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Editorial

QUESTÕES DA DEMOCRACIA E DO SOCIALISMO

Editorial

Eder Sader morreu na madrugada de 21 de maio de 1988, 46 anos. Professor do Departamento de Ciências Socias da Universidade de São Paulo desde 1968, presidente da Associação dos Sociólogos do Estado de São Paulo, dirigente do Partido dos Trabalhadores, pesquisador do CEDEC.

Lembro-me de ter encontrado Eder pela primeira vez no longínquo 1959; parece impossível, uma geração, faz trinta anos! Foi numa sala da Avenida Brigadeiro Luiz Antônio, em frente ao cine-teatro Paramount. A sala era a sede de um pequeno grupo, chamado Liga Socialista, que - como alguns outros - contribuiu para a formação de um punhado dos melhores intelectuais e dirigentes políticos das décadas seguintes. Eder era naqueles anos o que foi até sua morte: um militante político intransigente na defesa de suas idéias mas cavalheiro, gentil, cativador como personalidade e como intelectual sério, fino e profundo.

Os anos sessenta na Maria Antonia, os anos setenta no exílio, Santiago, Paris, aonde contribuiu para a edição da revista Brasil Socialista, finalmente os anos oitenta de novo em São Paulo, na política, nas novas esperanças, na direção das revistas DESVIOS E TEORIA E DEBATE, enfim no CEDEC. Do Eder podia-se discordar política e até academicamente, mas creio que todos os que o conheceram de perto e de longe sentiram sua coerência. Rosa Luxemburgo, Castoriadis e tantos outros foram influências importantes dele, mas trabalhadas, refletidas. Mesmo a evolução para a autonomia, elaboração dos últimos dez anos de sua vida, vinculada à perspectiva socialista, não está dissociada da trajetória anterior. Reflete o empenho, de também muitos de nós, na compreensão das dificuldades do socialismo, da reprodução das desigualdades, mais do que materiais, políticas e sociais, e também das pesadas hipotecas à expansão da democracia, inclusive de parte dos trabalhadores e daqueles que a compreendem apenas no nível teórico.

Eder, o dizemos sem medo de incorrer em ritual, foi personalidade excepcional, marcante, sem dúvida, para muitos. De extrema bondade, sem rasgos de personalismo, coerente em todos os sentidos, cativou-nos muito, certamente não deixa inimigos, a não ser os inimigos sociais que sempre detestou. Quem o conheceu, conviveu com ele, leu seus escritos, não apenas o lembrará, mas saberá utilizar suas qualidades e capacidades para construir um mundo à imagem daquele que sonhou e aonde o atraso, a pré-história da humanidade, como diria Engels, seja superada. A AIDS é ela mesmo um exemplo desta pré-história que queremos definitivamente ultrapassar.

O Editor

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Jan 2011
  • Data do Fascículo
    Out 1988
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