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“O TOMBO EM MANGUINHOS”: Ciência, Primeira Guerra Mundial e as Relações entre Argentina e Brasil

“The Fall of Manguinhos”: Science, First World War and Brazil-Argentina Relations

Resumo

Este trabalho analisa as relações entre Argentina e Brasil, sob o marco da Primeira Guerra Mundial, através das atuações dos cientistas Rudolf Kraus e Arthur Neiva. O conflito mostrou que a idealizada civilização europeia falhara em diversos aspectos e abriu novas perspectivas nos países das Américas. Uma delas foi a maior atenção dada às pesquisas e à assistência médica sobre as endemias do interior no Brasil e na Argentina. Tendo em vista a reconhecida vanguarda do Brasil no estudo das doenças tropicais, Arthur Neiva julgou essa maior atenção argentina como uma ameaça de superação nas pesquisas científicas. A trajetória profissional de ambos mostrou que a colaboração entre brasileiros e argentinos continha um teor de disputa implícito que se expressava também nos debates coetâneos sobre a neutralidade argentina na guerra e na busca de hegemonia científica na América do Sul. Seguindo a perspectiva da história transnacional argumenta-se que questões nacionais revestiam-se de problemáticas que ultrapassavam os acontecimentos internos de cada país.

Palavras-chave:
competição; cooperação; Ciência; Brasil; Argentina; Primeira Guerra Mundial.

Abstract

This paper analyze the relations between Argentina and Brazil during First World War using the scientific history of Rudolf Kraus and Arthur Neiva. The conflict showed that the idealized European civilization failed in many aspects and open new perspectives in America countries. One of them was an increasing attention to medical research and assistance to endemic diseases of Brazil and Argentina´s hinterland. Considering the acknowledge fore-front of Brazil in the study of tropical diseases, Arthur Neiva evaluate the Argentinean increasing attention to endemic diseases as a menace. The scientific history of both showed that Brazilian and Argentinean cooperation comprised an implicit competition which was also expressed by contemporary debates about Argentinean neutrality and the search for scientific hegemony in South America. Following the perspective of transnational history it is argued that national issues encompassed questions which overcame internal events.

Key-words:
competition; cooperation; Science; Brazil; Argentina; First World War

Em fins de abril de 1914, Oswaldo Cruz aportou em Buenos Aires para participar de eventos em sua homenagem, que haviam começado em Montevidéu1 1 As homenagens foram feitas no Jockey Club, na Faculdade de Medicina, onde recebeu o título de membro honorário, e na Sociedade Argentina de Higiene e Engenharia Sanitária. A viagem a Montevidéu e Buenos Aires e a cruz da Legião de Honra. Biblioteca Virtual Oswaldo Cruz. Disponível em: www.bvsoswaldocruz.coc.fiocruz.br/Trajetoria/gloria/aviagemmonte.htm, acesso 01/06/2013. . O sucesso com as campanhas sanitárias contra a febre amarela e peste bubônica empreendidas no Rio de Janeiro no início do século XX era o motivo para tamanha estima2 2 Ocorrida entre os dias 15 e 21 de abril de 1914, a conferência tratou do controle das principais doenças infecciosas (febre amarela, peste e cólera) que circulavam através da comunicação portuária entre Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. “No Uruguay. A Conferencia Sanitaria”, O Paiz (Rio de Janeiro), 16 apr. 1914, p. 2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=178691_04&PagFis=22454, acesso em 10/06/2013; “A Conferencia Sanitaria Internacional”, Correio da Manhã (Rio de Janeiro), 17 apr. 1914, p. 3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=089842_02&PagFis=18624, acesso aos 11/06/2013. . Sua chegada a Buenos Aires causou comoção na imprensa argentina que o referenciava como “uma eminência científica” que havia tornado a cidade irmã (Rio de Janeiro) em “um modelo de salubridade”3 3 A viagem a Montevidéu e Buenos Aires e a cruz da Legião de Honra... . Em uma palestra na Sociedade Argentina de Higiene e Engenharia Sanitária, o então diretor do Instituto Bacteriológico do Departamento Nacional de Higiene (IB/DNH), Rudolf Kraus, convidou-o para fundarem uma sociedade sul-americana de microbiologia:

Creio ser de suma importância a fundação de uma Sociedade Sul-Americana de Higiene e Microbiologia, a qual se dedicaria a manter e propagar a obra iniciada pela convenção dos Estados Sul-Americanos [...] em consequência, senhores, os rogo que me seja permitido4 desde já aproveitar esta oportunidade para iniciar estas relações de cordialidade e me permito igualmente a rogar ao Dr. Oswaldo Cruz se gostaria de me ajudar a realizar tais ideais (KRAUS, 1914KRAUS, Rudolf. Estado actual de las investigaciones sobre vírus filtrables. Annales del Departamento Nacional de Higiene, v. 21, n. 5, p. 185-191, 1914., p. 193)

Este artigo pretende contribuir para o estudo histórico das relações científicas entre Brasil e Argentina a partir da análise das atuações dos cientistas Rudolf Kraus (1868-1932)5 5 Rudolf Kraus nasceu em 30 de outubro de 1868, em Mlada Boleslav, na Boemia, atual República Tcheca. Formou-se em medicina pela Universidade Alemã de Praga, em 1893. Trabalhou no Instituto Pasteur de Paris, em 1895, e no ano seguinte transferiu-se para o Staatliches Serotherapeutisches Institut Wien (Instituto Soroterapico Federal de Viena), onde logo se destacou por seus estudos sobre as reações sorológicas e imunizações. Em 1903, Kraus trabalhou na Estação Zoológica de Rovigno e, em 1905, fez o curso de protozoologia no Institut fur Schiffs- und Tropenkrankheiten (Instituto de Doencas Maritimas e Tropicais de Hamburgo). Tornou-se Privatdozent da cátedra de patologia geral e experimental (Allgemeine und Experimentelle Pathologie) na Universidade de Viena, fundou a Sociedade Alemã para Microbiologia, em 1908, e organizou manuais importantes como o Handbuch der Technik und Methodik der Immunitätsforschung (1908), e foi um dos editores do Zeitschrift für Immunitätsforschung und experimentelle Therapie (1909-1932). TEICHMANN, 1968, p. 869-72. MAZUMDAR, 1995. e Arthur Neiva (1880-1943)6 6 Arthur Neiva nasceu em Salvador, Bahia, e formou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1903, quando já trabalhava no Serviço de Profilaxia da Febre Amarela, chefiada por Oswaldo Cruz. Em 1906, ingressou no Instituto de Patologia Experimental (futuro Instituto Oswaldo Cruz), onde empreendeu importantes estudos sobre a patologia tropical com destaque para os estudos com a malária e os sobre os insetos de importância médica. A partir de 1910 fez viagens de especialização no exterior (Estados Unidos e Europa) e de pesquisas no interior do país representando o instituto. Em 1914, foi aprovado para a livre docência da cadeira de História Natural e Parasitologia da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Foi Diretor Geral do Serviço Sanitário de São Paulo entre dezembro de 1916 e maio de 1920, efetuando reformas significativas no sistema de saúde pública do estado, sendo o responsável pela confecção do Código Sanitário. Entre 1923 e 1927, dirigiu o Museu Nacional e, entre 1930 e 1932, o Instituto Biológico de São Paulo. BENCHIMOL & TEIXEIRA, 1994. SILVA, 2006. e suas consequências para o contexto sanitário brasileiro dos anos de 1910 e 1920SOUZA, Vanderlei Sebastião de. Arthur Neiva e a ‘questão nacional’ nos anos de 1910 e 1920. História, Ciências, Saúde - Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 16, supl. 1, p. 249-64, jul. 2009.. Os impactos da Grande Guerra no Brasil e na Argentina deram o tom dessas relações na medida em que não apenas acirravam os debates nacionalistas como permitiram que o olhar antes direcionado à Europa voltasse para os progressos econômicos e científicos de seus vizinhos.

Havia poucos meses que Kraus chegara à cidade de Buenos Aires e sua tentativa de ser um dos mentores da comunidade científica sul-americana pareceu um pouco pretenciosa, especialmente quando solicitou a ajuda do cientista brasileiro para iniciar o empreendimento. Logo depois, em 1915, Kraus e colaboradores argentinos questionaram a descrição feita pelo cientista brasileiro Carlos Chagas de uma nova tripanossomíase humana. A descoberta já era tratada no Brasil como o maior trunfo da ciência brasileira. Era então um momento de acirramento dos nacionalismos devido à eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, e de tensão das relações diplomáticas entre Brasil e Argentina devido à neutralidade argentina e a crescente pressão da entrada do Brasil no conflito.

Pretende-se também enriquecer os trabalhos sobre o desenvolvimento da ciência na América Latina adotando a perspectiva da história transnacional que, embora não elimine, abranda o papel do Estado nacional no desenrolar de eventos, na escolha de apostas científicas, bem como na explicação para os interesses envolvidos. Sigo a elaboração que aponta que os estudos transnacionais modificaram e melhoraram os estudos comparativos ao ofereceram uma nova forma de comparação que “não depende de uma separação total das entidades sendo comparadas” (WEINSTEIN, 2013WEINSTEIN, Barbara. Pensando a história fora da nação: a historiografia da América Latina e o viés transnacional. Revista Eletrônica da ANPHLAC, n. 14, 2013, p. 9-36.). Valho-me também do trabalho do historiador Olivier Compagnon sobre o impacto da Primeira Guerra Mundial no Brasil e na Argentina e quem defende que “comparar não é incompatível com a prática de uma história transnacional que leve em conta as múltiplas circulação de atores, de prática e representações que religam os objetos de análise ao espaço global em que eles se inserem” (COMPAGNON, 2014COMPAGNON, Olivier. O adeus à Europa. A América Latina e a Grande Guerra. Rio de Janeiro: Rocco, 2014., p. 27). O trabalho abraça, assim, a abordagem transnacional para destacar como as questões nacionais revestiam-se de problemáticas que ultrapassavam os acontecimentos internos de cada país.

A preparação para o embate: Rudolf Kraus e Arthur Neiva na Argentina

Rudolf Kraus foi um ator determinante na história da descrição da doença de Chagas, uma vez que liderou a primeira crítica de peso que questionou os sintomas e a abrangência da patologia a todo o continente sul-americano (KROPF, 2009KROPF, Simone Petraglia. Doença de Chagas, doença do Brasil: ciência, saúde e nação, 1909-1962. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ , 2009., p. 178-184). Atuando de forma decisiva no fomento das relações em medicina tropical, Kraus também contribuiu para estreitar os laços no que tange à fabricação e distribuição de produtos biológicos entre Brasil e Argentina (CAVALCANTI, 2013aCAVALCANTI, Juliana Manzoni. Rudolf Kraus em busca do 'ouro da ciência': a diversidade tropical e a elaboração de novas terapêuticas, 1913-1923. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 2013a, v. 20, p. 221-237.). Arthur Neiva foi seu interlocutor, especialmente no que se refere às pesquisas em medicina tropical, já que fez as atividades de Kraus alcançarem uma audiência ainda maior. Neiva foi crucial para a institucionalização da entomologia médica na Argentina, além de um dos grandes articulistas do Movimento Sanitarista da Primeira República no Brasil e diretor do Serviço Sanitário de São Paulo (1916-1921), estado que empreendia as mais amplas atividades sanitárias. A trajetória profissional dos dois mostrou que a colaboração entre brasileiros e argentinos continha um teor de disputa implícito7 7 Sobre a atuação de Rudolf Kraus no Brasil ver CAVALCANTI, 2013a; 2013b; 2015. . Essa disputa se expressava também nos debates coetâneos sobre a neutralidade argentina na guerra, que causava forte apreensão na imprensa brasileira, e também na busca de hegemonia científica na América do Sul.

