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Noções de engajamento cívico e liderança em adolescentes Civismo, Liderança e Adolescência 1 1 Editor responsável: Cristiane Machado - https://orcid.org/0000-0002-3522-4018 , 2 2 Normalização, preparação e revisão textual: Leda Maria de Souza Freitas Farah – leda.farah@terra.com.br

Nociones de compromiso cívico y liderazgo en adolescentes

Resumo

Esta pesquisa tem como objetivo discutir o engajamento cívico em adolescentes a partir das concepções que eles próprios têm sobre política e liderança. A linha teórica se insere na intersecção entre Educação e Psicologia Moral, trazendo pesquisas e estudos da educação em valores, assim como conceitos da filosofia política. A avaliação das respostas de 219 adolescentes escolarizados de ambos os sexos, da faixa etária de 10 a 13 anos, da região da Baixada Santista, SP, se dá a partir de dois questionários organizados para a investigação– um deles sobre as percepções do cenário político e outro sobre personagens anti-heróis de filmes de cinema e TV –, que se relacionam a partir das respostas. Os resultados mostram que o engajamento cívico enfatiza o importante papel que os adolescentes podem e devem desempenhar como participantes e como agentes de mudança na construção de qualidades promotoras do bem comum e da cidadania.

Palavras-chave
engajamento; liderança; civismo; adolescência; identificação

Resumen

Esta investigación tiene como objetivo discutir el compromiso cívico en los adolescentes con base en sus propias concepciones de política y liderazgo. La línea teórica se inserta en la intersección de la Educación y la Psicología Moral, trayendo investigación y estudios de educación en valores, así como conceptos de filosofía política. En la evaluación de las respuestas de 219 adolescentes de la Baixada Santista-SP, de ambos sexos, de 10 a 13 años, educados, a partir de dos cuestionarios organizados para la investigación, uno de ellos sobre las percepciones del escenario político, y otro sobre personajes antihéroes de películas de cine y televisión, que se relacionan con las respuestas. Los resultados muestran que el compromiso cívico enfatiza el importante papel que los adolescentes pueden y deben jugar como participantes y como agentes de cambio en la construcción de cualidades que promueven el bien común y la ciudadanía.

Palabras clave
compromisso; liderazgo; civismo; adolescencia; identificación

Abstract

This research aims to discuss civic engagement among teenagers based on their own conceptions about politics and leadership. The theoretical perspective is at the intersection of Education and Moral Psychology, bringing studies on the education of values, as well as concepts of political philosophy. We evaluate the responses of 219 teenage students from Baixada Santista-SP, of both genders, aged 10 to 13 years, from two questionnaires produced for the investigation. One questionnaire on the perceptions of the political scenario, and the other on anti-hero characters from cinema and TV, the answers to the questionnaires were inter-related. The results show that civic engagement emphasizes the important role that teenagers can and should play as participants and agents of change in the construction of qualities that promote the common good and citizenship.

Keywords
engagement; leadership; civism; adolescence; identification

Introdução

Nas últimas duas décadas, o aumento do interesse pelo tema do engajamento cívico, relacionado ao desenvolvimento de adolescentes, vem se caracterizando como um campo importante de pesquisa, uma vez que articula as áreas da Psicologia Moral e da Educação. Vários estudos vêm apontando a intersecção entre a psicologia do desenvolvimento e a socialização política, descrevendo ações cívicas como variáveis independentes que podem levar ao compromisso ético (Damon, 2008Damon, W. (2008). The path to purpose. The Free Press.; Davila & Mora, 2007Davila, A., & Mora, M. (2007). Civic engagement and high school academic progress: an analysis using NELS data. Circle.; Lerner, 2004Lerner, R. (2004). Thriving and civic engagement among America´s youth. Sage.), e outros, ainda, que se relacionam a fatores escolares (Flanagan et al., 2007Flanagan, C., Syvertsen, A. K., & Stout, M. D. (2007). Civic measurement models: tapping adolescents´civic engagement. Center for Information & Research on Civic Learning & Engagement, University of Maryland.; Kahne & Wetheimer, 2006Kahne, J., & Wetheimer, J. (2006). Teaching democracy: what schools need to do. Phi Delta Kappan, 84(1), 34-40; 57-66.; Youniss et al., 2001Youniss, J., McLellan, J. A., & Mazer, B. (2001). Voluntary service, peer group orientation and civic engagement. Journal of Adolescent Research, 16(5), 456-468.). Colocam um foco de atenção na estrutura individual do sujeito, que inclui conhecimento cívico, habilidades cognitivas e disposições para a participação cívica (Patrick, 2003Patrick, J. J. (2003). Defining, delivering and defending a common education for citizen in a democracy. Indiana University: ERIC Clearinghouse for social studies/social Science education.).

Por engajamento cívico, adotaremos a ideia de um processo no qual as pessoas realizam ações coletivas para tratar de questões de interesse público (Boyte, 2005Boyte, H. C. (2005). Everyday politics: reconnecting citizens and public life. University of Pennsylvania Press.), completando com as concepções de “habilidades cívicas” da psicologia do desenvolvimento, como estruturas da vida familiar e social, construídas pelas crianças e pelos adolescentes, e que influenciam mutuamente a formação da identidade, dos valores e dos vínculos com as pessoas (Flanagan, 2003Flanagan, C. A. (2003). Developmental roots of political engagement. PS: Political Science & Politics, 36(2), 257-261.). Na revisão da literatura sobre a temática, resgatamos um dos primeiros trabalhos dos cientistas políticos Verba et al. (1995)Verba, S., Schlozman, K. L., & Brady, H. E. (1995). Voice and equality. Civic voluntarism in American politics. Harvard University Press., que tratam do voluntariado cívico nos EUA e definem uma série de habilidades cívicas incorporadas na estrutura da participação política das pessoas. Transferindo do campo das ciências políticas para a esfera educacional, as “habilidades cívicas” estariam relacionadas às áreas da educação para a cidadania e da aprendizagem política.

Assim, tem-se o conceito de que as habilidades cívicas não existem sem propósito. Elas são parte de um largo quadro de ideias sobre o que se acredita ser necessário para os cidadãos se engajarem na vida pública, isto é, a noção de que alguns tipos de habilidades são requeridos com o objetivo de, efetivamente, possibilitar a participação social, conjuntamente com a aquisição de conhecimento significativo.

