Acessibilidade / Reportar erro

BEM-ESTAR FINANCEIRO DOS BENEFICIÁRIOS DO MINHA CASA MINHA VIDA: PERCEPÇÃO E ANTECEDENTES

RESUMO

Objetivo:

Este artigo tem dois objetivos principais: 1. mensurar o nível de bem-estar financeiro (BEF) dos beneficiários do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) e 2. testar a hipótese de que a alfabetização financeira é um antecedente do BEF.

Originalidade/valor:

Considerando que ainda não há uma definição e uma medida universalmente aceitas para o BEF (Brüggen, Hogreve, Holmlund, Kabadayi, & Löfgren, 2017Brüggen, E. C., Hogreve, J., Holmlund, M., Kabadayi, S., & Löfgren, M. (2017). Financial well-being: A conceptualization and research agenda. Journal of Business Research, 79, 228-237. doi:10.1016/j.jbusres.2017.03.013
https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2017.0...
), este estudo busca aplicar a metodologia proposta pelo Consumer Financial Protection Bureau (CFPB) no Brasil, uma vez que as tentativas anteriores de aplicação de outras escalas demonstraram uma grande instabilidade. E ainda é testada a hipótese de que a alfabetização financeira é um antecedente do BEF.

Design/metodologia/abordagem:

Para mensurar, o BEF utilizou-se a escala desenvolvida pelo CFPB. A alfabetização financeira foi construída a partir das três dimensões propostas pela Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD), a saber: comportamento, atitude e conhecimento financeiros. O instrumento foi aplicado em 561 beneficiários das três faixas de financiamento do PMCMV. Utilizaram-se para análise técnicas de estatística descritiva, análise fatorial confirmatória e regressão linear múltipla.

Resultados:

Os resultados indicaram que a maioria dos beneficiários do programa apresenta níveis médio baixo e médio alto de BEF. A hipótese de que a alfabetização financeira é um antecedente do BEF foi confirmada, e as três dimensões impactaram positivamente. O nível de renda também exerce impacto positivo, ao passo que o fato de possuir dependentes exerce influência negativa no nível de BEF. A escala de BEF proposta pelo CFPB parece adequada ao contexto brasileiro. O avanço nas estratégias nacionais de alfabetização financeira tende a ampliar o BEF dos beneficiários do PMCMV.

PALAVRAS-CHAVE
Bem-estar financeiro; Programa Minha Casa Minha Vida; Alfabetização financeira; Proteção financeira; Escalas de bem-estar

ABSTRACT

Purpose:

This article has two main objectives: to measure the level of financial well-being (FWB) of the beneficiaries of the Minha Casa Minha Vida program (PMCMV) and test the hypothesis that financial literacy is an antecedent of the FWB.

Originality/value:

Considering that there is still no universally accepted definition and measure for the FWB (Brüggen, Hogreve, Holmlund, Kabadayi, & Löfgren, 2017Brüggen, E. C., Hogreve, J., Holmlund, M., Kabadayi, S., & Löfgren, M. (2017). Financial well-being: A conceptualization and research agenda. Journal of Business Research, 79, 228-237. doi:10.1016/j.jbusres.2017.03.013
https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2017.0...
), this study seeks to apply the methodology proposed by the Consumer Financial Protection Bureau (CFPB) in Brazil, since the previous applications attempts of other scales showed great instability. Also, the hypothesis that the financial literacy is a antecedent of the FWB is tested.

Design/methodology/approach:

To measure the FWB, the scale developed by the CFPB was used. Financial literacy was built from the three dimensions proposed by the Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD), which are: financial behavior, attitude and financial knowledge. The instrument was implemented in 561 beneficiaries of the three funding ranges of the PMCMV. It was used for descriptive statistical analysis, confirmatory factorial analysis and multiple linear regression.

Findings:

The results indicated that the majority of the beneficiaries of the program present medium-low and medium-high levels of FWB. The hypothesis that financial literacy is an antecedent of the FWB was confirmed, and all three dimensions had a positive impact. Levels of income also presented a positive influence, whereas the fact of having dependents had a negative impact. The BEF measure proposed by the CFPB seems adequate to the Brazilian context. And advances in the national financial literacy strategies tend to increase the FWB of the Minha Casa Minha Vida program.

KEYWORDS
Financial well-being; Minha Casa Minha Vida program; Financial literacy; Financial protection; Well-being scale

1. INTRODUÇÃO

Embora o bem-estar financeiro (BEF) tenha se tornado um tema de interesse em diversas áreas, incluindo economia, planejamento financeiro, psicologia e tomada de decisão do consumidor, ainda não há uma definição e uma medida universalmente aceitas na literatura (Brüggen, Hogreve, Holmlund, Kabadayi, & Löfgren, 2017Brüggen, E. C., Hogreve, J., Holmlund, M., Kabadayi, S., & Löfgren, M. (2017). Financial well-being: A conceptualization and research agenda. Journal of Business Research, 79, 228-237. doi:10.1016/j.jbusres.2017.03.013
https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2017.0...
). Assim, diversos estudos que analisam o BEF não se preocupam em apresentar uma definição (O’Neill, Sorhaindo, Xiao, & Garman, 2005O’Neill, B., Sorhaindo, B., Xiao, J. J., & Garman, E. T. (2005). Financially distressed consumers: Their financial practices, financial well-being, and health. Financial Counseling and Planning, 16(1), 73-87.; Prawitz et al., 2006Prawitz, A., Garman, E. T., Sorhaindo, B., O’Neill, B., Kim, J., & Drentea, P. (2006). Incharge financial distress/financial well-being scale: Development, administration, and score interpretation. Journal of Financial Counseling and Planning, 17(1), 34-50. doi:10.1037/t60365-000
https://doi.org/10.1037/t60365-000...
; Shim, Xiao, Barber, & Lyons, 2009Shim, S., Xiao, J. J., Barber, B. L., & Lyons, A. C. (2009). Pathways to life success: A conceptual model of financial well-being for young adults. Journal of Applied Developmental Psychology, 30, 708-723. doi:10.1016/j.appdev.2009.02.003
https://doi.org/10.1016/j.appdev.2009.02...
; Guo, Arnould, Gruen, & Tang, 2013Guo, L., Arnould, E. J., Gruen, T. W., & Tang, C. (2013). Socializing to co-produce: Pathways to consumers’ financial well-being. Journal of Service Research, 16(4), 549-563. doi:10.1177/1094670513483904
https://doi.org/10.1177/1094670513483904...
). Já os estudos que apresentam definições utilizam diferentes abordagens de natureza objetiva ou subjetiva.

Na abordagem objetiva, a renda, as informações financeiras, os índices financeiros (Joo & Grable, 2004Joo, S. H., & Grable, J. E. (2004). An exploratory framework of the determinants of financial satisfaction. Journal of Family and Economic Issues, 25(1), 25-50. doi: 10.1023/B:JEEI.0000016722.37994.9f
https://doi.org/10.1023/B:JEEI.000001672...
; Kahneman & Deaton, 2010Kahneman, D., & Deaton, A. (2010). High income improves evaluation of life but not emotional well-being. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, 107(38), 16489-16493. doi:10.1073/pnas. 1011492107
https://doi.org/10.1073/pnas. 1011492107...
) e a liquidez (Aggarwal, 2014Aggarwal, S. (2014). Developing an index for measuring financial well-being in a geography. IFMR Finance Foundation. Retrieved from https://www.dvara.com/blog/2011/02/14/developing-an-index-for-measuring-financial-well-being-in-a-geography/
https://www.dvara.com/blog/2011/02/14/de...
) são utilizados como proxies para o BEF. Na abordagem subjetiva, os pesquisadores buscam examinar as percepções e reações das pessoas às suas condições financeiras (Norvilitis, Szablicki, & Wilson, 2003Norvilitis, J. M., Szablicki, P. B., & Wilson, S. D. (2003). Factors influencing levels of credit card debt in college students. Journal of Applied Social Psychology, 33(5), 935-947. doi: 10.1111/j.1559-1816.2003.tb01932.x
https://doi.org/10.1111/j.1559-1816.2003...
; O’Neill et al., 2005O’Neill, B., Sorhaindo, B., Xiao, J. J., & Garman, E. T. (2005). Financially distressed consumers: Their financial practices, financial well-being, and health. Financial Counseling and Planning, 16(1), 73-87.). Nesta, os indivíduos em situações financeiras semelhantes (em termos de volume de ativos ou perfil de renda) podem perceber seu BEF de forma diferente, dependendo de suas preferências. Assim, pessoas na mesma situação financeira podem avaliar seu bem-estar de modo distinto (Garman, Sorhaindo, Bailey, Kim, & Xiao, 2004Garman, E. T., Sorhaindo, B., Bailey, W., Kim, J., & Xiao, J. (2004). Financially distressed credit counseling clients and the incharge financial distress/financial well-being scale. Proceedings of the Eastern Regional Family Economics and Resource Management Association Conference. Retrieved from https://pfeef.org/wp-content/uploads/2016/09/Financially-Distressed-Clients-and-the-Scale.pdf
https://pfeef.org/wp-content/uploads/201...
).

Nesses estudos, ganham relevância as características pessoais (Joo & Grable, 2004Joo, S. H., & Grable, J. E. (2004). An exploratory framework of the determinants of financial satisfaction. Journal of Family and Economic Issues, 25(1), 25-50. doi: 10.1023/B:JEEI.0000016722.37994.9f
https://doi.org/10.1023/B:JEEI.000001672...
) e fatores comportamentais (Shim et al., 2009Shim, S., Xiao, J. J., Barber, B. L., & Lyons, A. C. (2009). Pathways to life success: A conceptual model of financial well-being for young adults. Journal of Applied Developmental Psychology, 30, 708-723. doi:10.1016/j.appdev.2009.02.003
https://doi.org/10.1016/j.appdev.2009.02...
) que afetam a avaliação subjetiva do BEF. Nesse contexto, percepções diferentes também podem surgir como função, por exemplo, do estágio de vida (Malone, Stewart, Wilson, & Korsching, 2010Malone, K., Stewart, S. D., Wilson, J., & Korsching, P. F. (2010). Perceptions of financial well-being among American women in diverse families. Journal of Family and Economic Issues, 31(1), 63-81. doi:10.1007/s10834-009-9176-5
https://doi.org/10.1007/s10834-009-9176-...
) ou ainda da atitude em relação ao risco, da capacidade percebida de satisfazer despesas, da satisfação com poupança e investimento, e da tendência a se preocupar com dívidas (Kim, Garman, & Sorhaindo, 2003Kim, J., Garman, E. T., & Sorhaindo, B. (2003) Relationships among credit counseling clients’ financial well-being, financial behaviors, financial stressor events, and health. Journal of Financial Counseling and Planning, 14(2), 75-87.).

