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ESTRATÉGIAS RETÓRICAS EM USO NA SEÇÃO DE CONSIDERAÇÕES FINAIS DE ARTIGOS EM LINGUÍSTICA

Rhetorical Strategies in Use in the Final Considerations Section of Research Articles in Linguistics

Estrategias retóricas en uso en la sección de consideraciones finales de artículos de lingüística

Resumo

Este trabalho examina, à luz da análise de movimentos proposta por Swales (1990), as estratégias retóricas mobilizadas na seção de considerações finais de artigos da área de Linguística. Para este estudo, de natureza exploratória, foram selecionados dez artigos publicados em periódicos brasileiros, cujas seções conclusivas foram submetidas à análise de movimentos e passos retóricos, com base no modelo apresentado por Cotos, Huffman e Link (2015). Os resultados indicam estratégias recorrentes de retomada dos objetivos, métodos, resultados, contribuições e implicações da pesquisa, além de eventuais sugestões de novos estudos. Entretanto, a retomada de objetivos ou métodos como forma de iniciar a seção constitui um dos pontos mais visíveis em que os textos se afastam do modelo de análise, ratificando a flexibilidade inerente ao gênero, nos limites das convenções estabelecidas pela comunidade acadêmica.

Palavras-chave:
Artigo científico; Considerações finais; Movimentos retóricos

Abstract

This work aims to examine, under the light of the move analysis proposed by Swales (1990), the rhetorical strategies mobilized in the conclusion section of articles in the field of Linguistics. For the study, of an exploratory character, ten articles published in Brazilian journals were selected, whose conclusive sections were submitted to the analysis of rhetorical movements and steps, based on the model presented by Cotos, Huffman and Link (2015). As a result, recurrent strategies for resuming the objectives, methods, results, contributions, and implications of the research were found, along with possible suggestions for new studies. However, the resumption of objectives or methods as a way of starting the section constitutes one of the most visible points at which the texts move away from the analysis model, ratifying the flexibility inherent to the genre, within the limits of the established conventions of the academic community.

Keywords:
Research article; Conclusion; Rhetorical moves

Resumen

Este trabajo examina, a la luz del análisis de movidas propuesto por Swales (1990), las estrategias retóricas movilizadas en la sección de consideraciones finales de artículos del área de Lingüística. Para el estudio, de carácter exploratorio, se seleccionaron 10 artículos publicados en periódicos brasileños, cuyas secciones finales fueron sometidas al análisis de movidas y pasos retóricos, a partir del modelo presentado por Cotos, Huffman y Link (2015). Los resultados indican estrategias recurrentes para retomar los objetivos, métodos, resultados, contribuciones e implicaciones de la investigación, además de posibles sugerencias para nuevos estudios. Sin embargo, la retoma de objetivos o métodos como forma de iniciar la sección constituye uno de los puntos más visibles en los que los textos se alejan del modelo de análisis, ratificando la flexibilidad inherente al género, dentro de los límites de las convenciones establecidas por la comunidad académica.

Palabras clave:
Artículo de investigación; Conclusión; Movidas retóricas

Este texto é dedicado ao nosso amigo, colega e coautor Renato Lira Pimentel, que faleceu no dia 1º de outubro de 2022 em decorrência de um acidente de moto, aos 35 anos de idade. Este trabalho representa uma de suas importantes contribuições para o campo dos estudos de gêneros textuais/discursivos. A ele, nossa homenagem e nossa imensa saudade.

1 INTRODUÇÃO

As pesquisas sobre a escrita de diferentes gêneros acadêmicos têm recebido grande atenção por parte dos estudiosos da linguagem. No Brasil, uma evidência do crescente interesse pela escrita acadêmica é a publicação de trabalhos a respeito de gêneros como o projeto de pesquisa (Alves Filho; Oliveira, 2017), o resumo acadêmico (Biasi-Rodrigues, 1998; 2009; Melo; Bezerra, 2021MELO, B. O. R.; BEZERRA, B. G. A escrita de resumos no quadro dos letramentos acadêmicos de estudantes de graduação. RBLA, v. 21, n. 1, p. 197-225, 2021.), a resenha acadêmica (Bezerra, 2001; Carvalho, 2005CARVALHO, G. Gênero como ação social em Miller e Bazerman: o conceito, uma sugestão metodológica e um exemplo de aplicação. In: MEURER, J. L.; BONINI, A.; MOTTA-ROTH, D. (org.). Gêneros: teorias, métodos, debates. São Paulo: Parábola Editorial, 2005. p. 130-149.) e a monografia (Oliveira, 2016), entre outros, apenas para mencionar pesquisas relacionadas à abordagem sociorretórica1 1 Utilizamos a expressão “abordagem sociorretórica” para nos referir à perspectiva de estudos de gênero no campo de Inglês/Língua para Fins Específicos. Para outras acepções do termo, ver Bezerra (2017). de estudo de gêneros, campo de investigação ao qual nos alinhamos neste trabalho.

Dentre os gêneros acadêmicos, o artigo científico se destaca como um dos mais prestigiados nos diferentes campos disciplinares e um dos mais utilizados como meio de divulgação do conhecimento produzido em (sub)áreas disciplinares como a Linguística2 2 Estamos cientes de que a área, oficialmente, se chama Linguística e Literatura. Neste trabalho, o termo Linguística, isoladamente, corresponde de modo mais exato aos textos que analisamos, embora ainda se trate, mesmo entendido como nomeação de uma subárea, de uma grande generalização. (Motta-Roth; Hendges, 2010). Diversas pesquisas têm sido desenvolvidas sobre esse gênero, a partir de variadas perspectivas. Tais estudos investigam desde questões de composição e organização textual-retórico-discursiva, tais como a intertextualidade em artigos produzidos por mestrandos em Letras (Araújo, 2016ARAÚJO, C. M. Intertextualidade como traço constitutivo da identidade acadêmica de mestrando em Letras: a produção de artigos científicos. 2016. Dissertação (Mestrado em Letras) - Universidade Federal de Pernambuco, Centro de Artes e Comunicação, Recife, 2016.) e sua organização retórica em textos produzidos por diferentes comunidades disciplinares (Costa, 2012COSTA, L. R. S. A organização retórica do gênero artigo experimental em comunidades disciplinares distintas. Entrepalavras, Fortaleza, v. 2, n. 2, p. 126-146, ago./dez. 2012.), até a construção da identidade e o desenvolvimento dos letramentos de estudantes de graduação por meio da produção de artigos (Bezerra, 2015BEZERRA, B. G. Letramentos acadêmicos e construção da identidade: a produção do artigo científico por alunos de graduação. Linguagem em (Dis)curso, Tubarão, SC, v. 15, n. 1, p. 61-76, jan./abr. 2015.)3 3 Com exceção de Perdomo, Morales e Cassany (2021), uma descrição sociorretórica do artigo de revisão sistemática na área de Odontologia, os estudos privilegiam o artigo de pesquisa (empírica ou experimental) como variedade prototípica do gênero. Nesse sentido, alternativas igualmente reconhecidas pela comunidade acadêmica e aceitas pelos periódicos, tais como o ensaio e o debate, não têm sido objeto de tais investigações. .

Ainda nessa perspectiva, há estudos que procuram compreender o artigo a partir da organização retórica de suas diferentes seções ou partes estruturais. No contexto brasileiro, podemos mencionar Ritti-Dias e Bezerra (2013) e Bernardino e Pacheco (2017BERNARDINO, C. G.; PACHECO, J. T. S. Uma análise sociorretórica de introduções em artigos originais da cultura disciplinar da área de nutrição. Fórum Linguístico, Florianópolis, v. 14, n. 1, p. 1749-1766, jan./mar. 2017.), que investigam a introdução de artigos das áreas de Saúde Pública e de Nutrição, respectivamente. Na mesma linha, Andrade (2015ANDRADE, V. Z. O resumo do artigo acadêmico: um estudo sociorretórico. In: CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 12., 2015, Curitiba. Anais [...]. Curitiba: PUC-PR, 2015. p. 881-896.) privilegia a análise sociorretórica do resumo do artigo. Por sua vez, Bezerra e Guimarães (2020) empreendem uma análise dos movimentos retóricos do resumo e da introdução do artigo científico, com vistas a um estudo da correlação entre essas duas partes estruturais do gênero4 4 O resumo do artigo científico é um gênero e não apenas uma seção estrutural do artigo. Ao contrário da introdução, por exemplo, ele tem autonomia para circular socialmente à parte do gênero que costuma acompanhar. No entanto, quando apresentado em conjunto com o artigo, o resumo pode ser estudado como uma de suas partes estruturais. .