Tais habilidades cívicas vão além das necessárias para o exercício político (Colby et al., 2003Colby, A., Ehrlich, T., Beaumont, E., & Stephens, J. (2003). Educating citizens: preparing America´s undergraduates for lives of moral and civic responsability. Jossey-Bass.), que se associa ao engajamento cívico. Mas o que ocorre quando os participantes são jovens, quando a comunidade é vista como multicultural, ou quando o processo opera em áreas metropolitanas que se tornam mais segregadoras e adversas?

Nesses casos, o engajamento cívico pode tomar várias formas. Por exemplo, pessoas são capazes de organizar ações grupais, atividades locais, advogar em agências cívicas, conscientizar-se sobre questões éticas ou servir à comunidade. Não há uma única forma de engajamento cívico, mas há muitas manifestações e interfaces (Flanagan & Faison, 2001Flanagan C., & Faison, N. (2001). Youth civic development implications of research for social policy and programs, Social Policy Reports, 1.; Zukin et al., 2006Zukin, C., Keeter, S., Andoina, M., Jenkins, K., & Deni Carpini, M. X. (2006). A new engagement? Political participation, civic life, and the changing American citizen. Oxford University Press.).

Contudo, como o significado da cidadania é essencialmente controvertido, o objetivo geral deste artigo é trazer à discussão as concepções que os adolescentes têm sobre política, nas instâncias individuais e coletivas, delimitando as projeções que eles próprios fazem a respeito de civismo e de liderança política.

Para as ciências políticas, segundo Díaz (2008)Díaz, J. F. J. (2008). Enfoque sociologico para el studio del liderazgo político. Revista Castellano-Manchega de Ciencias Sociales, 9, 189-203., a liderança também não é um fenômeno fácil de identificação. Não possui um locus definido, mas é um conceito socialmente construído e muito difícil de ser explicado com precisão; por isso, adotaremos o viés de que o conceito está ausente na maioria dos manuais das ciências sociais e seu tratamento não tem sido sistemático, mas, ao contrário, esquivo.

Assim, as discussões resultantes desta pesquisa pretendem estabelecer uma relação do conceito de liderança com o de cidadania, por sua característica etimológica que remonta às discussões da filosofia política, da ideia de governo e de governantes.

Método

Um ponto crítico que a pesquisa também pretende observar é sobre os adolescentes compreenderem a natureza de seus governantes; a forma como eles próprios podem participar da vida política e eleitoral; e a relevância de suas participações. É de fundamental importância e necessidade, para o desenvolvimento do pensamento crítico e ético de jovens participativos da sociedade de seu tempo, abrir o diálogo para que a construção da educação para o civismo vá além das simples definições e orientações, e que educandos não vejam o engajamento cívico como um tipo de política formal ou eleitoral que envolva cargos públicos, encontros políticos ou escritórios eleitorais, ou que busquem definir-se por um partido ou outro.

Além de trazer um alerta sobre essas questões, temos os seguintes desdobramentos em objetivos específicos:

  • este estudo pretende verificar a concepção de “política” entre adolescentes;

  • identificar as projeções que os adolescentes fazem a respeito de um líder político, ou não;

  • e, por fim, permeando todas as apurações e análises, a pesquisa discute os valores morais de civismo e de cidadania na perspectiva de adolescentes que têm presenciado o cenário político mundial e nacional dos últimos dois anos.

Foram avaliados 219 adolescentes de ambos os sexos, na faixa etária de 10 a 13 anos, escolarizados, de uma instituição de ensino particular3 3 Essa instituição de ensino de grande porte tem uma parceria com os autores do artigo, que há aproximadamente três anos vêm trabalhando com alunos, professores e gestores temas como relações interpessoais e assessoria psicopedagógica. da região da Baixada Santista do Estado de São Paulo. A coleta se deu no final do ano de 2018, período em que aconteciam as eleições presidenciais no País. Justificamos a escolha dessa faixa etária pela característica muito peculiar que, a partir de seus estudos sobre o desenvolvimento moral, Piaget (1994)Piaget, J. (1994). O juízo moral na criança. Summus Editorial. diz ser necessário ter em conta o enfoque cognitivo-evolutivo. Essa faixa etária corresponde ao momento de transição da moral heterônoma – que, segundo Piaget (1994)Piaget, J. (1994). O juízo moral na criança. Summus Editorial., caracteriza-se pelo realismo moral que surge como consequência do egocentrismo operacional e leva a criança a considerar os conteúdos da consciência como se fossem materiais – para a moral autônoma que surge do próprio indivíduo como um conjunto de princípios de justiça e baseia-se na igualdade, no respeito mútuo e nas relações de cooperação.

Como instrumentos da investigação, temos um Questionário de Valores e um Questionário de Personagens. O primeiro questionário é baseado no instrumento elaborado por La Taille e Harkot-de-La-Taille (2006)La Taille, Y. de, & Harkot-de-la-Taille, E. (2006). Valores dos jovens de São Paulo. In Y. de La Taille, Moral e Ética: dimensões intelectuais e afetivas. ArtMed., no qual foram selecionadas somente as questões referentes ao subtema “Política”. Consiste de cinco questões que apresentam afirmativas e/ou perguntas nas quais o respondente escolhe uma das alternativas indicadas para completar a afirmativa ou a pergunta.

O segundo questionário visa identificar aspectos e características de personagens chamados de anti-heróis das mídias televisivas e fílmicas que despertam interesse em adolescentes. É formado por duas questões somente, uma para selecionar um único personagem da lista de dez e a outra para justificar a escolha. A pergunta contida no questionário se traduz em um duplo caráter: o de investigação, propriamente, e o de ser reflexivo-educativa, servindo como auto-orientação, pois consiste, fundamentalmente, em uma questão para refletir e revelar sobre aquilo que é mais significativo para eles, a fim de que os respondentes possam escolher dentre uma lista apresentada.4 4 Os personagens do Questionário foram selecionados porque são os que mais apareceram nas histórias de ficção e aventura na última década. São eles: Coringa, Thanos, Voldemort, Negan, Darth Vader, Rumpeltilstikin, Loki, Ramsey Bolton, Lex Luthor e Apocalipse.

Esse instrumento foi organizado especialmente para este estudo. Justifica-se a investigação a partir de personagens fictícios, pois é o elemento simbólico que pode proporcionar a projeção direta dos respondentes. Ao assistir a um filme, o espectador sente algum tipo de empatia pela narração que está contemplando, e isso é obtido por meio do personagem, tenha a forma que tiver. O espectador se interessa por ver-se projetado nos comportamentos dos personagens, ou seja, um filme é, de algum modo, o reflexo de uma realidade que desperta certas emoções nas pessoas.

