:1-7.

Os estudos com a retroalimentação auditiva mascarada em indivíduos gagos mostraram redução na principal manifestação do distúrbio, que são as disfluências típicas da gagueira.2626 Lincoln M, Packman A, Onslow M. Altered auditory feedback and the treatment of stuttering: a review. J Fluency Disord. 2006;31:71-89.

27 Hampton A, Weber-Fox C. Non-linguistic auditory processing in stuttering: evidence from behavior and event-related brain potentials. J Fluency Disord. 2008;33:253-273.
-2828 Ingham RJ, Bothe AK, Wang Y, Purkhiser K, New A. Phonation interval modification and speech performance quality during fluency ‒ inducing conditions by adults who stutter. J Commun Disord. 2012;45:198-211.

Diversos fatores podem interferir nos resultados, como o tipo de retroalimentação, a idade, a tipologia das disfluências, a gravidade da gagueira, entre outros. Os investigadores tendem a acreditar que o subgrupo de indivíduos com gagueira mais grave apresenta maiores benefícios em relação aos que manifestam menor grau de gravidade, tanto em relação à retroalimentação auditiva atrasada1717 Unger JP, Gluck CW, Cholewa J. Immediate effects of AAF devices on the characteristics of stuttering: a clinical analysis. J Fluency Disord. 2012;37:122-134.,2323 Andrade CRF, Juste FS. Systematic review of delayed auditory feedback effectiveness for stuttering reduction. J Soc Bras Fonoaudiol. 2011;23:187-191.,2424 Foundas AL, Mock JR, Corey DM, Golob EJ, Conture EG. The SpeechEasy device in stuttering and nonstuttering adults: fluency effects while speaking and reading. Brain Lang. 2013;126:141-150. como na mascarada.2929 Altrows IF, Bryden MP. Temporal factors in the effects of masking noise on fluency of stutterers. J Commun Disord. 1977;10:315-329.

Os efeitos da amplificação foram estudados em outras populações e os pesquisadores encontraram redução imediata da intensidade vocal, emissão mais fácil e estável, qualidade vocal menos tensa e tempo máximo de fonação mais longo.3030 Behlau M. Aperfeic¸oamento vocal e tratamento fonoaudiológico das disfonias. In: Behlau M, editor. Voz: o livro do especialista. Rio de Janeiro: Revinter; 2005. p. 409-564.,3131 Coutinho SB, Diaféria G, Oliveira G, Behlau M. Voice and speech of individuals with Parkinson´s disease during amplification, delay and masking situations. Pró-Fono R Atual Cient. 2009;21:219-224. Nesse sentido, pressupõe-se que a amplificação também possa auxiliar na fluência de falantes com gagueira.

Na literatura científica compilada, não foram encontradas evidências científicas de quais subgrupos de indivíduos com gagueira obtiveram maior benefício com esses recursos. Como desdobramento, este estudo pretende aumentar a compreensão dos critérios de indicação para o uso das diferentes condições de retroalimentação auditiva na gagueira.

Assim, o objetivo deste estudo foi verificar o impacto das modificações da retroalimentação auditiva na fala espontânea de indivíduos com gagueira.

Método

A pesquisa foi conduzida de acordo com o Conselho Nacional de Saúde (Resolução n° 466/12) e iniciada somente após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Filosofia e Ciências - Unesp/Marília (Parecer n° 0714/2013). Todos os indivíduos tiveram sua participação autorizada mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e do Termo de Assentimento.

Realizou-se um estudo clínico transversal observacional com 16 falantes nativos do português brasileiro, de ambos os sexos, na faixa etária de 8 a 17 anos e 11 meses, com diagnóstico fonoaudiológico de gagueira neurodesenvolvimental persistente. Para composição da amostra, os indivíduos foram recrutados em uma clínica-escola por meio de um serviço especializado em avaliação, diagnóstico e terapia da fluência e seus distúrbios e divididos em dois grupos: Grupo de Gagueira Moderada (GGM), constituído por oito indivíduos com gagueira moderada, dois do sexo feminino e seis do masculino; e Grupo de Gagueira Grave (GGG), constituído por oito indivíduos com gagueira grave, três do sexo feminino e cinco do masculino. A média de idade para ambos os grupos foi de 11 anos e a gravidade do distúrbio foi classificada de acordo com o Stuttering Severity Instrument - SSI-3.3232 Riley GD. Stuttering Severity Instrument for young children (SSI-3). 3 ed. Austin, TX: Pro-Ed; 1994.

