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Análise comparativa dos custos do transplante renal relacionados à recuperação da função renal após o procedimento

Resumo

Introdução:

O número de transplantes renais (KTx, do inglês kidney transplant) está aumentando no Brasil e, consequentemente, os custos deste procedimento aumentam o orçamento de saúde do país. Avaliamos retrospectivamente dados dos procedimentos de transplantes renais até a alta hospitalar, de acordo com a recuperação da função renal após o procedimento.

Métodos:

Análise retrospectiva dos 1º KTx de doadores falecidos, não sensibilizados, realizados entre Jan/2010 a Dez/2017.

Resultados:

Dos 1300 KTx de doadores falecidos realizados neste período, 730 pacientes foram estudados e divididos em 3 grupos: Função Renal Imediata (FRI) - diminuição na creatinina sérica ≥ 10% em dois dias consecutivos; Função Retardada do Enxerto (FRE) - diminuição na creatinina sérica <10% em dois dias consecutivos, sem necessidade de diálise, e Diálise (D) - necessidade de diálise durante a primeira semana. Pacientes no grupo D permaneceram mais tempo no hospital em comparação com FRE e FRI (21, 11 e 8 dias dias respectivamente, p < 0,001). Mais pacientes do grupo D (21%) foram admitidos na UTI e realizaram um maior número de testes laboratoriais (p < 0,001) e biópsias renais (p < 0,001), além de receberem uma quantidade maior de imunossupressores. Os custos hospitalares totais foram mais elevados nos grupos D e FRE em comparação com FRI (U$ 7.021,48; U$ 3.603,42 e U$ 2.642,37 respectivamente, p < 0,001).

Conclusão:

Os custos do procedimento de transplante são impactados pela recuperação da função renal após o transplante. O reembolso para cada um desses diferentes desfechos da função renal deve ser individualizado a fim de cobrir seus custos reais.

Descritores:
Transplante de Rim; Função Retardada do Enxerto; Farmacoeconomia

Abstract

Introduction:

The number of kidney transplants (KTx) is increasing in Brazil and, consequently, the costs of this procedure increase the country's health budget. We retrospectively evaluated the data of kidney transplant procedures until hospital discharge, according to kidney function recovery after the procedure.

Methods:

Retrospective analysis of the non-sensitized, 1st KTx from deceased donors performed between Jan/2010 to Dec/2017.

Results:

Out of the 1300 KTx from deceased donors performed in this period, 730 patients were studied and divided into 3 groups: Immediate Renal Function (IRF) - decrease in serum creatinine ≥ 10% on two consecutive days; Delayed Graft Function (DGF) - decrease in serum creatinine <10% on two consecutive days, without the need for dialysis, and Dialysis (D) - need for dialysis during the first week. Patients in group D stayed longer in the hospital compared to DGF and IRF (21, 11 and 8 days respectively, p < 0.001). More D patients (21%) were admitted to the ICU and performed a greater number of laboratory tests (p < 0.001) and renal biopsies (p < 0.001), in addition to receiving a higher amount of immunosuppressants. Total hospital costs were higher in group D and DGF compared to IRF (U$ 7.021,48; U$ 3.603,42 and U$ 2.642,37 respectively, p < 0.001).

Conclusion:

The costs of the transplant procedure is impacted by the recovery of kidney function after the transplant. The reimbursement for each of these different kidney function outcomes should be individualized in order to cover their real costs.

Keywords:
Kidney Transplantation; Delayed Graft Function; Economics, Pharmaceutical

Introdução

O número de transplantes renais (KTx, do inglês kidney transplant) está aumentando no Brasil e, consequentemente, os custos deste procedimento aumentam o orçamento de saúde do país. Ao mesmo tempo, os doadores de critério expandido são proporcionalmente utilizados com mais frequência para atender à demanda aumentada de transplante renal. Como consequência, há um aumento no número de pacientes que necessitam de diálise após o transplante com permanências hospitalares mais longas.

Em países como o Brasil, onde o reembolso hospitalar dos procedimentos médicos é fixo para cada procedimento e definido pelo sistema nacional de saúde (Sistema Único de Saúde-SUS no Brasil), as variações nos desfechos clínicos podem impactar o orçamento dos hospitais. Ajustar estes custos fixos, de acordo com o desfecho da função renal imediatamente após o transplante, deve ser uma exigência dos hospitais. Por outro lado, a demonstração destes diferentes custos é obrigatória para convencer as autoridades sanitárias dos ajustes necessários no reembolso.