Dessa forma, com esse instrumento, pretendemos estabelecer significados às respostas, para se pensar nas várias possibilidades de projeções e concepções que os adolescentes elaboram em relação ao eixo líder político-civismo e ao modo como isso se relaciona no processo de construção de sua personalidade. As características dos anti-heróis apontadas pelos adolescentes refletem o que pode ser, de fato, interessante para uma figura de liderança: atributos como força, poder, independência, atraem os adolescentes (Damon, 2008Damon, W. (2008). The path to purpose. The Free Press.), a ponto de se identificarem com esses personagens, mostrando o que estariam desejando para sua vida futura e para conquista da sua independência. Pensando nessas projeções, podemos associá-las às expectativas para a escolha de um líder político, lembrando que a faixa etária da amostra indica o momento inicial da construção da autonomia moral (Piaget, 1994Piaget, J. (1994). O juízo moral na criança. Summus Editorial.).

As análises de conteúdo se apoiam, portanto, em dados reflexivos e imaginativos, que podemos avaliar a partir das próprias concepções dos sujeitos, e vão se classificando de acordo com o desenvolvimento pessoal, as relações interpessoais, as atividades sociais e/ou políticas, a relação com a natureza, as manifestações filosóficas, criativas e éticas. A ligação entre os dois questionários pensados para esta investigação se dá na avaliação das respostas, quando se infere que os adolescentes com concepções mais consistentes sobre política podem também apresentar noções mais sólidas de liderança política.

O tratamento dos dados coletados foi feito a partir do cômputo geral, em porcentagem, das respostas e das escolhas, evidenciando os totais mais significativos para serem discutidos na análise do perfil adolescente. Essas análises quantitativas não estão apresentadas comparativamente entre os gêneros, meninos e meninas, porque, no cômputo geral, não houve evidência significativa que se destacasse.

Toda essa contextualização apresentada prepara para anunciar o seguinte problema de pesquisa: Como jovens pensam as lideranças políticas da sociedade atual e desenvolvem a noção de civismo?

E para essa pergunta, três hipóteses são dispostas:

  1. Há uma projeção ética/não ética de liderança política que permite a identificação com valores morais (dignidade e respeito) e materiais (poder e bens), e é desencadeada a partir da mídia interativa.

  2. A noção de civismo se dá pela projeção simbólica de estabelecer uma inserção social que evidencia a cidadania, o bem comum ou o enriquecimento rápido e a ascensão ao poder.

  3. Ocorre a identificação carismática com uma pessoa pelos seus dotes sobrenaturais, faculdades mágicas, heroísmo exagerado, poder intelectual ou oral que gera uma devoção pessoal ao herói guerreiro ou ao grande demagogo (vilões do cinema e/ou da TV).

Resultados

Na apuração do Questionário de Valores, os adolescentes mostraram em suas respostas o pensamento de que os políticos, assim como os juízes, são muito importantes para a sociedade, conforme os dados apontam: 42,34% dos entrevistados consideram os políticos importantes e 40,40% consideram muito importantes, perfazendo 82,14% do total para essa questão. E 53,19% dos adolescentes consideram os juízes muito importantes para a sociedade atual, somados a 40,14% de sujeitos que afirmam que os juízes são importantes, o que resulta em 94,38% do total da amostra para essa questão.

Os meninos que julgaram muito importantes os políticos e os juízes escolheram em sua maioria (49,16%) o personagem Thanos como o mais interessante. Já as meninas que consideraram muito importantes os políticos e os juízes escolheram em sua maioria (48,18%) o personagem Coringa como o mais atrativo.

Apesar de os adolescentes reconhecerem a importância desses dois profissionais, o grau de confiança depositado no Congresso Nacional e nos partidos políticos apresenta índices opostos: do total geral, 52,21% da amostra confia pouco no Congresso, e 13,57% não confia, totalizando 66,2% para essa questão. Em relação aos partidos políticos, 54,74% confiam pouco, e 32,42% não confiam, perfazendo 86,16% de adolescentes para essa questão.

Os índices são relativamente diferentes em relação ao Poder Judiciário: 43,83% dizem confiar e 36,16% dos adolescentes confiam pouco. Podemos concluir que os órgãos e as instituições que envolvem pessoas, políticos e juízes, apesar de serem considerados importantes pelos entrevistados, não despertam neles a confiança necessária, resultando em perspectivas bem diferentes entre si. Já a entidade Poder Judiciário, que pode projetar uma transcendência (poder como algo abstrato) para os adolescentes, tem a sua confiança de forma mais significativa.

Do total de meninos que confiam pouco ou não confiam no Congresso Nacional e nos partidos políticos, e confiam no Poder Judiciário, 98,17% escolheram o personagem Thanos como o mais interessante. Para o total das meninas, nas mesmas condições, sem confiança no Congresso Nacional e nos partidos políticos e com confiança no Poder Judiciário, 97,15% escolheram o personagem Coringa.

Usualmente, o governo se define como uma atividade relacionada com a tomada de decisões sobre assuntos de interesse público de uma sociedade. Já a governabilidade é um conceito que define uma modalidade de governo exercido a partir da ação, gestão, reflexão e deliberação cidadãs, que partem do compromisso ativo dos membros da sociedade pela equidade, pela justiça e pela prevalência dos direitos humanos (Quiroga, 2006Quiroga, H. (2006). Déficit de cidadania y transformaciones del espacio público. In I. Cheresky (Org.). Ciudadania, sociedade civil y participación política. Miño y Dávila, 109-140.).

Vale dizer que a governabilidade implica estruturação e desenvolvimento da vida pública, o que parece supor que os adolescentes da pesquisa percebam, ainda que intuitivamente, a definição proativa de “sujeito político” na tomada de decisões e no exercício do poder diante da realidade que o circunda, já que julgam políticos e juízes como importantes. O que se observa é que as características de personalidade ocupam papel relevante, pois podem surgir agendas paralelas às do governo, que afloram a governabilidade e podem expressar os interesses sociais mais profundos, como a mobilização para a garantia dos direitos educacionais, ecológicos, entre outros; ou, ainda, como as ações cidadãs para a modificação do estabelecimento social e econômico, por meio de atos do legislativo e do judiciário dos governantes, ou outras formas de participação na vida pública.

