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Literatura e Imagologia: uma interação produtiva: a contribuição da comparatística da Universidade de Aachen

Literature and Imagology: a productive interaction: the contribution of comparative literature at the University of Aache

Resumos

A Universidade de Aachen abrigou durante anos o principal centro de Estudos Imagológicos da Alemanha e talvez do mundo. O centro foi fundado por Hugo Dyserinck, que, em 1966, com o artigo "Zum Problem der 'images' und 'mirages' und ihrer Untersuchung im Rahmen der vergleichenden Literaturwissenschaft" abriu as portas para uma nova Imagologia. Ali reuniu discípulos, que desbravaram os novos horizontes com inúmeras pesquisas, que deram origem à publicação da coleção "Aachener Beiträge zur Komparatistik". No Brasil, a influência de Dyserinck também se fez sentir, por exemplo, na publicação do livro Do cá e do lá. Introdução à Imagologia, de minha autoria, cujo conteúdo é aqui, em parte, comentado e ilustrado.

Imagologia; Literatura Comparada; Hugo Dyserinck


The University of Aachen harbored for years the main centre of Studies on Imagology of Germany and perhaps of the world. The Center was founded by Hugo Dyserinck, who, in 1966, with the article "Zum Problem der 'images' und 'mirages' und ihrer Untersuchung im Rahmen der vergleichenden Literaturwissenschaft" opened the doors to a new Imagology. He gathered there disciples, who roamed the new horizons with extensive research, which led to the publication of the collection "Aachener Beiträge zur Komparatistik". In Brazil, the influence of Dyserinck was also felt, for example, in the publication of my book Do cá e do lá. Introdução à Imagologia, whose content is in part commented and illustrated.

Imagology; Comparative Literature; Hugo Dyserinck


LITERATURA

Literatura e Imagologia: uma interação produtiva. A contribuição da comparatística da Universidade de Aachen

Literature and Imagology: a productive interaction. The contribution of comparative literature at the University of Aache

Celeste H. M. Ribeiro de Sousa

Pós-doutora em Teoria Literária e Literatura Comparada e doutora em Língua e Literatura Alemã. Coordena o grupo de pesquisa RELLIBRA - www.rellibra.com.br - e atua na Pós-Graduação em Literatura Alemã da FFLCH da Universidade de São Paulo. Email: celeste@usp.br

RESUMO

A Universidade de Aachen abrigou durante anos o principal centro de Estudos Imagológicos da Alemanha e talvez do mundo. O centro foi fundado por Hugo Dyserinck, que, em 1966, com o artigo "Zum Problem der 'images' und 'mirages' und ihrer Untersuchung im Rahmen der vergleichenden Literaturwissenschaft" abriu as portas para uma nova Imagologia. Ali reuniu discípulos, que desbravaram os novos horizontes com inúmeras pesquisas, que deram origem à publicação da coleção "Aachener Beiträge zur Komparatistik". No Brasil, a influência de Dyserinck também se fez sentir, por exemplo, na publicação do livro Do cá e do lá. Introdução à Imagologia, de minha autoria, cujo conteúdo é aqui, em parte, comentado e ilustrado.

Palavras-chave: Imagologia; Literatura Comparada; Hugo Dyserinck.

ABSTRACT

The University of Aachen harbored for years the main centre of Studies on Imagology of Germany and perhaps of the world. The Center was founded by Hugo Dyserinck, who, in 1966, with the article "Zum Problem der 'images' und 'mirages' und ihrer Untersuchung im Rahmen der vergleichenden Literaturwissenschaft" opened the doors to a new Imagology. He gathered there disciples, who roamed the new horizons with extensive research, which led to the publication of the collection "Aachener Beiträge zur Komparatistik". In Brazil, the influence of Dyserinck was also felt, for example, in the publication of my book Do cá e do lá. Introdução à Imagologia, whose content is in part commented and illustrated.

Keywords: Imagology; Comparative Literature; Hugo Dyserinck.

1. A Universidade de Aachen e Hugo Dyserinck

Numa época de particular dificuldade vivida pela Literatura Comparada (e pela Imagologia, sua primeira vertente derivativa) em sua eterna queda de braço com as filologias numa Europa multinacional e multinacionalista, Hugo DYSERINCK, belga e flamengo, fundou, em 1967, na Universidade de Aachen (Rheinisch-Westfälische Technische Hochschule Aachen – RWTH), na Alemanha, o Instituto de Comparatística (Lehr- und Forschungsgebiet Komparatistik). Foi Hugo Dyserinck quem também criou uma coleção de livros provenientes de pesquisas ali desenvolvidas, a que deu o nome de "Contribuições de Aachen à Comparatística" (Aachener Beiträge zur Komparatistik), cujo primeiro volume é do próprio Dyserinck e tem o título Komparatistik - Eine Einführung, em que um dos capítulos é dedicado à Imagologia. A coleção conta hoje com nove volumes, publicados pela editora Bouvier de Bonn, devendo o próximo reunir os pronunciamentos feitos durante a International conference "Imagology today: achievements, challenges, perspectives", organizada pelo croata Davor Dukić e realizada em Zagreb de 2 a 4 de setembro de 2009.

Entre os vários pesquisadores formados sob a orientação de Dyserinck, destacam-se Manfred S. FISCHER (Nationale Images als Gegenstand vergleichender Literaturgeschichte), Karl Ulrich SYNDRAM (Die "Rundschau" der Gebildeten und das Bild der Nation) e Joseph (Joep) Theodor LEERSSEN (Komparatistik in Großbritannien 1800-1950). Este último, por exemplo, ganhou em 02 de junho de 2008, do governo holandês, o prestigioso Prêmio Spinoza por sua obra focada em questões imagológicas e na problemática das identidades e nacionalidades. Sob a "orientação à distância" de Dyserinck e com bibliografia por ele recomendada também desenvolvi minhas investigações de cunho imagológico.

Hugo DYSERINCK foi homenageado em 1992 com a Festschrift intitulada Europa provincia mundi: essays in comparative literature and European studies offered to Hugo Dyserinck on the occasion of his sixty-fifth birthday, organizada por SYNDRAM e LEERSSEN. Também em 2007, Manfred BELLER e Joep LEERSSEN dedicaram a Hugo Dyserinck o livro Imagology. The cultural construction and literary representation of national characters. A critical survey. A obra não só apresenta, na primeira parte, cinco ensaios sobre a natureza da Imagologia, a saber, "Perception, image, imagology", de Manfred BELLER; "Imagology: history and method", de Joep LEERSSEN (assuntos também examinados por mim em Do cá e do lá: introdução à Imagologia, publicado 2004); "Ethnic images in classical Antiquity", de Wilfried Nippel; "Medieval peoples imagined", de Peter Hoppenbrouwers, e "The poetics and anthropology of national character (1500-2000)", do próprio LEERSSEN; como ainda apresenta, na segunda parte, um primeiro levantamento (lacunar), em ordem alfabética, dos povos/nações/regiões, cujas imagens literárias foram objeto de pesquisas. é evidente que não se trata de uma exposição exaustiva; de certo, as dificuldades e mesmo barreiras impostas por línguas estrangeiras devem ter impedido o alcance de tal pesquisa. Há ainda uma terceira parte constituída por verbetes explicativos de termini instrumentais da Imagologia, em ordem alfabética, cujo objetivo é precisar a definição de conceitos como antropologia, colonialismo, exotismo, identidade/alteridade/hibridismo, i m agem, mass media, pós-colonialismo, estereótipo, artes visuais, etc. Ao final do livro, há uma bibliografia bastante rica sobre o assunto.

Hugo Dyserinck é, assim, lembrado na área da Literatura Comparada e da Imagologia, porque em 1966 fez publicar o artigo "Zum Problem der 'images' und 'mirages' und ihrer Untersuchung im Rahmen der vergleichenden Literaturwissenschaft" e com ele construiu, no âmbito da Literatura Comparada e Imagologia, um divisor de águas, fundando o que se pode chamar de nova Imagologia, uma Imagologia enraizada e tecida nas malhas do texto literário. Diz o autor:

Als erstes möchten wir dabei feststellen, daß es nachweislich Fälle gibt, bei denen ein "mirage" oder "image" im Rahmen eines bestimmten literarischen Werkes eine derart "werkimmanente" Rolle spielt, daß man auch bei einer eindeutigen Beschränkung auf sogenannte "innerliterarische" Forschung gezwungen ist, sich mit ihm zu befassen, wenn man das betreffende Werk in seiner Bedeutung vollständig erfassen und es entsprechend in den größeren Zusammenhang der Literaturgeschichte einordnen will. Freilich sind die Werke, in denen die Bilder eine solche Rolle spielen, nicht gerade Legion, aber es gibt sie. Und in bestimmten Epochen der Literaturgeschichte gibt es sie häufiger als in anderen. Die Romantik kannte solche "mirages". Und auch in der Literatur des XX. Jahrhunderts kann man ihnen begegnen. (DYSERINCK 1966: 110).

1 1 Primeiramente, queremos afirmar que há casos comprovados em que uma mirage ou image tem, no contexto de uma determinada obra literária, uma função intrínseca ao texto, sendo, portanto, obrigatório dela tratar, nos limites inequívocos da assim chamada pesquisa interna, se se quiser captar cabalmente o dito texto em todo o seu significado e, de modo correspondente, no contexto maior da história da literatura. Certamente, as obras em que as imagens desempenham tal papel não são abundantes, mas elas existem e, em determinadas épocas da literatura, ocorrem com maior freqüência do que em outras. O Romantismo conheceu essas mirages. E podemos também encontrá-las na literatura do século XX. (Trad. ZIMBER 2005: 3).