O uso de uma máquina de perfusão ao invés de armazenamento refrigerado para diminuir a necessidade de diálise após o transplante (Tx) aumenta os custos do procedimento de transplante. No entanto, este aumento de custo será bem-vindo se os custos finais do KTx forem reduzidos, mesmo com os custos adicionais da perfusão da máquina.

Da mesma forma, para analisar a diálise após o transplante, é obrigatório verificar se, e quanto, a diálise após o KTx impacta os custos totais do procedimento.

Neste estudo, avaliamos retrospectivamente os custos hospitalares do procedimento de KTx em um grupo homogêneo de pacientes não sensibilizados que realizaram seu 1º KTx de um doador falecido.

Métodos

Avaliamos retrospectivamente todos os doadores falecidos de KTx realizados em nosso centro entre Janeiro/2010 a Dezembro/2017. Os critérios de exclusão foram: crianças (< 18 anos), retransplantes, outros transplantes de órgãos sólidos (SOT, do inglês solid organ transplant) simultâneos, e sensibilização (pacientes com PRA classe I ou II > 10%).

Os dados foram coletados desde a admissão até a alta hospitalar.

As sessões de diálise foram realizadas conforme indicação clínica e de acordo com o critério médico. Definimos os seguintes grupos de acordo com a função renal após o KTx:

1-Função Renal Imediata (FRI): Uma diminuição na creatinina sérica ≥ 10% em dois dias consecutivos, (1º para o 2º e/ou 2º para o 3º).

2-Função Retardada do Enxerto (FRE): Uma diminuição na creatinina sérica < 10% em dois dias consecutivos, (1º para o 2º e/ou 2º para o 3º), mas sem necessidade de diálise na primeira semana.

3-Diálise (D): Necessidade de diálise durante a primeira semana. Os pacientes que foram submetidos à diálise imediatamente após o transplante ou no primeiro dia de pós-operatório devido a hipervolemia, hipercalemia ou outras causas, mas não foram submetidos a outras sessões de diálise na primeira semana não foram incluídos neste grupo, mas foram incluídos no grupo FRE.

Os custos hospitalares foram analisados de acordo com o número de procedimentos e o número de dias no hospital.

Os custos foram calculados de acordo com a tabela de custos do Hospital das Clínicas - Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), que estima o custo diário da enfermaria em U$ 320,00 e o custo da UTI em U$ 378,00 por dia. Para calcular os custos dos medicamentos imunossupressores, recuperamos a quantidade exata de cada medicamento imunossupressor (em mg/dia) recebido durante a internação de cada paciente e multiplicamos a quantidade de medicamentos em mg por dias no hospital e pelo custo em mg da aquisição do medicamento pelo hospital.

Os dados são apresentados como média ± DP. Para avaliar as diferenças na proporção de variáveis categóricas, foi utilizado o Q-quadrado. Para variáveis contínuas, foram utilizados o ANOVA unidirecional e o ANOVA on Ranks (com o método de Dunn). Os resultados foram analisados usando o software estatístico SPSS (versão 18.0; SPSS Inc., Chicago, IL).

Resultados

A Figura 1 mostra o fluxograma do estudo. De Janeiro de 2010 a Dezembro de 2017, foram realizados 1300 transplantes renais em nosso centro. Destes, 539 foram excluídos: crianças (n = 85); retransplantes (n = 108), outros SOT (n = 96) e PRA classe I ou II > 10% (n = 246). Quatro pacientes sem um PRA registrado também foram excluídos.

Figura 1
Fluxograma do estudo.

Além disso, do grupo de 761 pacientes selecionados, todos os óbitos até o sétimo dia (n = 17), todas as perdas de enxerto até o segundo dia de pós-operatório (n = 9; 1 rim hipoperfundido, 1 laceração da veia renal, 2 tromboses venosas e 5 tromboses arteriais) e perdas do segundo ao sétimo dia de pós-operatório devido a trombose provavelmente relacionada à técnica cirúrgica (n = 5) também foram excluídos, resultando em 730 KTx analisados.