Os adolescentes da pesquisa, em sua grande maioria, mostraram que confiam no Poder Judiciário do País: 44,64% deles confiam e 9,43% confiam muito, num total de 53,19% do total geral. E em conjunção aos juízes, já comentados, a representação da regulamentação por parte dos adolescentes pode ser de caráter moralista e centrada numa só pessoa (juiz), pois se converte em uma norma jurídica. Ou seja, os adolescentes parecem confiar nas pessoas e não nas instituições.

Em relação ao Questionário de Personagens, 24,48% da amostra escolheu o personagem Coringa, 23,16% elegeu o personagem Thanos e 13,51% indicou Voldemort. Esses são os três mais selecionados. As justificativas das escolhas serão exemplificadas nas análises a seguir.

Discussão

É importante destacar, a partir de uma perspectiva psicogenética, que o conhecimento social se assume como uma construção de significado de predomínio autorreferencializado, hierarquizado, contínuo, complexo, progressivo e acumulativo, determinado pelo amadurecimento neurobiológico do indivíduo em função de seu desenvolvimento cognitivo (Piaget, 1972Piaget, J. (1972). Fondements scientifiques pour l´éducation de demain. Perspectives: Revue Trimestrielle de L’ Éducation, 2, 13-30.). Objetos de conhecimento social variados, como as classes sociais, a riqueza e a pobreza, as formas de governo, as noções de autoridade e de poder, estariam submetidos a períodos de desenvolvimento cognitivo individual (Delval, 2006Delval, J. (2006). Hacia uma escuela ciudadana. Ediciones Morata S.L. https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=kCzcqr6ee28C&oi=fnd&pg=PA9&dq=juan+delval&ots=GeUmlFSAT8&sig=YB58QWr8nwmsKSIN5iR7NhnKxB4#v=onepage&q=juan%20delval&f=fase
https://books.google.com.br/books?hl=pt-...
) e seriam independentes de influências externas.

Ademais, este estudo pode confirmar outras pesquisas realizadas sobre as representações mentais de governo em adolescentes (Barret & Barrow, 2005Barret, M., & Barrow, E. (Orgs.). (2005). Children´s understanding of society. Psychology Press.; Furnham, 2003Furnham, A. (2003). The Psychology of behavior at work. The individual in the organization. Psychology Press (Taylor & Francis Group). https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=cZYmPu8S-VsC&oi=fnd&pg=PR13&dq=furnhan+2003&ots=xYaJtNUbiC&sig=hR6gyV3MHPq0UJqJSM1HKsvdELg#v=onepage&q=furnhan%202003&f=false DOI: https://doi.org/10.4324/9780203506974.
https://books.google.com.br/books?hl=pt-...
), revelando que eles compreendem a noção de política como uma instituição organizada, que atua na sociedade por meio de cargos e funções normatizadas, e consideram essa atuação resultante de variadas normas jurídicas que possibilitam organizar o País e resolver seus problemas sociais, econômicos e políticos, dentro da constitucionalidade. A representação de governo se assume, desse modo, como estrutura hierarquizada para organizar o País no âmbito público para a resolução de tais problemas. Ao pensar nas características de empoderamento da sociedade e nas novas formas de organização e realidade, podemos inferir que a representação de governo idealizada pelos entrevistados estaria associada, então, ao conceito de governabilidade.

Diversas pesquisas nos campos da democracia, da cidadania, dos valores e das práticas culturais vêm sinalizando ser necessária a análise de valores, como, por exemplo, a justiça, assim como a relação da sociedade com a lei: Araújo-Olivera et al. 2005Araújo-Olivera, S. S., Yuren Camarena, M. T., Estrada Ruiz, M. J., & Cruz Reyes, M. D. L. (2005, janeiro-março). Respeto, democracia y política, negación del consenso: el caso de la formación cívica y ética en escuelas secundarias de Morelos. Revista Mexicana de Investigación Educativa, 10(24), 15-42.) descrevem que a boa convivência se baseia na prática de certos valores. Um estudo realizado por Romo-Martínez (2005)Romo-Martínez, M. (2005, janeiro-março). Desarrollo del juicio moral en bachilleres. Revista Mexicana de Investigación Educativa, 10(24), 43-67. sobre comportamento moral relata que adolescentes demonstraram que as razões para fazer o bem centram-se na necessidade de ser uma boa pessoa e manifestar uma preocupação pelos outros. Ou seja, os adolescentes têm noção da vida em ambiente democrático e entendem que os governantes são responsáveis por esse contexto, que esses líderes devem ser representantes eleitos popularmente, ser justos e ter um senso de igualdade.

Por fim, a importância de compreender o que os adolescentes pensam sobre as organizações políticas ajuda a criar uma identidade cívica, que, somada à participação em grupos organizados durante a adolescência, introduz os jovens aos papéis e processos básicos necessários para o engajamento cívico quando adultos. Contudo, observamos nos adolescentes entrevistados o fato de que suas concepções são incipientes, apoiadas no contexto social do momento (exemplo: juízes como importantes), nos valores familiares e/ou nas discussões escolares ou influenciadas por eles. Eles não acreditam na política e perpetuam o “presente”, pois o futuro se caracteriza por uma ameaça velada, por uma mentira.

E há um setor dos valores políticos, a permissividade, especialmente aflorada nesta investigação, que tem sua origem na ética relativista da pós-modernidade e salienta o triunfo do individualismo, do relativismo, do pluralismo cultural, da liberdade e de convicções mutáveis. É ela que, no campo da moral e da cultura cívica, envolve a desordem social que vai aparecer nos perfis dos personagens do segundo questionário da pesquisa.

Falando agora mais detalhadamente sobre o Questionário de Personagens, os resultados obtidos foram tomados por base para as análises de perfil. Os personagens listados no Quadro 1, a seguir, foram construídos para o cinema deste século, denominado pós-clássico, e foram protagonistas de filmes que causaram grandes impactos, não só por acolherem heróis e super-heróis, mas porque foram idealizados com essa determinação.

Quadro 1
Perfis dos vilões e dos anti-heróis (Autoria dos pesquisadores)

Podemos dizer que, nos filmes considerados pós-clássicos, a estrutura do relato clássico se inverte. A narrativa obtém sua força emocional e todo o suspense do que está sendo desconstruído. O espectador é capturado nesse mecanismo no qual há uma inversão da estrutura do relato simbólico, mas, ainda que alterado, acaba se refazendo. Ou seja, é sempre construção e reconstrução (Sánchez Casarrubios, 2012Sánchez Casarrubios, M. (2012). Narración y sociedade: el villano en el cine contemporâneo (2000-2010). Revista Aequitas, 2, 36. http://revistaaequitas.wordpress.com/2012/08/08/numero-2-2012-2/. ISSN-e: 2174-9493
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).

