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A TRADUÇÃO DE HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NO CURSO DE LETRAS-INGLÊS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

COMICS TRANSLATION IN THE ENGLISH TEACHER EDUCATION PROGRAM AT THE STATE UNIVERSITY OF LONDRINA

Resumo

O curso de Licenciatura em Letras-Inglês da Universidade Estadual de Londrina tem como enfoque a formação de professores de língua inglesa. Por isso, não oferta em sua grade regular de aulas disciplinas voltadas à tradução; mesmo assim, é grande o interesse de parte dos alunos pelo tema. Nesse sentido, em 2019 foi ofertada uma oficina de tradução de Histórias em Quadrinhos para esses alunos, com carga horária de 30h. Além de trazer aspectos teórico-práticos sobre quadrinhos (Ramos, 2007; Liberatti, 2017) e tradução (Nord, 1991; Liberatti, 2017), o objetivo deste artigo é discorrer sobre a experiência da oficina, que auxiliou no desenvolvimento da conscientização dos alunos quanto a aspectos ligados à tradução deste hipergênero discursivo (Ramos, 2007).

Palavras-chave
Tradução; Histórias em Quadrinhos; Letras-Inglês

Abstract

The English as a Foreign Language Teacher Education Program from Universidade Estadual de Londrina focuses on the education of English teachers. Therefore, the undergraduate course does not offer, in its regular curriculum, courses on translator education; even so, some students show great interest in the topic. In this direction, a workshop on comics translation was offered in 2019, with a workload of 30 hours. Other than bringing theoretical and practical aspects on comics (Ramos, 2007; Liberatti, 2017) and translation (Nord, 1991; Liberatti, 2017), the objective of this article is to discuss the workshop, which assisted students in developing awareness on aspects of the translation of this discursive hypergenre (Ramos, 2007).

Keywords
Translation; Comics; English as a Foreign Language Teacher Education Program

Introdução

Com duração de quatro anos, o curso de Licenciatura em Letras-Inglês da Universidade Estadual de Londrina (UEL) tem como objetivo a formação de professores de língua inglesa e respectivas literaturas. Nesse sentido, além de aprimorar seus conhecimentos de língua inglesa (doravante, LI), os alunos estudam literaturas de LI, desenvolvem visão crítica sobre a língua e trabalham com conhecimentos pedagógicos necessários para atuar profissionalmente como professores de LI (UEL, s.d.Universidade Estadual de Londrina – UEL. Colegiado de Letras Estrangeiras Modernas. [s.d.]. Disponível em: http://www.uel.br/col/lem/portal/pages/letras-ingles.php. Acesso em: 23 jan. 2022.
http://www.uel.br/col/lem/portal/pages/l...
).

Apesar de não ser um dos enfoques do curso, a tradução é uma área de interesse de considerável parte de seus alunos, interesse esse frequentemente demonstrado por meio de dúvidas e curiosidades em relação à área de atuação do tradutor profissional. Nesse sentido, em 2006 foi criado o programa de formação acadêmica complementar Prática de Tradução e Interpretação em Língua Inglesa, atualmente sob coordenação da professora Dra. Fernanda Machado Brener. O programa

Visa a proporcionar os passos iniciais para a aquisição da competência e prática em tradução e interpretação em nível básico da língua inglesa para alunos do curso de letras - habilitação [sic] angloportuguesas. O programa prevê a oferta de oficinas para os alunos-participantes do projeto para a interpretação e tradução da língua inglesa. As oficinas compreenderão aulas teóricas, leituras e discussões sobre a profissão e formação do intérprete e do tradutor, e aulas práticas com atividades de aquisição de vocabulário e estruturas gramaticais, compreensão de textos falados e escritos, atividades de memorização, tomadas de notas, transcrição e interpretação, tradução de textos orais e escritos. Eventos de extensão com palestras e a prestação de serviços para a comunidade de autores de artigos no âmbito do centro de letras e ciências humanas da UEL também fazem parte do componente prático deste programa

(UEL, 2019Universidade Estadual de Londrina – UEL. Caderno Informativo 2019. 2019. Disponível em: http://www.uel.br/col/lem/portal/pages/arquivos/CADERNO-DE-PROJETOS_2019.pdf. Acesso em: 23 jan. 2022.
http://www.uel.br/col/lem/portal/pages/a...
, p. 26-27).

É dentro do contexto supramencionado que a oficina de tradução de histórias em quadrinhos (doravante, HQs) foi ofertada pela professora Dra. Elisângela L. Liberatti, a convite da professora Dra. Fernanda Brener. A oficina ocorreu no período de 11/09/2019 a 18/12/2019, totalizando carga horária de 30 horas.

Para a oficina em questão, foram disponibilizadas 15 vagas para os alunos da graduação em Letras-inglês, que foram prontamente preenchidas, gerando lista de espera. Os encontros presenciais ocorreram quinzenalmente, às quartas-feiras, em horário intermediário, isto é, após o término das aulas do período vespertino e antes do início das aulas do período noturno. Além disso, nas semanas que não havia encontros presenciais, aconteciam encontros a distância, nas quais os alunos produziam as atividades deixadas pela professora.