Em comum, essas pesquisas sobre a organização retórica do artigo científico retomam ou reelaboram o estudo seminal de Swales (1990SWALES, J. M. Genre analysis: English in Academic and Research Settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.), em que o autor apresenta o Modelo CARS (Create a Research Space - Crie um espaço de pesquisa) para a análise das estratégias retóricas (moves and steps - movimentos e passos) mobilizadas na seção de introdução de artigos de pesquisa. A metodologia de análise de movimentos, inaugurada pelo Modelo CARS, constitui um marco para a perspectiva de estudos de gênero do Inglês para Fins Específicos (ou ESP, do inglês English for Specific Purposes) e, conforme exemplificado, tem sido aplicada a diversas pesquisas sobre o artigo científico e outros gêneros acadêmicos e profissionais.

Especificamente, a seção conclusiva do artigo científico tem sido objeto de estudos pelo menos desde a década de 1990. No cenário internacional, vale mencionar Berkenkotter e Huckin (1995BERKENKOTTER, C.; HUCKIN, T. N. Genre Knowledge in Disciplinary Communication: Cognition, Culture, Power. Hillsdale, NJ: LEA, 1995.) e sua influente proposição de que a seção de discussão5 5 Discussão é uma das denominações existentes para a seção conclusiva, em especial quando o artigo se apresenta na estrutura IMRD (Introdução, Métodos, Resultados e Discussão). Porém, ainda que inspirados neste modelo, há numerosos casos em que a seção de discussão, quando presente, não coincide com a seção conclusiva. tende a espelhar os três movimentos retóricos da introdução de maneira invertida. Swales (2004SWALES, J. M. Research Genres: Explorations and Applications. Cambridge: Cambridge University Press, 2004.) menciona as pesquisas realizadas por Nwogu (1990NWOGU, K. N. Discourse Variation in Medical Texts: Schema, Theme and Cohesion in Professional and Journalistic Accounts. Nottingham: University of Nottingham, 1990.), Dubois (1997DUBOIS, B.-L. The Biomedical Discussion Section In Context. Greenwich, CT: Ablex, 1997.) e Kanoksilapatham (2003KANOKSILAPATHAM, B. A Corpus-Based Investigation of Scientific Research Articles: Linking Move Analysis and Multidimensional Analysis. Unpublished Ph.D. Dissertation, Georgetown University, 2003.) em Medicina, Biomedicina e Bioquímica, respectivamente. Além desses estudos, mencionamos o trabalho de Lewin, Fine e Young (2001LEWIN, B. A.; FINE, J.; YOUNG, L. Expository discourse: a genre-based approach to social science research texts. London: Continuum, 2001.) na área de ciências sociais e, entre trabalhos mais recentes, o estudo da seção de discussão na área de Engenharia por Kanoksilapatham (2012) e a pesquisa sobre a seção de conclusão em artigos de Engenharia Civil e Linguística Aplicada por Zamani e Ebadi (2016ZAMANI, G.; EBADI, S. Move Analysis of the Conclusion Sections of Research Papers in Persian and English. Cypriot Journal of Educational Sciences, v. 11, n. 1, p. 9-20, 2016.). Finalmente, destacamos os trabalhos de Yang e Allison (2003YANG, R.; ALLISON, D. Research Articles in Applied Linguistics: Moving from Results to Conclusions. English for Specific Purposes, v. 22, p. 365-385, 2003.) e Cotos, Huffman e Link (2015COTOS, E.; HUFFMAN, S.; LINK, S. Furthering and Applying Move/Step Constructs: Technology-Driven Marshalling of Swalesian Genre Theory for EAP Pedagogy. Journal of English for Academic Purposes, n. 19, 52-72, 2015.), que foram referências importantes para nossa investigação.

Alguns estudos realizados no Brasil igualmente se dedicaram à análise sociorretórica da seção conclusiva do artigo científico. É o caso de Costa (2015COSTA, L. R. S. Culturas disciplinares e artigos acadêmicos experimentais: um estudo comparativo da descrição sociorretórica. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) - Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2015.), cuja pesquisa inclui a caracterização da organização retórica das conclusões ou considerações finais nas culturas disciplinares de Linguística e Medicina. Outros estudos incluem Pacheco, Bernardino e Freitas (2018PACHECO, J. T. S.; BERNARDINO, C. G.; FREITAS, T. L. Um estudo sociorretórico da seção de Conclusão em artigos originais da cultura disciplinar da área de Nutrição. Entrepalavras, Fortaleza, v. 8, p. 119-139, jan./abr. 2018.), sobre conclusões do artigo na área de Nutrição; Paiva e Duarte (2018PAIVA, F. J. O.; DUARTE, A. L. M. Uma análise sociorretórica de seções de conclusão de artigos acadêmicos na perspectiva dos estudos linguísticos. Entre Parênteses, v. 7, n. 1, p. 1-28, out. 2018.), sobre conclusões de artigos produzidos por estudantes de Letras, e Freitas, Bernardino e Pacheco (2020), sobre considerações finais e referências bibliográficas em artigos de História6 6 Dada a especificidade deste estudo, não mencionamos trabalhos acerca da seção conclusiva de gêneros como monografias, dissertações e teses. .

Entretanto, apesar das pesquisas já realizadas, estudos adicionais sobre a seção de considerações finais do artigo científico são necessários por algumas razões. Se, no contexto brasileiro, esses estudos são ainda escassos e há muito a esclarecer sobre as estratégias efetivamente mobilizadas pelos pesquisadores; no plano internacional, a despeito de constatarmos um volume relativamente maior de pesquisas, o tema ainda está longe de se esgotar. Como mostram Moreno e Swales (2018MORENO, A. I.; SWALES, J. M. Strengthening Move Analysis Methodology towards Bridging the Function-Form Gap. English for Specific Purposes, v. 50, p. 40-63, 2018.), não há consenso entre os pesquisadores sobre quantos e quais são os movimentos retóricos e os respectivos passos realizados na seção conclusiva do artigo, ao contrário do que costuma ocorrer em estudos sobre a seção de introdução. Assim, consideramos que trabalhos de pesquisa sobre esse objeto são relevantes para toda a comunidade acadêmica, tanto para os participantes menos experientes, quanto para pesquisadores reconhecidos nas respectivas áreas disciplinares.

Assim, o objetivo deste trabalho, de natureza exploratória, é analisar a organização retórica da seção de considerações finais do artigo científico na área de Linguística. Por meio dessa análise buscamos identificar, com base em textos publicados em periódicos brasileiros avaliados como Qualis A1 no quadriênio 2013-20167 7 Os periódicos selecionados para coleta do corpus, nomeados na seção metodológica deste trabalho, mantiveram o Qualis A1 na avaliação referente ao quadriênio 2017-2020, divulgado posteriormente à realização de nossa pesquisa. , o que participantes experimentados da comunidade acadêmica efetivamente fazem quando escrevem a conclusão de seus artigos.

Em vista dessa demanda, o trabalho está organizado em quatro tópicos, além desta introdução e das considerações finais. No primeiro, tratamos da organização estrutural e retórica do artigo, à luz da abordagem sociorretórica. No segundo, discutimos a seção conclusiva do artigo, considerando diferentes estudos relativos às seções intituladas “discussão”, “conclusão” ou “considerações finais”. No terceiro, apresentamos os procedimentos metodológicos que orientaram o estudo. Finalmente, no quarto tópico, expomos e discutimos os resultados da análise.

2 A ORGANIZAÇÃO ESTRUTURAL E RETÓRICA DO ARTIGO CIENTÍFICO

Neste estudo, concebemos gênero como ação social realizada em contextos específicos, na forma de eventos comunicativos vivenciados em situações tipificadas e recorrentes, cumprindo propósitos comunicativos característicos. Entendemos que os gêneros organizam as atividades das pessoas, sendo tanto regulados quanto reguladores das práticas da comunidade discursiva que os utiliza. As convenções em torno dos gêneros são reflexo de relações de poder com implicações para as produções tanto de participantes especializados como de membros periféricos da comunidade. Essas considerações estão em sintonia com aspectos do pensamento de Miller (2012MILLER, C. R. Gênero textual, agência e tecnologia. São Paulo: Parábola Editorial, 2012.), Bazerman (2005BAZERMAN, C. Atos de fala, gêneros textuais e sistemas de atividades: como os textos organizam atividades e pessoas. In: BAZERMAN, C. Gêneros textuais, tipificação e interação. São Paulo: Cortez, 2005. p. 19-46.) e Swales (1990SWALES, J. M. Genre analysis: English in Academic and Research Settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.).

