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Brioflora do Parque Nacional da Serra da Bocaina, de São Paulo, Brasil

RESUMO

(Brioflora do Parque Nacional da Serra da Bocaina, Estado de São Paulo, Brasil). O Parque Nacional da Serra da Bocaina está localizado entre os Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, sendo o único PARNA do Estado de São Paulo. Foram encontradas 485 espécies de briófitas, sendo Lejeuneaceae a família com a maior riqueza encontrada, com 93 espécies. Para os musgos, a família Bryaceae apresentou 23 espécies. Encontramos 47 espécies como novas ocorrências para o Estado de São Paulo. Dentre todas as espécies coletadas, 43% possuem ocorrência restrita à Mata Atlântica, 31% são endêmicas do Brasil e 155 espécies apresentam ocorrência rara no Brasil. Estes números mostram a importância deste Parque para a preservação das espécies de briófitas do país e para a realização de futuros trabalhos na área.

Palavras-chave:
briófitas; florística; Mata Atlântica

ABSTRACT

(Bryophytes of the Parque Nacional da Serra da Bocaina, São Paulo State, Brazil). The Serra da Bocaina National Park is located between the States of São Paulo and Rio de Janeiro, being the only PARNA in the State of São Paulo. We found 485 species of bryophytes, with Lejeuneaceae as the richest family with 93 species. Bryaceae presented the largest number of moss species, with 23 species. Forty seven species are new records for the São Paulo State. Among all the collected species, 43% are restricted to the Atlantic Forest, 31% are Brazilian endemic and 155 are considered rare in Brazil. The species number represents the importance of this Park to the preservation of the bryophyte species in Brazil and for future work in Serra da Bocaina.

Keywords:
Atlantic Forest; bryophytes; floristic

Introdução

O Parque Nacional da Serra da Bocaina (PNSB) foi criado em 1971 pelo decreto Federal 68.172 de 1971, assegurando, assim, a conservação de um fragmento de grande importância de Mata Atlântica inserido na Serra do Mar (ICMBio 2015Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Parque Nacional da Serra da Bocaina, 2015. Disponível em www.icmbio.gov.br/parnaserradabocaina/quem-somos.html (acesso em 18-VIII-2015).
www.icmbio.gov.br/parnaserradabocaina/qu...
). É o único PARNA do Estado de São Paulo e a segunda maior unidade de conservação federal de Mata Atlântica. A vegetação que acompanha este gradiente envolve as restingas, presentes nas áreas litorâneas, a floresta ombrófila em diferentes formações até chegar aos campos de altitude nas áreas mais altas da serra. Essa variação permite paisagens e ecossistemas diversos, o que explica a presença de uma grande variedade de fauna e flora (ICMBio 2015Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Parque Nacional da Serra da Bocaina, 2015. Disponível em www.icmbio.gov.br/parnaserradabocaina/quem-somos.html (acesso em 18-VIII-2015).
www.icmbio.gov.br/parnaserradabocaina/qu...
).

A Serra da Bocaina apresenta características importantes quanto à ocorrência de briófitas, pertencendo a uma região de endemismo estimado em 48% (Delgadillo 1994Delgadillo, C.M. 1994. Endemism in the neotropical moss flora. Biotropica, St. Louis, n. 26: 12-16.) e também localizado na região sudeste do Brasil, um dos dez centros de alta diversidade e endemismo da América Tropical (Tan & Pócs 2000Tan, B.C. & Pócs, T. 2000. Bryogeography and conservation of bryophytes. In: A.J. Shaw, & B. Goffinet (eds.). Bryophyte Biology. Cambridge University Press, 1: 403-448.).

Para o Estado de São Paulo são conhecidas 909 espécies de briófitas (Flora do Brasil 2020Flora do Brasil. 2020 under construction. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Available in http://floradobrasil.jbrj.gov.br/ (access in 9-XII-2019).
http://floradobrasil.jbrj.gov.br/...
). Os levantamentos florísticos realizados na Mata Atlântica do Estado, especialmente em unidades de conservação, constam em Peralta & Yano (2008)Peralta, D.F. & Yano, O. 2008. Briófitas do Parque Estadual da Ilha Anchieta, Ubatuba, estado de São Paulo, Brasil. Iheringia, série Botânica 63: 101-127., 245 espécies de briófitas para o Parque estadual da Ilha Anchieta; Peralta & Yano (2012)Peralta, D.F. & Yano, O. 2012. Briófitas da Serra do Itapeti. In: M.S.C. Morini, & V.F.O. Miranda (org.). Serra do Itapeti: Aspectos Históricos, Sociais e Naturalísticos. Santa Cruz do Rio Pardo: Viena Gráfica e Editora 1: 1-397. com 216 espécies para a Serra do Itapeti, destas, 19 eram ocorrências novas para o Estado; Visnadi (2012)Visnadi, S.R. 2012. Bryophytes from Juréia Itatins Ecological Station São Paulo state, Brazil. Tropical Bryology 34: 17-31. apresenta 248 espécies para a Estação Ecológica Juréia-Itatins; Visnadi (2013a)Visnadi, S.R. 2013a. Briófitas de áreas antrópicas do Parque Estadual da Serra do Mar, Núcleo Picinguaba, Ubatuba, estado de São Paulo, Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi 8: 49-62. lista 110 espécies para o Parque Estadual da Serra do Mar, Núcleo Picinguaba; Visnadi (2013b)Visnadi, S.R. 2013b. Brioflora from the tourist state park of Alto do Ribeira, São Paulo state, Brazil. Tropical Bryology 35: 52-63. lista 219 espécies para o Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira (PETAR); Carmo et al. (2016)Carmo, D.M., Lima, J.S., Amélio, L.A. & Peralta, D.F. 2016. Briófitas do Parque Estadual da Serra do Mar, Núcleo de Santa Virgínia, Estado de São Paulo, Brasil. Hoehnea 43: 265-287. encontraram 386 espécies para Parque Estadual da Serra do Mar, Núcleo de Santa Virgínia; e Amélio et al. (2019)Amélio, L.A., Peralta, D.F. & Carmo, D.M. 2019. Briófitas do Parque Estadual de Campos do Jordão, Estado de São Paulo, Brasil. Hoehnea 46: e962018. listam 490 como ocorrência para o Parque Estadual de Campos do Jordão. Esses trabalhos mostraram uma grande riqueza de espécies em áreas com tamanho e localização geograficamente parecidas com o PARNA Serra da Bocaina.