No ensaio "Zur Entwicklung der komparatistischen Imagologie", de 1988, DYSERINCK também desenvolve dois conceitos cruciais e diferenciadores de seu trabalho no âmbito da Literatura Comparada e da Imagologia: o de "perspectiva supranacional" e o de "neutralidade cultural". Foram estes conceitos, aliás, que o levaram a deixar, em 1967, a cátedra que ocupava na universidade holandesa de Groningen, para se estabelecer em Aachen, na Alemanha, um estratégico lugar de encontro de várias culturas, na fronteira com a França, a Bélgica e os Países-Baixos, um verdadeiro laboratório intelectual, um espaço do "laboratório Europa", como lhe chamou DYSERINCK no artigo "Komparatistische Imagologie. Zur politischen Tragweite einer europäischen Wissenschaft von der Literatur", também de 1988. Esclarece o autor:

Das komparatistische Arbeitsfeld, wie wir es in unserem Programm auffassen, ist in der Tat alles andere als jenes ideologisch vorgeprägte Modell einer "Nation Europa" oder einer supranationalen Großraumnation, in deren Dienst unser Forschen sich zu stellen hätte, so wie beispielweise in der Vergangenheit eine deutsche Germanistik es als eine "Ehrenpflicht" betrachtete, sich in den Dienst eines deutschen Reiches zu stellen. [ ]

Unsere Konklusion darf in diesem Zusammenhang daher lauten: Nicht "Nation Europa", sondern "Laboratorium Europa" – für eine Wissenschaft mit einer politischen Tragweite, die sich letztlich in Imagologie voll entfaltet, kritisch-rationalistisch orientiert ist und durchaus darauf bedacht, weder aufs neue in den Geist des Nationalismus des 19. Jahrhunderts noch in neue Formen nationalistischen Denkens zu verfallen.

Und "Laboratorium Europa" auch für eine Forschung, die mittels ihres kritisch-rationalistischen Verfahrens sowie auf Grund ihrer multinationalen literaturhistorischen Kenntnisse bestens ausgerüstet ist, um nicht nur die verschiedenen Modelle nationalen Selbstverständnisses in Europa zu untersuchen, sondern auch die diversen Formen des europäischen Bewußtseins selbst. Denn die Literatur hat nicht nur an der Entwicklung des nationalen Denkens einen immensen Anteil gehabt, auch das Interesse an der Entwicklung eines europäischen Selbstverständnisses wurde von der Literatur und von solchen, die sich mit Literatur befaßten, angestrebt und gefördert. (DYSERINCK 1988:32-33)2 2 O campo de trabalho comparatista, tal como é tratado em nosso programa, é na realidade tudo menos aquele modelo de cunho ideológico ligado à idéia de uma "nação européia" ou de uma nação enquanto grande-espaço-supranacional, a cujos serviços se colocariam os nossos pesquisadores, como por exemplo no passado aconteceu com uma certa germanística alemã, que considerava questão de honra estar a serviço do império alemão. [...] Nossa conclusão, neste contexto, é a seguinte: não há "nação Europa", mas "laboratório Europa" para a realização de uma ciência com alcance político que, no fundo, se desenvolve plenamente na imagologia, de orientação crítico-racionalista, e sem o pensamento voltado para o espírito do nacionalismo do século XIX ou para novas formas de pensamento nacionalista. // E o "laboratório Europa" também serve a uma pesquisa que, através de seus procedimentos crítico-racionalistas, bem como de seus fundamentos alicerçados em conhecimento multinacional histórico-crítico, acaba por ficar equipada da melhor maneira, não só para examinar os diversos modelos da consciência nacional na Europa, mas também as várias formas da própria consciência européia. Pois a literatura teve uma imensa participação não apenas no desenvolvimento do pensamento nacional; teve também interesse pelo desenvolvimento de uma mentalidade européia, desejado e por ela fomentado, bem como por aqueles que dela se ocupavam. (Trad.Torres 2005:44,45). .

Vinculado a este "laboratório Europa" está o seu conceito de "perspectiva supranacional", que, segundo ele, compreende uma perspectiva indispensável à análise imagológica, e implica uma perspectiva que, não ignorando as diferenças, focalize bem, dê ênfase às semelhanças, ou melhor dizendo, aos fenômenos em comum - fenômenos europeus - que, em um plano mais amplo poderiam, a meu ver, talvez revelar-se universais e, portanto, uma perspectiva que poderia ser instrumentalizada no Brasil, na América Latina, no Mercosul. Seu conceito de "neutralidade cultural" está intrinsecamente ligado à natureza da "perspectiva supranacional" e detém-se na ideia de um esprit européen, em que as fronteiras regionais, nacionais e nacionalistas, quer políticas, quer culturais, são ultrapassadas e alcançam um superior patamar de civilização. Segundo DYSERINCK (1988: 23),

[e]s ging gleichzeitig auch um die ebenso langsam sich durchsetzende Einsicht in die Notwendigkeit, bei jeglicher komparatistischer Arbeit einen auf der Basis "kultureller Neutralität" beruhenden echten "supranationalen Standort" einzunehmen; [...]

[Die Fragen] hatten vielmehr zu lauten: Wie sehen sich (etwa) Deutsche, Franzonen, Engländer usw. jeweils gegenseitig, und welche Lehren sind aus diesem Netz von Vorstellungen, Mißverständnissen, Abgrenzungsversuchen usw. für das Verständnis des betreffenden multinationalen (z. B. innereuropäischen) Mechanismus von nationalen Hetero- und Autoimages zu ziehen? Und auch: Wie können diese auf multinationaler Ebene erworbenen Einblicke letztlich in den Dienst einer besseren Kenntnis der Rolle und Bedeutung dieser Prozesse für die Menschheit überhaupt gestellt werden? .3 3 [t]ratava-se, simultaneamente, da percepção, que lentamente se impunha, da necessidade de se empregar "uma perspectiva verdadeiramente supracional", com base em uma "neutralidade cultural" em todo trabalho de comparação;[...] [As perguntas] deveriam ser muito mais da seguinte ordem: como se vêem, por exemplo, os alemães, os franceses e os ingleses uns aos outros? E o que se pode aprender desta rede de imagens, mal-entendidos e limitações, etc. para uma melhor compreensão do mecanismo multinacional (por exemplo, dentro da Europa) de hetero e autoimagens nacionais? E também: como podem esses conhecimentos, adquiridos em uma base supranacional, ser empregados para melhorar a compreensão do papel e do significado desses processos para a humanidade? (Trad. Fonseca 2005: 40).

Todavia, trata-se de dois conceitos que traduzem posições ideais, idealistas, impossíveis, no meu modo de ver, de serem atingidas, porque, no caso da "perspectiva supranacional" e da "neutralidade cultural", não há como cortar do indivíduo suas raízes, as circunstâncias que lhe moldaram as primeiras décadas da existência, que o manterão ligado a determinada identidade grupal/cultural, que, certamente, interferirá em sua visão de mundo, em seus julgamentos. Além disso,

[d]epois que a teoria da recepção resgatou a importância do leitor na atualização e reatualização do texto e legitimou todas as leituras possíveis (desde que, por sua vez, sejam passíveis de ser compartilhadas), valorizando o sujeito em suas circunstâncias, bem como suas múltiplas leituras, e depois que a hermenêutica (Gadamer e Witte) mostrou ser impossível resgatar o sentido primeiro do texto, cabe a pergunta de como, ou em que medida, se poderia falar em perspectiva supranacional, ou em neutralidade cultural? (Na hermenêutica, o leitor-intérprete - o hermeneuta - continua a escrever o texto, põe em foco sua leitura e a sua discussão com outras leituras, não existe mais um final teleológico, uma interpretação verdadeira, mas apenas justificativas melhores para uma nova proposta de leitura. A hermenêutica exige sempre a reflexão sobre o efeito da subjetividade irredutível no problema do método). [...] [Assim, cabe à] imagologia trabalhar com os vieses inevitáveis, impostos por todas as leituras possíveis e discuti-los. Só neste processo, talvez mais penoso e difícil de controlar, seja possível a aproximação ao outro e a aproximação do outro em relação a nós. (SOUSA 2004: 73).

Em outras palavras: os conceitos de "perspectiva supranacional" e de "neutralidade cultural" não podem ser tomados em uma acepção absoluta; devem ser relativizados e, desse modo, cultivados.

