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A neurose profissional

Resumos

O texto procura mostrar as diferenças existentes entre os conceitos de stress e neurose em situação de trabalho, que, segundo a autora, não é apenas terminológica, mas principalmente de referencial teórico que embasa os dois conceitos. Três casos clínicos são relatados, ilustrando os conceitos de "neurose profissional traumática", "psiconeurose profissional", e "neurose de excelência", justificando o uso da expressão neurose e não apenas stress, considerável menos duradoura e passioel de retorno a um estado de equilíbrio.

stress; burn-out; neurose profissional traumática; psiconeurose profissional; neurose de excelência


The text aims to show the differences beiween the concepts of stress and neurosis in working conditions, according to the author is not only based on the terms but mainly on the theoretical basis of the concepts. Three clinic cases are explained illustrating the concepts of "iraumatic professional neurosis", "professional psichoneurosis" and "neurosis of excellence", justifying the use of the word neurosis instead of stress beca use the later is considered less enduring and allowing the return to equilibrium.

stress; burn-out; traumatic professional neurosis; professional psychoneurosis; neurosis of excellence


COLABORAÇÃO INTERNACIONAL

A neurose profissional* * Texto publicado originalmente sob o titulo "La névrose professionelle", no livro L'individu dans l'organíaatíon: les dimensione oubliées, coordenado por [ean-François Chanlat, Québec e Oiaum, Canadá, Les presses de l'Université Laval/Editions E5KA, 1990. Tradução de Maria Irene Stocco Betlol, revista por Edlth Sellgmann Silva, Professoras do Departamento de Fundamentos Sociais e Jurídicos da Administração da EAESP/FGV. 1. AUBERT, M. & PAGES, M. Le stress professionnel. Paris, Méridiens - Klincksieck, 1989. 2. SELYE, H. The stress of life. New York, McGraw-Hill, 1956. 3. SIVADON, P. & AMIEL, R. Psychopathologie du travail. Paris, Éditions sociales françaises, 1969. 4. VEI L, C. "Ou en est la psychopathologie du travail?". In: DEJOURS, C; VEIL, C. & WISNER, A. (orgs.) Psychopathologie du travail. Paris, Entreprise Moderne d'Edition, 1985, pp.18-23. 5. DEJOURS, C. "La charge psychique de travail". In: Société française de psychologie. Section de psychologie du travall, Equilibre ou fatigue par le travam Paris, Entreprise Moderne d'Edition, 1980. 6. LE GUILLANT, L., ROELENS, J. BÉGOIN, BÉOUART, HANSEN et LEBRETDN, 1956. "La névrose des téléphonistes". La presse médicale, 64(13): 274-277. 7. SIVADON, P. & AMIEL. Op. cit. 8. Astenia: termo médico usado para designar estado psíco-orgânico de debilidade. 9. BUGARD, P. & CROCa, L. "Existe-t-il des névroses du travail?" In: Société française de psychologie. seção de psychologie du travail. Equilibre ou fatigue par te travam Paris, Entreprise moderne d'Edition, 1980. 10. Esfera timo-afetiva: de âmbito das variações do humor e dos sentimentos. 11. FREUD, S. "Les psychonévroses de défense" (1894). In: FREUD, S. Névrose, psychose et petversion. Paris, PUF, 1978. 12. Pulsional: referente à pulsão, conceito freudiano relacionado aos impulsos configurados em pressões originadas por estados de tensão interna. O conceito de pulsão passa por sucessivos desenvolvimentos na obra de Freud. 13. CROCQ, L. "Evénement et personnalité dans les névroses traumatiques de guerre". In: GUYOTAT, J. & FEDIDA, P. (orgs.). Evénement et psycnopathologie, Villeurbanne, Simep, 1985, pp. 111-20. 14. Patognomônico: sinal ou sintoma característico e essencial para o diagnóstico de determinada doença. 15. N.T.: "Ligá-lo" refere-se ao ato de relacionar o afeto ao fato traumático. Se não houver a descarga emocional, que pode ir das lágrimas à vingança, o afeto continua ligado à recordação, dando curso às representações patogênicas. 16. N.T.: "Ab-reagir", descarga emocional pela qual um indivíduo se liberta do afeto ligado à recordação de um acontecimento traumático, permitindo-lhe assim, não se tornar ou não continuar patogênico. Apud LA PLANCHE, J. & PONTALlS, J. B. Vocabulário de Psicanálise. São Paulo, Martins Fontes Editora, 1985. 17. CROCQ, L. Op. cit., p. 117. 18. Idem, ibidem, idem, p. 113. 19.LAPLANCHE, J. & t'ONTAL1S, J. B. Vocalulaire de la Psychanalyse. Paris, PU F, 1967, 1973, p. 288. (Em português, ver nota 15). 20. LOGEAY, P. & GADBOIS, C. "L'agression psychique de la mort dans le travail infirmier". In: DEJOURS, G; VIEL, G; & WISNER, A. (orgs.) Op. cít, pp. 81-6. 21. DEJOURS, C. Op. cit. 22. Idem, ibidem, pp.48-8. 23. O termo fantasma, conforme é adotado pela psicanálise francesa, "designa determinada formação imaginária e não o mundo das fantasias, a atividade imaginativa em geral". Os processos defensivos psicológicos costumam mascarar, em menor ou maior grau, que o fantasma corresponde a um roteiro imaginário para a busca da realização de um desejo. (Laplanche e Pontalis-Vocabulário de Psicanálise-Livraria Martins Fontes, pp. 169/170, São Paulo, 1991). 24. DEJOURS, C. Op. cit. 25. Na nomenclatura internacional e segundo as normas Afnor, as exigências da tarefa são chamadas contraintes e a carga de trabalho é denominada astreinte. Ver DEJOURS, C. A loucura do trabalho. 2ª ed., São Paulo, Cortez, 1987, p. 61. 26. DEJOURS, C. A loucura do trabalho. Op. cit. 27. LOGEAY, P. & GADBOIS, C. Op. cit. 28. PRICE, F. R. & BERGEN, B. "The relationship to death as a source of stress for nurses on a coronary care unit". Omega, 8(3):229-37, 1977. 29. LOGEAY, P. & GADBOIS, C. Op. cit., p. 82. 30. CROCQ, L. Op. cit. 31. N.T.: Kleenex é uma marca de lenço de papel que, em função de seu amplo consumo, passou a substituir o próprio uso da palavra lenço; Kleenex ou lenço descartável são praticamente palavras sinônimas em Paris. 32. ISRAEL, L. L 'hystérique, le sexe e le médecin. Paris, Masson, 1980, p. 27. 33. N.T.: Clivagem do objeto, mecanismo descrito por Melanie Klein e por ela considerado como a defesa mais primitiva contra a angústia: o objeto, visado pelas pulsões eróticas e destrutivas, cinde-se num "bom" e num "mau" objeto, que terão destinos relativamente independentes no jogo das introjeções e das projeções ( ... ). Apud LAPLANCHE, J. B. & PONTALlS, J. B. Vocabulário de Psicanálise. Op, cit. 34. FREUDENBERGER, H. J. L 'épuisement professionnel: la brülure interne. Chicoutimi, Gaêtan Morin, 1987.