Na área da Serra da Bocaina, somente foram realizados trabalhos briofíticos que tratam de revisões taxonômicas de gêneros e famílias para o Brasil e não existe até o momento nenhum inventário florístico da área.

Dessa maneira o objetivo deste trabalho foi desenvolver o levantamento florístico em uma região com alto grau de endemismo e biodiversidade como a Serra da Bocaina, um patrimônio nacional, o qual abrange dois Estados brasileiros (São Paulo e Rio de Janeiro), visando apresentar novas informações para a brioflora do Brasil e para o bioma da Mata Atlântica. E, assim, fundamentar futuros trabalhos de ecologia e conservação da área, além de fornecer subsídios para a educação ambiental e plano de manejo do Parque.

Material e Métodos

Área de estudo - Com 104.044,89 hectares, o PARNA Serra da Bocaina (PNSB) possui florestas desde o nível do mar até mais de 2.000 m de altitude com diferentes tipos de paisagens, essa variação permite a existência desde florestas densas até campos de altitude e, consequentemente, uma grande biodiversidade (ICMBio 2015Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Parque Nacional da Serra da Bocaina, 2015. Disponível em www.icmbio.gov.br/parnaserradabocaina/quem-somos.html (acesso em 18-VIII-2015).
www.icmbio.gov.br/parnaserradabocaina/qu...
).

O PNSB apresenta diversos tipos de formações vegetacionais, sendo estas: Floresta Ombrófila Mista Alto Montana, Floresta Ombrófila Densa Submontana, Floresta Ombrófila Densa Montana, Floresta Ombrófila Densa Alto Montana e Campos de Altitudes. Além de ecossistemas associados, como a Restinga, que é uma fitofisionomia transicional entre praia e continente, que possui altas temperaturas e pouca disponibilidade de nutrientes no solo (IBGE 2012Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 2012. Manual técnico da vegetação brasileira. Rio de Janeiro, Fundação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 2: 1-271.). O PNSB apresenta também diversos cursos d’água, desde a nascente, incluindo a bacia dos rios Mambucaba e Bracuí, entre outros rios e cachoeiras (ICMBio 2015Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Parque Nacional da Serra da Bocaina, 2015. Disponível em www.icmbio.gov.br/parnaserradabocaina/quem-somos.html (acesso em 18-VIII-2015).
www.icmbio.gov.br/parnaserradabocaina/qu...
).

O Parque está a uma distância de 213 km da cidade do Rio de Janeiro e à 263 km da cidade de São Paulo, abrangendo parte dos municípios de São José do Barreiro, Areias, Cunha, Ubatuba, Paraty e Angra dos Reis. O acesso ao maior número de localidades situadas próximas ao Parque se dá pela Rodovia Rio-Santos (BR-101) (ICMBio 2015Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Parque Nacional da Serra da Bocaina, 2015. Disponível em www.icmbio.gov.br/parnaserradabocaina/quem-somos.html (acesso em 18-VIII-2015).
www.icmbio.gov.br/parnaserradabocaina/qu...
).

Coleta e tratamento das amostras - O material botânico foi coletado e armazenado, seguindo as recomendações de Frahm (2003)Frahm, J.P. 2003. Manual of tropical Bryology. Tropical Bryology 23: 1-196. As coletas ocorreram no período de agosto de 2018 a junho de 2019, realizadas através de caminhadas livres, abrangendo todos os substratos disponíveis colonizados pelas espécies, durante quatro visitas técnicas ao parque, no entorno de dez trilhas, sendo seis no Estado de São Paulo e quatro no Estado do Rio de Janeiro.