Antes de 1966, isto é, antes de Hugo Dyserinck publicar o artigo "Zum Problem der 'images' und 'mirages' und ihrer Untersuchung im Rahmen der vergleichenden Literaturwissenschaft", imperava na área de Literatura Comparada (e Imagologia) um grande silêncio, desencadeado em 1953 pelos polêmicos pronunciamentos de René Wellek: "The concept of comparative literature", durante o primeiro congresso da ICLA (International Comparative Literature Association), ocorrido em Veneza, e depois, em 1958, durante o segundo congresso da mesma associação em Chapel Hill, com a comunicação "The crisis of comparative literature". René Wellek levantou toda uma celeuma, baseado nas novas perspectivas literárias elaboradas pelo "New Criticism" americano, bem como pelos formalistas russos e pelos linguistas do Círculo de Praga, com sua defesa do texto literário como artefato fechado em si mesmo, com a exigência da "close reading" e com a ênfase exclusiva na imanência do texto. Entretanto, havia nesta celeuma alguns equívocos, tal como se reconhece hoje: o texto literário constitui apenas um elemento dentro de um complexo processo de comunicação, em que nem o autor, nem o leitor e suas circunstâncias podem ser descartados. Assim, também ao enfatizar tão veementemente que à Literatura Comparada não cabia fazer o que se dizia ser da alçada da "psicologia dos povos", Wellek declara a sua não aceitação da Literatura Comparada (Imagologia) como cientificamente legitimada. Fato é que o peso e a repercussão das demais obras de Wellek sobre teoria da literatura e sobre a história da crítica literária em vários volumes, ao desviarem para si a atenção, parecem ter contribuído para a falta de uma discussão entre o Wellek da controvérsia e o Wellek posterior de A History of Modern Criticism: 1750-1950, publicada de 1955 a 1965. Tal descompasso deve ter contribuído para a estabilização dos "equívocos", provocando, dessa forma, um "recesso" geral ainda maior, não só da Literatura Comparada, como também da Imagologia (talvez à exceção da França). Em "Zum Problem der 'images' und 'mirages' und ihrer Untersuchung im Rahmen der vergleichenden Literaturwissenschaft", DYSERINCK, respaldado pela bagagem crítica herdada dos comparatistas franceses, corrige a argumentação de Wellek, afirmando:

Für die weitere Beschäftigung mit den "images" und "mirages" spricht jedenfalls dreierlei:

1- Ihr Vorhandensein in gewissen literarischen Werken;

2- Die Rolle, die sie bei der Verbreitung von Übersetzungen oder auch Originalwerken außerhalb deren jeweiligen nationalliterarischen Entstehungsbereichs spielen;

3- ihre vorwiegend störende Anwesenheit in der Literaturwissenschaft und –kritik selbst. (DYSERINCK 1966: 119).4 4 Para a futura investigação das images e mirages é preciso, de qualquer maneira, levar em conta três fatores: 1. Sua existência em determinadas obras da literatura. 2. O papel que desempenham na divulgação de traduções ou também de obras originais fora do âmbito nacional literário onde se originaram. 3. Sua presença preponderantemente perturbadora na ciência e crítica literárias. (Trad. ZIMBER 2005: 10).

De fato, desde os tempos primordiais, um povo mostra interesse por outro povo, ou porque dele precisa se proteger, ou porque com ele quer entrar em contato. Nesse processo de observação, constrói uma imagem do povo observado. Esse interesse por outros povos, apresentado por mim em maior detalhamento em Do cá e do lá. Introdução à Imagologia, tornou-se tema de várias obras literárias, que vão deixando registrados determinados perfis deste ou daquele grupo/país. Durante o Romantismo, por exemplo, acreditava-se possuir cada povo características próprias, características estas representadas em sua literatura ou, melhor dizendo, na literatura produzida por aqueles considerados seus expoentes, seus cânones. Portanto, estudar as obras consideradas canônicas de uma literatura, significava poder conhecer a psicologia de seu povo, traçar a sua identidade. Os equívocos criados e alimentados dessa forma são múltiplos e muitos predominam até hoje. Com estes mal-entendidos os estudiosos de Literatura Comparada sempre se preocuparam, de uma maneira ou de outra, principalmente, os franceses, como Hippolyte TAINE, émile HENNEQUIN, Fernand BALDENSPARGER, Paul HAZARD, Joseph TEXTE, Gustav LANSON, Paul Van TIEGHEN, Emile CAMMAERTS, René LOTE, Jean-Marie CARRÉ, Marius-François GUYARD. Também o suíço Louis-Paul BETZ, o italiano Arturo GRAF e os americanos George WOODBERRY e Frank CHANDLER, entre outros (Cf. Referências Bibliográficas).

Diríamos, para fazer um breve apanhado que balize o período anterior a Dyserinck, que, num primeiro momento macro, para Taine, o determinismo absoluto que pontua seu tempo, faz da Literatura Comparada e, portanto, da Imagologia literária, um mero documento da etnopsicologia. Se é na literatura que se encontram os registros dos comportamentos humanos e se o comportamento dos homens, para este historiador francês, é mecanicamente determinado pelo meio, pela raça e pelo momento histórico, para traçar o perfil psicológico de um povo ou de um grupo, basta investigar sua produção literária e compará-la com a de outros grupos ou povos. Em Nouveaux essais de critique et d'histoire (1865), Taine elabora a oposição entre a "Romania" dos franceses e a "Germania" dos alemães, na esteira de Madame de Staël, que em seu livro D'Allemagne (1810) também teceu uma imagem da Alemanha romanticamente voltada para a filosofia e as artes, em oposição a uma imagem neo-clássica da França.

O trabalho de Hennequin, conforme constata Manfred FISCHER em Nationale Images als Gegenstand Vergleichender Literaturgeschichte (1981), propõe a construção de uma história da recepção da literatura em vez da história de sua produção. Para Hennequin, ao contrário de Taine, o homem não é um produto previsível, mas um feixe de variáveis difíceis de precisar. Também a literatura não é vista como registro de comportamentos, mas como a expressão de uma língua. A obra literária desenvolver-se-ia num processo comunicativo entre um autor/emissor e um leitor/receptor. A existência da obra literária ou sua sobrevivência dependeria de sua ação sobre a imaginação dos leitores, ou melhor, da reação dos leitores à sua leitura. HENNEQUIN, ao apreciar, comparar e historiar as reações dos leitores a uma determinada obra, faz uma leitura da psique coletiva nessa recepção. Por exemplo, em écrivains francisés (1889), investiga os escritores estrangeiros traduzidos, lidos e bem sucedidos na França (Dickens, Heine, Tourguénef, Poe, Dostoievski, Tolstoi), tipificando-os.

Também segundo Fischer no livro atrás citado, Joseph TEXTE tem toda uma obra voltada para o estudo das relações literárias entre a França, a Inglaterra, a Itália, a Alemanha, a Espanha, examinando imagens nacionais, dando atenção especial aos conceitos de influência e de apropriação. études de littérature européene (1898) é um desses livros.

LANSON, WOODBERRY, CHANDLER e GRAF, que também são abordados no já citado Do cá e do lá. Introdução à Imagologia (Cf. SOUSA 2004), esforçam-se por superar o determinismo; no entanto, não conseguem deixar de dar orientação social-psicológica a seus estudos comparativistas e imagológicos.

BALDENSPARGER e HAZARD, de acordo com a mencionada investigação de FISCHER (1981), tentam avançar nesse processo de superação e dão à Comparatística, e consequentemente à Imagologia, o status de um "novo humanismo", de uma instância corretora dos mal-entendidos nacionais no contexto das relações internacionais. Têm em mente, porém, ainda a compreensão dos povos a partir da perspectiva etnopsicológica. Os seus estudos imagológicos continuam, em última instância, a serviço da etnopsicologia e acabam alimentando teorias racistas que, entre outros, definem e classificam os povos em inferiores e em superiores.

Um segundo momento macro é marcado por Jean-Marie CARRÉ (referido por Manfred Fischer em Nationale Images als Gegenstand Vergleichender Literaturgeschichte, 1981), que faz inserir de maneira ostensiva o estudo das imagens nacionais no programa de Literatura Comparada francesa, e por seu discípulo Marius-François GUYARD. Jean-Marie Carré introduz academicamente os estudos imagológicos na área de Literatura Comparada, reconhecendo a variabilidade e a mutabilidade das imagens e estabelecendo a distinção entre imagens e miragens. Não obstante, não consegue se desvencilhar de todo do apelo etnopsicológico. Entre seus vários estudos, são significativos Images d'Amérique (1922) ou Voyageurs et écrivains français en égypte (1932).

Marius-François GUYARD, discípulo de Carré, embora seja o primeiro a introduzir em sua Literatura Comparada (1951) um capítulo exclusivo sobre Imagologia, intitulado "L'étranger tel qu'on le voi", também incorre na subordinação da Imagologia aos interesses da instância "psicológico-coletiva", imaginando poder, assim, equacionar os problemas resultantes da existência de preconceitos e prejulgamentos nas relações internacionais.

Diríamos que, até os anos de 50, as imagens de países configuradas em obras literárias são examinadas como se representassem relações coletivas de cunho histórico-social: ainda não existem preocupações com reflexões teóricas a propósito da problemática em questão. A pesquisa imagológica é praticada através de exame puramente descritivo.

