Crises epilépticas e uso de olanzapina: relato de dois casos

Epileptic seizures and olanzapine use: two cases report

CASE REPORT

Crises epilépticas e uso de olanzapina: relato de dois casos

Epileptic seizures and olanzapine use: two cases report

Glória Maria A. S. Tedrus^I; Lineu Corrêa Fonseca^I; Alexandre Souza Bossoni^II

^IProfessor de Neurologia da Faculdade de Medicina

^IIBolsista de iniciação científica CNPq. Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas)

^{Endereço para correspondência}

RESUMO

INTRODUÇÃO: Lentificação difusa ou focal da atividade de base e atividade epileptiforme ao eletrencefalograma, assim como desenvolvimento de crises epilépticas foram descritas, na literatura, em pacientes em uso de drogas antipsicóticas, como os fenotiazidicos e a butirofenona. No entanto, há relatos de baixo risco de ocorrência de crises epilépticas relacionadas ao uso da olanzapina.

OBJETIVO: Avaliar a relação de olanzapina e crises epilépticas em dois casos.

MÉTODO: São Relatados os casos de dois acientes de 45 e 37 anos de idade, com diagnóstico de esquizofrenia, que apresentaram crises epilépticas generalizadas, respectivamente, quatro meses e um mês após o início do uso de olanzapina. No eletrencefalograma havia complexos de ponta-onda generalizados em um paciente e focais em outro.

CONCLUSÃO: Houve associação de crises epilépticas e uso de olanzapina em dois casos.

Unitermos: eletrencefalograma, olanzapina, crises epilépticas.

ABSTRACT

INTRODUCTION: Slowing and epileptiform activity in EEG-patterns as well as epileptic seizures have been published during antipsychotic therapy with phenothiazines and butyrophenones. More recently, olanzepine, a new class of antipsychotic drug for use in treatment of refractory schizophrenics has been associated with a low risk of epileptic seizure occurrence.

METHODS: We studied two patients, 45 and 37 years old, with schizophrenia and generalized epileptic seizures appearing, respectively, four and one month after starting olanzapine treatment. Their electroencephalogram showed spike-wave discharges generalized in one case and focal in the second patient.

CONCLUSION: It was observed an association between epileptic seizures and olanzapine use.

Key words: EEG, antipsychotic treatment, seizures.

INTRODUÇÃO

Lentificação difusa ou focal da atividade de base e atividade epileptiforme (AE) ao eletrencefalograma (EEG) foram descritas, na literatura, em pacientes em uso de drogas antipsicóticas, como os fenotiazidicos e a butirofenona. Há também relatos de que algumas drogas antipsicóticas podem desencadear crises epilépticas.^(7,8)

Entretanto, são limitados os conhecimentos sobre alterações eletrencefalográficas e sobre a ocorrência de crises epilépticas em pacientes tratados com as novas drogas antipsicóticas como a clozapina e a olanzapina.

A clozapina tem sido associada a alterações eletren-cefalográficas e ao risco dose-dependente de desenvolvimento de crises epilépticas. Estas ocorreram em cerca de 10% dos pacientes.^(3,5)

Por outro lado, são raros os casos descritos de crise epiléptica induzida pelo uso da olanzapina.^(2,3,10)

O objetivo deste estudo é descrever e discutir dois casos de pacientes com diagnóstico de esquizofrenia e que apresentaram crises epilépticas e AE ao EEG após a introdução da olanzapina.

RELATO DO CASO

CASO 1

Paciente do sexo masculino, 45 anos, procedente de Campinas, SP, casado, primeiro grau incompleto, foi encaminhado, em junho de 2005, ao serviço de neurologia clinica do Hospital e Maternidade Celso Pierro, PUC-Campinas, referindo dois episódios consecutivos de crise tônico-clônico generalizada (CTCG), enquanto praticava videojogos, há 50 dias, época em que foi medicado com carbamazepina 600 mg por dia. Apresentava exame neurológico tradicional normal. A tomografia computadorizada de crânio foi normal. O eletrencefalograma (EEG), realizado em junho de 2005, mostrou anormalidade paroxística generalizada por complexos de ponta-onda lenta 4 Hz regulares, bilaterais e sincrônicos durante repouso, com a hiperpnéia e com a fotoestimulação intermitente (Figura 1).