Coleta e análise de dados - Além das amostras coletadas durante o período do projeto (2018/2019) também foram analisadas 28 exsicatas coletadas na área de estudo que estavam depositadas no Herbário SP (Instituto de Botânica, Herbário Maria Eneyda P. Kauffman Fidalgo) totalizando 1.665 exsicatas. Todas as amostras coletadas foram depositadas no Herbário SP.

Para a identificação das amostras, foram utilizados os métodos e a bibliografia especializada de acordo com cada família, realizando a preparação e observação das lâminas em estereomicroscópio e microscópio óptico, bem como a comparação com amostras já identificadas e depositadas no Herbário SP. As análises levaram em consideração as características morfológicas e anatômicas do gametófito e, quando necessário, do esporófito. Para as características taxonômicas foi seguido o glossário de Luizi-Ponzo et al. (2013)Luizi-Ponzo, A.P., Siviero, T.S., Amorim, E.T., Henriques, D.K., Rocha, L.M., Gomes, H.C.S., Paiva, L.A., Rodrigues, R.S., Silva, I.C., Silva, A.G.D., Ribeiro, G.C., Gomes, C.Q. & Campeão, A.S. 2013. Briófitas do Parque Estadual do Ibitipoca no Herbário Prof. Leopoldo Krieger. In: R.C. Forzza, L.M. Neto, F.R.G. Salimena & D. Zappi. Flora do Parque Estadual do Ibitipoca e seu entorno. 1 ed. UFJF, Juiz de Fora, v. 4, pp. 95-122.. A literatura utilizada para a identificação seguiu Frahm (1991)Frahm, J.P. 1991. Dicranaceae: Campylopoioidae, Paraleucobryoidae. Flora Neotropica, monograph 54: 1-238., Sharp et al. (1994)Sharp, A.J., Crum, H. & Eckel, P.M. 1994. The Moss Flora of México. Memoirs of The New York Botanical Garden 69: 1-1113., Yano & Carvalho (1995)Yano, O. & Carvalho, A.B. 1995. Musgos do Manguezal do Rio Itanhaém, Itanhaém, São Paulo. Anais do III Simpósio de Ecossistemas da Costa Brasileira, Serra Negra (ACIESP), São Paulo 87: 362-366., Buck (1998)Buck, W.R. 1998. Pleurocarpous mosses of the West Indies. Memoirs of The New York Botanical Garden 1: 1-401., Villas Bôas-Bastos & Bastos (1998)Villas Bôas-Bastos, S.B. & Bastos, C.J.P. 1998. Briófitas de uma área de cerrado no município de Alagoinhas, Bahia, Brasil. Tropical Bryology 15: 101-110., Bastos et al. (2000)Bastos, C.J.P., Yano, O & Villas Bôas-Bastos, S.B. 2000. Briófitas de Campos rupestres da Chapada Diamantina, Estado da Bahia, Brasil. Revista Brasileira de Botânica 23: 357-368., Gradstein et al. (2001)Gradstein, S.R., Churchill, S.P. & Salazar-Allen, N. 2001. Guide to the Bryophytes of tropical America. Memoirs of The New York Botanical Garden 86: 1-577., Gradstein & Costa (2003)Gradstein, S.R. & Costa, D.P. 2003. The Hepaticae and Anthocerotae of Brazil. Memoirs of The New York Botanical Garden 87: 1-318., Yano & Peralta (2009)Yano, O. & Peralta, D.F. 2009. Flora de Grão-Mogol, Minas Gerais. Briófitas (Bryophyta e Marchantiophyta). Boletim da Universidade de São Paulo, Botânica 27: 1-26., Yano & Peralta (2011)Yano, O. & Peralta, D.F. 2011. Flora da Serra do Cipó, Minas Gerais: Briófitas (Anthocerotophyta, Bryophyta e Marchantiophyta). Boletim de Botânica da Universidade de São Paulo 29: 135-211., Bordin & Yano (2013)Bordin, J. & Yano, O. 2013. Fissidentaceae (Bryophyta) do Brasil. Boletim do Instituto de Botânica 22: 1-72., Luizi-Ponzo et al. (2013)Luizi-Ponzo, A.P., Siviero, T.S., Amorim, E.T., Henriques, D.K., Rocha, L.M., Gomes, H.C.S., Paiva, L.A., Rodrigues, R.S., Silva, I.C., Silva, A.G.D., Ribeiro, G.C., Gomes, C.Q. & Campeão, A.S. 2013. Briófitas do Parque Estadual do Ibitipoca no Herbário Prof. Leopoldo Krieger. In: R.C. Forzza, L.M. Neto, F.R.G. Salimena & D. Zappi. Flora do Parque Estadual do Ibitipoca e seu entorno. 1 ed. UFJF, Juiz de Fora, v. 4, pp. 95-122. e Valente et al. (2013)Valente, E.B., Pôrto, K.C. & Bastos, C.J.P. 2013. Species Richness and Distribution of bryophytes within different phyto physiognomies in the Chapada Diamantina region of Brazil. Acta Botanica Brasilica 27: 294-310.. A distribuição geográfica brasileira seguiu a Flora do Brasil 2020Flora do Brasil. 2020 under construction. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Available in http://floradobrasil.jbrj.gov.br/ (access in 9-XII-2019).
http://floradobrasil.jbrj.gov.br/...
, Forzza et al. (2010)Forzza, R.C., Leitman, P.M., Costa, A.F., Carvalho, J.R., Peixoto, A.L., Walter, B.M.T., Bicudo, C., Zappi, D., Costa, D.P., Lleras, E., Martinelli, G., Lima, H.C., Prado, J., Stehmann, J.R., Baumgratz, J.F.A., Pirani, J.R., Sylvestre, L., Maia, L.C., Lohmann, L.G., Queiroz, L.P., Silveira, M., Coelho, M.N., Mamede, M.C., Bastos, M.N.C., Morim, M.P., Barbosa, M.R., Menezes, M., Hopkins, M., Secco, R., Cavalcanti, T.B. & Souza, V.C. 2010. Introdução. In: Lista de espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. v. 1. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. e Costa et al. (2011)Costa, D.P., Pôrto, K.C., Luizi-Ponzo, A.P., Ilkiu-Borges, A.L., Bastos, C.J.P., Câmara, P.E.A.S., Peralta, D.F., Bôas-Bastos, S.B.V., Imbassahy, C.A.A., Henriques, D.K., Gomes, H.C.S., Rocha, L.M., Santos, N.D., Siviero, T. S., Vaz-Imbassahy, T.F. & Churchill, S.P. 2011. Synopsis of the Brazilian moss flora: checklist, distribution and conservation. Nova Hedwigia 93: 277-334., Carmo & Peralta (2016)Carmo, D.M. & Peralta, D.F. 2016. Survey of bryophytes in Serra da Canastra National Park, Minas Gerais, Brazil. Acta Botanica Brasilica 30: 254-265., Carmo et al (2016)Carmo, D.M., Lima, J.S., Amélio, L.A. & Peralta, D.F. 2016. Briófitas do Parque Estadual da Serra do Mar, Núcleo de Santa Virgínia, Estado de São Paulo, Brasil. Hoehnea 43: 265-287. e Amélio et al (2019)Amélio, L.A., Peralta, D.F. & Carmo, D.M. 2019. Briófitas do Parque Estadual de Campos do Jordão, Estado de São Paulo, Brasil. Hoehnea 46: e962018..

