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“A sorte sorriu para mim”: sorte ou estratégia de evitamento da escola pública ‘comum’? 1 1 Pesquisa financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG - (APQ-02196-14), (APQ-02544-14)), e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq - Processo 446638/2014-5).

“Luck smiled at me”: luck or strategy of avoidance of the ‘ordinary’ public school?

RESUMO

Este artigo tem por objetivo investigar as razões de escolha por uma escola pública diferenciada para famílias que, por constrangimentos materiais, não poderiam escolher um estabelecimento de ensino privado para seus filhos. Situa a discussão no campo da relação família-escola, analisando as razões da escolha da escola pelas famílias investigadas, entre elas o evitamento da escola pública ‘comum’. Toma como unidade empírica de análise a escola de ensino fundamental vinculada à Universidade Federal de Minas Gerais (Centro Pedagógico-UFMG), cujo ingresso é possível apenas por meio de um sorteio de vagas aberto a qualquer interessado. As evidências empíricas sugerem que em um ambiente menos segregado, como a escola analisada, as disposições para a aprendizagem podem ser melhor potencializadas, revelando a pertinência de estudos que levem em consideração o contexto institucional conjugado às práticas educacionais na trajetória escolar do aluno, que na literatura tem sido abordado pelos estudos sobre ‘efeito-escola’.

Palavras-chave:
escolha dos estabelecimentos escolares; mobilização familiar; desigualdades escolares; relação família-escola; efeito-escola, efeito-professor

ABSTRACT

This article aims to investigate the reasons for choosing a differentiated public school for families who, because of material constraints, could not choose a private educational institution for their children. It situates the discussion in the field of the family-school relationship, analyzing the reasons for the choice of the school by the families investigated, among them the avoidance of the 'common' public school. It takes as an empirical unit of analysis the elementary school linked to the Federal University of Minas Gerais (Pedagogical Center-UFMG), whose entrance is possible only through a lot of vacancies open to any interested party. The empirical evidence suggests that in a less segregated environment, such as the analyzed school, the dispositions for learning can be better potentiated, revealing the pertinence of studies that take into account the institutional context conjugated to the educational practices in the student's academic trajectory, that in the Literature has been addressed by 'effect-school' studies.

Keywords:
Choosing School Institutions; Family Mobilization; Scholarship Inequalities; Family-School Relationship; Effect-School; Effect-Teacher.

Introdução

O locutor oficial da 'Loteria Mineira' anunciava o número e depois o nome do candidato. Assim, foram sucedendo-se os sorteios: o primeiro, o segundo, o terceiro... o oitavo, o nono, o décimo. Nessa altura, os "sortudos" se manifestavam com gritos, assobios e aplausos, vibrando com a sorte que lhes sorria. Depois, vinha o silêncio e era novamente 'cantado' um novo número. Quando acontecia de sair um número acima da quantidade de candidatos, era desconsiderado, logicamente; mais um momento onde a expectativa e a emoção tomavam conta de cada espectador. Ao perceber que o número esperado não saíra, instintivamente eu fechava os olhos, fixava a mente no número em que fora inscrito o meu netinho e pensava positivamente: é agora, ele vai ser o próximo! (O Sorteio, por Ceres Damasceno, 2008)2 2 Crônica publicada em: <http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/1339300>, consultado em novembro de 2011. .

Este artigo se propõe a analisar, valendo-se de um evento bem circunscrito3 3 A inscrição dos filhos para um sorteio de vagas em uma escola pública federal, de ensino fundamental. , como se articulam dois temas caros para a sociologia da educação: a relação família-escola e suas estratégias de mobilização para a escolha/evitamento do estabelecimento escolar pelas famílias. Tais ações não são excludentes e se afirmam com base em uma literatura mais ampla que tem crescido nas últimas décadas (BROCCOLICHI, 1997BROCCOLICHI, S.; VAN ZANTEN, A. Espaces de concurrence et circuits de scolarisation. L’evitement de collèges publics d’un ditrict de la banlieu parisienne. Annales de la Recherche Urbaine, 75, 1997. p. 5-17.; VAN ZANTEN, 2001VAN ZANTEN, A. L’école de la périphérie: Scolarité et ségregation en banlieu. Paris: PUF , 2001.; 2009VAN ZANTEN, A. Choisir Son École: Stratégies familiales et médiations locales. Paris: Presses Universitaires de France, 2009.; FRANÇOIS & POUPEAU, 2008FRANÇOIS, J. C.; POUPEAU, F. Les déterminants sócio-spatiaux du placement scolaire: Essai de modélisation statistique. Revue Française de Sociologie, 2008.; ALVES, 2010ALVES, F. Escolhas Familiares, Estratificação Educacional e Desempenho Escolar: Quais as relações? Dados, Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, v. 53, n. 2, 2010, p. 447-468.; COSTA & KOSLINSKI, 2011COSTA, M. da; KOSLINSKI, M. C. Quase-mercado oculto: disputas por escolas ‘comuns’ no Rio de Janeiro. Cadernos de Pesquisa, v. 41, n. 142, jan./abr. de 2011., entre outros). A escola em foco é a escola de ensino fundamental vinculada à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) denominada Centro Pedagógico (CP), onde o ingresso é possível apenas por meio de sorteio.