O artigo científico, hoje um gênero bem estabelecido na academia, não teve sempre o formato pelo qual o conhecemos atualmente. Considerações históricas sobre o artigo, como aquelas apresentadas por Atkinson (1999ATKINSON, D. Scientific Discourse in Sociohistorical Context: The Philosophical Transactions of the Royal Society of London, 1675-1975. Mahwah, New Jersey: LEA, 1999.), Bazerman (2005BAZERMAN, C. Atos de fala, gêneros textuais e sistemas de atividades: como os textos organizam atividades e pessoas. In: BAZERMAN, C. Gêneros textuais, tipificação e interação. São Paulo: Cortez, 2005. p. 19-46.) e Swales (1990SWALES, J. M. Genre analysis: English in Academic and Research Settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990., 2004) nos ajudam a compreender a evolução de sua construção textual. O primeiro artigo científico de que se tem registro data de 1665, conforme a correspondência de Henry Oldenburg, primeiro editor de The Philosophical Transactions of the Royal Society (Bazerman, 2005). Essa correspondência era mantida através de cartas, as formas embrionárias do artigo científico, que comunicavam experiências e descobertas entre os cientistas (Swales, 1990). O Philosophical Transactions e periódicos subsequentes passaram a funcionar como uma “arena regular para discussão”, e essa situação retórica nova e recorrente conduziu, afinal, à criação de um novo gênero com características distintas da carta. Ao longo do tempo, de acordo com as demandas da comunidade acadêmica, o artigo passou por várias transformações quanto a padrões sintáticos e lexicais, organização retórica, uso de recursos não verbais, extensão, formas de citação e inserção de notas.

Swales (1990SWALES, J. M. Genre analysis: English in Academic and Research Settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.) define o artigo como um texto escrito de extensão limitada, que reporta uma investigação realizada por um ou mais autores e cujo foco são descobertas científicas, embora também possa tratar de questões teóricas ou metodológicas. Quanto à configuração estrutural e retórica do artigo científico, Swales (1990) toma como ponto de partida a tradicional divisão do artigo em quatro seções: Introdução, Metodologia, Resultados e Discussão (IMRD), embora essa estrutura adotada por pesquisadores de diferentes áreas não represente um padrão universal e invariável.

O ambiente acadêmico, como locus de circulação do artigo científico, é um espaço de escrita amplamente convencional. Nesse espaço, é comum haver restrições e condições para a realização dos gêneros, que tendem a ser marcados por configurações mais padronizadas e fixas do que em outros domínios discursivos. Assim, há uma expectativa compartilhada, de natureza mais geral, sobre a forma de organização do artigo e de outros gêneros acadêmicos, o que não impede que as especificidades de cada área disciplinar se reflitam nos textos que tal área produz.

Os artigos da (sub)área de Linguística, particularmente, não costumam se encerrar com uma seção intitulada “discussão”, mas apresentar uma seção conclusiva chamada de “considerações finais” ou “conclusão” (ver quadro 1). Nesses artigos, é mais provável que a discussão (o D do modelo IMRD) seja incorporada tanto à seção de resultados (também referida como “análise dos dados”) quanto às considerações finais, ao invés de constar como uma seção autônoma.

A relativa estabilidade das formas de organização do artigo científico, bem como sua plasticidade, pode ser ilustrada pelo quadro a seguir, construído a partir da consulta a um número aleatoriamente selecionado da revista DELTA (Qualis A1). Nesse número, foi observada a organização estrutural dos quatro primeiros artigos escritos em português, já que a revista também publica em língua estrangeira. Como se pode verificar, os artigos mostram consenso apenas na nomeação da introdução. No mais, primeiramente, acrescentam ao esquema IMRD uma seção destinada à fundamentação teórica ou revisão de literatura, com esses títulos (artigos 2 e 3 respectivamente) ou com títulos alusivos ao conteúdo da seção (artigos 1 e 4). Note-se ainda que a seção de fundamentação teórica, seja qual for o título que receba, pode ser desmembrada em tópicos autônomos (artigo 4) ou dividida em subtópicos (artigos 1, 2 e 3, apesar de esse detalhe não ter sido destacado no quadro 1).

Quadro 1
Estrutura de quatro artigos científicos da Revista Delta, v. 37, n. 2, 2021

Em seguida, o M do esquema IMRD pode se realizar como uma seção intitulada “metodologia” (duas vezes) ou “método” (uma vez) ou simplesmente pode ser incorporado à seção de resultados (artigo 4). Já a seção de resultados é nomeada como “apresentação de resultados” e “resultados” (artigos 1 e 3 respectivamente) ou recebe um título temático (artigos 2 e 4). Finalmente, observe-se que três artigos terminam com uma seção de “considerações finais” e apenas um com “conclusão”. Nesse último caso, chama a atenção a realização de uma seção de discussão após os resultados e antes da conclusão. Esse exemplo é ilustrativo do que ocorre em diferentes áreas, como veremos em seguida.

De fato, a organização estrutural (seções) ou retórica (movimentos e passos) do artigo científico é um tema que tem atraído a atenção de pesquisadores interessados na escrita acadêmica. Em pesquisa sobre a organização retórica de artigos da área de Bioquímica, Kanoksilapatham (2007KANOKSILAPATHAM, B. Rhetorical Moves in Biochemistry Research Articles. In: BIBER, D.; CONNOR, U.; UPTON, T. A. (ed.) Discourse in the Move: Using Corpus Analysis to Describe Discourse Structure. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 2007. p. 73-119.) confirma a estruturação dos textos em termos do esquema IMRD, com uma organização retórica composta por quinze movimentos, com seus respectivos passos, distribuídos pelas quatro seções: Introdução (3), Métodos (4), Resultados (4) e Discussão (4).

Cotos, Huffman e Link (2015COTOS, E.; HUFFMAN, S.; LINK, S. Furthering and Applying Move/Step Constructs: Technology-Driven Marshalling of Swalesian Genre Theory for EAP Pedagogy. Journal of English for Academic Purposes, n. 19, 52-72, 2015.), por sua vez, trabalham com um corpus multidisciplinar, de trinta áreas distintas, que teve como um dos critérios de seleção dos textos a adequação ao padrão IMRD. No entanto, as autoras admitem que há artigos que combinam resultados e discussão em uma seção única, assim como acrescentam uma seção específica de conclusão, de modo que a estrutura passaria a IMRDC. Logo, o padrão não é rigidamente obedecido. As autoras também apresentam a organização retórica, em movimentos e passos, de cada uma das seções. Cada seção tem três movimentos retóricos bem definidos, porém as autoras admitem um quarto movimento flutuante entre os resultados e a discussão ou conclusão, dependendo de como o artigo for estruturalmente organizado. Esse quarto movimento, no caso, tanto pode fazer parte da discussão como da conclusão, totalizando efetivamente treze movimentos retóricos em todo o artigo.

No Brasil, pesquisas dessa natureza têm enfocado áreas como Linguística, Geografia e Medicina (Costa, 2012COSTA, L. R. S. A organização retórica do gênero artigo experimental em comunidades disciplinares distintas. Entrepalavras, Fortaleza, v. 2, n. 2, p. 126-146, ago./dez. 2012., 2015) ou Letras (Paiva; Duarte, 2017PAIVA, F. J. O.; DUARTE, A. L. M. Uma análise do artigo acadêmico experimental: as práticas discursivas e as experiências de escrita de alunos iniciantes do curso de letras. Mosaico, v. 16, n. 1, p.374-402, 2017.). Paiva e Duarte (2017) apresentam uma descrição global do artigo “acadêmico experimental”, com foco em Letras, em cinco seções e nove “unidades retóricas” (movimentos): Introdução (3), Revisão de Literatura (1), Metodologia (1), Resultados e Discussão (3) e Conclusão/ões (1). Note-se, neste caso, a identificação de uma seção autônoma de revisão de literatura na área de Letras.