Depois de Carré e Guyard há uma espécie de interregno, dominado pelas mencionadas declarações e dúvidas de Wellek, que vai de 1953 a 1966, um espaço de tempo em que se repensa a questão colocada, uma vez que Wellek, como se viu acima, em Congressos de Literatura Comparada (1953 e 1958) desacreditou a Literatura Comparada e a Imagologia literária como campos de estudo pertinentes ao âmbito da literatura. Diz DYSERINCK no citado ensaio "Zum Problem der 'images' und 'mirages' und ihrer Untersuchung im Rahmen der vergleichenden Literaturwissenschaft":

Was damals geschah, ist in den Fachkreisen hinreichend bekannt geworden: Amerikas führender Komparatistik René Wellek reagierte im II. Band des Yearbook of Comparative and General Literature (1953) mit einer vielbeachteten Kritik an der Entwicklung der französischen Komparatistikauffassung und richtete sich auch noch einmal auf dem 2. Kongreß der I.C.L.A. (Chapel Hill, 1958) mit allem Nachdruck gegen das, was er sowohl an der herkömmlichen französischen Arbeitsweise als auch an ihren neuen Vorschlägen als einen Irrweg betrachtete. Auch die Frage des "Bildes vom andern Land" wurde dabei angeschnitten bzw. sogar an zentraler Stelle behandelt. Wellek wies u. a. auf die Gefahr der Entgleisung in Entartungserscheinungen, wie sie die Stoffgeschichte erlebt hatte, hin und warnte auch mit allem Nachdruck vor der Möglichkeit, daß sich die Komparatistik, wenn sie auf Guyards und Carrés Vorschlag einginge, zu einer Art von Hilfswissenschaft im Dienste der internationalen Beziehungen entwickeln könnte. Er stellte fest, die von Carré und Guyard empfohlene Erforschung von "mirages" und "images" gehöre überhaupt nicht zum Aufgabenbereich der Literaturwissenschaft. (DYSERINCK 1966: 108-109).5 5 "O que aconteceu na época tornou-se amplamente conhecido nos círculos profissionais: René Wellek, o pesquisador mais representativo dos EUA no campo da literatura comparada, no 2º volume do Yearbook of comparative and general literature (1953), reagiu com uma crítica, muito divulgada, ao desenvolvimento da concepção francesa de literatura comparada e, no 2º Congresso da I.C.L.A. (Chapel Hill, 1958), dirigiu-se mais uma vez, de forma enérgica, contra aquilo que considerava um desvio, tanto nas posições tradicionais dos franceses, quanto nas suas novas propostas. Também a questão relativa à imagem do outro país foi abordada, e até focalizada de forma destacada. Wellek apontou, entre outras coisas, para o perigo do desvio em direção a fenômenos degenerativos, como havia acontecido com a Stoffgeschichte. Wellek advertiu, também expressamente, para a possibilidade de a literatura comparada vir a tornar-se uma espécie de ciência auxiliar a serviço das relações internacionais, caso se aceitassem as propostas de Guyard e Carré. Wellek constatou que a pesquisa das mirages e images, tal como sugerida por Carré e Guyard, não era nem mesmo tarefa da ciência literária." (Trad. ZIMBER 2005: 2).

É possível observar que todos os estudiosos citados antes de Wellek, ora mais ora menos intensamente, relacionam as imagens de um país à "psicologia dos povos", à chamada "alma de uma nação", ou seja, acabam acreditando que as imagens realmente veiculam caráteres nacionais e que, portanto, o principal objetivo da Imagologia é chegar exatamente ao desenho do perfil psicológico dos grupos nacionais. Este alcance psicológico-coletivo, esta falta de clareza do objeto de pesquisa, do rigor de um método preciso, em tais estudos, levou a Literatura Comparada e a Imagologia literária ao descrédito, na medida em que estas foram empurradas para as proximidades de perigosas e fascistas nuances do conceito de "caráter nacional".

É justamente este ponto que René Wellek, tal como Dyserinck refere nos textos aludidos, muito pertinentemente põe em evidência, ao questionar a relação entre um estudo etnopsicológico e a análise textual de uma obra poética. E, neste ponto, considerado o caldo teórico da época, ele tem razão: a tarefa precípua do crítico literário não é pesquisar textos poéticos com objetivos etnopsicológicos. Porém, o arcabouço teórico expandiu-se e renovou-se com o tempo.

Em 1966, Hugo Dyserinck, no mencionado e decisivo artigo "Zum Problem der 'images' und 'mirages' und ihrer Untersuchung im Rahmen der vergleichenden Literaturwissenschaft", vem a campo rebater as estabilizadas afirmações de Wellek nos citados congressos, seguindo o seguinte raciocínio: será que é mesmo verdadeiro que a Imagologia literária, como tal, pertence a um campo de estudos especificamente extraliterários? Será que o fato de existirem determinados aspectos da pesquisa imagológica que podem ser aproveitados por áreas além das fronteiras da literatura é razão suficiente para que os comparatistas deixem de se preocupar com ela? A reflexão de Wellek peca não só por deixar de lado os múltiplos aspectos da Imagologia que, desde sempre, têm sido computados na área de interesse da literatura, mas também por ignorar aqueles que são considerados literários até mesmo na perspectiva específica e tão cara a René Wellek, isto é, aqueles que são imanentes à obra. Para DYSERINCK,

[die Frage] hätte vielmehr lauten müssen: Hat die Erforschung der "mirages" und "images" für die Literaturwissenschaft im allgemeinen und die Komparatistik im besonderen noch irgendeinen Sinn, der nichts mit primär soziologischen, völkerpsychologischen oder politischen Anliegen zu tun hat, bzw. gibt es "mirage"- und "image"- Forschung, die sich im Rahmen einer auf Eigenständigkeit bedachten Komparatistik als nützlich oder gar notwendig erweist? (DYSERINCK 1966: 109-110).6 6 "[a pergunta] deveria ser antes de tudo: a pesquisa das mirages e images tem ainda algum sentido para a pesquisa literária em geral ou para a literatura comparada em particular, algum sentido que não tenha nada a ver com aspectos primariamente sociais, psicológicos nacionais ou políticos, ou seja, existe uma pesquisa das mirages e images útil ou necessária dentro do âmbito de uma literatura comparada autônoma?" (Trad. ZIMBER 2005: 3).

Em relação aos elementos imanentes à obra, Dyserinck lembra os inúmeros casos comprovados na literatura, qualquer que seja sua expressão linguística, em que há imagens de povos e/ou de países que, de tão estreitamente ligadas tanto ao conteúdo quanto à forma de determinadas obras, interagem no seu significado global, de forma que, se não se levar em conta a análise e interpretação dessas imagens, não se chegará à compreensão satisfatória das obras. Isto vale especialmente para aqueles textos nos quais a configuração de estrangeiros ou do estrangeiro ocupa um inequívoco lugar matricial. Menciona Dyserinck, no artigo citado, o antológico caso de Mme. de Staël, que com sua obra De l'Allemagne criou, de seu ponto de vista de francesa perseguida por Napoleão, uma edulcorada imagem da Alemanha, que repercutiu mundo afora, ganhando cores de verídica durante um século.

É tarefa da Imagologia desvendar a estrutura linguística de tais construções imagológicas, suas origens, as circunstâncias político-culturais em que foram concebidas e o propósito com que foram utilizadas.

Sobre este campo de estudos, Hugo Dyserinck publicou vários textos, além de "Zum Problem der 'images' und 'mirages' und ihrer Untersuchung im Rahmen der vergleichenden Literaturwissenschaft" (1966) e Komparatistik. Eine Einführung (1977). Entre eles, devem ser citados "Die Quellen der Négritude-Theorie als Gegenstand komparatistischer Imagologie" (1980), "Komparatistische Imagologie jenseits von 'Werkimmanenz' und 'Werktranszendenz'" (1982), "Komparatistische Imagologie. Zur politischen Tragweite einer europäischen Wissenschaft von der Literatur" (1988), "Zur Entwicklung der komparatistischen Imagologie" (1988), "Die Problematik der Nationalität aus der Sicht der vergleichenden Literaturwissenschaft" (1989), Komparatistik und Europaforschung (1992), "Von Ethnopsychologie zu Ethnoimagologie" (2002), "Komparatistische Imagologie und ethnische Identitätsproblematik" (2003), "Einheit trotz Verschiedenheit: EU-Erweiterung und gesamteuropäisches Kulturbewußtsein" (2004) .

Na esteira de Dyserinck, o fundador, digamos, da nova Imagologia que, no entanto, deita suas raízes na Escola Francesa da Literatura Comparada, outros pesquisadores dão prosseguimento aos estudos imagológicos dentro desta nova perspectiva. Na Alemanha, destaca-se Manfred Fischer, na Holanda, Karl Ulrich Syndram e, sobretudo, Joep Leerssen. Na Universidade de Chemnitz (antiga República Democrática Alemã) distingue-se, sob a coordenação de Elke MEHNERT, um centro de estudos imagológicos, com várias publicações, entre elas, Landschaften der Erinnerung. Flucht und Vertreibung aus deutscher, polnischer und tschechischer Sicht (2001) e Russische Ansichten – Ansichten zu Russland (2007). Cite-se ainda, a título de exemplo, o grupo de pesquisa dirigido por Enrique Banús na Universidade de Navarra em Pamplona, sob a égide de "Estudos Europeus". Na França, Daniel Pageaux, em colaboração com o português álvaro Manuel Machado, bem como Jean-Marc Moura e Pierre Rivas, também têm se dedicado a estudos imagológicos. Em Portugal, na Universidade de Coimbra, Maria Manuela Delille trabalhou igualmente com esta perspectiva. No Brasil, na Universidade de São Paulo, embora não sejam eminentemente imagológicas, devem-se ressaltar as pesquisas realizadas pelo Núcleo Brasil-França, fundado por Leyla Perrone-Moisés, que aborda de modo abrangente as interrelações literárias e culturais existentes entre os dois países. Dentro das muitas investigações realizadas no âmbito desse Núcleo, há a salientar livros como A vida selvagem (1995), de Maria Cecília de Moraes Pinto, A poética do legado (1996) e As sugestões do Conselheiro (1996), de Gilberto Pinheiro Passos, Aclimatando Baudelaire (1995), de Gloria Carneiro do Amaral, Ceticismo e responsabilidade: Gide e Montaigne na obra crítica de Sérgio Milliet (1996), de Regina Salgado Campos e Aquém e além-mar. Relações culturais: Brasil e França (2000), organizado por Sandra Nitrini. Além deste grupo, outro mais recente, nesta mesma universidade, denominado "Relações linguísticas e literárias Brasil-Alemanha" (RELLIBRA – www.rellibra.com.br) também trabalha nesta direção.