Existem também estudos que utilizam ambas as abordagens, ou seja, o BEF é tratado como um conceito composto por dimensões objetivas e subjetivas (Vosloo, Fouche, & Barnard, 2014Vosloo, W., Fouche, J., & Barnard, J.(2014). The relationship between financial efficacy, satisfaction with remuneration and personal financial well-being. International Business and Economics Research Journal, 13(6), 1455-1470. doi:10.19030/iber.v13i6.8934
https://doi.org/10.19030/iber.v13i6.8934...
; Mende & Van Doorn, 2015Mende, M., & Van Doorn, J. (2015). Coproduction of transformative services as a pathway to improved consumer well-being: Findings from a longitudinal study on financial counseling. Journal of Service Research, 18(3), 351-368. doi:10.1177/1094670514559001
https://doi.org/10.1177/1094670514559001...
). Nesses casos, a literatura utiliza diferentes indicadores para cada uma das dimensões, com a inclusão do nível de endividamento e/ou do nível de renda como uma medida do bem-estar objetivo e a satisfação com seu status financeiro ou com seu padrão de vida como medida subjetiva.

Algumas evidências empíricas já apontam para a dificuldade de aplicação direta para países em desenvolvimento das escalas propostas internacionalmente. Brüggen et al. (2017)Brüggen, E. C., Hogreve, J., Holmlund, M., Kabadayi, S., & Löfgren, M. (2017). Financial well-being: A conceptualization and research agenda. Journal of Business Research, 79, 228-237. doi:10.1016/j.jbusres.2017.03.013
https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2017.0...
destacam que, embora as definições e medidas de BEF não sejam aplicáveis exclusivamente aos países industrializados, o significado da expressão é bastante diferente para os países em desenvolvimento, onde grande parte da população luta para sobreviver. Especialmente no caso brasileiro, três estudos independentes (Kunkel, Vieira, & Potrich 2015Kunkel, F. I. R., Vieira, K. M., & Potrich, A. C. G. (2015). Causas e consequên­cias da dívida no cartão de crédito: Uma análise multifatores. Revista de Administração, 50, 169-182. doi: 10.5700/rausp1192
https://doi.org/10.5700/rausp1192...
; Campara, Vieira, & Potrich, 2017Campara, J. P., Vieira, K. M., & Potrich, A. C. G. (2017). Satisfação global de vida e bem-estar financeiro: Desvendando a percepção de beneficiários do Programa Bolsa Família. Revista de Administração Pública, 51(2), 182-200. doi:10.1590/0034-7612156168
https://doi.org/10.1590/0034-7612156168...
, Santos, Mendes-Da-Silva, Flores, & Norvilitis, 2016Santos, D. B., Mendes-Da-Silva, W., Flores, E., & Norvilitis, J. (2016). Predictors of credit card use and perceived financial well-being in female college students: a Brazil-United States comparative study. International Journal of Consumer Studies, 40(2), 133-142. doi: 10.1111/ijcs.12234
https://doi.org/10.1111/ijcs.12234...
), com diferentes amostras, mas utilizando a escala proposta por Norvilitis et al. (2003)Norvilitis, J. M., Szablicki, P. B., & Wilson, S. D. (2003). Factors influencing levels of credit card debt in college students. Journal of Applied Social Psychology, 33(5), 935-947. doi: 10.1111/j.1559-1816.2003.tb01932.x
https://doi.org/10.1111/j.1559-1816.2003...
, mantiveram em suas análises apenas três das oito questões que constituíam a escala original.

Apesar das diferentes conceitualizações e formas de medida, diversos estudos apresentam evidências de que o BEF está associado a variáveis demográficas e socioeconômicas, e a outros fatores comportamentais. Gênero, etnia, idade, renda, educação e estado civil (Hira & Mugenda, 1999Hira, T. K., & Mugenda, O. M. (1999). The relationships between self-worth and financial beliefs, behavior, and satisfaction. Journal of Family and Consumer Sciences, 91(4), 76-82.; Chan, Omar, & Yong, 2018Chan, S., Omar, S., & Yong, W. (2018). Financial well-being among Malaysian manufacturing employees. Management Science Letters, 8(6), 691-698. doi:10.5267/j.msl.2018.4.020
https://doi.org/10.5267/j.msl.2018.4.020...
) são exemplos das variáveis de interesse. Quanto aos fatores comportamentais, destaca-se a alfabetização financeira (Joo & Grable, 2004Joo, S. H., & Grable, J. E. (2004). An exploratory framework of the determinants of financial satisfaction. Journal of Family and Economic Issues, 25(1), 25-50. doi: 10.1023/B:JEEI.0000016722.37994.9f
https://doi.org/10.1023/B:JEEI.000001672...
; Shim et al., 2009Shim, S., Xiao, J. J., Barber, B. L., & Lyons, A. C. (2009). Pathways to life success: A conceptual model of financial well-being for young adults. Journal of Applied Developmental Psychology, 30, 708-723. doi:10.1016/j.appdev.2009.02.003
https://doi.org/10.1016/j.appdev.2009.02...
; Huston, 2010Huston, S. J. (2010). Measuring financial literacy. The Journal of Consumer Affairs, 44(2), p. 296-316, 2010. doi:10.1111/j.1745-6606.2010.01170.x
https://doi.org/10.1111/j.1745-6606.2010...
; Adam, Frimpong, & Boadu, 2017Adam, A. M., Frimpong, S., & Boadu, M. O. (2017). Financial literacy and financial planning: Implication for financial well-being of retirees. Business and Economic Horizons, 13(2), 224-236. doi:10.15208/beh.2017.17
https://doi.org/10.15208/beh.2017.17...
, entre outros).

A importância da alfabetização financeira para o BEF já é reconhecida pelos organismos internacionais. Tanto a Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD) quanto o Consumer Financial Protection Bureau (CFPB) afirmam que a medida de sucesso para os esforços de alfabetização financeira deve ser o BEF. Nesse contexto, a alfabetização financeira é uma combinação de consciência, conhecimento, habilidade, atitude e comportamento necessários para que sejam tomadas decisões financeiras sólidas e assim torne-se possível o alcance do BEF individual (OECD, 2013aOrganisation for Economic Co-operation and Development (2013a). Financial literacy and inclusion: Results of OECD/Infe survey across countries and by gender. Paris: OECD. Retrieved from http://www.oecd.org/daf/fin/financialeducation/TrustFund2013_OECD_INFE_Fin_Lit_and_Incl_SurveyResults_by_Country_and_Gender.pdf
http://www.oecd.org/daf/fin/financialedu...
; CFPB, 2015aConsumer Financial Protection Bureau (2015a). Financial well-being: The goal of financial education. Washington, DC: CFPB. Retrieved from http://files.consumerfinance.gov/f/201501_cfpb_report_financial-well-being.pdf
http://files.consumerfinance.gov/f/20150...
).

O Brasil, indo ao encontro dos organismos internacionais, tem procurado estabelecer estratégias para melhoria da educação financeira. Desde 2010, o país instituiu a Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef) que tem como finalidade “promover a educação financeira e previdenciária e contribuir para o fortalecimento da cidadania, a eficiência e solidez do sistema financeiro nacional e a tomada de decisões conscientes por parte dos consumidores” (Brasil, 2010Brasil (2010). Decreto nº 7397, de 22 de dezembro de 2010. Retrieved from http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/decreto/d7397.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_at...
). Ademais, a educação financeira foi inserida entre os temas sugeridos para compor a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento que define o conjunto de aprendizagens essenciais que todos os alunos deverão desenvolver ao longo das etapas e modalidades da educação básica (Brasil, 2018Brasil (2018). Base Nacional Comum Curricular: Educação é a base. Retrieved from http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wp-content/uploads/2018/04/BNCC_Ensino Medio_embaixa_site.pdf
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wp-c...
).

Entretanto, o Brasil, no último levantamento do Programme for International Student Assessment (Pisa), apresentou o pior desempenho em alfabetização financeira entre todos os países e economias da OECD participantes da avaliação. Especificamente, apenas 3% dos estudantes com 15 anos no Brasil apresentaram proficiência no nível máximo, em comparação com 12%, em média, dos estudantes nos demais participantes (OECD, 2018Organisation for Economic Co-operation and Development (2018). PISA 2015: Results in focus. Paris: OECD. Retrieved from http://www.oecd.org/pisa/pisa-2015-results-in-focus.pdf
http://www.oecd.org/pisa/pisa-2015-resul...
).

Nesse contexto, este artigo apresenta dois objetivos principais: 1. mensurar o nível de BEF dos beneficiários do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) e 2. testar a hipótese de que a alfabetização financeira é um antecedente do BEF. A escolha desse público-alvo justifica-se pelo fato de os ingressantes no programa assumirem uma dívida de longo prazo que representa proporção significativa em relação à sua renda. Dadas as regras de participação, o programa admite famílias com diferentes níveis de renda, cujas prestações podem comprometer até 20% da renda familiar e por um prazo de até dez anos.

A hipótese de que a alfabetização financeira é um antecedente do BEF encontra subsídios no argumento de que a medida de sucesso para os esforços de alfabetização financeira deve ser o BEF (OECD, 2013aOrganisation for Economic Co-operation and Development (2013a). Financial literacy and inclusion: Results of OECD/Infe survey across countries and by gender. Paris: OECD. Retrieved from http://www.oecd.org/daf/fin/financialeducation/TrustFund2013_OECD_INFE_Fin_Lit_and_Incl_SurveyResults_by_Country_and_Gender.pdf
http://www.oecd.org/daf/fin/financialedu...
; CFPB, 2015aConsumer Financial Protection Bureau (2015a). Financial well-being: The goal of financial education. Washington, DC: CFPB. Retrieved from http://files.consumerfinance.gov/f/201501_cfpb_report_financial-well-being.pdf
http://files.consumerfinance.gov/f/20150...
). Também é suportada pelas evidências que apontam que os comportamentos financeiros (Delafrooz & Paim, 2011Delafrooz, N., & Paim, L. H. (2011). Determinants of financial wellness among Malaysia workers. African Journal of Business Management, 5(24), 10.092-10.100. doi: 10.5897/AJBM10.1267
https://doi.org/10.5897/AJBM10.1267...
; Mokhtar & Husniyah, 2017Mokhtar, N., & Husniyah, A. R. (2017). Determinants of financial well-being among public employees in Putrajaya, Malaysia. Pertanika Journal of Social Sciences & Humanities, 25(3), 1241-1260.) e as atitudes financeiras (Joo, 2008Joo, S. (2008). Personal financial wellness. In J. J. Xiao (Ed.), Handbook of consumer finance research (pp. 21-34). New York: Springer.) estão positivamente relacionados ao BEF. Para o conhecimento financeiro, também existem inúmeras evidências de um efeito positivo e significativo (Joo & Grable, 2004Joo, S. H., & Grable, J. E. (2004). An exploratory framework of the determinants of financial satisfaction. Journal of Family and Economic Issues, 25(1), 25-50. doi: 10.1023/B:JEEI.0000016722.37994.9f
https://doi.org/10.1023/B:JEEI.000001672...
; Delafrooz & Paim, 2011Delafrooz, N., & Paim, L. H. (2011). Determinants of financial wellness among Malaysia workers. African Journal of Business Management, 5(24), 10.092-10.100. doi: 10.5897/AJBM10.1267
https://doi.org/10.5897/AJBM10.1267...
; Robb & Woodyard, 2011Robb, C. A., & Woodyard, A. S. (2011). Financial knowledge and best practice behavior. Journal of Financial Counselling and Planning, 22(1), 60-70.; Falahati, Sabri, & Paim, 2012Falahati, L., Sabri, M. F., & Paim, L. H. (2012). Assessment a model of financial satisfaction predictors: Examining the mediate effect of financial behaviour and financial strain. World Applied Sciences Journal, 20(2), 190-197. doi:10.5829/idosi.wasj.2012.20.02.1832
https://doi.org/10.5829/idosi.wasj.2012....
; Banco Central do Brasil [BCB], 2017Banco Central do Brasil (2017). Série Cidadania Financeira nº 5 - Competências em educação financeira. Retrieved from https://www.bcb.gov.br/nor/relincfin/serie_cidadania_financeira_pesquisa_infe_br_%200443_2017.pdf
https://www.bcb.gov.br/nor/relincfin/ser...
).