A oficina contou com a produção de um e-book1 1 Disponível em: https://read.bookcreator.com/kedc4Ng9w5YoKtX5VoTag7F0mwH2/4s4DNGNTRNiiF0rjwVr4cQ. , utilizando-se o aplicativo book creator e tendo como fonte a tese de doutorado da professora em questão (Liberatti, 2017Liberatti, Elisângela Lorena. Traduzindo Histórias em Quadrinhos: proposta de Unidades Didáticas com enfoque funcionalista e com base em tarefas de tradução. 2017. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017. https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/181611
https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle...
). Dessa maneira, foram selecionadas algumas tarefas relevantes aos objetivos da oficina, mantendo-se as abordagens teórico-metodológicas empregadas na proposta original: o enfoque por tarefas de tradução (Hurtado Albir, 1993Hurtado Albir, Amparo. “Un nuevo enfoque de la didáctica de la traducción: Metodologia y diseño curricular”. In: Gamarra, Roser Gauchola; Mestreit, Claude & Planet, Manuel Tost (Eds.). Les langues étrangères dans l’Europe de l’Acte Unique. Barcelona: ICE de la Universitat Autònoma de Barcelona, 1993. p. 239-252., 1995Hurtado Albir, Amparo. “La didáctica de la traducción: evolución y estado actual”. In: Nistal, Purificación Fernández & Gozalo, José Maria Bravo (Eds.). Perspectivas de la traducción. Valladolid: Universidad de Valladolid, 1995. p. 49-74., 1996Hurtado Albir, Amparo. “La enseñanza de la traducción directa ‘general’: Objetivos de aprendizaje y metodología”. In: Hurtado Albir, Amparo (Ed.). La enseñanza de la traducción. Col. Estudis sobre la traducció 3. Castellón: Universitat Jaume I, 1996. p. 31-56., 2007Hurtado Albir, Amparo. Enseñar a Traducir: Metodologías en la formación de traductores e intérpretes. Teoría y fichas prácticas. 2. reimpr. Madri: Edelsa, 2007.) e o funcionalismo alemão (Nord, 1991Nord, Christiane. Text Analysis in Translation: Theory, Methodology, and Didactic Application of a Model of Translation-Oriented Text Analysis. Tradução de Christiane Nord e Penelope Sparrow. Amsterdã & Atlanta: Rodopi, 1991.).

Isso posto, neste artigo discorro sobre a experiência da oferta da oficina de tradução de HQs em 2019, não antes sem discutir, de forma breve, sobre a linguagem dos quadrinhos e suas implicações para a tradução da nona arte2 2 O termo “nona arte” foi cunhado na primeira assembleia geral do Club des Bandes Dessinées (em tradução livre: Clube de Quadrinhos), em 1962. Em 1964, o clube modificou seu nome para Centre d’étude des littératures d’expression graphique (em tradução livre: Centro para o estudo de literaturas de expressão gráfica), demonstrando o desejo de seus membros de conferir respeitabilidade ao meio (Miller, 2007 apud Liberatti, 2017). , assunto da próxima subseção. Ademais, a seleção das tarefas para o e-book, bem como as abordagens utilizadas no material proposto na tese, é explanada na próxima subseção.

Tradução e histórias em quadrinhos: teoria e alguns aspectos práticos

A teoria funcionalista de Nord

Para Nord (1991Nord, Christiane. Text Analysis in Translation: Theory, Methodology, and Didactic Application of a Model of Translation-Oriented Text Analysis. Tradução de Christiane Nord e Penelope Sparrow. Amsterdã & Atlanta: Rodopi, 1991., 2009)Nord, Christiane. “El funcionalismo en la enseñanza de traducción”. Mutatis Mutandis, 2(2), p. 209-243, 2009., a tradução interlingual tem como fundamento a comunicação entre diferentes culturas, já que os textos de partida (TP) e de chegada (TC) pertencem a pelo menos dois sistemas culturais diversos: “Os receptores desses textos pertencem a culturas diferentes, sendo eles um dos principais determinantes do propósito tradutório, uma vez que um texto só completa seu ciclo comunicativo ao ser lido por alguém” (Liberatti, 2017Liberatti, Elisângela Lorena. Traduzindo Histórias em Quadrinhos: proposta de Unidades Didáticas com enfoque funcionalista e com base em tarefas de tradução. 2017. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017. https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/181611
https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle...
, p. 48).

A teoria funcionalista de Nord pode ser resumida ao modelo de análise textual voltado à tradução criado pela autora. Neste modelo, Nord (1991)Nord, Christiane. Text Analysis in Translation: Theory, Methodology, and Didactic Application of a Model of Translation-Oriented Text Analysis. Tradução de Christiane Nord e Penelope Sparrow. Amsterdã & Atlanta: Rodopi, 1991. propõe a análise de fatores extra e intratextuais do TP, antes de se realizar o processo tradutório, e a projeção do que se espera atingir com o TC. Esses 17 elementos são:

  • Fatores extratextuais: fatores pragmáticos, externos ao texto — emissor (quem?), intenção do emissor (para quê?), receptor (para quem?), meio (por qual meio?), lugar (onde?), tempo (quando?), propósito (por quê?) e função de enunciado (com qual função?);

  • Fatores intratextuais: internos ao texto — assunto (sobre o que é o assunto?), conteúdo (o quê?), pressuposições (o que, o que não?), estruturação (em qual ordem?), elementos não verbais (com quais elementos não verbais?), léxico (com quais palavras?), sintaxe (com quais tipos de sentenças?), elementos suprassegmentais (em qual tom?) (Liberatti, 2012Liberatti, Elisângela Lorena. Ara, Chico; Aw, Chuck: uma tradução funcionalista de quadrinhos do Chico Bento. 2012. Dissertação (Mestrado em Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2012. https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/100652
    https://repositorio.ufsc.br/handle/12345...
    ).

O efeito do texto é o décimo sétimo elemento de análise proposto por Nord:

O efeito do texto não está categorizado dentro de nenhum desses fatores, pois [...] não é nem totalmente extratextual nem exclusivamente intertextual, estando ligado ao usuário do texto. Ou seja, o efeito é um elemento que liga o texto à situação em que esse texto está inserido

(Liberatti, 2017Liberatti, Elisângela Lorena. Traduzindo Histórias em Quadrinhos: proposta de Unidades Didáticas com enfoque funcionalista e com base em tarefas de tradução. 2017. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017. https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/181611
https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle...
, p. 49).

