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Um sistema iroquês amazônico: parentesco e aliança Enawene-Nawe

RESUMO

Vocabulários de parentesco iroqueses são um dos temas mais longevos da antropologia social. Este artigo retoma esta longa tradição. Baseado em dados etnográficos de primeira mão, o texto a seguir oferece uma análise das classificações de parentesco de um povo de língua aruaque da Amazônia meridional, os Enawene-Nawe. Como é típico desses vocabulários, o caso em questão não expressa uma regra prescritiva de casamento. O discurso nativo formula apenas duas interdições: uniões entre pessoas do mesmo clã e entre parentes genealogicamente próximos. Por outro lado, os Enawene-Nawe apontam uma fórmula virtuosa de união matrimonial que se manifesta nos planos dos conceitos e das práticas: a troca direta entre duas famílias, vedada a repetição nas gerações seguintes.

PALAVRAS CHAVE:
Vocabulário de Parentesco; sistemas iroqueses; regime de aliança; povos ameríndios; Enawene-Nawe

ABSTRACT

Iroquois kinship vocabularies are one of the most long-standing topics in social anthropology. This article resumes this long tradition. Based on first-hand ethnographic data, the text analyses the kinship classifications of the Enawene-Nawe, an Arawakspeaking people located in Meridional Amazonia. As is typical in such vocabularies, the Enawene-Nawe system does not express a prescriptive rule of marriage. Native discourse only formulates two interdictions: unions between people from the same clan and unions between kin with close genealogical ties. On the other hand, the Enawene-Nawe indicate a virtuous formula of matrimonial alliance that manifests in concepts and practices: direct exchange between two families, without repetition in subsequent generations.

KEYWORDS :
terminology; Iroquois systems; alliance schemes; Amerindian peoples; Enawene-Nawe

O PROBLEMA

Vocabulários iroqueses são um dos objetos mais longevos da antropologia social.1 1 Os interessados nesta longa história encontrarão um panorama geral de seu desenvolvimento em um texto publicado anteriormente (Silva, 2010). Em Sistemas de Consanguinidade e Afinidade da Família Humana, obra publicada em 1871, Morgan traz esses fenômenos para o palco da disciplina, de onde nunca mais saíram. Contudo, as questões por eles propostas figuram em cena há mais tempo, como não desmente a cuidadosa descrição do Pe. Joseph-François Lafitau, publicada em 1724LAFITAU, Pe. Joseph-François. 1724. Moeurs des Sauvages Américains, Comparées avec Moeurs des Premiers Temps, vol. I :552ss., em sua obra Moeurs des Sauvages Américains, Comparées avec Moeurs des Premiers Temps (vol. I: 552 ss.). Na primeira metade do século XX, autores como Kroeber (1909), Lowie (1928LOWIE, Robert. 1928. A note on relationship terminologies. American Anthropologist, vol. 30: 263-268.), Radcliffe-Brown (1941), Murdock (1949MURDOCK, George. 1949. Social Structure. New York: Macmillan. ) e tantos outros retomaram o tema e, na virada do século XXI, Coelho de Souza (1995), Viveiros de Castro (1996; 1998), Trautmann & Barnes (1998TRAUTMANN, Thomas R.; BARNES, John. 1998. “Dravidian”, “Iroquois”, and “Crow-Omaha” in North American Perspective”. In: GODELIER, Maurice; TRAUTMANN, Thomas R; TJON SIE FAT, Franklin E. (Eds). Transformation of Kinship: Washington and London, Smithsonian Institution Press . pp. 27-58), Taylor (1998TAYLOR, Anne-Christine. 1998. “Jivaro kinship: ‘Simple’ and ‘Complex’ Formulas. A Dravidian Transformation Group”. In: GODELIER, Maurice; TRAUTMANN, Thomas R; TJON SIE FAT, Franklin E. (Eds). Transformation of Kinship: Washington and London, Smithsonian Institution Press . pp. 187-213.), Parkin (1998PARKIN, Robert. 1998. “Dravidian and Iroquois in South Asia”. In: GODELIER, Maurice; TRAUTMANN, Thomas R; TJON SIE FAT, Franklin E. (Eds). Transformation of Kinship: Washington and London, Smithsonian Institution Press . pp. 252-270.) e, mais recentemente, Trautmann (2012), descortinam ângulos do fenômeno, não explorados até então.