Para a distribuição das espécies foi adotado a padronização de Valente & Pôrto (2006)Valente, E.B. & Pôrto, K.C. 2006. Hepáticas (Marchantiophyta) de um fragmento de Mata Atlântica na Serra da Jibóia, município de Santa Terezinha, BA, Brasil. Acta Botanica Brasilica 20: 433-441., classificando as espécies em três categorias, sendo estas: de distribuição rara, aquelas encontradas em 1-4 Estados brasileiros; de distribuição moderada, as espécies de ocorrências em 5-9 Estados; e de distribuição ampla, espécies ocorrentes em 10-14 Estados do Brasil.

A abreviação dos nomes dos autores seguiu Brummitt & Powell (1992)Brummitt, R.K. & Powell, C.E. 1992. Authors of Plant Names. Royal Botanic Gardens, Kew, Great Britain. 732 p.. O sistema de classificação utilizado foi o de Renzaglia et al. (2009)Renzaglia, K.S., Villarreal, J.C. & Duff, R.J. 2009. New insights into morphology, anatomy and systematics of hornworts. In: B. Goffinet & A.J. Shaw. Bryophyte Biology. Second Edition. Cambridge University Press, pp. 139-171. para Anthocerotophyta, Crandall-Stotler et al. (2009)Crandall-Stoller, B., Stotler, R.E. & Long, D.G. 2009. Morphology and classification of the Marchantiophyta. In: B. Goffinet & A.J. Shaw (eds.). Bryophyte Biology 2 ed. Cambridge, Cambridge University Press, pp. 1-54. para Marchantiophyta, e Goffinet et al. (2009)Goffinet, B., Buck, W. R. & Shaw, A. J. 2009. Morphology, anatomy, and classification of the Bryophyta. In: B. Goffinet & A.J. Shaw (eds.). Bryophyte Biology. 2 ed. Cambridge, Cambridge University Press, pp. 55-138. para Bryophyta. A listagem das espécies encontradas está apresentada em ordem alfabética.

Resultados e Discussão

Foram encontradas 485 espécies de briófitas em 68 famílias sendo destas, 245 espécies são de musgos, 235 de hepáticas e 5 antóceros, o que representa 53% das espécies que ocorrem no Estado de São Paulo, 31% das que ocorrem no Brasil e 12% da América tropical (tabela 2).

Estão sendo apresentadas 47 espécies como novos registros para o Estado de São Paulo e 2 para o Brasil (tabela 1). Foram encontradas 61 espécies endêmicas do Brasil na área do Parque. Foi observado maior diversidade e riqueza entre as famílias de Bryophyta (244 ssp.; 40 famílias) do que em Marchantiophyta (235 ssp.; 29 famílias).