Estes 730 pacientes foram então divididos nos três grupos (FRI n = 173; 23,7%), (FRE n = 178; 24,4%), (Diálise n = 379; 51,9%).

A Tabela 1 mostra os dados demográficos, as doenças renais nativas e as características de transplante dos grupos.

Tabela 1
Características dos receptores

No grupo de Diálise (grupo D), os receptores eram mais velhos que nos outros grupos. Menos pacientes no grupo D estavam em diálise peritoneal antes do transplante. O tempo em diálise também foi maior no grupo D em comparação com os outros dois grupos. Apenas alguns poucos pacientes não receberam tacrolimo ou ácido micofenólico (MPA, do inglês mycophenolic acid). Todos os pacientes receberam prednisona oral.

A Tabela 2 mostra os dados do doador. Os doadores eram mais velhos no grupo D, em comparação com o grupo FRI. Mais pacientes no grupo D receberam rins de doadores de critério expandido em comparação com FRE e FRI (33%, 25%, 20%, respectivamente), e a diferença foi estatisticamente significativa entre os grupos FRI e D (p= 0,04) com uma tendência entre FRE e D (p = 0,09). O Índice de Risco do Doador Renal (KDRI, do inglês Kidney Donor Risk Index ) foi progressivamente maior de FRI para FRE e D. Além disso, o tempo de isquemia fria foi maior para o grupo D.

Tabela 2
Características dos doadores

A Tabela 3 mostra o número de dias no hospital, a porcentagem de pacientes internados na unidade de terapia intensiva (UTI) e o número de dias na UTI após o procedimento de KTx, bem como a TFGe (taxa de filtração glomerular estimada).

Tabela 3
Dias no hospital para TX, dias na UTI, e TFGe na alta

Os pacientes no grupo D permaneceram uma média de 10 dias a mais no hospital em comparação com os grupos FRI e FRE (p < 0,001). Mais pacientes (21%) do grupo D foram admitidos em UTI em comparação com FRI (9%) e FRE (7%) e permaneceram mais dias na UTI (p = 0,025). Os pacientes no grupo FRI receberam alta com a TFGe maior do que os grupos FRE e D (p < 0,001).

A Tabela 4 mostra o número de testes laboratoriais realizados durante a internação.

Tabela 4
Número de testes laboratoriais realizados por paciente em cada grupo

Os pacientes do grupo D realizaram um número maior de testes, incluindo hemograma, creatinina sérica, proteína/creatinina urinária, aspartato aminotransferase (AST), e dosagem de tacrolimo (p < 0,001).

A Tabela 5 mostra o número de exames de imagem e biópsias renais por grupo e o número médio de pacientes submetidos aos procedimentos.

Tabela 5
Exames realizados por grupo e por paciente

Mais pacientes no grupo D foram submetidos a uma biópsia renal e esses pacientes realizaram um número maior de biópsias.

Devido ao fato de que não foi possível contar o número exato de sessões de diálise realizadas até a alta em todos os pacientes devido à possível falta de dados após a primeira semana, o número de diálises realizadas pelo grupo D foi analisado apenas para pacientes transplantados em 2016-2017 (n = 76) quando todas as sessões de diálise foram registradas no prontuário eletrônico.

O número total de sessões de diálise para estes pacientes foi de 196. O número médio de sessões de diálise foi de 2,6/paciente; 34% dos pacientes necessitaram apenas de mais uma sessão de diálise após aquela realizada imediatamente após a cirurgia ou no 1º dia de pós-operatório. Os outros 66% dos pacientes necessitaram de 2 ou mais sessões de diálise após o KTx.

A Tabela 6 descreve os custos de medicamentos imunossupressores de acordo com os custos dos medicamentos adquiridos do HCFMUSP. Houve uma forte correlação entre dias de hospitalização e doses totais de micofenolato sódico (MFS) e TAC (dados não mostrados). Como esperado, quanto mais longa a estadia, maior a quantidade de imunossupressores dados a cada paciente. Os custos dos medicamentos seguiram a mesma tendência. O grupo FRI apresentou menor permanência, doses mais baixas de imunossupressores e custos mais baixos. O grupo FRE teve números intermediários e o grupo D teve permanência mais longa e custo mais alto de imunossupressores, com significância estatística. A dose de globulina anti-timócito (ATG, do inglês anti-thymocyte globulin) utilizada na indução não diferiu entre os grupos.

