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Editorial: conectando Ciência, Tecnologia e Educação

EDITORIAL

Conectando ciência, tecnologia e educacão

A 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, que ocorreu entre os dias 24 e 28 de maio de 2010, em Brasília,1,2 foi uma boa oportunidade para que governo, comunidade científica, empresários e autoridades universitárias fizessem um balanço do quadro atual da inovação no Brasil e discutissem uma política de Estado para os próximos 30 anos. Muitos desafios e proposições foram apresentados e defendidos. Com relação ao setor químico, alguns aspectos do seminário temático 3- Ciência Básica merece destaque:3

A ciência básica ou fundamental envolve a geração do conhecimento e fornece as sementes que poderão ser transformadas em tecnologia e inovação. Se no século XX não havia um bom entendimento de como conectar ciência básica e tecnologia, ainda é muito recente, neste século, a percepção de que a inovação possa ocorrer a partir da descoberta cientifica.

A visão (e abordagem) disciplinar da ciência básica que prevaleceu até a segunda metade do século XX foi revista com o desaparecimento, no final do século passado, das fronteiras disciplinares no âmbito das ciências naturais e o surgimento de domínios híbridos, mutáveis, convergentes e de elevada complexidade. Essa transformação foi potencializada no início deste século com o reconhecimento da convergência tecnológica, que pretende a unificação da ciência e da tecnologia baseada na combinação da nanotecnologia, biotecnologia, tecnologia da informação e ciência cognitiva. Nesse sentido, tanto a convergência científica quanto a tecnológica destacam que o principal foco é o tema em estudo e não a disciplina.

Nesse novo cenário, o principal desafio em nível nacional é ter uma agenda de Estado para a educação, ciência, tecnologia e inovação, com programas significativos de desenvolvimento da ciência básica brasileira focada no mérito, na competência e na criatividade. O Programa dos Institutos Nacionais é um bom exemplo e um excelente começo, mas não é suficiente.

A criação do Programa dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia, INCT (http://www.cnpq.br/programas/inct/-apresentacao/index.html) coloca o país em um novo patamar de ações relacionadas à ciência, tecnologia e inovação, compatível com a abordagem sustentável e interdisciplinar. Entretanto, a governança dos INCTs e a sua inserção institucional precisam ser estabelecidas em sincronia com as IES, pois, em muitas situações, o INCT é maior do que o departamento ou instituto que o hospeda. Nesse sentido, a interação MCT/CNPq com o MEC será de vital importância para os INCTs visando ao estabelecimento de um apoio institucional sustentável.

Por outro lado, vale ressaltar que a qualificação é chave para o desenvolvimento cientifico e tecnológico. O Brasil tem uma série de desafios a enfrentar para promover a inovação e garantir o desenvolvimento tecnológico das empresas. Um deles é investir na qualidade da educação e no aumento do nível de escolaridade dos trabalhadores. "Para qualquer tipo de inovação, o capital humano e a qualificação do trabalhador representam claramente um insumo essencial para estimular a novidade, a produtividade e a competitividade" (http://www.protec.org.br/noticias.asp?cod=2020).

Há inúmeros indicadores que confirmam a necessidade de o Brasil elevar os investimentos em educação. A média de escolaridade da população brasileira com 15 anos ou mais é de 4,3 anos, inferior aos 8,8 anos da Argentina e aos 7,2 anos do México. Cerca de metade dos jovens brasileiros tem dificuldades de leitura ou não sabe ler. Mais de três quartos enfrentam dificuldades em resolver as operações básicas de matemática, conforme o PISA, programa internacional que avalia os estudantes de 15 anos. Na Coréia do Sul, apenas 6% dos jovens têm dificuldades ou não sabem ler. E as notas dos brasileiros em matemática são inferiores às dos estudantes do México e da Indonésia. (http://www.protec.org.br/noticias.asp?cod=2020).

E qual o futuro da Química? Muito tem sido escrito sobre o olhar para o futuro. Existe uma grande convergência na percepção de que a pesquisa é cada vez mais interdisciplinar e que, dentre os principais temas atuais, existe um destaque especial para energia e química sustentável. Independentemente do tema em foco, o futuro exige a sinergia da experiência e a da teoria. A construção e a transformação de moléculas estão diretamente relacionadas com as forças intermoleculares, logo requerem sinergia entre estrutura e ligações químicas.

Os modernos e avançados recursos instrumentais hoje disponíveis, aliados ao amplo progresso na geração e difusão do conhecimento, oferecem as condições propícias e necessárias para a Química florescer e frutificar. A sinergia entre os dois principais campos da química - analise e síntese - é o caminho para a conexão com a Biologia e outras áreas do conhecimento.

É preciso educar para inovar e inovar para educar. O país está pronto para a agenda do século XXI, que exige foco e investimentos em inovação, sustentabilidade e interdisciplinaridade. Este trinômio só se tornará viável com o fortalecimento das conexões da Ciência com Educação e da Ciência com Tecnologia e Inovação.

Jailson B. de Andrade - UFBA

Editor JBCS

References

  • 1. Mota, R.; J. Braz. Chem. Soc. 2010, 21, 573.
  • 2. Pinto, A. C.; Galembeck, F. de Andrade, J. B.; J. Braz. Chem. Soc. 2010, 21, 191.
  • 3. de Andrade, J.B., Lopes, W.A.; Abstracts of the 4th National Conference on Science, Technology and Innovation, Brasília, Brasil, 2010, Plenary Session 3, pp. 163-167.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Set 2010
  • Data do Fascículo
    2010
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