Certamente, a figura do vilão é vital no relato pós-clássico, e sobre ele erguem-se todos os pilares da história: falsos heróis que se convertem em vilões, vilões que se comportam como protagonistas, caracterização intensa da figura do mal, entre outras situações. O vilão é, no cinema de hoje, ou nos seriados da TV, a figura-chave para a evolução do protagonista e, em algumas histórias, chega a ser mais importante até que o próprio herói. É o caso de muitos dos personagens listados no Questionário, como Voldemort, Darth Vader, Negan e o próprio Coringa (maior score do questionário), pois é a partir deles que toda a história se desencadeia, obrigando os heróis a se mostrarem corajosos para tentarem ao máximo a superação dos conflitos. Na justificativa das respostas, um menino de 12 anos, MHEG (iniciais do nome), comentou sua escolha sobre o personagem Negan: “a série ficou mais emocionante com ele”.

O conflito existente entre o herói e o vilão encerra grandes mensagens e moralismos que compreendemos desde crianças. Ajuda-nos a diferenciar o bem do mal, a aprender os caminhos gratificantes e os caminhos autodestrutivos. Os vilões têm o poder de mostrar claramente aquilo que qualquer pessoa comum sente, mas que não deve nem pode priorizar.

Ao vencer o vilão, é como se o herói redimisse os pecados da humanidade e nos tornasse mais humanos. E, apesar da atração pelo vilão, de seus poderes mágicos ou ancestrais, ou de sua personalidade psicopata, ele é sempre derrotado pelo herói em todos esses filmes. Isso se deve ao fato de que, no final, as narrativas retornam ao conto clássico do mito do herói que derrota o vilão por pura sorte ou pela proteção divina que obteve (Campbell, 2020Campbell, J. (2020). O herói de mil faces. Cultrix; Pensamento. https://projetophronesis.files.wordpress.com/2009/08/joseph-campbell-o-heroi-de-mil-faces-rev.pdf ISBN-10: 8531502942 ISBN-13: 978-8531502941
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).

É a obscuridade dos personagens que atualmente atrai o público, especialmente a dos vilões. Segundo Sánchez Casarrubios (2012)Sánchez Casarrubios, M. (2012). Narración y sociedade: el villano en el cine contemporâneo (2000-2010). Revista Aequitas, 2, 36. http://revistaaequitas.wordpress.com/2012/08/08/numero-2-2012-2/. ISSN-e: 2174-9493
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,

o espectador já não considera a figura do herói convincente, é uma figura branda. Sem dúvida, o espectador crê fielmente no personagem malvado, o puro mal que o encarna, o mal pelo mal, a psicopatia. Por que o espectador contemporâneo crê na maldade? É a verdade do homem, a que os meios de comunicação nos instigam a crer, a violência cega, o abuso do outro que vemos diariamente no telejornal. (p. 198, tradução nossa)5 5 El espectador ya no considera la figura del héroe convincente, es uma figura blanda. Sin embargo, el espectador cree fielmente en el personaje malvado, el puro mal que encarna, el mal por el mal, la psicopatia. ?Por qué el espectador contemporáneo cree en la maldad? Es la verdade del hombre, la que los medios de comunicación nos incitan a creer, la violencia ciega, el abuso del otro que vemos a diario en el telediario.

Assim como as bruxas, nos contos de fadas, que despertam nas princesas e nos jovens humildes o amadurecimento psíquico e a conquista da felicidade, a figura do super-herói está incompleta sem o seu antagonista (Campbell, 2020Campbell, J. (2020). O herói de mil faces. Cultrix; Pensamento. https://projetophronesis.files.wordpress.com/2009/08/joseph-campbell-o-heroi-de-mil-faces-rev.pdf ISBN-10: 8531502942 ISBN-13: 978-8531502941
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). Não podemos conceber uma história de heróis e super-heróis, se não existir um supervilão para enfrentar e combater. Atualmente chamado de “anti-herói” – nessa tendência pós-moderna –, o papel do vilão é fundamental, e muitos personagens vilões são eles próprios os protagonistas do filme, sem que necessariamente exista um herói real no relato. O espectador segue esse protagonista com repúdio, muitas vezes, mas fica fascinado com suas peripécias de vilão. É o caso, por exemplo, do personagem Darth Vader, sobre cuja escolha um pré-adolescente, menino de 13 anos, GVM (iniciais do nome), faz o seguinte comentário: “história envolvente, mesmo sendo vilão, tem uma história por trás que justifica”.

Na realidade, o público se identifica mais com o anti-herói do que com o herói, pois o anti-herói faz coisas que todos gostariam de fazer, um dia. Seus defeitos e conflitos são muito próximos do espectador, da pessoa comum, e satisfazem sua parte mais cínica e selvagem.

Para Konigsberg (2004)Konigsberg, I. (2004). Dicionario Técnico Akal de Cine. Akal., o anti-herói

é um protagonista ou figura masculina importante, literária ou cinematográfica, com quem se identifica o leitor ou espectador, passando a admirar qualidades não heroicas e uma debilidade que tradicionalmente não se atribui ao herói. Costumam ser personagens alienados e isolados, vulneráveis às debilidades humanas, mas que possuem um código ético privado e, em ocasiões, uma integridade pessoal que lhes obriga a enfrentar a sociedade. (p. 37, tradução nossa)6 6 Es un protagonista o figura masculina importante, literaria o cinematográfica, con quien se identifica el lector o el espectador, pese a atesorar cualidades no heroicas y una debilidad que tradicionalmente no se atribuye al héroe. Suelen ser personajes alienados y aislados, vulnerables a las debilidades humanas, pero que poseen un código ético privado y, en ocasiones, una integridad personal que les obliga a enfrentarse a la sociedad.

O anti-herói se caracteriza, desse modo, por ser um personagem carismático e atraente para o espectador. Isso aparece nas falas dos adolescentes entrevistados, sobre o Coringa (preferido nas escolhas): “ele é bem malandro e engraçado” (CFO, menina, 11 anos); “ele faz um personagem de muita atitude” (VFA, menina, 12 anos); “ele é engraçado e se diverte no que faz” (GP, menino, 12 anos).

