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Organização e métodos: uma perspectiva comportamental

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Luis Cessar G. de Araújo

Cury, Antonio. Organização e métodos; uma perspectiva comportamental. São Paulo, Atlas 1983.

O esforço de retirar da função de organização e métodos a característica predominantemente instrumental é a maior contribuição que os estudiosos de administração vêm procurando dar desde o início da década de 70. Já não era sem tempo que a função de O&M deveria sofrer modificações na sua forma de abordagem dos problemas e estudos organizacionais. Afinal, a tecnologia básica de O&M data de mais de um século; nesse período as alterações de postura filosófica - ou conceituai - foram mínimas, para não dizer inexistentes. Michael Addison - hoje conhecido dos estudiosos no Brasil - deu o grande impulso no sentido da alteração do papel da função nas organizações. Preconiza o trabalho de O&M voltado (preocupado) à estrutura social. Addison diz textualmente: "O&M é uma função especializada que se estabeleceu para aconselhar na introdução de novos métodos de administração e estruturas da organização que reduzam os custos sem impor um esforço insuportável, ou causar danos reais à estrutura social da empresa."

Essa parece ser a posição de Antônio Cury ao escrever o seu livro. Cury procurou compor seu trabalho partindo ao meio o convencionalismo existente em outras obras sobre o assunto. Foge à linha clássica que sempre privilegiou a tecnologia em detrimento de um enriquecimento maior de quem atua na área em termos dé uma visão comportamentalista. Haja vista, por exemplo, o compromisso que assume com o leitor ao apontar, no sumário de sua obra, que trata - na primeira parte - da evolução do estudo da administração não somente atuando sobre a escola clássica, que afinal foi a maior contribuinte da tecnologia de O&M, mas de escolas e pensamentos, comportamentalistas, behavioristas. Cury cita a escola behaviorista, o movimento estruturalista, as teorias de Herzberg e de Maslow, o desenvolvimento organizacional (DO) e a recente abordagem contingencial que, embora não tenha uma concepção comportamental, não a exclui e inclui a abordagem voltada ao meio ambiente.

A primeira parte é completada com informações conceituais e práticas a respeito de liderança e processo decisório, dois aspectos fundamentais dos estudos organizacionais e pouco encontrados em obras ligadas à prática organizacional. Ao leitor sugerimos um interesse maior na leitura sobre o processo decisório, pois sua relação com O&M é muito grande.

A segunda parte é dedicada ao que Antonio Cury chama indevidamente de problemas de organização. Indevidamente porque escrever sobre alcance de controle, departamentalização e descentralização, estruturas organizacionais e outros tópicos que tratam da globalidade da organização longe de ser um problema é, sobretudo, uma alternativa oferecida ao leitor de formar, ele mesmo, o seu arcabouço de conhecimentos acerca da organização vista como um todo. O que se exige, hoje, do profissional de O&M é a visão de conjunto, integrada, sistêmica da organização. O autor permite o desenvolvimento desse raciocínio a nível tentativamente teórico e, certamente, a nível prático. Portanto, o título referente à segunda parte não é compatível com o conteúdo muito superior ao rótulo dado. Temos certeza de que, numa próxima edição, o autor encontrará uma denominação melhor.

A terceira parte é atípica dos livros de O&M. Trata de métodos e processos, onde.o leitor vai encontrar a tecnologia necessária ao desenvolvimento dos estudos organizacionais.

Sem dúvida alguma, a obra merece cuidado na sua leitura e interpretação. O esforço é válido e o rompimento com a visão mecânica e fechada dá os seus primeiros sinais. A obra é indicada aos estudantes de administração, principalmente, e aos profissionais da área.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Set 1983
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