Nicole Aubert

Professora da École Supérieure de Commerce, Paris, França

RESUMO

O texto procura mostrar as diferenças existentes entre os conceitos de stress e neurose em situação de trabalho, que, segundo a autora, não é apenas terminológica, mas principalmente de referencial teórico que embasa os dois conceitos. Três casos clínicos são relatados, ilustrando os conceitos de "neurose profissional traumática", "psiconeurose profissional", e "neurose de excelência", justificando o uso da expressão neurose e não apenas stress, considerável menos duradoura e passioel de retorno a um estado de equilíbrio.

Palavras-chave: stress, burn-out, neurose profissional traumática, psiconeurose profissional, neurose de excelência.

ABSTRACT

The text aims to show the differences beiween the concepts of stress and neurosis in working conditions, according to the author is not only based on the terms but mainly on the theoretical basis of the concepts. Three clinic cases are explained illustrating the concepts of "iraumatic professional neurosis", "professional psichoneurosis" and "neurosis of excellence", justifying the use of the word neurosis instead of stress beca use the later is considered less enduring and allowing the return to equilibrium.

Key words: stress, burn-out, traumatic professional neurosis, professional psychoneurosis, neurosis of excellence.

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Full text available only in PDF format.

Artigo recebido pela Redação da RAE em junho/92, aprovado para publicação em agosto/92.