Assim, pois, o anti-herói tem uma tarefa que não é dada a priori por nenhuma figura da lei, pois ele tem sua própria lei. Nas justificativas das escolhas, uma menina de 13 anos, LGPCG (iniciais do nome), fez o seguinte comentário sobre o personagem Coringa: “gosto dele pela liberdade e loucura de fazer as coisas, sua ousadia”; outra menina de 13 anos, MEGS (iniciais do nome), comentou também sobre o Coringa: “ele é muito inteligente, cumpre seus deveres e faz a própria justiça”; e uma menina de 12 anos, MEG (iniciais do nome), justificou sua escolha sobre esse mesmo personagem: “porque ele não está nem aí pra nada, é considerado louco, mas não faz diferença, ele quer mais é que todo mundo se dane”.

No relato pós-clássico do cinema, há uma volta do mito clássico do herói, mas, de certa forma, alterado. Por isso, principalmente no caso de adolescentes, a figura do herói já não é mais considerada convincente, pois para eles é uma figura “morna”. Sem dúvida, esses jovens espectadores creem fielmente no personagem malvado, no mal pelo mal, na psicopatia, porque é mais legítima. Como comentou uma menina de 12 anos, LFWBOS (iniciais do nome), sobre o personagem Coringa: “ele é muito psicopata!”. E um menino de 12 anos, APR (iniciais do nome), opinou sobre o personagem Thanos, afirmando que ele “possui um propósito para ser vilão, tem objetivos”.

E por que há um fascínio pela maldade? É a verdade do horror, dos meios de comunicação, a violência cega, o abuso do outro que presenciamos diariamente nas mídias interativas. O uso do corpo e da sexualidade como instrumentos agressivos, a morte banalizada, o incesto, são formas de comunicação que causam a extinção dos símbolos universais: o respeito mútuo e a dignidade. A violência é exposta sem retoques. Já não há mais nada considerado grotesco no cinema pós-clássico, pois, atualmente, todas as formas de corrupções, preconceitos e todas as mazelas humanas são exploradas claramente (Bauman & Donskis, 2014Bauman, Z., & Donskis, L. (2014). Cegueira moral: a perda da sensibilidade na modernidade líquida. Zahar.; La Taille, 2008La Taille, Y. de (2008). Formação ética: do tédio ao respeito de si. ArtMed.).

Após a contextualização das origens e os desdobramentos dos personagens no ambiente popular midiático, passamos para a discussão da noção de liderança, pois são necessárias teorias explicativas do funcionamento da sociedade, já que o comportamento das pessoas está sujeito a diferentes influências segundo o tipo de relação social de que se trata. Por exemplo, as pessoas se comportam de maneira qualitativamente diferente em um grupo pequeno que possui um líder. A liderança representa uma relação social em que o elemento central é a aceitação de alguém por parte dos seguidores, como comentou um menino de 12 anos, NRH (iniciais do nome), em sua justificativa sobre a escolha do personagem Voldemort: “que ele é uma lenda dos bruxos, poderoso e perigoso, mas inteligente, tem seus seguidores e tem os dementadores”.

Para Weber (1996)Weber, M. (1996). Economia y sociedade. FCE., as pessoas obedecem porque se encontram em uma relação de dominação, como o personagem Thanos, que apresenta características de força e de poder, o segundo mais escolhido pelos adolescentes. A dominação não é o mero exercício do poder, mas é a probabilidade de encontrar obediência a um mandato de determinado conteúdo entre pessoas relacionadas. A obediência se transforma em adesão graças à legitimidade, que faz com que não seja necessário, salvo em casos excepcionais, recorrer à força ou à ameaça. A dominação pode legitimar-se a partir de distintas fontes. Sobre o personagem Thanos, dois pré-adolescentes comentaram: “porque ele é bem forte, alto, tem poderes” (RCR, menino, 12 anos); “porque ele é o maior e mais forte vilão da Marvel” (JVEM, menino, 11 anos).

Ainda segundo Weber (1996)Weber, M. (1996). Economia y sociedade. FCE., o primeiro tipo de dominação legítima é o tradicional. Nessa categoria, a obediência acontece em virtude do costume, da santidade ou da dignidade das ordens e dos senhores existentes desde sempre. E fora dessa, as normas são totalmente informais, particulares e sujeitas à descrição do indivíduo. O domínio patriarcal e feudal são os exemplos mais adequados dessa configuração.

Um segundo tipo de dominação racional é o legal, no qual se obedece em virtude de um estatuto. Como exemplo político desse tipo temos a dominação da burocracia estatal, as forças armadas e a policial. Finalmente, o terceiro tipo é a dominação carismática, que tem relação direta com a pesquisa. Segundo Weber (1996)Weber, M. (1996). Economia y sociedade. FCE., nessa categoria se obedece a uma pessoa em virtude de seus dotes sobrenaturais, faculdades mágicas, revelações, heroísmo, poder intelectual ou de oratória. Dispensa-se uma devoção pessoal ao chefe político por causa de suas qualidades excepcionais. O chefe é o profeta, o herói guerreiro ou o grande demagogo, que, por suas revelações, ações ou decisões, respectivamente, atinge um tipo de obediência em que não há regras nem tradições, a não ser o poder que lhe é outorgado por acreditarem nele, por meio de milagres, êxitos nas batalhas ou prosperidade dos súditos. O conceito de carisma é, no entanto, demasiado amplo, mas é claro que se refere ao magnetismo, à capacidade de persuasão e ao atrativo não racional de alguma pessoa, que inspira reverência, fervor ou dependência emocional (Gardner & Damon, 2001Gardner, H., & Damon, W. (2001). Good Work: when excellence and ethics meet. Basic Books.).

Falando do personagem mais escolhido pelos respondentes da pesquisa, o Coringa se enquadra no terceiro tipo explicado anteriormente – o tipo carismático. Apesar de já ter povoado o inconsciente coletivo dos fãs de Comic Books e do filme Batman, de Tim Burton, de 1989, é com a caracterização do Coringa no filme O Cavaleiro das Trevas, de Christopher Nolan, de 2008, que o personagem se consagra na preferência popular. Ao tratar da eterna luta do bem contra o mal, se observarmos a essência do relato, o filme estaria falando da luta entre Céu e Inferno, com a chegada do anticristo. A caracterização torna-se, portanto, psicótica, além de deixar clara a sua obsessão insana pelo Batman. Um pré-adolescente menino, de 12 anos, HELS (iniciais do nome), projetou essa ideia na sua justificativa para o personagem: “ele não é só um vilão, é como se fosse o Mal e o Batman não pode existir sem ele”.

