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Desempenho de cultivares de cenoura em sistema orgânico de cultivo em condições de temperaturas elevadas

Yield of carrot cultivars in organic farming system at high temperature

RESUMO:

A cenoura é a quarta hortaliça mais consumida no país e uma das mais consumidas no mundo. Considerando a necessidade de adaptação de materiais em sistemas orgânicos de cultivo, este trabalho teve como objetivo avaliar o desempenho de cultivares de cenoura no cultivo orgânico, em Petrolina-PE, sob condições de temperaturas elevadas no verão. O experimento foi conduzido no período de dezembro de 2009 a março de 2010, com 12 cultivares (Alvorada, Brasília, Brazlândia, Carandaí, Danvers, Karine, Kuronan, Marly, Nantes, Shin Kuroda, Suprema e Tropical). A altura das plantas de cenoura oscilou de 49 a 63 cm, despontando a cultivar Brasília com a maior altura (63 cm). A produtividade total de raízes variou de 26,9 a 58,6 t/ha, sendo os maiores rendimentos apresentados pelas cultivares Brasília (58,6 t/ha) e Brazlândia (56,0 t/ha), sem diferirem entre si. No que se refere à produtividade comercial de raízes, esta oscilou de 22,3 a 53,5 t/ha, sendo o maior rendimento apresentado pela cultivar Brasília (53,5 t/ha). A massa fresca da raiz das cultivares mais produtivas variou de 66 a 77,6 g. As cultivares Brasília, Brazlândia e Kuronan, pelas melhores características agronômicas apresentadas, são as mais indicadas para cultivo em sistema orgânico de produção e temperaturas elevadas.

Palavras-chave:
Daucus carota; produtividade; competição de cultivares; produção orgânica.

ABSTRACT:

Carrot is the fourth most consumed vegetable in Brazil and one of the most consumed one worldwide. Considering the need to adapt genotypes for organic systems, this study aimed to evaluate carrot cultivars under organic cultivation in Petrolina, Pernambuco State, Brazil, under conditions of high temperatures (summer). The experiment was carried out from December 2009 to March 2010, using a randomized block design with twelve cultivars (Alvorada, Brasília, Brazlândia, Carandaí, Danvers, Karine, Kuronan, Marly, Nantes, Shin Kuroda, Suprema and Tropical). The plant height ranged from 49 to 63 cm, cultivar Brasilia presenting the highest plants (63 cm). Total yield of roots ranged from 26.9 to 58.6 t/ha, cultivars Brasília (58.6 t/ha) and Brazlândia (56.0 t/ha) being the most productive ones, without significant differences between them. Yield of roots ranged from 22.3 to 53.5 t/ha, the highest yield being presented by the cultivar Brasília (53.5 t/ha). Root fresh mass of the highest-yielding cultivars ranged from 66 to 77.6 g. Brasilia, Brazlândia and Kuronan cultivars, due to the best agronomical characteristics, are recommended for planting in organic farming system with high temperatures.

Keywords:
Daucus carota; yield; cultivars competition; organic production.

A cenoura (Daucus carota) é a quinta hortaliça cultivada no Brasil em ordem de importância econômica (Marouelli et al., 2007MAROUELLI WA; OLIVEIRA RA; SILVA WLC. 2007. Irrigação na cultura da cenoura. Embrapa Hortaliças, Brasília. 14p. (Circular Técnica, 48).). Entre as hortaliças cuja parte comestível é a raiz, a cenoura é a de maior valor econômico, apresentando alto conteúdo de vitamina A, textura macia, sabor agradável; além de se destacar pela elevada capacidade de geração de emprego e renda, em todos os segmentos de sua cadeia produtiva, durante o ano inteiro (Filgueira, 2008FILGUEIRA FAR. 2008. Novo manual de olericultura: agrotecnologia moderna na produção e comercialização de hortaliças. Viçosa: Editora UFV, 3 ed. 421p.; Vilela & Borges, 2008VILELA NJ; BORGES IO. 2008. Retrospectiva e situação atual da cenoura no Brasil Brasília: Embrapa Hortaliças, 9 p. (Circular Técnica, 59).).