Em 1913, quando foi contratado para dirigir o IB/DNH, na cidade de Buenos Aires, Rudolf Kraus já era um cientista reconhecido internacionalmente pelo seu engajamento nos debates imunológicos e pela atuação em campanhas sanitárias no Império Austro-Húngaro e em países vizinhos (CAVALCANTI, 2013aCAVALCANTI, Juliana Manzoni. Rudolf Kraus em busca do 'ouro da ciência': a diversidade tropical e a elaboração de novas terapêuticas, 1913-1923. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 2013a, v. 20, p. 221-237.). A vinda para a América do Sul teve uma escala na cidade do Rio de Janeiro, para conhecer o Instituto Oswaldo Cruz (IOC). Segundo notícia veiculada no jornal brasileiro A Noite, esta visita teria sido proposital devido à boa fama da instituição8 8 “O ciúme da Argentina. A Republica amiga não nos concede o menor motivo de superioridade. E vae montar também o seu “Instituto Oswaldo Cruz”, A Noite (Rio de Janeiro), 03 oct. 1913. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=348970_01&PagFis=3252, acesso 05/08/2013. .

Quando Kraus aportou em Buenos Aires, as disputas entre Brasil e Argentina por territórios, iniciadas no século XIX, vinham sendo substituídas pela disputa de hegemonia geopolítica na América do Sul (FAUSTO & DEVOTO, 2004FAUSTO, F. J. DEVOTO, B. Brasil e Argentina: um ensaio de história comparada. São Paulo, Editora 34, 2004., p. 230-1). A despeito da aproximação com as visitas dos presidentes argentino (1899) e brasileiro (1900), e da tentativa de firmar um tratado entre Brasil, Argentina, e Chile em 1915, havia uma “contida rivalidade” entre Brasil e Argentina (FAUSTO & DEVOTO, 2004FAUSTO, F. J. DEVOTO, B. Brasil e Argentina: um ensaio de história comparada. São Paulo, Editora 34, 2004., p. 235). A década de 1910 é considerada pelo historiador Clodoaldo Bueno como um dos melhores períodos das relações destes países devido ao aumento de visitas oficiais de personalidades importantes e ao fomento de manifestações culturais como, por exemplo, a criação da Taça Roca, competição futebolística restrita ao Brasil e à Argentina (BUENO, 2003BUENO, Clodoaldo. Política externa da Primeira República: os anos de apogeu (1902 a 1918). São Paulo: Paz e Terra, 2003, p. 506 , p. 388-390). A publicação da Revista Americana, editada pelo corpo diplomático do Itamaraty entre 1909 e 1919, foi também uma significativa tentativa de aproximação destes países (CASTRO, 2012CASTRO, Fernando Vale. Pensando um Continente: a Revista Americana e a criação de um projeto cultural para a América do Sul. Rio de Janeiro: Mauad X, FAPERJ, 2012. , p. 48). No entanto, ainda existia um clima de comparação competitiva, especialmente no Brasil, derivado do grande desenvolvimento sócio econômico argentino da virada do século XIX para o XX (FAUSTO & DEVOTO, 2004FAUSTO, F. J. DEVOTO, B. Brasil e Argentina: um ensaio de história comparada. São Paulo, Editora 34, 2004., p. 24). Contudo, no tocante à pesquisa microbiológica, o Brasil se destacava mais, muito em função do prestígio internacional do IOC, considerada a principal instituição do gênero na América do Sul (CAPONI, 2002CAPONI, Sandra. Trópicos, microbios y vectores. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 9 (suplemento), p.111-38, 2002. ).

Este destaque provinha, principalmente, da repercussão internacional das campanhas sanitárias de combate à febre amarela, conduzidas por Oswaldo Cruz, e da descrição da doença de Chagas por seu discípulo e membro do IOC, Carlos Chagas (BENCHIMOL, 1990BENCHIMOL, Jaime Larry. Manguinhos do sonho à vida - A Ciência na Belle Époque. Rio de Janeiro: Casa de Oswaldo Cruz, 1990.).9 9 O reconhecimento internacional ocorreu em 1912, quando Carlos Chagas recebeu o prêmio Schaudin do Instituto de Doenças Marítimas e Tropicais de Hamburgo ao melhor trabalho em protozoologia (KROPF, 2009, p. 101). Em 1909, Carlos Chagas defendeu a existência de uma nova doença ao identificar de uma só vez seu parasito e vetor. A sintomatologia do que chamou de uma nova tripanossomíase humana foi construída cerca de um ano depois, com as fases de ‘infecção aguda’ e ‘infecção crônica’, cujas expressões eram quase todas inespecíficas à exceção do bócio, que foi apresentado como o componente que diferiria sua doença como entidade clínica individualizada. Chagas enfrentaria resistência imediata no Brasil tanto de eminências médicas quanto de políticos, que duvidaram da extensão da disseminação da doença pelo país e da própria existência da mesma. Entretanto, foi da Argentina que veio a primeira e uma das mais contundentes críticas. Em 1915, Rudolf Kraus e cientistas argentinos publicaram um artigo no qual levantavam a suspeita da relação entre parasita e a doença e, ainda mais impactante, negavam que a tripanossomíase causasse o bócio. Argumentavam que Chagas não havia comprovado que o bócio observado nos seus doentes seria distinto do bócio endêmico, já bastante estudado na Europa e, inclusive por Kraus (KROPF, 2009KROPF, Simone Petraglia. Doença de Chagas, doença do Brasil: ciência, saúde e nação, 1909-1962. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ , 2009., p. 99, 110-111, 140, 178-184).

As pesquisas brasileiras em medicina tropical atraíam a atenção dos argentinos desde o início do século XX, conforme se verifica pela presença de trabalhos dos brasileiros Carlos Chagas, Oswaldo Cruz e Adolf Lutz em publicações argentinas sobre a malária. Mas o que fez os protocolos de pesquisa na Argentina darem uma guinada em direção aos mosquitos foi a contratação de Arthur Neiva, em 1915, para organizar os trabalhos de protozoologia do IB/DNH em Buenos Aires (ALVAREZ, 2008ALVAREZ, Adriana. Malaria and the Emergence of Rural Health in Argentina: An Analysis from the Perspective of International Interaction and Co-operation. Canadian Bulletin of Medical History, Volume 25 Issue 1, Spring 2008, p. 137-160.). A inauguração do novo prédio do instituto, em 1916, fazia parte das iniciativas de alguns médicos argentinos em fomentar a pesquisa independente, que não se limitaria à identificação de agentes patogênicos já bem estudados pela literatura europeia e dedicaria mais às patologias das populações das províncias mais distantes (CAPONI, 2002CAPONI, Sandra. Trópicos, microbios y vectores. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 9 (suplemento), p.111-38, 2002. , p. 130). Ao voltar-se para as doenças que mais afligiam suas populações fora da grande Buenos Aires, os médicos argentinos recorriam a uma elaboração de um diagnóstico social do país bem similar ao que seus pares brasileiros também faziam. Usando o termo patologias regionais, os argentinos relacionavam a incidência de endemias como a malária, por exemplo, ao atraso material e cultural de suas populações das províncias mais distantes, especialmente as do Norte (KROPF & DI LISCIA, 2010KROPF, Simone Petraglia; DI LISCIA, María Silvia. “Bocio, mal de Chagas e identidad nacional. Enfermedades y polémicas en Argentina y Brasil (1910-1940)”. Dynamis, 30: 65-90, 2010.)10 10 O anseio pelo estudo das doenças, de forma independente dos protocolos europeus, vinha sendo valorizado nos países latino-americanos desde fins do século XIX. Em 1913, no V Congresso Médico Latino-Americano, por exemplo, organizou-se primeira vez uma sessão específica para a medicina tropical e se incentivou a criação de cátedras desta disciplina nas faculdades médicas latino-americanas (QUEVEDO, et al., 2008. KROPF, 2009; ALMEIDA, 2011). A incorporação desse tipo de pesquisa variou bastante, pois dependia do contexto político e social específico de cada país e de como encaravam as doenças que mais prevaleciam em sua população. Aliás, a diferente nomenclatura já dá pistas desta variedade de conceitos e objetivos. No Brasil, o termo doenças tropicais vingou, embora tenha provocado inicialmente muitos embates em torno da possível exaltação de antigos preconceitos advindos do determinismo climático, que há séculos condenava o país (BENCHIMOL, 1999). .

Um dos idealizadores da nova abordagem científica que buscava estudar as patologias regionais foi José Penna, diretor do Departamento Nacional de Higiene (DNH), a maior instância sanitária do país. Uma de suas principais iniciativas foi o estabelecimento de “estações sanitárias” pelas províncias, que deveriam se localizar nas áreas com doenças endêmicas e servir de orientação para as campanhas sanitárias (SÁNCHEZ, 2007SÁNCHEZ, Norma Isabel. La Higiene y Los Higienistas En La Argentina (1880-1943). Buenos Aires: Sociedad Científica Argentina, 2007., p. 97-98; DI LISCIA, 2012DI LISCIA, María Silvia. Desde fuera y desde dentro. Enfermidades, etnias y nación (Argentina, 1880-1940). In: HOCHMAN, Gilberto; DI LISCIA, María Silvia; PALMER, Steven. Patologías de la pátria: enfermidades, enfermos y nación em América Latina. Buenos Aires: Lugar Editorial, 2012, p. 125-154.). Os laboratórios da Defesa Antipalúdica de algumas províncias também serviram como importantes pontos de comunicação e apoio, como, por exemplo, na ocasião em que se investigou a doença de Chagas na província de Salta em 1915 (ALVAREZ, 2008ALVAREZ, Adriana. Malaria and the Emergence of Rural Health in Argentina: An Analysis from the Perspective of International Interaction and Co-operation. Canadian Bulletin of Medical History, Volume 25 Issue 1, Spring 2008, p. 137-160., p. 147; ROSENBUSH, 1916ROSENBUSH, F. Comisión de investigación sobre bócio, cretinismo y enfermidade de Chagas em La província de salta. Annales del Departamento Nacional de Higiene, Buenos Aires, v. 2, n. 2, nov. 1916.). Estes laboratórios foram também cruciais para as pesquisas da leishmaniose, conduzidas por membros do IB/DNH, das quais participaram também médicos e instituições locais. O brasileiro Arthur Neiva foi crucial no desenrolar destas pesquisas sobre leishmaniose, atendendo assim às expectativas que haviam sido postas em seu contrato de trabalho com o DNH11 11 “Organizar un museo de insectos y artrópodos y realizar todos aquelles otros trabajos e investigaciones cientificas que el estudio de las regiones endémicas del Norte del país le segiera como conducentes a la mejor forma de extinción de las especies zoológicas nocivas. Art. 3º El presidente del Departamento Nacional de Higiene se obliga a poner a la disposición del Doctor Neiva todos los instrumentos, lbros y demas elementos de labor que solicite para el desempeño de su cometido, así como tambien el personal que le sea necessário, no solo en el Instituto, sinó tambien em los Laboratorios Regionales”. Fundação Getúlio Vargas/Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, Arquivo Arthur Neiva, (adiante FGV/CPDOC AN), ANc 1903.05.25, I-85, p. 1-2. .