Há um ano, o paciente estava em acompanhamento no ambulatório de psiquiatria, com diagnóstico de esquizofrenia indiferenciada e em uso de haloperidol 10 mg/dia e Biperideno 2 mg/dia. Em fevereiro de 2005, portanto 4 meses antes do ínício das crises convulsivas, as drogas haviam sido substituídas por olanzapina na dose de 5 mg/dia.

No seguimento neurológico apresentou episódio de CTCG em série a partir do qual foi medicado com ácido valpróico. Nos meses seguintes, ainda medicado com olanzapina, teve mais algumas crises epilépticas.

CASO 2

A paciente do sexo feminino, 37 anos de idade, procedente de Hortolandia, SP, apresentou o primeiro episódio de CTCG e vários episódios de mioclônias 20 dias após o inicio do uso de olanzapina 5 mg/dia. A paciente está em acompanhamento psiquiátrico com diagnóstico de esquizofrenia.

O exame neurológico tradicional e a tomografia computadorizada de crânio foram normais e o EEG mostrou anormalidade paroxística focal por ondas agudas nas regiões central mediana e centro-parietal do hemisfério cerebral direito. A fotoestimulação intermitente não determinou aparecimento de anormalidades (Figura 2).

DISCUSSÃO

Os pacientes descritos tinham o diagnóstico de esquizofrenia, mas não apresentavam história de crises epilépticas até a introdução da olanzapina. As crises epilépticas ocorreram aproximadamente 1 mês e 4 meses após o inicio da droga antipsicótica. Após o início das crises epilépticas, o EEG mostrou, complexos de ponta-onda generalizados em um caso e focais em outro. Não foi constatada lentificação da atividade elétrica cerebral de base.

As crises epilépticas foram classificadas como tônico-clônicas em um caso e miclônicas e tônico-clônicas no outro.

Não foram encontrados outros fatores etiológicos para as crises epilépticas além da relação temporal com a utilização de olanzapina.

A olanzapina é uma droga antipsicótica com estrutura farmacológica e propriedade clínica similares às da clozapina. Ambas as drogas são descritas como efetivas em pacientes com esquizofrenia resistente a tratamento convencional, mas diferem, contudo no risco de desenvolvimento de crises epilépticas, pois é sabido que o uso de clozapina tem sido associado, em muitos casos, a alterações eletrencefalográficas e também à ocorrência de crises epilépticas.^(5,9,10)

Quanto às anormalidades do EEG, em nossos casos não houve lentificação da atividade elétrica cerebral de base que é o achado mais freqüente associado à olanzapina.^(4,9,10,11)

Em relação à AE ao EEG, com o uso de olanzapina, há poucos relatos na literatura e, estes por vezes, são contraditórios.

Pillmann et al.⁽⁹⁾ (2000) e Schuld et al.⁽¹⁰⁾ (2000), ao estudar a ocorrência de AE em pacientes com períodos com e sem olanzapina, não encontraram diferenças significativas entre os dois estados.

Por outro lado, o achado de AE variou de 7 a 22,2% em indivíduos com uso de olanzapina.^(1,4,11) No estudo de Amann et al.⁽¹⁾ (2003) a olanzapina estava associada a outros antipsicóticos.

O relato de complexos de ponta-onda generalizados em pacientes com olanzapina é raro.⁽¹⁰⁾

Quanto à ocorrência de crises epilépticas, em estudo controlado foi descrito que a olanzapina tem baixo risco de desencadear crises epilépticas.⁽²⁾ Nos casos descritos na literatura ou há pobre documentação ou os pacientes estavam em uso de outras drogas, ou ainda, apresentavam doenças neurológicas associadas, o que torna difícil estabelecer a relação causal entre o uso da olanzapina e a ocorrência das crises epilépticas.^(3,9,10)

Em nossos casos, não havia utilização de outras drogas antipsicóticas e nem houve outros fatores etiológicos evidentes para as crises epilépticas.

O acompanhamento da evolução dos dois pacientes pode trazer dados mais consistentes quanto à relação entre as crises epilépticas e o uso de olanzapina.

Received Nov 22, 2006; accepted Dec 15, 2006.

Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas)

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  26 Jul 2007
• Data do Fascículo
  Mar 2007

Histórico

• Aceito
  15 Dez 2006
• Recebido
  22 Nov 2006