A produção nacional em 2012 foi de 780,5 mil t, cultivadas em uma área de 26,5 mil ha, o que proporcionou produtividade média de 29,4 t/ha (Embrapa Hortaliças, 2014EMBRAPA HORTALIÇAS. 2014. Situação das Safras de Hortaliças no Brasil - 2000-2011. Disponível em <Disponível em http://www.cnph.embrapa.br > Acessado em 19 abr. 2014
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). A produção mundial alcançou no mesmo ano 36,9 milhões de toneladas, cultivadas em área de 1,19 milhões de hectares, o que proporcionou produtividade média de 31,0 t/ha (FAO, 2014FAO. 2014. Agricultural production, primary cropsDisponível em <Disponível em http://www.fao.org >. Acessado em 19 abr. 2014.
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).

No Brasil é cultivada durante o ano todo, havendo cultivares específicas para o outono-inverno, primavera e verão. Entretanto, no cultivo de verão, sob temperaturas mais elevadas, ocorre uma série de intempéries climáticas, que podem prejudicar tanto a germinação das sementes quanto o desenvolvimento da planta, resultando em baixa produtividade e qualidade das raízes (Resende et al., 2005RESENDE FV; SOUZA LS; OLIVEIRA PSR; GUALBERTO R. 2005. Uso de cobertura morta vegetal no controle da umidade e temperatura do solo, na incidência de plantas invasoras e na produção da cenoura em cultivo de verão. Ciência e Agrotecnologia 29: 100-105.).

Para o cultivo da cenoura é importante conhecer a adaptação das cultivares de acordo com as condições climáticas do local. As cultivares recomendadas para o cultivo de inverno são as do grupo Nantes, sendo esses materiais exigentes em clima ameno, intolerantes à temperatura e pluviosidade elevadas. As cultivares recomendadas para o cultivo de verão pertencem ao grupo Brasília (Brasília, Carandaí, Alvorada e Esplanada), que apresentam adaptação à temperatura e pluviosidade elevadas (Filgueira, 2008FILGUEIRA FAR. 2008. Novo manual de olericultura: agrotecnologia moderna na produção e comercialização de hortaliças. Viçosa: Editora UFV, 3 ed. 421p.). Existem cultivares que formam boas raízes sob temperaturas de 18 a 25ºC. Em temperaturas acima de 30ºC, a planta tem o ciclo vegetativo reduzido, o que afeta o desenvolvimento das raízes e a produtividade. Temperaturas baixas associadas a dias longos induzem ao florescimento precoce, principalmente daquelas cultivares que foram desenvolvidas para plantio em épocas quentes do ano (Vieira & Pessoa, 2008VIEIRA JV; PESSOA HBSV. 2008. Cultivares e clima. In: Cenoura. Sistemas de produção, 5. Embrapa Hortaliças. Disponível em <Disponível em http://www.sistemasdeproducao.cnptia. embrapa.br > Acessado em 19 de mar. 2013.
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). O desenvolvimento de cultivares de cenoura com tolerância ao calor e resistência às principais doenças da cultura tem propiciado o aumento da área de cultivo em regiões de clima quente, principalmente no Nordeste e Centro Oeste do Brasil (Silva et al., 2010SILVA GO; VIEIRA JV; NASCIMENTO WM. 2010. Estratégias de seleção para germinação de sementes de cenoura em altas temperaturas. Semina: Ciências Agrárias 32: 849-854.).

Para as condições do Submédio do Vale do São Francisco, temperaturas amenas ocorrem no período de abril a setembro e mais quentes de outubro a março (Teixeira, 2010TEIXEIRA AHC. 2010. Informações agrometeorológicas do Pólo Petrolina, PE/Juazeiro - 1963 a 2009. Petrolina: Embrapa Semiárido, 21p. (Embrapa Semiárido. Documentos, 233).). Considerando essas características locais é de se esperar melhores produtividades das cultivares nos períodos de temperaturas amenas (inverno), comparativamente aos períodos de temperaturas mais elevadas (verão).

