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20 anos do cedec

GOVERNO & DIREITOS

20 anos do cedec

O CEDEC acaba de fazer 20 anos. Eu tinha 20 anos, escreveu Paul Nizan, para completar: "Não venham me dizer que é a melhor fase da vida". Decididamente, o CEDEC não tem por que olhar para trás com tanta amargura. Seus primeiros vinte anos foram ativos e gratificantes. É essa trajetória que se comemorou no dia 6 de dezembro de 1996, no Memorial da América Latina, no melhor estilo "cedequiano". Primeiro, uma mesa redonda com participantes bem diferenciados nas suas posições. Porque debater é preciso, senão aonde fica o espírito do CEDEC? Depois, um encontro informal. Porque, se não soubermos estar juntos com alegria, de novo não será o CEDEC; perderemos o que ele tem de melhor. (Pois, se o problema for só trabalhar e se estraçalhar, há ambientes de sobra para isso). "Brasil, brasis - desenvolvimento e inclusão social" foi o tema do debate. Os próximos vinte anos, foi o espírito que animou o encontro. Lua Nova, que não existiria sem o CEDEC, traz aqui as reflexões da presidente do CEDEC, Amélia Cohn, na apresentação do evento. Reflexões em dois atos: na abertura da mesa redonda e no seu final. Nelas, exprime-se um pouco daquilo que o CEDEC tem sido e busca ser.

1o ATO

Tenho a satisfação de neste momento dar início à mesa-redonda Brasil, brasis - desenvolvimento e inclusão social. Com isto estamos comemorando os 20 anos do CEDEC, junto com tantos amigos aqui presentes, aos quais em meu nome, em nome da Diretoria e dos colegas desde já agradeço a presença.

Com esta iniciativa buscamos dar seqüência à tradição de nossa instituição, consolidada ao longo desse período, que é a de promover o debate de questões contemporâneas da realidade brasileira, trazendo para discussão distintas perspectivas de análise e de opções políticas. Compõem a mesa os professores: Luciano Martins, professor da UNICAMP, da UERJ e assessor especial da Presidência da República; Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, professor da UNICAMP; Wanderley Guilherme dos Santos, presidente do Laboratório de Estudos Experimentais do Rio de Janeiro; Leôncio Martins Rodrigues, professor da UNICAMP e membro do Conselho Deliberativo do CEDEC; Maria Victoria Benevides, professora da USP e membro do Conselho Deliberativo do CEDEC. Por motivo de saúde Maria Victoria, a quem esta instituição tanto deve, companheira solidária em todos os momentos, infelizmente não pode estar aqui conosco, mas nos enviou a seguinte mensagem:

"É com dor no coração que, impedida por razões de saúde, deixo de comparecer à nossa festa de 20 anos. Como sabem, além do amor constante, que creio correspondido, mantenho com o CEDEC uma relação de grande respeito. Considero-o uma instituição das mais sérias em relação aos seus próprios objetivos de reflexão, pesquisa e ação. Considero-o, acima de tudo, um lugar privilegiado para o livre debate das idéias, num ambiente plural, democrático, inteligente, bem-humorado e generoso com os amigos e colaboradores. Longa vida para o CEDEC"

Outra característica do CEDEC é a de abrir debates dessa natureza de modo mais solto e menos formal. Não seria agora que iríamos romper esta nossa cultura institucional, seja formalizando em demasia o ritual, seja de minha parte fazendo uma longa genealogia e arqueologia do CEDEC. No entanto, antes de passar a palavra para nossos colegas, gostaria de fazer uma brevíssima referência a alguns marcos dessa nossa trajetória institucional.

O primeiro deles diz respeito a seus primeiros anos de vida, em que o CEDEC constituiu-se num ponto de referência para aqueles que, punidos pela ditadura militar, buscavam se reintegrar no meio acadêmico e político. Lembro aqui, dentre outros tantos, Evaristo de Moraes Filho, Almino Affonso, Plínio de Arruda Sampaio, Victor Nunes Leal. É também desse período a primeira grande iniciativa pública do CEDEC, quando sua sede ainda era em instalações cedidas pela PUC. Refiro-me ao seminário Direito, Cidadania e Participação, realizado em conjunto com o CEBRAP, com o apoio da Fundação Ford e o patrocínio da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais - ANPOCS, e da Ordem dos Advogados do Brasil. Ficou na lembrança de todos nós a presença de Raymundo Faoro, que acabara de deixar a sua combativa presidência da OAB e presidiu a seção de abertura, por convite de um dos fundadores e primeiro presidente do CEDEC, Francisco Corrêa Weffort.

Data dessa época uma segunda característica nossa: a de se constituir num espaço de debates, que congrega acadêmicos, políticos, personalidades públicas, lideranças sindicais e estudantes, de modo franco, aberto e por vezes duro, para discutir os desafios presentes em nossa realidade. Nisso inclui-se a nossa revista Lua Nova, originalmente iniciativa de outro dos fundadores e também ex-presidente do CEDEC, José Álvaro Moisés. Residem aí, portanto, as raízes de nossa tradição no sentido de constituir-se o CEDEC num espaço diversificado de discussão e ação, tendo como única intransigência a de não abrir mão dos nossos princípios básicos e da defesa da democracia. Isso se traduz tanto nas presenças amigas de hoje neste encontro quanto nas várias relações institucionais que viemos estabelecendo — por exemplo junto à Comissão Justiça e Paz de São Paulo, ao Itamaraty, ao Ministério da Justiça, ao Ministério da Administração e Reforma do Estado, ao Ministério da Saúde, a Secretarias de Estado, a centrais sindicais, a movimentos sociais, a outros centros similares de pesquisa, e a ONGs (a começar pelo IBASE e FASE).

