Acessibilidade / Reportar erro

A multivocalidade identitária: riscos e desafios de uma metáfora aglutinadora1 1 Apoio: Fundação para Ciência e a Tecnologia, Bolsa de Pós-Doutoramento com a referência SFRH/BPD/80671/2011

Identity multivoicedness: risks and challenges of a unifying metaphor

La multivocalité identitaire: risques et défis d'une métaphore unificatrice

La identidad multivocal: riesgos y desafíos de una metáfora unificadora

Resumo:

Os artigos apresentados representam diferentes aplicações da teoria do self dialógico. Partindo deste conjunto de contributos teórico-empíricos, desenvolvemos uma reflexão em torno da metáfora da multivocalidade identitária centrada em duas dimensões complementares: a necessidade de uniformização e transversalidade e a necessidade de inovação e diversidade. Nesse sentido, apresentamos uma revisão conceptual de três conceitos-chave desta perspectiva teórica (posição de identidade, voz e posicionamento) e uma análise das interligações com a perspectiva semiótica, a perspectiva cultural e a perspectiva desenvolvimental.

Palavras-chave:
posição de identidade; voz; posicionamento; perspectiva semiótica; perspectiva cultural; perspectiva desenvolvimental

Abstract:

These articles represent different applications of the dialogical self theory. From this set of theoretical and empirical contributions, we have developed a reflection on the metaphor of identity multivoicedness. We focused on two complementary dimensions: the need for standardization and transversality and the need for innovation and diversity. In this sense, we present a conceptual review of three key concepts of this theoretical perspective (I-position, voice and positioning) and an analysis of the interconnections with the semiotic perspective, the cultural perspective and the developmental perspective.

Keywords:
I-position; voice; positioning; semiotic perspective; cultural perspective; developmental perspective

Résumé:

Les articles présentés représentent différentes applications de la théorie du self dialogique. À partir de cet ensemble de contributions théoriques et empiriques, nous développons une réflexion autour de la métaphore de la multivocalité identitaire centrée sur deux dimensions complémentaires: la nécessité de la normalisation et de la transversalité, et la nécessité de l'innovation et de la diversité. Ainsi, nous présentons une révision conceptuelle de trois concepts clés de cette perspective théorique (position de l'identité, voix et positionnement) et une analyse des interconnexions avec la perspective sémiotique, la perspective culturelle et la perspective développementale.

Mots-clés:
position de l'identité; voix; positionnement; perspective sémiotique; perspective culturelle; perspective développementale

Resumen:

Los artículos presentados representan diferentes aplicaciones de la teoría del self dialógico. Desde este conjunto de aportaciones teórico-empíricas, se desarrolla una reflexión sobre la metáfora multivocal identitaria centrada en dos dimensiones complementarias: la necesidad de uniformización y de transversalidad; y la necesidad de innovación y diversidad. En este sentido, se presentan una revisión conceptual de tres conceptos clave -posición de identidad, voz y posicionamiento- y un análisis de las interconexiones con la perspectiva semiótica, cultural y de desarrollo.

Palabras clave:
posición de identidad; voz; posicionamiento; perspectiva semiótica; perspectiva cultural; perspectiva de desarrollo

Rather than being a precise navigational instrument, the dialogical self theory may be better thought of as a flotilla of boats out on the sea, looking to discover new lands.

(Lucius-Hoene, 2007Lucius-Hoene, (2007). On the gains and losses of metaphors: a commentary on Bamberg & Zielke's "From dialogical practices to polyphonic thought? Developmental inquiry and where to look for it". International Journal for Dialogical Science, 2(1), 243-248., p. 247)

O papel aglutinador e potenciador da metáfora do self dialógico é inquestionável. A teatralização dinâmica do mundo identitário parece funcionar como um estímulo à sua exploração em temáticas e contextos diferenciados. O interessante conjunto de artigos apresentado é exemplo da diversidade de abordagens que é possível desenvolver partindo de uma mesma ferramenta teórica - a perspectiva de uma identidade multivocal. Esse factor distintivo da perspectiva dialógica gera, no nosso entender, uma estimulante ambivalência entre a necessidade de uniformizar ou criar categorias conceptuais transversais que permitam uma integração consistente dos diferentes contributos e a necessidade de introduzir novidade através de interligações com outras perspectivas teóricas. O nosso comentário irá centrar-se precisamente nesses dois pólos de ambivalência.

(Re)definindo conceitos-base da teoria do self dialógico

A perspectiva de que o sistema identitário é composto por um conjunto de posições que representam diferentes dimensões da vivência humana, ou seja, que possui um carácter múltiplo tem sido desenvolvida por diversos autores e foi ganhando consistência nas duas últimas décadas. A teoria dialógica, no entanto, vem acrescentar uma dimensão processual e dinâmica ao conceito de identidade, permitindo-lhe integrar de forma mais efectiva as implicações da multiplicidade social e cultural do mundo contemporâneo. Assim, para além de assumir o carácter plural da identidade (já presente em diversas formulações cognitivas), sugere também que a identidade não resulta de uma sobreposição de diferentes componentes (e.g. papéis, selves possíveis), mas representa um processo contínuo de diálogo que os indivíduos mantêm consigo mesmos - multivocalidade identitária. Portanto, as diferentes posições do eu não existem de forma isolada ou independente, mas comentam, discutem e negoceiam entre si o sentido de cada experiência e circunstância de vida. A identidade, enquanto projecto que necessita de dar resposta a condições que se encontram em constante mudança e evolução, vai sendo reformulada, momento a momento, a partir do resultado final dessas "assembleias identitárias".