O quadro de análise textual orientada à tradução proposto por Nord (1991)Nord, Christiane. Text Analysis in Translation: Theory, Methodology, and Didactic Application of a Model of Translation-Oriented Text Analysis. Tradução de Christiane Nord e Penelope Sparrow. Amsterdã & Atlanta: Rodopi, 1991. tem função didático-pedagógica, e pode ser utilizado tanto em parte quanto integralmente no ensino-aprendizagem de acordo com o(s) objetivo(s) de cada tarefa de tradução:

Quadro 1
Quadro de análise textual orientada à tradução

Os fatores extratextuais supramencionados estão ligados à situação de produção e utilização do TC; desta forma, a análise de tais elementos pode ser realizada antes mesmo da leitura do texto, ao observar sua situação de produção e uso. Por outro lado, os fatores intratextuais são analisados após a leitura do TC, pois estão diretamente relacionados ao próprio texto.

O funcionalismo de Nord (1991)Nord, Christiane. Text Analysis in Translation: Theory, Methodology, and Didactic Application of a Model of Translation-Oriented Text Analysis. Tradução de Christiane Nord e Penelope Sparrow. Amsterdã & Atlanta: Rodopi, 1991. embasa teórica e metodologicamente o material adaptado para a oficina proposta em 2019 na UEL. Juntamente a ele, o enfoque por tarefas de tradução perpassa o material. Este é o assunta da próxima subseção.

A abordagem por tarefas de tradução

O enfoque por tarefas de tradução advém da abordagem por tarefas no ensino-aprendizagem de língua estrangeira (Hurtado Albir, 2007Hurtado Albir, Amparo. Enseñar a Traducir: Metodologías en la formación de traductores e intérpretes. Teoría y fichas prácticas. 2. reimpr. Madri: Edelsa, 2007.). Proposto pelo Grupo PACTE (Hurtado Albir, 1993Hurtado Albir, Amparo. “Un nuevo enfoque de la didáctica de la traducción: Metodologia y diseño curricular”. In: Gamarra, Roser Gauchola; Mestreit, Claude & Planet, Manuel Tost (Eds.). Les langues étrangères dans l’Europe de l’Acte Unique. Barcelona: ICE de la Universitat Autònoma de Barcelona, 1993. p. 239-252., 1995Hurtado Albir, Amparo. “La didáctica de la traducción: evolución y estado actual”. In: Nistal, Purificación Fernández & Gozalo, José Maria Bravo (Eds.). Perspectivas de la traducción. Valladolid: Universidad de Valladolid, 1995. p. 49-74., 1996Hurtado Albir, Amparo. “La enseñanza de la traducción directa ‘general’: Objetivos de aprendizaje y metodología”. In: Hurtado Albir, Amparo (Ed.). La enseñanza de la traducción. Col. Estudis sobre la traducció 3. Castellón: Universitat Jaume I, 1996. p. 31-56., 2007Hurtado Albir, Amparo. Enseñar a Traducir: Metodologías en la formación de traductores e intérpretes. Teoría y fichas prácticas. 2. reimpr. Madri: Edelsa, 2007.), o enfoque tem como base a tarefa de tradução, que consiste na unidade organizadora do processo de aprendizagem. Para Hurtado Albir (2005, p. 43-44)Hurtado Albir, Amparo. “A aquisição da competência tradutória: aspectos teóricos e didáticos”. In: Pagano, Adriana; Magalhães, Célia & Alves, Fábio (Orgs.). Competência em Tradução: cognição e discurso. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2005. p. 19-57., a tarefa de tradução é “uma unidade de trabalho na sala de aula, representativa da prática tradutória, dirigida intencionalmente à aprendizagem da tradução e desenhada com um objetivo concreto, uma estrutura e uma sequência de trabalho”. Assim, o curso é desenhado por meio de uma sequência de tarefas planejadas e articuladas entre si.

Centrado nos alunos, e não no professor, o enfoque por tarefas de tradução advoga que os alunos são protagonistas de sua própria aprendizagem. Ou seja, o professor atua como “mero” facilitador do processo de ensino-aprendizagem, o que se faz possível ao incorporar em cada fase deste processo informações fornecidas pelos próprios estudantes. Esta abordagem, ao permitir contínua negociação entre alunos e professor, oferece a possibilidade de flexibilidade e adaptação curricular, de acordo com o contexto de ensino-aprendizagem e levando-se em conta os objetivos do curso e as necessidades dos aprendizes (Hurtado Albir, 2007Hurtado Albir, Amparo. Enseñar a Traducir: Metodologías en la formación de traductores e intérpretes. Teoría y fichas prácticas. 2. reimpr. Madri: Edelsa, 2007.).

A tarefa de tradução pode ser autêntica ou simulada, e sua elaboração deve ser pensada com vistas a atingir um ou mais objetivos claros e definidos. A autenticidade ou simulação de um projeto real de tradução traz um aspecto realista às tarefas, o que colabora com a motivação dos estudantes. Neste sentido, advoga-se que a tarefa de tradução siga os parâmetros abaixo (Li, 2013Li, Defeng. “Teaching Business Translation: A Task-based Approach”. The Interpreter and Translator Trainer, 7(1), p. 1-26, 2013. DOI: http://dx.doi.org/10.1080/13556509.2013.798841
https://doi.org/10.1080/13556509.2013.79...
):

  • Traga textos com necessidade real ou ao menos aparente de tradução. O que diferencia a abordagem por tarefas de tradução de métodos de ensino mais tradicionais (textos descontextualizados, método leia e traduza) é esta necessidade real ou simulada de se traduzir um certo texto;

  • Ative o uso de várias subcompetências tradutórias3 3 Para informações sobre subcompetências tradutórias, cf. Liberatti, 2017, seção 2.2 – A didática da tradução. ;

  • Encoraje os alunos a finalizarem a tarefa, sendo esta uma das metas mais importantes e

  • Avalie tanto o produto quanto o processo tradutórios.

Tendo brevemente explanado sobre o aporte teórico-metodológico funcionalista e por tarefas de tradução, passamos à teoria sobre HQs e tradução, mais um aporte que embasa a oficina proposta em 2019.