Destacaria como uma terceira característica do CEDEC um traço de sua política institucional forjado no decorrer dessa trajetória, que é o de pesquisar temas emergentes tanto no mundo acadêmico quanto na realidade brasileira, ou de repor sob nova ótica temas já estabelecidos. Foi assim com a questão dos movimentos sociais a partir dos desafios colocados pelo novo sindicalismo, com a questão dos partidos políticos na transição democrática, com a questão da cidadania e dos direitos humanos, dentre tantos outros. E hoje com as questões relativas ao meio-ambiente, à justiça social, à reforma e crise do Estado, às relações internacionais, às políticas sociais e de saúde em particular, e à inclusão social, consolidando portanto áreas de pesquisa em torno da questão central da cidadania, dos direitos e da democracia.

Uma quarta característica que creio merecer destaque consiste no seu perfil de pesquisa, orientado para articular a formação e o amadurecimento intelectual de nossos jovens pesquisadores. Desse modo o CEDEC busca ser complementar à vocação de nossas universidades, na pesquisa e na intervenção na realidade, sempre com a preocupação de fazer retornar para a sociedade os resultados obtidos.

Claro que essa trajetória seria impossível sem o apoio de nossas financiadoras internacionais, dentre elas principalmente FORD e NOVIB; e nacionais, dentre elas principalmente FINEP, CNPq, CAPES e FAPESP. Mas nada disso seria possível sem o apoio das universidades às quais pertence nosso quadro de pesquisadores: UNESP, PUC, UNICAMP e USP. Especialmente a USP, que há quase dez anos vem compartilhando de modo decisivo dessa nossa trajetória, mediante convênio estabelecido em 1987 com o então reitor José Goldenberg, e mantido nos termos mais altos pelos seus sucessores, Roberto Lobo e Flávio Fava de Moraes.

Mas, exatamente porque prometi não romper com a nossa tradição, não me alongarei mais. O que não posso é resistir à tentação de, antes de passar a palavra a nossos colegas, amigos e pesquisadores desta instituição que se encontram comigo nesta mesa (e que, pela diversidade de formação, de origem universitária, de trajetória profissional, de experiências nas mais diversas modalidades de responsabilidade pública, testemunham o perfil aqui traçado) ler envaidecida a carta de congratulações enviada por Fernando Henrique Cardoso, fundador do CEBRAP e Presidente da República:

"Infelizmente não poderei comparecer à mesa-redonda que comemora os 20 anos do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea - CEDEC. Conheço bem a excelente contribuição do Centro para o estudo de tantas questões do Brasil contemporâneo. Desejo a todos da equipe do CEDEC mais 20 anos de bons trabalhos."

2o ATO

Antes de encerrar os debates gostaria de agradecer a Fábio Magalhães, diretor presidente do Memorial da América Latina; a Marina Heck, diretora do Centro de Estudos da América Latina, e a Fernando Severino, diretor de Atividades Culturais do Memorial da América Latina, esta acolhida, prenúncio auspicioso de novas iniciativas em conjunto.

Finalizando agora os trabalhos, e agradecendo a presença amiga de todos, que apesar de suas agendas tão congestionadas e das suas inúmeras responsabilidades, sobretudo daqueles que ocupam atualmente postos da mais alta relevância na vida nacional, acolheram este convite, uma vez mais não resisto a ler, antes de passarmos ao vinho, dentre as manifestações de carinho e apreço que recebemos nestes dias, duas delas. A primeira, do combativo amigo Fábio Konder Comparato, que nos enviou a seguinte mensagem:

"Ainda bem que a maioridade do Cedec coincide com o seu mandato como presidente. É uma maioridade com responsabilidade. Parabéns a todos os que permanecem ligados aos princípios de origem!"

A segunda, de um mestre de todos nós, defensor incondicional dos valores democráticos, sócio-fundador do CEDEC e membro de nosso Conselho Consultivo, e que nos dá a convicção de que esta não é uma cerimônia de 20 anos do CEDEC no sentido convencional do termo, isto é, de um ciclo que se fecha, mas muito mais a comemoração de novo ciclo que se abre para esta instituição no limiar do século XXI:

"20 anos! Essa correria do tempo é horripilante quando os 80 estão por perto, como é o meu caso. Mas é também positiva quando é possível mostrar a maneira de superá-la, criando permanências com o Cedec. Parabéns a vocês todos. Não sei se dará para ir à mesa-redonda e ao cocktail, porque o dia 6 é uma data familiar que talvez me prenda. Mas estarei pensando em vocês com afeto e admiração pelo esforço bem coroado. Antonio Candido".

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Nov 2010
  • Data do Fascículo
    1997
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