O CP foi fundado pela Faculdade de Filosofia da UFMG em 1954 e funcionou como um ginásio de aplicação destinado à prática docente de alunos matriculados no curso de didática. A partir de 1958, com a expansão das políticas educacionais, a escola ampliou sua oferta de cursos para os níveis científico, clássico e normal. A partir de 1968, com a reforma universitária, o CP se integrou à Faculdade de Educação (1971) e conjuntamente ao Colégio Técnico (COLTEC) passou a abarcar formações de 1º e 2º grau e cursos técnicos de nível médio (1981). Com a Resolução nº 05/2007 seu atual arranjo institucional foi estabelecido com a integração do CP, do COLTEC e do Teatro Universitário (TU) que, juntos, compõem a Escola de Educação Básica e Profissional da UFMG.

A atual modalidade de ingresso por meio de sorteio foi instituída em 1993, com o intuito de democratizar o acesso à escola e evitar seletividade que favorecesse qualquer grupo social. Em consequência, a disputa por vagas se tornou bastante acirrada. No ano escolar de 20164 4 A partir do ano de 2016, segundo a Resolução n.15/2016 de 9 de agosto do corrente ano, para o sorteio de vagas para o Centro Pedagógico, a UFMG utiliza números sorteados da Loteria Federal. É necessário um procedimento de conversão em novos números, de forma que todos os candidatos tenham chances absolutamente iguais. Para mais detalhes, consultar: <https://www.ufmg.br/copeve/Arquivos/2016/cp_edital_ufmg2017.pdf >. , as 50 vagas do primeiro ano do Ensino Fundamental foram disputadas por 1.353 inscritos, com 47 vagas destinadas à ampla concorrência e 3 vagas para crianças com algum tipo de deficiência5 5 O que corresponde a 5% do total das vagas ofertadas. .

As famílias, para as quais a sorte lhes “sorriu” e que conseguem uma vaga na escola para o filho, têm nesse evento uma chance para mudar o destino escolar que seria dado pelo Cadastro Escolar, modalidade de ingresso na rede pública de Minas Gerais, a qual garante uma vaga para todas as crianças na rede pública de ensino6 6 Pelo sistema de Cadastro Escolar, as crianças cadastradas para o primeiro ano do Ensino Fundamental são designadas para escolas localizadas, prioritariamente, a até 300 metros de sua residência (PINTO, 1999). . Assim, o elemento “sorte” opera de forma análoga ao que ocorre com um apostador eventual que gasta alguns reais em uma aposta mínima na loteria. Se ele não for sorteado (o que é o mais provável para a maioria absoluta dos apostadores), nada vai mudar em sua vida. Apenas ele gastou um valor que poderia ser usado com coisas mais importantes. Mas se o apostador ganhar, ora, a sua vida nunca mais será a mesma. Muda tudo.

Há evidências de que as famílias que inscrevem seus filhos no concorrido sorteio de vagas do CP denotam uma valorização simbólica sobre sua qualidade de ensino, principalmente em virtude da vinculação à universidade federal (CASTRO, 2002CASTRO, R. M. P. de C. Os sentidos da escola engendrados no cotidiano escolar e nas vivências familiares de alunos do ensino fundamental. 137 p. 2002. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Educação, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, 2002. ; RESENDE; NOGUEIRA; NOGUEIRA, 2011RESENDE, T. de F.; NOGUEIRA, C. M.; NOGUEIRA, M. A. Escolha do estabelecimento de ensino e perfis familiares: uma faceta a mais das desigualdades escolares. Educação & Sociedade, v. 32, n. 117, p. 953-970, 2011. ). Mas, mesmo aquelas famílias que não tiveram a mesma sorte devem também possuir uma imagem simbólica positiva da escola, embora os seus filhos tenham tido outro destino escolar.

Nossas reflexões sobre a ‘escolha’ por essa escola pública diferenciada têm como referência uma amostra de 20 alunos e suas respectivas famílias. Esse grupo foi selecionado com base na coorte de 91 alunos matriculados na escola em 2005, que participaram de um estudo longitudinal denominado Pesquisa Geres, o qual acompanhou alunos de 61 escolas públicas e privadas de Belo Horizonte, por meio de aplicação de testes e questionários respondidos por familiares7 7 Projeto Geres - Estudo Longitudinal da Geração Escolar 2005, pesquisa que acompanhou, de 2005 a 2008, a evolução da proficiência escolar de cerca de 21.000 alunos do Ensino Fundamental de cinco cidades brasileiras (denominadas polos), por meio da aplicação de cinco “ondas” de testes de Língua Portuguesa e de Matemática - a primeira realizada no início de 2005, quando os alunos começavam a 1ª série, e as demais, aplicadas no final da 1ª, da 2ª, da 3ª e da 4ª séries. Para maiores informações sobre o Projeto Geres, consultar Franco, Brooke, Alves (2008). .

Em 2008, uma parte desses alunos foi sorteada para um survey domiciliar junto a suas respectivas famílias, a fim de investigar diferenças mais sutis entre elas. Com o intuito de homogeneizar essa amostra e possibilitar que diferenças secundárias entre as famílias se destacassem, a amostra do survey foi extraída de famílias com nível socioeconômico médio ou inferior.