O modelo pioneiro de Morgan (1871MORGAN, Lewis Henry. 1871. Systems of Consanguinity and Affinity of the Human Family. Smithsonian Contributions to Knowledge, No. 17, Washington, Smithsonian Institution.) distingue vocabulários de dois tipos: o que abarca os “sistemas descritivos”, como os de tradição europeia, e o que reúne os “sistemas classificatórios”, em que os vocabulários iroqueses são casos exemplares. Os primeiros teriam como viga mestra a distinção entre parentes lineares (pais, filhos, avós, netos etc.) e colaterais (tios, sobrinhos, primos etc.). Enquanto isso, os últimos dividiriam o universo de parentes em dois grupos, com base no cruzamento (identidade ou diferença sexual do(s) parente(s) de ligação): os paralelos (irmãos, filhos de irmãos do pai e de irmãs da mãe etc.) e os cruzados (irmã do pai, irmão da mãe, filhos e netos desses parentes etc.).2 2 Morgan 1871 lista um conjunto muito detalhado de propriedades distintivas entre os dois tipos. Selecionamos aqui aquelas que nos parecem ser as mais importantes. . No início do século XX, Lowie (1928LOWIE, Robert. 1928. A note on relationship terminologies. American Anthropologist, vol. 30: 263-268.) desdobra a dicotomia de Morgan em quatro tipos, com base na classificação dos parentes da primeira geração ascendente (G+1), combinando os princípios de linearidade e cruzamento, que podem estar presentes (+) ou ausentes (-) em cada caso3 3 Adoto aqui o sistema de notação das posições genealógicas mais usual: “pai” F, “mãe” M, “pai e mãe” P (ou Pa), “irmão” B, “irmã” Z, “irmão e irmã” G (ou Sb), “filho” S, “filha” D, “filho e filha” Ch, “marido” H, “esposa” W, “cônjuge” Sp, “homem” ♂, “mulher” , “mesmo sexo” =, “sexo oposto ≠, “mais velho” e, “mais novo” y. Assim, por exemplo, FBeS significa “filho mais velho do irmão do pai”, FeBS “filho do irmão mais velho do pai”, Pa≠GCh “filho e filha dos germanos de sexo oposto aos pais”, isto é todos os primos cruzados de primeiro grau. :

Tabela 1
De Morgan a Lowie.

Em meados do século XX, Murdock (1949MURDOCK, George. 1949. Social Structure. New York: Macmillan. : v223-4), desta vez com base na classificação dos parentes da geração de Ego (GO), retomou o problema, conferindo rótulos étnicos a cada um dos tipos terminológicos e desdobrando o conjunto dos sistemas de fusão bifurcada, definidos por Lowie (1928LOWIE, Robert. 1928. A note on relationship terminologies. American Anthropologist, vol. 30: 263-268.) em três subconjuntos, com base na classificação dos primos cruzados matri e patrilaterais: iroquês, crow e omaha. O tipo iroquês é aquele em que esses parentes são idênticos (FZCh = MBCh). Os tipos crow e omaha os tornam distintos (≠) por torções geracionais, ora os identificando a parentes da geração dos filhos (G-1), ora a parentes da geração dos pais (G+1), como indicado no quadro a seguir.

Tabela 2
De Lowie a Murdock

Mais adiante, Lounsbury 1964LOUNSBURY, Floyd G. 1964. The structural analysis of kinship semantics. In: LUNT, Horace G. (Ed). Proceedings of the Ninth International Congress of Linguistics. The Hague. Pp.1073-1093. chama a atenção para uma nuance importante na classe dos sistemas de fusão bifurcada isogeracionais, até então genericamente denominados iroqueses (B = MZCh = FBCh) ≠ (MBCh = FZCh), não explorada por Lowie e Murdock, embora já tivesse sido apontada por Morgan (1871MORGAN, Lewis Henry. 1871. Systems of Consanguinity and Affinity of the Human Family. Smithsonian Contributions to Knowledge, No. 17, Washington, Smithsonian Institution.: 391, 486).4 4 Sobre a distinção dravidiano (Tamil-Índia) e iroquês (Sêneca-América do Norte), Morgan 1871 diz o seguinte: “É um tanto singular que os filhos de meu primo, sendo Ego um homem, sejam meus sobrinhos e sobrinhas, e não meus filhos e filhas, e que os filhos de minhas primas sejam meus filhos e filhas ao invés de sobrinhos e sobrinhas, como é requerido pelas analogias do sistema. Este é o único particular em que [o sistema dravidiano] difere materialmente da forma Sêneca-Iroquesa; e nisso o Sêneca está em maior conformidade lógica com os princípios do sistema que o Tamil. É difícil encontrar qualquer explicação para esta variância” (Morgan, 1871: 391). Mas Morgan não desiste. Na conclusão de seu livro, esboça uma tentativa de interpretação sociológica da alternância: segundo o autor, “a menos que [entre os Tamil (dravidiano) eu coabite com todas as minhas primas e seja excluído da coabitação com as esposas de todos os meus primos, essas relações não podem ser explicadas na natureza dos descendentes. Na família ganowaniana (iroquês), essa classificação é reversa ...” (Morgan, 1871: 486, meus grifos). Bem entendido, coabitação quer dizer casamento ou possibilidade matrimonial. Em resumo, iroquês e dravidiano são sistemas basicamente idênticos [-Linearidade, + Cruzamento (MBCh = FZCh)]. Mas, para Morgan, o dravidiano tem algo a mais: a regra de coabitação de primos. Tal nuance se manifesta precisamente no cálculo de cruzamento iroquês e dravidiano de parentes mais distantes, como, por exemplo, os filhos dos primos cruzados. Podemos assim resumir a contribuição de Lounsbury (1964): todos os sistemas de fusão bifurcada correspondem a estruturas classificatórias definidas pelo feixe de traços [-Linearidade. +Cruzamento]. Este feixe engendra regras de equação de germanos de mesmo sexo:

♂B...→ ♂... ≡ ...♂B → ...♂

♀Z...→ ♀... ≡ ...♀Z → ...♀ 5 5 As convenções notacionais utilizadas neste texto foram propostas por Lounsbury (1964). A presença ou ausência do símbolo “...” é essencial na formalização das regras: Assim, por exemplo, “♂B” significa “irmão (de um homem), tomado como parente de ligação ou como alter (parente designado)”; “♂B...” quer dizer “irmão (de um homem), como parente de ligação” e “.♂B” significa “um irmão do parente de ligação (de um homem), como parente de ligação ou como alter”.