A preocupação com a saúde e a procura por alimentos mais saudáveis é uma tendência mundial. São várias as vantagens, citadas na literatura, do sistema orgânico de produção sobre a qualidade dos alimentos. Segundo Machado & Corazza (2004MACHADO F; CORAZZA R. 2004. Desafios tecnológicos, organizacionais e financeiros da agricultura orgânica no Brasil. Revista de la Facultad de Economia26: 21-40.), o produto orgânico é mais do que um produto que não utiliza agrotóxico ou quaisquer aditivos químicos, como aqueles produzidos em sistema convencional. A produção orgânica visa a sustentabilidade e um equilíbrio do solo e demais recursos naturais. Estudos indicam que existem diferenças relativas à qualidade, quando são considerados atributos como sabor e valor nutricional, mediante comparação entre os alimentos produzidos orgânica e convencionalmente (Favaro-Trindade et al., 2007FAVARO-TRINDADE CS; MARTELLO LS; MARCATTI B; MORETTI TS; PETRUS RR; ALMEIDA E; FERRAZ JBS. 2007. Efeito dos sistemas de cultivo orgânico, hidropônico e convencional na qualidade de alface lisa. Brazilian Journal Food Technology 10: 111-115.).

Há uma carência de pesquisas sobre a utilização de cultivares de cenoura no sistema orgânico. Em cultivo convencional de verão as cultivares Alvorada, Nova Brasília e Brazlândia apresentaram desempenho potencialmente favorável (Oliveira et al., 2005OLIVEIRA CD; BRAZ LT; BANZATTO DA. 2005. Adaptabilidade e estabilidade genotípica de genótipos de cenoura. Horticultura Brasileira 23: 743-748., 2008OLIVEIRA CD; BRAZ LT; BANZATTO DA. 2008. Adaptabilidade e estabilidade fenotípica de cultivares de cenoura. Horticultura Brasileira 26: 88-92.), como também as cultivares Alvorada, Carandaí e as "Brasílias" (Luz et al., 2009LUZ JMQ; SILVA JÚNIOR JA; TEIXEIRA MSSC; SILVA MAD; SEVERINO GM; MELO B. 2009. Desempenho de cultivares de cenoura no verão e outono-inverno em Uberlândia-MG. Horticultura Brasileira 27: 96-99.). Carvalho et al. (2005CARVALHO AM; JUNQUEIRA AMR; VIEIRA JV; REIS A; SILVA JBC. 2005. Produtividade, florescimento prematuro e queima-das-folhas em cenoura cultivada em sistema orgânico e convencional. Horticultura Brasileira 23: 250-254.) recomendam as cultivares Brasília RL, Brazlândia e a Pop. 0212246, tanto para cultivo convencional como para orgânico.

Em cultivo orgânico com plantio no verão, Resende et al. (2006RESENDE FV; SAMINÊZ TCO; VIEIRA JV. 2006. Desempenho de cultivares e populações de cenoura em cultivo orgânico no verão no Distrito Federal. Revista Brasileira de Agroecologia 1: 1007-1010.) observaram, para diferentes populações e cultivares, produtividade total variando de 42,3 a 61,5 t/ha e massa fresca de raiz de 64,4 a 86,0 g. Produtividades totais oscilando de 36,6 a 58,4 t/ha e comerciais de 26,8 a 51,5 t/ha para diferentes cultivares e populações de cenoura no Distrito Federal são informadas por Clemente et al. (2006CLEMENTE FMVT; RESENDE FV; VIEIRA JV. 2006. Desempenho de cultivares e populações de cenoura em cultivo orgânico no Distrito Federal. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 46º, Goiânia-GO, 2006. Horticultura Brasileira 24: Suplemento CD-ROM.).

Neste contexto, o presente trabalho teve como objetivo avaliar o desempenho produtivo de 12 cultivares de cenoura em plantio de verão, nas condições do Submédio do Vale do São Francisco, sob sistema orgânico de cultivo.