As histórias em quadrinhos

Em minha tese de doutoramento, discorro sobre os motivos pelos quais definir o que são HQs pode ser um tanto quanto complexo (Liberatti, 2017Liberatti, Elisângela Lorena. Traduzindo Histórias em Quadrinhos: proposta de Unidades Didáticas com enfoque funcionalista e com base em tarefas de tradução. 2017. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017. https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/181611
https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle...
). Desta maneira, utilizo a definição criada para fins da tese, que nos servirá para os propósitos do presente trabalho:

HQs são textos que possuem uma arte narrativa visual, geralmente tendo como suporte o papel impresso ou a tela digital, e que produzem sentido através de um ou mais requadros. Para serem consideradas quadrinhos, as HQs de apenas um requadro devem possuir algo de narrativo — uma sequência entre um antes e um depois, elementos mínimos da estrutura narrativa, cuja ordem de leitura4 4 Nas HQs ocidentais, da esquerda para a direita, de cima para baixo, por exemplo. permita a composição de uma história

(Liberatti, 2017Liberatti, Elisângela Lorena. Traduzindo Histórias em Quadrinhos: proposta de Unidades Didáticas com enfoque funcionalista e com base em tarefas de tradução. 2017. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017. https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/181611
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, p. 139).

Ademais, o que nos interessa aqui é termos em mente que as HQs fazem parte de um hipergênero discursivo, com linguagem própria, como aponta Ramos (2007)Ramos, Paulo Eduardo. Tiras cômicas e piadas: duas leituras, um efeito de humor. 2007. Tese (Doutorado em Filologia e Língua Portuguesa) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8142/tde-04092007-141941/
http://www.teses.usp.br/teses/disponivei...
. Para o autor, os quadrinhos possuem uma linguagem autônoma e elementos constituintes em comum, como o uso de balões, paratextos, legendas, onomatopeias, entre outros. Ao afirmar que as HQs são uma linguagem autônoma, Ramos aponta que esta linguagem encontrou seus próprios recursos para compor uma narrativa, da mesma forma que o cinema, a dança, a literatura, etc. o fizeram.

Para Eco (1984)Eco, Umberto. Apocalípticos e integrados. Tradução de Andrés Boglar. 7. ed. Barcelona: Editorial Lumen, 1984., os quadrinhos são dotados de elementos estruturais próprios, que seguem uma lógica de comunicação única, fundamentando-se em um código compartilhado pelos leitores e pelo autor.

De acordo com os autores supracitados (Liberatti, 2017Liberatti, Elisângela Lorena. Traduzindo Histórias em Quadrinhos: proposta de Unidades Didáticas com enfoque funcionalista e com base em tarefas de tradução. 2017. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017. https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/181611
https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle...
; Ramos, 2007Ramos, Paulo Eduardo. Tiras cômicas e piadas: duas leituras, um efeito de humor. 2007. Tese (Doutorado em Filologia e Língua Portuguesa) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8142/tde-04092007-141941/
http://www.teses.usp.br/teses/disponivei...
; Eco, 1984Eco, Umberto. Apocalípticos e integrados. Tradução de Andrés Boglar. 7. ed. Barcelona: Editorial Lumen, 1984.), os quadrinhos são textos narrativos repletos de convenções e especificidades. Muito brevemente, abordamos aqui algumas dessas convenções, relevantes para a oficina proposta (Liberatti, 2017Liberatti, Elisângela Lorena. Traduzindo Histórias em Quadrinhos: proposta de Unidades Didáticas com enfoque funcionalista e com base em tarefas de tradução. 2017. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017. https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/181611
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5 5 Para mais informações sobre elementos constitutivos das HQs, cf. Liberatti (2017), seção 3.4 – Elementos constitutivos. ):

  • Balões: espaço onde é inserida a fala ou o pensamento dos personagens. Seus diferentes formatos implicam funções diversas – por exemplo, fala, pensamento, sussurro, grito, etc.;

  • Legendas: “Normalmente, têm o formato de painéis retangulares e situam-se na parte superior dos requadros. As informações apresentadas têm como função fazer com que o leitor compreenda a história e continue a leitura” (Liberatti, 2017Liberatti, Elisângela Lorena. Traduzindo Histórias em Quadrinhos: proposta de Unidades Didáticas com enfoque funcionalista e com base em tarefas de tradução. 2017. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017. https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/181611
    https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle...
    , p. 146);

  • Onomatopeias e interjeições: onomatopeias representam sons externos, advindos do ambiente; interjeições representam sons subjetivos, advindos do discurso do personagem (Meireles, 2015Meireles, Selma Martins. “Quadrinhos e linguística: onomatopeias e interjeições e suas funções na narrativa em quadrinhos”. In: Vergueiro, Waldomiro & Santos, Roberto Elísio dos (Orgs.). A linguagem dos quadrinhos: estudos de estética, linguística e semiótica. São Paulo: Criativo, 2015. p. 48-77.);

  • Paratextos: signos linguísticos encontrados fora dos balões e das legendas, inseridos nas ilustrações – por exemplo, fachada com nome de loja;

  • Sarjeta: espaço em branco entre os requadros (requadros são cada quadro de uma HQ). Grande parte das ações dos quadrinhos acontece na sarjeta, responsável também pela formação de sentido entre os requadros;

  • Signos linguísticos: são representações “de qualquer idioma codificado (inglês, português, italiano, japonês, etc.). Nos quadrinhos, esses signos geralmente aparecem nos diálogos dentro dos balões, nas legendas, nos títulos, nas onomatopeias e nos paratextos” (Liberatti, 2017Liberatti, Elisângela Lorena. Traduzindo Histórias em Quadrinhos: proposta de Unidades Didáticas com enfoque funcionalista e com base em tarefas de tradução. 2017. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017. https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/181611
    https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle...
    , p. 152). Há maracas de oralidade e predominância de diálogos;

  • Signos imagéticos: são a linguagem gráfica dos quadrinhos. São responsáveis pela narrativa com imagens sequenciais fixas, o que caracteriza a essência dos quadrinhos (Celotti, 2008Celotti, Nadine. “The Translator of Comics as a Semiotic Investigator”. In: Zanettin, Federico (Ed.). Comics in Translation. Manchester: St. Jerome, 2008. p. 33-49.).