Para participação nesta pesquisa, foram estabelecidos os seguintes critérios de inclusão: o início da gagueira deve ter ocorrido na infância (neurodesenvolvimental); duração de, pelo menos, 36 meses das disfluências típicas da gagueira, sem remissão (persistente); mínimo de 3% de disfluências típicas da gagueira;3333 Yairi E, Ambrose N. Onset of stuttering in preschool children: select factors. J Speech Hear Res. 1992;35:782-788. limiares audiométricos dentro dos padrões de normalidade (com limiares até 25 dBNA nas frequências sonoras de 250 Hz - 8 kHz); curva timpanométrica do tipo A (mobilidade normal do sistema tímpano-ossicular); reflexos acústicos estapedianos contralaterais presentes (nas frequências sonoras de 500 Hz - 4 kHz); histórico negativo de alterações condutivas e/ou neurológicas;3434 Prestes R, Andrade AN, Santos RB, Marangoni AT, Schiefer AM, Gil D. Temporal processing and long-latency auditory evoked potential in stutterers. Braz J Otorhinolaryngol. 2017;83:142-146. e não frequentar terapia fonoaudiológica.

Para classificar a gravidade da gagueira em moderada ou grave, foi utilizado o Stuttering Severity Instrument - SSI-33232 Riley GD. Stuttering Severity Instrument for young children (SSI-3). 3 ed. Austin, TX: Pro-Ed; 1994. na amostra de fala habitual. Esse teste avaliou a frequência e a duração das disfluências típicas da gagueira, assim como a presença de concomitantes físicos associados às disfluências.

Os procedimentos da pesquisa constaram de três etapas: (1) Coleta dos dados de identificação; (2) Avaliação audiológica básica; (3) Classificação da gravidade da gagueira na condição de retroalimentação habitual e avaliação da fluência da fala espontânea em quatro condições de retroalimentação auditiva (habitual, atrasada, mascarada e amplificada).

Na primeira etapa, foi utilizada a história clínica específica, na qual os pais/responsáveis dos indivíduos foram perguntados oralmente sobre os dados de identificação; histórico de saúde, de problemas de fala/linguagem e familial; queixa e história pregressa da queixa; e perguntas inerentes sobre o início do surgimento do distúrbio, assim como questões relacionadas à audição.

A segunda etapa consistiu na avaliação audiológica básica, composta pela audiometria tonal limiar (250 Hz - 8 kHz), logoaudiometria (pesquisa do Limiar de Reconhecimento de Fala - LRF) e imitanciometria (timpanometria e pesquisa de reflexos acústicos), a qual foi feita com o intuito de descartar quaisquer alterações auditivas. A audiometria foi feita em cabine acústica, com fones TDH-50 e audiômetro Grason Standler GSI-61, calibrado de acordo com as normas ANSI-69. Foram considerados limiares dentro dos padrões de normalidade aqueles que se encontraram numa intensidade igual ou inferior a 25 dB em todas as frequências sonoras testadas (250 Hz - 8 kHz).

O LRF foi pesquisado através de uma lista de palavras dissílabas e deveria estar compatível com os resultados da audiometria (0 a 10 dB acima da média tritonal). Para a imitanciometria, foi usado o imitanciômetro Grason Standler GSI-33, com sonda de 226 Hz. A timpanometria foi considerada dentro dos padrões de normalidade quando se obteve curva timpanométrica do tipo A, indicou mobilidade normal do sistema tímpano-ossicular. Posteriormente, pesquisou-se o reflexo acústico, o modo ipsilateral e contralateral, no qual a normalidade foi a presença dos reflexos contralaterais (nas frequências sonoras de 500 Hz - 4 kHz).3535 Perrucini DS, Cardoso ACV, Moura RBO, Lorena MCM, Buzzeti PBMM, Oliveira CMC. Effect of delayed auditory feedback on clutter’s speech and reading. Audiol Commun Res. 2017;22:1-8.