A fixação do vilão pelo herói costuma ser exagerada, dependendo de cada caso, pessoal ou circunstancial, pois sempre os heróis são perseguidos até uma batalha final entre ambos. É como se desde o início da trajetória do herói ele fosse designado para tal finalidade (Campbell, 2020Campbell, J. (2020). O herói de mil faces. Cultrix; Pensamento. https://projetophronesis.files.wordpress.com/2009/08/joseph-campbell-o-heroi-de-mil-faces-rev.pdf ISBN-10: 8531502942 ISBN-13: 978-8531502941
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), assim como o próprio vilão.

Enfim, ainda segundo Weber (1996)Weber, M. (1996). Economia y sociedade. FCE., apesar de, em muitas ocasiões históricas, a dominação social e política ter-se baseado em uma determinada personalidade, a liderança ou a dominação estão sempre relacionadas e não se dão de maneira exclusivamente unilateral. Uma pessoa pode ser efetivamente superior, mas não se converterá em um líder, a menos que os outros assim a reconheçam ou a legitimem, para que seja seguida ou receba obediência. Ou seja, dito de outra maneira, a personalidade dos líderes pode ser importante, mas não suficiente. Muitas pessoas têm uma personalidade marcante, que até pode ser chamada de liderança, mas suas ações não causam impacto algum sobre o mundo em que vivem ou sobre seu grupo de amigos. O impacto é fundamental, como justifica um menino de 13 anos, LANL (iniciais do nome), sobre sua escolha do Coringa: “ele é muito legal, ele diverte o público, a sua risada é macabra, a pintura no rosto dele também é legal”. Vale dizer que a liderança depende de macrofatores que a influenciam ou determinam, assim como os jovens deste século vão escolher seus líderes políticos e projetar suas noções de civismo.

Segundo Díaz (2008)Díaz, J. F. J. (2008). Enfoque sociologico para el studio del liderazgo político. Revista Castellano-Manchega de Ciencias Sociales, 9, 189-203., para compreender a liderança é melhor considerá-la como uma questão de grau, distribuído em distintos níveis em todo o sistema social. A liderança seria, então, uma função social, e não uma qualidade do indivíduo, apenas. Não interessam as suas motivações, intenções ou ações em si mesmas, mas sim as estruturas que a determinam. Os líderes seriam, então, fruto de um desenvolvimento histórico e portadores de metas concebidas pela sociedade em seu conjunto. Se as instituições são pautas normativas que concretizam valores comuns e constituem uma orientação para as ações dos indivíduos, a liderança é uma instituição política central.

Na correlação dos resultados dos dois Questionários da pesquisa, temos objetivamente a seguinte conclusão: Adolescentes que atribuíram maior importância aos políticos e juízes optaram por personagens com perfis de agressividade, obstinação, hedonismo e até certo grau de psicopatia em maior número. Adolescentes que mostraram menor confiança no Congresso e em partidos políticos escolheram em maior quantidade os personagens com perfis de força e poder, agressividade e hedonismo.

Concluindo, a liderança está relacionada com o poder (Díaz, 2008Díaz, J. F. J. (2008). Enfoque sociologico para el studio del liderazgo político. Revista Castellano-Manchega de Ciencias Sociales, 9, 189-203.): um líder é uma pessoa capaz de alterar o curso dos fatos, e isso atrai os adolescentes em suas opções por certos personagens. A liderança não se consegue pelo fato de possuir subordinados, pois é legitimada por seus seguidores. O líder e seus seguidores se encontram em uma relação de influência recíproca, pois a liderança também é uma relação de transação. Independentemente do caso, a relação entre líder e seguidores é indispensável na relação de liderança.

Conclusões

O objetivo principal deste artigo foi discutir sobre políticas, civismo e liderança a partir das concepções de adolescentes em um estudo de prevalência, pois, se a educação busca a realização do ser, vislumbramos uma sociedade na qual esse desenvolvimento seja possível, favorecendo a liberdade e a espontaneidade, entendidas como a adequação entre as necessidades internas e as possibilidades de sua realização. Por isso, pesquisas que possibilitem compreender o modo como as pessoas constroem suas identidades, como promovem sua participação social e desenvolvem a cidadania e como manifestam e internalizam os valores em suas personalidades, podem ser um bom referencial para contribuir com os profissionais que trabalham com adolescentes em espaços escolares e não escolares.

E assim, pretendemos que esta pesquisa possa contribuir para que educadores desenvolvam um trabalho coletivo com os alunos, em um ambiente ético e com uma gestão democrática, para planejar e tomar decisões na comunidade educacional, mediante discussões e debates sobre problemas sociais e políticos. Além disso, gestores e professores poderiam pensar em meios para que adolescentes em suas escolas pudessem ter espaço para discutir regras, para obter maior participação na comunidade escolar em geral e enfatizar a convivência de distintas liberdades.

Em face das respostas dos adolescentes, percebemos que os objetivos específicos deste estudo foram atendidos. Inicialmente, o de compilar uma representação simbólica de governo e política. Verificamos, na visão desses jovens, que esses dois aspectos são produzidos mediante variadas normas jurídicas, dependem de pessoas colocadas em funções específicas que possibilitam organizar o País, especialmente no âmbito público, e resolvem seus problemas sociais, econômicos e políticos em um confronto de interesses com diversos grupos sociais e partidos políticos. Em suas respostas, os adolescentes mostram também que podem participar da sociedade, deliberando e decidindo sobre os assuntos públicos como um espectro de empoderamento que lhes dê uma nova posição como agentes de mudança em sua realidade, e lhes permita interagir com as figuras e os papéis institucionais tradicionais, os quais se associam à compreensão do conceito de governabilidade.

Os resultados, ainda que sejam concepções de uma pequena mostra, chamam a atenção sobre outro objetivo específico: a cidadania como aspecto tão importante para as pessoas que vivem em sociedade quanto o trabalho e a família, e, para o adolescente, um indicador da necessidade de promover um desenvolvimento positivo. E quando se fala em cidadania, não se pode desvincular o caráter formativo-educacional. A juventude pode e deve agir como participante e como agente de mudança, promovendo ações de qualidade na comunidade e na sociedade em geral, especialmente nos dias atuais, com a presença de fatos conflitantes do cenário político nacional.