Jose Penna buscou, com isso, aparelhar o instituto buenairense com recursos materiais e humanos para explorar as patologias regionais e, em especial, as das provinciais do norte do país. Os dois personagens de destaque deste trabalho foram contratados por sua iniciativa, sendo que, no caso de Rudolf Kraus, Penna viajou pessoalmente para Viena com o propósito do convite. A ida do brasileiro Arthur Neiva para a organização da seção de entomologia, por sua vez, possibilitou que se consolidasse uma linha de pesquisa sobre vetores de doenças no instituto (CAVALCANTI, 2013bCAVALCANTI, Juliana Manzoni. “A Trajetória Científica de Rudolf Kraus (1894-1932) entre Europa e América do Sul: Elaboração, produção e circulação de produtos biológicos”. PhD diss., Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, 2013b.).

Rudolf Kraus, Arthur Neiva e a disputa por hegemonia na medicina tropical sul-americana

Através das cartas que Arthur Neiva trocou com Oswaldo Gonçalves Cruz percebe-se que a concorrência na área da medicina tropical era uma questão significativa. Quando esteve no Museu de História Natural de Washington em 1907, Oswaldo Cruz escreveu entusiasmado a Neiva ao perceber que muitos dos mosquitos que tinham no IOC ainda eram desconhecidos para os estadunidenses. A partir dos anos de 1910, o IOC desenvolveu a área da entomologia médica tanto através do aumento de suas coleções com as viagens científicas pelo interior do país, quanto pela presença de Adolf Lutz, já com experiência na área e com uma consolidada rede de relações com universidades, museus e institutos de pesquisa estrangeiros (BENCHIMOL & SÁ, 2006BENCHIMOL, Jaime Larry; SÁ, Magali Romero. Adolpho Lutz e a entomologia médica no Brasil. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2006. p. 508, BENCHIMOL, 2008BENCHIMOL, Jaime Larry. Medical and agricultural entomology in Brazil: a historical approach. Parassitologia, 2008, v. 50, n. 3-4, p. 233-46.). O estudo dos vetores já era uma área primordial de pesquisa para a medicina tropical e muitos países do continente se engajavam em seu desenvolvimento (BENCHIMOL, 2008BENCHIMOL, Jaime Larry. Medical and agricultural entomology in Brazil: a historical approach. Parassitologia, 2008, v. 50, n. 3-4, p. 233-46.).

Na carta que Arthur Neiva escreveu a Oswaldo Cruz, em 1916, tratando de sua atuação e da de Kraus na Argentina, vemos a intenção de definir estratégias para que as pesquisas feitas no IOC não fossem superadas pela crescente concorrência argentina. Segundo Neiva, Rudolf Kraus além de querer “mostrar aos olhos argentinos que os elementos de Manguinhos [IOC] de nada val[iam]”, procurava “dar o tombo em Manguinhos”12 12 Manguinhos é o nome do bairro onde o IOC foi criado. O trecho em questão menciona um dos pesquisadores argentinos que participou do trabalho que gerou a primeira grande polêmica sobre a doença de Chagas: “a menina dos olhos de Kraus é o [Francisco] Rosenbush, elemento com que ele conta para dar o tombo em Manguinhos”. Centro de Documentação e História da Saúde/Casa de Oswaldo Cruz-FIOCRUZ, Arquivo Oswaldo Cruz (adiante BR RJCOC OC), Arthur Neiva a Oswaldo Gonçalves Cruz, 16 mai. 1916, p. 1, (BR RJCOC OC-COR-CI-16). . Nela, Neiva narra os preparativos para a excursão que realizou ao norte da Argentina e revela uma acirrada disputa com Kraus pela primazia na descrição da leishmaniose. Kraus teria tentando fazê-lo diagnosticar o primeiro caso de leishmaniose no país para no instante seguinte dizer que já suspeitava da doença e, assim, liderar a descrição. No final das contas, conforme lamenta na carta, o primeiro caso de leishmaniose teria sido feito pelo Dr. Guillermo Cleland Paterson (1871-1946) em Tucumán. Nesta cidade, o brasileiro e o argentino Belarmino Barbará haviam identificado dois casos da doença e aproveitaram para apresentar seus resultados no Congresso Americano de Ciências Sociais, numa clara tentativa de firmar prioridade em seu estudo13 13 Neiva a Cruz, 16 mai. 1916, p. 5 (BR RJCOC OC-COR-CI-16). .

Neiva lamentava o fato de que Kraus detinha o monopólio sobre a investigação científica dos membros do instituto buenairense, já que era Inspetor General de Laboratórios Regionais desde 1914. Segundo Adriana Alvarez, essa nomeação tinha como fim unificar os procedimentos para que se fizesse um plano de profilaxia geral (ALVAREZ, 2010ALVAREZ, Adriana. Entre muertos y mosquitos: el regresso de las plagas en la Argentina (siglos XIX y XX). Buenos Aires: Biblios, 2010., p. 72.). O investimento na comunicação entre os serviços sanitários nas províncias foi bem aproveitado por Kraus que instituiu a obrigatoriedade da remessa de materiais e de pacientes para o IB/DNH, onde o diagnóstico deveria ser feito14 14 Neiva a Cruz, 19 mai. 1916, p. 6-7 (BR RJCOC OC-COR-CI-16). Neiva afirma que Kraus teria solicitado que se restringisse a estudar apenas os mosquitos, alegando que não haveria tempo para mais nada. Kraus teria também, constantemente, solicitado o envio de doentes com leshimaniose para Buenos Aires para que o diagnóstico fosse confirmado no instituto. Neiva a Cruz, 19 mai. 1916, p. 4 e 10(BR RJCOC OC-COR-CI-16). . Investido em um dos cargos de saúde mais importantes da Argentina, Kraus tentou adquirir proeminência entre os mais destacados cientistas e médicos da região do Cone Sul. Mas quando Arthur Neiva e Belarmino Barbará publicaram os resultados da excursão, em 1917, o personagem destacado foi o brasileiro Oswaldo Cruz cujo papel na consolidação das pesquisas em medicina tropical no continente fora primordial: “Ao Dr. Oswaldo Cruz, que no Instituto de Manguinhos criou um ambiente científico, no qual as iniciativas de uma mocidade capaz e entusiasta se desenvolve com todo seu vigor, nossa sincera homenagem por este serviço prestado à humanidade” (NEIVA & BARBARÁ, 1917NEIVA, Arthur; BARBARÁ, Belarmino. Leishmaniosis Tegumentaria Americana. Hallagos de numerosos casos autócnos em La República Argentina. Buenos Aires: Ministerio de Agricultura de La Nación, 1917, p. 61, p. 55).

A homenagem a Oswaldo Cruz em um trabalho conduzido por membros do Instituto Bacteriológico e financiado pelo DNH não teria maiores significados se não estivéssemos a par das apreensões de Neiva quanto às investidas argentinas nas pesquisas sobre doenças como malária, leishmaniose e doença de Chagas. A intenção foi claramente marcar o papel que o brasileiro Oswaldo Cruz e, por conseguinte o IOC, desempenhavam para todo o continente sul-americano no que tange às pesquisas sobre tais endemias. Essa foi uma grande preocupação de Neiva sempre externada na carta.

Outro assunto que o inquietou bastante foram os preparativos para o Primeiro Congresso da Sociedade Sul-Americana de Microbiologia, Patologia e Higiene - fundada por Kraus em 1916, já que seria a primeira vez que Kraus e Carlos Chagas se encontrariam e se esperava uma resposta do brasileiro às críticas ao seu trabalho. Para Neiva, a realização da conferência era uma estratégia não apenas de Kraus, mas do governo argentino em projetar o país, com a “doença de Chagas” como o grande trunfo do evento15 15 Neiva a Cruz, 28 mai. 1916, p. 18, (BR RJCOC OC-COR-CI-16). . A liderança de Kraus em questionar um dos grandes feitos da ciência brasileira - a descoberta da doença de Chagas - era o ponto mais perturbador para Neiva. Sua preocupação era tão intensa que em algumas passagens da carta escrita a Oswaldo Cruz fazia perguntas retóricas: “Estou certo que ainda neste particular não nos deixaremos alcançar, não é?”16 16 Este trecho trata da organização da biblioteca do Instituto Bacteriológico: “O Kraus está organizando agora a biblioteca; tem 2 austríacos (...) Parece que vão tomar uma ofensiva fulminante, pois a lista em organização para o pedido inicial é formidável. Estou certo que ainda neste particular não nos deixaremos alcançar, não é assim?”. Neiva a Cruz, 28 mai. 1916, p. 18 (BR RJCOC OC-COR-CI-16). .

Para Arthur Neiva, a interferência de cientistas argentinos na descoberta de Chagas ameaçara os planos pensados para o IOC, uma vez que a ciência praticada no país vizinho arvorava-se agora como colaboradora, e até como retificadora, dos trabalhos do instituto. Segundo Kraus and Rosenbush:

nosso aplauso ao sábio Dr. Carlos Chagas, descobridor de uma enfermidade tão interessante por sua patogenia como por sua etiologia. Estamos seguros de que a autoridade do Dr. Chagas nos ajudará a resolver o problema. Nossas modestas observações não têm outro objeto que contribuir ao estudo desta enfermidade com o fim de aclarar a etiologia de um mal que tem tanta importância para a América do Sul (KRAUS & ROSENBUSH, 1917KRAUS, Rudolf; ROSENBUSH, F. Bocio, Cretinismo y Enfermidad de Chagas. In: KRAUS, R. & CARBONELL, M. Primera Conferencia de la Sociedad Sud Americana de Higiene, Microbiología y Patología. Buenos Aires: Sociedad Sud Americana de Higiene, Microbiología y Patología, p. 79-81, 1917., p. 79-81).

Ao supor que teria participação no esclarecimento de uma doença pela qual os médicos e cientistas brasileiros tomavam como um dos grandes feitos nacionais soava desconcertante. Conforme Neiva relatou a Oswaldo Cruz em carta de maio de 1916, Kraus pretendia sobrepujar a ciência brasileira pela argentina através de suas pesquisas e ao formar cientistas capazes de acompanhá-lo: “Uma das preocupações do Kraus é a de plantear [delinear], como aqui se diz, pela primeira vez, problemas médicos e científicos”17 17 Neiva a Cruz, 16 de mai. 1916, p. 3 (BR RJCOC OC-COR-CI-16). .

