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DIAS, Gerência de materiais

RESENHAS BIBLIOGRÁFICAS

Kurt Ernst Weil

Professor titular no Departamento de Produção e Operações Industriais da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas e decano da Congregação

Dias, Marco Aurélio Pereira. Gerência de materiais. São Paulo, Atlas, 1984. 186 p.

O primeiro livro do autor - Administração de materiais; uma abordagem logística - foi revisto e resenhado por mim quando ainda se encontrava no prelo. Nesse seu primeiro livro, o autor ainda não estava completamente profissionalizado na arte de escrever livros-texto; assim, por exemplo, as bibliografias não correspondiam ao texto do capítulo, havia descontinuidades, falta de índice remissivo, etc. Mas o livro já demonstrava o grande potencial do Prof. Dias como autor.

Tanto que logo a sua segunda obra foi distinguida com o prêmio Brahma de Administração, que oferece um prêmio em moeda corrente não desprezível.

O livro mereceu este prêmio, embora apenas o seu subtítulo - A eficácia da administração de materiais - expresse aquilo que seu conteúdo realmente é; uma maneira parcialmente profunda e extensa de tratar certos assuntos (transporte e distribuição) e sob enfoques diferentes (compras). Mas o livro se ressente de ser episódico e não suficientemente extenso para ser um volume de "gerência de materiais"; deveria manter o título origina! com o qual ganhou o Prêmio Brahma, A eficácia da administração de materiais, ou, ainda melhor, A eficácia em setores de administração de materiais, pois dessa forma não haveria a necessidade de se explicarem as lacunas existentes.

Então, fica mais uma vez explicado que existem, em um livro de 186 páginas sobre gerência de materiais, evidentes lacunas, como não poderia deixar de acontecer - o tratamento em profundidade, portanto, foi aplicado a uns poucos assuntos. A estes resumir-se-á a resenha.

O sumário do livro apresenta em primeiro lugar uma avaliação de desempenho (à p. 20) e outra de eficácia de compras (praticamente da p. 52 à p. 65), dentro da técnica de índices, já descrita por este resenhista em artigo na RAE e em material de ensino largamente difundido. No entanto, o desenvolvimento sistêmico para a aplicação dos índices só se ressente da falta dos gráficos múltiplos simultâneos, para que tendências em si perniciosas sejam vistas em um contexto geral onde se revelam, eventualmente, benéficas. Por exemplo, o aumento do custo do comprador por pedido (nº de pedidos/mês sobre Cr$ folha de pagamento depto. compras/mês) pode ter uma tendência crescente (indesejável) mas em conjunto com a diminuição de atrasos (em Cr$)/total de pedidos (em Cr$) e a diminuição das recusas por qualidade insuficiente e, finalmente, com o aumento do giro do estoque (desejável), fica caracterizada a eficácia total, e não a do segmento. Só o gráfico mostra utilmente as tendências assim opostas. O resenhista gostaria ainda de encontrar, nas folhas de apuração de eficácia que o autor apresenta, a "diminuição do custo de compra com aumento de giro" e a "diminuição de atraso e recusa por qualidade" para ficar integralmente satisfeito.

Em termos gerais, o sumário é o seguinte:

1. Introdução: estilo gerencial, gerenciamento de materiais e avaliação de desempenho.

2. Controle de estoques: política, informações básicas, índices de controle.

3. Compras: pedido, valor das compras, fornecedores, coleta de preços, eficácia geral - negociações.

4. Movimentação e armazenagem: análise, produtividade, racionalização, capacidade de estocagem, armazenamento.

5. Transporte e distribuição:determinação de rotas em redes, consumo de combustível, substituição de equipamentos, orçamento e apuração de custo de transporte, avaliação de transportadora.

Apêndice I. Fluxo primário de informações de um PCP.

Apêndice II. Informações para índices de medida de produção.

Apêndice III. Como não deve ser entendida e como não deve ser usada a classificação ABC.

Bibliografia.

Uma simples leitura desse extenso sumário deixa clara a seletividade com que trabalhou o autor. Nada há de extraordinário nisso: escrever um livro completo de administração de material demanda um tempo enorme, com todas as suas 800 a 1.000 páginas; tanto que mesmo um Heinritz e um Dean Ammer, apesar de serem bem perfeitos, apresentam lacunas sérias. O tempo vale dinheiro e o retorno do tempo investido em um livro, mesmo premiado pela Brahma, é lento, penoso e sujeito à boa aceitação por parte do professorado. Se bem que esta obra de Dias mereça uma excelente acolhida, mesmo a nível de pós-graduação. Acredito, como professor com anos de experiência na área, que o livro não pode, sozinho, satisfazer às necessidades do currículo mínimo de administração em graduação ou às dos alunos de aprender administração de materiais.

No entanto, o livro é excelente para fins específicos. Acredito que o capítulo 5, sobre transportes, é, por si só, uma excelente introdução ao complicado campo de administração de transportes, muito pouco estudado e considerado no Brasil. O diagrama de flechas (determinação de rotas em redes - p. 123 e segs,) é uma extraordinária introdução ao planejamento de transportes, tanto internos (empilhadeiras, aqui não considerado), quanto externos. Pena que seja apresentado somente o fluxograma (p. 129), sem uma aplicação de computador ao mesmo, para servir em casos mais complexos de mercadorias, fretes e permanência para carga e descarga. O cálculo manual é dado, mas só se aplica a exemplos didáticos, na opinião deste resenhista.

De uma futura segunda edição só retiraria, por considerar um tanto desnecessário, o estudo relativamente detalhado sobre alinhamento e balanceamento de rodas (p. 165).

Os três apêndices são interessantes para o ensino, apesar de o uso do sistema ABC ser muito mais complexo do que as poucas linhas das aulas do colega Ayala, da FGV, fazem supor. Seria necessário outro livro, quase da mesma extensão, para se colocar os prós e contras da aplicação das regras universais da teoria do ABC em cada hipótese de gerenciamento de compras e materiais, estoques, armazenamento, manutenção, etc.

Os capítulos 1 a 3 são por demais condensados e só podem servir para o ensino complementados por outro livro, possivelmente do próprio autor, enquanto o capítulo 4 - Movimentação e armazenagem - satisfaz plenamente, apesar de introduzir, igualmente, alguns elementos de menor importância, como, por exemplo, a análise pelo questionário padronizado. Ao contrário, de suma importância é a maneira de calcular o custo.

Difícil, portanto, avaliar o aproveitamento didático do livro para a graduação; como iá mencionamos, é ótimo para a pós-graduação. A impressão é excelente, padrão Atlas, as gravuras nítidas e bem desenhadas. Um ponto positivo é que ninguém se entediará em ler pela "enésima" vez sobre o lote econômico. Falta, como quase sempre, o índice remissivo, que valoriza qualquer livro. Hoje já existe programinha de computador que coloca eventos, nomes e títulos em ordem alfabética; não se justifica mais a ausência. A bibliografia ainda é incompleta, uma bibliotecária seria de bom auxílio nisso. Bibliografia incompleta significa não só falta de títulos, mas falta de indicação completa.

Seria, portanto, um livro para ser empregado como leitura obrigatória parcial num curso de pós-graduação de armazenamento e transportes, em um curso de gerenciamento de produto como leitura relativa á distribuição e, finalmente, em um curso de administração de materiais para o ensino de avaliação de eficácia, transportes às filiais e movimentação e estrutura do almoxarifado.

Ótimo para administradores!

Parabéns pelo prêmio Brahma, que o livro bem mereceu!

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Jun 1985
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