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Análise das variações no lucro líquido

ARTIGOS

Análise das variações no lucro líquido

Ivan Pinto Dias

Professor-Adjunto do Departamento de Contabilidade, Finanças e Controle da Escola de Administração de Emprêsas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas

"Deve-se apurar não apertas o montante do lucro ou prejuízo de dado período, mas também a diferença entre esse montante e o lucro ou prejuízo do período anterior. Ao mesmo tempo, é necessário procurar informações a respeito dos fatores que causaram essa diferença". - JOHN N. MYER

Ao analisar as demonstrações financeiras das emprêsas, os autores modernos no campo da Administração Contábil e Financeira têm - muito acertadamente e por várias razões - quase à unanimidade emprestado ênfase maior à demonstração da conta de "Lucros e Perdas" do que ao balanço. A primeira seria como um filme cinematográfico que mostrasse o que aconteceu com a emprêsa durante um dado exercício, enquanto que o último é apenas - completando a analogia - uma fotografia instantânea da firma em determinado dia.

Isso não significa que o balanço e sua análise não devam ser levados em consideração. Porém, não há dúvida de que, se nos fôr dado assistir um filme, - desde que bom -, sairemos muito melhor informados sobre qualquer assunto do que se olharmos para uma simples fotografia, por melhor que ela seja. Ocorre que, às vêzes, ou desejamos fixar certos pormenores, ou não dispomos de um projetor cinematográfico. A opção será, em qualquer dêsses casos, usarmos únicamente a fotografia. O mesmo acontece com a demonstração da conta de "Lucros e Perdas" e o balanço: conforme as necessidades e os instrumentos que tenhamos, analisaremos uma ou outro.

Naturalmente, é sempre de bom alvitre que, uma vez interpretadas separadamente as duas demonstrações financeiras, juntemos as duas análises feitas, a fim de chegar a conclusões finais sôbre a situação econômico-financeira da emprêsa. Por essa razão, a expressão "análise de balanços", - que, com pequenas variações, é muito difundida no Brasil e tem sido objeto da atenção de autores patrícios -, já foi abandonada, em outros países, em favor da expressão "análise das demonstrações financeiras", que tem a virtude de esclarecer que não só o balanço é importante, mas também a demonstração da conta de "Lucros e Perdas".

Neste artigo apresentaremos diversas formas de analisar a demonstração da conta de "Lucros e Perdas" e, mais especificamente, de conhecer as razões das variações no lucro líquido de um período contábil para outro. Partiremos da hipótese de que estamos dentro de uma emprêsa e conhecemos todos os fatos sôbre ela. A demonstração da conta de "Lucros e Perdas" a que nos referiremos é a utilizada internamente nas emprêsas com informações sôbre vendas, custo das mercadorias vendidas etc., portanto, bem diferente das demonstrações que geralmente são publicadas nos jornais e infelizmente mais confundem o leitor - em especial leigo - do que o esclarecem.

Utilizaremos quantias e proporções arredondadas e aproximadas, que não espelham necessàriamente a realidade, pois estamos interessados em princípios e êsses poderão melhor ser entendidos se trabalharmos com exemplos numéricos de fácil compreensão.

Alguns dos tipos de demonstrações e análises a serem aqui apresentados poderão ser encontrados em livros ou em revistas especializadas, publicados em outros idiomas, principalmente ng inglês, Embora não pretendamos ser inteiramente originais, nossa contribuição tem o sentido de adaptar os conhecimentos acumulados em outros países sobre o assunto às condições nacionais e permitir ao administrador brasileiro a possibilidade de ter mais um instrumento de trabalho à sua disposição.

CASO DA COMPANHIA ALFA

Para clareza de exposição, vamos supor a existência de uma emprêsa, Companhia Alfa, cuja demonstração da conta de "Lucros e Perdas" seja a resumida no Quadro 1.