Estas regras dispõem que germanos de mesmo sexo de uma pessoa (♂B..., ♀Z...), tomada como parente de ligação ou como alter, são equivalentes (→) àquela pessoa, como parentes de ligação (♂...,♀...); reciprocamente (≡), germanos de mesmo sexo do parente de ligação (...♂B, ...♀Z) são equivalentes (→) a estes parentes de ligação (...♂,...♀).

Além destas regras, comuns a todos os sistemas de fusão bifurcada, os sistemas dravidianos incorporariam algo mais: uma regra positiva de casamento de primos cruzados bilaterais. Em suma, dravidianos e iroqueses seriam sistemas com uma característica comum, já que se estruturam a partir de um princípio que torna idênticos, para efeitos de cálculo do parentesco, os germanos de mesmo sexo. Mas haveria entre eles uma diferença fundamental. Apenas os dravidianos identificariam parentes cruzados (tios, primos e sobrinhos) a parentes por afinidade (sogros, cônjuges, cunhados, genros e noras). Enquanto isso, os iroqueses distinguiriam sistematicamente essas duas séries de parentes (MB ≠ SpF, FZ ≠ SpM etc.). Como Lounsbury (1964LOUNSBURY, Floyd G. 1964. The structural analysis of kinship semantics. In: LUNT, Horace G. (Ed). Proceedings of the Ninth International Congress of Linguistics. The Hague. Pp.1073-1093. ) esclarece, tal diferença tem consequências classificatórias importantes. O quadro a seguir faz um resumo da distinção dravidiano e iroquês (P “paralelo”, X “cruzado”, = “mesmo sexo”, ≠ “sexo oposto”). Assim, por exemplo, nos sistemas dravidianos, os filhos de um parente paralelo de mesmo sexo são parentes paralelos, e assim por diante.

Tabela 3
Dravidiano e Iroquês

Observe-se que, no cômputo dravidiano, as duas variáveis, grau de cruzamento (P, X) e sexo do parente de ligação (= ≠), são levados em consideração na determinação do grau de cruzamento dos parentes da geração seguinte. Enquanto isso, no cômputo iroquês, apenas o sexo do parente de ligação é levado em conta. Seu grau de cruzamento é irrelevante. Assim, filhos de primos cruzados do mesmo sexo são equivalentes aos próprios filhos de Ego e aos filhos de irmãos do mesmo sexo, assim como filhos de primos cruzados do sexo oposto são equivalentes aos filhos de irmãos do sexo oposto.

Antes de prosseguir, convém assinalar que se, no plano do modelo, iroquês e dravidiano não se confundem, isso não significa dizer que não possam alternar em uma mesma paisagem etnográfica, como acontece, por exemplo, na América do Norte, entre os Ojibwa, (Hallowell, 1937HALLOWELL, Irving. 1937. “Cross-Cousin Marriage in the Lake Winnipeg Area”. In: Contributions to Anthropology: Selected Papers of. A. Irving Hallowell. Chicago: University of Chicago Press: 317-350.) e na América do Sul, entre os Jivaro-Candoshi (Taylor, 1998TAYLOR, Anne-Christine. 1998. “Jivaro kinship: ‘Simple’ and ‘Complex’ Formulas. A Dravidian Transformation Group”. In: GODELIER, Maurice; TRAUTMANN, Thomas R; TJON SIE FAT, Franklin E. (Eds). Transformation of Kinship: Washington and London, Smithsonian Institution Press . pp. 187-213.) e os povos do Alto-Xingu (Coelho de Souza, 1995).

Trautmann & Barnes (1998TRAUTMANN, Thomas R.; BARNES, John. 1998. “Dravidian”, “Iroquois”, and “Crow-Omaha” in North American Perspective”. In: GODELIER, Maurice; TRAUTMANN, Thomas R; TJON SIE FAT, Franklin E. (Eds). Transformation of Kinship: Washington and London, Smithsonian Institution Press . pp. 27-58) identificam quatro variantes no conjunto iroquês com base no modo como o cálculo de cruzamento se manifesta na designação dos parentes das gerações centrais (+1, O e -1). São elas: (1) cruzamento totalmente mantido nas Gerações +1, O e -1, como entre os Dakota; (2) cruzamento parcialmente perdido nas Gerações +1 e -1, como entre os Delaware; (3) cruzamento totalmente perdido na Geração O, como entre os Cheyenne e (4) cruzamento parcialmente perdido nas Gerações +1 e -1 e totalmente perdido na Geração 0, como entre os Munsee.