Tabela 6
Drogas imunossupressoras e custos (em U$) durante a internação

A Tabela 7 mostra os custos de hospitalização em nossa instituição. Os custos foram proporcionais aos dias no hospital, ou seja, mais altos no grupo D, intermediários no FRE, e mais baixos no grupo FRI. O mesmo também ocorreu com os dias de internação na UTI. O aumento nos custos hospitalares também é muito maior para os pacientes que precisam de cuidados na UTI, onde o reembolso pelo governo é muito menor do que o necessário para cobrir os custos.

Tabela 7
Custos totais de enfermaria hospitalar (em U$) em cada grupo

Discussão

Nesta análise retrospectiva, mostramos que existem diferentes custos para o procedimento de KTx, desde a admissão hospitalar até a alta, dependendo da recuperação da função renal após o transplante. Este tempo de recuperação se correlaciona diretamente com o número de dias no hospital e impacta diretamente nos custos totais.

Os dados mostraram que não apenas os pacientes em diálise, mas também aqueles que desenvolveram FRE sem necessidade de diálise, permaneceram mais tempo no hospital e seus custos superaram o reembolso do governo para o procedimento de transplante. Estes números devem abrir uma discussão com o SUS a respeito de um reembolso diferencial para as três categorias de desfecho da função renal. Eles também fornecem apoio para administradores hospitalares negociarem com empresas privadas de seguro saúde diferentes custos de pagamento, de acordo com a função renal imediata pós-transplante.

Os dados mostraram que não só os pacientes em diálise, mas também aqueles que desenvolveram FRE sem necessidade de diálise, permaneceram mais tempo no hospital e seus custos superaram o reembolso do governo para o procedimento de transplante. Em uma publicação recente de Kim et al.11 Kim DW, Tsapepas D, King KL, et al. Financial impact of delayed graft function in kidney transplantation. Clin Transplant. 2020 Jun; 34(10):e14022., resultados semelhantes foram demonstrados. No entanto, até onde sabemos, esta é a primeira grande análise de custos específica para essa população de transplante, no Brasil. Esses números devem abrir uma discussão com o SUS para um ressarcimento diferencial para as três categorias de desfecho da função renal. Também fornecem suporte para que administradores hospitalares negociem com operadoras de planos de saúde privados diferentes custos de pagamento de acordo com a função renal imediata pós-transplante.

Selecionamos uma grande população homogênea de receptores adultos não sensibilizados, recebendo seu primeiro transplante de doadores falecidos, a fim de evitar o impacto de sensibilização22 Matas AJ, Gillingham KJ, Elick BA, Dunn DL, Gruessner RW, Payne WD, Sutherland DE, Najarian JS. Risk factors for prolonged hospitalization after kidney transplants. Clin Transplant. 1997 Aug;11(4):259-64.,33 Helanterä I, Isola T, Lehtonen TK, Åberg F, Lempinen M, Isoniemi H. Association of clinical factors with the costs of kidney transplantation in the current era. Ann Transplant. 2019 Jul 2; 24:393-400. e retransplante44 Roozbeh J, Malekmakan L, Monavarian M, Daneshian A, Karimi Z. Survival of kidney retransplant compared with first kidney transplant: A report from Southern Iran. Exp Clin Transplant. 2018 Aug;16(4):386-390. no desfecho de custo. Com esta população selecionada, todos os custos, incluindo exames de sangue, medicamentos imunossupressores, exames de imagem, biópsias, etc., poderiam ser avaliados e todos eles diretamente correlacionados com o número de dias de internação.