Na terceira etapa, fez-se a avaliação da fluência, na qual foram coletadas amostras de fala espontânea de cada um dos indivíduos em quatro condições de retroalimentação: habitual, atrasada, mascarada e amplificada. A sequência da gravação das amostras de fala foi feita da mesma forma para todos os participantes, foi disponibilizado um intervalo de silêncio de dois minutos entre cada amostra de fala coletada. Além disso, as gravações foram feitas com o indivíduo sentado, em ambiente silencioso, com o microfone e com os fones de ouvido ajustados e ligados a um computador, com o software Fono Tools (versão 1.5 h, CTS Informática). Inicialmente, a amostra de fala foi registrada de forma habitual e, subsequentemente, processada por meio do software, que fez a modificação da retroalimentação auditiva em três condições de escuta: atrasada, mascarada e amplificada.

Destaca-se, ainda, que a amostra de fala obtida na retroalimentação habitual foi considerada como condição controle; as demais foram consideradas como condições de escuta modificadas (retroalimentação atrasada, mascarada e amplificada).

Na retroalimentação auditiva atrasada, o estímulo de fala gravado era devolvido ao ouvido do indivíduo com um atraso de 100 milissegundos por meio de fones supra-aurais. Ao usar esse recurso, o falante ouvia a própria voz como efeito de coro.2323 Andrade CRF, Juste FS. Systematic review of delayed auditory feedback effectiveness for stuttering reduction. J Soc Bras Fonoaudiol. 2011;23:187-191. Com relação à retroalimentação auditiva mascarada, aplicou-se um ruído do tipo White Noise (ruído branco). A intensidade empregada na retroalimentação auditiva mascarada e na amplificada variou de 65 dB a 90 dB, foi adotada a intensidade referida pelo indivíduo como de máximo conforto.

Após a coleta das amostras de fala nas quatro condições de retroalimentação auditiva, as mesmas foram transcritas na íntegra, consideraram-se de 200 sílabas fluentes para cada amostra,3636 Ambrose NG, Yairi E. Normative disfluency data for early childhood stuttering. J Speech Lang Hear Res. 1999;42:895-909. e os eventos de disfluências foram registrados e codificados no texto. Efetuaram-se também a análise e a caracterização da tipologia das disfluências, de acordo com a seguinte descrição: Disfluências Típicas da Gagueira (DTG): bloqueio, prolongamento, pausa, intrusão, repetição de som, repetição de sílaba e repetição palavra - acima de três; Outras Disfluências (OD): interjeição, hesitação, revisão, palavra incompleta, repetição de frase e repetição de palavra - até duas.3333 Yairi E, Ambrose N. Onset of stuttering in preschool children: select factors. J Speech Hear Res. 1992;35:782-788.,3737 Pinto JCBR, Schiefer AM, Avila CRB. Disfluências e velocidade de fala em produção espontânea e em leitura oral em indivíduos gagos e não gagos. Audiol Commun Res. 2013;18:63-70.

A velocidade de fala foi calculada por meio dos fluxos de Sílabas Por Minuto (SPM) e de Palavras Por Minuto (PPM). A duração de cada amostra de fala foi cronometrada e para esse cálculo não foi descontado o tempo de silêncio (pausas e hesitações não preenchidas) nem o tempo gasto na produção das disfluências, metodologia proposta pelo Protocolo para Avaliação da Fluência.3838 Andrade CRF. Fluência. In: ANDRADE CRF, et al., editors. ABFW: teste de linguagem infantil nas áreas de fonologia, vocabulário, fluência e pragmática. Carapicuíba: Pró-Fono; 2011.p. 61-75. A fala do avaliador foi retirada da amostra e, posteriormente, fez-se a medida do Tempo Total de Elocução do enunciado (TTEe),3939 Costa LMO, Martins-Reis VO, Celeste LC. Methods of analysis speech rate: a pilot study. CoDAS. 2016;28:41-45. referente à produção das 200 sílabas fluentes.