Entende-se que, no caso das políticas públicas, especialmente as que envolvem transferências de recursos e ou subsídios financeiros, como é o caso do PMCMV, o BEF deve estar entre os objetivos da política e, portanto, ser incluído nas dimensões de avaliação dos programas. Além disso, na medida em que o Brasil evolui na adoção de estratégias nacionais de alfabetização financeira, como a Enef, e considerando que o objetivo final da alfabetização financeira deve ser o BEF, torna-se relevante uma medida do nível de BEF dos indivíduos. Além disso, um indicador de BEF pode auxiliar na análise da evolução do nível de bem-estar e consequentemente auxiliar na definição de focos prioritários de atuação de programas de inclusão e educação financeira em diferentes perfis da população.

Além desta introdução, o artigo está estruturado da seguinte forma. Na seção 2, são apresentados os fundamentos teóricos do BEF e da alfabetização financeira. Em seguida, a seção 3 destaca a amostra, o instrumento e as técnicas de análise. A seção 4 descreve o perfil dos respondentes, as estatísticas descritivas, o processo de mensuração do nível de BEF e a análise da influência da alfabetização financeira sobre o BEF. A seção 5 apresenta as principais conclusões e implicações para formulação de políticas públicas de educação financeira.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Bem-estar financeiro

Dentre as definições de BEF, uma das mais utilizadas é a do CFPB (2015a)Consumer Financial Protection Bureau (2015a). Financial well-being: The goal of financial education. Washington, DC: CFPB. Retrieved from http://files.consumerfinance.gov/f/201501_cfpb_report_financial-well-being.pdf
http://files.consumerfinance.gov/f/20150...
: trata-se de um estado no qual o indivíduo consegue cumprir totalmente suas obrigações financeiras atuais e em andamento, sentindo-se seguro sobre seu futuro financeiro e apto a realizar escolhas que lhe permitam aproveitar a vida. Nesse mesmo sentido, Plagnol (2011)Plagnol, A. C. (2011). Financial satisfaction over the life course: The influence of assets and liabilities. Journal of Economic Psychology, 32(1), 45-64. doi:10.1016/j.joep.2010.10.006
https://doi.org/10.1016/j.joep.2010.10.0...
afirma que a capacidade de gerenciar efetivamente os recursos monetários, em prol de um equilíbrio financeiro capaz de proporcionar tranquilidade orçamentária, é um fator importante para todos os indivíduos, e, quando se atinge essa estabilidade, alcança-se o BEF. Uma definição semelhante é proposta por Arber, Fenn e Meadows (2014)Arber, S., Fenn, K., & Meadows, R. (2014). Subjective financial well-being, income and heal thin equalities in mid and later life in Britain. Social Science & Medicine, 100, 12-20. doi: 10.1016/j.socscimed.2013.10.016
https://doi.org/10.1016/j.socscimed.2013...
, na qual o BEF é a classificação auferida pelo indivíduo em relação à percepção de satisfação quanto à adequação de sua renda em relação às suas necessidades pessoais. Já Brüggen et al. (2017)Brüggen, E. C., Hogreve, J., Holmlund, M., Kabadayi, S., & Löfgren, M. (2017). Financial well-being: A conceptualization and research agenda. Journal of Business Research, 79, 228-237. doi:10.1016/j.jbusres.2017.03.013
https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2017.0...
acrescentam ao conceito a ideia da liberdade financeira, ou seja, a capacidade de os indivíduos tomarem decisões sobre a própria vida sem se preocuparem com suas restrições financeiras, levando ao alcance do BEF. Joo (2008)Joo, S. (2008). Personal financial wellness. In J. J. Xiao (Ed.), Handbook of consumer finance research (pp. 21-34). New York: Springer. evidencia que o BEF é uma percepção financeira livre de ansiedade, saudável e feliz. E ainda de uma forma mais sintética, Shim et al. (2009)Shim, S., Xiao, J. J., Barber, B. L., & Lyons, A. C. (2009). Pathways to life success: A conceptual model of financial well-being for young adults. Journal of Applied Developmental Psychology, 30, 708-723. doi:10.1016/j.appdev.2009.02.003
https://doi.org/10.1016/j.appdev.2009.02...
definem o BEF simplesmente como o sentimento positivo em relação à situação financeira.

Numa tentativa de melhor especificar o conceito, o CFPB (2015a)Consumer Financial Protection Bureau (2015a). Financial well-being: The goal of financial education. Washington, DC: CFPB. Retrieved from http://files.consumerfinance.gov/f/201501_cfpb_report_financial-well-being.pdf
http://files.consumerfinance.gov/f/20150...
definiu como características inerentes ao BEF: 1. ter controle sobre as finanças e ser capaz de cumprir com as despesas nos prazos corretos; 2. ter uma reserva financeira caso ocorram despesas inesperadas e emergências, além de possuir seguro de saúde e bom crédito, e ser capaz de confiar em amigos e familiares caso seja necessária alguma assistência financeira; 3. ter objetivos, como guardar uma quantia de recursos mensalmente para a aposentadoria, e estar no bom caminho para atingir metas impostas; 4. ser capaz de fazer escolhas que permitam aproveitar a vida, como tirar férias, desfrutar de momentos de lazer, voltar para a escola para perseguir um grau mais avançado de estudo ou trabalhar menos para passar mais tempo com a família.

Chan, Chan e Chau (2012)Chan, K. Y. K., Chan, S. F., & Chau, A. W. L. (2012). Financial knowledge and aptitudes: Impacts on college students’ financial well-being. College Student Journal, 46(1), 114-133. e Malone et al. (2010)Malone, K., Stewart, S. D., Wilson, J., & Korsching, P. F. (2010). Perceptions of financial well-being among American women in diverse families. Journal of Family and Economic Issues, 31(1), 63-81. doi:10.1007/s10834-009-9176-5
https://doi.org/10.1007/s10834-009-9176-...
argumentam que para entender o BEF é necessário levar em consideração a compreensão e preo­cupação dos indivíduos sobre o passado, presente e futuro, ou seja, as experiências financeiras passadas, atuais e as expectativas futuras são atributos importantes. Nessa perspectiva, Delafrooz e Paim (2011)Delafrooz, N., & Paim, L. H. (2011). Determinants of financial wellness among Malaysia workers. African Journal of Business Management, 5(24), 10.092-10.100. doi: 10.5897/AJBM10.1267
https://doi.org/10.5897/AJBM10.1267...
complementam afirmando que o BEF deve contemplar a satisfação financeira, a percepção sobre recursos financeiros, estabilidade e valor objetivo dos bens.

Dessa forma, para identificar a satisfação financeira das pessoas, faz-se necessário analisar o contexto de vida delas e, por consequência, o rendimento disponível para as famílias. Assim, quanto maior for a dívida em relação à renda, menor será a satisfação financeira. Logo, um aumento no rendimento nem sempre irá se traduzir em aumento da satisfação financeira, uma vez que o nível da dívida poderá ser elevado e por consequência afetará o BEF (Vlaev & Elliott, 2014Vlaev, I., & Elliott, A.(2014). Financial well-being components. Social Indicators Research, 118(3), 1103-1123. doi:10.1007/s11205-013-0462-0
https://doi.org/10.1007/s11205-013-0462-...
). Contudo, outros fatores, como a personalidade, a atitude, o contexto decisório, as oportunidades, o conhecimento, habilidades e o comportamento, também podem afetar a percepção da situação financeira (CFPB, 2015aConsumer Financial Protection Bureau (2015a). Financial well-being: The goal of financial education. Washington, DC: CFPB. Retrieved from http://files.consumerfinance.gov/f/201501_cfpb_report_financial-well-being.pdf
http://files.consumerfinance.gov/f/20150...
).

Quanto às formas de avaliar o nível de BEF, nos anos 1990 ainda eram considerados aspectos mais objetivos relacionados os seguintes fatores: renda familiar, itens materiais (gastos com alimentação, vestuário, habitação e transporte), recursos financeiros disponíveis para atender às emergências, patrimônio líquido (diferença entre os ativos e todas as dívidas), o montante da dívida, o nível de poupança e o dinheiro para necessidades futuras (Sumarwan, 1990Sumarwan, U. (1990). A managerial system approach to factors influencing satisfaction with households’ financial status (Doctoral thesis, Iowa State University, Ames, Iowa, USA).; Lown & Ju, 1992Lown, J. M., & Ju, I. S. (1992). A model of credit use and financial satisfaction. Financial Counseling and Planning, 3, 105-125.). Com o passar dos anos, essa perspectiva objetiva acerca do BEF deu espaço a aspectos subjetivos. A discussão sobre BEF passa então a incorporar aspectos relacionados com as características pessoais de cada indivíduo. Algumas dessas são os valores, as experiên­cias, as expectativas e a disposição que refletem de forma significativa no sentido ou sensação global de BEF.