Para os musgos (Bryophyta) a família mais rica foi Bryaceae com 23 espécies, seguida de Pilotrichaceae e Leucobryaceae, com 19 ssp. cada e Sematophyllaceae com 18 ssp. (figura 1). Para as hepáticas (Marchantiophyta) a família mais rica foi Lejeuneaceae (93 ssp.), seguida por Radulaceae (20 ssp.), Lepidoziaceae (15 ssp.) e Plagiochilaceae (15 ssp.) (figura 2).

Outros trabalhos realizados na Mata Atlântica no Estado de São Paulo mostram que a maior riqueza para os musgos em relação as hepáticas e antóceros é frequente (Peralta & Yano 2008Peralta, D.F. & Yano, O. 2008. Briófitas do Parque Estadual da Ilha Anchieta, Ubatuba, estado de São Paulo, Brasil. Iheringia, série Botânica 63: 101-127., Peralta & Yano 2012Peralta, D.F. & Yano, O. 2012. Briófitas da Serra do Itapeti. In: M.S.C. Morini, & V.F.O. Miranda (org.). Serra do Itapeti: Aspectos Históricos, Sociais e Naturalísticos. Santa Cruz do Rio Pardo: Viena Gráfica e Editora 1: 1-397., Visnadi 2012Visnadi, S.R. 2012. Bryophytes from Juréia Itatins Ecological Station São Paulo state, Brazil. Tropical Bryology 34: 17-31., Visnadi 2013aVisnadi, S.R. 2013a. Briófitas de áreas antrópicas do Parque Estadual da Serra do Mar, Núcleo Picinguaba, Ubatuba, estado de São Paulo, Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi 8: 49-62. e Carmo et al. 2016Carmo, D.M., Lima, J.S., Amélio, L.A. & Peralta, D.F. 2016. Briófitas do Parque Estadual da Serra do Mar, Núcleo de Santa Virgínia, Estado de São Paulo, Brasil. Hoehnea 43: 265-287.). Os musgos são morfologicamente mais complexos em seus gametófitos e esporófitos (Carmo & Peralta 2016Carmo, D.M. & Peralta, D.F. 2016. Survey of bryophytes in Serra da Canastra National Park, Minas Gerais, Brazil. Acta Botanica Brasilica 30: 254-265.) e apesar de precisarem da água para concluírem seu ciclo de vida, conseguem reter umidade e manter seus esporos inativos por longos períodos, o que os fazem ter maior sucesso de sobrevivência sobre as hepáticas e antóceros em ambientes menos úmidos.

Bryaceae foi a família que apresentou a maior riqueza (23 ssp.) entre os musgos (figura 1). Bryaceae é uma família cosmopolita, com o hábito de crescimento do gametófito acrocárpico e normalmente encontrada em áreas expostas, em locais úmidos e até desérticos (Spence & Ramsay 2006Spence, J.R & Ramsay, H.P. 2006. Bryaceae. In: P.M. McCarthy (ed.). Flora of Australia. v. 51, Mosses 1. Government Printing Office, Canberra, pp. 274-348.).

Para os musgos com hábito de crescimento pleurocárpico, a família Pilotrichaceae teve o maior número de espécies encontradas na área, totalizando 19 espécies (figura 1). Essa família se apresenta bem diversificada na América tropical e é encontrada normalmente em regiões úmidas (Gradstein et al. 2001Gradstein, S.R., Churchill, S.P. & Salazar-Allen, N. 2001. Guide to the Bryophytes of tropical America. Memoirs of The New York Botanical Garden 86: 1-577.). Sematophyllaceae também mostrou grande importância para o estudo, das 18 ssp. encontradas na Serra da Bocaina, 7 são endêmicas do Brasil (tabela 1). Essa família possui distribuição tropical e apresenta uma heterogeneidade taxonômica muito elevada (Buck 1998Buck, W.R. 1998. Pleurocarpous mosses of the West Indies. Memoirs of The New York Botanical Garden 1: 1-401., Ramsay et al. 2002Ramsay, H.P., Schofield, W.B. & Tan, B.C. 2002. The Family Sematophylaceae (Bryopsida) in Australia. Part 1: Introduction, Family data, Key to Genera and the Genera Wijkia, Acanthorrynchium, Trismegistia and Sematophyllum. The Journal of Hattori Botanical Laboratory 92: 1-50., Ireland & Buck 2009Ireland, R.R. & Buck, W.R. 2009. Some Latin American Genera of Hypnaceae. Smithsonian Contributions to Botany 93: 1-97.).

Tabela 1
Listagem das espécies encontradas no Parque Nacional da Serra da Bocaina, Estado de São Paulo, Brasil. Dom. Fito: Domínio Fitogeográfico. AM: Amazônia, CA: Caatinga, CE: Cerrado, MA: Mata Atlântica, PAM: Pampa, PL: Pantanal. Distr. Brasil: Distribuição brasileira. Amp: Ampla, Rara: Rar, Mod: Moderada. Distr. Mundial: Distribuição mundial. Neo: Neotropical, Cos: Cosmopolita, Afr: Afro-Americana, Pan: Pantropical, End: Endêmica do Brasil, Ame: América do Sul. *: Nova ocorrência para o Estado de São Paulo, **: Nova ocorrência para o Brasil.