Na análise estatística, buscou-se verificar se houve diferenças intragrupos com o Teste dos Postos Sinalizados Wilcoxon; para verificar as diferenças intergrupos, aplicou-se o Teste de Mann-Whitney. Para todas as conclusões obtidas por meio das análises inferenciais, adotou-se o nível de significância igual ou menor a 5% (p < 0,05). Os resultados que apresentaram diferença estatística foram destacados com o símbolo asterisco (*).

Resultados

Participaram da pesquisa 16 indivíduos de ambos os sexos, na faixa de 8 a 17 anos e 11 meses, distribuídos em dois grupos: GGM (Grupo de Gagueira Moderada), constituído por oito indivíduos com gagueira moderada, dois do sexo feminino e seis do masculino; e GGG (Grupo de Gagueira Grave), constituído por oito indivíduos com gagueira grave, três do sexo feminino e cinco do masculino. A média de idade para ambos os grupos foi de 11 anos.

Na análise das disfluências típicas da gagueira, referente aos resultados intragrupo do GGM, observou-se redução estatisticamente significante nas amostras de fala obtidas nas condições de Retroalimentação Auditiva Mascarada (RAM) e Amplificada (RAAm) em relação à habitual (RAH). Nos resultados intragrupo do GGG, verificou-se redução estatisticamente significante em todas as condições de retroalimentação auditiva (RAA, RAM e RAAm) quando comparadas com a habitual (RAH). A comparação intergrupos evidenciou que o GGG manifestou maior quantidade de disfluências típicas da gagueira em relação ao GGM nas condições de RAH e RAM, com diferença estatisticamente significante (fig. 1).

Figura 1
Análise intra e intergrupos da porcentagem de disfluências típicas da gagueira nas diferentes condições de retroalimentação auditiva. %DTG, porcentagem de Disfluências Típicas da Gagueira; RAH, Retroalimentação Auditiva Habitual; RAA, Retroalimentação Auditiva Atrasada; RAM, Retroalimentação Auditiva Mascarada; RAAm, Retroalimentação Auditiva Amplificada. *Valores estatisticamente significantes.

Na análise das outras disfluências, intra e intergrupos, não foram identificadas diferenças significantes em nenhuma das condições de retroalimentação auditiva. No total das disfluências, ocorreu redução significante para o GGG nas condições de RAM e RAAm em relação à RAH. Na análise intragrupo do GGM e na comparação intergrupos, não houve diferença significante em qualquer das condições de retroalimentação auditiva (tabela 1).

Tabela 1
Análise intragrupos e intergrupos em relação à porcentagem das outras disfluências e total de disfluências na fala espontânea nas diferentes condições de escuta

Para a velocidade de fala, houve redução estatisticamente significante dos fluxos de sílabas e de palavras por minuto para o grupo de GGM na amostra de fala obtida na RAA em relação à RAH; e para o GGG, não houve diferença significante em qualquer das condições de retroalimentação auditiva (tabela 2).

Tabela 2
Análise intragrupo e intergrupos em relação ao fluxo de sílabas por minuto e palavras por minuto na fala espontânea nas diferentes condições de escuta

Discussão

O conhecimento sobre as corretas indicações no uso das modificações da retroalimentação auditiva na gagueira é imprescindível para que possamos recomendar essa terapia quando for realmente benéfica ao indivíduo. A literatura evidenciou efeitos contraditórios dessas modificações, assim como escassez de estudos com o mascaramento e com a amplificação em indivíduos que gaguejam. Por isso são necessários novos estudos com delineamentos metodológicos mais criteriosos.