Observe-se que nesse resumo o lucro líquido operacional seria aquêle resultante das operações normais da emprêsa. Não é êsse o significado de lucro líquido operacional adotado pela nossa legislação fiscal. No caso em questão foi suposta a inexistência de outras receitas (inclusive receitas financeiras), as quais não entrariam no cômputo do lucro líquido operacional, mas na apuração do lucro líquido do período, isto é, estariam na posição em que estão colocadas as outras despesas (e despesas financeiras).

(Algumas emprêsas consideram - a nosso ver erroneamente - as despesas financeiras como parte integrante das despesas operacionais.)

A classificação dada para as despesas operacionais poderá ser ampliada, conforme o tipo de emprêsa, o plano de contas da emprêsa etc.. Poderia ter sido feito o cálculo do imposto sôbre a renda, o qual seria então subtraído do lucro líquido do período e, teria, naturalmente, sua contrapartida no balanço (Imposto de Renda Estimado a Pagar, Provisão para o Imposto de Renda etc.). No caso de uma sociedade anônima, é preferível não mostrar, num resumo como o que apresentamos, a apropriação do lucro para as várias reservas e para o pagamento de dividendos, assim como o saldo não distribuído que permaneceria para o próximo exercício (lucros retidos). A apropriação do lucro do período deve, de preferência, aparecer à parte, na demonstração de "Lucros Retidos".

Ao analisar o Quadro 1, logo à primeira vista percebemos' que, comparando-se os anos de 19x2 e 19x1, houve um aumento nas vendas líquidas e, no entanto, tanto o lucro bruto sôbre vendas, quanto o lucro líquido operacional e o lucro líquido do período diminuíram. Nota-se, também, que somente as despesas administrativas e as outras despesas (inclusive financeiras) é que sofreram redução de um período para outro.

Essa análise superficial, porém, deve ser imediatamente completada por uma análise cuidadosa e completa de to^ dos os anexos a essas demonstrações, onde serão encontradas tôdas as informações minuciosas sôbre vendas, custo das mercadorias vendidas e despesas. Analisando-se êsses anexos, por exemplo, pode-se chegar a uma primeira conclusão: a de que a situação do lucro líquido do período de 19x2 é pior, quando comparada à de 19x1, do que parecia á primeira vista, pois, no primeiro ano, sob o item "Outras Despesas (e Despesas Financeiras)", cujo total era de Cr$ 100.000, estavam incluídos Cr$ 80.000 de prejuízo resultante da venda de um ativo fixo; portanto, se isso não tivesse acontecido, o lucro líquido em 19x1 seria de Cr$ 280.000 (Cr$ 200.000 + Cr$ 80.000). Ora, como não acontece todos os anos êsse tipo de transação - venda de ativo fixo e com prejuízo -, o lucro líquido do período de 19x2 está muito abaixo do lucro líquido de 19x1 que poderíamos chamar normal, isto é, expurgado do prejuízo de Cr$ 80.0001 1 ) O leitor pode raciocinar para tôdas as quantias mencionadas neste artigo em termos de cruzeiro "novo" ou "forte" (anunciado pelas autoridades governamentais); isso as tornará muito mais significativas e próximas da realidade. 2) As percentagens e os índices de 19x2 em relação a 19x1 foram arredondados para a casa decimal mais próxima. É óbvio, portanto, que as outras despesas (e despesas financeiras) do ano de 19x2, no valor de Cr$ 10.000, não podem ser 1% das vendas líquidas do mesmo ano (Cr$ 1.500.000), mas apenas 0,667% das mesmas. Para nossas finalidades esse arredondamento não é prejudicial; também na vida prática, conforme a exatidão desejada, é melhor e mais fácil trabalhar com números arredondados. Por exemplo, quando se fala em 26,85% de alguma coisa, fica na memória do ouvinte mais facilmente o número 85 do que o número 26. Portanto, por que não dizer logo que se trata de 27% de algo? .