Assim, dos 91 alunos da escola federal que fizeram parte da Pesquisa Geres, 35 famílias pertencentes ao estrato inferior foram sorteadas para o survey domicilar. Portanto, a amostra de 20 alunos cujas famílias foram entrevistadas está integrada a duas pesquisas prévias mais abrangentes. Estas serão mencionadas ao longo deste artigo sempre que os dados mais amplos forem importantes para elucidar os achados obtidos com as entrevistas8 8 As 20 famílias fazem parte de um estudo qualitativo mais amplo que compreendeu a realização de entrevistas com 80 famílias. Estas foram selecionadas segundo quatro tipos de escola frequentadas pelos alunos: escolas privadas, escolas públicas estaduais e municipais de maior desempenho, escolas públicas estaduais e municipais de menor desempenho e escola pública federal. Importante frisar que essas famílias foram selecionadas da base de dados constituída pelo survey domiciliar cuja amostra foi sorteada da Pesquisa Geres. Na seleção da amostra do survey foi retirado o quintil superior do nível socioeconômico dos alunos que fizeram a Pesquisa Geres em Belo Horizonte a fim de isolar a variável dependente em relação ao desempenho escolar dos alunos. Ou seja, entre as famílias entrevistadas não estão representados os segmentos mais privilegiados que porventura estudavam nessas escolas. .

As 20 famílias foram divididas em dois grupos: 10 cujos filhos apresentavam maior desempenho na pesquisa Geres, e 10 cujos filhos apresentavam menor desempenho. O contraste entre maior e menor desempenho dos filhos se justificou pela hipótese da pesquisa: a de que quanto mais mobilizada a família, maiores as chances de o filho ter um melhor desempenho.

Ao longo de seis meses de trabalho de campo9 9 A pesquisa de campo foi realizada entre fevereiro e julho de 2011. , as entrevistas foram realizadas predominantemente nas residências dos entrevistados e registradas em áudio, totalizando 1.260 minutos de gravação. Em 70% das famílias, a mãe foi a entrevistada. Nos outros casos, os entrevistados foram as avós maternas ou os pais responsáveis.

O interesse pelas razões da opção das famílias por ‘tentar a sorte’ no CP insere-se na temática mais ampla que é a da escolha dos estabelecimentos escolares (VAN ZANTEN, 2009VAN ZANTEN, A. Choisir Son École: Stratégies familiales et médiations locales. Paris: Presses Universitaires de France, 2009.; DURU-BELLAT; VAN ZANTEN, 2009BELLAT-DURU, M.; VAN ZANTEN, A. Sociologie du système éducatif: les inégalités scolaires. Paris: PUF, 2009.). Segundo essa literatura, mesmo os grupos sociais desfavorecidos dispõem de estratégias para enfrentar a exígua oferta escolar considerada de qualidade para as famílias desses grupos sociais.

O caso CP é particularmente interessante para a análise dessa temática porque a escola apresenta algumas peculiaridades que merecem ser mencionadas: a escola tem uma boa infraestrutura, a composição do corpo docente passa por critérios de estabilidade, renda e nível de profissionalização que não encontra semelhança entre suas parceiras públicas ‘comuns’, bem como sua localização privilegiada10 10 A escola analisada situa-se no interior do Campus da UFMG, na região da Pampulha. .

Outro diferencial é a composição social dos alunos, em princípio bastante heterogênea, uma vez que o processo de recrutamento da escola ocorre por meio de um sorteio. Esse fato impõe restrições ao modelo segregativo das famílias que podem pagar pela escolarização de seus filhos e que tendem a escolher escolas com públicos e perfis cada vez mais homogêneos. Mas o CP se distingue do processo de seleção de outras escolas públicas federais, sobretudo os Colégios de Aplicação, que tendem a selecionar seus alunos por intermédio de testes.

As questões que nortearam nossas indagações partiram então da seguinte premissa: se todas as famílias, independentemente do seu pertencimento social e capital escolar, têm estratégias educativas, quais seriam as estratégias das famílias do CP ao inscreverem seus filhos no sorteio? Se a literatura sobre o tema afirma que as informações escolares não são equitativamente distribuídas entre as famílias (LE PAPE; VAN ZANTEN, 2009LE PAPE, M.; VAN ZANTEN, A. Les pratiques educatives des familles. In: DURU-BELLAT, M.; VAN ZANTEN, A. (Org.). Sociologie du système éducatif: les inégalités scolaires. Paris: PUF , 2009.), como as famílias investigadas obtiveram tais informações? Como e quais seriam suas estratégias de mobilização escolar? Qual o efeito de uma composição escolar em princípio bastante heterogênea para o desempenho escolar dos seus filhos?

A fim de elucidar tais questões, o artigo foi organizado em três partes, além desta introdução. Na próxima seção, apresentamos os referenciais teóricos que animam a pesquisa, no âmbito da relação família-escola e da escolha do estabelecimento escolar; na seção seguinte, descrevemos as famílias entrevistadas quanto ao perfil e às razões da escolha. Por último, as considerações finais da análise.

A relação família-escola e a escolha do estabelecimento escolar na literatura sociológica

O estudo da relação família-escola constitui um campo fértil para se compreender as conexões entre as desigualdades sociais e as desigualdades escolares. Pode-se dizer que a primeira tradição desses estudos esteve voltada, principalmente, para os fatores posicionais do grupo familiar (renda, ocupação, nível de escolaridade, raça) e para suas características morfológicas (número de filhos, arranjo familiar, lugar da criança na fratria, etc.), fazendo destas suas variáveis “independentes” a serem correlacionadas estatisticamente com a variável “dependente” do desempenho escolar (FORQUIN, 1995FORQUIN, J. Abordagem sociológica do sucesso e do fracasso escolares: desigualdades de sucesso escolar e origem social. In: FORQUIN, J.-C. (Org.). Sociologia da Educação: dez anos de pesquisa. Petrópolis: Vozes , 1995.).