Deixando o âmbito europeu da problemática, pode-se observar algo semelhante na relação Brasil-Europa: não aparece a Europa também edulcorada em tantas obras da literatura brasileira? E o Brasil não aparece como país/povo essencialmente exótico em obras da literatura europeia? As mesmas perguntas são válidas para a América Latina. Investigar imagens do Brasil (e da América Latina), ou como consta de Do cá e do lá. Introdução à Imagologia,

perseguir e analisar [sua] trajetória é despir a imagem do Brasil de toda a fantasia medieval e de outras aí ainda impregnadas.

[A]s imagens de países e de povos [...] veiculadas [em criações poéticas e ficcionais], apesar de artísticas, e de serem recebidas pelo leitor médio no plano do imaginário, acabam, com o tempo, ficando registradas [como referencialidades,] como verdades. (SOUSA 2004: 31 e 32).

E ainda: desconstruir, analisar e discutir a gênese não só das hetero, mas também das autoimagens é um modo de um país/povo/grupo se apropriar da própria voz num contexto de cultura globalizada, em que a

conscientização amplamente divulgada desse processo pode ter, cremos, até mesmo conseqüências políticas e econômicas, no plano das relações interpessoais envolvendo negociações, na medida em que [torna] possível entender as imagens em que os interlocutores se apóiam para defender seus pontos de vista e construir sua argumentação [...]. (SOUSA 2004: 267);

afinal, mais do que nunca, é necessário ter "consciência do que nos convém trocar e do que nos convém preservar". (SOUSA 2004: 354).

2.Literatura Comparada e Imagologia

O que é, afinal, Imagologia? A Imagologia em sua dimensão literária (komparatistische Imagologie: a Imagologia é originalmente literária, porque nascida no seio da Literatura Comparada no século XIX) é uma área do saber que investiga imagens de nações e ou de povos ou de grupos, veiculadas em textos literários (poéticos, de história da literatura, de crítica literária e respectivas traduções). Hoje a Imagologia, tendo expandido seu alcance e, dado o fato de que possui objeto e método próprios, pode mesmo ser considerada uma disciplina, que alcança o exame de imagens de países, de povos e de grupos em quaisquer textos escritos (de antropologia, de etnologia, de história, de sociologia, de jornalismo, de política, de psicologia, de didática de língua estrangeira etc.).

Ainda hoje, pode-se perguntar pela pertinência da Imagologia aos estudos literários. Eu diria que num mundo cada vez mais globalizado, em que os preconceitos, mal-entendidos, afloram com mais visibilidade e com consequências de intensidade vária, é possível achar na investigação imagológica literária (e na investigação imagológica em geral) chaves para entender muitos desses obstáculos ao entendimento entre povos, ao entendimento de culturas diferentes. Dessa forma, Hugo Dyserinck, com seu artigo de 1966, iluminou, na Alemanha, a importância da Imagologia dentro da Literatura Comparada e resgatou, em bases absolutamente literárias, sua dimensão investigativa imagológica, de certo modo, perdida.

Os limites oferecidos por tais estudos, em particular pela Imagologia literária, repousam na própria natureza de seu objeto que é simbólico, ou seja, a margem de erro neste tipo de investigação é comparativamente alta em relação a outras disciplinas. Entretanto, é preciso dizer que é possível realizar análises e interpretações literárias de cunho imagológico com absoluto rigor metodológico, a partir do instrumental deixado pelo Formalismo Russo e emprestado da Linguística e da Semiótica.

É importante que tais estudos chamem constantemente o pesquisador à reflexão, à análise, ao diálogo e não permitam a utilização de estereótipos e de preconceitos além do estritamente necessário ao processo da aquisição e transmissão do conhecimento.

A Imagologia, tal como Dyserinck a apresenta, e tal como é definida em Do cá e do lá. Introdução à Imagologia,

constitui uma valiosa parte constitutiva da comparatística geral e tem como tarefa, não descobrir novos perfis nacionais, nem perguntar pelos "caráteres nacionais", mas almeja alcançar e analisar, em primeiro plano, as configurações das imagens de países presentes na literatura, o modo como elas se estruturam, assim como estudar seu desenvolvimento e sua repercussão. Além disso, a imagologia também pretende contribuir para esclarecer o papel que tais imagens literárias desempenham no encontro de culturas. Acima disso, uma preocupação mais alta ainda se sobrepõe: a imagologia não faz parte de nenhum pensamento ideológico, mas é, isso sim, uma contribuição à desideologização. Pretende, a partir da análise das imagens, chegar ao modo como funciona o pensamento e às suas estruturas. Assim, ela participa da destruição dos estereótipos e dos imagotipos, ao mesmo tempo em que ajuda a dar conta da influência, do poder e da manipulação de correntes ideológicas e políticas. [...]

A imagologia, melhor que outras disciplinas, pode mostrar de que maneira surgem determinadas opiniões, não raro nascidas no vasto território da literatura. (SOUSA 2004: 70).

Na verdade, nem sempre que se trata de "imagens e miragens" estamos fazendo referência aos estrangeiros e suas diferentes literaturas e culturas. O espaço estrangeiro pode tornar-se, e isso acontece com frequência, reflexo da representação do que é próprio. Isto é, enquanto se tenta retratar o outro, usa-se a perspectiva do eu, de modo que o outro sempre se apresentará como um reflexo deste em toda a sua complexidade. Trata-se de um fenômeno muitas vezes identificado com a metáfora do espelho: na heteroimagem projetam-se elementos de autoimagem. é do conhecimento geral que as primeiras imagens do Brasil na Europa são fruto da imaginação exacerbada europeia, recém-saída da Idade Média, ainda à procura do paraíso na Terra, tal como se pode ler em Retratos do Brasil. Heteroimagens literárias alemãs, de minha autoria. Assim, estudar a heteroimagem de um país em uma literatura é também investigar o modo de pensar do construtor de tal imagem, e rastrear tal pista pode-nos levar à constatação de que, dentro de uma determinada literatura, há juízos impregnados de imagens de um outro país, mas que são motivados por acontecimentos que lhe são estranhos. Chegar a esses acontecimentos para estabelecer a gênese e evolução de uma determinada imagem também faz parte dos objetivos da Imagologia. E, como disse Caetano Veloso em Sampa: "Narciso acha feio o que não é espelho".

3. A Imagologia e o texto poético: uma interação produtiva

Aspectos de interação produtiva entre a Imagologia e a análise textual de diversos tipos de textos são apresentados a seguir, de modo breve, apenas à guisa de ilustração, já que o assunto é desenvolvido em Retratos do Brasil. Heteroimagens literárias alemãs.

Observe-se o seguinte poema de Marie Luise Kaschnitz, extraído do livro Ein Wort weiter:

Bertioga Bertioga

Am Himmel wird zu Mittag No céu ao meio-dia

Eine Stimmgabel angeschlagen Vibra um diapasão

Ein Ton wie Erz. No timbre do bronze.

Da springen die Fische zu Mittag Nisso pulam os peixes ao meio-dia

Spazieren auf ihren Flossen Passeiam sobre as barbatanas

Über die glühende Lände. Sobre a terra ardente.

Da kommt ein Mann aus dem Wald Nisso sai um homem da floresta

Mit Augen wie Scheibenräder De olhos grandes como rodas

Setzt sich ans Ufer und weint. Senta-se na margem e chora.

Da steckt der schöne Osterbaum Nisso a bela quaresmeira

Seine Krone in den Sand Mergulha sua copa na areia

Seine Wurzeln gegen den Himmel. E eleva as raízes ao céu.

Da dreht sich auf der Lagune Nisso move-se na lagoa,

Im Kreise die gelbe Fähre Em círculos, a balsa amarela

Meint, daß sie die Sonne wäre Acha que é o sol

Ein Ton wie Erz. No timbre do bronze.

(KASCHNITZ 1965:13) (Trad. Celeste Ribeiro de Sousa)

Marie Luise KASCHNITZ (1901-1974) esteve de visita ao Brasil em 1962 e dá notícia desta viagem nos livros Tage, Tage, Jahre (1971) e Orte. Aufzeichnungen (1973). Bertioga é, como se sabe, o nome de um balneário no litoral do estado de São Paulo, a norte do porto de Santos, certamente visitado pela poetisa, quando esteve no Guarujá, outra praia das proximidades, accessível através de uma balsa. é do Guarujá que saem, ainda hoje, ferry-boats com passageiros e carros que se dirigem a Bertioga e ao litoral norte do estado. à época ainda não existia a estrada Rio-Santos. A região é envolvida pelo mangue, espécie de pântano, onde se misturam águas de rio e de mar e onde há vegetação exótica, pelo menos para europeus, como a poetisa: as árvores têm raízes fincadas na terra submersa e raízes que sobem e afloram acima da superfície das águas, como a Rhizophora mangle. Aqui há uma das maiores biodiversidades do planeta, hoje protegida pelo Estado, ou seja, aqui há um verdadeiro pólo de criação de vida. Entre as espécies ali encontradas, há realmente uma, conhecida cientificamente pela designação de Anableps, que habita tanto a água quanto o lodo.