A estadia de Arthur Neiva na Argentina teve, assim, impactos importantes para sua carreira. Os contatos com os cientistas argentinos perdurariam após sua volta ao Brasil18 18 Neiva a Angel Roffo, 27 dez.1916 (FGV/CPDOC, ANc 1903.05.25, 107 e ANc 1916.11.27, 6); Bernardo Houssay a Neiva, 16 fev.1917 (FGV/CPDOC, ANc 1903.05.25); R. Biglieri a Neiva, 26 mai.1924 (FGV/CPDOC, ANc 1903.05.25, 121). Neiva a Manuel Carbonell e Bernardo Houssay, respectivamente, 17 apr.1919 (FGV/CPDOC, ANc 1916.11.27, I-49;50); Neiva a Belarmino Barbará, 1918 (Arquivo Arthur Neiva, FGV/CPDOC, ANc 1916.11.27, I-25; 32). e muitas das mudanças que começou a implementar como diretor do Serviço Sanitário de São Paulo foram baseadas nas iniciativas observadas em Buenos Aires19 19 As fiscalizações empreendidas na Argentina, bem como a linha de investigação relacionada, foram vistas no Brasil como um sinal de sua melhor organização nos estudos sobre produtos biológicos e despertaram o interesse de Neiva pela prática. CAVALCANTI, 2015. . Já em 1918, no plano de reforma da saúde pública que enviou ao candidato à presidência da República do Brasil, assinalava recorrentemente a organização do IB/DNH (BENCHIMOL & TEIXEIRA, 1994BENCHIMOL, Jaime Larry; TEIXEIRA, Luiz Antonio. Cobras, lagartos & outro bichos. Uma historia comparada dos institutos Oswaldo Cruz e Butantan. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1994., p. 144). Em seguida, veremos que sua experiência na Argentina impactou sobremaneira em seu discurso sobre a saúde e ciência no Brasil. Aos partidários do Movimento Sanitarista da Primeira República levantava sempre o espectro da concorrência argentina na medicina tropical, que ainda era um bastião do IOC na América do Sul.

Momentos de beligerância: Arthur Neiva retorna ao Brasil, a Primeira Guerra Mundial e o Movimento Sanitarista da Primeira República

No início do século XX, durante a administração de Rio Branco à frente do Ministério das Relações Exteriores, a influência geopolítica do Brasil aumentou com a resolução dos conflitos fronteiriços com os países da América do Sul. Os relatos de viagem de brasileiros aos países do continente mostram as representações produzidas e veiculadas durante o início da República como o relato do jornalista Arthur Dias, para quem Buenos Aires era a cidade mais moderna e civilizada da América do Sul, a segunda capital latina depois de Paris (BAGGIO, 2008BAGGIO, Kátia Gerab. Dos Trópicos ao Prata: viajantes brasileiros pela argentina nas primeiras décadas do século XX. História Revista, Goiânia, 13 (2):425-445, jul/dez, 2008.). À época, o IOC tinha bastante prestígio junto ao governo brasileiro tanto pelas atividades sanitárias empreendidas na Capital quanto pelo reconhecimento internacional, que ressoava através de notícias de jornal e pelos ofícios diplomáticos das representações brasileiras no exterior. Os resultados da ciência eram utilizados tanto por cientistas quanto por políticos para fortalecerem a imagem do Brasil no exterior e auferir vantagens com tal proeminência.

As comparações com a Argentina se intensificaram com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, já que a atenção, antes direcionada principalmente para a Europa Ocidental, se voltava para seus vizinhos. Assim que retornou ao Brasil, Arthur Neiva foi recebido com banquetes e homenagens em locais e por personalidades chaves do cenário político do período. No mesmo discurso em que ressaltou o “Exemplo Argentino”, o cientista reforçou as concepções de independência cultural, econômica e política frente à Europa, afloradas com a eclosão do conflito:

Se ainda há duvidas sobre as informações a respeito das condições sanitárias dos sertanejos, cabe à Imprensa, parte preponderante nas cruzadas em prol da Abolição e da República, enviar seus emissários ao interior do país para ver quem de fato exagera (...) Talvez, então, os habitantes dos centros civilizados do litoral dediquem uma parcela do apaixonado interesse com que acompanham os fenômenos políticos e sociais da velha Europa e volvam suas vistas para os problemas de nossa terra, onde há tanto a realizar para que sejamos dignos do território atualmente dominado por nós20 20 Discurso de Neiva, “O Saneamento do Sertão”, em 18/10/1916 no teatro municipal num jantar oferecido pela classe médica (BR RJCOC AN/caixa2, maço 5, p. 7). .

O período da Grande Guerra coincidiu com as comemorações do centenário de independência de vários países da América Latina. Os debates sobre a soberania nacional em tempos de invasões europeias, especialmente na África e Ásia, se imiscuíam às discussões sobre identidade nacional, fomentadas ao longo do exercício de rememorar os cem anos passados sob um governo independente. O conflito mostrou que a idealizada civilização europeia falhara em diversos aspectos e abria novas possibilidades aos países do continente. Uma delas era voltar-se para as outras origens da formação de suas populações e explorar as intocáveis e esquecidas regiões do interior. Esta atenção direcionada foi conduzida especialmente por literatos e cientistas em ambos os países.

Em 1916, realizou-se, em Buenos Aires, a Primeira Conferência da Sociedade Sul-Americana de Microbiologia, Higiene e Patologia, estrategicamente logo após o Primeiro Congresso Médico Nacional. Foi neste evento que Chagas refutou as críticas que recebera de Kraus no ano anterior21 21 Se Neiva pensava que o encontro se daria no primeiro congresso da sociedade fundada por Kraus, deve ter sido ainda mais perturbador descobrir que o encontro se daria num congresso com ambiência mais ampla, o Primeiro Congresso Médico Nacional. . A presença brasileira nestes eventos foi de extrema importância para as discussões sobre saúde pública no Brasil ao final da década de 1910. As expectativas desta participação ultrapassavam então o círculo médico do país como atesta a presença de representantes do Presidente da República e do Ministro da Justiça na partida dos delegados brasileiros à Buenos Aires22 22 “Viajantes”, O Paiz (Rio de Janeiro), 07 sep.1916, p. 3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=178691_04&PagFis=32864, acesso aos 10/06/2013. .

O significado para a diplomacia nacional das participações científicas em congressos de âmbito internacional foi analisado por Hugo Suppo que mostrou o empenho do Barão do Rio Branco, enquanto Ministro das Relações Exteriores do Brasil entre 1902 e 1912, em projetar o país também através da divulgação científica e da participação em congressos (SUPPO, 2003SUPPO, Hugo Rogélio. Ciência e Relações Internacionais. Revista da Sociedade Brasileira de História da Ciência, v. 1, p. 6-20, 2003., p. 11-12)23 23 Para exemplificar esta estratégia do Barão, o autor escolheu o 3º Congresso Científico Latino-Americano passado no Rio de Janeiro em 1905, que teria ocorrido em um momento de abertura para a região por parte do governo brasileiro. . As expectativas à participação dos brasileiros no Primeiro Congresso Médico Nacional, da Argentina, tiveram eco fora dos periódicos especializados como se nota pela notícia de 5 de setembro de 1916 no jornal brasileiro, O Paiz:

A nossa representação não pode ser mais brilhante. É a expressão máxima da nossa cultura médica (...) a obra desses congressos é, principalmente, a obra política determinada pela comunhão de interesses, sejam estes comerciais ou científicos, sociais ou econômicos. E em nenhum campo da atividade humana a comunhão de aspirações e interesses deve e pode ser mais estrita do que no terreno impessoal da ciência. Aos que seguem para Buenos Aires como paladinos de uma cruzada nesse sentido, os nossos melhores votos de boa viagem e de feliz êxito na missão que lhes é atribuída e de tão gloriosamente se desempenham24 24 “Missão gloriosa”, O Paiz (Rio de Janeiro), 05 sep.1916, p. 3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=178691_04&PagFis=32844, acesso aos 10/06/2013. .

A comitiva brasileira era formada por Carlos Chagas, Aloysio de Castro, diretor da Faculdade de Medicina, Bruno Lobo, diretor do Museu Nacional, dentre outros. Os delegados brasileiros não só participaram do congresso e da conferência como também visitaram diversas instituições de saúde e de pesquisa na Argentina como, por exemplo: o Instituto Bacteriológico do DNH, a Faculdade de Medicina da Universidade de Buenos Aires, os hospitais Durand, Rivadavia e o Hospital de Alienados de Mercedes25 25 “A missão médica à Argentina”, O Paiz (Rio de Janeiro), 13 sep.1916, p. 5. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=178691_04&PagFis=32918, acesso aos 12/06/2013. “Congresso de Medicina”, 14 sep.1916, p. 2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=178691_04&PagFis=32925, acesso 12/06/2013 “Congresso de Medicina”, 16 sep.1916, p. 2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=178691_04&PagFis=32941, acesso 12/06/2013. . Embora não explícita na notícia, a ida da delegação brasileira estava envolta em grandes expectativas, já que seria o momento de encontro entre Carlos Chagas e Rudolf Kraus, autor do primeiro trabalho crítico à descrição da nova patologia feita pelo brasileiro.

Em O Paiz, foram publicadas diversas notícias sobre os acontecimentos ocorridos durante as reuniões em Buenos Aires, bem como sobre as consequências desta participação. Na edição do dia 15 de outubro de 1916, quando os delegados brasileiros já tinham retornado da Argentina, há duas referências ao desenvolvimento argentino. Uma é o discurso do deputado federal Palmeira Ripper, representante de São Paulo, sobre a participação dos médicos brasileiros nos eventos argentinos, no qual salientava a capacidade científica da Argentina que seria “um país de sábios”26 26 “Câmara”, O Paiz (Rio de Janeiro), 15 oct.1916, p. 7. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=178691_04&PagFis=33208, acesso aos 12/06/2013. . A outra é uma notícia sobre a recepção presidida pelo político Rui Barbosa e oferecida ao médico Aloysio de Castro pela Associação de Empregados no Commercio, na qual o médico Miguel Couto externou que:

a prosperidade de nosso vizinho [Argentina] é tal que (...) a sua fartura se derrama em luxo e gozo e para ele se voltam todas as honrarias e homenagens (...) Ele tão pouco farto de saber que o nosso imenso território encerra em suas entranhas imensas riquezas (...) não converte as suas sobras e seu poderio em instrumentos de destruição para cair de improviso sobre a nossa imprevidência e tentar arrebatá-las. Assim somos vizinhos27 27 “Banquete”, O Paiz (Rio de Janeiro), 15 oct.1916, p. 3. Disponível em : http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=178691_04&PagFis=33204, acesso aos 12/06/2013 .