Nas décadas de 1960-70 do século XX, ganham hegemonia as chamadas teorias da reprodução, as quais, numa reação às abordagens funcionalistas até então predominantes, que insistiam no papel de mobilidade social desempenhado pelo sistema de ensino, tratam-no como um mecanismo central de conservação de uma sociedade desigual (BOURDIEU, 1970BOURDIEU, P.; PASSERON, J. La reproduction: éléments pour une théorie du système d’enseignement. Paris: Éd. de Minuit, 1970.).

Tais estudos podem ser reconhecidos na teoria da reprodução cultural de Pierre Bourdieu (1970BOURDIEU, P.; PASSERON, J. La reproduction: éléments pour une théorie du système d’enseignement. Paris: Éd. de Minuit, 1970.), autor que formaliza uma constatação já feita pelos estudos empíricos anteriores: a de que as dimensões culturais da esfera familiar preponderam sobre as econômicas, no que se refere a seu impacto sobre os processos escolares (BOURDIEU, 1998BOURDIEU, P. Os três estados do capital cultural. In: NOGUEIRA, M. A.; CATANI, A. Escritos de educação. Petrópolis: Vozes, 1998.).

A partir da década de 1980, sobretudo na França, alguns estudos passam a aprofundar o ângulo sobre as práticas de escolarização das famílias. Em 1982, Ballion lança o livro Les consommateurs de l’école, trazendo à cena as demandas por educação em termos de estratégias. A educação é tomada então como um bem de consumo comum, o que faz com que o tema sobre a escolha do estabelecimento de ensino se torne crucial nas análises sobre as desigualdades sociais e as desigualdades escolares.

Pouco a pouco, a sociologia da relação família-escola vai se delimitando enquanto um campo de estudo, complexificando seus objetos de interesse e trazendo problemáticas que se renovam a partir da década de 1990, sobretudo em torno dos determinantes ‘das escolhas das famílias’.

Para Van Zanten e Broccolichi (1997BROCCOLICHI, S.; VAN ZANTEN, A. Espaces de concurrence et circuits de scolarisation. L’evitement de collèges publics d’un ditrict de la banlieu parisienne. Annales de la Recherche Urbaine, 75, 1997. p. 5-17.), as estratégias de evitamento estariam menos relacionadas ao medo de socializar e escolarizar as crianças longe dos meios populares do que as diferenças de percepção do espaço escolar e a recursos desiguais para orientar-se nesse espaço. Convém salientar que é também a partir da década de 1990 que a questão socioespacial passa a se constituir em uma variável importante nas escolhas e decisões familiares, na mesma proporção em que as grandes cidades passam por um processo de gentrificação11 11 Entende-se por gentrificação o processo de revitalização dos espaços urbanos ou a aparente substituição de paisagens de caráter popular por construções típicas de área nobre. Esse processo tende a expulsar os moradores das periferias, trazendo como resultado sua emigração para áreas ainda mais periféricas. Por isso que a questão local passa a ter relevância nas análises sobre a desigualdade social. : o evitamento escolar tem efeitos locais importantes, pois afeta a composição social dos estabelecimentos.

Entre os grupos sociais com maiores recursos econômicos e culturais, as escolhas dos estabelecimentos de ensino, segundo Van Zanten (2011) estão ligadas aos objetivos educativos das famílias e aos valores que as animam: as classes média e alta que procuram ambientes menos ‘heterogêneos’. Tais famílias podem utilizar várias estratégias (mudança de bairro, residência, escola, etc.) afirmando assim a seletividade econômica dos melhores estabelecimentos privados, reforçada pelo capital social das famílias que se autosselecionam (VAN ZANTEN, 2011, p. 401).

Não por acaso, segundo a autora supracitada, os estabelecimentos públicos e privados ‘colonizados’ por essas famílias são aqueles que têm os melhores resultados, pois são aqueles que recrutam os melhores alunos, tanto do ponto de vista social quanto do ponto de vista acadêmico.

Assim, um dos nossos objetivos, por meio deste artigo, é investigar como se opera a relação entre a oferta e a demanda (do ponto de vista das famílias) por uma escola pública ‘diferenciada’, cuja matrícula ocorre por meio de um sorteio.

Perfil das famílias com filho na escola federal

As famílias que se inscrevem no sorteio têm o perfil social muito variado. As características distintivas do CP - sua vinculação à UFMG e a forma de ingresso por sorteio - além de a diferenciarem em relação às outras escolas públicas comuns, impactam na constituição desse perfil. Outro fator que gera esse impacto é a distância do CP em relação aos bairros predominantemente residenciais. Segundo os dados coletados no survey domiciliar, a maioria dos alunos da nossa amostra reside em bairros localizados entre cinco a quinze quilômetros da escola.