Um fator importante que influencia os resultados das modificações da retroalimentação auditiva em indivíduos com gagueira é a condição usada. A mais frequente foi o atraso. Outro fator relevante é a gravidade do distúrbio. Apesar de poucos pesquisadores apresentarem a classificação da gravidade da gagueira e analisarem o impacto das modificações da retroalimentação auditiva em grupos homogêneos quanto à gravidade, os resultados mostraram que os benefícios foram maiores nos indivíduos com gagueira mais grave, tanto na RAA1717 Unger JP, Gluck CW, Cholewa J. Immediate effects of AAF devices on the characteristics of stuttering: a clinical analysis. J Fluency Disord. 2012;37:122-134.,2323 Andrade CRF, Juste FS. Systematic review of delayed auditory feedback effectiveness for stuttering reduction. J Soc Bras Fonoaudiol. 2011;23:187-191.,2424 Foundas AL, Mock JR, Corey DM, Golob EJ, Conture EG. The SpeechEasy device in stuttering and nonstuttering adults: fluency effects while speaking and reading. Brain Lang. 2013;126:141-150. como na RAM.2929 Altrows IF, Bryden MP. Temporal factors in the effects of masking noise on fluency of stutterers. J Commun Disord. 1977;10:315-329.

Nesta pesquisa, objetivou-se verificar o impacto do atraso, do mascaramento e da amplificação da retroalimentação auditiva na fala espontânea de indivíduos com gagueira, em dois grupos distintos quanto à gravidade do distúrbio, um Grupo com Gagueira Moderada (GGM) e outro com Gagueira Grave (GGG).

Independentemente de alguns investigadores indicarem redução da gagueira com o atraso na Retroalimentação Auditiva (RAA),2020 Carrasco ER, Schiefer AM, Azevedo MF. Effect of the delayed auditory feedback in stuttering. Audiol Commun Res. 2015;20:116-122.

21 Ritto AP, Juste FS, Andrade CRF. Impacto do uso do SpeechEasy® nos parâmetros acústicos e motores da fala de indivíduos com gagueira. Audiol Commun Res. 2015;20:1-9.
-2222 Ritto AP, Juste FS, Stuart A, Kalinowiski J, Andrade CR. Randomized clinical trial: the use of SpeechEasy® in stuttering treatment. Int J Lang Commun Disord. 2016;51:769-774. os resultados do presente estudo mostraram que o impacto foi positivo apenas para os indivíduos com gagueira grave. Dessa maneira, a indicação da RAA deve ser feita a partir de um refinamento fenótipo mais criterioso para evitar o uso indiscriminado desse recurso em todos os indivíduos que gaguejam.

Além da gravidade do distúrbio, a tipologia das disfluências pode ser outro critério a ser usado na indicação da RAA. Um estudo recente feito com indivíduos que apresentavam diferentes gravidades da gagueira evidenciou que o atraso na retroalimentação auditiva ocasionou redução da frequência de repetições de palavras e da velocidade articulatória, sem prejudicar o fluxo de informação.4040 Buzzeti PBMM, Oliveira CMC. Immediate effect of delayed auditory feedback on stuttering-like disfluencies. Rev CEFAC. 2018;20:281-290.

A RAA ocasionou redução das disfluências típicas da gagueira no GGG, principal manifestação do distúrbio,2020 Carrasco ER, Schiefer AM, Azevedo MF. Effect of the delayed auditory feedback in stuttering. Audiol Commun Res. 2015;20:116-122.