  • 1. AUBERT, M. & PAGES, M. Le stress professionnel. Paris, Méridiens - Klincksieck, 1989.
  • 2. SELYE, H. The stress of life. New York, McGraw-Hill, 1956.
  • 3. SIVADON, P. & AMIEL, R. Psychopathologie du travail. Paris, Éditions sociales françaises, 1969.
  • 4. VEI L, C. "Ou en est la psychopathologie du travail?". In: DEJOURS, C; VEIL, C. & WISNER, A. (orgs.) Psychopathologie du travail. Paris, Entreprise Moderne d'Edition, 1985, pp.18-23.
  • 5. DEJOURS, C. "La charge psychique de travail". In: Société française de psychologie. Section de psychologie du travall, Equilibre ou fatigue par le travam Paris, Entreprise Moderne d'Edition, 1980.
  • 6. LE GUILLANT, L., ROELENS, J. BÉGOIN, BÉOUART, HANSEN et LEBRETDN, 1956. "La névrose des téléphonistes". La presse médicale, 64(13): 274-277.
  • 9. BUGARD, P. & CROCa, L. "Existe-t-il des névroses du travail?" In: Société française de psychologie. seção de psychologie du travail. Equilibre ou fatigue par te travam Paris, Entreprise moderne d'Edition, 1980.
  • 11. FREUD, S. "Les psychonévroses de défense" (1894). In: FREUD, S. Névrose, psychose et petversion. Paris, PUF, 1978.
  • 13. CROCQ, L. "Evénement et personnalité dans les névroses traumatiques de guerre". In: GUYOTAT, J. & FEDIDA, P. (orgs.). Evénement et psycnopathologie, Villeurbanne, Simep, 1985, pp. 111-20.
  • 16. N.T.: "Ab-reagir", descarga emocional pela qual um indivíduo se liberta do afeto ligado à recordação de um acontecimento traumático, permitindo-lhe assim, não se tornar ou não continuar patogênico. Apud LA PLANCHE, J. & PONTALlS, J. B. Vocabulário de Psicanálise. São Paulo, Martins Fontes Editora, 1985.
  • 19.LAPLANCHE, J. & t'ONTAL1S, J. B. Vocalulaire de la Psychanalyse. Paris, PU F, 1967, 1973, p. 288. (Em português, ver nota 15).
  • 23. O termo fantasma, conforme é adotado pela psicanálise francesa, "designa determinada formação imaginária e não o mundo das fantasias, a atividade imaginativa em geral". Os processos defensivos psicológicos costumam mascarar, em menor ou maior grau, que o fantasma corresponde a um roteiro imaginário para a busca da realização de um desejo. (Laplanche e Pontalis-Vocabulário de Psicanálise-Livraria Martins Fontes, pp. 169/170, São Paulo, 1991).
  • 25. Na nomenclatura internacional e segundo as normas Afnor, as exigências da tarefa são chamadas contraintes e a carga de trabalho é denominada astreinte. Ver DEJOURS, C. A loucura do trabalho. 2Ş ed., São Paulo, Cortez, 1987, p. 61.
  • 28. PRICE, F. R. & BERGEN, B. "The relationship to death as a source of stress for nurses on a coronary care unit". Omega, 8(3):229-37, 1977.
  • 32. ISRAEL, L. L 'hystérique, le sexe e le médecin. Paris, Masson, 1980, p. 27.
  • 34. FREUDENBERGER, H. J. L 'épuisement professionnel: la brülure interne. Chicoutimi, Gaêtan Morin, 1987.
  • *
    Texto publicado originalmente sob o titulo "La névrose professionelle", no livro
    L'individu dans l'organíaatíon: les dimensione oubliées, coordenado por [ean-François Chanlat, Québec e Oiaum, Canadá, Les presses de l'Université Laval/Editions E5KA, 1990.
    Tradução de Maria Irene Stocco Betlol, revista por Edlth Sellgmann Silva, Professoras do Departamento de Fundamentos Sociais e Jurídicos da Administração da EAESP/FGV.
    1. AUBERT, M. & PAGES, M.
    Le stress professionnel. Paris, Méridiens - Klincksieck, 1989.
    2. SELYE, H.
    The stress of life. New York, McGraw-Hill, 1956.
    3. SIVADON, P. & AMIEL, R.
    Psychopathologie du travail. Paris, Éditions sociales françaises, 1969.
    4. VEI L, C. "Ou en est la psychopathologie du travail?". In: DEJOURS, C; VEIL, C. & WISNER, A. (orgs.)
    Psychopathologie du travail. Paris, Entreprise Moderne d'Edition, 1985, pp.18-23.
    5. DEJOURS, C. "La charge psychique de travail". In: Société française de psychologie. Section de psychologie du travall,
    Equilibre ou fatigue par le travam Paris, Entreprise Moderne d'Edition, 1980.
    6. LE GUILLANT, L., ROELENS, J. BÉGOIN, BÉOUART, HANSEN et LEBRETDN, 1956. "La névrose des téléphonistes".
    La presse médicale, 64(13): 274-277.
    7. SIVADON, P. & AMIEL. Op. cit.