Esses estudos evidenciam movimentos de aproximação e distanciamento em relação ao esquema IMRD tradicional, mesmo quando tratam de modalidades de artigo diferentes do artigo de pesquisa. É o caso de Perdomo, Morales e Cassany (2021PERDOMO, B.; MORALES, O.; CASSANY, D. Rhetorical Structure of Systematic Reviews Published in Dental Journals: Implications for Teaching Reading and Writing in ESP Courses. RBLA, v. 21, n. 3, p. 699-731, 2021.), cujo estudo sobre o artigo de revisão sistemática em Odontologia constata a predominância da organização dos textos no esquema IMRDC (Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusões). Do ponto de vista retórico, os autores concluíram que as revisões sistemáticas em Odontologia se organizam em dezoito movimentos, divididos entre as seções de Introdução (3), Métodos (5), Resultados (2), Discussão (5) e Conclusões (3).

Em síntese, quer se utilize a terminologia indicada no modelo IMRD, quer se opte por expressões tematicamente motivadas, como ilustramos no quadro 1, dois são os pontos em que se observam modificações. O primeiro deles é a inserção da seção de revisão de literatura. Essa seção parece surgir com uma ampliação, requerida por algumas áreas disciplinares, das referências à literatura feitas na introdução e, por isso, costuma sucedê-la espacialmente. O segundo ponto de flexibilização do modelo ocorre após a seção de resultados e diz respeito à seção conclusiva do artigo, como veremos a seguir.

3 A SEÇÃO CONCLUSIVA DO ARTIGO CIENTÍFICO

Enquanto o modelo de Swales (1990SWALES, J. M. Genre analysis: English in Academic and Research Settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.), com três movimentos retóricos para a descrição da introdução do artigo, tornou-se praticamente consensual entre os pesquisadores, nada semelhante acontece quando se trata da análise das demais seções. Com respeito à seção conclusiva, particularmente, observamos duas singularidades: a primeira é sua relação de proximidade física com a seção de resultados (e, certamente, de conteúdo, mas nesse sentido a relação se expande para outras partes do artigo); a segunda tem a ver com quantos e quais movimentos retóricos efetivamente a caracterizam.

Quanto à relação entre resultados e conclusão, Yang e Allison (2003YANG, R.; ALLISON, D. Research Articles in Applied Linguistics: Moving from Results to Conclusions. English for Specific Purposes, v. 22, p. 365-385, 2003.), em sua pesquisa com um corpus de vinte artigos em Linguística Aplicada coletados de quatro periódicos diferentes, mostram que após a seção de resultados (ou de “resultados e discussão”) nem sempre se segue a seção conclusiva, e que esta pode receber diferentes nomeações. Observando-se a partir da seção de resultados, os artigos estudados por Yang e Allison (2003) terminavam alternativamente com seções intituladas Discussão (5 casos), Conclusão (7 casos), Implicações Pedagógicas (1 caso), Discussão + Conclusão (2 casos), Discussão + Implicações Pedagógicas (1 caso), Conclusão + Implicações Pedagógicas (3 casos) e Implicações Pedagógicas + Conclusão (1 caso).

Observa-se, portanto, que a própria definição de qual deve ser a seção conclusiva do artigo científico e de como se deve chamá-la está aberta a flutuações. Ademais, a própria apresentação dos resultados pode ser seguida de uma seção intermediária antes da conclusão.

Os estudos sobre a seção conclusiva do artigo também divergem bastante quanto à identificação dos movimentos retóricos que a realizam. De acordo com Moreno e Swales (2018MORENO, A. I.; SWALES, J. M. Strengthening Move Analysis Methodology towards Bridging the Function-Form Gap. English for Specific Purposes, v. 50, p. 40-63, 2018.), trata-se de uma seção “particularmente problemática”. O número de movimentos retóricos identificados varia de três em Berkenkotter e Huckin (1995BERKENKOTTER, C.; HUCKIN, T. N. Genre Knowledge in Disciplinary Communication: Cognition, Culture, Power. Hillsdale, NJ: LEA, 1995.) a sete em Yang e Allison (2003YANG, R.; ALLISON, D. Research Articles in Applied Linguistics: Moving from Results to Conclusions. English for Specific Purposes, v. 22, p. 365-385, 2003.) e onze em Hopkins e Dudley-Evans (1988HOPKINS, A.; DUDLEY-EVANS, T. A Genre-Based Investigation of the Discussion Sections in Articles and Dissertations. English for Specific Purposes, v. 7, p. 113-121, 1988.). Swales (1990), ao revisar as pesquisas sobre a seção, sugere que as diversas classificações poderiam ser resumidas a uma estrutura de oito movimentos: Informações básicas, Declaração de resultados, Resultados (in)esperados, Referência a pesquisas anteriores, Explicação, Exemplificação, Dedução e hipótese e Recomendações.

Outro aspecto destacado por Moreno e Swales (2018MORENO, A. I.; SWALES, J. M. Strengthening Move Analysis Methodology towards Bridging the Function-Form Gap. English for Specific Purposes, v. 50, p. 40-63, 2018.) é a falta de consenso na nomeação dos movimentos retóricos. Rótulos para o movimento inicial podem variar entre “Informações básicas”, “Informação”, “Ocupando o nicho”, “Restabelecendo o território”, “Contextualizando o estudo” ou “Destacando o resultado geral da pesquisa”. Essa terminologia, pelo menos em parte, depende de qual modelo original serve de ponto de partida para os autores, em especial os de Hopkins e Dudley-Evans (1988HOPKINS, A.; DUDLEY-EVANS, T. A Genre-Based Investigation of the Discussion Sections in Articles and Dissertations. English for Specific Purposes, v. 7, p. 113-121, 1988.) ou o de Swales (1990).

Assim, o principal problema do estudo da seção conclusiva do artigo científico, no plano internacional, não é propriamente a escassez de pesquisas, mas a falta de consenso nos resultados. Quanto aos estudos que identificam movimentos retóricos na seção conclusiva de artigos em português brasileiro, alguns pesquisadores chegam a propor a existência de apenas um ou dois movimentos retóricos, como é o caso de Paiva e Duarte (2018PAIVA, F. J. O.; DUARTE, A. L. M. Uma análise sociorretórica de seções de conclusão de artigos acadêmicos na perspectiva dos estudos linguísticos. Entre Parênteses, v. 7, n. 1, p. 1-28, out. 2018.) e Costa (2015COSTA, L. R. S. Culturas disciplinares e artigos acadêmicos experimentais: um estudo comparativo da descrição sociorretórica. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) - Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2015.), respectivamente.

Entre os trabalhos que apresentam a descrição retórica da seção conclusiva do artigo, destacamos ainda o modelo apresentado por Cotos, Huffman e Link (2015COTOS, E.; HUFFMAN, S.; LINK, S. Furthering and Applying Move/Step Constructs: Technology-Driven Marshalling of Swalesian Genre Theory for EAP Pedagogy. Journal of English for Academic Purposes, n. 19, 52-72, 2015.), que desenvolvem a análise de um corpus de 150 artigos de trinta áreas distintas. O foco das autoras é o desenvolvimento de ferramentas computacionais para o ensino da escrita do artigo, baseadas na análise de movimentos retóricos. Aqui nos interessa tratar apenas do modelo que desenvolvem para a seção de “Discussão/Conclusão”, uma vez que entendemos que essa dupla composição corresponde mais acuradamente às estratégias retóricas adotadas por pesquisadores brasileiros para finalizar o artigo por meio da seção de considerações finais.

O modelo de Cotos, Huffman e Link (2015COTOS, E.; HUFFMAN, S.; LINK, S. Furthering and Applying Move/Step Constructs: Technology-Driven Marshalling of Swalesian Genre Theory for EAP Pedagogy. Journal of English for Academic Purposes, n. 19, 52-72, 2015.) compreende quatro movimentos retóricos, nomeados a partir da metáfora ecológica de Swales (1990SWALES, J. M. Genre analysis: English in Academic and Research Settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.), aderindo também à perspectiva de Berkenkotter e Huckin (1995BERKENKOTTER, C.; HUCKIN, T. N. Genre Knowledge in Disciplinary Communication: Cognition, Culture, Power. Hillsdale, NJ: LEA, 1995.) de que a seção conclusiva espelha a introdução de modo invertido. Os movimentos, cuja descrição apresentamos adiante (quadro 3), juntamente com nossos resultados, são: Movimento 1: Restabelecendo o território (com 4 passos), Movimento 2: Situando o novo conhecimento (4 passos), Movimento 3: Remodelando o território (2 passos) e Movimento 4: Estabelecendo território adicional (4 passos).

