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Polarização e contexto: medindo e explicando a polarização política no Brasil1 1 Uma versão preliminar deste artigo foi apresentada no 12º Encontro da ABCP e publicada, como preprint, no Reasearch Gate. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/346574826_Afeto_ou_ideologia_medindo_polarizacao_politica_no_Brasil. Acesso em: 13 de dez. de 2022.

Polarization and context: measuring and explaining political polarization in Brazil

Polarización y contexto: medición y explicación de la polarización política en Brasil

Polarisation et contexte: mesurer et expliquer la polarisation politique au Brésil

Este artigo analisa se estão em curso, no Brasil, a polarização afetiva e (ou) a polarização ideológica, quais são as suas características e se elas estão dispersas ou concentradas em determinados grupos na sociedade brasileira. A pesquisa utiliza dados do Eseb (2002 – 2018) e do Lapop (2010 – 2019). Os resultados indicam que: 1) há um aumento da polarização, mas ela é predominantemente afetiva e mais intensa em relação aos candidatos; 2) embora já se observe alguns indícios em 2014, a polarização afetiva é bem mais visível em 2018; 3) no que diz respeito à ideologia, há uma polarização assimétrica, com o crescimento e a radicalização da direita. Diante dessas evidências, conclui-se que as características específicas da polarização brasileira estão relacionadas a aspectos do contexto político do país, tanto os de longa duração (como a reduzida base social dos partidos) quanto os mais recentes (como a reorganização da direita e a moderação do PT). Em comum com outros países, observa-se a concentração da polarização em indivíduos politicamente engajados.

polarização afetiva; polarização ideológica; contexto; Brasil


Abstract

This article analyzes whether affective polarization and (or) ideological polarization is ongoing in Brazil, what are its characteristics and whether it is concentrated in certain groups in Brazilian society. The research uses data from Eseb (2002 – 2018) and Lapop (2010 – 2019). The results indicate that: 1) there is an increase in polarization, but it is predominantly affective and more intense in relation to the candidates; 2) although there are already some signs in 2014, affective polarization is much more visible in 2018; 3) in ideology, evidence indicates a growth and radicalization of the right, which may eventually contribute to a polarization. Given this evidence, it is concluded that the specific characteristics of Brazilian polarization are related to aspects of our political context, both long-term, such as the reduced social base of the parties, and more recent ones, such as the reorganization of the right and moderation of PT. In common with other countries, there is, in Brazil, the concentration of polarization in politically engaged individuals.

affective polarization; ideological polarization; context; Brazil

Resumen

Este artículo analiza si la polarización afectiva y (o) la polarización ideológica está en curso en Brasil, cuáles son sus características y si se concentra en ciertos grupos de la sociedad brasileña. La investigación utiliza datos de Eseb (2002 - 2018) y Lapop (2010 - 2019). Los resultados indican que: 1) hay un aumento de la polarización, pero es predominantemente afectiva y más intensa en relación a los candidatos; 2) aunque ya hay algunos indicios en 2014, la polarización afectiva es mucho más visible en 2018; 3) en ideología, la evidencia indica un crecimiento y radicalización de la derecha, lo que eventualmente puede contribuir a la polarización. Ante esta evidencia, se concluye que las características específicas de la polarización brasileña están relacionadas con aspectos de nuestro contexto político, tanto de largo plazo, como la reducida base social de los partidos, como de los más recientes, como la reorganización de la derecha. y moderación del PT. Al igual que en otros países, en Brasil existe la concentración de polarización en individuos políticamente comprometidos.

polarización afectiva; polarización ideológica; contexto; Brasil

Résumé

Cet article analyse si la polarisation affective et (ou) la polarisation idéologique est en cours au Brésil, quelles sont ses caractéristiques et si elle est concentrée dans certains groupes de la société brésilienne. La recherche utilise des données d'Eseb (2002 – 2018) et de Lapop (2010 – 2019). Les résultats indiquent que : 1) il y a une augmentation de la polarisation, mais elle est majoritairement affective et plus intense par rapport aux candidats ; 2) bien qu'il y ait déjà quelques signes en 2014, la polarisation affective est beaucoup plus visible en 2018 ; 3) dans l'idéologie, les preuves indiquent une croissance et une radicalisation de la droite, ce qui peut éventuellement contribuer à la polarisation. Compte tenu de ces preuves, il est conclu que les caractéristiques spécifiques de la polarisation brésilienne sont liées à des aspects de notre contexte politique, à la fois à long terme, tels que la base sociale réduite des partis, et plus récents, tels que la réorganisation de la droite et la modération des PT. Comme dans d'autres pays, il y a, au Brésil, la concentration de la polarisation chez les individus politiquement engagés.

polarisation affective; polarisation idéologique; contexte; Brésil

Introdução

Nos Estados Unidos, país de origem da maioria dos estudos sobre polarização política, há consenso de que as elites políticas estão, cada vez mais, ideologicamente polarizadas (Poole; Rosenthal, 2001Poole, K. T.; Rosenthal, H. “D-Nominate after 10 years: a comparative update to congress: a political-economic history of roll-call voting”. Legislative Studies Quarterly, St. Louis, vol. 26, nº 1, p. 5–29, 2001.). Em relação ao público em geral, as conclusões têm sido bem menos consensuais. Há uma divisão entre os autores que negam a existência de uma polarização (Fiorina; Abrams; Pope, 2006; Fiorina; Abrams, 2008Fiorina, M. P.; Abrams, S. J. “Political polarization in the American public”. Annual Review of Political Science, San Mateo, vol. 11, p. 563-588, jun. 2008.), os que afirmam que está em curso uma polarização ideológica (Abramowitz; Saunders, 2008Abramowitz, A. I.; Saunders, K. L. “Is polarization a myth?”. The Journal of Politics, Chicago, vol. 70, nº 2, p. 542-555, abr. 2008.; Abramowitz, 2010Abramowitz, A. I. The disappearing center: engaged citizens, polarization, and American democracy. London: Yale University Press, 2010.) e aqueles que apontam, fundamentalmente, a existência da polarização afetiva (Iyengar; Sood; Lelkes, 2012; Mason, 2018Mason, L. Uncivil agreement: how politics became our identity. Chicago: University of Chicago Press, 2018.). Apesar das conclusões dissonantes, sabe-se bem mais sobre a polarização entre os eleitores estadunidenses atualmente do que se sabia há vinte anos.

No Brasil, no entanto, conhecemos muito pouco o assunto. Em parte, isso decorre do fato de que, até recentemente, o que aqui se observava era que os partidos mais relevantes se deslocavam progressivamente em direção ao centro da escala ideológica. A esquerda aderia cada vez mais à economia de mercado e a direita, “envergonhada”, não assumia a sua identidade ideológica (Zucco Júnior, 2011). Nesse contexto, os eleitores percebiam os partidos, cada vez mais, semelhantes entre si, posicionavam-se menos na escala ideológica e vinculavam menos a ideologia ao voto (Carreirão, 2007Carreirão, Y. S. “Identificação ideológica, partidos e voto na eleição presidencial de 2006”. Opinião Pública, Campinas, vol. 13, nº 2, p. 307-339, 2007.).

Nos últimos anos, porém, a ciência política brasileira tem identificado o surgimento de uma nova direita nas ruas (Alonso, 2017Alonso, A. “A política das ruas: protestos em São Paulo de Dilma a Temer”. Novos Estudos, São Paulo, vol. 37, nº 1, p. 49-58, jun. 2017.; Avritzer, 2017Avritzer, L. “Participation in democratic Brazil: from popular hegemony and innovation to middleclass protest”. Opinião Pública, Campinas, vol. 23, nº 1, p. 43-59, abr. 2017.), no parlamento (Quadros; Madeira, 2018Quadros, M. P. R.; Madeira, R. M. “Fim da direita envergonhada? Atuação da bancada evangélica e da bancada da bala e os caminhos da representação do conservadorismo no Brasil”. Opinião Pública, Campinas, vol. 24, nº 3, p. 486-522, 2018.; Melo; Câmara; Santos, 2020), nos meios de comunicação tradicionais (Penteado; Lerner, 2018Penteado, C., Lerner, C. “A direita na rede: mobilização online no impeachment de Dilma Rousseff”. Em Debate, Belo Horizonte, vol. 10, nº. 1, p. 12-24, abr. 2018.) e na internet (Messenberg, 2017Messenberg, D. “A direita que saiu do armário: a cosmovisão dos formadores de opinião dos manifestantes de direita brasileiros”. Revista Sociedade e Estado, Brasília, vol. 32, nº 3, p. 621-648, set.-dez. 2017.). Esse fenômeno, que culminou nas eleições de 2018, com a quebra da centralidade que o embate político entre PT e PSDB ocupava nas eleições presidenciais desde 1994, contribui para a formação de um padrão de comportamento mais ideológico dos eleitores. Se comparado com eleições anteriores, em 2018, cresceram, no eleitorado, o posicionamento na escala ideológica, a percepção das diferenças partidárias em termos de esquerda e direita e a associação entre ideologia e voto (Fuks; Marques, 2020Fuks, M.; Marques, P. H. “Contexto e voto: o impacto da reorganização da direita sobre a consistência ideológica do voto nas eleições de 2018”. Opinião Pública, Campinas, vol. 26, nº 3, p. 401-430, 2020.).

Nesse novo cenário, disseminou-se, na sociedade, nos meios de comunicação e nos meios acadêmicos, o diagnóstico de que estamos polarizados. Até o momento, porém, evidências empíricas dessa polarização ainda não foram apresentadas. Apesar dos recentes avanços nos estudos sobre partidarismo e antipartidarismo no Brasil (Ribeiro; Carreirão; Borba, 2011; Paiva; Krause; Lameirão, 2016; Samuels; Zucco, 2018Samuels, D. J.; Zucco, C. Partisans, antipartisans, and nonpartisans: voting behavior in Brazil. New York: Cambridge University Press, 2018.; Fuks; Ribeiro; Borba, 2021), a polarização política entre eleitores não tem sido objeto específico de análise. A produção sobre polarização, no Brasil recente, não apenas é escassa como também é desatualizada, pois não cobre o período pós-2014 (Borges; Vidigal, 2018Borges, A.; Vidigal, R. “Do lulismo ao antipetismo? Polarização, partidarismo e voto nas eleições presidenciais brasileiras”. Opinião Pública, Campinas, vol. 24, nº 1, p. 53-89, 2018.). Faltam evidências empíricas sólidas, com dados longitudinais e que sejam testadas por meio das diversas medidas disponíveis4 4 Os estudos de Bello (2019) e Ortellado, Ribeiro e Zeine (2022) são duas contribuições recentes importantes. Os resultados desses dois estudos, porém, não podem ser comparados com os deste artigo, uma vez que, em Bello (2019), a análise se concentra prioritariamente no binômio petismo e antipetismo e, em Ortellado, Ribeiro e Zeine (2022), a polarização ideológica é analisada sem ter como referência o voto ou o partidarismo, como fazemos aqui. .