Essa dispersão não é típica nas outras escolas públicas da cidade (municipais e estaduais), nas quais o ingresso é organizado por meio do Cadastro Escolar que designa a escola mais próxima da residência das crianças. Por isso, o acesso ao CP não é simples, exigindo que a maioria das famílias, uma vez tendo optado por ocupar a vaga sorteada, tenha que arcar com despesas com o transporte escolar. O CP, por meio da fundação de apoio estudantil da universidade, pode oferecer um auxílio transporte para alunos mais carentes. Mas essa informação não é amplamente divulgada antes do ingresso12 12 Informação obtida em uma entrevista com um professor da escola que ocupa um cargo de coordenação. .

Entre as famílias que se inscrevem no sorteio do CP, há aquelas cujas possibilidades educativas dos filhos se limitam à rede pública de ensino. Ao se inscreverem no sorteio, essas famílias já devem ter feito o Cadastro Escolar, uma vez que ele ocorre em data anterior ao sorteio. Caso o filho não seja escolhido, a vaga estará garantida na escola pública mais próxima à residência da família. Mas há também algumas famílias mais privilegiadas que porventura se inscrevem no sorteio e também precisam de uma alternativa. Nesses casos, significa, quase sempre, buscar por uma escola privada que, geralmente, inicia suas matrículas ou reserva de vagas no ano anterior ao ingresso.

Entre as famílias mais favorecidas, também deve haver alguma seletividade nas inscrições para o sorteio. Tipicamente, essas famílias fazem a escolha da escola dos filhos em vez de serem escolhidas como consumidores de escolas (NOGUEIRA, 1998NOGUEIRA, M. A. A escolha do estabelecimento de ensino pelas famílias: a ação discreta da riqueza cultural. Revista Brasileira de Educação, v. 7, p. 42-56, jan./abr. 1998.; POUPEAU, 2011POUPEAU, F. Escolhas Escolares das Famílias. In: VAN ZANTEN, A. (Coord.). Dicionário de Educação . Petrópolis: Vozes , 2011. p. 398-402.). A opção pela inscrição no sorteio denota que essas famílias consideram a possibilidade de oferecer ao filho uma educação pública diferenciada, não obstante o perfil mais diverso do alunado em comparação com as escolas privadas seletivas.

Assim, os inscritos devem representar um espectro variado de famílias, com maior concentração nos setores médios da população da cidade, tendo em vista que os extremos - os mais pobres e os mais ricos - operam com condicionantes e restrições que os autosselecionam.

Um estudo realizado por Alves e Soares (2012ALVES, M. T. G.; SOARES, J. F. Medida de nível socioeconômico de alunos e escolas com as informações das avaliações educacionais em larga escala. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS, 36., GT06: Desigualdade e Estratificação Social. Águas de Lindoia, São Paulo, 21 a 25 de out. de 2012. São Paulo, 2012.) corrobora com essa descrição. Os autores estimaram o Nível Socioeconômico (NSE) de quase setenta mil escolas públicas e privadas de educação básica em todo o Brasil13 13 Os autores fizeram uso das informações dos questionários contextuais produzidos pelas avaliações em larga escala pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que têm informações sobre alunos matriculados em escolas públicas e privadas. Os dados foram publicados no site www.qedu.org.br e são disponibilizados, sob requisição por escrito, pelos autores do trabalho para pesquisa acadêmica. . Os resultados foram posicionados numa escala de zero a dez pontos, do mais baixo ao mais alto NSE. Em Belo Horizonte, as escolas particulares possuem, em média, o NSE de 7,5; as escolas municipais e estaduais, em média, têm o NSE de 5,4; e as escolas federais, 6,7.

O CP está neste último grupo. Ou seja, a escola apresenta um alunado com perfil intermediário entre as escolas públicas não federais e as escolas privadas. Isso nos permite inferir que o perfil social dos alunos do CP compreende um espectro mais amplo, com famílias de todos os tipos, ao passo que as demais tendem a ser mais segmentadas.

As 20 entrevistas realizadas com famílias de alunos entre as menos favorecidas matriculadas no CP têm por objetivo investigar as expectativas construídas pelas famílias valendo-se da vaga conquistada por meio do sorteio em uma escola pública federal de Ensino Fundamental. Na próxima seção, a atenção se volta para as motivações da escolha e para as estratégias familiares dirigidas à escola após o ingresso no Centro Pedagógico.

Assim como seus filhos, os pais precisam passar por um intenso aprendizado dos nuances institucionais, por uma difícil aproximação do universo escolar dos filhos e por uma forçosa incorporação da perspectiva pedagógica da escola que se distingue essencialmente da educação da rede pública estadual e/ou municipal.

A ‘escolha’ da escola federal pelas famílias entre os grupos de alunos com maior e menor desempenho escolar

Como vimos anteriormente, a acirrada disputa por uma escola pública diferenciada, como é o caso do CP, conta hoje unicamente com o fator ‘sorte’. Sem poder selecionar os alunos, o CP tornou-se uma escola ‘diferenciada’, na medida em que desfruta de condições (físicas e estruturais) melhores do que suas parceiras da rede pública comum, porém, deixou de ser a opção de famílias de camadas médias intelectualizadas, como pais, professores da UFMG que, anteriormente ao sorteio, faziam uma clara opção por essa escola.