Podemos ocupar diferentes posições no espaço-tempo identitário e, a partir daí, construir diferentes perspectivas (Sarbin, 1993Sarbin, T. (1993). The narrative as the root metaphor for contextualism. In S. Hayes, L. Hayes, H. Reese & T. Sarbin (Eds.), Varieties of scientific contextualism (pp. 51-65). Reno, NV: Context Press.). Essas diferentes posições de identidade relacionam-se através de um diálogo permanente para partilha da sua perspectiva e para defesa da sua especificidade (Hermans & Hermans-Jansen, 2004Hermans, H., & Hermans-Jansen, E. (2004). The dialogical construction of coalitions in a personal position repertoire. In H. Hermans & G. Dimaggio (Eds.), The dialogical self in psychotherapy (pp. 124-137). New York, NY: Brunner-Routledge.). A construção da identidade não resulta de uma multiplicidade de personagens que é organizada por um único autor omnisciente, mas de uma pluralidade de consciências simultaneamente independentes e interligadas (Hermans, 2004Hermans, H. (2004). The dialogical self: between exchange and power. In H. Hermans & G. Dimaggio (Eds.), The dialogical self in psychotherapy (pp. 13-28). New York, NY: Brunner-Routledge.). A integração e a coerência do sentido de identidade obtêm-se através do movimento dialógico entre as diferentes posições do eu (Lysaker, 2006Lysaker, P. (2006). Psychotherapy and schizophrenia: an analysis of requirements of an individual psychotherapy for persons with profoundly disorganized selves. Journal of Constructivist Psychology, 19(2), 171-189.). As relações dialógicas que se estabelecem entre as diferentes dimensões identitárias - que se caracterizam por serem altamente personalizadas, abertas e inacabadas - garantem a sobrevivência do sistema identitário (Hermans & Hermans-Jansen, 1995Hermans, H., & Hermans-Jansen, E. (1995). Self-narratives: the construction of meaning in psychotherapy. New York, NY: Guilford.). Sempre que é necessária uma actualização desse sistema, as dinâmicas são revistas, resultando em novas construções de identidade. Portanto, de acordo com a perspectiva multivocal, o sistema identitário consiste numa multiplicidade de identidades dialógicas interactivas (Hermans, Kempen & van Loon, 1992Hermans, H., Kempen, H., & van Loon, R. (1992). The dialogical self: beyond individualism and rationalism. American Psychologist, 47(1), 23-33.).

A perspectiva dialógica da identidade tem funcionado como estímulo para uma proliferação de desenvolvimentos teóricos em diferentes domínios da psicologia e noutras áreas de conhecimento. São exemplos desses desenvolvimentos a aplicação à psicoterapia (Gonçalves, Matos & Santos, 2009Gonçalves, M. M., Matos, M., & Santos, A. (2009). Narrative therapies and the nature of "unique outcomes" in the construction of change. Journal of Constructivist Psychology, 22, 1-23.; Hermans & Dimaggio, 2004Hermans, H., & Dimaggio, G. (Eds.) (2004). The dialogical self in psychotherapy. Hove, UK: Brunner-Routledge.), à psicologia da personalidade (Hermans, 2001aHermans, H. (2001a). The dialogical self: toward a theory of personal and culture positioning. Culture & Psychology, 7(3), 243-281.; Raggatt, 2002Raggatt, P. (2002). The landscape of narrative and the plural self: exploring identity using the personality web protocol. Narrative Inquiry, 12, 290-318.), ao desenvolvimento humano (Bertau, Gonçalves & Raggatt, 2012Bertau, M. C., Gonçalves, M. M., & Raggatt, P. (2012). Dialogic formations: investigations into the origins and development of the dialogical self. Charlotte, NC: Information Age.; Fogel, 1993Fogel, A. (1993). Developing through relationships: origins of communication, self, and culture. Chicago, IL: The University of Chicago Press.; Valsiner, 2000aValsiner, J. (2000a). Culture and human development. London, UK: Sage.), à neurobiologia (Lewis, 2002Lewis, M. (2002). The dialogical brain: contributions of emotional neurobiology to understanding the dialogical self. Theory & Psychology, 12, 175-190.) e à dimensão sociocultural (Aveling & Gillespie, 2008Aveling, E., & Gillespie, A. (2008). Negotiating multiplicity: adaptative asymmetries within second-generation Turks' "Society of Mind". Journal of Constructivist Psychology, 21(3), 200-222.; Bhatia, 2002Bhatia, S. (2002). Acculturation, dialogical voices and the construction of the diasporic self. Theory & Psychology, 12(1), 55-77.). No entanto, esse intenso movimento centrífugo parece correr o risco de resultar numa cacofonia desconcertante, em que conceitos diferentes são genericamente entendidos como fazendo referência ao mesmo fenómeno ou diferentes fenómenos são identificados pelo mesmo conceito (Salgado, 2004Salgado, J. (2004, Agosto). Methodology and the dialogical self: different ways of killing a metaphor. Comunicação apresentada na 3rd International Conference on the Dialogical Self, Varsóvia, Polónia.).

A falta de coerência nas múltiplas utilizações e desenvolvimentos da teoria do self dialógico (TSD) tem sido uma questão recorrentemente salientada na literatura (Ferreira, Salgado, Cunha, Meira & Konopka, 2004Ferreira, T., Salgado, J., Cunha, C., Meira, L., & Konopka, A. (2004, Agosto). Talking about voices: a critical reflection about levels of analysis on the dialogical self. Comunicação apresentada na 3rd International Conference on the Dialogical Self, Varsóvia, Polônia.; Raggatt, 2007Raggatt, P. (2007). Forms of positioning in the dialogical self: a system of classification and the strange case of dame Edna Everage. Theory & Psychology, 17(3), 355-382.; Salgado, 2004Salgado, J. (2004, Agosto). Methodology and the dialogical self: different ways of killing a metaphor. Comunicação apresentada na 3rd International Conference on the Dialogical Self, Varsóvia, Polónia.). Inclusivamente, quando diferentes autores falam de self dialógico, não é evidente que todos partilhem os mesmos fundamentos, sendo a ambiguidade um elemento sempre presente. Apesar da importância e do papel inovador que essa perspectiva tem na introdução de novas metáforas em psicologia, as quais vão garantindo a "riqueza" desse campo, em determinados momentos talvez seja necessário delimitar ou definir operacionalmente o seu significado. Essas representações simbólicas parecem estar a funcionar como "umbrella-like concepts" (Valsiner, 2000bValsiner, J. (2000b, Agosto). Making meaning out of mind: self-less and self-full dialogicality. Comunicação apresentada na 1st International Conference on the Dialogical Self, Nijmegen, Holanda.), agregando diferentes formulações que podem ou não partilhar as mesmas assumpções.