Com o objetivo de preencher essa lacuna, analisamos, neste artigo, duas décadas de dados de opinião pública. Buscamos, assim, responder se e em que medida: 1) aumentou, durante esse período, a polarização afetiva e ideológica entre os eleitores brasileiros; 2) quais são as principais características da polarização; 3) se ela é dispersa ou concentrada em certos segmentos do público. Além disso, propomos um modelo explicativo para o caso brasileiro, segundo o qual o contexto não apenas contribui para a formação de alguns dos traços da polarização como também sugere a adaptação de algumas das medidas convencionais utilizadas nas análises. Seguindo a literatura, definimos a polarização ideológica como sendo o aumento da distância ideológica entre os principais grupos políticos da sociedade, com o concomitante esvaziamento do centro (Abramowitz, 2010Abramowitz, A. I. The disappearing center: engaged citizens, polarization, and American democracy. London: Yale University Press, 2010.). Já a polarização afetiva é definida como o aumento da desafeição entre grupos políticos rivais (Iyengar; Sood; Lelkes, 2012).

Os resultados deste artigo sugerem cautela ao falar sobre polarização política no Brasil e apontam a importância de se considerar fatores contextuais. Embora haja vestígios de um início de processo de polarização em 2018, as evidências não são conclusivas. E ainda, chama a atenção o fato de que, no Brasil, as lideranças concorrem com os partidos como eixos organizadores da polarização. Esses dois aspectos da polarização brasileira já indicam que se trata de um fenômeno distinto do estadunidense, caracterizado por um processo de longa duração, protagonizado, há mais de quatro décadas, pelos dois partidos e seus apoiadores.

Além disso, reforçando a linha de análise de um estudo anterior realizado por Fuks e Marques (2020)Fuks, M.; Marques, P. H. “Contexto e voto: o impacto da reorganização da direita sobre a consistência ideológica do voto nas eleições de 2018”. Opinião Pública, Campinas, vol. 26, nº 3, p. 401-430, 2020., as evidências sugerem associação entre a reorganização da direita brasileira e os sinais de polarização em 2018, que adquire um formato assimétrico. Essa assimetria não é exclusividade brasileira, já que a polarização, nos EUA, também seguiu esse padrão, mas de forma alternada: em uma primeira onda, os democratas se deslocaram para o extremo liberal e, posteriormente, os republicanos assumiram posições conservadoras mais radicais (Campbell, 2018Campbell, J. Polarized: making sense of a divided America. New Jersey: Princeton University Press, 2018.). Além disso, em ambos os países, há, de um lado, claras evidências de polarização afetiva e, de outro, dúvidas sobre a existência e a dimensão da polarização ideológica.

A polarização na política brasileira também segue tendência internacional em sua concentração em certos segmentos sociais, especialmente entre os indivíduos politicamente engajados. Nesse caso, não é o contexto, mas os atributos individuais que importam. Os indivíduos mais interessados por política, mais participativos e com vínculos partidários são os mais extremistas, tanto na ideologia como no afeto.

Esperamos que nossa análise do caso brasileiro contribua para elucidar se, em que medida e que tipo de polarização ocorre no Brasil e, de forma mais geral, para o estudo das polarizações afetiva e ideológica em países que apresentam indícios iniciais de polarização política e em que o vínculo entre eleitores e partidos políticos é frágil.

Este artigo divide-se em quatro seções. Na primeira, discutimos a abordagem contextualista nos estudos sobre polarização política e a sua aplicação ao caso brasileiro. Argumentamos que a polarização brasileira tenha as seguintes características: recente, assimétrica e com peso nas lideranças políticas. Na segunda seção, apresentamos as formas de operacionalização dos nossos indicadores de polarização, além de apresentar os bancos de dados utilizados. Em seguida, apresentamos uma série histórica de dados sobre polarização, analisando quase duas décadas de opinião pública brasileira. Por fim, discutimos se a polarização é um fenômeno socialmente difuso ou se ela se concentra em certos segmentos sociais.

O contexto da polarização

A maioria dos estudos sobre polarização tem analisado as dinâmicas ideológica e afetiva de um processo que, nos Estados Unidos, aumenta a distância e opõe partidos e partidários ao longo das últimas cinco décadas (Abramowitz; Saunders, 2008Abramowitz, A. I.; Saunders, K. L. “Is polarization a myth?”. The Journal of Politics, Chicago, vol. 70, nº 2, p. 542-555, abr. 2008.; Abramowitz, 2010Abramowitz, A. I. The disappearing center: engaged citizens, polarization, and American democracy. London: Yale University Press, 2010.; Iyengar; Sood; Lelkes, 2012; Mason, 2018Mason, L. Uncivil agreement: how politics became our identity. Chicago: University of Chicago Press, 2018.). Esses estudos, que apontam uma polarização afetiva e apresentam evidências conflitantes em relação à polarização ideológica (Fiorina; Abrams; Pope, 2006; Fiorina; Abrams, 2008Fiorina, M. P.; Abrams, S. J. “Political polarization in the American public”. Annual Review of Political Science, San Mateo, vol. 11, p. 563-588, jun. 2008.), geraram teses, conceitos e indicadores que têm sido a base para se estudar esse fenômeno em outros países. Em geral, essas novas pesquisas aplicadas em diferentes contextos têm encontrado evidências de características, causas e consequências comuns à polarização.

Apesar disso, elementos contextuais importam para explicar a natureza, a dinâmica, o grau e o tipo predominante da polarização. Estudos recentes indicam, por exemplo, que países podem se polarizar em relação a temas que lhes são particulares, como o Brexit ou a independência catalã, não sendo a polarização nem necessariamente partidária nem mesmo associada à divisão esquerda/direita (Hobolt; Leeper; Tilley, 2021). Importante para a discussão que se segue sobre o caso brasileiro, alguns pesquisadores (Mccoy; Rahman; Somer, 2018; Svolik, 2018Svolik, M. W. “When polarization trumps civic virtue: partisan conflict and the subversion of democracy by incumbents”. Available at SSRN: < https://ssrn.com/abstract=3243470 >, 2018.
https://ssrn.com/abstract=3243470...
; 2019) destacam também a centralidade de líderes populistas na radicalização de clivagens sociais pré-existentes, que podem assumir a forma de movimentos contra ou a favor de determinada liderança, como, por exemplo, o Chavismo. Esses autores apontam, assim, a possibilidade de uma polarização que prescinde de partidos e assume uma feição personalista5 5 Em realidade, como coloca Mason (2018), as bases psicológicas da polarização partidária remontam, nos EUA, a um conjunto de características da psicologia humana que conduzem à formação de grupos e, consequentemente, a uma dinâmica de sentimentos favoráveis ao ingroup e desfavoráveis ao outgroup. Essa teoria nos permite pensar a polarização política sem assumir uma conformação partidária, necessitando apenas da existência de grupos com interesses conflitantes e fronteiras identitárias definidas. .

Ademais, também a probabilidade da ocorrência e o grau da polarização parecem modular em função de elementos contextuais e institucionais específicos. Ezrow, Tavitz e Homola (2014) mostram que a polarização tem como consequência o aumento do apoio dos eleitores a partidos extremistas, mas que esse efeito depende, em grande medida, do nível de institucionalização dos partidos em cada país. Assim, diante de um cenário de polarização, eleitores em países com sistema partidário mais consolidado estariam menos propensos a apoiar candidatos extremistas e outsiders. Outros autores têm encontrado evidências de que fatores institucionais e econômicos influenciam na polarização afetiva dos eleitores. Segundo Gidron, Adams e Horne (2018), em países com sistemas eleitorais majoritários ou com muito desemprego e desigualdade, a polarização afetiva é maior.

A polarização nos EUA tem uma trajetória bastante particular. Segundo alguns dos seus principais estudiosos, a polarização ideológica entre os partidários estadunidenses seria o resultado de um longo processo histórico. No curso desse processo, iniciado nos anos 1970, os eleitores, acompanhando os dois partidos centenários, tornaram-se cada vez mais polarizados (Abramowitz; Saunders, 2008Abramowitz, A. I.; Saunders, K. L. “Is polarization a myth?”. The Journal of Politics, Chicago, vol. 70, nº 2, p. 542-555, abr. 2008.; Abramowitz, 2010Abramowitz, A. I. The disappearing center: engaged citizens, polarization, and American democracy. London: Yale University Press, 2010.). Quanto à polarização afetiva, a história passa por um processo de alinhamento partidário. A começar pelo alinhamento dos eleitores negros com o partido democrata, a partir de 1960, uma série de outras identidades sociais, entre as quais o status conjugal e a religião, passaram, progressivamente, a definir o alinhamento dos eleitores com os partidos, enfraquecendo as pressões cruzadas, que, até então, constituíam o pluralismo estadunidense (Mason, 2018Mason, L. Uncivil agreement: how politics became our identity. Chicago: University of Chicago Press, 2018.). Outros autores destacam o papel que os meios de comunicação, abertamente partidários nos EUA, teriam na conformação de um público com visões de mundo bastante apartadas, acentuadas por campanhas políticas cada vez mais agressivas (Iyengar; Sood; Lelkes, 2012).