O período dos congressos argentinos coincidia com intensos debates sobre a neutralidade do Brasil na guerra. Aqui o apoio à causa aliada foi quase imediato, mas sua participação no conflito só se deu em fins de 1917 (COMPAGNON, 2014COMPAGNON, Olivier. O adeus à Europa. A América Latina e a Grande Guerra. Rio de Janeiro: Rocco, 2014.). Em julho de 1916, pouco antes da realização dos eventos médico-científicos em Buenos Aires, Rui Barbosa havia participado das comemorações do centenário de Independência da Argentina e recebido na Faculdade de Direto o título de professor honoris causa. Em seu discurso declarou que a neutralidade não poderia ser confundida com indiferença e passividade, o que causou grande alvoroço e repercussão internacional, já que o Brasil ainda era neutro no conflito e a Argentina seria até o seu final (BUENO, 2003BUENO, Clodoaldo. Política externa da Primeira República: os anos de apogeu (1902 a 1918). São Paulo: Paz e Terra, 2003, p. 506 , p. 456)28 28 A visita oficial de Ruy Barbosa, nomeado então como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário, ocorreu quando Arthur Neiva ainda se encontrava em Buenos Aires. Em telegrama que enviou ao cientista brasileiro, felicitava-o por sentir orgulho de sua atuação no país. FGV/CPDOC, ANc 1903.05.25, I-99. .

A neutralidade argentina não suscitou muitos debates internos até abril 1917, quando os EUA entraram na guerra e, com isso, a autonomia diplomática de vários países do continente viu-se ameaçada em razão da iniciativa estadunidense ser revestida pelo lema do pan-americanismo. Em março deste ano, o presidente argentino havia começado a organização do Congresso dos Neutrales, cujo nome teve logo que ser modificado para Congreso de Paz em vista da recente configuração geopolítica. Além disso, as contínuas pressões britânicas ao comércio interno, com suas listas negras, e o crescente descontentamento de parte da sociedade inconformada com a política externa do governo adicionavam ainda mais tensão aos debates sobre a neutralidade argentina (TATO, 2008TATO, María Inés. “Nacionalismo e internacionalismo en la Argentina durante la Gran Guerra”. Projeto História, São Paulo, n.36, p. 49-62, jun. 2008., p. 51). Ainda que a Primeira Guerra Mundial tenha diminuído a corrida armamentista entre Chile, Argentina e Brasil - por causa do direcionamento das firmas de armamento para o esforço de guerra - a rivalidade se mantinha com a desconfiança brasileira face à neutralidade da Argentina no conflito. Conjecturava-se que ela poderia se aliar à Alemanha e ameaçar o Brasil cujas embarcações haviam sido atacadas pelos alemães (GARCIA, 2006GARCIA, Eugênio Vargas. Entre América e Europa: a política externa brasileira na década de 1920. Brasília, Editora da Universidade de Brasília; Funag, 2006., p. 193-4, 198). A entrada brasileira no conflito ocorreu seguida ao torpedeamento de navios mercantes brasileiros em 1917, após o Império Alemão já ter anunciado sua intenção de bloquear a movimentação marítima britânica e de seus aliados (BUENO, 2003BUENO, Clodoaldo. Política externa da Primeira República: os anos de apogeu (1902 a 1918). São Paulo: Paz e Terra, 2003, p. 506 , p. 458).

A situação dos alemães nas capitais latino-americanas já não era das melhores devido à alta cobertura da imprensa inclinada à causa dos Aliados. Tal cobertura foi, conforme o historiador Stefan Rinke, mais uma faceta da guerra, ou seja, mais uma frente de conflito. Os alemães saíram logo em desvantagem, pois a maioria das notícias que chegavam à América Latina partia de meios de comunicação sob o domínio dos Aliados, já que a rede de comunicação telegráfica alemã havia sido cortada no início do conflito (RINKE, 2015RINKE, Stefan. Im Sog der Katastrophe. Lateinamerika und der Erste Weltkrieg. Frankfurt am Main: Campus Verlag, 2015.). Aliados dos alemães, os austríacos também sofreram as pressões da guerra e Rudolf Kraus não ficou imune ao clima tenso. O fato de um cientista de origem germânica ter sido o primeiro a levantar críticas relativas à descrição de Carlos Chagas da nova tripanossomíase americana não foi desperdiçada pelos simpatizantes da causa aliada. Na carta a Oswaldo Cruz, Neiva não economizou em seus preconceitos à origem germânica de Kraus: “Kraus, então adotou o regime alemão” referindo-se a uma postura arrogante de Kraus em não aceitar a fala de Neiva29 29 Neiva a Cruz, 28 mai. 1916, p. 5 (BR RJCOC OC-COR-CI-16). .

Quando Arthur Neiva retornou ao Brasil, vemos que sua ação política iniciou-se quase que imediatamente. Em menos de dez dias após sua chegada, Neiva publicou o primeiro de muitos artigos de jornal no Correio da Manhã, com trechos do relatório derivado de uma expedição científica realizada pelo interior do Brasil em 1912, na companhia de Belizário Penna (LIMA & HOCHMAN, 2004LIMA, Nísia Trindade; HOCHMAN, Gilberto. “Pouca saúde e muita saúva”: o sanitarismo, interpretações do país e ciências sociais. In: HOCHMAN, Gilberto; ARMUS, Diego (orgs.). Cuidar, controlar, curar: ensaios históricos sobre saúde e doença na América Latina e Caribe. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2004., p. 498-9). O relátorio descreve a situação sanitária de regiões interioranas do Brasil e é apontado pela historiografia brasileira como um dos marcos do Movimento Sanitarista da Primeira República, mobilização política surgida durante a Primeira Guerra Mundial e composta por médicos, políticos e intelectuais que exigiam a melhoria das condições sanitárias do país (CASTRO-SANTOS, 1985CASTRO-SANTOS, L. A. O pensamento sanitarista na Primeira República: uma ideologia de construção da nacionalidade. Dados, Revista de Ciências Sociais, v. 28, p. 193-210, 1985.; HOCHMAN, 2016HOCHMAN, Gilberto. The Sanitation of Brazil: Nation, State, and Public Health, 1889-1930. Urbana, IL, Chicago, and Springfield, IL: University of Illinois Press, 2016.; LIMA, 1999LIMA, Nísia Trindade. Um sertão chamado Brasil: intelectuais e representação geográfica da identidade nacional. Rio de Janeiro: Revan, IUPERJ, UCAM, 1999, 232p.; LIMA & HOCHMAN, 1996LIMA, Nísia Trindade; HOCHMAN, Gilberto. Condenado pela raça, absolvido pela medicina: o Brasil descoberto pelo Movimento Sanitarista da Primeira República. In: Maio, M. C.; Santos, R. V. (eds.). Raça, ciência e Sociedade. Rio de Janeiro: FCCBB, Editora Fiocruz, 1996, p. 23-40., 2004LIMA, Nísia Trindade; HOCHMAN, Gilberto. “Pouca saúde e muita saúva”: o sanitarismo, interpretações do país e ciências sociais. In: HOCHMAN, Gilberto; ARMUS, Diego (orgs.). Cuidar, controlar, curar: ensaios históricos sobre saúde e doença na América Latina e Caribe. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2004.). A divulgação de trechos deste relatório causou enorme repercussão nos meios político e social do país, já bastante convulsionado pelo surgimento de vários movimentos nacionalistas devido ao conflito30 30 Além do relatório, temos também as repercussões da publicação O Saneamento do Brasil em 1918, e a atuação da Liga Pró-Saneamento, entre 1918 e 1920. LIMA, 1999, p. 84; LIMA & HOCHMAN,1996, p. 29; LIMA & HOCHMAN, 2004, p. 498. .

No mesmo período, outro evento que causou grande alvoroço foi o discurso do médico Miguel Pereira, quando afirmou que o Brasil seria um “imenso hospital”. Esse discurso foi dado na Academia Nacional de Medicina em uma recepção aos médicos brasileiros que voltavam da Argentina. De um lado, afirmava-se que o país era composto por uma população doente e que por isso não alcançaria o desenvolvimento apresentado pelos países europeus e, de outro, combatia-se esta visão acusando-a de antinacionalista. Nesse mesmo discurso, o médico Miguel Pereira referiu-se sutilmente a Kraus afirmando que: “em nome da ciência alemã, numa investida compacta [começavam] a roer e esbrugar a vossa pirâmide”. Como mostrado pela historiadora Simone Kropf, a aceitação da doença de Chagas como uma patologia importante para o Brasil foi um processo longo, ocorrido durante a própria construção do papel da ciência no país. A descoberta de Chagas era mobilizada como um dos maiores feitos da ciência nacional em meio ao clima político tenso da Primeira Guerra Mundial31 31 Jornal do Commercio, 1916 Apud KROPF, 2009, p. 196. .

Para Neiva, a classe médica carioca organizou um jantar no Theatro Municipal para homenagear sua atuação na Argentina32 32 ”Banquetes”, O Paiz (Rio de Janeiro), 29 oct.1916, p. 7. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=178691_04&PagFis=33330, acesso aos 12/06/2013. . Na ocasião proferiu o discurso, O Saneamento do Sertão, pelo qual intensifica a divulgação das ideias que conformariam o Movimento Sanitarista. Dentre os onze temas abordados destaco o item “O exemplo Argentino”:

Percorri suas mais remotas províncias e estou convencido de que nenhum povo, de nenhuma raça, com população igual à da Argentina, conseguiu tal progresso (...). Isto vem demonstrar a grandeza da Argentina, elaborada por um povo da mesma estirpe que a nossa, nos obriga a imita-la, numa legitima competição, no terreno pacífico em prol do progresso material, social e moral da América do Sul (...) o governo central encontra meios de iniciar uma campanha profilática que se realiza em cinco das suas províncias (...) a assistência médica já estende seus benefícios até as regiões do Chaco, habitadas quase exclusivamente por indígenas; intentemos por imita-la, pelo menos na atividade com que procura defender os seus cidadãos, e que a Argentina busca realizar em proporções, nem de longe suspeitada por muita gente33 33 Impresso do discurso pronunciado pelo Dr.Arthur Neiva no banquete que lhe foi oferecido pela classe medica no restaurante do Teatro Municipal do Rio de Janeiro a 18 de novembro de 1916. Centro de Documentação e História da Saúde/Casa de Oswaldo Cruz-FIOCRUZ, Arquivo Arthur Neiva (adiante BR RJCOC AN), AN, caixa 2, maço 5, p. 7.

É preciso ressaltar o uso das palavras “legítima competição” e “terreno pacífico” para lembrarmos que as diretrizes que se adotavam entre Brasil e Argentina no âmbito político e diplomático se refletiam também entre os principais médicos e cientistas brasileiros. Isto se deve muito à histórica pretensão brasileira de afirmar-se como potência hegemônica na América do Sul e que aparece não apenas na arena diplomática ou política, mas também na científica como também nos indicou o diretor do Museu Nacional em 1905: “se queremos tornar indiscutível a hegemonia do Brasil na América do Sul, devemos encarar essa política também do ponto de vista de superioridade dos nossos recursos intelectuais, e dos nossos institutos de ensino e de ciência” (SÁ, SÁ; LIMA, 2008SÁ, Dominichi Miranda de; SÁ, Magali Romero; LIMA, Nísia Trindade. Telégrafos e inventário do território no Brasil: as atividades científicas da Comissão Rondon (1907-1915). História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 15(3), 779-810, 2008., p. 789).