No conceito de Concepções Dinâmicas de Si (CDS) introduzido por Freire e Branco (2016)Freire, S., & Branco, A. (2016). O self dialógico em desenvolvimento: um estudo sobre as concepções dinâmicas de si em crianças. Psicologia USP, 27(2): 168-177. doi http://dx.doi.org/10.1590/0103-6564D20160001
http://dx.doi.org/10.1590/0103-6564D2016...
, como unidade de análise do processo de transformação do self no contexto escolar, podemos, por exemplo, encontrar conceitos diferenciados da perspectiva dialógica: 1) tal como as posições de identidade "as CDS são relacionais, contextuais, dinâmicas e plurais; . . . existem CDS contraditórias, ambivalentes e antagónicas; e algumas CDS podem assumir um papel dominante e outras podem ser escondidas por sofisticadas estratégias de autoproteção" (p. 172); 2) as CDS comportam a dimensão semiótica implicada nas dinâmicas identitárias, uma vez que "cada CDS pode ser concebida como um campo afetivo semiótico que transita no sistema de self dialógico" (p. 173) e 3) e incluem uma dimensão de alteridade, porque "as CDS são sempre coconstruídas em relação a alguém" (p. 173).

Partindo precisamente destes três elementos, considerámos que seria um exercício interessante testar a operacionalização, sob a forma de uma definição curta e rigorosa, daqueles que consideramos serem a tríade de conceitos-chave deste modelo teórico: (1) posição de identidade, (2) voz e (3) posicionamento.

Figura 1
Representação gráfica da tríade conceptual na dinâmica entre duas posições (1 e 2) - posição de identidade, voz e posicionamento

Posição de identidade. As dimensões identitárias que compõem o self dialógico têm sido designadas de formas diferenciadas: posições de identidade, autoaspectos, autopartes da identidade, estados da mente ou mesmos vozes (Power, 2007Power, M. (2007). The multistory self: why the self is more than the sum of its autoparts. Journal of Clinical Psychology: In Session, 63(2), 187-198.). Todas estas designações parecem referir-se ao mesmo conceito, mas a inexistência de uma definição consensualmente partilhada mantém a dúvida. Sugerimos que as posições de identidade podem ser definidas como os múltiplos actores e autores do sistema identitário. Correspondem aos componentes mais estáveis deste sistema, tendo cada um a sua própria história e trajectória desenvolvimental (Raggatt, 2007Raggatt, P. (2007). Forms of positioning in the dialogical self: a system of classification and the strange case of dame Edna Everage. Theory & Psychology, 17(3), 355-382.). Nesta tríade de conceitos, as posições de identidade teriam a natureza de entidade identitária.

Voz. A voz tem funcionado como uma das metáforas centrais da TSD. Recorrentemente, se não invariavelmente, este conceito tem sido utilizado em substituição do conceito anterior. Entendemos, no entanto, que podem ser diferenciados, embora mantendo necessariamente uma forte interdependência. Aliás, esta distinção é já evidente na formulação inicial da TSD quando Hermans (1996)Hermans, H. (1996). Voicing the self: From information processing to dialogical interchange. Psychological Bulletin, 119(1), 31-50. afirma que cada posição de identidade é "dotada de voz" e não "é uma voz". Assim, entendemos que a voz pode ser concebida como a mensagem verbalizada, o conteúdo ou argumento discursivo defendido por cada posição de identidade (Rosa & Tavares, 2013Rosa, C., & Tavares, S. (2013). Grasping the dialogical nature of acculturation. Culture & Psychology, 19(2), 273-288.). Esta dimensão semiótica representa o instrumento ou meio de relação dialógica entre as diferentes posições.

Posicionamento. Este é o conceito que verdadeiramente incorpora a dialogicalidade do sistema identitário (Ferreira et al., 2004Ferreira, T., Salgado, J., Cunha, C., Meira, L., & Konopka, A. (2004, Agosto). Talking about voices: a critical reflection about levels of analysis on the dialogical self. Comunicação apresentada na 3rd International Conference on the Dialogical Self, Varsóvia, Polônia.). Assumir uma abordagem dialógica implica assumir que os seres humanos, e consequentemente os seus processos psicológicos, têm uma natureza relacional e comunicacional, ou seja, de endereçamento (Salgado, 2005Salgado, J. (2005, Setembro). Between you and I: affectivity and motivation in a dialogical self. Comunicação apresentada no simpósio Self Development from a sociocultural perspective, International Society for Cultural and Activity Research Congress, Sevilha, Espanha.). Em todo e qualquer acto comunicacional quem "fala" (expõe a sua perspectiva) dirige-se sempre para algo ou alguém, pelo que qualquer actividade de conhecimento (nomeadamente, o autoconhecimento) é uma prática interactiva na qual a pessoa se posiciona face a outro(s). Portanto, um posicionamento implica uma tomada de posição que é dirigida a um outro, neste caso um outro Eu (individual, social, cultural) e representa a dimensão da alteridade nas dinâmicas do sistema de identidade.

