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39ª Reunião anual da SBPC: atual crise econômica à margem

NOTAS & COMENTÁRIOS

39ª Reunião anual da SBPC: atual crise econômica à margem

João Evangelista Mendes da Rocha

Bacharel pela EBAP/FGV

Como a cada ano, em 1987 a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) realizou, de 12 a 18 de julho, sua 39ª Reunião, na Universidade de Brasília e, confirmando sua vocação pioneira no levantamento e debate dos assuntos ligados à ciência, atuais e futuros, nada menos que 2.926 trabalhos foram inscritos, em todas as áreas do conhecimento humano. Sua organização comportou, como em anos anteriores, mesas-redondas, conferências, cursos, encontros, painéis, e até, em algumas áreas, a realização, pela primeira vez, de simpósios multidisciplinares. Estes, de fato, são de marcante importância dentro do indiscutível conceito de que uma ciência nunca está isolada das outras, e que todas se interpenetram na busca do objetivo maior que é o bem do homem e da humanidade.

Como venho acompanhando, a partir de 1983, com mais atenção, por minha formação profissional, o desempenho do grupo Economia e Administração, considero que o mesmo ainda se manteve baixo este ano e, em face da grave situação econômica do País, decepcionante até, pois, a despeito de tantos planos (e suas correções, por vezes, contraditórias) que vigoraram ou estão em plena execução, com os mais diversos nomes, o fato é que eles não mereceram o devido estudo e a crítica adequada.

Onde estavam os "pais do cruzado" e outros responsáveis que não aproveitaram a inigualável oportunidade da 39ª Reunião Anual da SBPC, justamente em Brasília, para debaterem e esclarecerem os tais planos? Ou, ao menos, traduzirem do seu economês para o público certos vocábulos e expressões ainda pouco ou nada assimiláveis pelas suas múltiplas interpretações? Não, ninguém os viu e nada foi comentado a respeito por eles, só podendo agravar-se assim, o distanciamento entre política econômica e sociedade - o que não é bom para a transição democrática e muito menos para a população.

Trabalhos de economia e administração, de boa qualidade, de autoria de professores universitários, mas alheios à atual crise econômica, foram inscritos e defendidos, em um total de 33, sendo apenas nove de administração. Inclusive, um deles - e esta foi a heróica exceção -, não de autor economista cujo nome esteja arrolado no elenco mais conhecido dos chamados "pais do cruzado", mas de um professor da Universidade Federal da Paraíba, que tratou de um dos planos e cujo trabalho recebeu o título de "O Plano Cruzado e seu impacto sobre a inflação". Nele, Martinho Ramalho de Melo destacou a inflação "reprimida durante a vigência do plano" que, ao lado de outros fatores, apontou resultados indicativos de "forte instabilidade sócio-político-econômica."

Sintetizamos, agora, os quatro mais importantes trabalhos na área da administração.

1. Ferri, Lúcia Maria Gomes & Schimidt, Ivone. Bases teóricas e práticas de um programa de desenvolvimento de recursos humanos para a administração pública. Universidade Estadual Paulista. Aqui as autoras focalizaram o "filé mignon" da administração - que é o seu setor de RH -, ainda desconscientizado de seu decisivo valor no processo de soerguimento de qualquer tipo de empresa. A administração de recursos humanos tende a se impor de modo crescente na medida em que se reconheça no homem a verdadeira medida de eficácia.

2. Ferri, Lúcia Maria Gomes. Estudo do controle e desempenho de dois grupos profissionais e duas organizações através da análise comparativa Universidade Júlio de Mesquita Filho. A autora fez a comparação entre duas organizações - uma escolar e outra hospitalar - usando, para alguns aspectos, a metodologia de Tannenbaum.

3. Rezler, Meiri Alice. Levantamento de características importantes em gerentes de setor público. Fundação Pedroso Horta. Tratou da questão, fundamental para a administração, a que já nos referimos, ou seja de RH, especificamente do gerente, que é o maior responsável pelo comportamento eficaz do pessoal subordinado. A autora põe em destaque suas melhores qualidades, resultantes de uma pesquisa apresentada.

Dentre outras, anotamos:

a) sua forma democrática de administrar;

b) a linha política afinada com a participação popular; e

c) a capacitação na tomada de decisões.

4. Oliveira, Francisco Correia de. Co-gestão e tradição na administração pública. Universidade Federal do Ceará. Neste trabalho o autor se detém nas reflexões de autores americanos da administração científica sobre o comportamento administrativo brasileiro, levantando - acho que pela primeira vez em qualquer congresso - o fato da contribuição que "as novas administrações populares em prefeituras, como a de Recife e/ou de Fortaleza, podem dar para o desenvolvimento da administração científica."

E, para encerrar estas nossas considerações, citamos os seguintes números bem expressivos: dentro dá mesma área de ciências do homem, enquanto no grupo economia-administração, 33 trabalhos foram apresentados, no de educação registrou-se o quádruplo, ou seja, 122, o que mostra, claramente, a defasagem nos dois campos do conhecimento. E se o fizermos com uma das áreas das ciências da matéria, então, a confrontação assume aspecto até chocante. Só nos setores da física, nada menos de 337 trabalhos se inscreveram - 10 vezes o número de economia e administração.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Dez 1987
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