Esses elementos, como se sabe, não estão presentes no contexto brasileiro. Quais seriam, então, os aspectos do contexto político brasileiro relevantes para investigarmos a polarização? Um primeiro elemento tem sido identificado pela ciência política brasileira como o surgimento de uma nova direita nas ruas (Avritzer, 2017Avritzer, L. “Participation in democratic Brazil: from popular hegemony and innovation to middleclass protest”. Opinião Pública, Campinas, vol. 23, nº 1, p. 43-59, abr. 2017.; Alonso, 2017Alonso, A. “A política das ruas: protestos em São Paulo de Dilma a Temer”. Novos Estudos, São Paulo, vol. 37, nº 1, p. 49-58, jun. 2017.), no parlamento (Quadros; Madeira, 2018Quadros, M. P. R.; Madeira, R. M. “Fim da direita envergonhada? Atuação da bancada evangélica e da bancada da bala e os caminhos da representação do conservadorismo no Brasil”. Opinião Pública, Campinas, vol. 24, nº 3, p. 486-522, 2018.; Melo; Câmara; Santos, 2020), nos meios de comunicação tradicionais (Penteado; Lerner, 2018Penteado, C., Lerner, C. “A direita na rede: mobilização online no impeachment de Dilma Rousseff”. Em Debate, Belo Horizonte, vol. 10, nº. 1, p. 12-24, abr. 2018.) e na internet (Messenberg, 2017Messenberg, D. “A direita que saiu do armário: a cosmovisão dos formadores de opinião dos manifestantes de direita brasileiros”. Revista Sociedade e Estado, Brasília, vol. 32, nº 3, p. 621-648, set.-dez. 2017.). Esse fenômeno recente, que culmina na eleição de um candidato de extrema direita em 2018, tem estimulado maior alinhamento ideológico entre os eleitores (Fuks; Marques, 2020Fuks, M.; Marques, P. H. “Contexto e voto: o impacto da reorganização da direita sobre a consistência ideológica do voto nas eleições de 2018”. Opinião Pública, Campinas, vol. 26, nº 3, p. 401-430, 2020.), o que é uma condição necessária, embora não suficiente, para que haja polarização.

Se o avanço e a radicalização da direita são fenômenos visíveis a “olho nu” na política brasileira recente, o mesmo não pode ser dito da esquerda, que, há mais tempo, tem seguido o caminho inverso. Segundo seus estudiosos, o Partido dos Trabalhadores (PT), principal partido de esquerda do país, vem passando por transformações ideológicas e programáticas ao menos desde os anos 1990, no sentido do declínio das posições mais radicais que o partido tinha na sua origem (Meneguello; Amaral, 2008Meneguello, R.; Amaral, O. E. “Ainda novidade: uma revisão das transformações do Partido dos Trabalhadores no Brasil”. BSP Occasional Papers, Oxford, nº 2, p. 1-25, 2008.; Ribeiro, 2014Ribeiro, P. F. “An amphibian party? organizational change and adaptation in the Brazilian workers' party, 1980–2012”. Journal of Latin American Studies, Cambridge, vol. 46, nº 1, p. 87-119, 2014.).

Tais transformações seriam, ainda, responsáveis pelo afastamento de parte dos eleitores mais ideológicos do partido e, com a diluição da sua “party brand” (Lupu, 2016Lupu, N. Party brands in crisis: partisanship, brand dilution, and the breakdown of political parties in Latin America. Cambridge: Cambridge University Press, 2016.), pelo declínio do voto ideologicamente orientado no partido (Carreirão, 2007Carreirão, Y. S. “Identificação ideológica, partidos e voto na eleição presidencial de 2006”. Opinião Pública, Campinas, vol. 13, nº 2, p. 307-339, 2007.). Outros estudos apontam um realinhamento das bases sociais do PT, especialmente com a entrada de segmentos mais pauperizados da classe trabalhadora, o que teria contribuído ainda mais para a perda da identidade de “esquerda” entre as bases do partido (Veiga, 2007Veiga, L. F. “Os partidos brasileiros na perspectiva dos eleitores: mudanças e continuidades na identificação partidária e na avaliação das principais legendas após 2002”. Opinião Pública, Campinas, vol. 13, nº 2, p. 340-365, nov. 2007.; Singer, 2009Singer, A. “Raízes sociais e ideológicas do lulismo”. Novos estud. – CEBRAP, São Paulo, nº 85, p. 83-102, 2009.).

Nesse contexto, é de se esperar que a polarização no Brasil seja assimétrica, protagonizada pelos eleitores de direita e que ela ocorra apenas no período mais recente de ruptura da lógica centrípeta da política partidária brasileira.

Outros elementos que merecem destaque são a baixa estruturação (Carreirão, 2014Carreirão, Y. S. “O sistema partidário brasileiro: um debate com a literatura recente”. Revista Brasileira de Ciência Política, [on-line], nº 14, p. 255-295, 2014.) e as constantes rupturas (Melo, 2007Melo, C. R. Nem tanto ao Mar, nem tanto à Terra: elementos para uma análise do sistema partidário brasileiro. In: Melo, C. R.; Sáez M. A. (Eds.), A Democracia Brasileira: Balanço e Perspectivas para o Século 21. Belo Horizonte: Editora UFMG, p. 267-302, 2007.) do sistema partidário brasileiro e, associada a eles, a persistência de padrões de interação personalistas entre eleitores e políticos6 6 Essas características ficam mais salientes e seus efeitos são mais visíveis em momentos de crise política, como o que cobre o final da série histórica analisada neste artigo. Mesmo a visão otimista de que estaria em curso um processo de estruturação da competição partidária (Melo; Câmara, 2012), tendo como protagonistas o PT e PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), deixou de fazer sentido com a intensificação e os desdobramentos da crise de legitimidade dos partidos, a partir de 2013, criando condições propícias para um revival do personalismo e do populismo. O próprio Jair Bolsonaro é um caso emblemático disso: com passagem por diversos partidos, ele concorreu, nas eleições de 2018, por um partido até então inexpressivo e desconhecido (o Partido Social Liberal), com o qual ele rompeu assim que assumiu a presidência, passando a exercer o mandato sem estar filiado a nenhum partido. . Esse quadro se constituiu como obstáculo para a consolidação de partidos com bases sociais mais amplas (Mainwaring, 1999Mainwaring, S. Rethinking party systems in the third wave of democratization: the case of Brazil. Stanford: Stanford University Press, 1999.; Carreirão; Kinzo, 2004Carreirão, Y. S.; Kinzo, M. D. “Partidos Políticos, preferência partidária e decisão eleitoral no Brasil (1989/2002)”. Dados – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 47, nº 1, p. 131-168, 2004.; Kinzo, 2005Kinzo, M. D. “Os partidos no eleitorado: percepções públicas e laços partidários no Brasil”. Rev. Bras. Ci. Soc., São Paulo, vol. 20, nº 57, p. 65-81, fev. 2005.; Baker; Ames; Rennó, 2006), com a notável exceção do PT (Samuels, 2006Samuels, D. “Sources of mass partisanship in Brazil”. Latin American Politics and Society, Cambridge, vol. 48, nº 2, p. 1-27, 2006.; Samuels; Zucco, 2018Samuels, D. J.; Zucco, C. Partisans, antipartisans, and nonpartisans: voting behavior in Brazil. New York: Cambridge University Press, 2018.). Esse contexto justifica analisar o fenômeno da polarização no Brasil não só a partir de suas bases partidárias, mas também em referência a lideranças políticas e candidatos. Dessa forma, nossa expectativa é que a polarização brasileira se organize não apenas em função de laços partidários, mas principalmente por meio do vínculo com essas lideranças, expressando, portanto, um caráter personalista.

As evidências sobre polarização política no Brasil apresentadas na terceira seção deste artigo confirmam nossas expectativas. Como a recente reorganização da direita nos leva a supor, os indícios de polarização política revelam um fenômeno incipiente, assimétrico e concentrado no último período eleitoral. Além disso, apontam, como uma das suas expressões mais importantes, a polarização afetiva em relação às lideranças políticas. Antes de olharmos para os dados, discutiremos, na próxima seção, os principais conceitos e as adaptações que empregamos para mensurar a polarização no Brasil.

Medindo polarização no Brasil

Entre os conceitos e medidas de polarização política empregados na literatura internacional, os dois mais importantes são a polarização ideológica e a polarização afetiva. Nos estudos sobre polarização ideológica nos EUA, os autores costumam avaliar se há crescimento dos extremos no continuum liberal-conservador entre os eleitores que se identificam com os partidos Republicano e Democrata. Outra alternativa, seguida por Abramowitz (2010)Abramowitz, A. I. The disappearing center: engaged citizens, polarization, and American democracy. London: Yale University Press, 2010., é analisar como os partidários desses dois partidos se diferenciam naquilo que a literatura chama de ideologia operacional (Ellis; Stimson, 2012), que são as posições do indivíduo em relação a um conjunto de issues, tais como o tamanho e a responsabilidade do Estado, gasto militar, direitos de minorias e questões de gênero.

Já os estudos sobre polarização afetiva têm como base pesquisas sobre a formação de grupos, segundo os quais a filiação a um grupo gera uma série de atitudes positivas em relação ao próprio grupo (ingroup) e atitudes de competição e depreciação em relação ao grupo rival (outgroup) (Mason, 2018Mason, L. Uncivil agreement: how politics became our identity. Chicago: University of Chicago Press, 2018.). Sendo assim, a estratégia de investigação é a identificação de grupos políticos rivais, seguida pela mensuração da afeição intragrupal e da desafeição intergrupal. Entre outros indicadores de polarização afetiva, nos EUA, destacam-se a aversão, o uso de estereótipos e o desejo de distanciamento social em relação ao grupo alvo da desafeição (Iyengar et al., 2019Iyengar, S. et al. “The origins and consequences of affective polarization in the United States”. Annual Review of Political Science, vol. 22, nº 1, p. 129–146, maio 2019.)7 7 Como não existem as mesmas pressões sociais para que os entrevistados amenizem a desafeição interpartidária que expressam em surveys, como ocorre quando o outgroup é definido por raça, por exemplo, e como, na retórica política, exageros são aceitáveis e até apropriados, é possível que a polarização partidária seja superestimada em comparação com a polarização entre outros grupos, como no caso de grupos raciais. Como, porém, não avançamos em comparações desse tipo, até mesmo porque não teríamos variáveis para fazê-lo, e como repetimos a mesma estrutura na construção das variáveis ao longo da série histórica, acreditamos que a variação que captamos está relativamente protegida dessa superestimação. .

Dessa forma, as polarizações afetiva e ideológica manifestam-se naturalmente, no caso estadunidense, nas dinâmicas de alinhamento ideológico e na desafeição entre democratas e republicanos. No entanto, embora se mostre adequada para um contexto bipartidário e com alto número de eleitores partidários, não é aconselhável ancorar a polarização nos partidos em países com sistemas multipartidários sustentados por uma frágil base social, como no caso brasileiro.