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para alcançar nosso propósito, empregamos a metodologia de análise de movimentos de Swales (1990SWALES, J. M. Genre analysis: English in Academic and Research Settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.), levando em conta, especificamente, estudos que se debruçaram sobre as seções de discussão, conclusão ou considerações finais do artigo científico, considerando-se o esquema IMRD (Introdução, Metodologia, Resultados e Discussão) e suas variações. Em suma, procuramos abordar a seção final do artigo em suas diferentes formas de realização e nomeação.

Para a coleta dos dados, foram selecionamos cinco periódicos classificados como A1 na área de Linguística e Literatura, de acordo com o Qualis vigente no momento da pesquisa. A seleção respeitou os seguintes critérios: as revistas deveriam ter acesso aberto online; deveriam apresentar pelo menos um número publicado no ano da coleta (2018); se houvesse mais de um número, a coleta privilegiaria o mais recente. A decisão pelo estrato A1 se justifica por se tratar do nível mais alto nesse sistema de classificação. Entendemos que os pesquisadores que publicam em periódicos nesse estrato podem ser considerados participantes especializados da comunidade acadêmica, de modo que se justifica o interesse por saber como lidam com a construção da seção de considerações finais do artigo científico.

Uma vez selecionados os periódicos (a saber, Trabalhos em Linguística Aplicada, Revista Brasileira de Linguística Aplicada, Linguagem em (Dis)curso, DELTA e Bakhtiniana), selecionamos uma amostra de dez artigos de pesquisa (dois de cada revista) que se inserissem no campo da Linguística, contemplassem temáticas diversificadas e estivessem redigidos em língua portuguesa. Considerando que o propósito deste estudo foi caracterizar a seção de considerações finais, foram descartados textos que não apresentavam uma seção conclusiva claramente identificada, ainda que a nomeação dessa seção pudesse variar.

Para a análise dos movimentos e passos das considerações finais, utilizamos o modelo apresentado por Cotos, Huffman e Link (2015COTOS, E.; HUFFMAN, S.; LINK, S. Furthering and Applying Move/Step Constructs: Technology-Driven Marshalling of Swalesian Genre Theory for EAP Pedagogy. Journal of English for Academic Purposes, n. 19, 52-72, 2015.). Na operacionalização da análise, em que buscamos identificar movimentos e passos coerentes com o modelo, também observamos eventuais estratégias retóricas não previstas por ele. Nosso interesse primário não era validar o modelo, mas compreender as estratégias retóricas mobilizadas nos textos. O modelo, portanto, é instrumental e, longe de ser entendido como uma régua para os textos, é o próprio modelo que de alguma forma é testado ao ser aplicado aos dados. Além disso, considerando que não reivindicamos nenhuma generalização de nossos resultados, não adotamos o critério de recorrência para o registro dos passos retóricos. Antes, optamos por apresentar e discutir todos aqueles que foram evidenciados no corpus, independentemente de sua relevância estatística.

5 ESTRATÉGIAS RETÓRICAS MOBILIZADAS NA SEÇÃO DE CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em um primeiro olhar para os textos, buscamos identificar como os pesquisadores nomeiam a seção conclusiva dos artigos. Assim, constatamos os seguintes resultados, bastante coerentes com o ilustrado anteriormente no quadro 1:

Quadro 2
Nomeação da seção conclusiva do artigo científico

Como vemos, em apenas três artigos os respectivos autores nomeiam a seção conclusiva sem recorrer ao título “considerações finais”, sinalizando que essa denominação se encontra bastante consolidada na área. Nos três trabalhos divergentes, os autores optaram pelas denominações “conclusão”, em dois casos, e “reflexões finais e encaminhamentos” em um. Portanto, nossa amostra evidencia que, embora a expressão “considerações finais” se mostre predominante, alguns autores encontram espaço para flexibilizar essa convenção de acordo com suas preferências.

Voltando nossa atenção para a análise de movimentos e passos, encontramos os resultados apresentados a seguir, aplicando aos textos o modelo de organização retórica sugerido por Cotos, Huffman e Link (2015COTOS, E.; HUFFMAN, S.; LINK, S. Furthering and Applying Move/Step Constructs: Technology-Driven Marshalling of Swalesian Genre Theory for EAP Pedagogy. Journal of English for Academic Purposes, n. 19, 52-72, 2015.) para a análise da seção de “discussão/conclusão” (seção conclusiva do artigo). Em nosso caso, conforme explicitamos, trata-se da seção de considerações finais.

Vejamos os resultados no quadro 3, apresentado mais adiante, considerando os movimentos e passos previstos pelas autoras e encontrados nos textos (assinalados em cinza). Como mostra esse quadro, os textos registram a ocorrência de passos pertencentes a todos os movimentos retóricos previstos pelo modelo. Entretanto, podemos considerar que são efetivamente confirmados os movimentos 1, 2 e 4, mas não o Movimento 3, para o qual se verificou apenas 3 ocorrências na soma de seus passos. Levando-se em conta a amostra analisada, o Movimento 3 pode ser considerado opcional para os autores dos artigos científicos. As evidências textuais indicam que ele é possível, mas não obrigatório.

Quadro 3
O modelo de Cotos, Huffman e Link (2015COTOS, E.; HUFFMAN, S.; LINK, S. Furthering and Applying Move/Step Constructs: Technology-Driven Marshalling of Swalesian Genre Theory for EAP Pedagogy. Journal of English for Academic Purposes, n. 19, 52-72, 2015.) aplicado às considerações finais de artigos em Linguística

Detalhando os resultados, o Movimento 1, “Restabelecendo o território”, é representado no corpus por doze ocorrências, sendo 4 do Passo 1, “Retomando o referencial teórico geral”, 6 ocorrências do Passo 2, “Retomando o contexto específico do estudo” e 2 do Passo 3, “Destacando as principais descobertas”. Este movimento (M1), quando presente nos textos, tem o propósito comunicativo de estabelecer uma conexão entre a seção anterior, em que foram apresentados resultados e discussões, e a seção conclusiva do artigo. Nesse sentido, o M1 corresponde ao movimento que Swales (1990SWALES, J. M. Genre analysis: English in Academic and Research Settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990., p. 172) chamou de “informações básicas”, e que seria utilizado pelos autores “quando desejam fortalecer a discussão recapitulando os pontos principais, destacando informações teóricas ou lembrando o leitor de informações técnicas”. Yang e Allison (2003YANG, R.; ALLISON, D. Research Articles in Applied Linguistics: Moving from Results to Conclusions. English for Specific Purposes, v. 22, p. 365-385, 2003.) também confirmam a existência de um movimento preparatório tanto para a apresentação de resultados e discussão como para a seção conclusiva do artigo. Em nossa análise, identificamos algumas estratégias adotadas nesse movimento, bastante recorrentes no corpus, mas não previstas no modelo de Cotos, Huffman e Link (2015COTOS, E.; HUFFMAN, S.; LINK, S. Furthering and Applying Move/Step Constructs: Technology-Driven Marshalling of Swalesian Genre Theory for EAP Pedagogy. Journal of English for Academic Purposes, n. 19, 52-72, 2015.), configurando novos passos, sobre os quais falaremos adiante.

Dentre os passos previstos pelo modelo, o mais recorrente para cumprir os propósitos de M1 foi “Retomando o contexto específico do estudo” (P2):

Exemplo 1: M1P2-A18 8 M1P2-A1 = Movimento 1, Passo 2, extraído do Artigo 1. Utilizaremos notação similar para a apresentação dos demais exemplos. - Retomando o contexto específico do estudo

Partiu-se de uma breve discussão sobre interação aluno-aluno em contextos a distância, os diferentes tipos de feedback existentes na literatura e o papel do feedback em cursos on-line.

A estratégia do autor, neste caso, consiste em retomar os tópicos desenvolvidos no estudo como forma de preparação para a discussão dos resultados. Com isso, o autor estabelece um cenário para a introdução das próximas estratégias retóricas (movimentos e passos subsequentes). Podemos perceber uma espécie de recontextualização da pesquisa em sentido mais estrito. O passo situa o estudo em um nicho específico dentro da área disciplinar; dessa forma, conforme Swales (1990SWALES, J. M. Genre analysis: English in Academic and Research Settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.), “restabelece o território” (presumivelmente) delineado na seção de introdução. Com base na retomada do contexto específico do estudo, o autor reafirma o enquadramento do trabalho na área, para então começar a discutir os resultados de maneira mais ampla. No caso em foco, o autor situa o trabalho no contexto de cursos a distância.