Nessa abordagem, destacam-se as escalas internacionais de BEF desenvolvidas por Norvilitis et al. (2003)Norvilitis, J. M., Szablicki, P. B., & Wilson, S. D. (2003). Factors influencing levels of credit card debt in college students. Journal of Applied Social Psychology, 33(5), 935-947. doi: 10.1111/j.1559-1816.2003.tb01932.x
https://doi.org/10.1111/j.1559-1816.2003...
, a proposta de Prawitz et al. (2006)Prawitz, A., Garman, E. T., Sorhaindo, B., O’Neill, B., Kim, J., & Drentea, P. (2006). Incharge financial distress/financial well-being scale: Development, administration, and score interpretation. Journal of Financial Counseling and Planning, 17(1), 34-50. doi:10.1037/t60365-000
https://doi.org/10.1037/t60365-000...
, denominada Personal Financial Wellness Scale™ (PFW Scale™) e, mais recentemente, a divulgada pelo CFPB (2015a)Consumer Financial Protection Bureau (2015a). Financial well-being: The goal of financial education. Washington, DC: CFPB. Retrieved from http://files.consumerfinance.gov/f/201501_cfpb_report_financial-well-being.pdf
http://files.consumerfinance.gov/f/20150...
.

A escala de BEF de Norvilitis et al. (2003)Norvilitis, J. M., Szablicki, P. B., & Wilson, S. D. (2003). Factors influencing levels of credit card debt in college students. Journal of Applied Social Psychology, 33(5), 935-947. doi: 10.1111/j.1559-1816.2003.tb01932.x
https://doi.org/10.1111/j.1559-1816.2003...
é composta por oito itens destinados a medir os sentimentos de confiança e segurança financeira, pontuada em uma escala de cinco pontos que varia de 1 (concordo plenamente) a 5 (discordo plenamente). A consistência interna foi aceitável, e a escala consiste em dois fatores principais: preocupação financeira atual e expectativas quanto ao futuro. Já, a PFW Scale é composta por oito questões, as quais medem como as pessoas se declaram sobre reações e situações financeiras por meio de uma escala likert de dez pontos, indo de sentimentos negativos a sentimentos positivos (Prawitz et al., 2006Prawitz, A., Garman, E. T., Sorhaindo, B., O’Neill, B., Kim, J., & Drentea, P. (2006). Incharge financial distress/financial well-being scale: Development, administration, and score interpretation. Journal of Financial Counseling and Planning, 17(1), 34-50. doi:10.1037/t60365-000
https://doi.org/10.1037/t60365-000...
).

A escala desenvolvida pelo CFPB (2015a)Consumer Financial Protection Bureau (2015a). Financial well-being: The goal of financial education. Washington, DC: CFPB. Retrieved from http://files.consumerfinance.gov/f/201501_cfpb_report_financial-well-being.pdf
http://files.consumerfinance.gov/f/20150...
baseia-se em insights de consumidores e especialistas e foi desenvolvida utilizando técnicas como entrevistas e testes psicométricos, para garantir a compreensão exata das perguntas. A escala conta com dez itens que incorporam os quatros elementos do BEF sumarizados na Figura 2.1.1.

Figura 2.1.1
PRINCIPAIS ELEMENTOS DO BEF NO PRESENTE E NO FUTURO

Ainda são poucos os estudos que tentaram aplicar escalas de BEF no Brasil, e os três estudos que utilizaram a escala de Norvilitis et al. (2003)Norvilitis, J. M., Szablicki, P. B., & Wilson, S. D. (2003). Factors influencing levels of credit card debt in college students. Journal of Applied Social Psychology, 33(5), 935-947. doi: 10.1111/j.1559-1816.2003.tb01932.x
https://doi.org/10.1111/j.1559-1816.2003...
acabaram por excluir da análise a maioria das questões. Kunkel et al. (2015)Kunkel, F. I. R., Vieira, K. M., & Potrich, A. C. G. (2015). Causas e consequên­cias da dívida no cartão de crédito: Uma análise multifatores. Revista de Administração, 50, 169-182. doi: 10.5700/rausp1192
https://doi.org/10.5700/rausp1192...
, Santos et al. (2016)Santos, D. B., Mendes-Da-Silva, W., Flores, E., & Norvilitis, J. (2016). Predictors of credit card use and perceived financial well-being in female college students: a Brazil-United States comparative study. International Journal of Consumer Studies, 40(2), 133-142. doi: 10.1111/ijcs.12234
https://doi.org/10.1111/ijcs.12234...
e Campara et al. (2017)Campara, J. P., Vieira, K. M., & Potrich, A. C. G. (2017). Satisfação global de vida e bem-estar financeiro: Desvendando a percepção de beneficiários do Programa Bolsa Família. Revista de Administração Pública, 51(2), 182-200. doi:10.1590/0034-7612156168
https://doi.org/10.1590/0034-7612156168...
, a partir de análises fatoriais confirmatórias, mantiveram em seus estudos apenas três questões das oito propostas. As demais questões foram excluídas dos modelos por ausência de significância ou coeficientes muito baixos.

Em relação às diferenças de BEF, a literatura traz evidências para diversas variáveis socioeconômicas e demográficas. A Figura 2.1.2 apresenta uma síntese dessas evidências.

Figura 2.1.2
SÍNTESE DAS RELAÇÕES ENTRE AS VARIÁVEIS SOCIOECONÔMICAS E DEMOGRÁFICAS E O BEF

Merecem destaque na Figura 2.1.2 as variáveis estado civil e escolaridade, para as quais não há consenso na literatura da relação com o BEF. No que diz respeito ao estado civil, Sumarwan (1990)Sumarwan, U. (1990). A managerial system approach to factors influencing satisfaction with households’ financial status (Doctoral thesis, Iowa State University, Ames, Iowa, USA). e Diniz, Vieira, Potrich e Campara (2014)Diniz, A. P. C., Vieira, K. M., Potrich, A. C. G., & Campara, J. P. (2014). Influência das variáveis socioeconômicas e demográficas no bem-estar financeiro: Um estudo do comportamento maranhense. Revista Uniabeu, 7(17), 218-234. concluíram que indivíduos casados são mais propensos a estar satisfeitos com os recursos e os bens que possuem em relação a indivíduos solteiros, divorciados ou viúvos. Em contrapartida, Gutter e Copur (2011)Gutter, M., & Copur, Z. (2011). Financial behaviors and financial well-being of college students: Evidence from a national survey. Journal of Family and Economic, 32(4), 699-714. doi:10.1007/s10834-011-9255-2
https://doi.org/10.1007/s10834-011-9255-...
afirmam, em seu trabalho sobre BEF com alunos de uma universidade, que os solteiros possuem significantemente maior BEF em relação aos casados, divorciados ou viúvos.

Quanto à escolaridade, Lown e Ju (1992)Lown, J. M., & Ju, I. S. (1992). A model of credit use and financial satisfaction. Financial Counseling and Planning, 3, 105-125. e Diniz et al. (2014)Diniz, A. P. C., Vieira, K. M., Potrich, A. C. G., & Campara, J. P. (2014). Influência das variáveis socioeconômicas e demográficas no bem-estar financeiro: Um estudo do comportamento maranhense. Revista Uniabeu, 7(17), 218-234. demonstram que existem diferenças significativas no que tange ao grau de escolaridade e à influência no BEF, e os grupos com maior nível educacional tendem a estar mais satisfeitos. Corroborando a ideia de que o nível educacional influencia positivamente a percepção de BEF, Penn (2007)Penn, D. A. (2007). Financial well-being in an urban area: An application of multiple imputation [Working Paper]. Department of Economics and Finance, Paris. demonstra que os indivíduos com educação formal (no caso, diploma universitário) apresentam uma melhor percepção de BEF em relação aos indivíduos sem diploma. Em contrapartida, Plagnol (2011)Plagnol, A. C. (2011). Financial satisfaction over the life course: The influence of assets and liabilities. Journal of Economic Psychology, 32(1), 45-64. doi:10.1016/j.joep.2010.10.006
https://doi.org/10.1016/j.joep.2010.10.0...
relata que os indivíduos com um grau de escolaridade mais elevado possuem aspirações mais altas e, portanto, estão menos satisfeitos com a sua situação financeira.

2.2 A alfabetização financeira como antecedente do BEF

Embora existam várias definições para a alfabetização financeira, destaca-se a representatividade das três dimensões desenvolvidas pela OECD (2015)Organisation for Economic Co-operation and Development (2015). OECD/Infe toolkit for measuring financial literacy and financial inclusion. Paris: OECD. Retrieved from http://www.oecd.org/daf/fin/financial-education/2015_OECD_INFE_Toolkit_Measuring_Financial_Literacy.pdf
http://www.oecd.org/daf/fin/financial-ed...
: 1. conhecimento e compreensão de conceitos e riscos financeiros; 2. habilidades, motivação e confiança para aplicar esse conhecimento; e 3. compreensão para tomar decisões eficazes em uma variedade de contextos, de modo que o BEF dos indivíduos e da sociedade seja maximizado.

A dimensão do conhecimento financeiro ou educação financeira pode ser definida como um tipo particular de capital humano que se adquire ao longo da vida e está relacionado à habilidade para gerir receitas, despesas e poupança de forma eficaz (Delavande, Rohwedder, & Willis, 2008Delavande, A., Rohwedder, S., & Willis, R. J. (2008). Retirement planning and the role of financial literacy and cognition [Working Paper Nº 190]. Michigan Retirement Research Center Michigan.). Em outras palavras, o conhecimento financeiro pode ser entendido como a capacidade de um indivíduo compreender as informações financeiras vinculadas às transações operacionais de crédito, poupança, investimento e consumo, compatíveis com a sua realidade financeira (Huston, 2010Huston, S. J. (2010). Measuring financial literacy. The Journal of Consumer Affairs, 44(2), p. 296-316, 2010. doi:10.1111/j.1745-6606.2010.01170.x
https://doi.org/10.1111/j.1745-6606.2010...
).

O comportamento financeiro é a última dimensão da alfabetização financeira, o qual, segundo a OECD (2013a)Organisation for Economic Co-operation and Development (2013a). Financial literacy and inclusion: Results of OECD/Infe survey across countries and by gender. Paris: OECD. Retrieved from http://www.oecd.org/daf/fin/financialeducation/TrustFund2013_OECD_INFE_Fin_Lit_and_Incl_SurveyResults_by_Country_and_Gender.pdf
http://www.oecd.org/daf/fin/financialedu...
, é um elemento essencial dentre os três, pois concretiza o equilíbrio ou o desequilíbrio financeiro. Logo, ter um comportamento financeiro adequado requer no mínimo cinco requisitos: honrar com as despesas mensais, ter as finanças sob controle, planejar o futuro, fazer escolhas assertivas de produtos financeiros e manter-se atualizado das questões financeiras (Mundy, 2011Mundy, S. (2011). Financial education programmes in schools: Analysis of selected current programmes and literature [Mimeo]. Paris: OECD. ).