Após quase duas décadas de vigência do sorteio no CP, é possível avaliar que essa opção cumpriu, em certa medida, aquilo a que se propunha, porém sua aleatoriedade não produziu uma seleção de candidatos absolutamente imparcial e equânime. Para discutir o quanto o sorteio tornou mais democrático o ingresso na escola federal, pode ser esclarecedora a análise de como o grupo de famílias menos favorecidas cujos filhos foram sorteados para a escola fez sua escolha pelo CP.

Aqui temos alguns exemplos das razões da escolha da escola pelas famílias entrevistadas. Pelo fato do grupo das 20 famílias ser relativamente homogêneo, do ponto de vista do nível socioeconômico, pode-se dizer que a razão da escolha do estabelecimento de ensino, para ambos os grupos, foi evitar a escola pública comum em busca de maiores oportunidades educacionais.

De modo geral, o destino da grande maioria dos filhos das 20 famílias, caso não fossem sorteados pelo CP, seria a matrícula em uma escola pública direcionada pelo cadastro escolar.

[...] Eu sempre morei aqui, meus irmãos já fizeram prova para poder estudar lá, porque antes era prova, não era sorteio. A gente pegava livro na Biblioteca, então o CP sempre teve um nome, uma postura muito boa. Então a gente sonhava com isso. Como nenhum de nós conseguimos eu comecei a sonhar para meu filho, então fiz a inscrição, fui lá no dia do sorteio e fiquei desesperada igual a uma louca, ele não passou, aí teve um sorteio para as vagas dos desistentes. Eram 30, ele ficou como 2º. na lista de espera; depois de um mês teve desistentes e ele passou: era da sorte dele, do destino. Foi assim que ele entrou e já está no 8º ano (S.- mãe de P.- grupo de maior desempenho).

É importante ressaltar que, em um grupo de 20 famílias, quatro delas nomearam como a razão da escolha a reputação da escola e, em ambas, havia alguém da família que havia estudado na UFMG ou então trabalhado nessa instituição. A reputação que eles têm da escola não está mais em compasso com a qualidade do ensino oferecido atualmente pela escola, se comparado à época em que a admissão era feita por vestibulinho.

Para esse tipo de família, não se verifica o ‘evitamento’ da escola pública propriamente dito, mas a busca por melhores oportunidades educacionais, ao se imaginar as vantagens que é possível obter por meio de uma escola que se situa no interior da maior universidade de Minas Gerais. Veremos que para essas 20 famílias, o ingresso no CP representa a promessa de ingressar em uma universidade pública, após ter chance de passar por um percurso ‘virtuoso’ na educação básica dentro da Universidade (o CP e o COLTEC).

Nesse grupo, observamos também uma clara estratégia motivada pelas relações secundárias (amigos, vizinhos, professor, etc.), uma vez que lembram o tipo de ‘informação quente’ aludido por Van Zanten (2009). Tais informações sinalizam também para a busca de maiores oportunidades educacionais:

[...] foi o ambiente que me motivou: a segurança de uma escola que o contato público é impedido pela localização - estar dentro da UFMG, isso já dá uma certa segurança para a gente, não está na rua [...] é uma área fechada e inibe quem está por ali; outra coisa é a UFMG, que já te traz a ideia de qualidade de ensino e a projeção do COLTEC que já dá essa visão de boa [...] de continuidade no estudo. (A.- pai de L.- grupo de maior desempenho).

No grupo das 20 famílias analisadas, há também aquelas que fizeram a escolha pelo fator da aleatoriedade, ou seja, tanto para o grupo de maior quanto o grupo de menor desempenho, a busca por uma escola diferenciada da escola pública comum não fazia parte de um projeto familiar pregresso, nem tampouco contou com um capital estratégico de informações. A alusão ao prêmio na loteria se aplica para esse grupo, pois, sem nada esperar da escola pública comum, uma vez sorteado pelo CP, as famílias creditam à escola a possibilidade de mudar de vida, ter um futuro melhor e tirar proveito do lugar conquistado.

As estratégias e contingências que orientam a escolha da escola não diferem quase nada de um grupo familiar para outro (o de maior e o de menor desempenho), como atestam os excertos a seguir.

Nesse grupo, predomina igualmente o ‘conhecimento informacional da escola’, por meio de contatos mais primários. Essas informações são familiares a esse grupo, uma vez que, tanto para as famílias de maior quanto menor desempenho, havia a proximidade de um parente próximo que estudou ou que trabalhou/trabalha na UFMG.

Há também um número não negligenciável de escolhas motivadas pela sugestão de amigos, o que tipificamos na pesquisa de ‘relações secundárias’. Esse grupo não consegue afirmar com precisão qual foi o motivo que o fez concorrer a uma vaga em uma escola pública federal. O conselho de amigos ou de pessoas próximas teve um papel decisivo na motivação para a inscrição no sorteio.

A escolha da escola impulsionada por eventos ocasionais não é algo menor na pesquisa. É significativo o número de entrevistados, tanto no grupo de maior quanto de menor desempenho, que afirma que a inscrição no CP foi mero acaso. Temos o exemplo de N., avó de N., que era amiga de uma senhora que tinha um comércio e pediu para a entrevistada pagar a taxa no banco para a filha. A entrevistada resolveu então fazer a inscrição para a neta, da mesma idade, sem nem saber o que era o CP. A neta ficou em 9o lugar na lista reserva da escola. A avó disse que tentou uma vaga para todos os netos, inclusive os irmãos de L., mas só L. foi contemplada. A alusão de que a Universidade e o seu interior são um campo ‘fechado’, quase secreto, aparece como um dos principais obstáculos a ser enfrentado e vencido pelo sorteio.