Antes de passar à análise cuidadosa dos anexos às demonstrações - passo que deixaremos para o final a fim de não ficarmos assoberbados por nomes de contas e respectivas importâncias, perdendo a visão global proporcionada pelo resumo das operações mostrado no Quadro 1 - é necessário descobrir o porquê da variação no lucro líquido do período de um ano para outro. Uma das formas de fazê-lo vem discutida a seguir.

ANÁLISE VERTICAL E HORIZONTAL

Na análise vertical toma-se o total das vendas líquidas como base para o cálculo de percentagens e verifica-se quanto, percentualmente, cada item da demonstração representa dêsse total. Ao mesmo tempo, na análise horizontal, determina-se qual a variação das quantias monetárias de um exercício para outro e a percentagem dessa variação. Ao lado dessas últimas percentagens é interessante ter também o índice de um período em relação a outro, pois quando as alterações percentuais são muito elevadas, é, às vêzes, um pouco difícil interpretá-las. É mais fácil, por exemplo, compreender que uma quantia representa 10 vêzes uma outra do que entender que a mesma é 900% maior que a outra.

O Quadro 2 mostra a análise vertical e horizontal do resumo da demonstração da conta de "Lucros e Perdas" da emprêsa Alfa.


O Quadro 2 indica que as vendas líquidas em 19x2 aumentaram em 50%, enquanto que o custo das mercadorias vendidas se elevou em 150% (ou é igual a 2,5 vêzes, conforme se vê na coluna dos índices de 19x2, em relação a 19x1). Isso resultou, portanto, numa diminuição de 17% no lucro bruto sôbre vendas, uma vez que êste representava 60% das vendas em 19x1 e em 19x2 representa apenas 33%, ou seja, o lucro bruto sôbre vendas de 19x2 representa apenas 0,8 vêzes o de 19x1.

Tanto as despesas de vendas como as despesas gerais aumentaram em 19x2, pois as primeiras, que representavam 10% das vendas líquidas em 19x1, importam agora em 13%, ou, ainda, são em 19x2 2 vêzes as despesas de vendas de 19x1. (Houve, portanto, um aumento de 100%.) Por sua vez, as despesas gerais, embora continuem representando 10% das vendas líquidas nos dois anos - e essas aumentaram em 50% de um exercício para outro -, elevaram-se em 50% no ano de 19x2, isto é, são iguais a 1,5 vêzes as de 19x1.

Por outro lado, houve diminuição nas despesas administrativas e nas outras despesas (inclusive financeiras), as quais são em 19x2 50% e 90% respectivamente mais baixas do que as de 19x1, ou seja, 0,5 e 0,1 vêzes, respectivamente. (Veja-se coluna dos índices de 19x2 em relação a 19x1.)

Nota-se que essas diminuições são muito pequenas, tanto em valores relativos quanto em valores absolutos, quando comparadas, por exemplo, com o aumento de Cr$ 600.000 (150%) no custo das mercadorias vendidas, custo que é em 19x2 2,5 vêzes o de 19x1.

Portanto, mesmo ocorrendo a redução nas despesas administrativas em relação às vendas líquidas (de 10% em 19x1 diminuíram para 3% em 19x2) e o decréscimo nas outras despesas (inclusive financeiras) em relação às vendas líquidas (de 10% em 19x1 diminuíram para 1% em 19x2 ou, para sermos mais exatos, para 0,667%), e embora as vendas líquidas tenham aumentado em 50% de um período para outro, isso não foi suficiente para contrabalançar os fatores que causaram a redução no lucro líquido, resultando, portanto, uma diminuição deste último, o qual é em 19x2 apenas 0,4 vezes o lucro líquido de 19x1 (para sermos mais precisos, 0,45 vêzes), com uma queda de 55%.

Êsse breve comentário sôbre a análise vertical e horizontal do Quadro 2 dá a perceber como é, muitas vêzes, um pouco complicada a matéria; daí resulta que freqüentemente são feitas afirmativas completamente errôneas nessa interpretação, pois não devemos esquecer que mudanças nas percentagens da análise vertical são afetadas por alterações nos itens que estão sendo medidos e na própria base - por exemplo, por modificações em um item de despesa e modificações nas vendas líquidas.

