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COLINA, Sonia. Ensino de Tradução: da Pesquisa à Sala de Aula. Diretrizes para Professores. Tradução de Marileide Dias Esqueda, et al. Minas Gerais: Editora da Universidade Federal de Uberlândia, 2015, 306 p.

COLINA, Sonia. Ensino de Tradução: da Pesquisa à Sala de Aula. Diretrizes para ProfessoresEsqueda, Marileide Dias. Minas GeraisEditora da Universidade Federal de Uberlândia, 2015306

Os Estudos da Tradução têm se desenvolvido aceleradamente em todos os aspectos do ensino, da aprendizagem e da pesquisa, com base não somente nas teorias e práticas da tradução literária ou técnica, mas também nas práticas e pesquisas nas mais diversas áreas da tradução. Ademais, com o surgimento de cursos de graduação e pós-graduação em Estudos da Tradução, novas diretrizes norteadoras para o ensino de tradução e, consequentemente, para a formação deste novo profissional, configuraram-se prioridade inquestionável.

Segundo Colina (2003)Colina, Sonia. Translation Teaching, from Research to the Classroom: A Handbook for Teachers. Boston: McGraw-Hill, 2003., com o desenvolvimento dos programas e cursos voltados para os Estudos da Tradução, justifica-se a necessidade de contemplar uma área da pedagogia que atenda a formação de professores e a didática do ensino de tradução, por isso este livro, objeto desta resenha, pretende oferecer ao professor de tradução, critérios metodológicos e pedagógicos para o planejamento de cursos e sugestões de como as atividades de tradução podem ser aplicadas com o objetivo de enriquecer a qualidade do ensino de tradução.

Este livro foi traduzido para o português por cinco professores do Grupo de pesquisa “Translatio” que objetiva traduzir textos sobre a formação de tradutores. Além da nota dos tradutores, apresentação e prefácio, o livro é organizado em cinco capítulos, descritos num formato bem didático. Didático no sentido de obedecer uma forma linear proporcionando ao leitor uma leitura acessível, bem direcionada e prazerosa, e não no sentido de termos um conjunto de materiais prontos para o ensino de tradução. Todos os capítulos iniciam com um breve resumo sobre a temática e a partir do terceiro capítulo, os resumos são seguidos de uma introdução. O foco principal do livro está na tradução profissional e não na tradução literária, apesar da abordagem utilizada e as ferramentas e metodologias serem úteis para todos os professores de tradução em qualquer contexto de aprendizagem.

O desenvolvimento do livro não podia ser mais objetivo e direto. Provavelmente, o fato de os participantes envolvidos, tanto a autora como todos os tradutores serem proficientes em diversas línguas e trabalharem nas áreas da linguística e dos estudos da tradução, além de possuírem vasta experiência em diversas ramificações nas áreas das humanidades, faz com que se perceba uma fluidez tanto no texto original quanto na versão traduzida, tornando o texto isento de qualquer estranhamento. Várias atividades de tradução ilustram os capítulos destinados ao planejamento do curso, a elaboração de materiais didáticos e avaliação, oferecendo ao leitor um leque de aplicações práticas para a construção de uma metodologia sistemática para o ensino de tradução.

A autora marca um diferencial em três aspectos: aborda uma área pouco estudada na tradução, contribui para as pesquisas sobre metodologias de ensino e programas de formação de professores e, finalmente, apresenta propostas inovadoras na abordagem ao ensino. Nesse sentido, os professores são contemplados com sugestões de preparação de aulas, atividades didáticas e avaliações, além de se sentirem orientados a respeito dos questionamentos e decisões metodológicas sobre a tradução e a competência tradutória.

O primeiro capítulo apresenta o objetivo do livro que busca proporcionar um entendimento da relação entre a teoria e a prática na competência tradutória. Apresenta os mapas dos estudos da tradução com base em Holmes e Toury fortalecendo o pressuposto de que o ensino de tradução advém de descobertas comprovadas cientificamente. As ramificações dos Estudos da tradução ilustradas nos quadros mostram a importância dos estudos da tradução para a pedagogia e o quanto eles cobrem todas as áreas num cenário panorâmico geral.

O segundo capítulo introduz toda a fundamentação teórica e enfatiza que as teorias de tradução têm a priori o objetivo de explicar os processos existentes entre texto fonte e texto alvo nos processos tradutórios. Colina relata que, Nord distingue os dois tipos de processos e os classifica em tradução documental e instrumental. Por outro lado, House nomeia os processos tradutórios de tradução encoberta e a tradução manifesta, respectivamente. Ainda neste capítulo são apresentadas as abordagens funcionalistas, em particular a Teoria do Escopo e as funções da linguagem, tipos textuais e gêneros. Vale ressaltar que os comentários tecidos sobre esta temática visam conscientizar o tradutor e o professor de tradução, que os tipos textuais são categorias universais que podem precisar de adaptações diversas no momento da tradução, devido a questões linguísticas e fatores culturais peculiares. Ademais, a autora discute sobre análise do texto fonte e análise de textos paralelos com base teórica funcionalista e tece comentários sobre brief, convenções e normas, equivalência e funcionalismo. A parte mais relevante deste capítulo é dedicada a pesquisa em pedagogia da tradução. Com base em pesquisas e modelos teóricos, a autora define e explica as competências comunicativas e competências tradutórias e problematiza a aquisição de competência tradutória comunicativa, levando em consideração etapas e fatores que contribuem para o desenvolvimento destas competências e a evolução e as subcompetências do tradutor, dentre outras.