Table 1. Species list to the Parque Nacional da Serra da Bocaina, São Paulo State, Brazil. Dom. Fito: Phytogeographic Domain. AM: Amazônia, CA: Caatinga, CE: Cerrado, MA: Atlantic Forest, PAM: Pampa, PL: Pantanal. Distr. Brasil: Brazilian range. Amp: Wide, Rara: Rare, Mod: Moderate). Distr. Mundial: Worldwide range. Neo: Neotropical, Cos: Widespread, Afr: Afro-American, Pan: Pantropical, End: Brazilian Endemic, Ame: South American. *: New record to São Paulo State, **: New record to Brazil.


Tabela 2
Relação da distribuição e da riqueza de espécies encontradas no Parque Nacional da Serra da Bocaina, Estado de São Paulo, Brasil, em escala regional. Os números entre parênteses representam a porcentagem relacionada com a riqueza encontrada no PARNA Serra da Bocaina.

Table 2. Relation of the species richness found in the Parque Nacional da Serra da Bocaina, São Paulo State, Brazil, within the regional scales. Numbers within parentheses represent the percentage related to the richness found at the PARNA Serra da Bocaina.


Figura 1
Riqueza das espécies de musgos (Bryophyta) por famílias, incluindo somente aquelas que apresentaram cinco ou mais espécies, Parque Nacional da Serra da Bocaina, Estado de São Paulo, Brasil.

Figure 1. Richness by mosses families (Bryophyta) including families with five or more species, Parque Nacional da Serra da Bocaina, São Paulo State, Brazil.


Figura 2
Riqueza das espécies de hepáticas (Marchantiophyta) por famílias que apresentaram cinco ou mais espécies, Parque Nacional da Serra da Bocaina, Estado de São Paulo, Brasil.

Figure 2. Richness of liverworts families (Marchantiophyta) including families with five or more species, Parque Nacional da Serra da Bocaina, São Paulo State, Brazil.


Lejeuneaceae foi a mais rica encontrada na Serra da Bocaina com 93 espécies, distribuídas em 28 gêneros (tabela 1, figura 2). A família representou 39% do total das espécies de Marchantiophyta encontradas na área. Esta família frequentemente apresenta maior riqueza, principalmente em áreas da Mata Atlântica no Estado de São Paulo (Visnadi 2005Visnadi, S.R. 2005. Brioflora da Mata Atlântica do Estado de São Paulo: região norte. Hoehnea 32: 215-131., Visnadi 2009Visnadi, S.R. 2009. Briófitas do Caxetal, em Ubatuba, São Paulo, Brasil. Tropical Bryology 30: 8-14., Yano & Peralta 2007Yano, O. & Peralta, D.F. 2007. Briófitas da Ilha do Bom Abrigo, Estado de São Paulo, Brasil. Hoehnea. 34: 87-94., Peralta & Yano 2008Peralta, D.F. & Yano, O. 2008. Briófitas do Parque Estadual da Ilha Anchieta, Ubatuba, estado de São Paulo, Brasil. Iheringia, série Botânica 63: 101-127., Carmo et al. 2016Carmo, D.M., Lima, J.S., Amélio, L.A. & Peralta, D.F. 2016. Briófitas do Parque Estadual da Serra do Mar, Núcleo de Santa Virgínia, Estado de São Paulo, Brasil. Hoehnea 43: 265-287.). Isso provavelmente devido ao seu tamanho reduzido e por possuir grande sucesso de colonização em substratos variados, desde galhos, troncos de árvores vivos ou mortos, solos, rochas e até em folhas vivas, versatilidade esta encontrada em poucas famílias (Gradstein et al. 2001Gradstein, S.R., Churchill, S.P. & Salazar-Allen, N. 2001. Guide to the Bryophytes of tropical America. Memoirs of The New York Botanical Garden 86: 1-577.). Devido ao tamanho reduzido de algumas espécies, em uma única amostra podem existir muitas espécies associadas. Estudos apontam que esta é uma família recente dentro do grupo das briófitas, refletindo essa ampla colonização dos substratos (Groth-Malonek et al. 2004Groth-Malonek, M., Heinrichs, J., Schneider, H. & Gradstein, S.R. 2004. Phylogenetic relationships in the Lejeuneaceae (Hepaticae) inferred using ITS sequences of nuclear ribosomal DNA. Organisms, Diversity and Evolution 4: 51- 57.). Lejeuneaceae já havia sido citada como grande ocorrência em florestas da Mata Atlântica (Visnadi 2005Visnadi, S.R. 2005. Brioflora da Mata Atlântica do Estado de São Paulo: região norte. Hoehnea 32: 215-131., Visnadi 2009Visnadi, S.R. 2009. Briófitas do Caxetal, em Ubatuba, São Paulo, Brasil. Tropical Bryology 30: 8-14., Yano & Peralta 2007Yano, O. & Peralta, D.F. 2007. Briófitas da Ilha do Bom Abrigo, Estado de São Paulo, Brasil. Hoehnea. 34: 87-94., Peralta & Yano 2008Peralta, D.F. & Yano, O. 2008. Briófitas do Parque Estadual da Ilha Anchieta, Ubatuba, estado de São Paulo, Brasil. Iheringia, série Botânica 63: 101-127., Carmo et al. 2016Carmo, D.M., Lima, J.S., Amélio, L.A. & Peralta, D.F. 2016. Briófitas do Parque Estadual da Serra do Mar, Núcleo de Santa Virgínia, Estado de São Paulo, Brasil. Hoehnea 43: 265-287.).