Estudos recentes têm desenvolvido medidas de polarização afetiva e ideológica para lidar com sistemas multipartidários europeus (Gidron; Adams; Horne, 2018; Reiljan, 2019; Wagner, 2021Wagner, M. “Affective polarization in multiparty systems”. Electoral Studies, [S. l], vol. 69, 2021.). Porém, esses estudos apresentam duas limitações para sua aplicação ao caso brasileiro: a primeira delas é a exclusão dos eleitores sem identificação partidária; a segunda, que pesa contra a aplicação longitudinal dessas medidas, é a assimetria do quadro partidário brasileiro, com apenas um protagonista constante (o PT), tanto como competidor na arena eleitoral como quanto partido político capaz de mobilizar sentimentos positivos e negativos no eleitorado (Samuels; Zucco, 2018Samuels, D. J.; Zucco, C. Partisans, antipartisans, and nonpartisans: voting behavior in Brazil. New York: Cambridge University Press, 2018.).

Uma alternativa possível seria identificar petismo e antipetismo como as duas principais identidades políticas no país, como sugerem Samuels e Zucco (2018)Samuels, D. J.; Zucco, C. Partisans, antipartisans, and nonpartisans: voting behavior in Brazil. New York: Cambridge University Press, 2018., uma chave promissora em razão do crescimento do antipetismo nos últimos anos (Bello, 2019Bello, A. Petismo vs. antipetismo: evidências da polarização Política. In: Anais do 5° Workshop sobre Comportamento Político e Opinião Pública, Goiás, p. 1-26, 2019.; Fuks; Ribeiro; Borba, 2021). No entanto, as recentes manifestações de fragilidade e volatilidade do sistema partidário brasileiro, com a repentina emergência de uma liderança de extrema direita fora do quadro partidário e sua conquista da Presidência da República, reforçam a ideia de que as bases da polarização devem ser procuradas em identidades fora do “eixo de gravidade” do PT.

Mas como então medir polarizações afetiva e ideológica em um sistema multipartidário instável e sem ampla base social? Primeiramente, cumpre destacar que usamos os dois maiores surveys acadêmicos realizados no país. O Latin American Public Opinion Project (Lapop) da Vanderbilt University, de 2008 a 2019, além de trazer amostras representativas do eleitorado brasileiro, pergunta aos eleitores sobre um conjunto amplo de temas que organizam o debate entre esquerda e direita. O outro survey é o conjunto de rodadas de 2002 a 2018 do Estudo Eleitoral Brasileiro (Eseb), um estudo pós-eleitoral brasileiro vinculado ao projeto Comparative Study of Electoral Systems (CSES) da Universidade de Michigan. O survey do Eseb foi escolhido por medir repetidamente uma bateria de sentimentos partidários e em relação a candidatos.

Para a mensuração da polarização no contexto brasileiro, propomos algumas adaptações das medidas existentes. A principal medida de polarização afetiva nos EUA é operacionalizada em uma variável de nível individual, resultante do cálculo da diferença em módulos entre o afeto para o ingroup e outrgroup partidários. Normalmente, essa medida é criada a partir de uma escala numérica, em que números próximos de 0 indicam desafeição e, os números maiores, afeição em relação aos partidos (Iyengar et al., 2019Iyengar, S. et al. “The origins and consequences of affective polarization in the United States”. Annual Review of Political Science, vol. 22, nº 1, p. 129–146, maio 2019.). A partir dessa medida, os pesquisadores calculam a média de polarização afetiva e observam a evolução dessa média no tempo. Para o caso brasileiro, em função das particularidades discutidas acima, usamos, além dessa medida, uma outra, cujo alvo são as lideranças políticas. Ambas as medidas foram construídas a partir de duas baterias de perguntas do Eseb, nas quais se pede ao eleitor que, em uma escala de 0 a 10, em que 0 é “Não gosta de jeito nenhum” e 10 é “Gosta muito”, situe líderes, candidatos e partidos políticos importantes do país.

A primeira variável que elaboramos, seguindo o padrão “clássico”, é a polarização afetiva em relação aos partidos (PAP). A PAP é a diferença em módulos da nota de afeto dado ao PT e ao partido que disputou com ele os segundos turnos nas eleições presidenciais do período (PSDB, entre 2002 e 2014, e PSL em 2018). A segunda medida refere-se à polarização afetiva em relação às lideranças (PAL), operacionalizada a partir da diferença em módulos do afeto direcionado aos dois candidatos presidenciais que se enfrentaram nos segundos turnos.

Outra adaptação que realizamos para o caso brasileiro é na divisão do eleitorado. Em função da pequena quantidade de eleitores com identificação partidária, dividimos os eleitores entre os dois campos políticos que se enfrentaram nos segundos turnos das eleições presidenciais. Temos, assim, para a maioria das nossas medidas, os eleitores que votaram nos candidatos petistas de 2002 a 2018 e aqueles que votaram nos candidatos do PSDB, entre 2002 e 2014, e em Jair Bolsonaro em 2018. Ao ampliar o escopo do eleitorado para além daqueles que têm identificação com algum partido, buscamos superar as limitações das inferências em contextos de baixo partidarismo8 8 Segundo o Eseb, apenas 27,6% dos brasileiros respondem afirmativamente à questão sobre se há algum partido que representa a maneira como ele pensa e somente 28,1% se sentem próximos ou um pouco próximos de algum partido político. Apesar disso, para permitir um diálogo com a literatura e assegurar a robustez dos resultados, incluímos, no Anexo, os resultados obtidos pela análise dos grupos de partidários para todas as análises feitas com o Eseb. .

Para analisar a polarização ideológica, observamos como a população se distribui na escala esquerda e direita ao longo da série histórica. Isso foi feito por meio da variável que mede a autolocalização ideológica do eleitor, indicando em que medida os eleitores se concentram nos extremos dessa escala. Além disso, com base na clivagem entre os eleitores dos dois partidos que se enfrentaram nos segundos turnos das eleições presidenciais, analisamos a evolução das diferenças das médias de autoposicionamento daqueles que votaram no PT e daqueles que votaram em seus adversários (PSDB, entre 2002 e 2014, e PSL em 2018). Dessa forma, se observamos o crescimento das diferenças entre esses grupos e uma diminuição do centro ideológico, podemos afirmar que houve aumento da polarização ideológica.

Por fim, observamos, com base nos dados do Lapop, a evolução, no tempo, da distribuição de duas dimensões da ideologia operacional (Ellis; Stimson, 2012): 1) a posição sobre o casamento gay (dimensão dos costumes); 2) a posição sobre a adoção, por parte do Estado, de políticas firmes de combate à desigualdade de renda (dimensão econômica)9 9 Como teste de robustez adicional, incluímos outros dois issues: aborto e Estado empresário, no Anexo. . Repetindo o padrão das outras variáveis, analisamos a distribuição dessas posições para o conjunto dos eleitores e comparamos a sua evolução, no tempo, entre dois grupos. Como o Lapop não é um estudo eleitoral, tomamos como base as opiniões sobre casamento gay e desigualdade dos indivíduos que se identificam com os dois partidos que se enfrentaram nos segundos turnos das eleições presidenciais10 10 A descrição de todas as variáveis usadas nesta seção encontra-se na Tabela 2 do Anexo. Tabela 2 : Variáveis usadas na construção das medidas descritivas[25] Fonte Nome Redação Número da pergunta no questionário por ano ESEB Afeto a líderes Agora usando as mesmas notas, gostaria que o(a) sr(a) me dissesse o quanto gosta de alguns políticos que vou mencionar. Quero lembrar que, zero significa que o(a) sr(a) não gosta do político que vou mencionar e dez que o(a) sr(a) gosta muito. De novo, se o(a) sr(a) não conhecer o político que eu disser, diga apenas que não o conhece. (estimulada e única para cada item da bateria) (ler candidatos - rodiziar) 00 – Não gosta a 10 – Gosta Muito[26] 43 (2002); 16 (2006); 32 (2010); Q10 (2014); Q16 (2018) Afeto a partidos Agora gostaria de saber com mais detalhes o que o(a) sr(a) pensa sobre alguns partidos políticos. Por favor, use uma nota de 0 a 10 para indicar o quanto o(a) sr(a) gosta do partido que eu vou mencionar. Zero significa que o(a) sr(a) não gosta do partido e dez que o(a) sr(a) gosta muito. Quando eu falar o nome de um partido que o(a) sr(a) não conhece, apenas diga que não o conhece. (estimulada e única para cada item da bateria) (ler partidos - rodiziar) 00 – Não gosta a 10 – Gosta Muito[27] 42 (2002); 15 (2006); 31 (2010); Q09 (2014); Q15 (2018) Partidarismo Qual partido o(a) sr(a) gosta? mais algum? mais algum?[28] 36a (2012); 12 (2006); 27 (2010); Q16B (2014); Q22 (2018) Autolocalização Ideológica Novamente pensando em esquerda e direita na política. Como o(a) sr(a) se considera? Zero significa que o(a) sr(a) é de esquerda e 10 que o(a) sr(a) é de direita. (estimulada e única) 50 (2012); 19 (2006); 35 (2010); Q12 (2014); Q18 (2018) Em quem votou Em quem o(a) sr(a) votou para presidente no segundo turno? (ler opções 1 e 2 - alterando a ordem de leitura) (estimulada e única) 8 (2002); 27 (2006); 47B (2010); Q5P2-B. (2014); Q12P2-b. (2018) LAPOP Casamento gay O quanto o(a) sr./sra. aprova ou desaprova que casais homossexuais tenham o direito de se casar? 1 – Desaprova fortemente e 10 – Aprova Fortemente D5 (todos os anos) Combate à desigualdade O Estado brasileiro deve implementar políticas firmes para reduzir a desigualdade de renda entre ricos e pobres. 1 – Discorda Muito e 7 – Concorda Muito Ros4 (em todos os anos) Estado empresário O Estado brasileiro, no lugar do setor privado, deveria ser dono das empresas e indústrias mais importantes do país. 1 – Discorda Muito e 7 – Concorda Muito Ros1 (em todos os anos) Aborto O(a) sr./sra acredita que se justifica a interrupção da gravidez, ou seja, um aborto, quando a saúde da mãe está em perigo? Sim e não (binária). W14a (em todos os anos) Partidarismo Com qual partido o(a) sr./sra. simpatiza? (1501) PT (Partido dos Trabalhadores) (1502) PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) (1503) PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) (1504) PSB (Partido Socialista Brasileiro) (1505) DEM (DEMOCRATAS) (1506) PC do B (Partido Comunista do Brasil) (1507) PPS (Partido Popular Socialista) (1508) PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) (1509) PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) (1510) PP (Partido Progressista) (1511) PL (Partido Liberal) (1512) PV (Partido Verde) (1513) PDT (Partido Democrático Trabalhista) (1514) PSL (Partido Social Liberal) (1515) NOVO (Partido Novo) (1577) Outro (888888) Não sabe [NÃO LER] (988888) Não responde [NÃO LER] VB11 (em todos os anos) Fonte: Elaboração própria com base no Eseb e Lapop. .