Sobre liderança, concluímos que as qualidades pessoais dos líderes são em parte um produto do meio, a partir da família em que vivem e até do país em que habitam. Esta pesquisa nos confirmou o que alguns estudos (Colby et al., 2003Colby, A., Ehrlich, T., Beaumont, E., & Stephens, J. (2003). Educating citizens: preparing America´s undergraduates for lives of moral and civic responsability. Jossey-Bass.; Colby et al., 2007Colby, A., Beaumont, E., Ehrlich, T., & Corngold, J. (2007). Educating for democracy: preparing undergraduates for responsible political engagement. Jossey-Bass.; Crocetti et al., 2012Crocetti, E., Jahromi, P., & Meeus, W. (2012). Identity and civic engagement in adolescence. Journal of Adolescence, 35(3), 521-532.; Youniss et al., 2001Youniss, J., McLellan, J. A., & Mazer, B. (2001). Voluntary service, peer group orientation and civic engagement. Journal of Adolescent Research, 16(5), 456-468.) já haviam alertado: cada vez mais as qualidades requeridas para a formação de um líder não podem ser definidas na abstração, mas devem estar relacionadas com as circunstâncias que rodeiam o seu surgimento.

As projeções que os pesquisados fizeram aos personagens apresentados estavam inter-relacionadas com três fatores essenciais na relação e na dependência da liderança com o contexto social: a posição ocupada dentro do marco estrutural da sociedade, as oportunidades que se apresentam e os determinantes históricos de cada sociedade.

Como um estudo de prevalência, as justificativas dos pré-adolescentes resultaram em concepções sobre o líder como alguém que tem a capacidade de transformar o ambiente no qual está inserido e pode levar importantes reformas às estruturas institucionais de seu meio. Entretanto, essas estruturas o precedem e o condicionam, determinam sua própria conduta e limitam sua capacidade de ação. Nesse sentido, o marco institucional e social se constitui como um fator que consagra verdadeiramente as características da liderança.

Esta pesquisa nos alerta ainda para o civismo como a potencialidade das virtudes ou atitudes que convertem a pessoa em um bom cidadão ou um bom democrata, o que está estritamente relacionado com a Educação. Ensinar civismo é ensinar ética. O civismo se transmite não com teorias ou normas de conduta, mas sendo um modelo cívico, criando um entorno favorável às atitudes cívicas, que lutam contra uma sociedade que fomenta a vida cômoda e fácil, a glória, o poder da força e do êxito pessoal a qualquer preço. Importa educar para o civismo como o aspecto mais básico da educação para o cultivo do caráter e dos valores da responsabilidade, solidariedade e tolerância, necessários às lideranças e às comunidades.

Por isso, falar de engajamento cívico relacionado à adolescência é pensar na natureza dinâmica e bidirecional do desenvolvimento humano, buscando, além disso, o desenvolvimento político. O engajamento cívico enfatiza o importante papel que os jovens podem e devem desempenhar como participantes e como agentes de mudança na construção das qualidades promotoras de benefícios para as comunidades e sociedades. Ele enfatiza as interações recíprocas na construção de recursos individuais, comunitários e sociais.

O problema de pesquisa sobre as lideranças políticas e noções de civismo em adolescentes foi respondido, pois constatamos que a formação cívica não é uma propriedade individual, mas um bem coletivo. Trata-se do caminho que coloca os sujeitos em contato com a sociedade, a fim de que seja cuidada e conservada para as gerações futuras, uma vez que é patrimônio de todos. Pressupõe-se que o engajamento cívico tome várias formas, além das atividades políticas ou eleitorais. O estudo coloca ênfase nos esforços dos jovens para aumentar o diálogo e desafiar a segregação e a exclusão social. Este é o mundo em que eles vivem, o mundo onde são especialistas em sua própria experiência, e esse é o seu compromisso. “Além das nossas famílias, temos amigos, vizinhos, companheiros nas comunidades onde residimos. O que significa ser um bom amigo, um bom vizinho ou um bom cidadão? A resposta é a mesma em todos os casos: serviço e engajamento” (Damon, 2003Damon, W. (2003). Noble Purpose – the joy of living a meaningful life. Templeton Foundation Press., p. 40).7 7 Beyond our families, we have friends, neighbors, fellow citizens in the communities where we reside. What does it mean to be a good friend, a good neighbor, or a good citizen? The answer is the same in all cases: Service and engagement. Assim, encontramos nas novas gerações as potencialidades para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e inclusiva, na qual o engajamento e participação social são pontos centrais.

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    Normalização, preparação e revisão textual: Leda Maria de Souza Freitas Farah – leda.farah@terra.com.br
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    Essa instituição de ensino de grande porte tem uma parceria com os autores do artigo, que há aproximadamente três anos vêm trabalhando com alunos, professores e gestores temas como relações interpessoais e assessoria psicopedagógica.
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    Os personagens do Questionário foram selecionados porque são os que mais apareceram nas histórias de ficção e aventura na última década. São eles: Coringa, Thanos, Voldemort, Negan, Darth Vader, Rumpeltilstikin, Loki, Ramsey Bolton, Lex Luthor e Apocalipse.
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    El espectador ya no considera la figura del héroe convincente, es uma figura blanda. Sin embargo, el espectador cree fielmente en el personaje malvado, el puro mal que encarna, el mal por el mal, la psicopatia. ?Por qué el espectador contemporáneo cree en la maldad? Es la verdade del hombre, la que los medios de comunicación nos incitan a creer, la violencia ciega, el abuso del otro que vemos a diario en el telediario.
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    Es un protagonista o figura masculina importante, literaria o cinematográfica, con quien se identifica el lector o el espectador, pese a atesorar cualidades no heroicas y una debilidad que tradicionalmente no se atribuye al héroe. Suelen ser personajes alienados y aislados, vulnerables a las debilidades humanas, pero que poseen un código ético privado y, en ocasiones, una integridad personal que les obliga a enfrentarse a la sociedad.
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    Beyond our families, we have friends, neighbors, fellow citizens in the communities where we reside. What does it mean to be a good friend, a good neighbor, or a good citizen? The answer is the same in all cases: Service and engagement.

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Editor responsável: Cristiane Machado - https://orcid.org/0000-0002-3522-4018

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Jul 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    02 Ago 2020
  • Aceito
    17 Maio 2021
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