Observamos que 52% de nossos pacientes necessitaram de sessões de diálise na primeira semana pós-transplante. Este número é muito inferior à necessidade de 70-75% de diálise, frequentemente descrita na população brasileira, 55 Matos ACC, Requiao Moura LR, Borrelli M, Nogueira M, Clarizia G, Ongaro P, Durão MS, Pacheco-Silva A. Impact of machine perfusion after long static cold storage on delayed graft function incidence and duration and time to hospital discharge. Clin Transplant. 2018 Jan;32(1).,66 Helfer MS, Vicari AR, Spuldaro F, Gonçalves LF, Manfro RC. Incidence, risk factors, and outcomes of delayed graft function in deceased donor kidney transplantation in a Brazilian center. Transplant Proc. 2014 Jul/Aug;46(6):1727-9.,77 Tedesco-Silva Junior H, Offerni JCM, Carneiro VA, Paula MI, David Neto E, Lemos FBC, et al. Randomized trial of machine perfusion versus cold storage in recipients of deceased donor kidney transplants with high incidence of delayed graft function. Transplant Direct. 2017 Apr;3(5):e155.,88 Quintella AHDS, Lasmar MF, Fabreti-Oliveira RA, Nascimento E. Delayed Graft Function, Predictive Factors, and 7-Year Outcome of Deceased Donor Kidney Transplant Recipients With Different Immunologic Profiles. Transplant Proc. 2018 Apr;50(3):737-742.,99 Gorayeb-Polacchini FS, Caldas HC, Gauch CR, Ferreira-Baptista MAS, Fernandes-Charpiot IMM, Abbud-Filho M. Factors that influence delayed graft function in kidney transplants: a single-center paired kidney analysis. Transplant Proc. 2019 Jun;51(5):1568-70.,1010 Costa SD, de Andrade LGM, Barroso FVC, Oliveira CMC, Daher EF, Fernandes PFCBC, Esmeraldo RM, Sandes-Freitas TV. The impact of deceased donor maintenance on delayed kidney allograft function: A machine learning analysis. PLoS One. 2020 Feb 6;15(2):e0228597. possivelmente devido à população de baixo risco selecionada para este estudo e porque não contabilizamos as sessões de diálise realizadas apenas no primeiro dia de pós-operatório. A necessidade de diálise imediata, mas sem nenhuma outra sessão na primeira semana é frequentemente devida a hipervolemia e hipercalemia e não reflete o estado da função renal após o transplante1111 Rodrigo E, Ruiz JC, Piñera C, Fernández-Fresnedo G, Escallada R, Palomar R, et al. Creatinine reduction ratio on post-transplant day two as criterion in defining delayed graft function. Am J Transplant. 2004 Jul;4(7):1163-9.,1212 Govani MV, Kwon O, Batiuk TD, Milgrom ML, Filo RS. Creatinine reduction ratio and 24-hour creatinine excretion on posttransplant day two. Simple and objective tools to define graft function. J Am Soc Nephrol. 2002 Jun;13(6):1645-9.. Em vez disso, classificamos os pacientes no grupo diálise se eles precisassem de pelo menos outra sessão de diálise na primeira semana.

No entanto, todos os estudos acima mencionados compararam pacientes que necessitavam de diálise com aqueles que não necessitavam, sem considerar um subgrupo de pacientes que não necessitavam de diálise, mas ainda não tinham função renal adequada para receber alta do hospital, aqui classificados como grupo FRE. Em nossa análise, este grupo de pacientes diferiu completamente daqueles com função renal imediata em termos de custos. Eles representam um grupo separado que permaneceu mais tempo no hospital até recuperar a função renal suficiente para receber alta. A lógica desta separação é que eles receberam alta do hospital com uma TFGe de apenas 14mL/min/1,73m2, a mesma função com a qual o grupo D recebeu alta.

A segunda questão é se existem alterações que podemos fazer para diminuir a taxa de pacientes que necessitam de diálise após o transplante. Variáveis como tempo e tipo de diálise pré-transplante, idade do doador e doador de critério expandido não são modificáveis e, portanto, o único fator modificável pode ser a preservação do órgão após a coleta.