Encontramos cinco espécies para os antóceros, o que representa 35% das espécies ocorrentes no Brasil (tabela 1). Apenas Nothoceros vincentianus (Lehm. & Lindenb.) J.C. Villarreal é endêmica do Brasil. Phaeoceros laevis (L.) Prosk e Phaeoceros carolinianus (Michx.) Prosk. apresentam distribuição moderada no Brasil, mas possuem distribuição cosmopolita e com ocorrência em quase todos os domínios fitogeográficos, enquanto Anthoceros hispidus Steph., Nothoceros minarum (Nees) J.C. Villarreal e N. vincentianus, possuem a distribuição rara e com ocorrência apenas para a Mata Atlântica. Os antóceros são abundantes em áreas antrópicas (Vanderpoorten & Goffinet 2009Vanderpoorten, A. & Goffinet, B. 2009. Introduction of Bryophytes. Cambridge University Press.) e no PNSB as espécies foram encontradas crescendo sobre rochas ou solo, sempre em Mata Ombrófila Mista. Porém, registros de antóceros para a Mata Atlântica são escassos como observado no trabalhos de Carmo et al. (2016)Carmo, D.M., Lima, J.S., Amélio, L.A. & Peralta, D.F. 2016. Briófitas do Parque Estadual da Serra do Mar, Núcleo de Santa Virgínia, Estado de São Paulo, Brasil. Hoehnea 43: 265-287. que encontraram uma única espécie (N. minarum), e também nos trabalhos de Peralta & Yano (2008Peralta, D.F. & Yano, O. 2008. Briófitas do Parque Estadual da Ilha Anchieta, Ubatuba, estado de São Paulo, Brasil. Iheringia, série Botânica 63: 101-127., 2012Peralta, D.F. & Yano, O. 2012. Briófitas da Serra do Itapeti. In: M.S.C. Morini, & V.F.O. Miranda (org.). Serra do Itapeti: Aspectos Históricos, Sociais e Naturalísticos. Santa Cruz do Rio Pardo: Viena Gráfica e Editora 1: 1-397.) e Visnadi (2005Visnadi, S.R. 2005. Brioflora da Mata Atlântica do Estado de São Paulo: região norte. Hoehnea 32: 215-131., 2013bVisnadi, S.R. 2013b. Brioflora from the tourist state park of Alto do Ribeira, São Paulo state, Brazil. Tropical Bryology 35: 52-63.) que encontraram apenas P. laevis (L.) Prosk. Para as outras três espécies de antóceros que foram encontradas no PNSB (N. vicentianus, P. carolianus e A. hispidus), ainda não existiam trabalhos registrando sua ocorrência para a Mata Atlântica em São Paulo. Apresentando assim novas ocorrências para o Estados e ampliando a distribuição das espécies de antóceros (tabela 1).

O gênero Ditrichum no Brasil, está restrito à Mata Atlântica (Flora do Brasil 2020Flora do Brasil. 2020 under construction. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Available in http://floradobrasil.jbrj.gov.br/ (access in 9-XII-2019).
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) e para a área de estudo, foram encontradas três espécies, o que representa 50% das espécies brasileiras. Ditrichum itatiaiae (Müll.Hal.) Paris e Ditrichum paulense Geh. ex Hampe são endêmicas do Brasil e apenas Ditrichum crinale (Taylor) Kuntze, encontrada sobre o solo em Mata ombrófila mista, apresenta distribuição brasileira moderada (ocorrência apenas para os Estados de ES e MG, segundo a Flora do Brasil 2020Flora do Brasil. 2020 under construction. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Available in http://floradobrasil.jbrj.gov.br/ (access in 9-XII-2019).
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). D. crinale ainda não tinha sido registrada para o Estado de São Paulo, ampliando a sua distribuição geográfica, adicionando assim novas informações, como por exemplo, para a avaliação de riscos de extinção.