Diante das variantes iroquesas identificadas por Trautmann & Barnes (1998TRAUTMANN, Thomas R.; BARNES, John. 1998. “Dravidian”, “Iroquois”, and “Crow-Omaha” in North American Perspective”. In: GODELIER, Maurice; TRAUTMANN, Thomas R; TJON SIE FAT, Franklin E. (Eds). Transformation of Kinship: Washington and London, Smithsonian Institution Press . pp. 27-58), a primeira impressão que se pode ter é a de que a variante 1 seja a “forma canônica” iroquesa, já que apenas aí o princípio do cruzamento - viga central do cômputo iroquês - se expressa nas três gerações mediais. As demais poderiam ser tomadas como manifestações incompletas deste tipo terminológico. Mas os argumentos recentes de Trautmann (2012:40-1) nos fazem abandonar esta impressão. Como o autor chama a atenção, a neutralização da oposição paralelo e cruzado corresponde a um fenômeno estrutural que opera em todos os sistemas iroqueses. Na variante 1, afeta apenas os parentes de ligação, uma vez que a distinção paralelo/cruzado se manifesta plenamente no conjunto dos parentes designados (Alter). Enquanto isso, na variante 3, sua aplicação é generalizada, afetando não só os parentes de ligação, mas também os parentes designados. Além disso, o autor sugere que a neutralização da oposição paralelo/cruzado poderia corresponder a um atributo dos sistemas iroqueses no lugar da regra de casamento de primos, característica dos sistemas dravidianos. Seriam, assim, princípios equipolentes e situados em um mesmo plano analítico. Chegamos assim ao estado atual da classificação:

Dravidiano → regra de equação dos germanos de mesmo sexo + regra positiva de casamento de primos cruzados bilaterais

Iroquês → regra de equação dos germanos de mesmo sexo + regra de neutralização da oposição paralelo e cruzado

Trautmann (2012TRAUTMANN, Thomas R. 2012. “Crossness and Crow-Omaha”. In TRAUTMANN, Thomas R.; WHITELEY, Peter M. Crow-Omaha - New Light on a Classic Problem of Kinship Analysis. Tucson: The University of Arizona Press.) também chama a atenção de que a neutralização da oposição paralelo e cruzado, nos sistemas iroqueses, nunca é absoluta. Sua aplicação é sempre restrita a certos contextos genealógicos, incidindo em determinados ambientes da estrutura. Não conviria, portanto, embaralhar os rótulos classificatórios, confundindo tais manifestações com aquelas batizadas de “havaianas” por Murdock (1949MURDOCK, George. 1949. Social Structure. New York: Macmillan. ) ou “geracionais” por Lowie (1928LOWIE, Robert. 1928. A note on relationship terminologies. American Anthropologist, vol. 30: 263-268.), nas quais a oposição paralelo/cruzado é absolutamente inexistente. Assim, noções como “havaianização”,“deriva havaiana”, etc., tantas vezes empregadas para a se referir a este aspecto estrutural dos vocabulários iroqueses, seriam enganosas.

O CASO ENAWENE-NAWE

O vocabulário de parentesco Enawene-Nawe articula dois subconjuntos terminológicos, um deles composto por 25 termos sintéticos e outro, por 10 termos analíticos. O primeiro subconjunto é o que permite identificar o caso Enawene aos sistemas classificatórios de Morgan (1871MORGAN, Lewis Henry. 1871. Systems of Consanguinity and Affinity of the Human Family. Smithsonian Contributions to Knowledge, No. 17, Washington, Smithsonian Institution.), de fusão bifurcada de Lowie (1928LOWIE, Robert. 1928. A note on relationship terminologies. American Anthropologist, vol. 30: 263-268.) e iroqueses de Murdock (1949MURDOCK, George. 1949. Social Structure. New York: Macmillan. ) e de Lounsbury (1964LOUNSBURY, Floyd G. 1964. The structural analysis of kinship semantics. In: LUNT, Horace G. (Ed). Proceedings of the Ninth International Congress of Linguistics. The Hague. Pp.1073-1093. ). Suas características mais salientes são as seguintes:

Na 1ª Geração ascendente: F = FB ≠ MB; M = MZ ≠ FZ

Na Geração de Ego ♀: B = FBS = MZS = FZS = MBS; Z = FBD = MZD = FZD = MBD

Na Geração de Ego ♂: B = FBS = MZS ≠ FZS = MBS; Z = FBD = MZD = FZD = MBD

Na 1ª Geração descendente: S, D = ♂BCh, ♂FBSCh, ♂FZSCh, ♂MZSCh, ♂MBSCh, ♀ZCh,♀FBDCh, ♀FZDCh, ♀MZDCh, ♀MBDCh

Mais precisamente, o caso Enawene-Nawe se identifica ao cruzamento tipo-B (Trautmann & Barnes, 1998TRAUTMANN, Thomas R.; BARNES, John. 1998. “Dravidian”, “Iroquois”, and “Crow-Omaha” in North American Perspective”. In: GODELIER, Maurice; TRAUTMANN, Thomas R; TJON SIE FAT, Franklin E. (Eds). Transformation of Kinship: Washington and London, Smithsonian Institution Press . pp. 27-58), com variantes diferentes segundo o sexo. Para ego feminino, o sistema corresponde ao que os autores definem como variante 3, com cruzamento totalmente perdido na Geração 0, mas mantido nas Gerações +1 e -1. No entanto, para ego masculino, isto é verdade apenas em relação aos parentes do sexo oposto, já que suas primas cruzadas são classificadas da mesma forma que suas primas paralelas e irmãs. Enquanto isso, para os parentes do mesmo sexo, o sistema opera a variante 1, com a manutenção do cruzamento nas três Gerações mediais (+1, 0 e -1). O quadro abaixo apresenta o vocabulário referencial Enawene-Nawe, na primeira pessoa do singular:

Tabela 4
Termos sintéticos

Antes de examinarmos os termos analíticos, convém registrar a ocorrência de alomorfias entre as séries referencial e vocativa, assim como no próprio interior da série referencial, com a variação pronominal. Assim, por exemplo, o termo referencial, comum de dois gêneros, para “meu filho” ou “minha filha” é netai (19) mas seus correspondentes vocativos são a forma masculina hare, “filho”, e a forma feminina malo, “filha”. Enquanto isso, “meu tio materno” é koko-re (5), mas “tio materno dele” é ekokwe, como na expressão netai-ekokwefilho(a) de tio materno”. Na tabela a seguir, registramos algumas alomorfias mais salientes.

Tabela 5
Alomorfias

Convém assinalar também que, no discurso cotidiano, o vocabulário referencial pode vir acompanhado dos modificadores kaxata e kixixi, respectivamente “muito” e “pouco”, indicando proximidade ou distância genealógica do parente. Assim, a relação com um parente classificado como yowa-re (9), “irmão mais novo”, pode ser qualificada como kaxata yowa ou kixixi yowa, quando convém, por exemplo, opor um yB a um yMMZDS. Distinções genealógicas como esta podem também ser acompanhadas de informações genealógicas suplementares como hatuita heto, “mesma mãe”, hatalota hetooutra mãe”, e assim por diante.

O método de classificação dos parentes da primeira geração descendente é o que permite o diagnóstico diferencial de um sistema iroquês, em relação a outros sistemas de fusão bifurcada (Lounsbury, 1964LOUNSBURY, Floyd G. 1964. The structural analysis of kinship semantics. In: LUNT, Horace G. (Ed). Proceedings of the Ninth International Congress of Linguistics. The Hague. Pp.1073-1093. ). No caso em tela, observe-se que, para ambos os sexos, os filhos de primos cruzados de mesmo sexo são classificados da mesma forma que os filhos (19) e que os filhos de primos cruzados do sexo oposto, da mesma forma que os filhos de germano de sexo oposto (20, 21, 22, 23).

Devemos finalmente fazer menção aos termos diretamente implicados no casamento: hanuĩ (12), noivos, prometidos, de ambos os sexos; nerani (13), marido; neranetõ (14), esposa; nowatore (15), cunhado e nowatolo (16), cunhada, esses dois últimos termos empregados apenas entre parentes do mesmo sexo. Os vocábulos para marido e esposa cobrem também as posições de cunhado de sexo oposto. Por fim, o sistema define os termos natunawene (17) e naturawenerõ (18), consogro e consogra, que, segundo o modelo nativo, são os agentes do intercâmbio matrimonial. Podemos traduzi-los como “afins contratuais”, isto é, aqueles que negociam o casamento de seus filhos. Em outras palavras, aquilo que a teoria lévi-straussiana denomina “troca de irmãs”, o modelo Enawene-Nawe define como “troca de filho(a)s”.

B. Termos Analíticos

Os termos analíticos (“descritivos”, diria Morgan) do sistema enawene-nawe são, todos eles, tecnônimos voltados ao universo da afinidade e, fundamentalmente, organizados em três subconjuntos:

Um deles reúne expressões que transformam terminologicamente uma relação de afinidade em uma dupla relação de consanguinidade, o que corresponde a um fenômeno terminológico relativamente corriqueiro na América do Sul, e tem sido interpretado como um mecanismo de mascaramento da afinidade. Assim, por exemplo, “sogro” é denominado “avô de filho”, “genro” é um “pai de neto” e assim por diante. Como era de se esperar, um pai (3) não pode ser denominado dessa maneira, embora seja também avô de filho. Da mesma forma, um filho (19) nunca é denominado “pai de neto”. São eles:

Figura 1
Afins como consanguíneos de consanguíneos.

Há também expressões que transformam um afim imediato, como por exemplo, um cunhado (15) em um afim genealógico “tio materno de filho”, e assim por diante. As expressões (30) e (31) são equivalentes aos termos nowatore (15), cunhado, e nowatolo (16), cunhada, mencionados acima. Ou quase equivalentes, já que (15) e (16) não distinguem cunhados doadores e receptores. Enquanto isso, os tecnônimos (30) e (31), descrevem apenas as posições de doadores.

Figura 2
Afins imediatos como parentes cruzados (afins genealógicos) de parentes consanguíneos.