Polarização em perspectiva temporal

De forma geral, os dados confirmam nossas expectativas. Os indícios que encontramos de polarização política revelam um fenômeno assimétrico e concentrado no último período eleitoral analisado. Porém, se, por um lado, as evidências de polarização afetiva são fortes, o mesmo não pode ser dito da polarização ideológica. Além disso, a polarização afetiva é mais expressiva em relação às lideranças políticas do que em relação aos partidos.

Comecemos, então, pela dimensão afetiva. A análise da evolução da média da variável de polarização afetiva em relação aos partidos (PAP) que se enfrentaram nos segundos turnos das eleições presidenciais de 2002 a 2018 (Gráfico 1) mostra que, embora haja uma oscilação no período, há um aumento expressivo e estatisticamente significante em 201811 11 Todas as variações a que nos referimos como indícios de polarização nesta seção são estatisticamente significantes a 95% de confiança, o que constatamos por meio de testes t student de diferenças de médias, apresentadas na Tabela 3 do Anexo. Tabela 3 : Significância Estatística dos Testes T da seção descritiva. Gráfico Ano Ano Significância 1 - Polarização Afetiva em relação aos Partidos 2018 2014 P<0,05 2014 2010 P<0,05 2010 2006 P<0,05 2006 2002 P<0,05 2 - Polarização Afetiva em relação aos Líderes 2018 2014 P<0,05 2014 2010 P<0,10 2010 2006 P>0,10 2006 2002 P>0,10 3 - Sentimento em relação ao partido opositor (votaram na esquerda) 2018 2014 P<0,05 2014 2010 P<0,05 2010 2006 P>0,10 2006 2002 P>0,10 3 - Sentimento em relação ao partido opositor (votaram na direita) 2018 2014 P<0,05 2014 2010 P<0,05 2010 2006 P<0,05 2006 2002 P<0,05 3 - Sentimento em relação ao partido opositor (comparação entre aqueles que votaram na direita e os que votaram na esquerda) 2018 P<0,05 2014 P<0,05 2010 P<0,10 2006 P<0,05 2002 P>0,10 4 - Sentimento em relação ao candidato opositor (votaram na esquerda) 2018 2014 P<0,05 2014 2010 P<0,05 2010 2006 P<0,10 2006 2002 P<0,05 4 - Sentimento em relação ao candidato opositor (votaram na direita) 2018 2014 P<0,05 2014 2010 P<0,05 2010 2006 P<0,05 2006 2002 P<0,05 4 - Sentimento em relação ao candidato opositor (comparação entre aqueles que votaram na direita e os que votaram na esquerda) 2018 P<0,05 2014 P<0,05 2010 P<0,05 2006 P<0,05 2002 P>0,10 6 - Média da ideologia por voto no 2° Turno (votaram na esquerda) 2018 2014 P<0,05 2014 2010 P<0,05 2010 2006 P>0,10 2006 2002 P<0,05 6 - Média da ideologia por voto no 2° Turno (votaram na direita) 2018 2014 P<0,05 2014 2010 P<0,05 2010 2006 P<0,05 2006 2002 P>0,10 6 - Média da ideologia por voto no 2° Turno (comparação entre aqueles que votaram na direita e os que votaram na esquerda) 2018 P<0,05 2014 P>0,10 2010 P<0,05 2006 P<0,10 2002 P<0,05 9 – Casamento Homossexual (partidários do PT) 2019 2017 P>0,10 2017 2014 P>0,10 2014 2012 P>0,10 2012 2010 P<0,05 9 – Casamento Homossexual (partidários da direita) 2019 2017 P>0,10 2017 2014 P>0,10 2014 2012 P<0,05 2012 2010 P<0,05 9 - Casamento Homossexual (comparação entre os partidários da direita e do PT) 2019 P>0,10 2017 P>0,10 2014 P<0,05 2012 P>0,10 2010 P>0,10 10 - Desigualdade (partidários do PT) 2019 2017 P>0,10 2017 2014 P>0,10 2014 2012 P<0,05 2012 2010 P>0,10 10 - Desigualdade (partidários da direita) 2019 2017 P>0,10 2017 2014 P>0,10 2014 2012 P>0,10 2012 2010 P>0,10 10 - Desigualdade (comparação entre os partidários da direita e do PT) 2019 P>0,10 2017 P<0,10 2014 P>0,10 e 2012 P>0,10 2010 P>0,10 Fonte: Elaboração própria com base no Lapop e Eseb. . O Gráfico 2 mostra que a polarização afetiva em relação às lideranças políticas (PAL) também aumentou e que, ademais, tem média superior à que ocorre em relação aos partidos, embora isso seja muito mais notável em 2018, momento de grande vulnerabilidade do sistema partidário e de maior saliência das lideranças.

Gráfico 1
: Evolução da média de polarização afetiva em relação aos partidos, 2002 - 2018

Gráfico 2
: Evolução da média da polarização afetiva em relação aos líderes, 2002 - 2018

Além disso, a taxa de não respostas às duas variáveis bases da PAP (38,7%) é bem maior que a da PAL (12,8%). Isso ocorre porque os candidatos são bem mais conhecidos que seus partidos - principalmente no ano de 2018, com o PSL substituindo o PSDB na análise. Outra diferença importante aparece quando analisamos em detalhes a evolução dos eleitores que têm valor máximo nas duas variáveis de polarização: cerca de 24% dos eleitores brasileiros pontuam 10 na variável de PAL, enquanto, na PAP, esse valor é de apenas 9,4%.

Em conjunto, essas evidências mostram que, em 2018, o país estava afetivamente mais polarizado do que antes e que a polarização afetiva em relação às lideranças políticas assumiu maiores valores e atingiu uma base social mais ampla do que a polarização em relação aos partidos. Além disso, de uma forma geral, elas atestam a qualidade de nossa medida, pois, se usássemos apenas a medida partidária convencional, estaríamos subestimando a polarização afetiva no país.

Outra evidência da polarização afetiva, em 2018, é o aumento da desafeição em relação ao partido político rival (Gráfico 3). Assim, a média da nota de afeto na escala de 0 a 10 dada ao PSDB pelos eleitores de Dilma, em 2014, foi de 4,49. Essa média caiu para 3,56 com o PSL, em 2018. No mesmo sentido e de forma ainda mais acentuada, houve uma queda da média da nota de sentimento dos eleitores de Bolsonaro em relação ao PT (2,69), se comparada com a nota que os eleitores de Aécio, candidato do PSDB em 2014, deram ao PT na ocasião (3,81).

Gráfico 3
: Evolução da média do sentimento em relação ao partido opositor, por partido em que votou no segundo turno das eleições presidenciais, 2002 – 2018

Esse aumento do sentimento negativo também ocorreu em relação ao candidato rival (Gráfico 4). Assim, eleitores de Haddad, candidato petista em 2018, tinham maior rejeição a Bolsonaro (com nota média de afeto de 3,48) do que os eleitores de Dilma tinham em relação a Aécio (4,66). Na comparação com o sentimento que os eleitores do Aécio tinham em relação a Dilma (4,19), também houve aumento da desafeição por Haddad (2,77) entre os eleitores do Bolsonaro.

Gráfico 4
: Evolução da média do sentimento em relação ao candidato opositor, por partido em que votou no segundo turno das eleições presidenciais, 2002 – 2018

É importante notar a assimetria da polarização afetiva no Brasil. Os dados para 2018 deixam claro esse padrão, com a desafeição que os eleitores da direita manifestaram pelo PT sendo maior que a dos eleitores do PT em relação aos seus rivais. Essa assimetria da polarização afetiva no Brasil é congruente com o contexto de reorganização, mobilização e crescimento da direita e da extrema direita no país. Encontramos o mesmo padrão entre os eleitores partidários, como mostram os Gráficos 11 e 12 do Anexo.

Gráfico 11
: Evolução da média do sentimento em relação ao partido opositor, por identidade partidária, 2002 – 2018

Gráfico 12
: Evolução da média do sentimento em relação ao candidato opositor, por identidade partidária, 2002 – 2018

Quanto à ideologia, a primeira coisa que chama atenção, no Gráfico 5, é o aumento dos eleitores que se posicionam em um dos polos, especialmente à direita. Além disso, desde 2010, vem diminuindo o número daqueles que não respondem ou respondem que não sabem se localizar na escala. Embora não seja um indicador de polarização, isso confirma que o brasileiro passou a se identificar mais com as posições ideológicas (Fuks; Marques, 2020Fuks, M.; Marques, P. H. “Contexto e voto: o impacto da reorganização da direita sobre a consistência ideológica do voto nas eleições de 2018”. Opinião Pública, Campinas, vol. 26, nº 3, p. 401-430, 2020.).

Gráfico 5
: Evolução da autolocalização ideológica dos brasileiros, 2002 – 2018 (% do eleitorado)12 12 No Gráfico 5, foram classificados como de esquerda aqueles que se autolocalizaram entre 0 e 3, centro entre 4 e 6 e direita entre 7 e 10. Ademais, neste gráfico, NS refere-se aos entrevistados que afirmaram não saber o que é esquerda ou direita e NA, aos que responderam “não sabe” ou não responderam à questão.

Apesar disso, apenas a direita cresceu substantivamente em 2018, pulando da faixa histórica entre 25% e 28% para 43% do eleitorado. O crescimento da esquerda é discreto, em 2018, alcançando um percentual que é, praticamente, a metade do ponto inicial da série. Já o centro, que cresceu de 2010 para 2014, se manteve constante desde então. Com essas características, em especial o peso do centro, o fenômeno em curso no Brasil não se encaixa, perfeitamente, na definição de polarização ideológica proposta por parte da literatura norte-americana (Abramowitz, 2010Abramowitz, A. I. The disappearing center: engaged citizens, polarization, and American democracy. London: Yale University Press, 2010.), nem mesmo na sua versão assimétrica (Campbell, 2018Campbell, J. Polarized: making sense of a divided America. New Jersey: Princeton University Press, 2018.).