Das espécies encontradas na Serra da Bocaina, 43% possuem ocorrência restrita à Mata Atlântica. As espécies Ceratolejeunea desciscens (Sande Lac.) Schiffn., Cololejeunea bischleriana Tixier, Lejeunea diversicuspis Spruce, Lepidolejeunea cordifissa (Taylor) E.Reiner e Microlejeunea acutifolia Steph., até o momento, possuíam ocorrência restrita para a Amazônia e Cheilolejeunea beyrichii (Lindenb.) E.Reiner, apresentava ocorrência exclusiva para Caatinga e Cerrado (tabela 1) e a Tuerckheimia guatemalensis Broth. era citada somente para o Cerrado (Flora do Brasil 2020Flora do Brasil. 2020 under construction. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Available in http://floradobrasil.jbrj.gov.br/ (access in 9-XII-2019).
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). Com o presente estudo essas espécies estão sendo registradas pela primeira vez para a Mata Atlântica. Em relação a distribuição geográfica, as espécies encontradas foram classificadas em 191 espécies moderada (39%), o que significa que a ocorrência dessas espécies não se mostra com tanta frequência, ocorrendo entre 5 a 9 Estados brasileiros (Valente & Pôrto 2006Valente, E.B. & Pôrto, K.C. 2006. Hepáticas (Marchantiophyta) de um fragmento de Mata Atlântica na Serra da Jibóia, município de Santa Terezinha, BA, Brasil. Acta Botanica Brasilica 20: 433-441.). Noventa e nove destas espécies são hepáticas, apesar de possuírem maior sucesso como epifilas, essas espécies são generalistas, por ocorrerem em diversos tipos de substrato, como por exemplo, Leptoscyphus porphyrius (Nees) Grolle, Lejeunea laeta (Lehm. & Lindenb.) Gottsche, Bazzania heterostipa (Steph.) Fulford, Plagiochila diversifolia Lindenb. & Gottsche e Radula gottscheana Taylor (Flora do Brasil 2020Flora do Brasil. 2020 under construction. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Available in http://floradobrasil.jbrj.gov.br/ (access in 9-XII-2019).
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). Cento e cinquenta e seis espécies foram classificadas como raras (32%), ou seja, espécies encontradas raramente no Brasil, ocorrência entre 1 a 4 Estados brasileiros, segundo Valente & Pôrto (2006)Valente, E.B. & Pôrto, K.C. 2006. Hepáticas (Marchantiophyta) de um fragmento de Mata Atlântica na Serra da Jibóia, município de Santa Terezinha, BA, Brasil. Acta Botanica Brasilica 20: 433-441.. Entre estas, estão 31 ssp. de nova ocorrência para o Estado de São Paulo e as 2 espécies citadas pela primeira vez para o Brasil, sendo estas, Campylopus hullagensis Broth. e Lepidozia caespitosa Spruce (tabela 1), e 138 espécies de ocorrência ampla (espécies ocorrentes entre 10 a 14 Estados brasileiros) foram encontradas na área (28%), com destaque para cinco destas que são endêmicas do Brasil e quatro estão sendo citadas como nova ocorrência para o Estado (tabela 1).

Foram registradas 47 espécies pela primeira vez para o Estado de São Paulo, 16 destas (35%) pertencem à família Lejeuneaceae, sendo a maioria de ocorrência brasileira rara (tabela 1). Foram encontradas 61 espécies endêmicas do Brasil, o que representa 12% das espécies encontradas na área (tabela 1) e 18% das 337 espécies endêmicas do Brasil. Foram encontradas também espécies endêmicas da Mata Atlântica como a Breutelia microdonta (Mitt.) Broth., Brachymenium hornschuchianum Mart., Daltonia marginata Griff., Campylopus extinctus J.-P. Frahm, Macromitrium catharinense Paris e Balantiopsis brasiliensis Steph. Além da espécie Sphagnum bocainense H.A.Crum, endêmica da Serra da Bocaina e uma das espécies consideradas ameaçadas de extinção (Flora do Brasil 2020Flora do Brasil. 2020 under construction. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Available in http://floradobrasil.jbrj.gov.br/ (access in 9-XII-2019).
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). Essas informações confirmam a importância da existência e conservação do Parque Nacional Serra da Bocaina para a conservação da flora de briófitas.

O Parque Nacional da Serra da Bocaina abriga uma brioflora muito rica, com 485 espécies encontradas, apresentando muitas espécies endêmicas da Mata Atlântica (61 ssp.), estas que ocorrem exclusivamente nas fitofisionomias ali existentes; espécies raras, uma vez que é sabido que esses indivíduos de ambientes florestais não alterados são extremamente sensíveis às alterações do habitat; e espécies de novas ocorrências para o Estado de São Paulo (47 ssp.) e para o Brasil (duas ssp.). As principais famílias encontradas, são as mais representativas em florestas úmidas, além de que estão sendo registradas para a Serra da Bocaina, 53% das espécies que ocorrem em todo o Estado de São Paulo, mostrando assim a importância da preservação e realização de pesquisas futuras.

Agradecimentos

Ao Instituto de Botânica de São Paulo (IBt), por toda infraestrutura prestada para a realização deste trabalho. À Universidade Paulista (UNIP), pelo apoio e financiamento das viagens de campo. À toda equipe do Parque Nacional da Serra da Bocaina, pela hospedagem e auxílio. E aos queridos amigos Dimas M. do Carmo, Emanuelle L. dos Santos, Gledson J. da Silva, Leandro A. Amélio e Marina L. Koga, pelo apoio e cuidado nos trabalhos de campo.

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Editado por

Editor Associado: Diego Tavares Vasques

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Nov 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    29 Jun 2020
  • Aceito
    17 Set 2020
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