(Re)formulando interligações com outras perspectivas teóricas

A metáfora da multivocalidade identitária tem sido um terreno produtivo do ponto de vista teórico, mas simultaneamente tem funcionado como incentivo à sua exploração do ponto de vista empírico e à sua aplicação do ponto de vista prático. Estas tentativas de ancorar, integrar e desenvolver os pressupostos fundamentais da TSD envolvem necessariamente o diálogo e a coconstrução com outras perspectivas teóricas. No âmbito deste nosso comentário, iremos centrar-nos na interligação com as três perspectivas que sobressaem nos textos analisados.

Perspectiva semiótica. A elaboração de significados é, para inúmeros autores, condição necessária para o bem-estar psicológico, na medida em que nos permite uma compreensão essencial sobre nós próprios e o mundo (Gonçalves, Korman, & Angus, 2000Gonçalves, O., Korman, Y., & Angus, L. (2000). Constructing psychopathology from a cognitive narrative perspective. In J. D. Raskin & R. A. Neyemer (Eds.), Constructions of disorder (pp. 265-284). Washington, DC: APA Press.; Hermans & Kempen, 1993Hermans, H., & Kempen, H. (1993). The dialogical self: meaning as movement. San Diego, CA: Academic Press.; Valsiner, 1998Valsiner, J. (1998). The guided mind. Cambridge, MA: Harvard University Press.). Procuramos continuamente dar significado ao fluxo experencial incessante e recorremos à construção de instrumentos semióticos de autorreflexão e autocompreensão. Neste sentido, cedo se tornou evidente que a mediação semiótica seria um contributo importante para o desenvolvimento da TSD (Leiman, 2002Leiman, M. (2002). Toward semiotic dialogism: the role of sign mediation in the dialogical self. Theory & Psychology, 12(2), 221-235.).

A natureza multivocal da identidade constitui um campo privilegiado de análise do processo de construção de significado. No espaço discursivo inerente ao self dialógico é possível testemunhar a emergência e gestão de significados distintos e concorrentes, que são narrados por uma ou mais posições identitárias. De forma a regular a fluidez das dinâmicas identitárias, e para garantir a integridade do sistema como um todo, o self dialógico possui uma capacidade de auto-organização que assenta numa estrutura hierárquica de significados. A mediação semiótica constitui-se como um sistema de controlo flexível que permite criar uma sensação de estabilidade e organização, ainda que temporária e altamente dinâmica (Cortini, Mininni, & Manuti, 2004Cortini, M., Mininni, G., & Manuti, A. (2004). The diatextual construction of the self in short message systems. Identity: An International Journal of Theory and Research, 4(4), 355-370.; Valsiner, 2002aValsiner, J. (2002a). Forms of dialogical relations and semiotic autoregulation within the self. Theory and Psychology, 12(2), 251-265., 2007Valsiner, J. (2007). Culture in minds and societies: foundations of Cultural Psychology. London, UK: Sage.). O self dialógico é assim um sistema relacional, auto-organizado e semioticamente autorregulado (Hermans, 1996Hermans, H. (1996). Voicing the self: From information processing to dialogical interchange. Psychological Bulletin, 119(1), 31-50.; Valsiner, 2004Valsiner, J. (2004, julho). The promoter sign: developmental transformation within the structure of dialogical self. Trabalho apresentado no simpósio Developmental aspects of the dialogical self, Gent, Belgium.).

As dinâmicas dialógicas que se estabelecem no sistema identitário geram um número crescente de significados, requerendo a acção de estruturas de controlo, ou poder (Hermans, 1996Hermans, H. (1996). Voicing the self: From information processing to dialogical interchange. Psychological Bulletin, 119(1), 31-50., 2001bHermans, H. (2001b). The construction of a personal position repertoire: method and practice. Culture & Psychology, 7(3), 323-365.; 2004Hermans, H. (2004). The dialogical self: between exchange and power. In H. Hermans & G. Dimaggio (Eds.), The dialogical self in psychotherapy (pp. 13-28). New York, NY: Brunner-Routledge.; Hermans & Kempen, 1993Hermans, H., & Kempen, H. (1993). The dialogical self: meaning as movement. San Diego, CA: Academic Press.; Valsiner, 2002aValsiner, J. (2002a). Forms of dialogical relations and semiotic autoregulation within the self. Theory and Psychology, 12(2), 251-265., 2004Valsiner, J. (2004, julho). The promoter sign: developmental transformation within the structure of dialogical self. Trabalho apresentado no simpósio Developmental aspects of the dialogical self, Gent, Belgium.). A activação de relações de domínio (característica intrínseca ao encontro entre mais do que uma perspectiva) funciona assim como um organizador da pluralidade resultante. Portanto, os significados são organizados numa estrutura hierárquica, na qual signos de nível mais elevado de abstracção regulam o funcionamento dos signos de nível mais baixo (Valsiner, 2002aValsiner, J. (2002a). Forms of dialogical relations and semiotic autoregulation within the self. Theory and Psychology, 12(2), 251-265.). A prevalência de um ou mais significado(s) implica que os significados alternativos são negligenciados, subjugados ou mesmo suprimidos. Portanto, o desenvolvimento de significados com elevado poder de abstracção, promoter signs, na terminologia de Valsiner (2004)Valsiner, J. (2004, julho). The promoter sign: developmental transformation within the structure of dialogical self. Trabalho apresentado no simpósio Developmental aspects of the dialogical self, Gent, Belgium., é um elemento central para a adaptação e autorregulação. Segundo este autor (2004Valsiner, J. (2004, julho). The promoter sign: developmental transformation within the structure of dialogical self. Trabalho apresentado no simpósio Developmental aspects of the dialogical self, Gent, Belgium., 2007Valsiner, J. (2007). Culture in minds and societies: foundations of Cultural Psychology. London, UK: Sage.) as posições de identidade que têm temporariamente um estatuto superior comunicam estes macrossignificados, sendo que o poder da sua argumentação justifica ou fundamenta uma maior autoridade. A activação destes macrossignificados permite gerir conflitos e resolver divergências dialógicas entre as posições de identidade, garantindo momentos de estabilidade dinâmica. No entanto, a funcionalidade desta estrutura hierárquica depende do seu carácter dinâmico e da sua constante actualização: as posições que dominam num determinado momento podem no momento seguinte passar para segundo plano e as posições anteriormente dominadas podem assumir uma maior controlo (Gonçalves & Ribeiro, 2012Gonçalves, M. M., & Ribeiro, A. (2012). Narrative processes of innovation and stability within the dialogical self. In H. Hermans & T. Gieser (Eds.), Handbook of dialogical self theory (pp. 310-318). Cambridge, UK: Cambridge University Press.; Hermans, 1996Hermans, H. (1996). Voicing the self: From information processing to dialogical interchange. Psychological Bulletin, 119(1), 31-50.).