O diagnóstico é o mesmo quando analisamos as diferenças entre eleitores do PT e de seus rivais nos segundos turnos das eleições presidenciais (Gráfico 6). Os eleitores de Bolsonaro em 2018 estão bem à direita dos eleitores de Aécio em 2014, enquanto os eleitores dos candidatos petistas (Haddad, em 2018, e Dilma em 2014) se deslocaram apenas de forma discreta para a esquerda em 2018. Chama a atenção, também, a moderação ideológica da base eleitoral do principal partido da esquerda, que se situa, praticamente em toda série histórica, no centro da escala, mantendo uma tendência iniciada em 2006 (Carreirão, 2007Carreirão, Y. S. “Identificação ideológica, partidos e voto na eleição presidencial de 2006”. Opinião Pública, Campinas, vol. 13, nº 2, p. 307-339, 2007.). O padrão é o mesmo para os petistas, como pode ser observado no Gráfico 13 do Anexo.

Gráfico 6
: Evolução da média da autolocalização ideológica por partido em que votou no segundo turno das eleições presidenciais, 2002 - 201813 13 Na escala de 0 a 10, os valores maiores representam valores mais à direita e, os menores, mais à esquerda.

Gráfico 13
: Evolução da média da autolocalização ideológica, por identidade partidária, 2002 a 2018

Esse conjunto de dados indica que, em 2018, a polarização ideológica não é tão evidente quanto a polarização afetiva no Brasil. Mesmo a distribuição dos eleitores na escala tendo ficado mais dispersa e tendo aumentado a distância ideológica entre os eleitores dos dois partidos que chegaram ao segundo turno das eleições presidenciais, o centro não declinou e apenas um dos eixos ideológicos (a direita) teve um nítido deslocamento para o extremo. Tais elementos evidenciam as particularidades da história política recente do país e, mais uma vez, realçam a importância do contexto político na análise da polarização política.

Se é possível identificar, nessa dimensão simbólica da ideologia, indícios incipientes de polarização, o mesmo não pode ser dito a respeito da sua dimensão operacional. Adotamos aqui duas medidas de ideologia operacional: o direito dos homossexuais de se casarem (Gráfico 7) e a adoção de políticas firmes de combate à desigualdade de renda por parte do Estado (Gráfico 8).

Gráfico 7
:14 14 Na escala de 1 a 10, em que os valores maiores representam que o entrevistado aprova que os homossexuais tenham o direito de se casarem, classificamos como “aprova” as respostas iguais ou maiores que 8, como “neutro” as respostas entre 4 e 7 e como “desaprova” as respostas iguais ou menores que 3. Evolução da atitude dos brasileiros ante o direito dos homossexuais de se casarem, 2010 – 2019 (% do eleitorado)

Gráfico 8
: Evolução da atitude dos brasileiros ante a adoção, pelo Estado, de políticas firmes de combate à desigualdade, 2008 – 2019 (% do eleitorado)15 15 Na escala de 1 a 7, em que os valores maiores representam que o entrevistado concorda com a adoção de políticas firmes contra a desigualdade, classificamos como “concorda” as respostas iguais ou maiores que 5, como “neutro” as respostas iguais a 4, e como “discorda” as respostas iguais ou menores que 3.

Os Gráficos 7 e 8 apontam duas tendências. Em relação ao casamento homossexual, aumentou, no período considerado, o percentual daqueles que concordam que homossexuais têm o direito de se casar, diminuindo tanto o não posicionamento, como as respostas neutras e conservadoras. Já em relação às políticas de combate à desigualdade, aumentou o percentual daqueles que discordam delas, tal como apontado por Arretche e Araújo (2017)Arretche, M. T. S.; Araújo, V. “O Brasil tornou-se mais conservador?: Apoio à redistribuição e à taxação no Brasil”. Novos Estudos, São Paulo, nº Especial Dinâmicas da Crise, p. 15-22, jun. 2017., embora aqueles que concordam constituam ainda a imensa maioria.

Há, portanto, uma tendência de declínio de antigos consensos, porém ela não conduz a um aumento da polarização da dimensão operacional da ideologia entre os eleitores partidários, uma vez que petistas e seus adversários (pessedebistas, entre 2002 e 2014, e pesselistas em 2018) apresentam um padrão muito semelhante, como podemos ver nos Gráficos 9 e 1016 16 Lembrando que os grupos de referência aqui são constituídos pelos partidários, uma vez que o Lapop não é um estudo eleitoral. . Se, portanto, a população brasileira como um todo está mais dividida em relação aos temas econômicos e dos costumes, essa divisão não ocorre entre os partidários17 17 Nos gráficos 14, 15, 16 e 17, em anexo, incluímos dois outros issues: um sobre Estado como proprietário de empresas e indústrias nacionais e um sobre aborto em caso de risco à saúde da mãe. Os resultados são muito semelhantes a esses apresentados aqui: aumenta a divisão na sociedade, mas isso não se reflete em clivagens partidárias. .

Gráfico 9
: Evolução da média das atitudes dos brasileiros ante o direito dos homossexuais de se casarem, por identidade partidária, 2010-201918 18 Na escala de 1 a 10, os valores maiores representam maior concordância com o direito dos casais homossexuais se casarem.

Gráfico 10
: Evolução da média das atitudes dos brasileiros ante a adoção, pelo Estado, de políticas firmes de combate à desigualdade, por identidade partidária 2010-201919 19 Na escala de 1 a 7, valores maiores representam maior concordância com a ideia de que o Estado adote políticas firmes de combate à desigualdade.

Em resumo, o que agora sabemos sobre a polarização no Brasil confirma, em grande medida, nossas expectativas iniciais: 1) há um aumento da polarização, mas é uma polarização predominantemente afetiva e mais intensa em relação aos candidatos; 2) embora já se observe alguns indícios em 2014, essa polarização afetiva só adquire contornos mais claros em 2018; 3) na dimensão simbólica da ideologia, não há claros indícios de polarização, mas sim de um crescimento e radicalização da direita. Nesse sentido, temos, no máximo, um estágio inicial de polarização ideológica; 4) na dimensão operacional da ideologia, embora os brasileiros estejam mais divididos hoje em relação a assuntos públicos, isso não assume a forma de clivagem partidária.

Essas características da polarização no Brasil têm relação com as especificidades do nosso contexto, tais como o crescimento e a reorganização da direita mais extrema no país, nos últimos anos, e da vulnerabilidade do vínculo entre eleitores e partidos, acentuada com a crise política, especialmente a partir de 2013.

Essa radicalização da direita em contextos de baixa tradição partidária também está presente na vida política recente de outros países, seja na América Latina, onde Bolsonaro serve como o exemplo a ser imitado, seja em outras regiões, como, por exemplo, na Turquia, na Hungria e na Polônia. Apesar disso, é muito cedo para se afirmar que esses traços de polarização afetiva e de radicalização ideológica da direita serão parte de um processo mais amplo e de longa duração, no sentido da consolidação da polarização no Brasil.

Quem está polarizado?

A literatura sobre comportamento político tem confirmado, nos últimos 60 anos, a existência de uma estratificação política da população, que separa, de um lado, uma minoria constituída por indivíduos informados, interessados e participativos e, de outro, a maioria, que manifesta pouco interesse por política. Mesmo defendendo posições opostas no debate sobre a polarização ideológica nos EUA, Abramowitz (2010)Abramowitz, A. I. The disappearing center: engaged citizens, polarization, and American democracy. London: Yale University Press, 2010. e Fiorina, Abrams e Pope (2006) concordam que, entre os indivíduos politicamente ativos, há maior polarização, enquanto os mais passivos são mais centristas. Como mostra o estudo de Abramowitz (2010)Abramowitz, A. I. The disappearing center: engaged citizens, polarization, and American democracy. London: Yale University Press, 2010., os menos interessados, informados e ativos se situam no centro do espectro ideológico.

Em um contexto como o brasileiro, em que há baixo interesse por política20 20 Considerando os dados da última rodada do Lapop, apenas 8,44% dos brasileiros se interessam por política, um valor inferior a boa parte de seus vizinhos como Argentina (20,68%), Uruguai (22,45%), Bolívia (12,43%), Paraguai (14,13%), Chile (10,01%) e mais ainda em relação aos Estados Unidos (42,46%) e Canadá (22,82%) (Lapop, 2019). e a grande maioria dos eleitores não tem vínculo partidário, supomos que a polarização esteja concentrada em segmentos bastante restritos do eleitorado21 21 Marques (2020) já mostrou que apenas uma minoria dos eleitores brasileiros pode ser considerada como consistentemente de esquerda ou de direita e esse grupo é constituído pelos mais escolarizados, interessados por política e identificados com um partido. . Esta última seção examina essa questão: a polarização, no Brasil, é difusa ou se concentra numa minoria politicamente ativa?

Para testar se a polarização é concentrada nos segmentos mais engajados, utilizamos o Eseb de 2018 e elaboramos três modelos de regressão logística binária, com o objetivo de verificar como determinadas variáveis de engajamento se associam com os valores máximos de polarização. Como a nossa análise anterior não revelou a existência de qualquer traço de polarização em relação a assuntos públicos controversos, concentramos, aqui, nos dois tipos de polarização afetiva e nas posições extremas da ideologia simbólica. Assim, nossas variáveis dependentes são o indivíduo “estar polarizado” afetivamente, em relação aos partidos e aos líderes, e ser ideologicamente extremista22 22 Diferentemente da variável de polarização afetiva, a polarização ideológica não é uma medida de nível individual. Usamos, então, o extremismo ideológico como indicador, no nível individual, da polarização ideológica. . Adotamos como critério de polarização ter valor máximo, ou seja, dez, nas variáveis PAP e PAL, e 0 ou 10 (que são os extremos) na variável de autolocalização ideológica. Dessa forma, temos a seguinte distribuição da polarização no eleitorado: 24,3% dos eleitores são polarizados afetivamente em relação aos líderes, 9,4%, em relação aos partidos e 37,3% são ideologicamente extremistas.

Como variáveis explicativas, adotamos o interesse por política, a participação política (se o entrevistado votaria nas eleições de 2018, mesmo que não fosse obrigado) e a identificação partidária. Além disso, inserimos como variáveis de controle algumas variáveis sociodemográficas (sexo, idade e escolaridade). A Tabela 1, a seguir, apresenta os três modelos de regressão. Seguindo a tendência internacional (Fiorina; Abrams; Pope, 2006; Fiorina; Abrams, 2008Fiorina, M. P.; Abrams, S. J. “Political polarization in the American public”. Annual Review of Political Science, San Mateo, vol. 11, p. 563-588, jun. 2008.; Abramowitz; Saunders, 2008Abramowitz, A. I.; Saunders, K. L. “Is polarization a myth?”. The Journal of Politics, Chicago, vol. 70, nº 2, p. 542-555, abr. 2008.; Abramowitz, 2010Abramowitz, A. I. The disappearing center: engaged citizens, polarization, and American democracy. London: Yale University Press, 2010.), há claras evidências de que os eleitores brasileiros mais interessados por política, partidários e que manifestam desejo de votar são os que mais se situam nas posições polares, tanto afetiva como ideologicamente.