MATERIAL E MÉTODOS

O ensaio foi conduzido no período de dezembro de 2009 a março 2010, em Petrolina-PE (9º9'S, 40º29'O, 365,5 m de altitude). Segundo a classificação climática de Köppen, a região apresenta clima do tipo BSWh', semiárido. A temperatura média do ar varia de 24 a 28°C; as temperaturas máxima e mínima oscilam entre 30 e 34°C e de 18 a 22°C, respectivamente. A umidade relativa do ar nos meses mais úmidos, no período chuvoso, variam em média de 66 a 73%. Os menores valores ocorrem nos meses de setembro e novembro, abaixo de 55%, coincidindo com o período mais quente do ano. A precipitação média é de 549 mm. O período chuvoso concentra-se entre os meses de novembro e abril, com 90% dos totais anuais, sendo que os meses de janeiro a abril contribuem com 70% do total anual, destacando-se o mês de março e o de agosto como o mais e o menos chuvoso. Para velocidade do vento os valores mais elevados ocorrem no período seco, entre os meses de agosto a outubro, chegando a 3 m/s, com menores valores no período chuvoso, com média de 1,6 m/s no mês de março. A insolação anual é superior a 3.000 h (Teixeira, 2010TEIXEIRA AHC. 2010. Informações agrometeorológicas do Pólo Petrolina, PE/Juazeiro - 1963 a 2009. Petrolina: Embrapa Semiárido, 21p. (Embrapa Semiárido. Documentos, 233).). O solo, classificado como Argissolo Vermelho-Amarelo Eutrófico Plíntico (Santos et al., 2006SANTOS HG; JACOMINE PKT; ANJOS LHC; OLIVEIRA VA; OLIVEIRA JB; COELHO MR; LUMBRERAS JF; CUNHA TJF. (ed). 2006. Sistema brasileiro de classificação de solos. 2. ed. Rio de Janeiro: Embrapa Solos. 306p.), apresentou, conforme análise química, as seguintes características: pH (H2O)= 6,0; Ca2+= 22 mmolc/dm3; Mg2+= 7 mmolc/dm3; K+= 36 mmolc/dm3; Al3= 0,4 mmolc/dm3; P/Mehlich= 12,1 mg/dm3 e M.O.= 6,1 g/kg e física (%): areia= 81; silte= 11 e argila= 8. Durante a execução do ensaio verificou-se precipitação pluviométrica acumulada de 129,4 mm, temperatura máxima de 32,8ºC e mínima de 20,8ºC, com média de 26,2ºC e umidade relativa do ar de 61,7%.

Os tratamentos consistiram de 12 cultivares, sendo recomendadas para plantio na primavera/verão/outono {Alvorada, Brasília, Kuronan, Suprema, Brazlândia, Shin Kuroda, Karine, Carandaí e Tropical, Marly (verão), Nantes (inverno) e Danvers (ano todo)}. Adotou-se o delineamento em bloco ao acaso, com três repetições.

O preparo do solo constou de aração e gradagem. As unidades experimentais constituíram-se de canteiros com 25 cm de altura, com 2,0 m de comprimento e 1,20 m de largura. O espaçamento adotado foi de 20x4 cm. A semeadura foi realizada transversalmente ao canteiro, sendo utilizadas as oito linhas centrais como área útil da parcela, retirando-se as duas plantas das extremidades. A semeadura foi realizada diretamente no canteiro no dia 08/12/2009 e o desbaste feito aos 30 dias, deixando-se na linha uma planta a cada 4 cm.

A adubação de plantio constou de 70 t/ha de esterco caprino curtido, 125 kg/ha de sulfato de potássio e 670 kg/ha de termofosfato magnesiano (17% P2O5; 17% Ca e 7% de Mg). Foram utilizados ainda em cobertura, aos 30 e 45 dias após a semeadura, 62,5 kg/ha de sulfato de potássio e 10 t/ha de esterco caprino curtido, adaptado conforme recomendação de Cavalcanti (2008CAVALCANTI FJA. (coord). 2008. Recomendações de adubação para o Estado de Pernambuco: 2ª aproximação, 3 ed. Recife: IPA. 212p.). As fontes de nutrientes utilizadas estão em consonância com as normas para o cultivo de produtos orgânicos vegetais e animais do Ministério da Agricultura (BRASIL, 1999BRASIL. 1999. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº 7, de 17 de maio de 1999. Agricultura Orgânica. Legislação. Disponível em <Disponível em http://www.agricultura.gov.br >. Acessado em 04 jul. 2008.
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).