O estudo apresentado por Mattos (2016)Mattos, (2016). Caso Jane: A mediação semiótica da "responsabilidade" - Um estudo sobre a construção de valores na transição para a vida adulta. Psicologia USP 27(2):178-188. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0103-6564D20160002
http://dx.doi.org/10.1590/0103-6564D2016...
consiste precisamente na análise da construção de um signo hipergeneralizado (macrossignificado ou promoter sign) - a responsabilidade. Na sua proposta específica de operacionalização da interligação entre a perspectiva semiótica e a perspetiva dialógica, as autoras sugerem que a autorregulação identitária ocorre através de uma diferenciação hierárquica de diferentes sentidos de responsabilidade e que "o self pode, assim, ser tomado como uma instância reguladora da construção dos valores" (p. 178). Assim, este estudo pode ser visto como um contributo reforçador da compreensão da construção (e reconstrução) dos macrossignificados e do sistema-self como um processo dinamicamente recursivo e retroalimentado.

Perspectiva cultural. A ligação entre a perspectiva dialógica e a perspectiva cultural foi assumida desde o primeiro momento nas assumpções que fundamentam a teoria dialógica. Hermans e Kempen (1993)Hermans, H., & Kempen, H. (1993). The dialogical self: meaning as movement. San Diego, CA: Academic Press. afirmam que os grupos socioculturais a que o indivíduo pertence (profissional, religião, nacionalidade, política, género) estão representados na identidade sob a forma de posições identitárias. Estas posições colectivas, que reflectem a perspectiva dos membros da comunidade, organizam as interacções sociais e a forma como cada indivíduo se vê a si próprio e ao mundo. Quando entram em diálogo com as posições pessoais têm a capacidade de guiar e moldar os significados coconstruídos nestes encontros (Hermans, 2001aHermans, H. (2001a). The dialogical self: toward a theory of personal and culture positioning. Culture & Psychology, 7(3), 243-281.; Hermans & Kempen, 1993Hermans, H., & Kempen, H. (1993). The dialogical self: meaning as movement. San Diego, CA: Academic Press.). E esta influência pode ser tão extrema ao ponto de determinados significados pessoais serem invalidados ou suprimidos pelos significados defendidos por estas posições colectivas. Portanto, mesmo os significados pessoais mais idiossincráticos são construídos sob a acção de constrangimentos sociais, históricos e culturais.

Esta interferência não pode, no entanto, ser vista como determinista ou definitiva. Por um lado, estes significados culturalmente partilhados não correspondem a guiões estáticos ou esquemas universais, mas representam fenómenos sociais dinâmicos caracterizados pela multiplicidade, heterogeneidade e ambiguidade (Marková, 2008Marková, I. (2008). The epistemological significance of the theory of social representations. Journal for the Theory of Social Behavior, 38(4), 461-487.; Valsiner, 2007Valsiner, J. (2007). Culture in minds and societies: foundations of Cultural Psychology. London, UK: Sage.). Por outro lado, apesar desta tentativa de "formatação" operada pelos significados culturais disponíveis ("cultura colectiva"), a "cultura pessoal" resulta de uma apropriação idiossincrática das dimensões culturais (ver Valsiner, 2007Valsiner, J. (2007). Culture in minds and societies: foundations of Cultural Psychology. London, UK: Sage.). As mensagens recebidas podem ser idênticas, mas as formas como estas mensagens são transformadas e reconstruídas são necessariamente únicas. Em diferentes momentos experienciais, o indivíduo tem a oportunidade de optar por reproduzir, por se opor, ou por construir uma nova alternativa mediadora entre a sua versão pessoal e os discursos sociais dominantes (Rosa & Tavares, 2013Rosa, C., & Tavares, S. (2013). Grasping the dialogical nature of acculturation. Culture & Psychology, 19(2), 273-288.).

Na elaboração teórica de Guimarães (2016)Guimarães, D. (2016). Descending and ascending trajectories of dialogical analysis: A seventh analytic interpretation on the Angel's short story. Psicologia USP 27(2):189-200. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0103-6564D20160003
http://dx.doi.org/10.1590/0103-6564D2016...
é evidente a chamada de atenção para a necessidade de identificar e integrar a dimensão sociocultural, em qualquer análise dialógica de dados empíricos. Nomeadamente, sugere que se detalhe a forma como cada pessoa (incluindo o investigador) internaliza os significados culturalmente partilhados, os constrangimentos que estes desencadeiam na construção de significado, mas simultaneamente a possibilidade de serem (re)construídos no encontro com outro(s).