Além disso, as alterações nas percentagens ou índices da análise horizontal, sem levar em consideração a inflação, devem ainda ser interpretadas com o auxílio de informações suplementares. Assim, para ilustrar a questão, se as vendas líquidas aumentaram em 50%, como ocorreu no caso da emprêsa Alfa, isso não significa necessariamente que seja satisfatório um aumento igual ou menor em qualquer item de despesa, pois há necessidade de determinar-se que parte da despesa em consideração é fixa e que porção da mesma é variável, sempre em relação às vendas.

Os administradores de emprêsas que trabalham no campo da administração contábil e financeira quase sempre encontram dificuldade em comunicar essas variáveis da análise da demonstração da conta de "Lucros e Perdas" a pessoas de outros setores de especialização a fim de que se pcssa por ela verificar os erros e acertos do passado e tomar decisões para no futuro, na medida do possível, evitar a ocorrência dos erros. Torna-se, portanto, necessário encontrar uma forma melhor - e mais fácil para os não iniciados no campo da administração contábil e financeira - de mostrar as variações no lucro líquido de um período para outro.

DEMONSTRAÇÃO DAS VARIAÇÕES NO LUCRO LIQUIDO DO PERÍODO

Um dos modos de solucionar a questão é apresentada no Quadro 3.


Nesse tipo de demonstração percebe-se que os fatores causadores de aumento no lucro líquido em 19x2 - em comparação com 19x1 - foram o aumento de Cr$ 500.000 nas vendas líquidas, a redução de Cr$ 50.000 nas despesas administrativas e a queda de Cr$ 90.000 nas outras despesas (inclusive financeiras), totalizando Cr$ 640.000. Por outro lado, os fatores que causaram diminuição nesse lucro foram o aumento de Cr$ 600.000 no custo das mercadorias vendidas, a elevação de Cr$ 100.000 nas despesas de vendas e o acréscimo de Cr$ 50.000 nas despesas gerais, totalizando Cr$ 750.000. Como a soma de fatores causadores de aumento atingiu somente Cr$ 640.000 - menos, portanto, que a soma dos fatores que trouxeram diminuição, isto é, Cr$ 750.000 -, houve uma queda no lucro líquido de um exercício para outro, de. ... Cr$ 110.000.

Não há dúvida de que o Quadro 3 pode ser mais fácilmente compreendido do que o Quadro 2. Todavia, ainda assim, êle exige que se faça um breve comentário como aquêle acima sôbre os dados que nem sempre - conforme a complexidade das informações disponíveis para a análise - é muito fácil compreender3 3 ) Mais uma vez chamamos a atenção do leitor para o problema de comunicações envolvido. Nem sempre as pessoas de outros campos de conhecimentos estão familiarizadas com os conceitos da administração contábil e financeira e há, portanto, necessidade de tornar as informações de que disponhamcs inteligíveis e acessíveis a elas. .

Portanto, mais uma vez, torna-se necessário o aperfeiçoamento na forma de apresentar as informações, de tal sorte que seja possível fazê-lo sem grande complexidade e com maior riqueza de pormenores.

ANÁLISE EXPLICATIVA DAS VARIAÇÕES NO LUCRO LÍQUIDO DO PERÍODO

Pode parecer redundância denominar uma demonstração "análise" e, além disso, "explicativa". Porém, o nome em si - algumas vêzes - não importa muito. No caso importa mais o realce que pretendemos dar à diferença na forma de expor as informações, tal como se pode perceber pela comparação do Quadro 4 com os anteriores.


As informações constantes do Quadro 4 e sua disposição realçam o fato de que, apesar de ter havido um aumento nas vendas, houve também um aumento mais que proporcional no custo das mercadorias vendidas e, com isso, uma tendência para redução no lucro líquido do período, dado que não era tão fácilmente visível nas demonstrações anteriores.