Em seguida, destacamos a realização de M1 por meio do Passo 1, “Retomando o referencial teórico geral”. Como assinalado anteriormente, este passo foi menos frequente que P2. Segue o exemplo, encontrado no Artigo 7:

Exemplo 2: M1P1-A7 - Retomando o referencial teórico geral

Em sua perspectiva mais ampla, como já apontado, a LSF constitui tanto “uma teoria sobre a língua como processo social quanto uma metodologia analítica para a descrição de padrões linguísticos” (Vian Júnior, 2013, p. 127).

Nesse caso, as considerações finais iniciam com a retomada da perspectiva teórica que embasou a pesquisa, como forma de preparação para a apresentação das conclusões do estudo. O autor opta por chamar a atenção para a teoria de base e não por relembrar o escopo mais específico da pesquisa, como ocorre com M1P2. Finalmente, apresentamos um exemplo do Passo 3, que ocorreu apenas duas vezes no corpus:

Exemplo 3: M1P3-A4 - Destacando principais descobertas

[...] o que mais nos chamou atenção nesse processo foram os feedbacks dos aprendizes. [...] Vimos pelas respostas dos alunos que o evento teve alguns deslizes quanto à confirmação do aceite dos trabalhos inscritos ter sido feita de última hora, problemas nas inscrições, e até mesmo quanto à organização como um todo.

O modo de realização de P3 neste exemplo confirma o que diz Swales (1990SWALES, J. M. Genre analysis: English in Academic and Research Settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.) sobre o M1 como “um movimento um tanto independente que pode ocorrer em qualquer ponto dos ciclos da Discussão”. De fato, as referências às principais descobertas da pesquisa não aparecem no início da seção neste caso, mas recorrem ciclicamente na primeira metade do texto. Contudo, o passo ocorreu esporadicamente, não se configurando como uma opção preferida dos escritores.

Uma observação adicional importante sobre a realização do Movimento 1 é a retomada frequente dos objetivos ou dos procedimentos metodológicos como estratégia inicial na seção de considerações finais. Kanoksilapatham (2012KANOKSILAPATHAM, B. In search of the generic identity of the discussion section: three engineering sub-disciplines. Taiwan International ESP Journal, v. 4, n. 2, p. 1-26, 2012.) identifica estratégias semelhantes em seu estudo da organização retórica de seções de discussão na área de Engenharia. Contudo, a pesquisadora as resume genericamente em um movimento intitulado “revisar o presente estudo”, sem distinção de passos específicos. Nós, porém, entendemos que a opção de retomar os objetivos ou a metodologia do estudo configura passos diferentes no Movimento 1, “Restabelecendo o território”, ainda que não previstos no modelo de Cotos, Huffman e Link (2015COTOS, E.; HUFFMAN, S.; LINK, S. Furthering and Applying Move/Step Constructs: Technology-Driven Marshalling of Swalesian Genre Theory for EAP Pedagogy. Journal of English for Academic Purposes, n. 19, 52-72, 2015.), utilizado neste trabalho.

Seguem exemplos desses passos adicionais:

Exemplo 4: M19 9 Provisoriamente, indicamos apenas o movimento em que se enquadra o novo passo identificado. Mais adiante o enquadraremos no modelo de acordo com o conjunto das ocorrências constatadas no corpus. -A4 - Reiterando os objetivos da pesquisa

Com o objetivo de discutir as identidades docentes construídas, negociadas e disputadas no processo de inserção de uma professora da escola básica em um curso de Mestrado Profissional, analisamos as representações do agir construídas por uma professora ao participar de maneira periférica ou centralmente de mundos sociais e discursivos diferentes, a escola e a universidade.

Exemplo 5: M1-A1 - Resumindo procedimentos metodológicos

Os dados foram gerados através de três instrumentos etnográficos: análise das mensagens do fórum de discussão do curso, questionário on-line e entrevista.

Esses novos passos, “Reiterando os objetivos da pesquisa” e “Resumindo procedimentos metodológicos”, foram constatados, respectivamente, oito e sete vezes no corpus. Tanto a reiteração dos objetivos como a retomada dos procedimentos metodológicos contribuem para a realização dos propósitos comunicativos do Movimento 1, de caráter preparatório para a reflexão sobre os resultados e a elaboração das considerações finais. Nas estratégias de retomada da metodologia da pesquisa, os autores parecem privilegiar informações referentes à coleta e ao tratamento dos dados.

Retornando à observação do quadro 3, constatamos que os autores realizam o Movimento 2, “Situando o novo conhecimento”, recorrendo principalmente aos passos 1, “Explicando resultados” e 2, “Relatando resultados”. Ambos os passos ocorreram em sete dos dez textos sob análise. Não foram constatadas ocorrências dos demais passos previstos para M2, a saber, “Esclarecendo expectativas” (P3) e “Abordando limitações” (P4). O propósito comunicativo do Movimento 2 equivale ao que Berkenkotter e Huckin (1995BERKENKOTTER, C.; HUCKIN, T. N. Genre Knowledge in Disciplinary Communication: Cognition, Culture, Power. Hillsdale, NJ: LEA, 1995.) descrevem como “(re)estabelecer o nicho”, numa referência à hipótese de que as considerações finais se realizam como uma estrutura invertida em relação à introdução do artigo. Trata-se de situar os resultados no nicho de pesquisa estabelecido na introdução e de demonstrar que os resultados do estudo são importantes para aquele campo.

Neste trabalho, entendemos M2P1 (“Explicando resultados”) como uma estratégia em que o autor vai além de simplesmente apresentar ou relatar os resultados: procura comentá-los ou interpretá-los de alguma forma. Por sua vez, M2P2 (“Relatando resultados”) é um passo que se refere à simples apresentação de achados, de modo mais descritivo, não interpretativo. Esse passo foi listado por Swales (1990SWALES, J. M. Genre analysis: English in Academic and Research Settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.) como um movimento retórico básico, ponto de partida para cada ciclo de discussão que pode ocorrer na seção conclusiva do artigo. Importa ressaltar que, em sua revisão da literatura sobre análises retóricas da seção de discussão do artigo, Swales (1990) não especificou passos, apenas listou movimentos. Entretanto, concordando com Yang e Allison (2003YANG, R.; ALLISON, D. Research Articles in Applied Linguistics: Moving from Results to Conclusions. English for Specific Purposes, v. 22, p. 365-385, 2003.), pensamos que a análise em dois níveis, considerando movimentos e passos, capta mais adequadamente a configuração retórica e os propósitos comunicativos do gênero (ou parte do gênero, neste caso).

Tecidas essas considerações, vejamos um exemplo de M2P1:

Exemplo 6: M2P1-A10 - Explicando resultados

O formato do NDE evidencia que os professores resistiram de forma positiva às forças centrípetas. Opor resistência, seja por meio da reavaliação, seja por hibridização ou polemização, dentre vários processos dialógicos, é uma das características das forças centrífugas.

A explicação ou interpretação dos resultados se revela pelo uso de marcas linguísticas como “evidencia que os professores resistiram” e pela própria definição de resistência que se segue (“opor resistência... é...”). Por outro lado, em M2P2, os autores se limitam a reportar o resultado:

Exemplo 7: M2P2-A9 - Relatando resultados

Múltiplas vozes foram encontradas em enunciados únicos e concretos dos phrasal verbs hot up e rip off, e cada um deles ofereceu diferentes possibilidades de significado.

Verificamos, portanto, que, no Movimento 2 da seção de considerações finais, os autores dos artigos preferem situar o conhecimento produzido pela pesquisa utilizando uma dessas duas estratégias, isto é, ora relatando, ora explicando o sentido de seus achados principais.

Quanto ao Movimento 3, “Remodelando o território”, seu propósito comunicativo é indicar em que medida a pesquisa reportada amplia, confirma ou corrige aspectos do conhecimento estabelecido na área. Como tal, demanda certo esforço retórico dos autores em avaliar os impactos de sua pesquisa, bem como a habilidade de relacionar os resultados e conclusões com os consensos ou dissensos da área disciplinar. Em nosso corpus, identificamos a presença desse movimento em apenas duas ocorrências do Passo 1, “Apoiando com evidências”, e em uma ocorrência de “Contrariando com evidências” (Passo 2). Esses resultados caracterizam M3 como um movimento opcional nos textos que analisamos.