O terceiro subconjunto de termos analíticos revela um método classificatório sinuoso e raro, até onde tenho conhecimento. Como vimos acima, os cunhados de uma mulher, assim como as cunhadas de um homem, são respectivamente classificados da mesma forma que seus maridos e esposas: neranetõ (14) e nerani (13). Contudo, referir-se diretamente a esses parentes dessa maneira, segundo os Enawene-Nawe, pode ser constrangedor. Na terminologia enawene, dois pares de tecnônimos se oferecem como alternativas: no lugar de afins imediatos de sexo oposto, tais parentes são transformados terminologicamente em afins genealógicos de afins genealógicos: “tio materno de filho/a do irmão”, tawiyi(ro)-ekokwe (32, 33), e “tia paterna de filho/a da irmã”, nodaese(xo)-akerõ (34, 35). Observe-se que tais classificações só fazem sentido entre pessoas de sexo oposto. Entre pessoas de mesmo sexo, esses tecnônimos descreveriam situações paradoxais já que, para um dado homem, o tio materno dos filhos de sua irmã poderia ser ele mesmo. Para uma mulher, a tia paterna das filhas do irmão, idem.

Esse último subconjunto de tecnônimos traz à tona um aspecto fundamental do sistema de parentesco Enawene-Nawe. Em um regime de aliança organizado pela troca simétrica, o tio materno de filhos do irmão de uma mulher tende a ser o irmão da esposa do irmão ou, em outras palavras, corresponde a um cônjuge preferencial, assim como a tia paterna dos filhos da irmã de um homem, ou seja, a irmã do marido da irmã.

Figura 3
Afins imediatos como afins genealógicos de afins genealógicos

Interpretamos esses tecnônimos como a transformação de uma relação de afinidade imediata em uma conjugação de relações de afinidade genealógica. Em uma estrutura iroquesa, com troca de irmãs e impedimento de casamento de primos, como a que se verifica entre os Enawene-Nawe, essas duas modalidades da afinidade (a genealógica e a imediata) não correspondem às duas faces da mesma moeda, ao contrário do que Dumont (1975DUMONT, Louis. 1975 [1953]. “Le vocabulaire de parenté dravidien comme expression du marriage”. In: Dravidien et Kariera : l’alliance de marriage dans l’Inde du Sud et en Australie. Paris: Mouton. pp. 85-100.) aponta para os sistemas dravidianos, já que o irmão da mãe não é sogro, o cunhado não é primo cruzado, e assim por diante. Além disso, convém assinalar que aquilo que a teoria lévi-straussiana do parentesco chama de troca de irmãs e que o modelo Enawene-Nawe concebe como intercâmbio de filhos de sexo oposto, corresponde não só a uma prática frequente, mas a uma fórmula virtuosa para a qual consagram um conceito nativo: emamanenase (Silva, 2017).

Já o casamento de primos cruzados, isto é, a repetição da troca matrimonial em gerações consecutivas é explicitamente evitada. Nunca é demais lembrar: primos cruzados de sexo oposto são identificados aos irmãos. Em suma, a série de tecnônimos apresentada nas figuras 1, 2 e 3, descreve um dispositivo operacional da aliança de casamento à moda iroquesa.

Quando um jovem par passa a se classificar como “noivo/ahanuĩ (12), seus futuros sogros - isto é curioso - passam a classificá-los respectivamente como notene (28) e noxineto (29), respectivamente, “pai e mãe de neto/a”, bem antes do casal ter seu primeiro filho. Reciprocamente, os futuros sogros passam a ser por eles classificados como niaserõ (27)avó de filho/a” e niatokwe (26), “avô de filho/a”. Se essas relações são terminologicamente antecipadas, visto que, neste momento, o jovem casal ainda não tem filhos e sequer mora junto, curiosamente, as relações entre os consogros (17, 18), pais dos futuros cônjuges, parecem aguardar um momento mais apropriado. É preciso, segundo afirmam, efetivamente acontecer o nascimento dos netos. Em uma frase, o nascimento de netos é o que parece casar os filhos, da perspectiva dos agentes trocadores (afins contratuais), os pais dos noivos. Antes de prosseguir, convém organizar os dados apresentados até aqui em esquemas que permitam a apreensão global da estrutura terminológica e favoreçam a comparabilidade do caso em questão:

Consanguinidade

Tabela 6a
Estrutura conceitual do parentesco Enawene-Nawe Ego Masculino
Tabela 6b:
Estrutura conceitual do parentesco Enawene-Nawe Ego Feminino

Afinidade

Tabela 7
Estrutura conceitual do parentesco Enawene-Nawe (Afinidade)

UM REGIME IROQUÊS DE ALIANÇA

Um vocabulário de parentesco, recordemos, por definição, “age como um agente operador em um sistema de trocas matrimoniais dentro da comunidade” (Lévi-Strauss, 1966: 14) Sua função “é gerar possibilidades ou impossibilidades de casamento” (ibid.). Como já foi sublinhado, este aspecto se manifesta de modo transparente nos vocabulários dravidianos, uma vez que tais sistemas identificam parentes cruzados a afins e classificam filhos de primos cruzados de sexo oposto como seus próprios filhos. Tais características - isto é sabido há muito tempo - estão ausentes nos vocabulários iroqueses. Sendo assim, como podemos então tomá-los da mesma forma como operadores de estruturas de intercâmbio matrimonial?

Recordemos que, entre os Enawene-Nawe, os primos cruzados de sexo oposto são idênticos aos irmãos e primos paralelos de sexo oposto, assim como os filhos de primos cruzados do mesmo sexo o são em relação aos próprios filhos (Tabelas 6a, 6b). Recordemos também que o caso em questão define um conjunto específico de termos descritivos para as relações de afinidade (Tabela 7), que não se confunde com os termos para parentes cruzados (Tabelas 6a, 6b).