Freqüentemente, é interessante ter, ao lado das diferenças nas quantias absolutas, os valores relativos dessas diferenças. Assim, por exemplo, a última tabela aponta que o lucro bruto sôbre vendas diminuiu em 19x2 quando comparado ao de 19x1. Mas, quantas vêzes é êle menor em 19x2? Quanto representava percentualmente em relação às vendas líquidas em 19x1 e quanto representa em 19x2? Para responder a essas e a outras questões, o Quadro 4 pode ser melhorado, como mostramos a seguir.

ANÁLISE EXPLICATIVA DAS VARIAÇÕES NO LUCRO LÍQUIDO DO PERÍODO (EM VALORES RELATIVOS E ABSOLUTOS)

O Quadro 5 foi construído utilizando-se básicamente as disposições constantes do Quadro 4, mas com acréscimo dos dados fornecidos pela análise vertical e horizontal (Quadro 2).


Apesar de aparentemente complexo, o Quadro 5 tem a grande vantagem de ser bem mais completo que o Quadro 2 e, além disso, de propiciar quase de relance a visão dos fatores que contribuíram para aumentar ou reduzir o lucro líquido do período em relação ao exercício anterior, tanto em valores absolutos, quanto relativos.

Deve ser tomado, na interpretação dêsse último quadro, cuidado especial no tocante às diferenças nas percentagens. Essas diferenças foram obtidas pela subtração de duas percentagens: da percentagem de um dado item em relação às vendas líquidas em 19x1 e da percentagem do mesmo item em relação às vendas líquidas em 19x2. Ora, como houve alteração na base do cálculo dessas percentagens - as vendas líquidas de 19x2 são 50% mais altas que as de 19x1, ou seja, 1,5 vêzes - torna-se necessária muita cautela na interpretação, pois do contrário poder-se-á chegar a conclusões absurdas. Pode ser conveniente, por isso, conforme o caso, a eliminação da coluna referente às percentagens das vendas líquidas, ou, então, tão somente das linhas referentes às diferenças das percentagens.

A última coluna à direita do Quadro 5 é, sem dúvida, necessária e contém informações preciosas. No caso da emprêsa Alfa, verifica-se por ela que as vendas líquidas de 19x2 representam 1,5 vêzes as de 19x1 (aumento de 50%) e que o custo das mercadorias vendidas em 19x2 é 2,5 vêzes o de 19x1 (aumento de 150%). Uma vez que a taxa de aumento no custo foi maior que a taxa de aumento nas vendas, a proporção do lucro bruto sôbre vendas, que era de 60% em 19x1, caiu para 33%.

Esses e outros tipos de considerações podem e devem ser feitos, não nos esquecendo de que ao lado dos índices e percentagens temos também as quantias monetárias, que muito podem auxiliar na interpretação das proporções.

Quando fôr relativamente alta a taxa de inflação de um ano para outro, para não chegarmos a conclusões absurdas ou errôneas, é interessante não só fazer a análise na forma indicada no Quadro 5, mas também deflacionar os dados do último período (ou inflacionar os dados do primeiro período), colocando as informações assim obtidas na forma constante do quadro. Dependendo da taxa de inflação, do tipo e da natureza da emprêsa etc., são muitas vêzes enormes as diferenças que aparecem, quando trabalhamos com dados históricos (não ajustados), em comparação com dados ajustados.

No caso da emprêsa Alfa, para ilustrar a questão, supondo-se que o índice de custo de vida - ou qualquer outro índice que melhor reflita a taxa de inflação - em 19x1 seja 439 (em relação a um ano-base qualquer) e 607 em 19x2, resultará que as vendas do ano de 19x2, quando expressas ou convertidas em têrmos do nível de preços de 19x1, serão de apenas Cr$ 1.084.8004 4 ) Essa quantia foi obtida mediante o seguinte cálculo: .