Essas e outras convenções que compõem a linguagem dos quadrinhos influenciam diretamente o trabalho do tradutor, trazendo implicações tanto para o processo quanto para o produto tradutórios. Este é o tema de nossa próxima subseção.

A tradução de histórias em quadrinhos

Nesta subseção, trago algumas implicações para a tradução que a linguagem dos quadrinhos pode apresentar. Abordo de maneira bastante sucinta os aspectos quadrinísticos mais relevantes trabalhados na oficina, não sem antes mencionar um importante aspecto que perpassa a prática tradutória de quadrinhos e traz implicações diretas à tradução do hipergênero: de maneira geral, o tradutor de HQs não tem ingerência sobre as imagens, isto é, grosso modo, o tradutor não deve propor retoques nas imagens. As soluções encontradas devem priorizar a manutenção das imagens tais como estão no TP.

Para o tradutor de HQs, saber ler e interpretar as mensagens contidas nos signos imagéticos faz-se de essencial importância, pois, de acordo com Miller (2007Miller, Ann. Reading Bande Dessinée. Bristol: Intellect, 2007., p. 966 6 “As a visual narrative art, [comics] produces meaning out of images which are in a sequential relationship, and which co-exist with each other spatially, with or without text”. ), “como uma arte narrativa visual, as HQs produzem sentido por meio de imagens que estão em relação sequencial e que coexistem entre si no espaço, com ou sem texto” (minha tradução). Observar e entender os sentidos contidos nas imagens para a formação de uma narrativa coesa é então tarefa mandatória para o tradutor de quadrinhos.

Porém, é necessário que o tradutor desse hipergênero discursivo compreenda que imagens não são universais, podendo conter especificidades culturais. Reconhecer esses elementos presentes na cultura visual, isto é, elementos não compartilhados entre os receptores dos textos de partida e de chegada, é o primeiro passo para realizar escolhas tradutórias de como solucionar tal desafio.

De acordo com Liberatti (2017, p. 179)Liberatti, Elisângela Lorena. Traduzindo Histórias em Quadrinhos: proposta de Unidades Didáticas com enfoque funcionalista e com base em tarefas de tradução. 2017. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017. https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/181611
https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle...
, “a não universalidade das imagens pode causar um estranhamento derivado da incompreensão semiótica no leitor do TC”. A autora aponta ainda que, para Zanettin (2008)Zanettin, Federico. “Comics in translation: An Overview”. In: Zanettin, Federico (Ed.). Comics in Translation. Manchester: St. Jerome, 2008. p. 1-32., “o entendimento errôneo de que signos imagéticos possuem o mesmo significado em todas as culturas pode levar a erros de tradução e a traduções malfeitas” (Liberatti, 2017Liberatti, Elisângela Lorena. Traduzindo Histórias em Quadrinhos: proposta de Unidades Didáticas com enfoque funcionalista e com base em tarefas de tradução. 2017. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017. https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/181611
https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle...
, p. 180).

Para Zanettin (2008)Zanettin, Federico. “Comics in translation: An Overview”. In: Zanettin, Federico (Ed.). Comics in Translation. Manchester: St. Jerome, 2008. p. 1-32., os signos linguísticos são um dos sistemas que compõem a tradução de HQs – as imagens são o outro sistema, que, em conjunto com os signos linguísticos, trabalham de maneira conjunta para a composição da narrativa. Dessa maneira, a tradução de quadrinhos é em primeiro lugar a tradução para outra cultura visual (Liberatti, 2017Liberatti, Elisângela Lorena. Traduzindo Histórias em Quadrinhos: proposta de Unidades Didáticas com enfoque funcionalista e com base em tarefas de tradução. 2017. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017. https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/181611
https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle...
).

A comicidade presente tantos nos signos linguísticos quanto imagéticos é outro desafio ao tradutor do hipergênero, especialmente se este efeito cômico se atrela a uma relação de interdependência entre o idioma do TP e as imagens – lembrando que a manutenção das imagens tais como estão no TP são preferíveis a sugestões de retoques. Assim, saber identificar e adaptar as piadas e referências para a realidade do TC faz-se essencial ao tradutor de HQs.

A representação dos níveis de fala e das marcas de oralidade é outro aspecto que deve ser observado pelo tradutor de HQs. Desta forma, produzir um texto que, apesar de escrito, busque representar a fala dos personagens, faz-se essencial, como aponta Liberatti (2017, p. 208)Liberatti, Elisângela Lorena. Traduzindo Histórias em Quadrinhos: proposta de Unidades Didáticas com enfoque funcionalista e com base em tarefas de tradução. 2017. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017. https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/181611
https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle...
:

O tradutor precisa desenvolver sensibilidade aguçada para a tradução de diálogos, pois são as falas que constituem a base das HQs em termos de signos linguísticos. A tradução das HQs está muito atrelada às “vozes” que os personagens possuem. O tradutor precisa estar atento a esse tipo de colocação, mantendo condizentes os padrões de fala dos personagens. O desafio é encontrar um equilíbrio entre a representação da fala e o texto escrito.

Um outro elemento que perpassa a prática tradutória dos quadrinhos é o espaço disponível e já demarcado para o TC. Isto quer dizer que o tradutor de HQs precisa estar atento a número de caracteres produzido em sua tradução, de maneira que o TC não fique nem muito mais longo nem muito mais curto que o TP, a fim de não modificar a estética da página. Textos muito mais longos exigem ou retoque nos balões – o que pode cobrir partes importantes presentes na narrativa visual, por exemplo – ou diminuição da fonte – o que pode comprometer a leiturabilidade do texto. Desta forma, o tradutor deve desenvolver um poder de síntese em algumas ocasiões, porém sabendo manter a essência do conteúdo presente no TP.