O controle de plantas daninhas foi feito através da capina manual até aproximadamente 58 dias após a semeadura. Utilizou-se irrigação por microaspersão com lâmina média em torno de 11-13 mm, três vezes por semana, calculada em função da evaporação do tanque classe A, conforme a necessidade da cultura (Marouelli et al., 2007MAROUELLI WA; OLIVEIRA RA; SILVA WLC. 2007. Irrigação na cultura da cenoura. Embrapa Hortaliças, Brasília. 14p. (Circular Técnica, 48).). Não foi observada a ocorrência de pragas e doenças.

A colheita foi realizada aos 105 dias após o plantio, quando as folhas apresentavam leve tombamento e amarelecimento, indicativo do ponto de colheita. Foram avaliadas a altura de plantas em cm (medida do solo até a extremidade das folhas mais altas, esticando-as), produtividade total (massa fresca total das raízes, expressa em t/ha), produtividade comercial (massa fresca de raízes com mais de 10 cm de comprimento, livres de rachaduras, bifurcações, danos mecânicos, e expressa em t/ha), massa fresca da raiz comercial (obtida pela divisão da massa fresca de raízes comerciais pelo número de raízes comerciais, expressa em g) e a classificação de raízes comerciais segundo o seu comprimento em Classe 1 (18,1 a 26 cm) e Classe 2 (10,1 a menos de 18 cm) (CEAGESP, 1999CEAGESP. 1999. Classificação de cenoura: programa de adesão voluntária, São Paulo: Programa Horti & Fruti, 8p. (Folder).).

Os dados em porcentagem, para efeito de análise estatística, foram transformados em arco-seno e apresentadas as médias originais. Os dados coletados foram submetidos à análise de variância e seus efeitos avaliados pelo teste de F a 5% de probabilidade. As médias foram agrupadas pelo teste de Scott-Knott, ao nível de 5% de probabilidade, empregando-se o programa SISVAR 5.0 (Ferreira, 2010FERREIRA DF. 2010. SISVAR Versão 5.3. Lavras: Departamento de Ciências Exatas, UFLA.).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A altura de plantas de cenoura variou de 49 a 63 cm, tendo a cultivar Shin Kuroda apresentado maior altura e a cultivar Nantes a menor (Tabela 1). Paulus et al. (2012PAULUS D; MOURA CA; SANTIN A; DALHEM AR; NAVA GA; RAMOS CEP. 2012. Produção e aceitabilidade de cenoura sob cultivo orgânico no inverno e no verão. Horticultura Brasileira 30: 446-452.), em cultivo orgânico no verão, em Dois Vizinhos-PR, observaram alturas de 39,8 a 57,5 cm com a cutivar Shin Kuroda, apresentando maior altura. A altura e folhagem adequadas proporcionam superfície foliar desejável à produção de raízes de cenoura. A folhagem, embora comestível, não é considerada economicamente importante, entretanto um bom crescimento das raízes é dependente, em alto grau, de adequada superfície fotossintética.

Tabela 1
Altura de plantas e massa fresca comercial de raízes de cultivares de cenoura em sistema orgânico de produção (plant height and marketable fresh weight of roots of carrot cultivars in organic production system). Petrolina, Embrapa Semiárido, 2009/2010.