No exemplo seguinte de M3P1, o autor faz referência à literatura para afirmar que suas conclusões contribuem para “validar” e “corroborar” resultados de pesquisas anteriores.

Exemplo 8: M3P1-A9 - Apoiando com evidências

As considerações de Kihm sobre as complexas atitudes e práticas linguísticas e culturais adotadas pelos falantes de crioulo foi confirmada pela pesquisa de Faraclas e do The Working Group on the Agency of Marginalized Peoples in the Emergence of the Afro-Atlantic Creoles [...] (2016). As ideias de tal grupo de pesquisa sobre a interação dialógica e a ambiguidade no discurso crioulo foram validadas e corroboradas neste trabalho, por meio das análises de phrasal verbs e de suas características de bivocalidade em AECs.

Inversamente, os autores têm a opção de apontar aspectos em que seus resultados e conclusões contrariam o conhecimento anterior. Essa estratégia está exemplificada de modo claro e direto neste exemplo:

Exemplo 9: M3P2-A9 - Contrariando com evidências

Minha contribuição para a discussão contradiz a divisão rigorosa (ou/ou) que frequentemente se faz no estudo das línguas crioulas, a saber, que elas ou estão em conformidade com os padrões do lexificador ou seguem padrões de seus substratos e adstratos.

Consideramos digno de nota que esse movimento, em que o autor dialoga com a literatura da área, seja para corroborá-la, seja para contrariá-la, tenha sido tão pouco recorrente no corpus.

Finalmente, o Movimento 4, “Estabelecendo território adicional”, é o espaço em que os autores podem enfatizar as contribuições, aplicações e implicações de seus estudos, além de indicar novas possibilidades de pesquisa. Este movimento compreende quatro passos retóricos como alternativas para o cumprimento de seus propósitos comunicativos. Trata-se de um movimento retórico crucial nas considerações finais, quando o autor se volta para a área mais ampla para refletir sobre as implicações e a relevância de seus achados, além de propor ou sugerir novas possibilidades de estudo. Na realização do movimento, constatamos que os autores não se concentraram em determinada estratégia retórica, preferindo combiná-las de modo a conferir mais consistência ao fechamento do trabalho.

Ainda assim, os textos mostram alguma preferência por generalizar os resultados (Passo 1), bem como por ressaltar sua relevância (Passo 2), com quatro ocorrências cada. Os passos 3, “Observando implicações” (3 vezes), e 4, “Propondo direcionamentos” (2 vezes), também estão representados, mas de modo a confirmar estudos anteriores, como Yang e Allison (2003YANG, R.; ALLISON, D. Research Articles in Applied Linguistics: Moving from Results to Conclusions. English for Specific Purposes, v. 22, p. 365-385, 2003.), que os caracterizam como estratégias opcionais e menos frequentes na seção conclusiva do artigo.

A seguir, apresentamos e comentamos exemplos dos passos retóricos que realizam o Movimento 4.

Exemplo 10: M4P1-A5 - Generalizando resultados

Por fim, o tão almejado ethos de credibilidade política, em situações conflituosas como a do debate político, é sempre instável, devendo o político gerenciar a sua fala e a do outro sobre si.

Neste excerto, vemos que os resultados do estudo dão suporte a uma generalização com respeito ao “ethos de credibilidade política”, que seria, conforme o autor, “sempre instável”. Além dessa estratégia de generalização, os autores também realizam o Movimento 4 mobilizando M4P2 para ressaltar a importância de suas descobertas:

Exemplo 11: M4P2-A3 - Reivindicando relevância

É considerando essas discussões que afirmo que este artigo pode apresentar uma alternativa, entre muitas possíveis, para refletirmos sobre a prática de revisão escolar.

Como vemos, o autor ressalta a contribuição apresentada por seu trabalho, ainda que construa seu argumento de forma modalizada, reivindicando o valor de seus resultados como uma alternativa entre outras propostas na área. Uma vez que os passos retóricos não têm uma natureza mutuamente excludente, verificamos que a reivindicação de relevância (M4P2) pode se apoiar na ocorrência prévia de M4P3, “Observando implicações”. De fato, é o que ocorre no artigo 3. O exemplo a seguir constitui um excerto que precede imediatamente o enunciado do exemplo 11.

Exemplo 12: M4P3-A3 - Observando implicações

A partir da análise desses três aspectos referentes às revisões realizadas no decorrer da oficina, acredito que a prática de revisão no ambiente escolar possa ser repensada ao serem levados em conta os usos e as apropriações que os alunos fizeram das categorias de correção, do instrumento de revisão (ferramenta do Word) e também da prática de escrita de fanfictions no contexto escolar.

No trecho selecionado, o autor aponta o possível repensar da “prática de revisão no ambiente escolar” como uma implicação dos resultados de sua pesquisa. Por último, o Movimento 4 pode ser realizado por meio da proposição de novas direções para a pesquisa. Esse passo é pouco frequente, talvez corroborando o que já apontavam Berkenkotter e Huckin (1995BERKENKOTTER, C.; HUCKIN, T. N. Genre Knowledge in Disciplinary Communication: Cognition, Culture, Power. Hillsdale, NJ: LEA, 1995.), cujos informantes manifestavam reticência em indicar possibilidades de novos estudos, em decorrência da própria competitividade reinante no mundo da pesquisa e das publicações. Em nosso corpus, a estratégia de estabelecer um território de pesquisa adicional sugerindo novas pesquisas ocorre apenas duas vezes, com a seguinte configuração:

Exemplo 13: M4P4-A4 - Propondo direcionamentos

Para pesquisas futuras, será de fundamental importância investigar a natureza das interações estabelecidas nos fóruns, pois foi possível perceber uma expansão do conhecimento dos aprendizes do curso por meio do diálogo e compartilhamento de saberes [...]

Nesse exemplo, o autor opta por recomendar pesquisas futuras de maneira enfática (“de fundamental importância”), e apoia seu argumento de modo explícito nos resultados e conclusões de seu estudo. É o que “foi possível perceber” em sua pesquisa que o autoriza a recomendar novos rumos de investigação.

Realizada a descrição, exemplificação e discussão dos movimentos e passos retóricos revelados pelo nosso corpus, à luz do modelo proposto por Cotos, Huffman e Link (2015COTOS, E.; HUFFMAN, S.; LINK, S. Furthering and Applying Move/Step Constructs: Technology-Driven Marshalling of Swalesian Genre Theory for EAP Pedagogy. Journal of English for Academic Purposes, n. 19, 52-72, 2015.), apresentamos a seguir a configuração retórica indicada pelos dados.

Quadro 4
Organização retórica de considerações finais em artigos da área de Linguística

Dado que objetiva retratar o padrão de organização retórica efetivamente revelado pelos dados, este quadro apresenta algumas diferenças em relação ao quadro 3, que reproduz integralmente a proposta de Cotos, Huffman e Link (2015COTOS, E.; HUFFMAN, S.; LINK, S. Furthering and Applying Move/Step Constructs: Technology-Driven Marshalling of Swalesian Genre Theory for EAP Pedagogy. Journal of English for Academic Purposes, n. 19, 52-72, 2015.) em sua configuração de movimentos e passos. Algumas observações precisam ser feitas sobre essas diferenças.

Primeiro, elas se referem estritamente aos passos, pois todos os movimentos são confirmados em maior ou menor grau. Segundo, as diferenças se dão em termos de exclusão e de acréscimo de passos. Os passos não confirmados pelos textos examinados, ou seja, aqueles que não tiveram nenhuma ocorrência foram desconsiderados no quadro. No Movimento 1, foi excluído o passo “Anunciando o roteiro da discussão” (P4). No Movimento 2, foram retirados os passos “Esclarecendo expectativas” (P3) e “Abordando limitações” (P4). Os movimentos 3 e 4 foram integralmente confirmados.

Quanto aos acréscimos, eles se deram exclusivamente no Movimento 1 e receberam as denominações de “Passo 1: Reiterando os objetivos da pesquisa” e “Passo 2: Resumindo procedimentos metodológicos”. O acréscimo desses passos está sinalizado em itálico e suas ocorrências estão destacadas em uma cor diferenciada. Note-se ainda que os passos no Movimento 1 foram (re)organizados de acordo com sua recorrência no corpus. Nos demais movimentos os próprios dados textuais sinalizaram uma possível ordem de preferência na mobilização de cada passo, a julgar pela quantidade decrescente de ocorrências de cada um.