Perspectiva desenvolvimental. O cruzamento entre a perspectiva dialógica e a perspectiva desenvolvimental tem sido abordado de diferentes prismas. Neste comentário centramo-nos na questão da articulação entre movimentos de estabilidade e mudança e na manutenção de uma continuidade espaciotemporal, ou sentido de integridade, do sistema identitário ao longo do tempo. A coexistência de perspectivas identitárias múltiplas e diferenciadas que se encontram em permanente actualização e redefinição requer uma exigente capacidade de gestão. Os processos implicados caracterizam-se pela complexidade e dinamismo, oscilando entre acordo, desacordo, dissonância, negociação e integração (Hermans, 2002Hermans, H. (2002). The dialogical self as a society of mind. Theory and Psychology, 12(2), 147-160.). A multivocalidade constitui a base para a sua própria transformação através precisamente dessa diversidade e ambivalência inerentes às trocas dialógicas (Valsiner, 2004Valsiner, J. (2004, julho). The promoter sign: developmental transformation within the structure of dialogical self. Trabalho apresentado no simpósio Developmental aspects of the dialogical self, Gent, Belgium.). A identidade do momento presente é múltipla, está em constante relação com o futuro e o passado e está localizada numa ampla sociedade de outros reais com os quais entra em diálogo numa incessante coconstrução de significados (Barresi, 2002Barresi, J. (2002). From "the thought is the thinker" to "the voice is the speaker". Theory and Psychology, 12(2), 237-250.). Daqui se depreende que a estabilidade não é um dado adquirido, é de certa forma um processo ilusório resultante de uma estratégia de gestão das relações entre o organismo e o mundo (Valsiner, 2002bValsiner, J. (2002b). Irreversibility of time and ontopotentiality of signs. Estudios de Psicología, 23(1), 49-59.).

Coexistem na identidade duas forças contrárias que se complementam para garantir a sobrevivência do sistema - forças de continuidade e estabilidade e forças de ruptura e mudança. Por um lado, tende a ocorrer uma tendência monológica evidenciada na intolerância à incerteza e na procura de estabilidade na produção de conhecimento. Esses momentos de estabilidade do sistema são períodos necessários e simultaneamente criativos, o que os distingue das situações extremas de estagnação ou rigidez (Fogel, 1993Fogel, A. (1993). Developing through relationships: origins of communication, self, and culture. Chicago, IL: The University of Chicago Press.; Roberts & Donahue, 1994Roberts, B., & Donahue, E. (1994). One personality, multiple selves: integrating personality and social roles. Journal of Personality, 62(2), 199-218.). Por outro, pode emergir um ímpeto para a dialogicalidade pela intolerância à monotonia e pela necessidade de testar os limites pela introdução de novidade (Valsiner, 2001Valsiner, J. (2001). Glory to the fools: ambiguities in development through play within games. Review essay: Klaus-Peter Köpping (Ed.) (1997). The games of gods and man: essays in play and performance. Forum Qualitative Social Research, 2(1).). Esses momentos de mudança desenvolvimental representam um conjunto de forças de diversidade que empurram a identidade em diferentes direcções e a preparam para o desenvolvimento (Ho, Chan, Peng & Ng, 2001Ho, D., Chan, S., Peng, S., & Ng, A. (2001). The dialogical self: converging east-west constructions. Culture & Psychology, 7(3), 393-408.; Valsiner, 2002aValsiner, J. (2002a). Forms of dialogical relations and semiotic autoregulation within the self. Theory and Psychology, 12(2), 251-265.).

Apesar dessa instabilidade latente, do ponto de vista da composição do repertório de posições identitárias, ou seja, da estrutura, a continuidade é garantida por partes do sistema identitário que são "habitadas" por posições mais estáveis (Hermans, 2003Hermans, H. (2003). The construction and reconstruction of a dialogical self. Journal of Constructivist Psychology, 16(2), 89-130.; Rosa & Gonçalves, 2010Rosa, C., & Gonçalves, M. M. (2010). Um olhar empírico sobre a identidade dialógica: um estudo sobre a conjugalidade. Psychologica, 53, 81-108.). Sobretudo nos momentos de maior exigência, ou disrupção, parece ser evidente a existência de dois tipos diferenciados de posições: um conjunto de posições que ocupa, invariavelmente, o núcleo de gestão funcional do sistema de identidade - "posições âncora" e um conjunto de posições mais oscilantes ou periféricas (Hermans, 2003Hermans, H. (2003). The construction and reconstruction of a dialogical self. Journal of Constructivist Psychology, 16(2), 89-130.; Hermans, Kempen & van Loon, 1992Hermans, H., Kempen, H., & van Loon, R. (1992). The dialogical self: beyond individualism and rationalism. American Psychologist, 47(1), 23-33.; Rosa & Gonçalves, 2013Rosa, C., & Gonçalves, M. M. (2013). Estratégias dialógicas de auto-organização da identidade: Psicoterapia e reestruturação da gestão interna. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 29(3), 273-288.).

Lopes de Oliveira (2016)Lopes de Oliveira, M. C. S. (2016). Desenvolvimento do self e processos de hiperindividualização: Interrogações à psicologia dialógica. Psicologia USP,27(2):201-211. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0103-6564D20160004
http://dx.doi.org/10.1590/0103-6564D2016...
fala sobre essa coexistência e complementaridade entre forças de estabilidade e forças de mudança no processo de desenvolvimento do self. E embora destaque uma "tendência de olhar de forma mais enfática para os processos de transição, às passagens e rupturas" (p. 201), defende que "a reflexão sobre movimentos de estabilização remete . . . à existência e à natureza de algo que se poderia denominar o núcleo mínimo do sistema de self . . . permanecendo relativamente íntegro em meio à pluralidade de experiências pessoais e aos processos intransitivos de desenvolvimento" (p. 201). O seu conceito de signos hiperindividualizados corresponde assim a uma elaboração dos elementos que "respondem pela continuidade do self" (p. 205).