O papel de Arthur Neiva na promoção do debate em prol do sanemaneto do país já foi apontado pela historiografia, contudo, há que se frisar que sua experiência na Argentina foi crucial para intensificá-los. Como já indicado, Neiva começou a distribuição dos trechos do relatório pouquíssimos dias após seu regresso de Buenos Aires. Além disso, era mencionado nos jornais de grande circulação como o “distribuidor” do relatório, apesar de dividir sua autoria com o médico Belisário Penna - um dos textos usa a expressão “propagandeador independente” (SÁ, 2009SÁ, Dominichi Miranda de. Uma interpretação do Brasil como doença e rotina: a repercussão do relatório médico de Arthur Neiva e Belisário Penna (1917-1935). História, Ciências, Saúde - Manguinhos, v.16, supl.1, jul. 2009, p.183-203., p. 190, 194, 201).

Ao mesmo tempo, a polêmica em torno da descrição da doença de Chagas corria solta nos jornais, e alimentava os temores da superação argentina na área das pesquisas médico-científicas no subcontinente. Na citação a seguir, extraída de O Paiz, percebe-se o entrelaçamento das discussões em torno da doença de Chagas e da comparação entre os institutos de pesquisa carioca e portenho:

É o caso que há na Argentina um estabelecimento científico que corre parelhas com o nosso Manguinhos [IOC]. É o Instituto Bacteriológico de Buenos Aires [IB/DNH]. Dirige-o sábio professor Kraus, notabilidade mundial, a maior competência em questões de imunidade (...)Kraus apresentou uma comunicação, documentada como todas as que lhe saem do formoso espírito, procurando demonstrar a inexistência da “doença de Chagas” - que é o maior padrão de glória da ciência brasileira. Quer dizer: o Instituto de Buenos Aires dava um quinhão no Instituto Oswaldo Cruz. Como é de imaginar, o fato produziu a mais alta sensação. Ao terminar Kraus a sua exposição, a assistência parecia absolutamente convencida da falsidade do novo tipo nosológico criado no Brasil. E houve uma estrondosa salva de palmas ao orador. A representação brasileira no congresso estava como que suspensa tal a emoção despertada pelo acontecimento. Foi quando Carlos Chagas se inscreveu para responder ao grande professor: Fe-lo na Faculdade de Medicina. O amfiteatro ficou repleto. Perto de mil pessoas aguardavam a palavra de nosso patrício. E Carlos Chagas falou. Falou durante duas horas e meia, com uma eloquência inaudita, formidável, assombrosa, que o transfigurou (...) Estalou então um delírio de aclamações e palmas a Chagas e ao Brasil. Mas a apoteose melhor foi feita pelo professor Kraus, quando, felicitando publicamente o delegado brasileiro, declarou que se achava convencido de que a razão se achava do lado de Manguinhos34 34 “Professor Carlos Chagas”, O Paiz (Rio de Janeiro), 03 nov.1916, p. 2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=178691_04&PagFis=33371, acesso aos 12/06/2013.

Infelizmente este é o único documento que narra as apresentações de Carlos Chagas e Rudolf Kraus em um dos congressos argentinos e suas conclusões devem ser tomadas com cautela. Pode-se, no entanto, perceber o quanto o desenvolvimento das pesquisas no instituto portenho preocupava, pois já a consideravam uma instituição com potencial equivalente ao congênere carioca. Neiva foi o principal responsável pela propagação deste receio às investidas científicas argentinas. Em 1918, quando recebeu a encomenda de Rodrigues Alves - que se candidatou à presidência, mas faleceu antes de assumir - para elaborar um plano para a reforma da saúde pública nacional utilizou-se ostensivamente do exemplo argentino para avaliar o que ainda havia de ser feito no Brasil e o que estava sendo ameaçado pelas novas iniciativas dos vizinhos:

Temos que aplicar a prática utilizada, já há muitos anos, pelos norte-americanos, argentinos e, em alguns pontos, também pelos uruguaios, qual seja a de enviar, para os principais portos de saída de imigrantes da Europa e Japão, inspetores sanitários que impeçam o embarque de elementos denominados indesejáveis (...) Os médicos argentinos e norte-americanos passam revista a gente que chega e vão eliminando (...) tudo quanto constitui o indesejável (...) Nenhuma repartição de higiene do globo deixa de possuir um instituto científico encarregado das pesquisas de higiene e que é o orientador da repartição, fornecendo técnicos para dirigir as campanhas mais difíceis (...) o Instituto Bacteriológico de Buenos Aires representa o similar do Instituto Oswaldo Cruz, naquelas paragens, e a todo transe os nossos vizinhos procuram arrancar o bastão de comando que ainda cabe a Manguinhos (...) Não se imagine que se trata de uma dedução; é uma das cláusulas do contrato firmado entre o governo argentino e o Prof. Rodolfo Kraus, que o dirige, e se não houver uma preocupação patriótica para obrigar Manguinhos a retomar a marcha ascensional em que ia, fatalmente os brasileiros verão passar às mãos dos argentinos o bastão de comando que nós já tão brilhantemente sustentamos com Oswaldo Cruz, mas que sentimos ver escapar-se do Brasil35 35 “PROGRAMA APRESENTADO PELO DR. ARTHUR NEIVA AO CONSELHEIRO RODRIGUES ALVES PARA A REFORMA DA HIGIENE NO BRASIL, POR OCASIÃO DO CONVITE QUE DAQUELE ESTADISTA RECEBEU PARA DIRETOR DA SAÚDE PÚBLICA, E POR ELE APROVADO INTEGRALMENTE”. FGV/CPDOC, ANc 1916.11.27, I-44, p. 3-4, 24.

E esse receio não vinha apenas de Neiva. O relatório da viagem empreendida entre janeiro e março de 1918, pelos cientistas do IOC, Adolf Lutz, Olympio da Fonseca e Heráclides César Souza Araújo, em regiões do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, corroborava o temor da concorrência argentina: “todo médico brasileiro sabe que a faculdade de Medicina e os Hospitais de Buenos Aires são muito superiores aos nossos” (LUTZ, SOUZA-ARAUJO & FONSECA FILHO, 1918LUTZ, Adolpho; SOUZA-ARAUJO, H. C. de; FONSECA FILHO, Olympio da. Viagem scientifica no Rio Paraná e a Assuncion com volta por Buenos Aires, Montevideo e Rio Grande. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v.10, n.2, p. 104-73, 1918.).

O período entre fins de 1916 e 1918 é marcado por acontecimentos que moldaram os rumos da saúde pública no Brasil nos anos de 1920. Desde o congresso argentino (setembro de 1916), quando a doença de Chagas teria sido posta em cheque, passando pela morte de Oswaldo Cruz (fevereiro de 1917), até a escolha do diretor da saúde pública nacional, os debates sobre saúde escondiam disputas pessoais entre os principais cientistas médicos do país. A morte de Oswaldo Cruz, em particular, foi determinante para que os receios de Neiva no que tange à atuação científica dos argentinos ressoassem como ameaça concreta. A historiografia já abordou a importância de sua morte para a cristalização do movimento sanitarista, bem como para o processo de construção do mito Oswaldo Cruz (BRITTO, 1995BRITTO, N. Oswaldo Cruz: a construção de um mito na ciência brasileira. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ , 1995. p. 144). Nas cartas que enviou aos colegas argentinos, Neiva não se furtava de assinalar que, em 1918, Rodrigues Alves o havia escolhido para dirigir a saúde pública do país, em substituição a Oswaldo Cruz. Colocava-se, assim, como o discípulo herdeiro que deveria assumir o compromisso de continuar a obra de saneamento de seu mestre não apenas na Capital, mas por todo país36 36 Arquivo Arthur Neiva, FGV/CPDOC, AN c 1916.11.27, I-49; 50. .

No entanto, o final da história foi outro. O escolhido para chefiar a saúde pública no Brasil foi Carlos Chagas, com quem Neiva entrou em conflito em 1917, quando fazia de tudo para que o Instituto Butantan (São Paulo) obtivesse as mesmas condições de financiamento usufruídas pelo Instituto Oswaldo Cruz (BENCHIMOL & TEIXEIRA, 1994BENCHIMOL, Jaime Larry; TEIXEIRA, Luiz Antonio. Cobras, lagartos & outro bichos. Uma historia comparada dos institutos Oswaldo Cruz e Butantan. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1994., 150.). Em carta ao seu mestre, Neiva não se furtou de mencionar que “a crença generalizada aqui [na Argentina], entre os médicos, é que Chagas não tem razão” e dizer que até mesmo ele tinha dúvidas quanto à correlação da doença com o bócio, ainda que fosse um árduo defensor da descoberta de Chagas37 37 “Pessoalmente tenho que confessar que as minhas crenças concernentes ao bócio e tripanossomas estão muito abaladas, em consequência da última excursão”. Neiva a Cruz, 28 mai. 1916, p. 13 e 14, (BR RJCOC OC-COR-CI-16). . As ressalvas ao colega eram de longa data, mas só se sobressaíram depois da morte de Oswaldo Cruz e as consequentes reviravoltas políticas deste fato - a escolha de Chagas como novo diretor para o IOC38 38 Desde o concurso de 1910, quando Carlos Chagas conseguiu a vaga de chefe de serviço no IOC, as relações com Neiva não eram das mais amigáveis (BENCHIMOL & TEIXEIRA, 1994, p. 37-43). .

Considerações finais

O discurso de integração científica na América do Sul foi mobilizado por Arthur Neiva e Rudolf Kraus para arregimentar aliados às suas pretensões profissionais. Kraus buscou integrar-se no círculo científico sul-americano, convidando ninguém menos que Oswaldo Cruz para ajuda-lo o liderar iniciativas de aproximação como a criação da Sociedade Sul-Americana de Microbiologia, Patologia e Hygiene. Neiva, por sua vez, levantou a bandeira da integração e de uma identidade própria da região para barrar uma suposta ameaça de Rudolf Kraus. A síntese sobre uma identidade latina contrapunha-se à presença do estrangeiro: “os problemas da América do Sul deverão ser resolvidos por nós mesmos e, para alguns deles, nós já constituímos as melhores autoridades. Daí o fracasso do Kraus no [Instituto] Butantan de onde teve de ser eliminado. Nada sabia ele de enfermidades tropicais”39 39 R. Biglieri a Neiva, de 26 mai. 1924. FGV/CPDOC, ANc 1903.05.25, 121. Dizia na carta que os argentinos podiam naquele momento ensinar tanto aos italianos sobre malária quanto estes puderam um dia lhes ensinar. . A referência a Kraus continuou em uma carta ao colega argentino, Manuel Carbonell: “Mestre Kraus não se resigna à vitória latina (...) Tenho desejo de trabalhar em poucos campos estudados ai, como são os referentes às enfermidades comuns às terras quentes e ainda outros setores científicos os quais me tenho dedicado já de há muito tempo”40 40 Neiva a Carbonell, 17 de abr. 1919. FGV/CPDOC, ANc 1916.11.27, I-49. .