Tabela 1
: Determinantes das polarizações afetiva e ideológica23 23 Os valores mostrados na Tabela 1 representam os valores exponenciados dos coeficientes das nossas variáveis independentes. De posse deles calculou-se as razões de chance a partir da seguinte fórmula: (exp(coef) -1)*100. Entre parênteses apresentamos também os erros-padrão.

Não é preciso fazer um cálculo muito elaborado para perceber o aumento de chances de polarização à medida que cresce o ativismo político. Os interessados por política têm, em relação aos não interessados, 27%, 50,7% e 26,2% mais chances de estarem, respectivamente, polarizados afetivamente em relação aos líderes, aos partidos e de serem extremistas ideológicos. Quanto aos indivíduos mais participativos, eles têm, em comparação com os não participativos, 47,5% mais chance de estarem polarizados afetivamente em relação aos líderes e 47,1% em relação aos partidos. Além disso, eles têm 30,6% mais chance de serem ideologicamente extremistas.

Por fim, indivíduos com identidade partidária têm 126,4% e 354,1% mais chance de estarem polarizados em relação aos líderes e partidos e 74,4% mais chances de serem ideologicamente extremistas. Esses valores expressivos mostram que, mesmo sendo baixa a identificação partidária no país, ela certamente é relevante para se entender a polarização política, em todas as suas modalidades.

Portanto, os principais responsáveis pela polarização no Brasil são os eleitores mais interessados por política, afetivamente vinculados a partidos e mais participativos24 24 Outra forma um pouco mais intuitiva, e sem os controles estatísticos, de verificar essa concentração das formas de polarização nesses segmentos é pelo que apresentam os gráficos 18, 19 e 20, no Anexo. Se considerarmos como mais engajados os indivíduos com identificação partidária (27,6%), mais participativos (40,3%) e interessados por política (30,4%), vê-se facilmente quão determinantes são essas características para a polarização. Em todos os casos, a polarização ocorre com uma proporção de cerca de 10 pontos percentuais a mais nos grupos de eleitores com essas características do que no grupo sem elas. No caso da PAP, mais rara, existe entre os partidários, interessados por política e participativos quase o dobro de indivíduos polarizados do que entre os não partidários, desinteressados e menos participativos. . Isso pode ter contribuído para a formação do senso comum de que a sociedade brasileira está mais polarizada, quando, na realidade, a polarização, na medida em que ocorre, concentra-se em certos grupos.

Considerações finais

Como qualificar a polarização quando ela se manifesta como sentimentos negativos em relação ao opositor, mas não adquire um claro contorno ideológico? Como caracterizar a polarização quando ela emerge como tendência, mas se restringe a um ponto no tempo e resulta da radicalização de apenas um dos polos? E como abordar o fenômeno da polarização política em contextos em que os partidos não têm o monopólio da identidade política dos eleitores?

São esses os traços que emergem quando investigamos a polarização entre os eleitores brasileiros. Em conjunto, essas características nos mostram a importância de se levar em consideração fatores contextuais no estudo da polarização. A polarização política brasileira segue um padrão próprio e só é mensurável de forma adequada quando adicionamos às medidas convencionais, centradas nos partidos e nos partidários, as lideranças políticas e os eleitores em geral. Diferentemente dos Estados Unidos, onde a polarização protagonizada pelos dois partidos se intensifica há décadas, o que se observa no Brasil é um antagonismo afetivo recente e a radicalização ideológica da direita, apenas na sua dimensão simbólica. Ou seja, o antagonismo entre grupos políticos no Brasil é assimétrico, acompanhando a recente reorganização da direita e, desde 2006, a moderação do principal partido de esquerda do país. Por fim, as lideranças políticas são referências mais claras do que os partidos no caso brasileiro, como se esperaria em um sistema partidário fragmentado, instável e com uma frágil base social.

Ainda assim, em alguns aspectos, o Brasil segue o padrão comum identificado na literatura internacional. Um deles é o nítido antagonismo no campo afetivo. Além disso, o Brasil segue a tendência internacional (Abramowitz, 2010Abramowitz, A. I. The disappearing center: engaged citizens, polarization, and American democracy. London: Yale University Press, 2010.; Fiorina; Abrams, 2008Fiorina, M. P.; Abrams, S. J. “Political polarization in the American public”. Annual Review of Political Science, San Mateo, vol. 11, p. 563-588, jun. 2008.; Wagner, 2021Wagner, M. “Affective polarization in multiparty systems”. Electoral Studies, [S. l], vol. 69, 2021.) com a concentração da polarização nos grupos politicamente mais engajados. Ambas as formas de polarização afetiva (direcionada aos líderes e aos partidos) e o extremismo ideológico se associam positivamente com o interesse por política, o engajamento político e o partidarismo.

As evidências aqui apresentadas deixam clara a importância de medidas adaptadas às realidades locais para o estudo da polarização. Se tivéssemos usado aqui apenas as medidas de polarização em relação a partidos e tivéssemos como base apenas os eleitores partidários, nosso diagnóstico sobre a real polarização no país seria subestimado. Esperamos, assim, ter contribuído para futuros estudos sobre polarização em contextos em que ela não se assenta, exclusivamente, em clivagens partidárias.

É cedo, no entanto, para saber se a trajetória de antagonismo, ainda incipiente e parcial, vai conduzir à consolidação de uma sociedade politicamente polarizada. Para passarmos de uma condição relativa (mais polarizados do que no passado) para uma condição absoluta (“estamos polarizados”) é necessário que a tendência observada neste estudo se prolongue no tempo, que os eleitores de esquerda se desloquem para o extremo da escala ideológica e que haja um declínio de eleitores no centro. Ou seja, temos, no Brasil, uma polarização com muitos adjetivos (Collier; Levitsky, 1997Collier, D.; Levitsky, S. “Democracy with adjectives: conceptual innovation in comparative research”. World politics, Cambridge, vol. 49, nº 3, p. 430-451, 1997.). Deixamos para estudos futuros avaliarem se, ao falar de polarização afetiva ou ideológica, no Brasil, não corremos o risco de praticar “conceptual stretching” (Sartori, 1970Sartori, G. “Concept misformation in comparative politics”. The American political science review, Cambridge, vol. 64 nº 4, p. 1033-1053, 1970.), estendendo o conceito para incluir casos muito distantes de sua configuração original. Esperamos que novas pesquisas superem as limitações deste estudo, devido à pequena quantidade de issues e às medidas de desafeto que usamos. Uma grande contribuição seria incluir, entre os alvos de desafeto político dos questionários, perguntas mais diretas sobre os simpatizantes e eleitores dos partidos, como os petistas, além dos próprios partidos e lideranças políticas.

Uma agenda importante para o estudo da polarização no Brasil são as consequências da polarização ideológica entre as elites políticas sobre os eleitores. Alguns estudiosos mostram que ela pode produzir efeitos positivos, aumentando a compreensão e o engajamento político dos eleitores (Lachat, 2008Lachat, R. “The impact of party polarization on ideological voting”. Electoral Studies, Londres, vol. 27, nº 4, p. 687–698, dez. 2008.; Levendusky, 2010Levendusky, M. S. “Clearer cues, more consistent voters: a benefit of elite polarization”. Political Behavior, Berlim, vol. 32, nº 1, p. 111-131, mar. 2010.; Dalton, 2011Dalton, R. J., Left-right orientations, context, and voting choices. In: Dalton, R. J.; Anderson, C. J. (Eds.). Citizens, context, and choice: how context shapes citizens’ electoral choices. New York: Oxford University Press, p. 103-125, 2011.; Zechmeister; Corral, 2013Zechmeister, E.; Corral, M. “Individual and contextual constraints on ideological labels in Latin America”. Comparative Political Studies, Thousand Oaks, vol. 46, nº 6, p. 675–701, jun. 2013.; Singer, 2016Singer, M. “Elite polarization and the electoral impact of left-right placements: evidence from Latin America, 1995–2009”. Latin American Research Review, Pittsburgh, vol. 51, nº 2, p. 174-194, 2016.). Esse efeito, por sua vez, pode, ao favorecer a consolidação de vínculos ideológicos entre eleitores e partidos, fortalecer a responsividade eleitoral. Ocorre que, no país, a polarização predominante é de natureza afetiva. Isso é preocupante, pois a literatura sobre o assunto é quase unânime em destacar que a polarização entre os eleitores (McCoy; Rahman; Somer, 2018; Svolik, 2018Svolik, M. W. “When polarization trumps civic virtue: partisan conflict and the subversion of democracy by incumbents”. Available at SSRN: < https://ssrn.com/abstract=3243470 >, 2018.
https://ssrn.com/abstract=3243470...
, 2019Svolik, M. W. “Polarization versus democracy”. Journal of Democracy, Baltimore, vol. 30, nº 3, p. 20-32, jul. 2019.), principalmente a afetiva (Iyengar et al., 2019Iyengar, S. et al. “The origins and consequences of affective polarization in the United States”. Annual Review of Political Science, vol. 22, nº 1, p. 129–146, maio 2019.), produz efeitos nocivos para a democracia, dentre os quais se destaca o apoio a medidas autoritárias das lideranças políticas.

Anexo

Tabela 4
: Variáveis usadas nos modelos

Gráfico 14
: Evolução da atitude dos brasileiros ante o aborto em caso de risco à saúde materna, 2012 – 2019 (% do eleitorado)

Gráfico 15
: Evolução da atitude dos brasileiros ante o Estado ser dono das principais empresas e indústrias do país, 2008 – 2017 (% do eleitorado)29 29 Na escala de 1 a 7 em que os valores maiores representam que o entrevistado concorda que o Estado seja dono das principais empresas e indústrias nacionais, consideramos como “Concorda” aqueles que deram respostas iguais ou maiores que 5, como atitudes mais neutras aqueles que deram respostas iguais a 4, e como “Discorda” aqueles que deram respostas iguais ou menores que 3.