21 Ritto AP, Juste FS, Andrade CRF. Impacto do uso do SpeechEasy® nos parâmetros acústicos e motores da fala de indivíduos com gagueira. Audiol Commun Res. 2015;20:1-9.
-2222 Ritto AP, Juste FS, Stuart A, Kalinowiski J, Andrade CR. Randomized clinical trial: the use of SpeechEasy® in stuttering treatment. Int J Lang Commun Disord. 2016;51:769-774. e, consequentemente, redução do total das disfluências, e promoção da fluência da fala. Esse achado corroborou investigações prévias que descreveram o efeito da RAA como benéfico para indivíduos com gagueira grave em relação gagueira menos grave.1717 Unger JP, Gluck CW, Cholewa J. Immediate effects of AAF devices on the characteristics of stuttering: a clinical analysis. J Fluency Disord. 2012;37:122-134.,2323 Andrade CRF, Juste FS. Systematic review of delayed auditory feedback effectiveness for stuttering reduction. J Soc Bras Fonoaudiol. 2011;23:187-191.,2424 Foundas AL, Mock JR, Corey DM, Golob EJ, Conture EG. The SpeechEasy device in stuttering and nonstuttering adults: fluency effects while speaking and reading. Brain Lang. 2013;126:141-150. Os indivíduos com gagueira moderada responderam à RAA de forma distinta dos indivíduos com gagueira grave, visto que houve redução da velocidade de fala (fluxos de sílabas e de palavras por minuto) e não houve alteração na quantidade das disfluências (disfluências típicas da gagueira, outras disfluências e total das disfluências).

O aumento na promoção da fluência na fala dos indivíduos com gagueira grave não foi ocasionado pela diminuição da velocidade de fala, e discordou de um estudo feito anteriormente.1212 Curlee RF, Perkins WH. Effectiveness of a DAF conditioning program for adolescent and adult stutterers. Behav Res Ther. 1973;11:395-401. Os resultados encontrados nesse estudo corroboraram pesquisas que evidenciaram que a diminuição das disfluências não está associada com a redução da velocidade de fala.1313 Sparks G, Grant DE, Millay K, Walker-Batson D, Hynan LS. The effect of fast speech rate on stuttering frequency during delayed auditory feedback. J Fluency Disord. 2002;27:187-200.,1616 O’Donnell JJ, Armson J, Kiefte M. The effectiveness of SpeechEasy during situations of daily living. J Fluency Disord. 2008;33:99-119.

17 Unger JP, Gluck CW, Cholewa J. Immediate effects of AAF devices on the characteristics of stuttering: a clinical analysis. J Fluency Disord. 2012;37:122-134.
-1818 Kalinowski J, Stuart A. Stuttering amelioration at various auditory feedback delays and speech rates. Eur J Disord Commun. 1996;31:259-269.,2525 Picoloto LA, Cardoso ACV, Cerqueira AV, Oliveira CMC. Effect of delayed auditory feedback on stuttering with and without central auditory processing disorders. CoDAS. 2017;29:1-7.,2626 Lincoln M, Packman A, Onslow M. Altered auditory feedback and the treatment of stuttering: a review. J Fluency Disord. 2006;31:71-89.,2929 Altrows IF, Bryden MP. Temporal factors in the effects of masking noise on fluency of stutterers. J Commun Disord. 1977;10:315-329.,4141 Furini J, Picoloto LA, Marconato E, Bohnen AJ, Cardoso ACV, Oliveira CMC. The role of auditory temporal cues in the fluency of stuttering adults. Rev CEFAC. 2017;19:611-619. Ressalta-se, ainda, que a redução da velocidade de fala não desejável para indivíduos com gagueira, uma vez que essa característica se manifesta em virtude da quantidade excessiva de disfluências4242 Arcuri CF, Osborn E, Schiefer AM, Chiari BM. Speech rate according to stuttering severity. Pró-Fono R Atual Cient. 2009;21:45-50.

43 Chon H, Sawyer J, Ambrose NG. Differences of articulation rate and utterance length in fluent and disfluent utterances of preschool children who stutter. J Commun Disord. 2012;45:455-467.

44 Juste FS, Sassi FC, Andrade CR. Exchange of disfluency with age from function to content words in Brazilian Portuguese speakers who do and do not stutter. Clin Linguist Phon. 2012;26:946-961.
-4545 Erdemir A, Walden TA, Jefferson CM, Choi D, Jones RM. The effect of emotion on articulation rate in persistence and recovery of childhood stuttering. J Fluency Disord. 2018;56:1-17. e/ou lentificação articulatória.4646 Celeste LC, Martins-Reis VO. The impact of a dysfluency environment on the temporal organization of consoants in stuttering. Audiol Commun Res. 2015;20:10-17.