RESUMO E CONCLUSÕES

Verificamos que a análise vertical e horizontal clássica da demonstração da conta de "Lucros e Perdas", tal como apresentada no Quadro 2, não é de muito fácil compreensão, principalmente por parte dos leigos, os quais, no entanto, necessitam muitas vezes saber porque houve variação no lucro líquido do período de um exercício contábil para outro.

Vimos que a explicação para essa variação pode ser bem melhor entendida se feita na forma indicada no Quadro 3, o qual, por sua vez, pode tornar-se mais informativo se elaborado de acordo com o mostrado no Quadro 4.

Todavia, a análise das variações no lucro líquido do período, obtida nesse último quadro, é feita tão somente em têrmos absolutos; faltando as quantias relativas, não há possibilidade de se ter noção exata do que ocorreu. Assim, empregando-se básicamente a disposição das informações constantes do Quadro 4 e acrescentando-se-lhes as importâncias relativas fornecidas pela análise vertical e horizontal, chegamos ao Quadro 5.

Vimos também alguns cuidados a serem levados em consideração nos dados percentuais e a sugestão - de acordo com a situação específica da emprêsa que fôr utilizar os conceitos examinados neste artigo - de eliminação de uma coluna ou de algumas linhas dêsse último quadro.

Havendo uma taxa inflacionária relativamente elevada de um exercício para outro, sugerimos que, após a obtenção do Quadro 5 em dados históricos, sejam as quantias do último período deflacionadas ao nível do poder de compra do exercício anterior e depois dispostas no formato indicado pelo quadro, a fim de poder-se perceber as deformações decorrentes da inflação. Exemplificando o problema, notamos que no caso da emprêsa Alfa as vendas de 19x2, quando convertidas em têrmos do nível de preços de 19x1, eram quase idênticas à quantia monetária das vendas dêsse perícdo e, no entanto, aparentemente, tinham aumentado em 50%.

Em resumo, portanto, foi possível notar que a variação no lucro líquido do período pode ser atribuída à modificação no lucro bruto sôbre vendas, a alterações nas despesas operacionais, ou nas outras receitas (inclusive financeiras) e outras despesas (inclusive financeiras).

Naturalmente, as modificações no lucro bruto sôbre vendas podem ser provenientes de alterações no volume físico de unidades vendidas, no preço unitário de venda e no custo unitário das mercadorias vendidas, o que em si mereceria estudo e explicação bem minuciosos.

As despesas operacionais podem ser também esmiuçadas e depois analisadas vertical e horizontalmente, porém, para o seu perfeito controle, o melhor é ter um processo orçamentário bem feito e um sistema de registros de "contabilidade por responsabilidade"5 5 ) "Contabilidade por responsabilidade" é tradução da expressão inglesa "responsability accounting", que se refere a um sistema que revele não apenas o que ocorre em uma emprêsa, mas também, quem é responsável por isso. Naturalmente, a fim de P9der funcionar de maneira adequada, o sistema deve ser reflexo fiel da organização da estrutura, a qual, por sua vez, deve ter sido concebida em bases científicas e reais. , uma vez que as alterações nas despesas operacionais entre dois exercícios podem resultar de numerosas causas, como, por exemplo, de mudanças nos métodos de operação, no volume físico de unidades transacionadas, nas diretrizes da empresa, na eficiência administrativa, e de decisões administrativas arbitrárias que aumentem ou diminuam as despesas operacionais, como salário, propaganda ou investimento em ativo fixo etc..

Apesar das ponderações feitas nos dois últimos parágrafos, acreditamos que é de valia ao administrador de emprêsas a análise das variações do lucro líquido, pois ela será um primeiro passo no sentido de descobrir erros e acertos do passado e de tomar providências no sentido de evitar no futuro, sendo possível, os erros cometidos, uma vez que será depois da análise tal como exposta neste artigo, que êle poderá chegar à análise cuidadosa do lucro bruto sôbre vendas etc..