(Re)flectindo sobre a multivocalidade identitária

A linha de argumentação defendida ao longo do texto pretende contribuir para o reconhecimento do papel que a metáfora do self dialógico tem vindo a desempenhar no desenvolvimento de uma nova forma de pensar a identidade, mais capaz de integrar as características dinâmicas do mundo contemporâneo. Para reconhecer e lidar com as suas próprias diferenças, contrastes, oposições e para alcançar soluções funcionais para os problemas e desafios com que é confrontada a cada momento, a identidade tem de possuir uma capacidade dialógica altamente desenvolvida (Hermans & Dimaggio, 2007Hermans, H., & Dimaggio, G. (2007). Self, identity, and globalization in times of uncertainty: a dialogical analysis. Review of General Psychology, 11(1), 31-61.).

Qualquer movimento de introdução de novidade comporta simultaneamente um risco e uma oportunidade: um risco de desorganização e uma oportunidade de mudança. Entendemos que uma gestão funcional dessa ambivalência consistirá numa alternância entre momentos de maior delimitação e estabilidade (de redefinição conceptual) e momentos de abertura e exploração do campo de possibilidades disponíveis (de reformulação da interligação com outras perspectivas). Esses dois momentos dependem inclusivamente um do outro: é necessário certo nível de estabilidade para mudar e é preciso mudar para encontrar estabilidade (Lyddon, 1988, citado por Hermans, 2006Hermans, H. (2006). Moving through three paradigms, yet remaining the same thinker. Counselling Psychology Quarterly, 19(1), 5-25.). É precisamente na relação simbiótica entre esses dois pólos que a perspectiva do self dialógico se vai consolidando e se afirmando enquanto alternativa de referência na conceptualização da identidade.