3. MÉTODO DE PESQUISA

3.1 Participantes

A população-alvo do estudo compreende os beneficiários do PMCMV pertencentes às diferentes faixas de financiamento. Na faixa 1, as famílias são selecionadas pelo município ou governo do estado e não podem possuir imóvel nem ter recebido anteriormente benefícios de natureza habitacional do governo federal. O prazo de amortização da dívida é fixado em 120 meses, em que o valor bruto da prestação corresponde ao valor do financiamento dividido por 120 e o valor líquido da prestação a ser paga pelos beneficiários corresponde a 5% da renda bruta familiar mensal ou R$ 25,00, o que for maior, o restante é subsidiado pelo programa (Caixa Econômica Federal [CEF], 2015aCaixa Econômica Federal (2015a). Manual do Programa Minha Casa Minha Vida - Entidades Recursos FDS. Retrieved from http://www.caixa.gov.br/Downloads/habitacao-minha-casa-minha-vida/MANUAL_MCMV_ENTIDADES.pdf.
http://www.caixa.gov.br/Downloads/habita...
). As famílias com renda entre R$ 1.600,01 e R$ 3.275,00 mensais pertencem à faixa 2 do PMCMV, a qual tem subsídio e juros reduzidos. Já as famílias com renda entre R$ 3.275,01 e R$ 5.000,00 pertencem à faixa 3 e têm apenas juros reduzidos se comparadas às das demais faixas.

Nas faixas 2 e 3, o valor financiado é definido em função da análise da capacidade de pagamento do beneficiário, de acordo com a avaliação de risco realizada pela Caixa Econômica Federal, respeitados os limites de renda familiar bruta e de valor de investimento, aplicáveis individualmente às unidades integrantes do empreendimento, observados ainda o percentual de participação mínima do mutuário no investimento, o sistema/prazo de amortização e a taxa de juros (CEF, 2015aCaixa Econômica Federal (2015a). Manual do Programa Minha Casa Minha Vida - Entidades Recursos FDS. Retrieved from http://www.caixa.gov.br/Downloads/habitacao-minha-casa-minha-vida/MANUAL_MCMV_ENTIDADES.pdf.
http://www.caixa.gov.br/Downloads/habita...
).

Os subsídios podem ser para fins de cobertura da remuneração do agente financeiro, com a redução no valor das prestações, ou para fins de pagamento de parte da aquisição ou construção do imóvel. É concedido um desconto na taxa de juros mensal dos financiamentos de beneficiários dentro dos limites de renda estabelecidos, calculado com base no fluxo teórico do financiamento pelo prazo da operação, variando de 5% e 7,16% a. a. (CEF, 2015bCaixa Econômica Federal (2015b). Carta de crédito FGTS imóvel na planta associativo. Retrieved from http://www.caixa.gov.br/Downloads/habitacao-documentos-gerais/Carta_de_Credito_FGTS_E_OUTROS.pdf
http://www.caixa.gov.br/Downloads/habita...
).

Diferentemente da faixa 1, o beneficiário das faixas 2 e 3 não pode ter nenhuma restrição cadastral, bem como deve ser aprovado na análise de risco de crédito, além de não poder ser detentor de financiamento ativo no Sistema Financeiro de Habitação em qualquer parte do país ou ser proprietário, cessionário ou promitente comprador, ou ainda titular de direito de aquisição de outro imóvel residencial urbano situado no atual local de domicílio ou onde pretende fixá-lo.

Constituem a amostra do estudo 561 beneficiários das três faixas de financiamento, residentes em três diferentes cidades do Rio Grande do Sul, os quais foram entrevistados em suas residências, após concordarem em participar da pesquisa. Dos 561 entrevistados, 170 (30,3%) obtiveram financiamento na faixa 1 (renda de até R$ 1.600,00), 368 (65,6%) na faixa 2 (renda de até R$ 3.275,00) e 23 (4,15%) na faixa 3 (renda de até R$ 5.000,00). A Figura 3.1.1 apresenta o perfil dos respondentes.

Figura 3.1.1
PERFIL DOS RESPONDENTES SEGUNDO AS VARIÁVEIS: IDADE, GÊNERO, ESTADO CIVIL, DEPENDENTES, ESCOLARIDADE, QUEM TRABALHA NA FAMÍLIA, QUEM CONTRIBUI COM AS DESPESAS DA CASA, OCUPAÇÃO E RENDA

Mais da metade dos respondentes tem até 36 anos, e menos de um quarto, mais de 48 anos de idade, o que demonstra que grande parte dos beneficiários é mais jovem e, com o PMCMV, pôde adquirir o primeiro imóvel. A maioria dos respondentes é do sexo feminino (67,2%), casada (62,3%), com ensino médio (39,1%) ou ensino superior (20,5%).

Quando questionados sobre quem trabalha na família, os maiores percentuais foram nas alternativas “Você e seu(sua) parceiro(a)” e “Você”, o que também foi constatado quando se questionou sobre quem contribui para as despesas da casa, em que 48,9% responderam “Você e seu(sua) parceiro(a)”, e 25,9%, “Você”. Quanto à ocupação, grande parte da amostra é composta por assalariados com carteira de trabalho assinada, autônomo regular, funcionário público ou só aposentado. A maioria tem renda familiar mensal de até R$ 3.275,00.

3.2 Instrumento

O questionário foi composto por três blocos. O primeiro, destinado à identificação do perfil dos entrevistados, contou com nove questões. O segundo bloco apresenta a escala de BEF, cujas questões foram traduzidas da escala proposta pelo CFPB (2015b)Consumer Financial Protection Bureau (2015b). Measuring financial well-being: A guide to using the CFPB financial well-being scale. Washington, DC: CFPB. Retrieved from https://files.consumerfinance.gov/f/201512_cfpb_financial-well-being-user-guide-scale.pdf
https://files.consumerfinance.gov/f/2015...
. A escala é formada por dez questões divididas em duas partes. A primeira parte é composta de questões que procuram identificar se o indivíduo consegue lidar com despesas inesperadas, se está garantindo o seu futuro financeiro, se sente que terá as coisas que quer e se pode aproveitar a vida com base na forma como administra seu dinheiro. As variáveis da segunda parte questionam se o entrevistado consegue economizar, se ocorre uma dificuldade financeira no mês quando há um evento inesperado, se está em dia com as suas finanças e se as finanças controlam a sua vida.

No terceiro bloco, constam as três dimensões da alfabetização financeira. Avalia-se o comportamento financeiro mantido pelos respondentes por meio da adaptação das escalas propostas por Shockey (2002)Shockey, S. S. (2002). Low-wealth adults financial literacy, money management behavior and associates factors, including critical thinking (Doctoral thesis, Ohio State University, Utah, USA)., O’Neill e Xiao (2012)O’Neill, B., & Xiao, J. (2012). Financial behaviors before and after the financial crisis: Evidence from an online survey. Financial Counseling and Planning, 23(1), 33-46. e pela OECD (2013b)Organisation for Economic Co-operation and Development (2013b). Women and financial education: Evidence, policy responses and guidance. Paris: OECD. doi:10.1787/9 789264202733-en
https://doi.org/10.1787/9 789264202733-e...
. A finalidade é identificar qual o nível de comportamento financeiro dos indivíduos, se atuam de forma a proteger ou arriscar seus recursos monetários, com variáveis referentes ao controle dos gastos, comparação de preços e poupança. Para mensurar a atitude financeira, utiliza-se um construto elaborado com base nas escalas de Shockey (2002)Shockey, S. S. (2002). Low-wealth adults financial literacy, money management behavior and associates factors, including critical thinking (Doctoral thesis, Ohio State University, Utah, USA). e da OECD (2013b)Organisation for Economic Co-operation and Development (2013b). Women and financial education: Evidence, policy responses and guidance. Paris: OECD. doi:10.1787/9 789264202733-en
https://doi.org/10.1787/9 789264202733-e...
visando identificar como o indivíduo avalia sua gestão financeira. Quanto mais o respondente concordar com as afirmações feitas, melhores serão suas atitudes financeiras. Para o conhecimento financeiro, os entrevistados são convidados a pensar sobre questões financeiras e marcar a alternativa que consideram correta, e, em cada uma das perguntas, existe apenas uma alternativa verdadeira. Assim será construído um índice que tem por base questões de múltipla escolha adaptadas de Alessie, Van Rooij e Lusardi (2011)Alessie, R., Van Rooij, M., & Lusardi, A. (2011). Financial literacy and retirement preparation in the Netherlands. Journal of Pension Economics and Finance, 10(4), 527-545. doi:10.1017/S1474747211 000461
https://doi.org/10.1017/S1474747211 0004...
, OECD (2013b)Organisation for Economic Co-operation and Development (2013b). Women and financial education: Evidence, policy responses and guidance. Paris: OECD. doi:10.1787/9 789264202733-en
https://doi.org/10.1787/9 789264202733-e...
, Klapper, Lusardi e Panos (2013)Klapper, L., Lusardi, A., & Panos, G. A. (2013). Financial literacy and its consequences: Evidence from Russia during the financial crisis. Journal of Banking & Finance, 37(10), 3904-3923. doi:10.1016/j.jbankfin.2013.07.014
https://doi.org/10.1016/j.jbankfin.2013....
e pela National Financial Capability Study - NFCS (2013)National Financial Capability Study (2013). Financial capability in the United States - Report of Findings from the 2012 National Financial Capability Study. Financial Industry Regulatory Authority (FINRA) Investor Education Foundation. Retrieved from http://www.usfinancialcapability.org/downloads/NFCS_2012_Report_Natl_Findings.pdf
http://www.usfinancialcapability.org/dow...
.

O instrumento de pesquisa passou por três etapas antes de sua aplicação: tradução reversa, avaliação de especialistas e pré-teste. Realizou-se esse processo com o intuito de verificar se a semântica e o questionamento estavam coerentes com o contexto social dessas pessoas, bem como se as perguntas estavam realmente questionando o que se pretendia investigar. O processo de tradução foi realizado por duas pessoas em três etapas, as perguntas foram traduzidas do inglês para o português, do português para o inglês e finalmente para o português novamente. A avaliação por especialistas foi realizada por três profissionais conhecedores da área de pesquisa. O pré-teste envolveu a aplicação do instrumento em 20 beneficiários.

As questões de perfil do primeiro bloco do instrumento podem ser identificadas na Figura 3.1.1, e as demais questões do instrumento são relacionadas no Apêndice.

3.3 Técnicas de análise

Como técnicas de análise, utilizaram-se medidas de estatística descritiva, análise fatorial confirmatória e análise de regressão múltipla. Entretanto, antes da utilização das técnicas estatísticas, foi necessária a aplicação da metodologia proposta pelo CFPB (2015b)Consumer Financial Protection Bureau (2015b). Measuring financial well-being: A guide to using the CFPB financial well-being scale. Washington, DC: CFPB. Retrieved from https://files.consumerfinance.gov/f/201512_cfpb_financial-well-being-user-guide-scale.pdf
https://files.consumerfinance.gov/f/2015...
para o cômputo do nível de BEF de cada entrevistado. Assim, para cada alternativa de resposta foi atribuída uma nota, e na primeira parte, nas questões 22, 23, 25, as alternativas de resposta equivalem a: completamente = 4, muito bem = 3, um pouco = 2, muito pouco =1 e de modo nenhum = 0. Nas questões 24, 26 e 27, as alternativas de resposta equivalem à seguinte pontuação: completamente = 0, muito bem = 1, um pouco = 2, muito pouco = 3 e de modo nenhum = 4. Na segunda parte, nas questões 28, 30 e 31, as alternativas equivalem a: sempre = 0, frequentemente = 1, às vezes = 2, raramente = 3 e nunca = 4. Na questão 29, a pontuação é dada da seguinte forma: sempre = 4, frequentemente = 3, às vezes = 2, raramente = 1 e nunca = 0. A partir da soma da pontuação de todas as variáveis, tem-se a pontuação total que varia de 0 a 40, e quanto maior a nota, maior o BEF.