Os Enawene-Nawe destacam a reiteração da troca matrimonial de filhos, efetuada entre dois casais, como a fórmula ideal de matrimônio, a única para a qual consagram um conceito nativo (emamanenase). Um casamento não apenas produz uma nova família, mas alia dois pares de consogros e gera uma expectativa de reiteração da aliança, ou, para empregar os termos nativos, uma expectativa de produção de novos casamentos entre aqueles que, graças à primeira troca matrimonial, se tornam “tios maternos ou tias paternas de sobrinhos” (Figura 3). O que não pode acontecer, alertam os Enawene-Nawe - e, de fato, não acontece - é a repetição desta fórmula em gerações subsequentes, envolvendo as mesmas famílias parceiras.

Este aspecto permite retomar o modelo tentativo de aliança iroquesa formulado por Viveiros de Castro (1996: 51-5). Como o autor sugere, primas cruzadas de segundo grau, ♂MMBSD, ♂FFZDD, ♂MFZSD e ♂FMBDD, poderiam ser teoricamente casáveis em um regime concêntrico de troca simétrica diferida, composto por quatro grupos, isto é, de um regime de troca efetuada em gerações não-consecutivas, com intervalos de duas gerações. Por um lado, os dados enawene-nawe de que disponho não confirmam tais possibilidades matrimoniais. Por outro, vale dizer que, no corpus por mim reunido, que documenta cento e setenta casamentos, ocorrem apenas oito uniões envolvendo parentes consanguíneos. Cinco deles descrevem uniões de primos cruzados de terceiro grau, segundo o cálculo iroquês: três casamentos com ♂MMFBDSD e dois com ♂FMFBDDD, o que poderia sugerir uma fórmula de intercâmbio que se manifestaria a intervalos de três gerações.

De toda forma, é preciso enfatizar que a hipótese de Viveiros de Castro (1996) converge com os fatos etnográficos apresentados aqui, já que gravitam em tono da “troca de irmãs” como modelo conceitual básico.

Em um artigo dedicado ao estudo do parentesco de comunidades modernas dos Andes Centrais, Earls (1971EARLS, John. 1971. The structure of modern andean social categories, Journal of the Steward Anthropological Society, vol.3, n.1: 69-106.) descreve um regime de aliança que pode ter interesse na reflexão sobre o caso enawene-nawe, em face de alguns aspectos comuns. De acordo com Earls, os Vicosinos não podem repetir o casamento do pai e praticam a troca preferencial de irmãs. Para o caso andino, Earls sugere um modelo de aliança com quatro grupos e fechamentos consanguíneos a cada cinco gerações. Esta conjetura, retomada por Héritier (1981: 145) coincide com outro modelo hipotético - desta vez, nativo - que, um dia, um Enawene tentou me explicar em uma entrevista.

Infelizmente, o corpus genealógico por mim coletado, da mesma forma, não permite confirmar a realidade empírica deste engenhoso modelo.

Curiosamente, este modelo hipotético nativo faz eco à proposta elaborada por Gell (1975GELL, Alfred. 1975 - Metamorphosis of the Cassowaries: Umeda Society, Language and Ritual. London: Athlone.) para os Umeda da Nova Guiné. Lá também um regime semi-complexo coexiste com a troca de irmãs que não se repete em gerações subsequentes. Em linhas gerais, ao longo das gerações, o sistema umeda transforma aliados imediatos em aliados genealógicos, aliados genealógicos em aliados residuais, aliados residuais em gente casável e, fechando o circuito, gente casável em aliados imediatos. A aclimatação deste esquema na paisagem sul-americana poderia reclamar alguns ajustes: no caso enawene-nawe, devemos partir de um par de casais que, depois de negociações bem-sucedidas, passam a se tratar como consogros, afins contratuais. Na camada de baixo, figurariam os afins atuais (imediatos), que são os cônjuges e cunhados. Na seguinte, os afins genealógicos, primos-cruzados de primeiro grau e, por último, os afins genealógicos residuais, primos-cruzados de segundo grau, que são parentes com um bisavô comum.

Figura 4
Um modelo nativo de circulação matrimonial

Segundo este interlocutor - este é o ponto chave - os afins genealógicos residuais poderiam combinar o casamento de seus filhos. Se a combinação prosperar, tais afins residuais passariam a ser afins contratuais. No entanto, convém insistir, não disponho de dados que permitam confirmar empiricamente o fechamento matrimonial deste modelo em intervalos de três gerações. Mas, tentativamente, algo poderia ser avançado: os ancestrais comuns desses afins residuais certamente estariam mortos e, consequentemente, devem ser esquecidos, assim como as relações que mantiveram uns com os outros. Neste caso, o fechamento do ciclo poderia ocorrer de fato.