Gráfico 16
: Evolução da média das atitudes dos brasileiros diante do aborto em caso de risco à saúde da mãe, por identidade partidária, 2010-2019

Gráfico 17
: Evolução da média das atitudes dos brasileiros diante do Estado ser dono das principais empresas e indústrias do país, por identidade partidária 2008-201930 30 Na escala de 1 a 7, valores maiores representam posições mais favoráveis ao Estado empresário.

Gráfico 18
: Concentração da polarização por interesse por política

Gráfico 19
: Concentração da polarização por identidade partidária

Gráfico 20
: Concentração da polarização por participação política

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  • Svolik, M. W. “When polarization trumps civic virtue: partisan conflict and the subversion of democracy by incumbents”. Available at SSRN: < https://ssrn.com/abstract=3243470 >, 2018.
    » https://ssrn.com/abstract=3243470
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  • 1
    Uma versão preliminar deste artigo foi apresentada no 12º Encontro da ABCP e publicada, como preprint, no Reasearch Gate. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/346574826_Afeto_ou_ideologia_medindo_polarizacao_politica_no_Brasil. Acesso em: 13 de dez. de 2022.
  • 4
    Os estudos de Bello (2019)Bello, A. Petismo vs. antipetismo: evidências da polarização Política. In: Anais do 5° Workshop sobre Comportamento Político e Opinião Pública, Goiás, p. 1-26, 2019. e Ortellado, Ribeiro e Zeine (2022) são duas contribuições recentes importantes. Os resultados desses dois estudos, porém, não podem ser comparados com os deste artigo, uma vez que, em Bello (2019)Bello, A. Petismo vs. antipetismo: evidências da polarização Política. In: Anais do 5° Workshop sobre Comportamento Político e Opinião Pública, Goiás, p. 1-26, 2019., a análise se concentra prioritariamente no binômio petismo e antipetismo e, em Ortellado, Ribeiro e Zeine (2022), a polarização ideológica é analisada sem ter como referência o voto ou o partidarismo, como fazemos aqui.
  • 5
    Em realidade, como coloca Mason (2018)Mason, L. Uncivil agreement: how politics became our identity. Chicago: University of Chicago Press, 2018., as bases psicológicas da polarização partidária remontam, nos EUA, a um conjunto de características da psicologia humana que conduzem à formação de grupos e, consequentemente, a uma dinâmica de sentimentos favoráveis ao ingroup e desfavoráveis ao outgroup. Essa teoria nos permite pensar a polarização política sem assumir uma conformação partidária, necessitando apenas da existência de grupos com interesses conflitantes e fronteiras identitárias definidas.
  • 6
    Essas características ficam mais salientes e seus efeitos são mais visíveis em momentos de crise política, como o que cobre o final da série histórica analisada neste artigo. Mesmo a visão otimista de que estaria em curso um processo de estruturação da competição partidária (Melo; Câmara, 2012)Melo, C. R.; Câmara, R. “Estrutura da competição pela Presidência e consolidação do sistema partidário no Brasil”. Dados, Rio de Janeiro, v. 55, n. 1, p. 71-117, 2012., tendo como protagonistas o PT e PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), deixou de fazer sentido com a intensificação e os desdobramentos da crise de legitimidade dos partidos, a partir de 2013, criando condições propícias para um revival do personalismo e do populismo. O próprio Jair Bolsonaro é um caso emblemático disso: com passagem por diversos partidos, ele concorreu, nas eleições de 2018, por um partido até então inexpressivo e desconhecido (o Partido Social Liberal), com o qual ele rompeu assim que assumiu a presidência, passando a exercer o mandato sem estar filiado a nenhum partido.
  • 7
    Como não existem as mesmas pressões sociais para que os entrevistados amenizem a desafeição interpartidária que expressam em surveys, como ocorre quando o outgroup é definido por raça, por exemplo, e como, na retórica política, exageros são aceitáveis e até apropriados, é possível que a polarização partidária seja superestimada em comparação com a polarização entre outros grupos, como no caso de grupos raciais. Como, porém, não avançamos em comparações desse tipo, até mesmo porque não teríamos variáveis para fazê-lo, e como repetimos a mesma estrutura na construção das variáveis ao longo da série histórica, acreditamos que a variação que captamos está relativamente protegida dessa superestimação.
  • 8
    Segundo o Eseb, apenas 27,6% dos brasileiros respondem afirmativamente à questão sobre se há algum partido que representa a maneira como ele pensa e somente 28,1% se sentem próximos ou um pouco próximos de algum partido político. Apesar disso, para permitir um diálogo com a literatura e assegurar a robustez dos resultados, incluímos, no Anexo, os resultados obtidos pela análise dos grupos de partidários para todas as análises feitas com o Eseb.
  • 9
    Como teste de robustez adicional, incluímos outros dois issues: aborto e Estado empresário, no Anexo.
  • 10
    A descrição de todas as variáveis usadas nesta seção encontra-se na Tabela 2 do Anexo.
    Tabela 2
    : Variáveis usadas na construção das medidas descritivas[25]
  • 11
    Todas as variações a que nos referimos como indícios de polarização nesta seção são estatisticamente significantes a 95% de confiança, o que constatamos por meio de testes t student de diferenças de médias, apresentadas na Tabela 3 do Anexo.
    Tabela 3
    : Significância Estatística dos Testes T da seção descritiva.
  • 12
    No Gráfico 5, foram classificados como de esquerda aqueles que se autolocalizaram entre 0 e 3, centro entre 4 e 6 e direita entre 7 e 10. Ademais, neste gráfico, NS refere-se aos entrevistados que afirmaram não saber o que é esquerda ou direita e NA, aos que responderam “não sabe” ou não responderam à questão.
  • 13
    Na escala de 0 a 10, os valores maiores representam valores mais à direita e, os menores, mais à esquerda.
  • 14
    Na escala de 1 a 10, em que os valores maiores representam que o entrevistado aprova que os homossexuais tenham o direito de se casarem, classificamos como “aprova” as respostas iguais ou maiores que 8, como “neutro” as respostas entre 4 e 7 e como “desaprova” as respostas iguais ou menores que 3.
  • 15
    Na escala de 1 a 7, em que os valores maiores representam que o entrevistado concorda com a adoção de políticas firmes contra a desigualdade, classificamos como “concorda” as respostas iguais ou maiores que 5, como “neutro” as respostas iguais a 4, e como “discorda” as respostas iguais ou menores que 3.
  • 16
    Lembrando que os grupos de referência aqui são constituídos pelos partidários, uma vez que o Lapop não é um estudo eleitoral.
  • 17
    Nos gráficos 14, 15, 16 e 17, em anexo, incluímos dois outros issues: um sobre Estado como proprietário de empresas e indústrias nacionais e um sobre aborto em caso de risco à saúde da mãe. Os resultados são muito semelhantes a esses apresentados aqui: aumenta a divisão na sociedade, mas isso não se reflete em clivagens partidárias.
  • 18
    Na escala de 1 a 10, os valores maiores representam maior concordância com o direito dos casais homossexuais se casarem.
  • 19
    Na escala de 1 a 7, valores maiores representam maior concordância com a ideia de que o Estado adote políticas firmes de combate à desigualdade.
  • 20
    Considerando os dados da última rodada do Lapop, apenas 8,44% dos brasileiros se interessam por política, um valor inferior a boa parte de seus vizinhos como Argentina (20,68%), Uruguai (22,45%), Bolívia (12,43%), Paraguai (14,13%), Chile (10,01%) e mais ainda em relação aos Estados Unidos (42,46%) e Canadá (22,82%) (Lapop, 2019).
  • 21
    Marques (2020)Marques, P. H. “Dimensão e determinantes do pensamento ideológico entre os brasileiros”. Agenda Política, [S. l.], vol. 8, nº 1, p. 78-105, 2020. Disponível em: <https://www.agendapolitica.ufscar.br/index.php/agendapolitica/article/view/309. Acesso em: 06 nov. 2022.
    https://www.agendapolitica.ufscar.br/ind...
    já mostrou que apenas uma minoria dos eleitores brasileiros pode ser considerada como consistentemente de esquerda ou de direita e esse grupo é constituído pelos mais escolarizados, interessados por política e identificados com um partido.
  • 22
    Diferentemente da variável de polarização afetiva, a polarização ideológica não é uma medida de nível individual. Usamos, então, o extremismo ideológico como indicador, no nível individual, da polarização ideológica.
  • 23
    Os valores mostrados na Tabela 1 representam os valores exponenciados dos coeficientes das nossas variáveis independentes. De posse deles calculou-se as razões de chance a partir da seguinte fórmula: (exp(coef) -1)*100. Entre parênteses apresentamos também os erros-padrão.
  • 24
    Outra forma um pouco mais intuitiva, e sem os controles estatísticos, de verificar essa concentração das formas de polarização nesses segmentos é pelo que apresentam os gráficos 18, 19 e 20, no Anexo. Se considerarmos como mais engajados os indivíduos com identificação partidária (27,6%), mais participativos (40,3%) e interessados por política (30,4%), vê-se facilmente quão determinantes são essas características para a polarização. Em todos os casos, a polarização ocorre com uma proporção de cerca de 10 pontos percentuais a mais nos grupos de eleitores com essas características do que no grupo sem elas. No caso da PAP, mais rara, existe entre os partidários, interessados por política e participativos quase o dobro de indivíduos polarizados do que entre os não partidários, desinteressados e menos participativos.
  • 25
    Foram usadas as redações do ano de 2010. Pequenas variações do padrão são relatadas em notas de rodapé.
  • 26
    Nos anos 2014 e 2018, o valor 00 passou a vir acompanhado com o label “Não gosta de jeito nenhum”.
  • 27
    Nos anos 2014 e 2018, o valor 00 passou a vir acompanhado com o label “Não gosta de jeito nenhum”.
  • 28
    Pergunta aplicada a quem respondia que tinha algum partido que gostava mais. No ano de 2018, foi perguntado de qual partido a pessoa se sentia mais próxima.
  • 29
    Na escala de 1 a 7 em que os valores maiores representam que o entrevistado concorda que o Estado seja dono das principais empresas e indústrias nacionais, consideramos como “Concorda” aqueles que deram respostas iguais ou maiores que 5, como atitudes mais neutras aqueles que deram respostas iguais a 4, e como “Discorda” aqueles que deram respostas iguais ou menores que 3.
  • 30
    Na escala de 1 a 7, valores maiores representam posições mais favoráveis ao Estado empresário.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Fev 2023
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2022

Histórico

  • Recebido
    17 Jun 2021
  • Aceito
    5 Out 2022
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