Uai! Eu fiquei sabendo da escola através de uma amiga minha, uma dona conhecida minha que conversando com ela, ela tinha uma loja de comércio aqui embaixo na Vilarinho, conversando com ela, ela me falou. Aí ela também tem uma menina da idade da L. e ela estava na loja, não tinha com quem ficasse na loja pra ela, pra ela ir no banco pagar, aquela taxa, sabe? Eu fui e me ofereci pra ela, ela que foi me explicar. Aí eu fui e falei assim “Ah! então eu também vou fazer para minha netinha, uai! Que tem minha netinha que é da idade da menina, quem sabe eu consigo.” Ela foi e me explicou e aí eu fiz tudo que ela falou, quando foi no outro dia eu fui pagar a taxa minha, da L. e a dela, no banco (N.- avó de L.- grupo de menor desempenho).

Para as famílias que inscreveram seus filhos no sorteio, motivadas pela indicação de parentes ou amigos, percebe-se que estas creditam um grande valor simbólico à escola, mencionando sua boa reputação. Parecem fazer uso de um capital de informações sobre a escola derivado de uma rede de relações pessoais. As informações sobre o universo escolar são relativamente familiares, uma vez que havia a proximidade de um parente próximo que estudou ou que trabalhou/trabalha na UFMG.

Evitar a escola pública comum representa a busca por melhores oportunidades educacionais, quando se pensa nas vantagens que é possível obter por meio de uma escola que se situa no interior da maior universidade do Estado de Minas Gerais. Para uma boa parte dessas famílias, o ingresso no CP é a promessa de ingressar em uma universidade pública, após ter passado pelo percurso da educação básica dentro da Universidade (o CP e o COLTEC14 14 Convém salientar que na ocasião de realização da pesquisa com as famílias, havia no Colégio Técnico da UFMG (COLTEC) uma reserva de vagas destinadas aos alunos egressos do Centro Pedagógico. Todavia, a partir de 2014, segundo uma resolução do CEPE da UFMG, houve a decisão do Conselho da Universidade de que a reserva de vagas entre uma unidade e outra fosse sendo progressivamente extinta até o ano de 2018. Para mais informações, consultar: <http://www.coltec.ufmg.br/coltec/index.php/noticias-e-eventos/208-decisao-do-cepe-ufmg-sobre-processo-seletivo-do-coltec>. ).

Se não se pode falar aqui em mobilização, é possível pensar que a razão da escolha pelo sorteio evidencia a tentativa de burlar o destino da maioria, ou seja, a matrícula em uma escola pública comum, definida pelo Cadastro Escolar. Tais famílias, constrangidas a não poder fazer escolhas para a escola do filho, esperam do sorteio no CP a chance de ter nas mãos o bilhete premiado, tal qual o jogo em uma loteria. Mas é a sorte o único preditivo que poderá modificar a trajetória de poucos, entre os muitos inscritos.

Considerações finais

Este artigo procurou problematizar as razões da escolha por uma escola pública diferenciada para famílias com baixo nível socioeconômico, que não dispunham de outra maneira de evitar a escola pública comum que não por meio da ‘sorte’. As escolhas dos estabelecimentos escolares têm ganhando fôlego nas pesquisas sociológicas, mas privilegiando grupos sociais que, do ponto de vista econômico e cultural, podem mobilizar melhores recursos, a fim de garantir oportunidades educacionais condizentes com os perfis e as expectativas dessas famílias.

Ao contrário, nossas análises se voltaram para um grupo de 20 famílias para quem as possibilidades de escolha se encontravam subsumidas ao universo do possível. Entre as 20 famílias investigadas, as diferenças entre o grupo de famílias com filhos com maior e menor desempenho eram muito sutis em termos de práticas e estratégias educativas.

Talvez seja nessa escola diferenciada, com um ambiente menos segregado, que as disposições para a aprendizagem sejam potencializadas. Isso sugere a importância de cotejar a análise com estudos que dimensionem o papel do contexto institucional e das práticas educacionais na trajetória escolar do aluno, que na literatura tem sido abordado pelos estudos sobre ‘efeito-escola’ (BRESSOUX, 2008BRESSOUX, P. Efeito dos Estabelecimentos. In: VAN ZANTEN, A. (Coord.). Dicionário de Educação. Petrópolis: Vozes , 2011. p. 275-279.).

No caso do grupo das famílias investigadas, procuramos conhecer e problematizar quais eram os dispositivos acionados pelas famílias para evitar a escola pública ‘comum’, sendo o sorteio a única alternativa para aqueles que não dispunham de outros meios para escolher um estabelecimento de ensino para os filhos. Ao ‘tirar a sorte’ por meio do sorteio e garantir a obtenção de uma vaga no Centro Pedagógico, essas famílias matricularam seus filhos em uma escola muito melhor equipada do que suas parceiras públicas comuns e, o mais importante, apostaram no binômio equidade-qualidade.