Os resultados referentes ao mascaramento (RAM) e à amplificação (RAAm) foram positivos nos indivíduos com gagueira, independentemente da gravidade do distúrbio. A notável redução das DTGs (45,31%) no GGG, obtida com o mascaramento, contribuiu para uma diminuição significante do Total das Disfluências (TD) nessa condição de escuta. No entanto, o GGM diminuiu 22,76% das DTGs e provavelmente não foi suficiente para reduzir de forma significativa o total das disfluências. Esse achado foi coerente com um estudo feito por Altrows e Bryden.2424 Foundas AL, Mock JR, Corey DM, Golob EJ, Conture EG. The SpeechEasy device in stuttering and nonstuttering adults: fluency effects while speaking and reading. Brain Lang. 2013;126:141-150. Os autores relataram que, ao usar o mascaramento, os gagos mais graves tenderam a apresentar maior eficácia no aumento da fluência do que os gagos que apresentaram outra gravidade.

Os achados desta pesquisa reforçam que o aumento da fluência de indivíduos com gagueira sob o uso do mascaramento não está relacionado somente à redução da velocidade de fala, mas também em consequência da entrada auditiva modificada.2626 Lincoln M, Packman A, Onslow M. Altered auditory feedback and the treatment of stuttering: a review. J Fluency Disord. 2006;31:71-89.,2727 Hampton A, Weber-Fox C. Non-linguistic auditory processing in stuttering: evidence from behavior and event-related brain potentials. J Fluency Disord. 2008;33:253-273.,2929 Altrows IF, Bryden MP. Temporal factors in the effects of masking noise on fluency of stutterers. J Commun Disord. 1977;10:315-329. Pressupõe-se, assim, que o processamento da entrada auditiva pode ser diferente em indivíduos que gaguejam quando comparados com indivíduos fluentes.4747 Kikuchi Y, Ogata K, Umesaki T, Yoshiura T, Kenjo M, Hirano Y, et al. Spatiotemporal signatures of an abnormal auditory system in stuttering. Neuroimage. 2011;55:891-899.

Na literatura compilada, não foram encontrados estudos que usassem a retroalimentação auditiva amplificada em indivíduos com gagueira. Nesse sentido, não foi possível fazer comparações entre os dados obtidos com os de outros estudos, considerando a originalidade desta pesquisa.

A análise intergrupos (Gagueira Moderada e Gagueira Grave) mostrou que durante a retroalimentação auditiva amplificada (RAAm) os grupos não se diferenciaram na fala espontânea, tanto na frequência das disfluências quanto na velocidade de fala. Na análise intragrupos, houve diminuição das DTGs nos dois grupos, porém os valores numéricos mostraram que essa redução foi maior no GGG (67,32%) do que no GGM (27,46%).

A comparação entre o Grupo com Gagueira Moderada (GGM) e o Grupo com Gagueira Grave (GGG) sob o efeito da RAM mostrou que a única diferença significante foi para as DTGs. Esse fato pode ser justificado, tendo em vista que essas disfluências são as principais manifestações do distúrbio, e o grupo grave continuou a apresentar maior quantidade do que o grupo moderado, pois a redução dessas disfluências ocorreu em ambos os grupos.

Sabe-se que a amplificação produz redução imediata da intensidade vocal, emissão mais fácil e estável, qualidade vocal menos tensa e tempo máximo de fonação mais longo.3030 Behlau M. Aperfeic¸oamento vocal e tratamento fonoaudiológico das disfonias. In: Behlau M, editor. Voz: o livro do especialista. Rio de Janeiro: Revinter; 2005. p. 409-564.,3131 Coutinho SB, Diaféria G, Oliveira G, Behlau M. Voice and speech of individuals with Parkinson´s disease during amplification, delay and masking situations. Pró-Fono R Atual Cient. 2009;21:219-224. Possivelmente, esses fatores tenham contribuído para a promoção da fluência de indivíduos com gagueira, presume-se que houve redução da tensão muscular e aumento no tempo máximo de fonação.

