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Language and Creativity: the art of common talk

NOTAS SOBRE LIVROS BOOKNOTES

Francisco Gomes de Matos

Letras/CAC/UFPe, Recife. E-mail: fcgm@hotlink.com.br

CARTER, Ronald. 2004. Language and Creativity: the art of common talk. London: Routledge, xiii + 255 p.

Se considerarmos o pioneirismo de Alex Osborn em 1953 (Applied Imagination), as notáveis contribuições da literatura psicológica e o recente cinqüentenário, este ano, da Creative Education Foundation (www.creativeeducationfoundation.org), a macro-área da Criatividade já terá ultrapassado um meio século de existência, entretanto os Estudos sobre Criatividade Lingüística, por lingüistas, ainda estão em sua fase inicial, por isso, é auspiciosa a publicação deste volume, por um dos mais prolíficos e criativos lingüistas aplicados britânicos, atuante na Universidade de Nottingham.

Aclamado por lingüistas de renome internacional, dentre os quais Michael Halliday e David Crystal, Language and Creativity trata, como bem esclarece seu subtítulo, da arte comum (geral, universal) do falar, do conversar. A uma lista de onze ilustrações, duas epígrafes, duas páginas de Agradecimentos (destaques para a influência de Michael McCarthy e Chris Candlin e para o uso do CANCODE – The Cambridge and Nottingham Corpus of English Discourse) e uma Introdução (14 p.), seguem-se três Partes: I - Backgrounds and theories (72 p.), II- Forms and functions (58 p.) e III –Contexts and variations (74 p.), três Apêndices (A note on transcription and corpus analysis; New words for old /Creative use of the –y and -ish suffixes; CANCODE publications 1994 – 2003), Referências (18 p.) e um Índice (6 p.).

Cada parte está dividida em dois capítulos que variam de 16 a 49 páginas. Os títulos dão uma idéia da abrangência e variedade temáticas ali tratadas: Approaches to creativity (artistic, psychological, sociocultural); Lines and clines: linguistic approaches; Creativity and patterns of talk; Creativity, language and social context; Creativity, discourse and social practice.

Na Introduction, Carter espirituosamente conta detalhes da gênese de seu livro, enfatiza sua convicção da importância da criatividade na interação falada cotidiana e questiona a tradição de considerar-se os usos lingüísticos criativos primordialmente através da língua escrita. A literatura escassa a respeito da criatividade lingüística no uso do inglês falado motivou-o a pesquisá-la minuciosamente, com base no corpus de 5 milhões de palavras, disponível em sua universidade.

A organização dos capítulos é exemplar: a uma introdução, seguem-se desenvolvimento, conclusão, notas e sugestões para aprofundamento (Exploring further). Louve-se a interdisciplinaridade da bibliografia, que abrange títulos de 1935 a 2004. Lingüistas não-iniciados na inspiradora área dos Estudos Criativos ali encontrarão fontes valiosas que podem ser facilmente complementadas por outras em obras imperdíveis como a Encyclopedia of Creativity (1999).

Dado o interesse deste resenhador em usos criativos de português e de inglês como línguas estrangeiras e uma predileção por enfoques cognitivos no estudo da criatividade, examinei atentamente as opções lexicais do autor, ao referir-se à criatividade. Pude, assim, constatar que Carter prefere phenomenon (cf. páginas 9,10,12, 13,30,41,48, 140,170, 215). Também ocorrem, com bem menor freqüência: property, capacity e process. Saliente-se a frase seminal do autor, à página 13: linguistic creativity is not simply a property of exceptional people but an exceptional property of all people, parafraseada à página 215 desta maneira: Creative language is not a capacity of special people but a special capacity of all people.

Leitores com formação em Lingüística Aplicada, atuantes no Ensino-Aprendizagem de Línguas, poderão achar breve demais a seção Creativity in the language classroom (213-214), mas considerando-se a intenção principal de Carter – demonstrar a importância da criatividade lingüística como área de pesquisa teórica e aplicada – seria injusto esperar mais. Um exemplo de expectativa deste leitor, não satisfeita na obra: o papel criativo da paráfrase ou, para usar o termo de Carter (comunicação pessoal), paraphrase creativity, a qual, segundo o colega britânico, receberá a devida atenção em sua próxima pesquisa, centrada nos usos criativos de inglês por aprendizes do idioma.

Em suma, um marco na história da área de Linguagem e Criatividade, ou para metaforizar (figuras de linguagem são também objeto deste magistral volume), uma mina, riquíssima de insights e de exemplos de criatividade conversacional. Um livro que, por sua excepcional abordagem qualitativa e base quantitativa, já está dando o que falar. Parabéns ao criativautor e à sua inovadoreditora.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Jul 2005
  • Data do Fascículo
    Dez 2004
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