Além da estatística descritiva, utiliza-se a análise fatorial confirmatória para a validação dos seguintes construtos: atitude financeira e comportamento financeiro. Para tanto, inicia-se por uma matriz de variância-covariância e opta-se pela estimação de máxima verossimilhança via procedimento direto.

A identificação da validade de construto e a confiabilidade são verificadas seguindo recomendação de Hair, Black e Babin (2010)Hair, J. R., Black, W. C., Babin, B. J., & Anderson, R. E. (2010). Multivariate Data Analyses (7th ed.). New Jersey: Pearson.. Assim, usam-se, além da magnitude e significância estatística dos coeficientes padronizados, os indicadores da Figura 3.3.1.

Figura 3.3.1
DESCRIÇÃO DOS ÍNDICES DE AJUSTE E CONFIABILIDADE SEGUIDOS DE SUAS FINALIDADES E LIMITES

A unidimensionalidade é avaliada a partir da padronização dos resíduos relativos aos indicadores de cada variável latente. São considerados unidimensionais os construtos que apresentaram, para um nível de significância de 5%, resíduos padronizados inferiores a 2,58 (Hair et al., 2010Hair, J. R., Black, W. C., Babin, B. J., & Anderson, R. E. (2010). Multivariate Data Analyses (7th ed.). New Jersey: Pearson.).

Finalmente, utiliza-se um modelo de regressão linear múltipla para analisar a influência da alfabetização financeira no BEF. O BEF é computado com base na metodologia proposta pelo CFPB (2015b)Consumer Financial Protection Bureau (2015b). Measuring financial well-being: A guide to using the CFPB financial well-being scale. Washington, DC: CFPB. Retrieved from https://files.consumerfinance.gov/f/201512_cfpb_financial-well-being-user-guide-scale.pdf
https://files.consumerfinance.gov/f/2015...
, conforme descrito anteriormente. O comportamento financeiro é a soma dos acertos das questões que compõem o construto. Já a atitude e o comportamento financeiros são computados pela média ponderada das respostas das questões. Para a ponderação, utilizam-se como pesos as cargas fatoriais padronizadas obtidas na validação dos construtos. A Figura 3.3.2 apresenta a descrição das variáveis independentes:

Figura 3.3.2
DESCRIÇÃO DAS VARIÁVEIS INDEPENDENTES DO MODELO DE REGRESSÃO

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Inicialmente, buscou-se analisar a percepção de BEF dos entrevistados. Essa análise envolveu duas etapas. Primeiro, apresentam-se as estatísticas descritivas dos dois blocos de questões que constituem a medida de BEF. Posteriormente, é calculado e apresentado o nível de BEF dos entrevistados a partir da metodologia proposta pelo CFPB (2015b)Consumer Financial Protection Bureau (2015b). Measuring financial well-being: A guide to using the CFPB financial well-being scale. Washington, DC: CFPB. Retrieved from https://files.consumerfinance.gov/f/201512_cfpb_financial-well-being-user-guide-scale.pdf
https://files.consumerfinance.gov/f/2015...
. As figuras 4.1 e 4.2 apresentam as estatísticas descritivas das questões da escala de BEF.

Figura 4.1
ESTATÍSTICA DESCRITIVA DO CONSTRUTO BEF (PARTE 1), MÉDIAS, INTERVALO DE CONFIANÇA, DESVIO PADRÃO E PERCENTUAIS
Figura 4.2
ESTATÍSTICA DESCRITIVA DO CONSTRUTO BEF (PARTE 2), MÉDIAS, INTERVALO DE CONFIANÇA, DESVIO PADRÃO E PERCENTUAIS

A maioria das médias ficou em torno de 3,0, revelando que os respondentes sentem um nível intermediário de BEF. A variável que indica maior sensação de satisfação financeira foi “Por causa da sua situação financeira, você sente que nunca terá as coisas que quer na vida”, em que 63,00% dos respondentes afirmaram que “de modo nenhum” ou “muito pouco” eles sentem que nunca terão as coisas que querem na vida. Já a segunda variável que indica um bom nível de BEF foi “Você pode aproveitar a vida devido à maneira como está administrando seu dinheiro”, em que a maioria (59,10%) afirmou que aproveita completamente ou muito bem. Essas variáveis vão ao encontro do que foi destacado pelo CFPB (2015a)Consumer Financial Protection Bureau (2015a). Financial well-being: The goal of financial education. Washington, DC: CFPB. Retrieved from http://files.consumerfinance.gov/f/201501_cfpb_report_financial-well-being.pdf
http://files.consumerfinance.gov/f/20150...
como elementos inerentes ao BEF, como “estar no caminho para atingir metas impostas” e ser “capaz de fazer escolhas que lhe permitam aproveitar a vida”.

Percepções intermediárias foram encontradas nas variáveis “Você poderia lidar com uma grande despesa inesperada” e “Você está garantindo seu futuro financeiro”, sendo as duas variáveis invertidas. Percebeu-se que grande parte dos indivíduos respondeu “de modo nenhum” ou “um pouco”, indicando que os indivíduos não alcançam um maior BEF por causa da dificuldade em acumular recursos ao longo da vida para que possam se precaver de despesas inesperadas e garantir o futuro, levando-os a preocupações e à sensação de insegurança quanto a imprevistos. Dessa forma, os indivíduos carecem de ter objetivos, como guardar uma quantia de recursos mensalmente. Entende-se que essa não é tarefa fácil, principalmente para famílias com menores níveis de renda. Contudo, o ato de poupar, o mínimo que seja, tende a impactar de forma positiva o BEF.

A variável “Você está apenas sobrevivendo financeiramente” também apresentou média intermediária. Retoma-se aqui a observação de Chan et al. (2012)Chan, K. Y. K., Chan, S. F., & Chau, A. W. L. (2012). Financial knowledge and aptitudes: Impacts on college students’ financial well-being. College Student Journal, 46(1), 114-133., Malone et al. (2010)Malone, K., Stewart, S. D., Wilson, J., & Korsching, P. F. (2010). Perceptions of financial well-being among American women in diverse families. Journal of Family and Economic Issues, 31(1), 63-81. doi:10.1007/s10834-009-9176-5
https://doi.org/10.1007/s10834-009-9176-...
e Norvilitis et al. (2003)Norvilitis, J. M., Szablicki, P. B., & Wilson, S. D. (2003). Factors influencing levels of credit card debt in college students. Journal of Applied Social Psychology, 33(5), 935-947. doi: 10.1111/j.1559-1816.2003.tb01932.x
https://doi.org/10.1111/j.1559-1816.2003...
: o BEF compreende não apenas preocupações com o presente e atendimento das necessidades momentâneas, mas também com a situação financeira futura.

A percepção mais desfavorável de BEF foi demonstrada na variável “Você está preocupado(a) que o dinheiro que tem ou terá economizado pode não ser suficiente”, em que 32,30% relataram estar completamente preocupado(a), 15,20% muito preocupado(a) e 23,50% um pouco preocupado(a). Esse panorama revela que os beneficiários do PMCMV acreditam que deveriam ter economizado mais para que pudessem, no futuro, ter mais tranquilidade referente às finanças. Segundo o CFPB (2015a)Consumer Financial Protection Bureau (2015a). Financial well-being: The goal of financial education. Washington, DC: CFPB. Retrieved from http://files.consumerfinance.gov/f/201501_cfpb_report_financial-well-being.pdf
http://files.consumerfinance.gov/f/20150...
, guardar recursos mensalmente para a aposentadoria é elemento inerente ao bem-estar, algo que não se observa nos respondentes.

Dando continuidade à análise do BEF, é apresentada na Figura 4.2 a estatística descritiva da segunda parte do construto.

Percebe-se que a variável com maior média é a que indica que os indivíduos estão em dia com suas finanças. Esse resultado é muito positivo, pois ter controle sobre as finanças e ser capaz de pagar as contas em dia traz segurança financeira e aumenta significativamente o BEF pessoal (CFPB, 2015aConsumer Financial Protection Bureau (2015a). Financial well-being: The goal of financial education. Washington, DC: CFPB. Retrieved from http://files.consumerfinance.gov/f/201501_cfpb_report_financial-well-being.pdf
http://files.consumerfinance.gov/f/20150...
).

Observa-se que as outras variáveis apresentaram um nível intermediário de BEF, ficando com a média em torno de três. Quanto à variável referente a possuir dinheiro sobrando no final do mês, verifica-se o maior percentual na alternativa “às vezes” (35,40%), e apenas 16,80% têm sempre dinheiro sobrando no final do mês. Tal achado é preocupante, no sentido de que, se ocorrerem despesas inesperadas e emergências, a situação financeira dessas famílias poderá sofrer danos, impactando negativamente o BEF. Todavia, para que sobre dinheiro no final do mês, tanto para os indivíduos de baixa renda como os de alta renda, são necessários planejamento e controle, já que a falta de gerenciamento financeiro pode acarretar insatisfação financeira (Kim et al., 2003Kim, J., Garman, E. T., & Sorhaindo, B. (2003) Relationships among credit counseling clients’ financial well-being, financial behaviors, financial stressor events, and health. Journal of Financial Counseling and Planning, 14(2), 75-87.).

A variável “Suas finanças controlam sua vida” demonstrou a pior sensação de BEF nesse bloco, a qual remete à situação de que o dinheiro e o compromisso constante com as contas acabam controlando a vida das pessoas e não o contrário, o que se torna um fator preocupante, já que as finanças e a utilização adequada delas são aspectos importantes para os indivíduos, contudo isso não deve controlar todos os aspectos da vida de cada um. Segundo o CFPB (2015a)Consumer Financial Protection Bureau (2015a). Financial well-being: The goal of financial education. Washington, DC: CFPB. Retrieved from http://files.consumerfinance.gov/f/201501_cfpb_report_financial-well-being.pdf
http://files.consumerfinance.gov/f/20150...
, para alcançar o BEF, o indivíduo precisa ter controle sobre as finanças, reserva financeira e também aproveitar a vida, ou seja, deve se planejar financeiramente para que seja possível tirar férias, desfrutar de uma refeição fora de casa e, em alguns momentos, trabalhar menos e passar mais tempo com a família.