    8. Astenia: termo médico usado para designar estado psíco-orgânico de debilidade.
    9. BUGARD, P. & CROCa, L. "Existe-t-il des névroses du travail?" In: Société française de psychologie. seção de psychologie du travail.
    Equilibre ou fatigue par te travam Paris, Entreprise moderne d'Edition, 1980.
    10. Esfera timo-afetiva: de âmbito das variações do humor e dos sentimentos.
    11. FREUD, S. "Les psychonévroses de défense" (1894). In: FREUD, S.
    Névrose, psychose et petversion. Paris, PUF, 1978.
    12. Pulsional: referente à pulsão, conceito freudiano relacionado aos impulsos configurados em pressões originadas por estados de tensão interna. O conceito de pulsão passa por sucessivos desenvolvimentos na obra de Freud.
    13. CROCQ, L. "Evénement et personnalité dans les névroses traumatiques de guerre". In: GUYOTAT, J. & FEDIDA, P. (orgs.).
    Evénement et psycnopathologie, Villeurbanne, Simep, 1985, pp. 111-20.
    14. Patognomônico: sinal ou sintoma característico e essencial para o diagnóstico de determinada doença.
    15. N.T.: "Ligá-lo" refere-se ao ato de relacionar o afeto ao fato traumático. Se não houver a descarga emocional, que pode ir das lágrimas à vingança, o afeto continua ligado à recordação, dando curso às representações patogênicas.
    16. N.T.: "Ab-reagir", descarga emocional pela qual um indivíduo se liberta do afeto ligado à recordação de um acontecimento traumático, permitindo-lhe assim, não se tornar ou não continuar patogênico. Apud LA PLANCHE, J. & PONTALlS, J. B.
    Vocabulário de Psicanálise. São Paulo, Martins Fontes Editora, 1985.
    17. CROCQ, L. Op. cit., p. 117.
    18. Idem, ibidem, idem, p. 113.
    19.LAPLANCHE, J. & t'ONTAL1S, J. B.
    Vocalulaire de la Psychanalyse. Paris, PU F, 1967, 1973, p. 288. (Em português, ver nota 15).
    20. LOGEAY, P. & GADBOIS, C. "L'agression psychique de la mort dans le travail infirmier". In: DEJOURS, G; VIEL, G; & WISNER, A. (orgs.) Op. cít, pp. 81-6.
    21. DEJOURS, C. Op. cit.
    22. Idem, ibidem, pp.48-8.
    23. O termo fantasma, conforme é adotado pela psicanálise francesa, "designa determinada formação imaginária e não o mundo das fantasias, a atividade imaginativa em geral". Os processos defensivos psicológicos costumam mascarar, em menor ou maior grau, que o fantasma corresponde a um roteiro imaginário para a busca da realização de um desejo. (Laplanche e Pontalis-Vocabulário de Psicanálise-Livraria Martins Fontes, pp. 169/170, São Paulo, 1991).
    24. DEJOURS, C. Op. cit.
    25. Na nomenclatura internacional e segundo as normas Afnor, as exigências da tarefa são chamadas contraintes e a carga de trabalho é denominada
    astreinte. Ver DEJOURS, C.
    A loucura do trabalho. 2ª ed., São Paulo, Cortez, 1987, p. 61.
    26. DEJOURS, C.
    A loucura do trabalho. Op. cit.
    27. LOGEAY, P. & GADBOIS, C. Op. cit.
    28. PRICE, F. R. & BERGEN, B. "The relationship to death as a source of stress for nurses on a coronary care unit".
    Omega, 8(3):229-37, 1977.
    29. LOGEAY, P. & GADBOIS, C. Op. cit., p. 82.
    30. CROCQ, L. Op. cit.
    31. N.T.:
    Kleenex é uma marca de lenço de papel que, em função de seu amplo consumo, passou a substituir o próprio uso da palavra lenço;
    Kleenex ou lenço descartável são praticamente palavras sinônimas em Paris.
    32. ISRAEL, L.
    L 'hystérique, le sexe e le médecin. Paris, Masson, 1980, p. 27.
    33. N.T.: Clivagem do objeto, mecanismo descrito por Melanie Klein e por ela considerado como a defesa mais primitiva contra a angústia: o objeto, visado pelas pulsões eróticas e destrutivas, cinde-se num "bom" e num "mau" objeto, que terão destinos relativamente independentes no jogo das introjeções e das projeções ( ... ). Apud LAPLANCHE, J. B. & PONTALlS, J. B.
    Vocabulário de Psicanálise. Op, cit.
    34. FREUDENBERGER, H. J.
    L 'épuisement professionnel: la brülure interne. Chicoutimi, Gaêtan Morin, 1987.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      13 Jun 2013
    • Data do Fascículo
      Fev 1993

    Histórico

    • Aceito
      Ago 1992
    • Recebido
      Jun 1992
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