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Mea culpa e autopunição: o colaboracionista em Não falei, de Beatriz Bracher, e o desertor em Azul-corvo, de Adriana Lisboa

Mea Culpa and Self-Punishment: The Collaborationist in Beatriz Bracher’s Não falei and the defector in Adriana Lisboa’s Azul-corvo

Mea culpa y autopunición: el colaboracionista en Não falei, de Beatriz Bracher y el desertor en Azul-corvo, de Adriana Lisboa

Resumo

Este estudo comparativo entre as obras Não Falei (2004), de Beatriz Bracher, e Azul-Corvo (2012), de Adriana Lisboa, tem por objetivo analisar representações dos mecanismos de transferência de responsabilidade do Estado aos cidadãos comuns pelos crimes de lesa humanidade cometidos durante o período de Ditadura Militar no Brasil. Apoiados no pensamento de Žižek (2012ŽIŽEK, Slavoj (2012). Violence: la violence n’est pas un accident de nos systèmes, elle en est la cause. Paris: Au Diable Vauvert.), observamos como os indivíduos, através dos papéis de delator e desertor, são responsabilizados pelos atos de “violência subjetiva” cometidos pelo regime, desconsiderando-se uma “violência sistêmica” primordial. Retirados de um contexto lógico causal, esses atos são igualados e julgados fora do sistema jurídico, analisados dentro das esferas pessoais, segundo apreciações morais e afetivas. À luz das reflexões de Ricœur (2000RICŒUR, Paul (2000). La mémoire, l’histoire et l’oubli. Paris: Seuil.) sobre os abusos do esquecimento, veremos como a “Lei da Anistia” solidifica esse processo alienante que, em prol da criação de uma “unidade imaginária” nacional, dilui todos os crimes políticos na amálgama uniforme do perdão. O conceito de “memória subterrânea” de Pollak (1993POLLAK, Michael (1993). Une identité blessée. Paris: Éditions Métaillié .) nos ajudará a observar o abuso existente também no dever de memória, por forçar a penetração do coletivo no invólucro das memórias individuais. Mostraremos, por fim, como o imaginário, ponto de contato entre a literatura e a história, segundo White (1987WHITE, Hayden (1987). The content of the form. Narrative discourse and historical representation. Baltimore: The Johns Hopkins University Press.), revela-se um recurso essencial para lembrar ou esquecer livremente, acolhendo essas “memórias subterrâneas”.

Palavras-chave:
Ditadura Militar; dever de memória; Guerrilha do Araguaia; tortura

Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea, Programa de Pós-Graduação em Literatura da Universidade de Brasília (UnB) Programa de Pós-Graduação em Literatura, Departamento de Teoria Literária e Literaturas, Universidade de Brasília , ICC Sul, Ala B, Sobreloja, sala B1-8, Campus Universitário Darcy Ribeiro , CEP 70910-900 – Brasília/DF – Brasil, Tel.: 55 61 3107-7213 - Brasília - DF - Brazil
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