É preciso salientar que nas cartas escritas a Oswaldo Cruz Neiva trata dessa disputa com Kraus como uma contenda na qual os argentinos não exerciam qualquer protagonismo. Ele acaba por apresenta-la como uma atuação de dois personagens, sendo que um buscava manter a fama de uma instituição já reconhecida internacionalmente e outro que, a seu ver, gostaria de suplantá-la mediante os trabalhos do instituto que dirigia. Como foi mostrado, Neiva lida com o protagonismo argentino de maneira bastante utilitária; se em diálogo com Oswaldo Cruz, os argentinos representavam uma ameaça com Kraus sendo seu mentor, na comunicação com os argentinos, a ameaça era apenas Kraus, visto como um representante da ciência alemã, a tentar diminuir os feitos dos latino-americanos41 41 Neiva faz até uma consideração desmerecedora dos argentinos que, a seu ver, faziam ciência de uma maneira peculiar: “O meio aqui faz ciência por polêmicas mais ou menos (...) e quem grita mais ganha. (...) Que modo de se fazer ciência!”. Neiva a Cruz, 28 mai. 1916, p. 20 (BR RJCOC OC-COR-CI-16). .

A estadia de Arthur Neiva na Argentina foi crucial para sua atuação no Movimento Sanitarista da Primeira República no Brasil como vimos pela sua intensa participação nos meios de divulgação em prol do saneamento no Brasil. Ele também propagou em meios oficias a suposta ameaça argentina à ciência brasileira, conforme observamos no relatório sobre as reformas da saúde pública feito em 1918 (BENCHIMOL & TEIXEIRA, 1994BENCHIMOL, Jaime Larry; TEIXEIRA, Luiz Antonio. Cobras, lagartos & outro bichos. Uma historia comparada dos institutos Oswaldo Cruz e Butantan. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1994., 144.). Este relatório, o discurso no Theatro Municipal e a carta escrita a Oswaldo Cruz indicam seu grande receio em ver o trabalho que vinha sendo realizado no Instituto Bacteriológico do DNH, em Buenos Aires, superar as glórias alcançadas por Oswaldo Cruz e seus discípulos. A partir de suas apreensões, o projeto do “tombo em Manguinhos” começara quando a doença de Chagas recebeu as primeiras críticas e, principalmente, quando pode acompanhar de perto os esforços de Kraus e dos argentinos em intensificar as pesquisas sobre as endemias do interior da Argentina.

As relações entre Arthur Neiva e Rudolf Kraus reforçaram, ao mesmo tempo, as diferenças nacionais e a cooperação continental, ao buscarem incrementar as trocas científicas, sem perder de vista a busca por hegemonia. Muito após sua estadia na Argentina, Neiva ainda rememorava a importância que desempenhou na relação entre os dois países: “Nós médicos fomos de fato os melhores diplomatas desta parte do continente. O Brasil e Argentina estão chumbados por um destino comum. Não há força que nos desagregue e esta comunhão de ideias e interesses foi compreendida, sobretudo, pelos médicos numa obra de maior benemerência”42 42 Neiva a Heráclides César Souza Araújo, 26 ago. 1938. FGV/CPDOC, ANc 1921.06.19, 20. .

Agradecimentos

Agradeço muito à Professora do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde e Pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, Simone Petraglia Kropf, pelas valiosas críticas a este trabalho.