Para finalizar esta subseção, trago um estudo de Kaindl (1999)Kaindl, Klaus. “Thump, Whizz, Poom: A Framework for the Study of Comics under Translation”. Target, 11(2), p. 263-288, 1999. DOI: https://doi.org/10.1075/target.11.2.05kai
https://doi.org/10.1075/target.11.2.05ka...
, na qual o autor propõe uma tipologia para a tradução de HQs que consiste nas seguintes estratégias tradutórias (Liberatti, 2017Liberatti, Elisângela Lorena. Traduzindo Histórias em Quadrinhos: proposta de Unidades Didáticas com enfoque funcionalista e com base em tarefas de tradução. 2017. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017. https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/181611
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, adaptado):

  • repetitio: é quando elementos linguísticos, tipográficos e/ou imagéticos aparecem no TC na forma original em que aparecem no TP;

  • deletio: quando há remoção de signos linguísticos, tipográficos e/ou imagéticos;

  • adiectio: acréscimo de elementos linguísticos, tipográficos e/ou imagéticos no TC;

  • transmutatio: ocorre quando na tradução altera-se a ordem do TP – por exemplo, tradução de alguns mangás para a cultura ocidental;

  • substitutio: substituição de signos linguísticos, tipográficos e/ou imagéticos do TP por outros elementos no TC.

A seguir, passamos ao relato de experiência da oficina de tradução de HQs, ministrada na UEL durante parte do segundo semestre de 2019.

Relato de experiência

Conforme já mencionado, a oficina de tradução de HQs foi ministrada durante parte do segundo semestre de 2019, de 11/09/2019 a 18/12/2019, totalizando carga horária de 30 horas. Com quinze alunos da graduação em Letras-Inglês matriculados, o material proposto em minha tese (Liberatti, 2017Liberatti, Elisângela Lorena. Traduzindo Histórias em Quadrinhos: proposta de Unidades Didáticas com enfoque funcionalista e com base em tarefas de tradução. 2017. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017. https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/181611
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) foi adaptado para atender aos objetivos da oficina:

  • Estudar o hipergênero HQs7 7 Segundo Ramos (2011), as HQs são um hipergênero discursivo que abrangem diversos gêneros com elementos quadrinísticos em comum, como, por exemplo, a charge, as graphic novels e as tiras, entre outros. (Ramos, 2011Ramos, Paulo Eduardo. “Tiras, gênero e hipergênero: como os três conceitos se processam nas histórias em quadrinhos”. In: Simpósio Internacional de Estudos dos Gêneros Textuais, 6., 2011, Natal. Anais [...]. Natal: UFRN, 2011. Disponível em: http://www.cchla.ufrn.br/visiget/pgs/pt/anais/Artigos/Paulo%20Ramos%20%28UNIFESP%29.pdf. Acesso em: 21 jan. 2022.
    http://www.cchla.ufrn.br/visiget/pgs/pt/...
    ), bem como algumas de suas implicações no processo e no produto tradutórios;

  • Ofertar conhecimentos teórico-práticos sobre tradução de HQs e especificidades e desafios da tradução dessa linguagem (Ramos, 2007Ramos, Paulo Eduardo. Tiras cômicas e piadas: duas leituras, um efeito de humor. 2007. Tese (Doutorado em Filologia e Língua Portuguesa) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8142/tde-04092007-141941/
    http://www.teses.usp.br/teses/disponivei...
    );

  • Simular um projeto de tradução de algumas HQs curtas (tiras cômicas), com enfoque na teoria funcionalista de Christiane Nord (1991)Nord, Christiane. Text Analysis in Translation: Theory, Methodology, and Didactic Application of a Model of Translation-Oriented Text Analysis. Tradução de Christiane Nord e Penelope Sparrow. Amsterdã & Atlanta: Rodopi, 1991..

A adaptação do material proposto na tese se fez possível porque

O enfoque por tarefas permite um quadro flexível de desenho curricular, aberto a modificações, pois essa abordagem torna possíveis constantes introduções de novas tarefas e reformulações de tarefas antigas, adequando-se ao contexto de cada situação específica

(Liberatti, 2017Liberatti, Elisângela Lorena. Traduzindo Histórias em Quadrinhos: proposta de Unidades Didáticas com enfoque funcionalista e com base em tarefas de tradução. 2017. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017. https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/181611
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, p. 113).

Assim, foi criado um e-book8 8 Disponível em: https://read.bookcreator.com/kedc4Ng9w5YoKtX5VoTag7F0mwH2/4s4DNGNTRNiiF0rjwVr4cQ com doze tarefas, todas preparando os alunos para a execução da tarefa final, o projeto de tradução simulada. Além disso, foi feita uma página no Google Classroom para comunicação com os alunos inscritos na oficina.

As tarefas selecionadas para o material levaram em consideração o tempo curto de oferta da oficina e também a relevância de cada uma para alcançar os objetivos propostos no curso. As explicações de cada tarefa, bem como o que se esperar delas, podem ser encontradas em Liberatti, 2017Liberatti, Elisângela Lorena. Traduzindo Histórias em Quadrinhos: proposta de Unidades Didáticas com enfoque funcionalista e com base em tarefas de tradução. 2017. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017. https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/181611
https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle...
. Aqui, me atenho a discorrer sobre o engajamento dos alunos durante as atividades, algumas discussões pertinentes aos temas propostos, o produto e o processo de tradução do projeto final e alguns aspectos relevantes quanto à avaliação da oficina.

A procura pela oficina foi relativamente alta, gerando lista de espera. Dos dezesseis alunos matriculados, quinze seguiram adiante, de forma engajada e curiosa. Para muitos, a tradução de HQs parecia algo não muito complexo, conforme apontado por alguns alunos no questionário criado no Google Forms. Um deles afirmou que “Antes eu achava que [a tradução de HQs] era algo mais fácil, sem tanta teoria, mas descobri que existe[m] várias teorias e técnicas para a tradução de uma HQ, além da dificuldade ser maior”; já outro aluno disse que “Eu não tinha noção do quão complexo é fazer a tradução de HQs, no que diz respeito a manter a essência do texto original, mesmo com as modificações necessárias a serem realizadas visando uma maior compreensão da tirinha no meio e local em que ela será veiculada”.