Os capítulos 3 e 4 são recheados de exemplos de diversas atividades de tradução e planos de aulas, com o propósito de orientar professores para o planejamento de cursos de tradução comunicativa. No entanto, Colina ressalta não ter a pretensão de fornecer materiais prontos para serem utilizados em sala de aula, mas que são sugestões que podem ser adaptadas para o ensino comunicativo. Estes capítulos obedecem uma sequência que parte do global para o específico, partindo primeiramente do programa e dos componentes de um curso introdutório de tradução comunicativa e discutindo os papéis de professores e alunos. Nessa perspectiva, o professor desempenha o papel de facilitador, que observa, orienta e demonstra boa postura profissional e os alunos têm papéis ativos, já que a aula está centrada no aluno. As ferramentas e atividades de tradução apresentadas no terceiro capítulo seguem um formato padronizado, exemplificando quais os componentes a serem ensinados, justificativas empíricas e o método utilizado na elaboração de um programa. E ainda, sugere aos que não tem experiência e jamais ministraram um curso de tradução, que elabore uma lista de componentes que possam agregar num curso futuro.

O capítulo 4 é dedicado a orientação e preparação de aulas de tradução minuciosamente comentadas e confecção de materiais didáticos para o ensino de tradução comunicativa. Vale ressaltar que este é o ponto mais forte e pertinente do livro e que se enquadra na perspectiva da linguística sistêmico funcional (LSF). A LSF procura ver a língua como meio de construir significados e o impacto que ela causa sobre o contexto. Halliday, em “Language, context and text: aspects of language in a social-semiotic perspective” afirma que a LSF é uma teoria social e semiótica porque foca nas escolhas significativas que produzem significados sociais. Além de entender sobre a comunicação entre as pessoas, ela se preocupa com a relação entre estas pessoas e entre a comunidade como um todo. Ao interpretar uma sentença, relaciona-se o que diz a categorias gramaticais que são encontradas na gramática da língua.

A estrutura organizacional das atividades apresentadas neste capítulo é composta por um conjunto de atividades pré-tradutórias, seções de compreensão textual e de foco linguístico como atividades centrais ou durante a sequência didática e, por fim, as atividades pós-tradutórias. Outro aspecto de crucial relevância que Colina evidencia é que “assim como a adaptabilidade a situações variadas é parte da competência do tradutor, a habilidade de adaptar os materiais didáticos a essa variação é um elemento essencial da competência do professor”.

As atividades (170–202) pertencem a diferentes tipos de texto e gêneros e podem ser adaptadas, expandidas reescritas para outras situações e contextos. Após a apresentação destas atividades, a autora tece comentários, inclusive, sobre elaboração de aulas para textos literários, apesar de não ser este o foco da proposta de tarefas tradutórias do livro, mas por levar em consideração o texto literário, como um, dentre todos os tipos de texto a serem abordados no ensino de tradução.

O capítulo 5 focaliza na avaliação de currículos e programas e avaliação de desempenho. E quando se trata de avaliação, faz-se necessário estabelecer a diferença entre a avaliação da qualidade da tradução, que avalia o produto, e a avaliação de desempenho do tradutor, que utiliza o produto e outros aspectos mais para avaliar a competência e proficiência do tradutor. A autora trata também da dificuldade existente na decisão entre a avaliação da qualidade da tradução ou das habilidades do tradutor. Ainda neste capítulo, Colina apresenta considerações sobre elaboração de testes e critérios de pontuação, com exemplos e ilustrações detalhadamente comentadas (238-277), com base em habilidade e competências linguísticas, dentre outras.

É pertinente apontar que, além das discussões teóricas abordadas sobre a formação de professores e o ensino de tradução, o livro oferece um leque de opções sobre preparação de aulas, de ativi-dades de tradução comunicativa e planejamento de cursos de tradução. Ademais, todas as propostas sugeridas proporcionam aos leitores, especialmente, tradutores e pesquisadores da tradução, a oportunidade de analisar, adaptar e criar uma variedade de materiais que possam ser aplicados no ensino de tradução.

Referências

  • Colina, Sonia. Ensino de Tradução: da Pesquisa à Sala de Aula. Diretrizes para Professores Tradução de Marileide Dias Esqueda, Paula Godoi Arbex, Sandra Aparecida Faria de Almeida, Silvana Maria de Jesus e Stéfano Paschoal. Minas Gerais: Editora da Universidade Federal de Uberlândia, 2015, 306 p.
  • Colina, Sonia. Translation Teaching, from Research to the Classroom: A Handbook for Teachers. Boston: McGraw-Hill, 2003.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    9 Set 2019
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2019

Histórico

  • Recebido
    28 Dez 2018
  • Aceito
    27 Fev 2019
  • Publicado
    Maio 2019
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