Referências

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Notas

  • 1
    As homenagens foram feitas no Jockey Club, na Faculdade de Medicina, onde recebeu o título de membro honorário, e na Sociedade Argentina de Higiene e Engenharia Sanitária. A viagem a Montevidéu e Buenos Aires e a cruz da Legião de Honra. Biblioteca Virtual Oswaldo Cruz. Disponível em: www.bvsoswaldocruz.coc.fiocruz.br/Trajetoria/gloria/aviagemmonte.htm, acesso 01/06/2013.
  • 2
    Ocorrida entre os dias 15 e 21 de abril de 1914, a conferência tratou do controle das principais doenças infecciosas (febre amarela, peste e cólera) que circulavam através da comunicação portuária entre Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. “No Uruguay. A Conferencia Sanitaria”, O Paiz (Rio de Janeiro), 16 apr. 1914, p. 2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=178691_04&PagFis=22454, acesso em 10/06/2013; “A Conferencia Sanitaria Internacional”, Correio da Manhã (Rio de Janeiro), 17 apr. 1914, p. 3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=089842_02&PagFis=18624, acesso aos 11/06/2013.
  • 3
    A viagem a Montevidéu e Buenos Aires e a cruz da Legião de Honra...
  • 5
    Rudolf Kraus nasceu em 30 de outubro de 1868, em Mlada Boleslav, na Boemia, atual República Tcheca. Formou-se em medicina pela Universidade Alemã de Praga, em 1893. Trabalhou no Instituto Pasteur de Paris, em 1895, e no ano seguinte transferiu-se para o Staatliches Serotherapeutisches Institut Wien (Instituto Soroterapico Federal de Viena), onde logo se destacou por seus estudos sobre as reações sorológicas e imunizações. Em 1903, Kraus trabalhou na Estação Zoológica de Rovigno e, em 1905, fez o curso de protozoologia no Institut fur Schiffs- und Tropenkrankheiten (Instituto de Doencas Maritimas e Tropicais de Hamburgo). Tornou-se Privatdozent da cátedra de patologia geral e experimental (Allgemeine und Experimentelle Pathologie) na Universidade de Viena, fundou a Sociedade Alemã para Microbiologia, em 1908, e organizou manuais importantes como o Handbuch der Technik und Methodik der Immunitätsforschung (1908), e foi um dos editores do Zeitschrift für Immunitätsforschung und experimentelle Therapie (1909-1932). TEICHMANN, 1968TEICHMANN, Josef. “Zum 100. Geburtstag Rudolf Kraus”. Wiener Medizinische Wochenschrift 118, no. 42 (1968): 869-72., p. 869-72. MAZUMDAR, 1995MAZUMDAR, Pauline M. H. Species and Specificity. An Interpretation of the History of Immunology. Cambridge: University Press, 1995..
  • 6
    Arthur Neiva nasceu em Salvador, Bahia, e formou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1903, quando já trabalhava no Serviço de Profilaxia da Febre Amarela, chefiada por Oswaldo Cruz. Em 1906, ingressou no Instituto de Patologia Experimental (futuro Instituto Oswaldo Cruz), onde empreendeu importantes estudos sobre a patologia tropical com destaque para os estudos com a malária e os sobre os insetos de importância médica. A partir de 1910 fez viagens de especialização no exterior (Estados Unidos e Europa) e de pesquisas no interior do país representando o instituto. Em 1914, foi aprovado para a livre docência da cadeira de História Natural e Parasitologia da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Foi Diretor Geral do Serviço Sanitário de São Paulo entre dezembro de 1916 e maio de 1920, efetuando reformas significativas no sistema de saúde pública do estado, sendo o responsável pela confecção do Código Sanitário. Entre 1923 e 1927, dirigiu o Museu Nacional e, entre 1930 e 1932, o Instituto Biológico de São Paulo. BENCHIMOL & TEIXEIRA, 1994BENCHIMOL, Jaime Larry; TEIXEIRA, Luiz Antonio. Cobras, lagartos & outro bichos. Uma historia comparada dos institutos Oswaldo Cruz e Butantan. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1994.. SILVA, 2006SILVA, André Felipe Cândido da. A campanha contra a broca-do-café em São Paulo (1924-1927). História, Ciências, Saúde - Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 13, n. 4, p. 957-93, out.-dez. 2006..
  • 7
    Sobre a atuação de Rudolf Kraus no Brasil ver CAVALCANTI, 2013aCAVALCANTI, Juliana Manzoni. Rudolf Kraus em busca do 'ouro da ciência': a diversidade tropical e a elaboração de novas terapêuticas, 1913-1923. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 2013a, v. 20, p. 221-237.; 2013bCAVALCANTI, Juliana Manzoni. “A Trajetória Científica de Rudolf Kraus (1894-1932) entre Europa e América do Sul: Elaboração, produção e circulação de produtos biológicos”. PhD diss., Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, 2013b.; 2015CAVALCANTI, Juliana Manzoni. Rudolf Kraus, South America, and the League of Nation´s Permanent Commission on Biological Standardization. In: McPherson, Alan; Wehrli, Yannick. (Org.). Beyond geopolitics: new histories of Latin America at the League of Nations. 1eded. Albuquerque: University of New Mexico Press, 2015, p. 185-201..
  • 8
    “O ciúme da Argentina. A Republica amiga não nos concede o menor motivo de superioridade. E vae montar também o seu “Instituto Oswaldo Cruz”, A Noite (Rio de Janeiro), 03 oct. 1913. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=348970_01&PagFis=3252, acesso 05/08/2013.
  • 9
    O reconhecimento internacional ocorreu em 1912, quando Carlos Chagas recebeu o prêmio Schaudin do Instituto de Doenças Marítimas e Tropicais de Hamburgo ao melhor trabalho em protozoologia (KROPF, 2009KROPF, Simone Petraglia. Doença de Chagas, doença do Brasil: ciência, saúde e nação, 1909-1962. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ , 2009., p. 101).
  • 10
    O anseio pelo estudo das doenças, de forma independente dos protocolos europeus, vinha sendo valorizado nos países latino-americanos desde fins do século XIX. Em 1913, no V Congresso Médico Latino-Americano, por exemplo, organizou-se primeira vez uma sessão específica para a medicina tropical e se incentivou a criação de cátedras desta disciplina nas faculdades médicas latino-americanas (QUEVEDO, et al., 2008QUEVEDO, Emilio V. et al. Knowledge and Power: The Asymmetry of Interests of Colombian and Rockfeller Doctors in the Construction of the Concepto f “Jungle Yellow Fever”, 1907-1938. Canadian Bulletin of Medical History, 25(1):71-109, 2008.. KROPF, 2009KROPF, Simone Petraglia. Doença de Chagas, doença do Brasil: ciência, saúde e nação, 1909-1962. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ , 2009.; ALMEIDA, 2011ALMEIDA, Marta. A criação da cátedra de medicina tropical no Peru e no Brasil. História, Ciências, Saúde - Manguinhos, v.18, n.2, abr.-jun. 2011, p. 355-373.). A incorporação desse tipo de pesquisa variou bastante, pois dependia do contexto político e social específico de cada país e de como encaravam as doenças que mais prevaleciam em sua população. Aliás, a diferente nomenclatura já dá pistas desta variedade de conceitos e objetivos. No Brasil, o termo doenças tropicais vingou, embora tenha provocado inicialmente muitos embates em torno da possível exaltação de antigos preconceitos advindos do determinismo climático, que há séculos condenava o país (BENCHIMOL, 1999BENCHIMOL, Jaime Larry. Dos micróbios aos mosquitos: febre amarela e revolução pasteuriana no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz/Editora UFRJ, 1999.).
  • 11
    “Organizar un museo de insectos y artrópodos y realizar todos aquelles otros trabajos e investigaciones cientificas que el estudio de las regiones endémicas del Norte del país le segiera como conducentes a la mejor forma de extinción de las especies zoológicas nocivas. Art. 3º El presidente del Departamento Nacional de Higiene se obliga a poner a la disposición del Doctor Neiva todos los instrumentos, lbros y demas elementos de labor que solicite para el desempeño de su cometido, así como tambien el personal que le sea necessário, no solo en el Instituto, sinó tambien em los Laboratorios Regionales”. Fundação Getúlio Vargas/Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, Arquivo Arthur Neiva, (adiante FGV/CPDOC AN), ANc 1903.05.25, I-85, p. 1-2.
  • 12
    Manguinhos é o nome do bairro onde o IOC foi criado. O trecho em questão menciona um dos pesquisadores argentinos que participou do trabalho que gerou a primeira grande polêmica sobre a doença de Chagas: “a menina dos olhos de Kraus é o [Francisco] Rosenbush, elemento com que ele conta para dar o tombo em Manguinhos”. Centro de Documentação e História da Saúde/Casa de Oswaldo Cruz-FIOCRUZ, Arquivo Oswaldo Cruz (adiante BR RJCOC OC), Arthur Neiva a Oswaldo Gonçalves Cruz, 16 mai. 1916, p. 1, (BR RJCOC OC-COR-CI-16).
  • 13
    Neiva a Cruz, 16 mai. 1916, p. 5 (BR RJCOC OC-COR-CI-16).
  • 14
    Neiva a Cruz, 19 mai. 1916, p. 6-7 (BR RJCOC OC-COR-CI-16). Neiva afirma que Kraus teria solicitado que se restringisse a estudar apenas os mosquitos, alegando que não haveria tempo para mais nada. Kraus teria também, constantemente, solicitado o envio de doentes com leshimaniose para Buenos Aires para que o diagnóstico fosse confirmado no instituto. Neiva a Cruz, 19 mai. 1916, p. 4 e 10(BR RJCOC OC-COR-CI-16).
  • 15
    Neiva a Cruz, 28 mai. 1916, p. 18, (BR RJCOC OC-COR-CI-16).
  • 16
    Este trecho trata da organização da biblioteca do Instituto Bacteriológico: “O Kraus está organizando agora a biblioteca; tem 2 austríacos (...) Parece que vão tomar uma ofensiva fulminante, pois a lista em organização para o pedido inicial é formidável. Estou certo que ainda neste particular não nos deixaremos alcançar, não é assim?”. Neiva a Cruz, 28 mai. 1916, p. 18 (BR RJCOC OC-COR-CI-16).
  • 17
    Neiva a Cruz, 16 de mai. 1916, p. 3 (BR RJCOC OC-COR-CI-16).
  • 18
    Neiva a Angel Roffo, 27 dez.1916 (FGV/CPDOC, ANc 1903.05.25, 107 e ANc 1916.11.27, 6); Bernardo Houssay a Neiva, 16 fev.1917 (FGV/CPDOC, ANc 1903.05.25); R. Biglieri a Neiva, 26 mai.1924 (FGV/CPDOC, ANc 1903.05.25, 121). Neiva a Manuel Carbonell e Bernardo Houssay, respectivamente, 17 apr.1919 (FGV/CPDOC, ANc 1916.11.27, I-49;50); Neiva a Belarmino Barbará, 1918 (Arquivo Arthur Neiva, FGV/CPDOC, ANc 1916.11.27, I-25; 32).
  • 19
    As fiscalizações empreendidas na Argentina, bem como a linha de investigação relacionada, foram vistas no Brasil como um sinal de sua melhor organização nos estudos sobre produtos biológicos e despertaram o interesse de Neiva pela prática. CAVALCANTI, 2015CAVALCANTI, Juliana Manzoni. Rudolf Kraus, South America, and the League of Nation´s Permanent Commission on Biological Standardization. In: McPherson, Alan; Wehrli, Yannick. (Org.). Beyond geopolitics: new histories of Latin America at the League of Nations. 1eded. Albuquerque: University of New Mexico Press, 2015, p. 185-201..
  • 20
    Discurso de Neiva, “O Saneamento do Sertão”, em 18/10/1916 no teatro municipal num jantar oferecido pela classe médica (BR RJCOC AN/caixa2, maço 5, p. 7).
  • 21
    Se Neiva pensava que o encontro se daria no primeiro congresso da sociedade fundada por Kraus, deve ter sido ainda mais perturbador descobrir que o encontro se daria num congresso com ambiência mais ampla, o Primeiro Congresso Médico Nacional.
  • 22
    “Viajantes”, O Paiz (Rio de Janeiro), 07 sep.1916, p. 3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=178691_04&PagFis=32864, acesso aos 10/06/2013.
  • 23
    Para exemplificar esta estratégia do Barão, o autor escolheu o 3º Congresso Científico Latino-Americano passado no Rio de Janeiro em 1905, que teria ocorrido em um momento de abertura para a região por parte do governo brasileiro.
  • 24
    “Missão gloriosa”, O Paiz (Rio de Janeiro), 05 sep.1916, p. 3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=178691_04&PagFis=32844, acesso aos 10/06/2013.
  • 25
    “A missão médica à Argentina”, O Paiz (Rio de Janeiro), 13 sep.1916, p. 5. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=178691_04&PagFis=32918, acesso aos 12/06/2013. “Congresso de Medicina”, 14 sep.1916, p. 2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=178691_04&PagFis=32925, acesso 12/06/2013 “Congresso de Medicina”, 16 sep.1916, p. 2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=178691_04&PagFis=32941, acesso 12/06/2013.
  • 26
    “Câmara”, O Paiz (Rio de Janeiro), 15 oct.1916, p. 7. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=178691_04&PagFis=33208, acesso aos 12/06/2013.
  • 27
    “Banquete”, O Paiz (Rio de Janeiro), 15 oct.1916, p. 3. Disponível em : http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=178691_04&PagFis=33204, acesso aos 12/06/2013
  • 28
    A visita oficial de Ruy Barbosa, nomeado então como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário, ocorreu quando Arthur Neiva ainda se encontrava em Buenos Aires. Em telegrama que enviou ao cientista brasileiro, felicitava-o por sentir orgulho de sua atuação no país. FGV/CPDOC, ANc 1903.05.25, I-99.
  • 29
    Neiva a Cruz, 28 mai. 1916, p. 5 (BR RJCOC OC-COR-CI-16).
  • 30
    Além do relatório, temos também as repercussões da publicação O Saneamento do Brasil em 1918, e a atuação da Liga Pró-Saneamento, entre 1918 e 1920. LIMA, 1999LIMA, Nísia Trindade. Um sertão chamado Brasil: intelectuais e representação geográfica da identidade nacional. Rio de Janeiro: Revan, IUPERJ, UCAM, 1999, 232p., p. 84; LIMA & HOCHMAN,1996LIMA, Nísia Trindade; HOCHMAN, Gilberto. Condenado pela raça, absolvido pela medicina: o Brasil descoberto pelo Movimento Sanitarista da Primeira República. In: Maio, M. C.; Santos, R. V. (eds.). Raça, ciência e Sociedade. Rio de Janeiro: FCCBB, Editora Fiocruz, 1996, p. 23-40., p. 29; LIMA & HOCHMAN, 2004LIMA, Nísia Trindade; HOCHMAN, Gilberto. “Pouca saúde e muita saúva”: o sanitarismo, interpretações do país e ciências sociais. In: HOCHMAN, Gilberto; ARMUS, Diego (orgs.). Cuidar, controlar, curar: ensaios históricos sobre saúde e doença na América Latina e Caribe. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2004., p. 498.
  • 31
    Jornal do Commercio, 1916 Apud KROPF, 2009KROPF, Simone Petraglia. Doença de Chagas, doença do Brasil: ciência, saúde e nação, 1909-1962. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ , 2009., p. 196.
  • 32
    ”Banquetes”, O Paiz (Rio de Janeiro), 29 oct.1916, p. 7. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=178691_04&PagFis=33330, acesso aos 12/06/2013.
  • 33
    Impresso do discurso pronunciado pelo Dr.Arthur Neiva no banquete que lhe foi oferecido pela classe medica no restaurante do Teatro Municipal do Rio de Janeiro a 18 de novembro de 1916. Centro de Documentação e História da Saúde/Casa de Oswaldo Cruz-FIOCRUZ, Arquivo Arthur Neiva (adiante BR RJCOC AN), AN, caixa 2, maço 5, p. 7.
  • 34
    “Professor Carlos Chagas”, O Paiz (Rio de Janeiro), 03 nov.1916, p. 2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=178691_04&PagFis=33371, acesso aos 12/06/2013.
  • 35
    “PROGRAMA APRESENTADO PELO DR. ARTHUR NEIVA AO CONSELHEIRO RODRIGUES ALVES PARA A REFORMA DA HIGIENE NO BRASIL, POR OCASIÃO DO CONVITE QUE DAQUELE ESTADISTA RECEBEU PARA DIRETOR DA SAÚDE PÚBLICA, E POR ELE APROVADO INTEGRALMENTE”. FGV/CPDOC, ANc 1916.11.27, I-44, p. 3-4, 24.
  • 36
    Arquivo Arthur Neiva, FGV/CPDOC, AN c 1916.11.27, I-49; 50.
  • 37
    “Pessoalmente tenho que confessar que as minhas crenças concernentes ao bócio e tripanossomas estão muito abaladas, em consequência da última excursão”. Neiva a Cruz, 28 mai. 1916, p. 13 e 14, (BR RJCOC OC-COR-CI-16).
  • 38
    Desde o concurso de 1910, quando Carlos Chagas conseguiu a vaga de chefe de serviço no IOC, as relações com Neiva não eram das mais amigáveis (BENCHIMOL & TEIXEIRA, 1994BENCHIMOL, Jaime Larry; TEIXEIRA, Luiz Antonio. Cobras, lagartos & outro bichos. Uma historia comparada dos institutos Oswaldo Cruz e Butantan. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1994., p. 37-43).
  • 39
    R. Biglieri a Neiva, de 26 mai. 1924. FGV/CPDOC, ANc 1903.05.25, 121. Dizia na carta que os argentinos podiam naquele momento ensinar tanto aos italianos sobre malária quanto estes puderam um dia lhes ensinar.
  • 40
    Neiva a Carbonell, 17 de abr. 1919. FGV/CPDOC, ANc 1916.11.27, I-49.
  • 41
    Neiva faz até uma consideração desmerecedora dos argentinos que, a seu ver, faziam ciência de uma maneira peculiar: “O meio aqui faz ciência por polêmicas mais ou menos (...) e quem grita mais ganha. (...) Que modo de se fazer ciência!”. Neiva a Cruz, 28 mai. 1916, p. 20 (BR RJCOC OC-COR-CI-16).
  • 42
    Neiva a Heráclides César Souza Araújo, 26 ago. 1938. FGV/CPDOC, ANc 1921.06.19, 20.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jan 2022
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    09 Maio 2019
  • Aceito
    16 Mar 2020
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