Considerando-se, que para produtividade total houve variação de 26,9 a 58,6 t/ha para as cultivares avaliadas, as cultivares Brasília (58,6 t/ha) e Brazlândia (56,0 t/ha) obtiveram as maiores produtividades e Nantes (26,9 t/ha) a menor (Figura 1). Os resultados são comparáveis aos obtidos por Clemente et al. (2006CLEMENTE FMVT; RESENDE FV; VIEIRA JV. 2006. Desempenho de cultivares e populações de cenoura em cultivo orgânico no Distrito Federal. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 46º, Goiânia-GO, 2006. Horticultura Brasileira 24: Suplemento CD-ROM.) e Resende et al. (2006RESENDE FV; SAMINÊZ TCO; VIEIRA JV. 2006. Desempenho de cultivares e populações de cenoura em cultivo orgânico no verão no Distrito Federal. Revista Brasileira de Agroecologia 1: 1007-1010.), que verificaram produtividades totais entre 36,6 e 58,4 t/ha e 42,8 a 61,5 t/ha, respectivamente. Os diferentes graus de adaptação das cultivares às diferentes condições edafoclimáticas provavelmente justifiquem as boas produtividades totais alcançadas nesse trabalho.

Figura 1
Produtividade total e comercial (t/ha) de cultivares de cenoura em sistema orgânico de produção. Médias seguidas pela mesma letra minúscula para produtividade total e maiúscula para comercial, não diferem entre si, pelo teste de Scott-Knott (p≤ 0,05; CV (%)= 8,2) {total and marketable yield (t/ha) of carrot cultivars in organic production system. Means followed by the same lowercase letter in total yield and uppercase letter in marketable yield do not differ by Scott-Knott test (p≤0.05; CV (%)= 8.2)}. Petrolina, Embrapa Semiárido, 2009/2010.

Resultados similares foram obtidos para produtividade comercial de raízes, variando de 22,3 a 53,5 t/ha, com maior rendimento para a cultivar Brasília (53,5 t/ha) e menor para a cultivar Nantes (22,3 t/ha) (Figura 1). Produtividades oscilando de 31,4 a 54,8 t/ha foram observadas por Resende et al. (2006RESENDE FV; SAMINÊZ TCO; VIEIRA JV. 2006. Desempenho de cultivares e populações de cenoura em cultivo orgânico no verão no Distrito Federal. Revista Brasileira de Agroecologia 1: 1007-1010.), enquanto Clemente et al. (2006CLEMENTE FMVT; RESENDE FV; VIEIRA JV. 2006. Desempenho de cultivares e populações de cenoura em cultivo orgânico no Distrito Federal. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 46º, Goiânia-GO, 2006. Horticultura Brasileira 24: Suplemento CD-ROM.) encontraram variações de 26,8 a 51,5 t/ha. As menores produtividades (total e comercial) evidenciadas pela cultivar Nantes eram esperadas, pois esta se adapta melhor a temperaturas amenas, sendo recomendada para cultivo em locais cuja temperatura média durante o crescimento é inferior a 25ºC (Finger et al., 2005FINGER FL; DIAS DCFS; PUIATTI M. 2005. Cultura da cenoura. In: FONTES PCR (ed). Olericultura teoria e prática. Viçosa: Depto. Fitotecnia/Setor de Olericultura. p.371-384.), condições estas não observadas durante a execução do experimento. Salienta-se os bons resultados em termos de produtividade, sobretudo levando-se em consideração que a produtividade média nacional da cenoura cultivada convencionalmente é de 29,4 t/ha e a mundial de 31,0 t/ha. As variações das produtividades podem ser explicadas pelos diferentes graus de adaptação das cultivares.

Com relação à massa fresca de raiz (Tabela 1), as cultivares Brasília (77,6 g), Danvers (74,5 g), Tropical (73,6 g), Kuronan (72,6 g), Brazlândia (72,6 g), Marly (72,4 g) e Shin Kuroda (70,1 g) sobressaíram-se com maior massa, não apresentando diferenças significativas entre si. Resende et al. (2006RESENDE FV; SAMINÊZ TCO; VIEIRA JV. 2006. Desempenho de cultivares e populações de cenoura em cultivo orgânico no verão no Distrito Federal. Revista Brasileira de Agroecologia 1: 1007-1010.) obtiveram variações na massa de raíz de 64,4 g (cv. Alvorada) a 86 g (cv. Brasília), em cultivo orgânico. Vieira et al. (2009VIEIRA JV; SILVA GO; BOITEUX LS; SIMON PW. 2009. Divergência genética entre acessos de cenoura pertencentes a grupos varietais distintos utilizando caracteres morfológicos. Horticultura Brasileira 27: 473-477.) afirmam que o caráter massa fresca de raiz é altamente influenciado pelo ambiente.