Em síntese, o quadro 4 representa o que os dados indicam ser, de acordo com este estudo, a organização retórica da seção de considerações finais em artigos científicos da área de Linguística, escritos em língua portuguesa e publicados em periódicos de prestígio nessa área (Qualis A1).

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho analisamos um pequeno corpus de artigos científicos a fim de compreender, em caráter exploratório, as estratégias retóricas empregadas nas considerações finais por pesquisadores experientes da área de Linguística. Para isso, selecionamos como ferramenta o modelo proposto por Cotos, Huffman e Link (2015COTOS, E.; HUFFMAN, S.; LINK, S. Furthering and Applying Move/Step Constructs: Technology-Driven Marshalling of Swalesian Genre Theory for EAP Pedagogy. Journal of English for Academic Purposes, n. 19, 52-72, 2015.).

Como mostramos, os movimentos que compõem o modelo foram confirmados pelos dados em maior ou menor medida. Contudo, o Movimento 3, “Remodelando o território”, se mostrou opcional, com apenas 3 ocorrências distribuídas por dois de seus quatro passos. Os demais movimentos foram confirmados de modo mais consistente, não mobilizando necessariamente todos os respectivos passos. No todo, conclui-se que o modelo pode ser considerado “bom” no sentido de Swales (2009SWALES, J. M. Sobre modelos de análise do discurso. In: BIASI-RODRIGUES B.; ARAÚJO, J. C.; SOUSA, S. C. T. (org.). Gêneros textuais e comunidades discursivas: um diálogo com John Swales. Belo Horizonte: Autêntica, 2009. p. 33-47.), dado que combina simplicidade e capacidade explicativa do que acontece nos textos.

Conjecturamos que as diferenças entre nossos achados e aqueles do modelo de Cotos, Huffman e Link (2015COTOS, E.; HUFFMAN, S.; LINK, S. Furthering and Applying Move/Step Constructs: Technology-Driven Marshalling of Swalesian Genre Theory for EAP Pedagogy. Journal of English for Academic Purposes, n. 19, 52-72, 2015.) podem ser atribuídas a diferentes fatores, como as especificidades da área disciplinar e a variação cultural na realização dos gêneros. De toda forma, confirmadas as estratégias retóricas principais (os movimentos), as diferenças se situam no nível das estratégias mais pontuais que realizam esses movimentos, ou seja, as particularidades perceptíveis numa comparação entre os quadros 3 e 4 se situam no nível dos passos. Isso parece confirmar que a análise textual em dois níveis (movimentos e passos) constitui, conforme argumentam Yang e Allison (2003YANG, R.; ALLISON, D. Research Articles in Applied Linguistics: Moving from Results to Conclusions. English for Specific Purposes, v. 22, p. 365-385, 2003., p. 370), um “robusto método de análise de gêneros”. Nesse tipo de análise, enquanto o conceito de movimento “capta a função e o propósito de um segmento de texto de modo mais geral”, o conceito de passo expressa mais especificamente “os meios retóricos de realizar a função do movimento”, podendo conduzir a resultados mais refinados e menos genéricos.

Concluímos que os pesquisadores brasileiros de Linguística, ao produzirem as considerações finais de seus artigos, restabelecem o “território” demarcado para sua pesquisa retomando estrategicamente os objetivos ou o quadro teórico-metodológico que orientou seu trabalho. Nesse sentido, os novos passos identificados por este estudo oferecem uma explicação nova, mais precisa, para a realização do movimento inicial das considerações finais, em relação ao proposto pelo modelo de Cotos, Huffman e Link (2015COTOS, E.; HUFFMAN, S.; LINK, S. Furthering and Applying Move/Step Constructs: Technology-Driven Marshalling of Swalesian Genre Theory for EAP Pedagogy. Journal of English for Academic Purposes, n. 19, 52-72, 2015.). Depois da retomada dos propósitos ou dos métodos do estudo, os pesquisadores situam o novo conhecimento relatando e explicando o que significam seus achados. Em um terceiro momento, alguns optam por “remodelar” o território estabelecido, dialogando com a literatura existente, ou para apoiá-la ou para corrigi-la de alguma forma, à luz dos resultados de sua pesquisa. Como indicamos, essa estratégia foi tratada como opcional pelos autores. Finalmente, os pesquisadores eventualmente estabelecem um “território adicional” ao propor generalizações dos resultados ou reivindicar a relevância de seus achados. Menos frequentemente, podem encerrar as considerações finais ressaltando as implicações de seus estudos e indicando direcionamento para pesquisas futuras.

Como afirmamos, ao abordarmos sociorretoricamente a seção de considerações finais, ainda não contamos com o mesmo consenso que caracteriza os estudos sobre a seção de introdução ou, digamos, sobre o resumo do artigo. Nesse sentido, pesquisas futuras, enfocando novos corpora, novas áreas disciplinares e novas questões, inclusive com base em novos modelos, poderão lançar outras luzes sobre as estratégias retóricas que caracterizam a seção conclusiva do artigo científico. Ao fim e ao cabo, uma compreensão cada vez mais ampla e bem fundamentada da natureza retórica do artigo científico tem implicações não apenas teóricas, mas principalmente aplicadas. Por meio dessas pesquisas, podemos não apenas compreender como funciona a escrita acadêmica, mas também, e fundamentalmente, como podemos ensiná-la, de modo a contribuir para o desenvolvimento dos letramentos acadêmicos de nossos alunos e demais pesquisadores em formação.

REFERÊNCIAS

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  • 1
    Utilizamos a expressão “abordagem sociorretórica” para nos referir à perspectiva de estudos de gênero no campo de Inglês/Língua para Fins Específicos. Para outras acepções do termo, ver Bezerra (2017BEZERRA, B. G. Gêneros no contexto brasileiro: questões (meta)teóricas e conceituais. Parábola Editorial, 2017.).
  • 2
    Estamos cientes de que a área, oficialmente, se chama Linguística e Literatura. Neste trabalho, o termo Linguística, isoladamente, corresponde de modo mais exato aos textos que analisamos, embora ainda se trate, mesmo entendido como nomeação de uma subárea, de uma grande generalização.
  • 3
    Com exceção de Perdomo, Morales e Cassany (2021PERDOMO, B.; MORALES, O.; CASSANY, D. Rhetorical Structure of Systematic Reviews Published in Dental Journals: Implications for Teaching Reading and Writing in ESP Courses. RBLA, v. 21, n. 3, p. 699-731, 2021.), uma descrição sociorretórica do artigo de revisão sistemática na área de Odontologia, os estudos privilegiam o artigo de pesquisa (empírica ou experimental) como variedade prototípica do gênero. Nesse sentido, alternativas igualmente reconhecidas pela comunidade acadêmica e aceitas pelos periódicos, tais como o ensaio e o debate, não têm sido objeto de tais investigações.
  • 4
    O resumo do artigo científico é um gênero e não apenas uma seção estrutural do artigo. Ao contrário da introdução, por exemplo, ele tem autonomia para circular socialmente à parte do gênero que costuma acompanhar. No entanto, quando apresentado em conjunto com o artigo, o resumo pode ser estudado como uma de suas partes estruturais.
  • 5
    Discussão é uma das denominações existentes para a seção conclusiva, em especial quando o artigo se apresenta na estrutura IMRD (Introdução, Métodos, Resultados e Discussão). Porém, ainda que inspirados neste modelo, há numerosos casos em que a seção de discussão, quando presente, não coincide com a seção conclusiva.
  • 6
    Dada a especificidade deste estudo, não mencionamos trabalhos acerca da seção conclusiva de gêneros como monografias, dissertações e teses.
  • 7
    Os periódicos selecionados para coleta do corpus, nomeados na seção metodológica deste trabalho, mantiveram o Qualis A1 na avaliação referente ao quadriênio 2017-2020, divulgado posteriormente à realização de nossa pesquisa.
  • 8
    M1P2-A1 = Movimento 1, Passo 2, extraído do Artigo 1. Utilizaremos notação similar para a apresentação dos demais exemplos.
  • 9
    Provisoriamente, indicamos apenas o movimento em que se enquadra o novo passo identificado. Mais adiante o enquadraremos no modelo de acordo com o conjunto das ocorrências constatadas no corpus.

Editado por

Editor de Seção:

Fábio José Rauen

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Fev 2024
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    07 Ago 2022
  • Aceito
    07 Nov 2023
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