Não é, porém, descabida uma última palavra de precaução a ser levada em consideração nesse e em outros tipos de análises:

"É tão difícil interpretar percentagens, quando não estão acompanhadas das quantias absolutas, como compreender o significado das quantias, sem relacioná-las com um padrão de comparação. Tem pouco significado verificar que o lucro líquido para 19x2 é 10% maior que o lucro líquido de 19x1, se em ambos anos êle fôr totalmente inadequado em relação aos ativos investidos na emprêsa. Como alguém com perspicácia observou: 'O que se deposita nos bancos é dinheiro e não percentagens'... "6 6 ) H. J. BLACK e J. E. CHAMPION, Accounting in Business Decisions, Theory, Method and Use, Prentice-Hall, Inc., Englewood Cliffs, 1961, pág. 273.

BIBLIOGRAFIA

  • A. W. HOLMES, G. P. MAYNARD, J. D. EDWARDS e R. A. MEIER, Intermediate Accounting, Homewood, Illinois: Richard D. Irwin, Inc., 1958, 3Ş edição, capítulo 26.
  • H. A. FINNEY e H. E. MILLER, Principles of Accounting, Intermediate, Englewood Cliffs: Prentice-Hall, Inc., 1965, 6Ş edição, capítulo 23.
  • J. N. MYER, Financial Statement Analysis, Principles and Techniques, Englewood Cliffs: Prentice-Hall, Inc., 1961, 3Ş edição, capítulo 9.
  • R. D. KENNEDY e S. Y. MCMULLEN, Financial Statements, Form, Analysis and Interpretation, Homewood, Illinois: Richard D. Irwin, Inc., 1962, 4Ş edição, capítulo 18.
  • W. E. KARRENBROCK e H. SIMONS, Intermediate Accounting, Comprehensive Volume, Cincinnatti: South-Western Publishing Co., 1958, 3Ş edição, capítulo 26.
  • 1
    ) O leitor pode raciocinar para tôdas as quantias mencionadas neste artigo em termos de cruzeiro "novo" ou "forte" (anunciado pelas autoridades governamentais); isso as tornará muito mais significativas e próximas da realidade.
    2) As percentagens e os índices de 19x2 em relação a 19x1 foram arredondados para a casa decimal mais próxima. É óbvio, portanto, que as outras despesas (e despesas financeiras) do ano de 19x2, no valor de Cr$ 10.000, não podem ser 1% das vendas líquidas do mesmo ano (Cr$ 1.500.000), mas apenas 0,667% das mesmas. Para nossas finalidades esse arredondamento não é prejudicial; também na vida prática, conforme a exatidão desejada, é melhor e mais fácil trabalhar com números arredondados. Por exemplo, quando se fala em 26,85% de alguma coisa, fica na memória do ouvinte mais facilmente o número 85 do que o número 26. Portanto, por que não dizer logo que se trata de 27% de algo?
  • 3
    ) Mais uma vez chamamos a atenção do leitor para o problema de comunicações envolvido. Nem sempre as pessoas de outros campos de conhecimentos estão familiarizadas com os conceitos da administração contábil e financeira e há, portanto, necessidade de tornar as informações de que disponhamcs inteligíveis e acessíveis a elas.
  • 4
    ) Essa quantia foi obtida mediante o seguinte cálculo:
  • 5
    ) "Contabilidade por responsabilidade" é tradução da expressão inglesa "responsability accounting", que se refere a um sistema que revele não apenas o que ocorre em uma emprêsa, mas também, quem é responsável por isso. Naturalmente, a fim de P9der funcionar de maneira adequada, o sistema deve ser reflexo fiel da organização da estrutura, a qual, por sua vez, deve ter sido concebida em bases científicas e reais.
  • 6
    ) H. J. BLACK e J. E. CHAMPION,
    Accounting in Business Decisions, Theory, Method and Use, Prentice-Hall, Inc., Englewood Cliffs, 1961, pág. 273.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      13 Jul 2015
    • Data do Fascículo
      Set 1966
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