A partir deste estudo de caso, avaliamos que em um ambiente menos segregado e mais democrático, os aspectos intraescolares certamente preponderam, em termos de aprendizagens, sobre os aspectos extraescolares, sobretudo para famílias com baixo nível socioeconômico, constituindo um dos fatores capazes de ‘mudar a sorte dos vencidos’ (DUBET, 2008DUBET, F. O que é uma escola justa? A escola das oportunidades. São Paulo: Cortez, 2008.) e, certamente um objeto a ser melhor explorado em pesquisas futuras.

REFERÊNCIAS

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  • VAN ZANTEN, A. Choisir Son École: Stratégies familiales et médiations locales. Paris: Presses Universitaires de France, 2009.
  • 1
    Pesquisa financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG - (APQ-02196-14), (APQ-02544-14)), e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq - Processo 446638/2014-5).
  • 2
    Crônica publicada em: <http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/1339300>, consultado em novembro de 2011.
  • 3
    A inscrição dos filhos para um sorteio de vagas em uma escola pública federal, de ensino fundamental.
  • 4
    A partir do ano de 2016, segundo a Resolução n.15/2016 de 9 de agosto do corrente ano, para o sorteio de vagas para o Centro Pedagógico, a UFMG utiliza números sorteados da Loteria Federal. É necessário um procedimento de conversão em novos números, de forma que todos os candidatos tenham chances absolutamente iguais. Para mais detalhes, consultar: <https://www.ufmg.br/copeve/Arquivos/2016/cp_edital_ufmg2017.pdf >.
  • 5
    O que corresponde a 5% do total das vagas ofertadas.
  • 6
    Pelo sistema de Cadastro Escolar, as crianças cadastradas para o primeiro ano do Ensino Fundamental são designadas para escolas localizadas, prioritariamente, a até 300 metros de sua residência (PINTO, 1999PINTO, M. V. Cadastramento Escolar: democratização do acesso à escola pública. Revista IP: Informática Pública, n. 2, p. 139-156, 1999. ).
  • 7
    Projeto Geres - Estudo Longitudinal da Geração Escolar 2005, pesquisa que acompanhou, de 2005 a 2008, a evolução da proficiência escolar de cerca de 21.000 alunos do Ensino Fundamental de cinco cidades brasileiras (denominadas polos), por meio da aplicação de cinco “ondas” de testes de Língua Portuguesa e de Matemática - a primeira realizada no início de 2005, quando os alunos começavam a 1ª série, e as demais, aplicadas no final da 1ª, da 2ª, da 3ª e da 4ª séries. Para maiores informações sobre o Projeto Geres, consultar Franco, Brooke, Alves (2008FRANCO, C.; BROOKE, N.; ALVES, F. Estudo longitudinal sobre qualidade e equidade no ensino fundamental brasileiro: GERES 2005. Ensaio: Aval. Pol. Públ. Educ., v. 16, n. 61, p. 625-637, 2008.).
  • 8
    As 20 famílias fazem parte de um estudo qualitativo mais amplo que compreendeu a realização de entrevistas com 80 famílias. Estas foram selecionadas segundo quatro tipos de escola frequentadas pelos alunos: escolas privadas, escolas públicas estaduais e municipais de maior desempenho, escolas públicas estaduais e municipais de menor desempenho e escola pública federal. Importante frisar que essas famílias foram selecionadas da base de dados constituída pelo survey domiciliar cuja amostra foi sorteada da Pesquisa Geres. Na seleção da amostra do survey foi retirado o quintil superior do nível socioeconômico dos alunos que fizeram a Pesquisa Geres em Belo Horizonte a fim de isolar a variável dependente em relação ao desempenho escolar dos alunos. Ou seja, entre as famílias entrevistadas não estão representados os segmentos mais privilegiados que porventura estudavam nessas escolas.
  • 9
    A pesquisa de campo foi realizada entre fevereiro e julho de 2011.
  • 10
    A escola analisada situa-se no interior do Campus da UFMG, na região da Pampulha.
  • 11
    Entende-se por gentrificação o processo de revitalização dos espaços urbanos ou a aparente substituição de paisagens de caráter popular por construções típicas de área nobre. Esse processo tende a expulsar os moradores das periferias, trazendo como resultado sua emigração para áreas ainda mais periféricas. Por isso que a questão local passa a ter relevância nas análises sobre a desigualdade social.
  • 12
    Informação obtida em uma entrevista com um professor da escola que ocupa um cargo de coordenação.
  • 13
    Os autores fizeram uso das informações dos questionários contextuais produzidos pelas avaliações em larga escala pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que têm informações sobre alunos matriculados em escolas públicas e privadas. Os dados foram publicados no site www.qedu.org.br e são disponibilizados, sob requisição por escrito, pelos autores do trabalho para pesquisa acadêmica.
  • 14
    Convém salientar que na ocasião de realização da pesquisa com as famílias, havia no Colégio Técnico da UFMG (COLTEC) uma reserva de vagas destinadas aos alunos egressos do Centro Pedagógico. Todavia, a partir de 2014, segundo uma resolução do CEPE da UFMG, houve a decisão do Conselho da Universidade de que a reserva de vagas entre uma unidade e outra fosse sendo progressivamente extinta até o ano de 2018. Para mais informações, consultar: <http://www.coltec.ufmg.br/coltec/index.php/noticias-e-eventos/208-decisao-do-cepe-ufmg-sobre-processo-seletivo-do-coltec>.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Feb 2018

Histórico

  • Recebido
    08 Abr 2017
  • Aceito
    31 Out 2017
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