Há muitos registros mostrando que a máquina de perfusão reduz a incidência de FRE, a duração da FRE, o tempo de internação hospitalar55 Matos ACC, Requiao Moura LR, Borrelli M, Nogueira M, Clarizia G, Ongaro P, Durão MS, Pacheco-Silva A. Impact of machine perfusion after long static cold storage on delayed graft function incidence and duration and time to hospital discharge. Clin Transplant. 2018 Jan;32(1).,77 Tedesco-Silva Junior H, Offerni JCM, Carneiro VA, Paula MI, David Neto E, Lemos FBC, et al. Randomized trial of machine perfusion versus cold storage in recipients of deceased donor kidney transplants with high incidence of delayed graft function. Transplant Direct. 2017 Apr;3(5):e155.,1313 Moers C, Smits JM, Maathuis MHJ, Treckmann J, Van Gelder F, Napieralski BP, et al. Machine perfusion or cold storage in deceased-donor kidney transplantation. N Engl J Med. 2009 Jan;360(1):7-19.,1414 Peng P, Ding Z, He Y, Zhang J, Wang X, Yang Z. Hypothermic machine perfusion versus static cold storage in deceased donor kidney transplantation: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Artif Organs. 2019 May;43(5):478-89.,1515 Tingle SJ, Figueiredo RS, Moir JA, Goodfellow M, Talbot D, Wilson CH. Machine perfusion preservation versus static cold storage for deceased donor kidney transplantation. Cochrane Database Syst Rev. 2019 Mar;3(3):CD011671. e os custos relacionados ao transplante, além de melhor custo-eficácia da máquina de perfusão em comparação com o armazenamento refrigerado1616 Groen H, Moers C, Smits JM, Treckmann J, Monbaliu D, Rahmel A, et al. Cost-effectiveness of hypothermic machine preservation versus static cold storage in renal transplantation. Am J Transplant. 2012 Jul;12(7):1824-30.,1717 Tedesco Silva H Jr, Evans RW, Gavaghan MB, Vazquez VC. A cost-effectiveness analysis of organ preservation methods for deceased donor kidneys at high risk for delayed graft function in Brazil. Transplant Proc. 2018 Dec;50(10):3121-3127.,1818 Garfield SS, Poret AW, Evans RW. The cost-effectiveness of organ preservation methods in renal transplantation: US projections based on the machine preservation trial. Transplant Proc. 2009 Nov;41(9):3531-6.,1919 Gómez V, Galeano C, Diez V, Bueno C, Díaz F, Burgos FJ. Economic impact of the introduction of machine perfusion preservation in a kidney transplantation program in the expanded donor era: cost-effectiveness assessment. Transplant Proc. 2012 Nov;44(9):2521-4.,2020 Bond M, Pitt M, Akoh J, Moxham T, Hoyle M, Anderson R. The effectiveness and cost-effectiveness of methods of storing donated kidneys from deceased donors: a systematic review and economic model. Health Technol Assess. 2009 Aug;13(38):iii-iv,xi-xiv,1-156.,2121 Silva Junior HT, Evans RW, Gavaghan MB, Vazquez VC. A cost-effectiveness analysis of organ preservation methods for deceased donor kidneys at high risk for delayed graft function in Brazil. Transplant Proc. 2018 Dec;50(10):3121-7..

Em nosso hospital, um dia de internação custa em torno de U$ 320,00. O custo total para conservação em uma máquina de perfusão no Brasil é de aproximadamente U$ 2.200,00 (aproximadamente o custo de 6 dias no hospital), de acordo com dados do fabricante. Portanto, este procedimento só terá grande aceitação se puder diminuir o número de dias de internação para 6 dias ou menos, apenas para ser igual aos custos atuais de estadias mais longas no hospital.

Em nossa opinião, o maior problema de estudos com máquinas de perfusão é que eles incluíram todos os receptores de doadores falecidos durante o período de pesquisa e, portanto, incluíram aqueles que nunca exigiriam diálise. Por outro lado, se tratarmos em uma máquina de perfusão apenas rins que tenham uma grande chance de requerer diálise, gastaremos dinheiro com a máquina de perfusão em apenas 52% dos pacientes. Esta política pode mudar a economia por trás do uso de máquinas de perfusão em transplantes renais.

O custo-benefício real deste procedimento ao reduzir a necessidade de diálise só pode ser avaliado com estudos que incluam pacientes com alto risco de diálise após o transplante, como aqueles que recebem rins com maior tempo de isquemia fria, KDRI mais alto, de doadores de critério expandido, etc. Desenvolver uma equação de alta sensibilidade e especificidade para identificar esses pacientes é nosso propósito futuro.

Em conclusão, mostramos diferenças nos custos de KTx em pacientes de baixo risco, dependendo da recuperação da função renal após o transplante. Parece que a forma mais viável de reduzir esses custos é implementar formas para uma melhor preservação dos órgãos. Entretanto, o custo-benefício, o custo-eficácia e a viabilidade desta ideia ainda precisam ser determinados.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Abr 2021
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2021

Histórico

  • Recebido
    05 Ago 2020
  • Aceito
    20 Jan 2021
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