A cultivar Tropical destacou-se das demais com maior percentagem (41%) de raízes de comprimento superior (Classe 1), sendo o menor valor para a cultivar Danvers (5,4%) (Figura 2), posicionamentos que se invertem quanto se analisam as raízes da Classe 2, que ocorreram de forma predominante entre as cultivares, com variação de 59% ('Tropical') a 94,6% ('Danvers'). Em cultivo orgânico no verão, Paulus et al. (2012PAULUS D; MOURA CA; SANTIN A; DALHEM AR; NAVA GA; RAMOS CEP. 2012. Produção e aceitabilidade de cenoura sob cultivo orgânico no inverno e no verão. Horticultura Brasileira 30: 446-452.) obtiveram resultados similares com variações no comprimento de raízes de 14,7 a 18 cm. O consumidor brasileiro prefere raízes de cenoura bem desenvolvidas, cilíndricas, lisas, sem raízes laterais, com diâmetro de 3-4 cm, comprimento de 15-20 cm, coloração alaranjada intensa, sem ombro e pigmentação verde ou roxa na parte superior (Souza et al., 2002SOUZA RJ; MACHADO AQ; GONÇALVES LD; YURI JE; MOTA JH; RESENDE GM. 2002. Cultura da cenoura. Lavras: Editora UFLA, 68p. (Textos acadêmicos, 22).; Vieira & Pessoa, 2008VIEIRA JV; PESSOA HBSV. 2008. Cultivares e clima. In: Cenoura. Sistemas de produção, 5. Embrapa Hortaliças. Disponível em <Disponível em http://www.sistemasdeproducao.cnptia. embrapa.br > Acessado em 19 de mar. 2013.
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). Esses valores entre 15 e 20 cm de comprimento de raiz se situam em termos intermediários das classes 1 e 2 avaliadas com maior predominância de raízes na classe 2 e nesse quesito apenas a cultivar Tropical com maior percentagem (41%) de raízes de comprimento entre 18,1 a 26 cm não atenderia a preferência do mercado consumidor brasileiro.

Figura 2
Classificação de raízes comerciais de cultivares de cenoura em classes de massa (%) em sistema orgânico de produção. Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na classe 1 (18,1 a 26 cm) e minúscula na classe 2 (10,1 a 18 cm), não diferem entre si, pelo teste de Scott-Knott (p≤0,05; CV (%)= 8,2) {classification of marketable roots of carrot cultivars in classes of weight (%) in organic production system. Means followed by the same lowercase letter in class 1 (18.1 to 26 cm) and uppercase letter in class 2 (10.1 to 18 cm) do not differ by Scott-Knott test (p≤0.05; CV (%)= 8.2}. Petrolina, Embrapa Semiárido, 2009/2010.

Em função dos resultados obtidos, as cultivares Brasília, Brazlândia e Kuronan, pelas melhores características agronômicas apresentadas, são as mais indicadas para cultivo em sistema orgânico de produção, nas condições de temperaturas mais elevadas (verão) do Submédio do Vale do São Francisco. As cultivares Alvorada e Carandaí, apesar de pertencerem ao grupo "Brasília", não apresentaram desempenho satisfatório.

REFERÊNCIAS

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    » http://www.agricultura.gov.br
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Disponibilidade de dados

Citações de dados

FAO. 2014. Agricultural production, primary cropsDisponível em <Disponível em http://www.fao.org >. Acessado em 19 abr. 2014.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Mar 2016

Histórico

  • Recebido
    22 Jul 2014
  • Aceito
    28 Maio 2015
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