Na etapa seguinte, a partir do procedimento proposto pelo CFPB (2015b)Consumer Financial Protection Bureau (2015b). Measuring financial well-being: A guide to using the CFPB financial well-being scale. Washington, DC: CFPB. Retrieved from https://files.consumerfinance.gov/f/201512_cfpb_financial-well-being-user-guide-scale.pdf
https://files.consumerfinance.gov/f/2015...
, foi computado o nível de BEF dos indivíduos. O histograma (Figura 4.3) apresenta a distribuição na escala.

Figura 4.3
HISTOGRAMA DO BEF

O nível médio de BEF, na escala que vai de 0 a 40, ficou em 22 pontos, com desvio padrão de 8,72. Observa-se que a distribuição é ligeiramente assimétrica, com mais beneficiários nos níveis muito baixos do que nos níveis altos. O teste de normalidade Kolmogorov-Smirnov aceitou a hipótese nula (valor 1,064; sig 0,207), indicando que a escala de BEF apresenta distribuição normal.

A fim de verificar se existem diferenças nas médias do nível de BEF se consideradas as faixas de financiamento do PMCMV e seis variáveis socio­econômicas e demográficas (gênero, estado civil, possui dependentes, escolaridade, ocupação e renda mensal familiar), foram realizados os testes t e ANOVA. A apresentação das significâncias dos testes encontra-se na Figura 4.4, e a Figura 4.5 mostra os resultados significativos dos testes post hoc.

Figura 4.4
TESTES DE DIFERENÇA DE MÉDIA DE BEF CONSIDERANDO A FAIXA DE FINANCIAMENTO E VARIÁVEIS SOCIOECONÔMICAS E DEMOGRÁFICAS (P-VALORES ENTRE PARÊNTESES)
Figura 4.5
TESTE POST HOC HDS DE TUKEY/GAMES-HOWELL, DIFERENÇA DE MÉDIA E SIGNIFICÂNCIA PARA CADA NÍVEL DE IDADE, ESCOLARIDADE, OCUPAÇÃO E RENDA QUE APRESENTARAM DIFERENÇA SIGNIFICATIVA DO FATOR BEF

Foram verificadas diferenças de média significativas para todas as variáveis estudadas. Os resultados indicam que os indivíduos que possuem financiamento no PMCMV das faixas 2 e 3 (média 23,870), do gênero masculino (média 24,332) e que não possuem dependentes (média 24,046) exibem um maior BEF.

Na influência da variável gênero, Leach, Hayhoe e Turner (1999)Leach, L. J., Hayhoe, C. R., & Turner, P. R. (1999). Factors affecting perceived economic well-being of college students: A gender perspective. Journal of Financial Counseling and Planning, 10(2), 11-24. relatam que as mulheres normalmente apresentam maior adversidade e estresse quando o assunto é finanças, o que acaba por afetar seu BEF. Shim et al. (2009)Shim, S., Xiao, J. J., Barber, B. L., & Lyons, A. C. (2009). Pathways to life success: A conceptual model of financial well-being for young adults. Journal of Applied Developmental Psychology, 30, 708-723. doi:10.1016/j.appdev.2009.02.003
https://doi.org/10.1016/j.appdev.2009.02...
e Gutter e Copur (2011)Gutter, M., & Copur, Z. (2011). Financial behaviors and financial well-being of college students: Evidence from a national survey. Journal of Family and Economic, 32(4), 699-714. doi:10.1007/s10834-011-9255-2
https://doi.org/10.1007/s10834-011-9255-...
também verificaram em seus estudos que os homens possuem maiores níveis de BEF do que as mulheres. Já para a variável “número de dependentes”, os resultados do presente estudo estão de acordo com o que já foi demonstrado por Penn (2007)Penn, D. A. (2007). Financial well-being in an urban area: An application of multiple imputation [Working Paper]. Department of Economics and Finance, Paris. e Kunkel (2014)Kunkel, F. I. R. (2014). Causas e consequências da dívida no cartão de crédito: Uma análise multifatorial (Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil).: o número de crianças ou dependentes em casa se constitui em um fator que influencia negativamente o BEF.

No que tange à variável “nível de escolaridade”, constatou-se que os respondentes com maior grau de instrução foram os que apresentaram as maiores pontuações médias. Destacam-se os indivíduos com pós-graduação (pontuação média 26,50) e aqueles com ensino superior (média 25,63). Cabe destaque ainda para o baixo nível de BEF daqueles que nunca estudaram (média 15,429) e a elevada discrepância para os indivíduos com maior nível de escolaridade. As maiores diferenças de médias com significância estatística foram encontradas entre aqueles com pós-graduação (mestrado/doutorado/pós-doutorado) e os que cursaram o ensino fundamental da primeira à quarta série (9,341) e do quinto ao nono ano (8,473), seguidas pela diferença entre aqueles com graduação e os que concluíram a quarta série do ensino fundamental (8,469). O resultado auferido neste estudo vai assim ao encontro do que foi constatado por Lown e Ju (1992)Lown, J. M., & Ju, I. S. (1992). A model of credit use and financial satisfaction. Financial Counseling and Planning, 3, 105-125. e Diniz et al. (2014Diniz, A. P. C., Vieira, K. M., Potrich, A. C. G., & Campara, J. P. (2014). Influência das variáveis socioeconômicas e demográficas no bem-estar financeiro: Um estudo do comportamento maranhense. Revista Uniabeu, 7(17), 218-234., 2015)Diniz, A. P. C., Vieira, K. M., Potrich, A. C. G., & Campara, J. P. (2015). Bem-estar financeiro: Uma análise multifatorial do comportamento maranhense. Estudos do CEPE, 42, 186-202. doi:10.17058/cepe.v0i42.6317
https://doi.org/10.17058/cepe.v0i42.6317...
, os quais concluíram que aqueles com maior nível educacional tendem a estar mais satisfeitos financeiramente. Penn (2007)Penn, D. A. (2007). Financial well-being in an urban area: An application of multiple imputation [Working Paper]. Department of Economics and Finance, Paris. observou ainda que os indivíduos com diploma universitário possuem maiores chances de conseguir empregos mais seguros e salários mais elevados, fatores que influenciam positivamente o BEF.

Com relação à variável “ocupação”, os funcionários públicos apresentaram a maior média de BEF (24,655) corroborando os resultados obtidos por Diniz et al. (2015)Diniz, A. P. C., Vieira, K. M., Potrich, A. C. G., & Campara, J. P. (2015). Bem-estar financeiro: Uma análise multifatorial do comportamento maranhense. Estudos do CEPE, 42, 186-202. doi:10.17058/cepe.v0i42.6317
https://doi.org/10.17058/cepe.v0i42.6317...
. Os autônomos regulares e empresários também apresentaram médias elevadas de BEF (24,170 e 24,067, respectivamente). De forma contrária, os freelancers, os que fazem “bicos” para manter as suas despesas e os desempregados que não estão à procura de emprego foram os que apresentaram as menores médias (15,000 e 15,250, respectivamente).

Por meio do teste post hoc, verificou-se que as maiores diferenças de média ocorreram entre os funcionários públicos e freelancers e aqueles que fazem “bicos” (9,654) e entre os funcionários públicos e desempregados (que não procuram emprego) (9,404). Depreende-se dessas diferenças que a estabilidade é um ponto muito importante na determinação do BEF, e que não possuir renda certa todos os meses afeta negativamente a percepção de satisfação financeira. De acordo com Plagnol (2011)Plagnol, A. C. (2011). Financial satisfaction over the life course: The influence of assets and liabilities. Journal of Economic Psychology, 32(1), 45-64. doi:10.1016/j.joep.2010.10.006
https://doi.org/10.1016/j.joep.2010.10.0...
, estar desempregado, o que pode incluir indivíduos que não têm um emprego fixo, remete à impossibilidade de acumulação de economias e a um cenário de ansiedade relacionada com a situação financeira.

Quanto à variável “renda”, constatou-se que pessoas com renda superior a R$ 5.000,00 são as mais propensas a possuir maior nível de BEF (média 29,929). Ademais, pode-se inferir que o aumento da renda é acompanhado de maior satisfação com as finanças, e a maior diferença de média significativa (13,821) ocorreu entre o grupo de menor e o de maior renda. Delafrooz e Paim (2011)Delafrooz, N., & Paim, L. H. (2011). Determinants of financial wellness among Malaysia workers. African Journal of Business Management, 5(24), 10.092-10.100. doi: 10.5897/AJBM10.1267
https://doi.org/10.5897/AJBM10.1267...
, Gutter e Copur (2011)Gutter, M., & Copur, Z. (2011). Financial behaviors and financial well-being of college students: Evidence from a national survey. Journal of Family and Economic, 32(4), 699-714. doi:10.1007/s10834-011-9255-2
https://doi.org/10.1007/s10834-011-9255-...
, Kunkel (2014)Kunkel, F. I. R. (2014). Causas e consequências da dívida no cartão de crédito: Uma análise multifatorial (Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil). e Diniz et al. (2014)Diniz, A. P. C., Vieira, K. M., Potrich, A. C. G., & Campara, J. P. (2014). Influência das variáveis socioeconômicas e demográficas no bem-estar financeiro: Um estudo do comportamento maranhense. Revista Uniabeu, 7(17), 218-234. também constatam que a renda tem coeficiente significativo e correlação positiva com o BEF. Para Penn (2007)Penn, D. A. (2007). Financial well-being in an urban area: An application of multiple imputation [Working Paper]. Department of Economics and Finance, Paris., o aumento da renda familiar está diretamente relacionado com a autopercepção de segurança financeira. Vlaev e Elliott (2014)Vlaev, I., & Elliott, A.(2014). Financial well-being components. Social Indicators Research, 118(3), 1103-1123. doi:10.1007/s11205-013-0462-0
https://doi.org/10.1007/s11205-013-0462-...
também encontraram resultado muito semelhante ao investigarem o BEF no Reino Unido com jovens trabalhadores e famílias, em que observaram que cerca de 37% dos respondentes não consideram possuir um excelente nível de BEF por causa da insuficiência de renda.

Com o intuito de promover a classificação dos entrevistados em níveis, novamente optou-se por utilizar o procedimento indicado pelo CFPB (2015b)Consumer Financial Protection Bureau (2015b). Measuring financial well-being: A guide to using the CFPB financial well-being scale. Washington, DC: CFPB. Retrieved from https://files.consumerfinance.gov/f/201512_cfpb_financial-well-being-user-guide-scale.pdf
https://files.consumerfinance.gov/f/2015...
, no qual o BEF é classificado em seis categorias. A tabela classificatória considera três pontos principais: 1. a pontuação obtida no indicador de BEF; 2. a idade, a qual é dividida em duas categorias (de 18 a 61 anos, 62 ou mais); 3. a forma de aplicação do instrumento, que pode ser autoadministrado ou aplicado por alguém, como é o caso deste estudo. Assim, utilizando esses três critérios, obteve-se a classificação apresentada na Figura 4.6.