Ainda que os achados sejam relevantes, uma das limitações deste estudo refere-se ao nível de intensidade usado na retroalimentação auditiva mascarada e na amplificada, visto que esse nível variou de 65 dB a 90 dB e foi determinado de acordo com máximo conforto relatado pelo indivíduo. Outra limitação diz respeito ao fato de não ter sido feita a avaliação do processamento auditivo central, tendo em vista a alta prevalência do transtorno desse processamento em indivíduos que gaguejam; 3434 Prestes R, Andrade AN, Santos RB, Marangoni AT, Schiefer AM, Gil D. Temporal processing and long-latency auditory evoked potential in stutterers. Braz J Otorhinolaryngol. 2017;83:142-146.,4848 Andrade AN, Gil D, Schiefer AM, Pereira LD. Behavioral auditory processing evaluation in individuals with stuttering. Pró-Fono R Atual Cient. 2008;20:43-48.

49 Silva R, Oliveira CMC, Cardoso ACV. Application of temporal pattern tests in children with persistent developmental stuttering. Rev CEFAC. 2011;13:902-908.
-5050 Arcuri CF, Schiefer AM, Azevedo MF. Research about suppression effect and auditory processing in individuals who stutter. CoDAS. 2017;29:1-5. por esse motivo, recomenda-se a inclusão dessa avaliação em estudos futuros.

Apesar dessas limitações, esta pesquisa forneceu uma nova informação para relacionar os recursos terapêuticos aos indivíduos com gagueira moderada e grave, indicou que a identificação do subgrupo de gagueira quanto à gravidade do distúrbio foi pertinente, uma vez que as estratégias terapêuticas devem variar entre as gravidades do distúrbio.

Os resultados propõem que, para indivíduos com gagueira grave, o fonoaudiólogo faça uso dos recursos de atraso, mascaramento e amplificação da retroalimentação auditiva para auxiliar na terapia; consonantemente, o próprio indivíduo que gagueja também deve ser estimulado, caso se sinta confortável, a empregar esses recursos em situações comunicativas em que necessita de maior fluência na fala. Para os casos de gagueira moderada, no entanto, recomenda-se o mascaramento e a amplificação. O uso desses recursos não substitui a terapia fonoaudiológica tradicional de promoção da fluência, mas é uma ferramenta que auxiliará nos resultados terapêuticos.

O estudo desenvolvido é inovador, pois demonstra que os recursos aplicados na terapia fonoaudiológica devem ser diferenciados para indivíduos com gagueira moderada e com gagueira grave.

Conclusão

O efeito da retroalimentação auditiva atrasada foi favorável para o Grupo de Gagueira Grave (GGG), pois promoveu a fluência da fala. As condições de Retroalimentação Auditiva mascarada (RAM) e Amplificada (RAAm) ocasionaram benefícios na fala espontânea de ambos os grupos (GGM e GGG), pois diminuiram a quantidade de disfluências típicas da gagueira. A velocidade de fala não foi prejudicada por nenhuma condição de escuta analisada.

  • Como citar este artigo: Fiorin M, Marconato E, Palharini TA, Picoloto LA, Frizzo AC, Cardoso AC, et al. Impact of auditory feedback alterations in individuals with stuttering. Braz J Otorhinolaryngol. 2021;87:247-54.
  • ☆☆
    Trabalho realizado no Laboratório de Estudos da Fluência (Laef), Departamento de Fonoaudiologia, Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), Marília, SP, Brasil.
  • A revisão por pares é da responsabilidade da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial.

Agradecimentos

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) pelo apoio a esta pesquisa.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Jul 2021
  • Data do Fascículo
    May-Jun 2021

Histórico

  • Recebido
    7 Maio 2019
  • Aceito
    16 Ago 2019
  • Publicado
    3 Out 2019
Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial. Sede da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial, Av. Indianópolia, 1287, 04063-002 São Paulo/SP Brasil, Tel.: (0xx11) 5053-7500, Fax: (0xx11) 5053-7512 - São Paulo - SP - Brazil
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