A leitura que a poetisa fez desta paisagem e que registrou no poema ilumina com exclusividade o espaço da natureza, deixando de lado a praia e o espaço urbano, pelo que é possível dizer que é atravessada pela arqui-imagem do Brasil, criada à época de sua descoberta e que remete para o último e único lugar intocado do planeta, onde era possível ainda testemunhar a obra da Criação in illo tempore, o mundo primordial. Uma possível análise e interpretação do poema podem reconhecer no texto as fases bíblicas da criação e evolução posterior da terra e do homem.

O primeiro período do poema faz a associação sinestésica entre a luz e o som, originando luz vibrante, intensa, remetendo para a luz primeira, divina, e para o som primordial, hoje recuperado pelo bronze do sino. No Gênesis, consta que Deus assim começou a criação do mundo. O segundo período associa água e peixes que carregam a vida para a terra ardente, que, portanto, já possui o elemento fogo. No processo da Criação, que vejo aqui invocado, estão presentes os 5 elementos: a luz, o som que pressupõe o ar, a água, a terra e o fogo. Do Caos surgiu a Ordem. No terceiro período, surge o homem, marcado pelos olhos, órgão por excelência da percepção intelectual. Este homem está à margem, fora da floresta/da natureza, e chora. Lembra Adão expulso do paraíso. O quarto período associa o símbolo da árvore invertida, topos do mundo às avessas, ou um ideograma do cosmos, à Páscoa. O neologismo "Osterbaum" deve estar traduzindo "quaresmeira", árvore da mata atlântica brasileira que floresce na Páscoa com flores roxas. Há associação entre morte e ressurreição. O quinto período associa uma balsa amarela ao sol e também à ideia da viagem, mas em círculos.

Retomando o poema como um todo, mas de modo bastante resumido (um texto mais alentado encontra-se, como se disse acima, em Retratos do Brasil. Heteroimagens literárias alemãs), diríamos nesta interpretação que, à Criação do Mundo através dos cinco elementos, segue-se a presença do homem detentor de inteligência, expulso da natureza, vivenciando o sofrimento da cisão, mas ainda assim, imerso no Cosmos que lhe acena com a possibilidade da regeneração e do eterno retorno. Repare-se na imagem do Brasil apontando para as Origens, uma imagem que remonta à Descoberta, uma imagem que apela a uma suposta harmonia existente na natureza, ao paraíso perdido, uma imagem que, ao ser reavivada em 1962, ainda reduz o país ao estado natural, tirando-lhe a presença da civilização. é do conhecimento geral que, durante o Romantismo, época em que os escritores brasileiros se empenhavam em criar uma autoimagem para o país, até os estrangeiros simpatizantes do novo país, como os portugueses Almeida Garrett e Alexandre Herculano e o francês Ferdinand Denis, advogavam que a jovem nação tinha que se libertar dos modelos europeus e afirmar sua (polêmica) singularidade, que repousava justamente na natureza intocada e no indígena primevo/primitivo.

Já no trecho da peça de teatro Samba, de Ulrich Becher, a configuração do Brasil surge atravessada pela imagem dos "trópicos infernais", criada mais tarde no século XVIII por Buffon e Montesquieu, que acreditavam ser impossível desenvolver civilização nos trópicos, cobertos por florestas úmidas e quentes, onde o homem tenderia a regredir ao estágio animal, uma outra heteroimagem do Mundo Novo.

Leia-se o seguinte diálogo entre duas das personagens da peça citada:

MANA (setzt sich neben ihn, nimmt ihren Strohhut ab): Was können wir über die hiesigen Menschen sagen. Wo wir kaum vierzehn Tage im Land sind. Sie sind - sonderbar bunt.

PARISIUS (mit zackiger Betonung): Dame - Mana - Knotek.

Auch Papageien sind sonderbar bunt. Auch Affen, Mandrills. Besonders an einer bestimmten Stelle. Menschen hier. Sehe ich auf Anhieb. Sind keine. Noch nicht richtig von den Bäumen runtergeklettert. Affen und Faultiere. Auch die Weißen. Sehn sich unsern portugiesischen Wirt an. Lümmelt am hellichten Tag in 'ner Pyjamajacke rum wie im Lazarett. Sollte dem Kerl sein filziges Sofa unterm Hintern anzünden. (BECHER 1957:17).7 7 MANA ( senta-se junto dele, tira o chapéu de palha) : O que é que se pode dizer sobre as pessoas daqui. Onde mal estamos há quinze dias. Elas são singularmente coloridas. PARISIUS PARISIUS ( com entonação mordaz) : Senhora - Mana - Knotek. Também os papagaios são singularmente coloridos. Também os macacos, mandris. Em especial num certo lugar. Pessoas aqui. Assim à primeira. Não há. Ainda não desceram das árvores. Macacos e preguiças. Os brancos também. Repare no nosso hoteleiro português. Anda por aí, um labrego, em pleno dia de casaco de pijama como se estivesse num hospital (militar). O sofá de feltro devia-lhe pôr fogo no traseiro. (Trad. Celeste Ribeiro de Sousa).

Trata-se de uma conversa na sala de estar do hotel "Duque de Caxias" na cidadezinha de Ibaraí-na-Serra nos arredores do Rio de Janeiro entre Mana (Emanuela Knotek) e Leo Parisius, ambos fugitivos da Alemanha nazista e refugiados no Brasil. A peça dá expressão ao confronto da civilização europeia (germânica) com o primitivismo brasileiro e, sobretudo, à denúncia da existência de brasileiros simpatizantes do Nazismo.

A imagem dos brasileiros e a do português na passagem acima são claras. Não são nem necessários os eufemismos: a informação é direta e monovalente. Ou seja, no Brasil não há gente, não há civilização; há fauna e flora!

A personagem encarna o tipo de observador ensimesmado em sua cultura hegemônica. Tal falta de abertura, tal miopia, em relação ao que é diferente, ao Outro, leva-o a simplesmente negá-lo. Pode-se compreender a existência de figuras assim - quer sejam personagens, quer sejam pessoas reais, levando-se em consideração as circunstâncias em que se desenvolveram e em que atuam. é imprescindível, no entanto, chamar a atenção para o fato, discuti-lo, desconstruí-lo, analisando-se-lhe as causas, as motivações, que podem ser de ordem psicológica, ideológica, política etc.

Ulrich BECHER (1910-1990), segundo o Autorenlexikon, fugiu de Hitler via Viena, França e Espanha e acabou no Brasil, onde viveu nos arredores do Rio de Janeiro de 1944 a 1948, tendo ido depois para Nova York e regressado à Europa. Embora Ulrich Becher possa ser considerado um autor secundário na literatura alemã, seu nome consta das histórias da literatura e suas peças foram encenadas no "Schloßparktheater" em Berlim Ocidental, no "Meininger Theater" de Berlim Oriental, no "Deutsches Theater" em Göttingen. Com certeza, estas imagens ficaram retidas nos espectadores/receptores, os quais, por sua vez, também as propagaram de alguma forma. Leve-se em conta que ao espectador de uma peça de teatro se retira a possibilidade da interrupção para a reflexão, que a leitura do texto permite. Ao espectador resta seguir a velocidade da apresentação imposta pelo dramaturgo.

Há outros aspectos da Imagologia que, embora não imanentes, nem por isso deixam de pertencer ao domínio da literatura tomada stricto sensu. Este é o caso de se investigar qual o significado e o efeito que as imagens carregam na divulgação e, por conseguinte, na recepção de obras literárias fora do ambiente em que surgem. Certamente, não é só a perspectiva do lucro que preside a escolha de obras para tradução. Mas há escolhas difíceis de compreender. Por que razão Uwe TIMM teria tido seu livro A árvore da serpente (Der Schlangenbaum - 1986), cuja temática incide sobre os tempos da ditadura militar argentina, traduzido para o português do Brasil, e o livro de Hugo Loetscher Mundo dos milagres: um encontro brasileiro (Wunderwelt: eine brasilianische Begegnung - 1979), cuja temática incide sobre o discutível "milagre econômico" brasileiro e sobre a vida no Nordeste, continuaria passando despercebido?8 8 Há uma tradução não publicada feita por Jael Glauce da Fonseca, feita no âmbito das Atividades Programadas de seu Curso de Doutorado e anexada à sua Tese Iconofilia e iconoclastia em "Mundo dos milagres: um encontro brasileiro" de Hugo Loetscher (2004). Tanto um como outro são autores conhecidos nos países de língua alemã. Por outro lado, também se observa que determinadas obras da literatura brasileira, às vezes de autores pouquíssimo conhecidos entre nós, obtêm traduções em línguas estrangeiras. é o caso de Eduardo Campos e o conto Mangoverkäufer (Vendedor de mangas) traduzido para o alemão por Curt Meyer-Clason e publicado em Die Reiher und andere brasilianische Erzählungen em 1967. Será que o apelo das imagens também integra esses critérios? Dito de outra forma: será que o que é traduzido não está sujeito à confirmação de imagens pré-concebidas do Outro?