Referências

  • Aveling, E., & Gillespie, A. (2008). Negotiating multiplicity: adaptative asymmetries within second-generation Turks' "Society of Mind". Journal of Constructivist Psychology, 21(3), 200-222.
  • Barresi, J. (2002). From "the thought is the thinker" to "the voice is the speaker". Theory and Psychology, 12(2), 237-250.
  • Bertau, M. C., Gonçalves, M. M., & Raggatt, P. (2012). Dialogic formations: investigations into the origins and development of the dialogical self. Charlotte, NC: Information Age.
  • Bhatia, S. (2002). Acculturation, dialogical voices and the construction of the diasporic self. Theory & Psychology, 12(1), 55-77.
  • Cortini, M., Mininni, G., & Manuti, A. (2004). The diatextual construction of the self in short message systems. Identity: An International Journal of Theory and Research, 4(4), 355-370.
  • Ferreira, T., Salgado, J., Cunha, C., Meira, L., & Konopka, A. (2004, Agosto). Talking about voices: a critical reflection about levels of analysis on the dialogical self. Comunicação apresentada na 3rd International Conference on the Dialogical Self, Varsóvia, Polônia.
  • Fogel, A. (1993). Developing through relationships: origins of communication, self, and culture. Chicago, IL: The University of Chicago Press.
  • Freire, S., & Branco, A. (2016). O self dialógico em desenvolvimento: um estudo sobre as concepções dinâmicas de si em crianças. Psicologia USP, 27(2): 168-177. doi http://dx.doi.org/10.1590/0103-6564D20160001
    » http://dx.doi.org/10.1590/0103-6564D20160001
  • Gonçalves, M. M., Matos, M., & Santos, A. (2009). Narrative therapies and the nature of "unique outcomes" in the construction of change. Journal of Constructivist Psychology, 22, 1-23.
  • Gonçalves, M. M., & Ribeiro, A. (2012). Narrative processes of innovation and stability within the dialogical self. In H. Hermans & T. Gieser (Eds.), Handbook of dialogical self theory (pp. 310-318). Cambridge, UK: Cambridge University Press.
  • Gonçalves, O., Korman, Y., & Angus, L. (2000). Constructing psychopathology from a cognitive narrative perspective. In J. D. Raskin & R. A. Neyemer (Eds.), Constructions of disorder (pp. 265-284). Washington, DC: APA Press.
  • Guimarães, D. (2016). Descending and ascending trajectories of dialogical analysis: A seventh analytic interpretation on the Angel's short story. Psicologia USP 27(2):189-200. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0103-6564D20160003
    » http://dx.doi.org/10.1590/0103-6564D20160003
  • Hermans, H. (1996). Voicing the self: From information processing to dialogical interchange. Psychological Bulletin, 119(1), 31-50.
  • Hermans, H. (2001a). The dialogical self: toward a theory of personal and culture positioning. Culture & Psychology, 7(3), 243-281.
  • Hermans, H. (2001b). The construction of a personal position repertoire: method and practice. Culture & Psychology, 7(3), 323-365.
  • Hermans, H. (2002). The dialogical self as a society of mind. Theory and Psychology, 12(2), 147-160.
  • Hermans, H. (2003). The construction and reconstruction of a dialogical self. Journal of Constructivist Psychology, 16(2), 89-130.
  • Hermans, H. (2004). The dialogical self: between exchange and power. In H. Hermans & G. Dimaggio (Eds.), The dialogical self in psychotherapy (pp. 13-28). New York, NY: Brunner-Routledge.
  • Hermans, H. (2006). Moving through three paradigms, yet remaining the same thinker. Counselling Psychology Quarterly, 19(1), 5-25.
  • Hermans, H., & Dimaggio, G. (Eds.) (2004). The dialogical self in psychotherapy. Hove, UK: Brunner-Routledge.
  • Hermans, H., & Dimaggio, G. (2007). Self, identity, and globalization in times of uncertainty: a dialogical analysis. Review of General Psychology, 11(1), 31-61.
  • Hermans, H., & Hermans-Jansen, E. (1995). Self-narratives: the construction of meaning in psychotherapy. New York, NY: Guilford.
  • Hermans, H., & Hermans-Jansen, E. (2004). The dialogical construction of coalitions in a personal position repertoire. In H. Hermans & G. Dimaggio (Eds.), The dialogical self in psychotherapy (pp. 124-137). New York, NY: Brunner-Routledge.
  • Hermans, H., & Kempen, H. (1993). The dialogical self: meaning as movement. San Diego, CA: Academic Press.
  • Hermans, H., Kempen, H., & van Loon, R. (1992). The dialogical self: beyond individualism and rationalism. American Psychologist, 47(1), 23-33.
  • Ho, D., Chan, S., Peng, S., & Ng, A. (2001). The dialogical self: converging east-west constructions. Culture & Psychology, 7(3), 393-408.
  • Leiman, M. (2002). Toward semiotic dialogism: the role of sign mediation in the dialogical self. Theory & Psychology, 12(2), 221-235.
  • Lewis, M. (2002). The dialogical brain: contributions of emotional neurobiology to understanding the dialogical self. Theory & Psychology, 12, 175-190.
  • Lopes de Oliveira, M. C. S. (2016). Desenvolvimento do self e processos de hiperindividualização: Interrogações à psicologia dialógica. Psicologia USP,27(2):201-211. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0103-6564D20160004
    » http://dx.doi.org/10.1590/0103-6564D20160004
  • Lucius-Hoene, (2007). On the gains and losses of metaphors: a commentary on Bamberg & Zielke's "From dialogical practices to polyphonic thought? Developmental inquiry and where to look for it". International Journal for Dialogical Science, 2(1), 243-248.
  • Lysaker, P. (2006). Psychotherapy and schizophrenia: an analysis of requirements of an individual psychotherapy for persons with profoundly disorganized selves. Journal of Constructivist Psychology, 19(2), 171-189.
  • Marková, I. (2008). The epistemological significance of the theory of social representations. Journal for the Theory of Social Behavior, 38(4), 461-487.
  • Mattos, (2016). Caso Jane: A mediação semiótica da "responsabilidade" - Um estudo sobre a construção de valores na transição para a vida adulta. Psicologia USP 27(2):178-188. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0103-6564D20160002
    » http://dx.doi.org/10.1590/0103-6564D20160002
  • Power, M. (2007). The multistory self: why the self is more than the sum of its autoparts. Journal of Clinical Psychology: In Session, 63(2), 187-198.
  • Raggatt, P. (2002). The landscape of narrative and the plural self: exploring identity using the personality web protocol. Narrative Inquiry, 12, 290-318.
  • Raggatt, P. (2007). Forms of positioning in the dialogical self: a system of classification and the strange case of dame Edna Everage. Theory & Psychology, 17(3), 355-382.
  • Roberts, B., & Donahue, E. (1994). One personality, multiple selves: integrating personality and social roles. Journal of Personality, 62(2), 199-218.
  • Rosa, C., & Gonçalves, M. M. (2010). Um olhar empírico sobre a identidade dialógica: um estudo sobre a conjugalidade. Psychologica, 53, 81-108.
  • Rosa, C., & Gonçalves, M. M. (2013). Estratégias dialógicas de auto-organização da identidade: Psicoterapia e reestruturação da gestão interna. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 29(3), 273-288.
  • Rosa, C., & Tavares, S. (2013). Grasping the dialogical nature of acculturation. Culture & Psychology, 19(2), 273-288.
  • Salgado, J. (2004, Agosto). Methodology and the dialogical self: different ways of killing a metaphor. Comunicação apresentada na 3rd International Conference on the Dialogical Self, Varsóvia, Polónia.
  • Salgado, J. (2005, Setembro). Between you and I: affectivity and motivation in a dialogical self. Comunicação apresentada no simpósio Self Development from a sociocultural perspective, International Society for Cultural and Activity Research Congress, Sevilha, Espanha.
  • Sarbin, T. (1993). The narrative as the root metaphor for contextualism. In S. Hayes, L. Hayes, H. Reese & T. Sarbin (Eds.), Varieties of scientific contextualism (pp. 51-65). Reno, NV: Context Press.
  • Valsiner, J. (1998). The guided mind. Cambridge, MA: Harvard University Press.
  • Valsiner, J. (2000a). Culture and human development. London, UK: Sage.
  • Valsiner, J. (2000b, Agosto). Making meaning out of mind: self-less and self-full dialogicality. Comunicação apresentada na 1st International Conference on the Dialogical Self, Nijmegen, Holanda.
  • Valsiner, J. (2001). Glory to the fools: ambiguities in development through play within games. Review essay: Klaus-Peter Köpping (Ed.) (1997). The games of gods and man: essays in play and performance. Forum Qualitative Social Research, 2(1).
  • Valsiner, J. (2002a). Forms of dialogical relations and semiotic autoregulation within the self. Theory and Psychology, 12(2), 251-265.
  • Valsiner, J. (2002b). Irreversibility of time and ontopotentiality of signs. Estudios de Psicología, 23(1), 49-59.
  • Valsiner, J. (2004, julho). The promoter sign: developmental transformation within the structure of dialogical self. Trabalho apresentado no simpósio Developmental aspects of the dialogical self, Gent, Belgium.
  • Valsiner, J. (2007). Culture in minds and societies: foundations of Cultural Psychology. London, UK: Sage.
  • 1
    Apoio: Fundação para Ciência e a Tecnologia, Bolsa de Pós-Doutoramento com a referência SFRH/BPD/80671/2011

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    May-Aug 2016

Histórico

  • Recebido
    20 Jan 2015
  • Revisado
    22 Mar 2016
  • Aceito
    26 Abr 2016
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo Av. Prof. Mello Moraes, 1721 - Bloco A, sala 202, Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira, 05508-900 São Paulo SP - Brazil - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revpsico@usp.br