O conjunto de argumentos acima pode ser assim resumido: sistemas iroqueses e dravidianos compartilham uma regra de equação dos germanos de mesmo sexo, que produz a distinção entre parentes paralelos e cruzados. Esta é a base da oposição entre os dois tipos terminológicos. Apenas os sistemas dravidianos operam uma regra positiva de casamento de primos cruzados. Em seu lugar, as manifestações iroquesas operam uma regra de neutralização (parcial, nunca absoluta) da distinção paralelo e cruzado. Este é o princípio da oposição. Os tipos dravidiano e iroquês não definem uma oposição privativa, baseada na presença ou ausência de uma regra positiva de aliança, mas uma oposição equipolente: um dos polos ocupado pelo casamento de primos (dravidiano) e outro, pela neutralização parcial do cruzamento (iroquês). A “variante rica” (Taylor, 1998TAYLOR, Anne-Christine. 1998. “Jivaro kinship: ‘Simple’ and ‘Complex’ Formulas. A Dravidian Transformation Group”. In: GODELIER, Maurice; TRAUTMANN, Thomas R; TJON SIE FAT, Franklin E. (Eds). Transformation of Kinship: Washington and London, Smithsonian Institution Press . pp. 187-213.) Enawene-Nawe articula um regime elementar de troca restrita inclusiva (Viveiros de Castro, 1998) que opera nos horizontes de uma estrutura complexa, que define apenas proibições matrimoniais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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  • 1
    Os interessados nesta longa história encontrarão um panorama geral de seu desenvolvimento em um texto publicado anteriormente (Silva, 2010SILVA, Marcio. 2010. Um pequeno, mas espinhoso, problema do parentesco. Ilha Revista de Antropologia, vol. 12, n. 2: 164-207.).
  • 2
    Morgan 1871 lista um conjunto muito detalhado de propriedades distintivas entre os dois tipos. Selecionamos aqui aquelas que nos parecem ser as mais importantes.
  • 3
    Adoto aqui o sistema de notação das posições genealógicas mais usual: “pai” F, “mãe” M, “pai e mãe” P (ou Pa), “irmão” B, “irmã” Z, “irmão e irmã” G (ou Sb), “filho” S, “filha” D, “filho e filha” Ch, “marido” H, “esposa” W, “cônjuge” Sp, “homem” ♂, “mulher” , “mesmo sexo” =, “sexo oposto ≠, “mais velho” e, “mais novo” y. Assim, por exemplo, FBeS significa “filho mais velho do irmão do pai”, FeBS “filho do irmão mais velho do pai”, Pa≠GCh “filho e filha dos germanos de sexo oposto aos pais”, isto é todos os primos cruzados de primeiro grau.
  • 4
    Sobre a distinção dravidiano (Tamil-Índia) e iroquês (Sêneca-América do Norte), Morgan 1871 diz o seguinte: “É um tanto singular que os filhos de meu primo, sendo Ego um homem, sejam meus sobrinhos e sobrinhas, e não meus filhos e filhas, e que os filhos de minhas primas sejam meus filhos e filhas ao invés de sobrinhos e sobrinhas, como é requerido pelas analogias do sistema. Este é o único particular em que [o sistema dravidiano] difere materialmente da forma Sêneca-Iroquesa; e nisso o Sêneca está em maior conformidade lógica com os princípios do sistema que o Tamil. É difícil encontrar qualquer explicação para esta variância” (Morgan, 1871MORGAN, Lewis Henry. 1871. Systems of Consanguinity and Affinity of the Human Family. Smithsonian Contributions to Knowledge, No. 17, Washington, Smithsonian Institution.: 391). Mas Morgan não desiste. Na conclusão de seu livro, esboça uma tentativa de interpretação sociológica da alternância: segundo o autor, “a menos que [entre os Tamil (dravidiano) eu coabite com todas as minhas primas e seja excluído da coabitação com as esposas de todos os meus primos, essas relações não podem ser explicadas na natureza dos descendentes. Na família ganowaniana (iroquês), essa classificação é reversa ...” (Morgan, 1871MORGAN, Lewis Henry. 1871. Systems of Consanguinity and Affinity of the Human Family. Smithsonian Contributions to Knowledge, No. 17, Washington, Smithsonian Institution.: 486, meus grifos). Bem entendido, coabitação quer dizer casamento ou possibilidade matrimonial. Em resumo, iroquês e dravidiano são sistemas basicamente idênticos [-Linearidade, + Cruzamento (MBCh = FZCh)]. Mas, para Morgan, o dravidiano tem algo a mais: a regra de coabitação de primos.
  • 5
    As convenções notacionais utilizadas neste texto foram propostas por Lounsbury (1964LOUNSBURY, Floyd G. 1964. The structural analysis of kinship semantics. In: LUNT, Horace G. (Ed). Proceedings of the Ninth International Congress of Linguistics. The Hague. Pp.1073-1093. ). A presença ou ausência do símbolo “...” é essencial na formalização das regras: Assim, por exemplo, “♂B” significa “irmão (de um homem), tomado como parente de ligação ou como alter (parente designado)”; “♂B...” quer dizer “irmão (de um homem), como parente de ligação” e “.♂B” significa “um irmão do parente de ligação (de um homem), como parente de ligação ou como alter”.
  • CONTRIBUIÇÃO DE AUTORIA:

    Não se aplica
  • FINANCIAMENTO:

    A pesquisa entre os Enawene-Nawe foi parcialmente financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (FAPESP Proc. AP-08/53352-3).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Nov 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    26 Nov 2020
  • Aceito
    27 Maio 2021
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