Os fenômenos atrás referidos apontam diretamente para outro aspecto literário da Imagologia: a existência de imagens na crítica ou nas histórias da literatura. Se se prestar atenção nos textos de história da literatura usados no contexto do ensino de línguas estrangeiras, ver-se-ão, por vezes, apresentações generalizantes sobre os "traços característicos" da literatura em questão, sobre "características nacionais" do país em pauta, às vezes, oferecidos acriticamente aos usuários. Por exemplo, na edição da tradução do livro São Bernardo, de Graciliano Ramos (1892-1953), lançada em 1962 na antiga República Democrática Alemã (RDA) pela editora Aufbau, há um posfácio, necessariamente ideológico, escrito por Alfred Antkowiak, que apresenta em resumo a história do Brasil desde D. João VI a Getúlio Vargas. O texto de Antkowiak atribui a movimentos populares uma força política que, na realidade, não existiu. A independência do país, por exemplo, teria sido uma vitória popular. A abolição da escravatura é apresentada simplesmente como uma conquista da burguesia democrática. Graciliano Ramos é apresentado como um "representante comercial" e como membro de um grupo revolucionário democrático, enquanto o seu conto A terra dos meninos pelados (1939) é dado como romance.

A própria tradução de uma obra pode criar alterações de imagens contidas nos originais, ou seja, criar novas imagens. Não se trata, aqui, de avaliar traduções através de observações pontuais, pois este não é o propósito, nem tampouco o caminho. Trata-se apenas de mostrar como quase imperceptivelmente se vão alterando as imagens de um país/povo com repercussões imponderáveis. Veja-se, por exemplo, o trecho de São Bernardo, de Graciliano Ramos, de 1934, traduzido para o alemão por Willy Keller em 1960:

Pater Silvestre empfing mich kalt. Seit der Oktober-Revolution hat er sich in ein wildes Tier verwandelt und fordert strenge Untersuchung und Bestrafung aller, die damals kein rotes Halstuch trugen. Er zeigte mir die kalte Schulter. Und wir waren Freunde gewesen. Ein Patriot. Schon recht: jeder hat seine Eigenheiten. (keller apud ZIMBER, 2003:36).9 9 "Padre Silvestre recebeu-me friamente. Depois da revolução de outubro, tornou-se uma fera, exige devassas rigorosas e castigos para os que não usaram lenços vermelhos. Torceu-me a cara. E éramos amigos. Patriota. Está direito: cada qual tem suas manias." (RAMOS apud ZIMBER 2003:36).

Trata-se de um trecho da primeira página do romance, em que a personagem narradora, Paulo Honório, um pobretão que, depois de se ter tornado dono de fazenda, isto é, depois de ter se tornado um empreendedor, um incipiente capitalista e, portanto, depois de ter introduzido no mundo rural arcaico brasileiro das decadentes oligarquias agrárias a modernidade, discorre sobre a sua intenção de escrever um livro sobre a sua vida, lançando mão da estratégia capitalista-fordista da divisão do trabalho: Padre Silvestre ficaria com a parte moral e as citações latinas; João Nogueira ficaria com a pontuação, a ortografia e a sintaxe; Arquimedes com a composição tipográfica; Lúcio Gomes de Azevedo Gondim com a composição literária, ele mesmo traçaria o plano, introduziria na história rudimentos de agricultura e pecuária, faria as despesas e poria seu nome na capa. Diz Paulo Honório: "Estive uma semana bastante animado, em conferências com os principais colaboradores, e já via os volumes expostos, um milheiro vendido graças aos elogios que, agora com a morte de Costa Brito, eu meteria na esfomeada Gazeta, mediante lambujem." (RAMOS 1975: 7). Todavia, logo percebeu, ao distribuir as tarefas, que as coisas não seriam fáceis. E refere-se, então, ao comportamento estranho do padre depois da Revolução de Outubro.

Ora, para o leitor brasileiro esta "Revolução de Outubro" refere-se ao golpe getulista de 1930 que marca o tempo narrado. é uma época em que os processos de industrialização iniciados nos estados sulinos chegam ao Nordeste brasileiro, abalando as relações e os modos de produção praticados pelas oligarquias agrárias em decadência, fazendo surgir uma nova burguesia industrial. Personagens novas, pertencentes à classe média, mas também operários e imigrantes de diversas procedências passam a ficar em evidência neste cenário. Trata-se, portanto, no original, de salientar o clima de transformação, da modernização da economia (e da política) no Nordeste brasileiro, que, no fim, acaba frustrado.

No texto alemão, entretanto, esta marcação do tempo, assinalada pela "Oktober-Revolution", correta tradução de "Revolução de Outubro", pode levar o leitor para outras paragens. Para o leitor estrangeiro, desconhecedor da história brasileira, a referência pode associar-se à revolução russa de 1917, muito mais presente no pensamento europeu. Parece ser este o caso, por exemplo, de Helmut Feldmann em seu doutoramento sobre Graciliano Ramos. Eine Untersuchung zur Selbstdarstellung in seinem epischen Werk, de 1965, quando afirma o seguinte:

[Paulo Honorios] brutale Haltung als Ausbeuter sticht zwar gegen Ende des Romans vom Hintergrund einer sozialistischen-kommunistischen Revolution ab, aber nur locker steht der Sturz Paulos durch den "Sozialismus" Madalenas oder Padilhas mit der kommunistischen Bewegung in Verbindung. (FELDMANN 1965:21).

10 10 Embora a sua atitude de brutal explorador contraste, no final do romance, com o pano de fundo de uma revolução social-comunista, existe apenas uma ligação muito indireta entre a ruína de Paulo Honório e o movimento comunista, a qual se verifica através do "socialismo" de Madalena e Dadilha". (Trad. MENDES & MAGALHÃES 1967: 53).

Porém, a revolução de outubro de 1930, aludida no romance,

que estourou no Brasil e que progride vitoriosamente sob a direção da Aliança Liberal é uma revolução preparada e financiada pelo imperialismo ianque contra o governo atual dos grandes latifundiários – notadamente os grandes plantadores de café – ligados ao imperialismo inglês pela política do monopólio do café. (HASKIN apud CARONE 1991: 79).

[A] revolução de 1930 é encarada não como inovação "democrática" nem "progressista": Sua vitória é uma vitória da reação, dirigida contra o proletariado das cidades e do campo, contra as massas camponesas e contra a pequena burguesia empobrecida. (CARONE 1991:80).

Portanto, na revolução brasileira de 30 não há pano de fundo social-comunista. Falta à tradução, no mínimo, uma nota de rodapé a esclarecer este ponto. Sem ela, o início da narrativa em alemão pode vir a ser deslocado de 1930 para 1917. O leitor de idioma alemão pode entender que se trata das ideias da revolução bolchevique chegando ao Brasil. O leitor estrangeiro fica impedido de associar os acontecimentos do romance com a gravidade da depressão econômica de 1929. Perde-se na tradução o movimento getulista e a crítica que Graciliano Ramos lhe faz, isto é, a modernização capitalista que leva à reificação das pessoas, uma imagem histórica do Brasil, que se torna um tanto confusa ou distorcida.

Também à guisa de ilustração, tome-se a tradução alemã de Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães ROSA (1908-1967), realizada por Curt Meyer-Clason em 1965.

Hat nichts auf sich. Das Knallen, das Sie vorhin gehört haben, war keine Schießerei, da sei Gott vor. Hab nur ein bißchen Scheiben geschossen, drunten am Bach, auf einen Baum in Quintal. Zur Übung. Tu ich jeden Tag, zu meinem Vergnügen, fast seit ich krebsen kann. Da riefen sie mich. Es war wegen einem Kalb. Ein weißes Kälbchen , halb mißraten, mit Augen, die keine waren, obendrein hatte es ein Maul wie ein Köter. (MEYER-CLASON apud BARBOSA 1999: 91-92).11 11 Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvore, no quintal, no baixo do córrego. Por meu acêrto. Todo dia isso faço, gosto; desde mal em minha mocidade. Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro: um bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser - se viu -; e com máscara de cachorro. (ROSA apud BARBOSA 1999: 91-92).

Trata-se de um trecho em que a personagem principal Riobaldo define a seu interlocutor o que para ela, como habitante do sertão, é o sertão. A imagem de sertão presente no original já se pode vislumbrar neste pequeno trecho introdutório do romance: é qualquer região caracterizada pela presença de grandes pastos, ralamente habitada por pessoas bastante supersticiosas, onde a presença do Estado e da lei não chegam e onde os criminosos se acoitam. Mas não só. O sertão é, sem dúvida, um lugar físico, mas também é, sobretudo no romance, um lugar profundo do imaginário, repleto de vivências a refletir um modo de estar no mundo. Observe-se apenas que o vocábulo "bezerro" recebe do tradutor duas versões diferentes: uma como "Kalb" e outra como "Kälbchen", um diminutivo que transmite afetividade, uma afetividade que não existe no original. Ao contrário, o que está em causa no original é a repugnância gerada pela superstição de reconhecer no bezerro deformado uma figuração do diabo. O peso, o valor, o significado das superstições e do misticismo na vida dos sertanejos (há toda uma tradição hermenêutica ligada à interpretação da figura do bezerro e do cordeiro bíblicos) acabam um tanto velados na tradução.