O tempo da oficina foi curto, segundo alguns alunos. Para eles, poderíamos ter explorado de forma mais aprofundada tanto a parte teórica quanto a parte prática da tradução de quadrinhos, com mais encontros e mais prática tradutória, como aponta um dos alunos: “Adorei a oficina, mas gostaria de ter tido mais aulas e mais produção”.

Sobre a duração de oferta da disciplina, concordo que a carga horária disponível realmente deveria ter sido mais alta, uma vez que algumas atividades, especialmente as últimas, poderiam ter sido mais bem exploradas e discutidas. Se mantidos os objetivos da oficina ofertada em 2019, uma carga horária de 45h ou 60h talvez se faça mais adequada na próxima oferta.

Uma das tarefas relevantes a serem mencionadas aqui é a atividade na qual os alunos deveriam trazer sua própria definição sobre o que são HQs, após breve discussão sobre o hipergênero. Devemos levar em conta que no momento de criarem suas definições, os alunos haviam tido praticamente nenhum input sobre o hipergênero – tal definição foi pedida logo na primeira tarefa do e-book. Selecionei algumas dessas definições:

– “HQs são estórias contadas em forma de quadrinhos, geralmente com falas e imagens dos personagens e das situações. Também há o uso de figuras de linguagem, sendo a que mais se destaca as ‘onomatopeias’. Embora definir HQs pareça algo simples à primeira vista, na verdade é uma tarefa difícil, pois exige colocar em palavras algo que cresci acostumada a ler, porém quando penso em seus aspectos técnicos, percebo que na verdade não sei muito. É, na verdade, um gênero muito complexo e que ganha cada vez mais seu espaço entre pessoas de todas as idades”.

– “HQs são narrativas ilustradas, geralmente em formato de revista, – sendo o desenho mais essencial do que a escrita, embora esta não seja dispensada. As narrativas não se definem pelo tamanho, podendo ter um só quadro ou vários”.

– “São histórias narradas em uma sequência de quadros. Possuem imagens, pensamentos, balões, onomatopeias e podem ter ou não falas”.

A seguir, descrevo alguns resultados advindos do projeto final de tradução, no qual os alunos deveriam traduzir oito tiras dos Peanuts, com enfoque no encargo de tradução (tradução funcionalista), além de discorrer sobre seu processo tradutório9 9 O projeto final (tarefa final) encontra-se disponível no link: https://documentcloud.adobe.com/link/track?uri=urn:aaid:scds:US:adf2a6c3-72ec-4b77-bcb0-e9bda7ccfe1e. .

Ao avaliar o projeto final entregue pelos alunos, podemos afirmar que houve conscientização sobre questões práticas da tradução de quadrinhos, ao menos por grande parte dos participantes da oficina. Os alunos buscaram seguir o encargo de tradução proposto, sendo que a manutenção do efeito cômico do TP foi uma de suas principais preocupações: “A dificuldade estava em encontrar termos que produzissem efeito cômico e ainda mantivessem coerência com as imagens”, apontou um dos alunos sobre a dificuldade de tradução de uma das tiras.

Em geral, os estudantes souberam identificar os desafios de cada tira e onde se encontravam os aspectos responsáveis pela comicidade de cada tira, como jogos de palavras, polissemia e relação indissociável entre signos linguísticos e imagéticos.

O receptor do TC e o compartilhamento cultural desses leitores também foram questões levadas em conta pelos alunos ao traduzirem suas tiras. Os alunos foram conscientes e bastante autocríticos quanto às suas traduções. Entenderam que em algumas situações não conseguiram resolver algum ou alguns desafios de tradução, mencionando não apenas a não manutenção do efeito cômico, mas também o fato de acharem que o receptor do TC poderia não entender a tira traduzida por não compartilhar de questões presentes no TP. Uma das alunas apontou que achou mediana uma de suas traduções, já que, segundo ela, o jogo de palavras não manteve efeito cômico na tradução.

Além disso, parte dos alunos demonstrou ter desenvolvido uma conscientização sobre a necessidade de pesquisa advinda do trabalho do tradutor, seja para pesquisar sobre o uso de termos consagrados na língua de chegada (tal como good grief ser traduzido por mas que puxa), seja para pesquisar sobre questões ligadas à cultura do TP (como o que é foul tip, por exemplo). Houve também uma conscientização sobre a importância de se manter a essência dos personagens, como por exemplo o fato de Schroeder amar tocar seu pianinho.

Isso posto, podemos dizer que, de maneira geral, os alunos finalizaram a oficina com uma percepção mais aguçada dos desafios da tradução de quadrinhos, como podemos observar nos comentários a seguir:

– “Durante o projeto, percebi o quanto a tradução de quadrinhos é complicada, até mais do que a tradução de textos acadêmicos e artigos. Traduzir tiras de um nível elevado foi importante para ter uma noção de como se dá o processo, quais os seus desafios, e como contorná-los”.

– “No geral, fiquei satisfeita com a tradução proposta. Mesmo que eu não tenha atingido o meu objetivo inicial ao finalizá-la, é interessante se colocar no lugar do tradutor e enfrentar problemas com os quais ele também pode ter dificuldade ao longo de suas traduções, tentando encontrar caminhos para superá-las e criar um texto capaz de ser compreendido pelo público”.

Nesta subseção, na qual discorro sobre a experiência da oficina ofertada em 2019, decidi trazer como enfoque o relato do processo tradutório (isto é, as dificuldades encontradas pelos alunos e suas percepções sobre o TC), e não do produto – isto é, a tradução em si. Isso se deu por julgar mais relevante, neste contexto, relatar e avaliar o processo pelo qual os alunos passaram ao ter seu primeiro e muito breve contato com a tradução de quadrinhos. Os dois comentários acima ilustram bem o que advogo neste parágrafo.