Exemplos de imagens de países/povos/grupos, engendradas e transformadas a partir das mais variadas motivações no seio da literatura, é o que não falta. Analisá-las, entender-lhes o alcance e colocá-las em discussão é tarefa do crítico literário. A produção bibliográfica da Comparatística da Universidade de Aachen é de grande valia para a área, desenvolvendo, sem descurar do exame textual, uma frente que visa à compreensão do Outro e de Si mesmo, abrindo caminho também no Brasil (e na América Latina) para a análise, interpretação e desconstrução tanto de hetero, quanto de autoimagens do país, quer veiculadas em textos literários, quer em outros textos. Afirma Tânia CARVALHALno Prefácio a Do cá e do lá. Introdução à Imagologia que

neste contexto, o das imagens em movimento, os estudos de imagologia prestam um serviço imenso, elucidando o processo em si e possibilitando ir mais longe para, como diz a autora, "entender as imagens em que os interlocutores se apóiam para defender seus pontos de vista e construir sua argumentação". (CARVALHAL 2004: 12).

Arrematando: Em Aachen, Dyserinck colocou a um só tempo a Imagologia no núcleo da Literatura Comparada e da Ciência da Literatura, desenvolveu os conceitos de "perspectiva supranacional" e "neutralidade cultural" no âmbito do "Laboratório Europa", alinhando as pesquisas literário-imagológicas ao movimento de união dos países constitutivos da Europa, borrando-lhes as fronteiras nacionais/nacionalistas, prosseguindo em direção à formação de um bloco multicultural mais potente econômica, política e culturalmente.

Acredito que este trabalho possa ser levado adiante para além da Europa, por exemplo, no Brasil, na América Latina, no Mercosul, avançando junto com o movimento de globalização, rumo a um mundo em que não só os indivíduos, mas também as nações, sejam mais conhecedores de si mesmos e dos Outros, um mundo mais tolerante, um mundo mais pacífico.

Referências bibliográficas

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Recebido em 11/03/2011

Aprovado em 25/04/2011

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  • 1
    Primeiramente, queremos afirmar que há casos comprovados em que uma
    mirage ou
    image tem, no contexto de uma determinada obra literária, uma função intrínseca ao texto, sendo, portanto, obrigatório dela tratar, nos limites inequívocos da assim chamada pesquisa interna, se se quiser captar cabalmente o dito texto em todo o seu significado e, de modo correspondente, no contexto maior da história da literatura. Certamente, as obras em que as imagens desempenham tal papel não são abundantes, mas elas existem e, em determinadas épocas da literatura, ocorrem com maior freqüência do que em outras. O Romantismo conheceu essas
    mirages. E podemos também encontrá-las na literatura do século XX. (Trad. ZIMBER 2005: 3).
  • 2
    O campo de trabalho comparatista, tal como é tratado em nosso programa, é na realidade tudo menos aquele modelo de cunho ideológico ligado à idéia de uma "nação européia" ou de uma nação enquanto grande-espaço-supranacional, a cujos serviços se colocariam os nossos pesquisadores, como por exemplo no passado aconteceu com uma certa germanística alemã, que considerava questão de honra estar a serviço do império alemão. [...] Nossa conclusão, neste contexto, é a seguinte: não há "nação Europa", mas "laboratório Europa" para a realização de uma ciência com alcance político que, no fundo, se desenvolve plenamente na imagologia, de orientação crítico-racionalista, e sem o pensamento voltado para o espírito do nacionalismo do século XIX ou para novas formas de pensamento nacionalista. // E o "laboratório Europa" também serve a uma pesquisa que, através de seus procedimentos crítico-racionalistas, bem como de seus fundamentos alicerçados em conhecimento multinacional histórico-crítico, acaba por ficar equipada da melhor maneira, não só para examinar os diversos modelos da consciência nacional na Europa, mas também as várias formas da própria consciência européia. Pois a literatura teve uma imensa participação não apenas no desenvolvimento do pensamento nacional; teve também interesse pelo desenvolvimento de uma mentalidade européia, desejado e por ela fomentado, bem como por aqueles que dela se ocupavam. (Trad.Torres 2005:44,45).
  • 3
    [t]ratava-se, simultaneamente, da percepção, que lentamente se impunha, da necessidade de se empregar "uma perspectiva verdadeiramente supracional", com base em uma "neutralidade cultural" em todo trabalho de comparação;[...] [As perguntas] deveriam ser muito mais da seguinte ordem: como se vêem, por exemplo, os alemães, os franceses e os ingleses uns aos outros? E o que se pode aprender desta rede de imagens, mal-entendidos e limitações, etc. para uma melhor compreensão do mecanismo multinacional (por exemplo, dentro da Europa) de hetero e autoimagens nacionais? E também: como podem esses conhecimentos, adquiridos em uma base supranacional, ser empregados para melhorar a compreensão do papel e do significado desses processos para a humanidade? (Trad. Fonseca 2005: 40).
  • 4
    Para a futura investigação das
    images e
    mirages é preciso, de qualquer maneira, levar em conta três fatores: 1. Sua existência em determinadas obras da literatura. 2. O papel que desempenham na divulgação de traduções ou também de obras originais fora do âmbito nacional literário onde se originaram. 3. Sua presença preponderantemente perturbadora na ciência e crítica literárias. (Trad. ZIMBER 2005: 10).
  • 5
    "O que aconteceu na época tornou-se amplamente conhecido nos círculos profissionais: René Wellek, o pesquisador mais representativo dos EUA no campo da literatura comparada, no 2º volume do
    Yearbook of comparative and general literature (1953), reagiu com uma crítica, muito divulgada, ao desenvolvimento da concepção francesa de literatura comparada e, no 2º Congresso da I.C.L.A. (Chapel Hill, 1958), dirigiu-se mais uma vez, de forma enérgica, contra aquilo que considerava um desvio, tanto nas posições tradicionais dos franceses, quanto nas suas novas propostas. Também a questão relativa
    à imagem do outro país foi abordada, e até focalizada de forma destacada. Wellek apontou, entre outras coisas, para o perigo do desvio em direção a fenômenos degenerativos, como havia acontecido com a
    Stoffgeschichte. Wellek advertiu, também expressamente, para a possibilidade de a literatura comparada vir a tornar-se uma espécie de ciência auxiliar a serviço das relações internacionais, caso se aceitassem as propostas de Guyard e Carré. Wellek constatou que a pesquisa das
    mirages e
    images, tal como sugerida por Carré e Guyard, não era nem mesmo tarefa da ciência literária." (Trad. ZIMBER 2005: 2).
  • 6
    "[a pergunta] deveria ser antes de tudo: a pesquisa das
    mirages e
    images tem ainda algum sentido para a pesquisa literária em geral ou para a literatura comparada em particular, algum sentido que não tenha nada a ver com aspectos primariamente sociais, psicológicos nacionais ou políticos, ou seja, existe uma pesquisa das
    mirages e
    images útil ou necessária dentro do âmbito de uma literatura comparada autônoma?" (Trad. ZIMBER 2005: 3).
  • 7
    MANA (
    senta-se junto dele, tira o chapéu de palha)
    : O que é que se pode dizer sobre as pessoas daqui. Onde mal estamos há quinze dias. Elas são singularmente coloridas.
    PARISIUS PARISIUS (
    com entonação mordaz)
    : Senhora - Mana - Knotek.
    Também os papagaios são singularmente coloridos. Também os macacos, mandris. Em especial num certo lugar. Pessoas aqui. Assim à primeira. Não há. Ainda não desceram das árvores. Macacos e preguiças. Os brancos também. Repare no nosso hoteleiro português. Anda por aí, um labrego, em pleno dia de casaco de pijama como se estivesse num hospital (militar). O sofá de feltro devia-lhe pôr fogo no traseiro. (Trad. Celeste Ribeiro de Sousa).
  • 8
    Há uma tradução não publicada feita por Jael Glauce da Fonseca, feita no âmbito das Atividades Programadas de seu Curso de Doutorado e anexada à sua Tese
    Iconofilia e iconoclastia em "Mundo dos milagres: um encontro brasileiro" de Hugo Loetscher (2004).
  • 9
    "Padre Silvestre recebeu-me friamente. Depois da
    revolução de outubro, tornou-se uma fera, exige devassas rigorosas e castigos para os que não usaram lenços vermelhos. Torceu-me a cara. E éramos amigos. Patriota. Está direito: cada qual tem suas manias." (RAMOS apud ZIMBER 2003:36).
  • 10
    Embora a sua atitude de brutal explorador contraste, no final do romance, com o pano de fundo de uma revolução social-comunista, existe apenas uma ligação muito indireta entre a ruína de Paulo Honório e o movimento comunista, a qual se verifica através do "socialismo" de Madalena e Dadilha". (Trad. MENDES & MAGALHÃES 1967: 53).
  • 11
    Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvore, no quintal, no baixo do córrego. Por meu acêrto. Todo dia isso faço, gosto; desde mal em minha mocidade. Daí, vieram me chamar. Causa dum
    bezerro: um
    bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser - se viu -; e com máscara de cachorro. (ROSA apud BARBOSA 1999: 91-92).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      03 Ago 2011
    • Data do Fascículo
      2011

    Histórico

    • Recebido
      11 Mar 2011
    • Aceito
      25 Abr 2011
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