Desta maneira, o que me interessou de forma mais aguçada na avaliação da oficina não foram as soluções tradutórias per se, mas o desenvolvimento da percepção dos alunos quanto à linguagem dos quadrinhos e suas implicações para a tradução, além da autocrítica sobre suas próprias soluções (veja bem, não digo que as traduções não me interessaram, apenas que, pelo espaço disponível, não é meu propósito apresentar aqui as soluções encontradas pelos alunos).

Isso posto, passamos às considerações finais do trabalho.

Considerações finais

A oficina de tradução de HQs ofertada aos alunos de Letras-Inglês da UEL em 2019 teve como objetivos o estudo de linguagem dos quadrinhos e algumas de suas implicações no processo e no produto tradutórios. Foram ofertados conhecimentos teórico-práticos sobre tradução de HQs e algumas especificidades e desafios da tradução dessa linguagem. Além disso, foi realizado um projeto de tradução simulada de oito tiras cômicas, com enfoque na teoria funcionalista de Christiane Nord (1991)Nord, Christiane. Text Analysis in Translation: Theory, Methodology, and Didactic Application of a Model of Translation-Oriented Text Analysis. Tradução de Christiane Nord e Penelope Sparrow. Amsterdã & Atlanta: Rodopi, 1991..

De maneira geral, a oficina atingiu os objetivos propostos, sendo que ficou palpável o desenvolvimento da conscientização dos alunos quanto a desafios e especificidades da tradução de HQs, como podemos observar nos seguintes comentários: “Percebi que o processo de tradução de HQs é bem mais complexo do que eu imaginava, e envolve muito mais análises e estudos além da tradução em si” e “Embora o tempo tenha sido curto, a oficina contribuiu muito para o meu conhecimento e aprimoramento de tradução de HQs. Pude notar que é um processo trabalhoso e deve ser executado com muita cautela, para não comprometer a ideia central do texto de origem. Em minha opinião, teria sido bom ter tudo um pouco mais de contato com a teoria do processo de tradução de HQs. Fora isso, fiquei muito satisfeita com a oficina”.

Como podemos observar a partir do último comentário acima, o tempo de duração da oficina foi algo apontado pelos alunos como uma desvantagem. Um dos alunos resumiu bem a questão do tempo disponibilizado, bem como sua experiência com a oficina: “A oficia foi boa e interessante para mim, que nunca tive um contato direto com tradução. Acredito que acrescentou na minha formação, pois tradução é uma coisa que nunca tinha sido me apresentada nos dois anos de curso de letras inglês. O tempo, como já mencionei, talvez tenha sido curto. No final, que era a parte pratica de traduzir as HQs, ficou mais corrido e o assunto poderia ter sido mais bem explorado com mais discussões em sala”.

Desta maneira, seria interessante que a carga horária da próxima oficina fosse de 45 ou 60 horas, ao invés das 30 horas ofertadas em 2019. Assim, teríamos mais tempo para mais discussões teóricas e mais práticas de tradução, questões levantadas por alguns participantes.

  • 1
  • 2
    O termo “nona arte” foi cunhado na primeira assembleia geral do Club des Bandes Dessinées (em tradução livre: Clube de Quadrinhos), em 1962. Em 1964, o clube modificou seu nome para Centre d’étude des littératures d’expression graphique (em tradução livre: Centro para o estudo de literaturas de expressão gráfica), demonstrando o desejo de seus membros de conferir respeitabilidade ao meio (Miller, 2007Miller, Ann. Reading Bande Dessinée. Bristol: Intellect, 2007. apud Liberatti, 2017Liberatti, Elisângela Lorena. Traduzindo Histórias em Quadrinhos: proposta de Unidades Didáticas com enfoque funcionalista e com base em tarefas de tradução. 2017. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017. https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/181611
    https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle...
    ).
  • 3
    Para informações sobre subcompetências tradutórias, cf. Liberatti, 2017Liberatti, Elisângela Lorena. Traduzindo Histórias em Quadrinhos: proposta de Unidades Didáticas com enfoque funcionalista e com base em tarefas de tradução. 2017. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017. https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/181611
    https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle...
    , seção 2.2 – A didática da tradução.
  • 4
    Nas HQs ocidentais, da esquerda para a direita, de cima para baixo, por exemplo.
  • 5
    Para mais informações sobre elementos constitutivos das HQs, cf. Liberatti (2017)Liberatti, Elisângela Lorena. Traduzindo Histórias em Quadrinhos: proposta de Unidades Didáticas com enfoque funcionalista e com base em tarefas de tradução. 2017. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução) – Centro de Comunicação e Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017. https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/181611
    https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle...
    , seção 3.4 – Elementos constitutivos.
  • 6
    “As a visual narrative art, [comics] produces meaning out of images which are in a sequential relationship, and which co-exist with each other spatially, with or without text”.
  • 7
    Segundo Ramos (2011)Ramos, Paulo Eduardo. “Tiras, gênero e hipergênero: como os três conceitos se processam nas histórias em quadrinhos”. In: Simpósio Internacional de Estudos dos Gêneros Textuais, 6., 2011, Natal. Anais [...]. Natal: UFRN, 2011. Disponível em: http://www.cchla.ufrn.br/visiget/pgs/pt/anais/Artigos/Paulo%20Ramos%20%28UNIFESP%29.pdf. Acesso em: 21 jan. 2022.
    http://www.cchla.ufrn.br/visiget/pgs/pt/...
    , as HQs são um hipergênero discursivo que abrangem diversos gêneros com elementos quadrinísticos em comum, como, por exemplo, a charge, as graphic novels e as tiras, entre outros.
  • 8
  • 9

Referências

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  • Universidade Estadual de Londrina – UEL. Colegiado de Letras Estrangeiras Modernas [s.d.]. Disponível em: http://www.uel.br/col/lem/portal/pages/letras-ingles.php Acesso em: 23 jan. 2022.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    31 Jul 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    29 Ago 2022
  • Aceito
    13 Nov 2022
  • Publicado
    Jan 2023
Universidade Federal de Santa Catarina Campus da Universidade Federal de Santa Catarina/Centro de Comunicação e Expressão/Prédio B/Sala 301 - Florianópolis - SC - Brazil
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