Figura 4.6
NÍVEL DE BEF DOS ENTREVISTADOS, SEGUNDO A CLASSIFICAÇÃO DO CFPB

Observa-se que nessa classificação o nível de BEF é reescalonado para uma escala de zero a 100, levando-se em consideração os três critérios. Apenas 42 indivíduos possuem 62 anos ou mais, e, nesse grupo, a maioria (66,7%) encontra-se no nível médio baixo ou médio alto de BEF. No grupo mais representativo (de 18 a 61 anos), a maioria também (52%) se encontra nesses níveis, mas uma parcela significativa apresenta BEF alto (23,7%) e muito alto (16,1%), ao passo que, nos dois níveis inferiores, foram classificados apenas 8,3% dos entrevistados. Tais resultados indicam que, apesar do comprometimento da renda pelo financiamento da casa, os beneficiários, em geral, apresentam níveis de BEF médios a altos. O teste qui-quadrado indica que não há associação entre o nível de BEF e as duas categorias de idade. Esses resultados vão de encontro às evidências de que indivíduos mais velhos teriam maiores níveis de BEF (Sumarwan,1990Sumarwan, U. (1990). A managerial system approach to factors influencing satisfaction with households’ financial status (Doctoral thesis, Iowa State University, Ames, Iowa, USA).; Xiao, Sorhaindo, & Garman, 2006Xiao, J. J., Sorhaindo, B., & Garman, E. T. (2006). Financial behaviors of consumers in credit counseling. International Journal of Consumer Studies, 30(2), 108-121. doi:10.1111/j.1470-6431.2005.00455.x
https://doi.org/10.1111/j.1470-6431.2005...
; Plagnol, 2011Plagnol, A. C. (2011). Financial satisfaction over the life course: The influence of assets and liabilities. Journal of Economic Psychology, 32(1), 45-64. doi:10.1016/j.joep.2010.10.006
https://doi.org/10.1016/j.joep.2010.10.0...
; Kunkel, 2014Kunkel, F. I. R. (2014). Causas e consequências da dívida no cartão de crédito: Uma análise multifatorial (Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil).).

Na etapa seguinte, buscou-se, a partir da análise fatorial confirmatória, a validação dos construtos atitude financeira e comportamento financeiro. A Figura 4.7 apresenta os índices de ajuste dos modelos iniciais e finais.

Figura 4.7
ÍNDICES DE AJUSTE DOS CONSTRUTOS COMPORTAMENTO FINANCEIRO E ATITUDE FINANCEIRA NOS MODELOS INICIAIS E FINAIS

Percebe-se que os modelos iniciais se mostraram inadequados. Desse modo, a partir da verificação dos índices de ajuste, utilizou-se como critério de aprimoramento a exclusão das questões não significativas, seguida da exclusão gradativa das questões que não apresentaram coeficientes satisfatórios. Para o construto comportamento financeiro, foram excluídas sucessivamente as questões com seus respectivos coeficientes: 27 (0,209), 21 (0,289), 26 (0,312), 20 (0,479) e 22 (0,486). Inseriu também uma correlação positiva entre os erros das variáveis “Você passa a poupar mais quando recebe um aumento de salário” e “Você faz uma reserva de dinheiro que recebe mensalmente para uma necessidade futura”. Para o construto atitude financeira, retiraram-se a questão 12, por apresentar coeficiente não significativo, e as variáveis 15 (0,247), 11 (0,288) e 13 (0,327), por apresentarem coeficientes baixos. Após esses ajustes, todos os modelos apresentaram índices de ajustes satisfatórios, exceto o alfa de Cronbach do construto de atitude financeira que ficou abaixo do desejável.

Finalmente, estimou-se o modelo de regressão múltipla linear com o objetivo de analisar a influência das dimensões da alfabetização financeira no BEF (Figura 4.8).

Figura 4.8
RESULTADOS DO MODELO DE REGRESSÃO PARA O BEF

A estimação por mínimos quadrados ordinários é adequada, pois o modelo atende aos pressupostos de ausência de problemas relacionados à multicolinearidade, heteroscedasticidade e não normalidade. O coeficiente de determinação ajustado indica que 58% da percepção de BEF pode ser explicada pelas variáveis incluídas no modelo.

As três dimensões da alfabetização financeira apresentaram coeficientes significativos e positivos. Dentre as três dimensões, a de maior impacto, com coeficiente 0,435, é o comportamento financeiro, confirmando que melhores comportamentos financeiros implicam aumento significativo de BEF. Em seguida, tem-se a atitude financeira, em que, para cada aumento de uma unidade na escala de atitude financeira, há um aumento de 0,245 no BEF. E, por último, o conhecimento financeiro com um coeficiente de 0,113, ou seja, um aumento de um ponto no nível de conhecimento financeiro implica um aumento de 0,113 no nível de BEF. Em conjunto, as três dimensões corroboram o argumento de que não basta o indivíduo ter o conhecimento, é necessário também que ele apresente atitudes e comportamentos adequados para atingir um maior nível de bem-estar. Tais resultados vão ao encontro das evidências que apontam que os comportamentos financeiros (Delafrooz & Paim, 2011Delafrooz, N., & Paim, L. H. (2011). Determinants of financial wellness among Malaysia workers. African Journal of Business Management, 5(24), 10.092-10.100. doi: 10.5897/AJBM10.1267
https://doi.org/10.5897/AJBM10.1267...
; Mokhtar & Husniyah, 2017Mokhtar, N., & Husniyah, A. R. (2017). Determinants of financial well-being among public employees in Putrajaya, Malaysia. Pertanika Journal of Social Sciences & Humanities, 25(3), 1241-1260.), as atitudes financeiras (Joo, 2008Joo, S. (2008). Personal financial wellness. In J. J. Xiao (Ed.), Handbook of consumer finance research (pp. 21-34). New York: Springer.) e o conhecimento financeiro (Joo & Grable, 2004Joo, S. H., & Grable, J. E. (2004). An exploratory framework of the determinants of financial satisfaction. Journal of Family and Economic Issues, 25(1), 25-50. doi: 10.1023/B:JEEI.0000016722.37994.9f
https://doi.org/10.1023/B:JEEI.000001672...
; Robb & Woodyard, 2011Robb, C. A., & Woodyard, A. S. (2011). Financial knowledge and best practice behavior. Journal of Financial Counselling and Planning, 22(1), 60-70.; Falahati et al., 2012Falahati, L., Sabri, M. F., & Paim, L. H. (2012). Assessment a model of financial satisfaction predictors: Examining the mediate effect of financial behaviour and financial strain. World Applied Sciences Journal, 20(2), 190-197. doi:10.5829/idosi.wasj.2012.20.02.1832
https://doi.org/10.5829/idosi.wasj.2012....
; BCB, 2017) são determinantes do BEF.

Outro determinante é a renda (coeficiente 0,200) indicando que aumentos na renda influenciam positivamente o nível de BEF, o que corrobora os estudos anteriores que indicavam que indivíduos com renda maiores apresentam maiores níveis de BEF (Delafrooz & Paim, 2011Delafrooz, N., & Paim, L. H. (2011). Determinants of financial wellness among Malaysia workers. African Journal of Business Management, 5(24), 10.092-10.100. doi: 10.5897/AJBM10.1267
https://doi.org/10.5897/AJBM10.1267...
; Gutter & Copur, 2011Gutter, M., & Copur, Z. (2011). Financial behaviors and financial well-being of college students: Evidence from a national survey. Journal of Family and Economic, 32(4), 699-714. doi:10.1007/s10834-011-9255-2
https://doi.org/10.1007/s10834-011-9255-...
; Fraga, Vieira, Ceretta, & Paraboni, 2016Fraga, L. S., Vieira, K. M., Ceretta, P. S., & Paraboni, A. L. (2016). Bem-estar financeiro: Uma análise sob a perspectiva da renda. Revista de Finanças Aplicadas, 7, 1-28., entre outros). Por sua vez, a variável idade não foi significativa (p = 0,249), contrariando os achados que indicam que indivíduos mais velhos possuem maiores níveis de BEF (Sumarwan,1990Sumarwan, U. (1990). A managerial system approach to factors influencing satisfaction with households’ financial status (Doctoral thesis, Iowa State University, Ames, Iowa, USA).; Xiao et al., 2006Xiao, J. J., Sorhaindo, B., & Garman, E. T. (2006). Financial behaviors of consumers in credit counseling. International Journal of Consumer Studies, 30(2), 108-121. doi:10.1111/j.1470-6431.2005.00455.x
https://doi.org/10.1111/j.1470-6431.2005...
; Plagnol, 2011Plagnol, A. C. (2011). Financial satisfaction over the life course: The influence of assets and liabilities. Journal of Economic Psychology, 32(1), 45-64. doi:10.1016/j.joep.2010.10.006
https://doi.org/10.1016/j.joep.2010.10.0...
; Kunkel, 2014Kunkel, F. I. R. (2014). Causas e consequências da dívida no cartão de crédito: Uma análise multifatorial (Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil).).

Com relação às variáveis dummy, apenas “possuir dependentes” foi significativa (p = 0,011), indicando que o fato de os indivíduos possuírem dependentes reduz o nível de BEF, o que sugere que ser responsável financeiramente por outros reduz a percepção de BEF. Tal resultado é condizente com os já obtidos por Penn (2007)Penn, D. A. (2007). Financial well-being in an urban area: An application of multiple imputation [Working Paper]. Department of Economics and Finance, Paris. e Kunkel (2014)Kunkel, F. I. R. (2014). Causas e consequências da dívida no cartão de crédito: Uma análise multifatorial (Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil).. Para estado civil e escolaridade, a literatura ainda não apresenta um consenso, e a ausência de in- fluência parece ser mais uma das possibilidades.

Portanto, os resultados do modelo confirmam a hipótese levantada no estudo de que a alfabetização financeira atua como antecedente do BEF. As três dimensões contribuem positivamente para o BEF, corroborando o argumento de que a ampliação do nível de alfabetização financeira dos indivíduos é essencial para que eles alcancem maiores níveis de BEF.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mensurar o BEF é um tema relevante na medida em que os mercados financeiros estão cada vez mais complexos e os indivíduos dispõem cada vez mais de uma variabilidade de opções de investimento, empréstimos e acesso a crédito. Contudo, muitos não têm conhecimento acerca dos riscos e das altas taxas de alguns instrumentos financeiros, o que pode levá-los a menores níveis de BEF (Schmeiser & Hogarth, 2013Schmeiser, M., & Hogarth, J. (2013). Good advice, good outcomes? How financial advice-seeking relates to self-perceived financial well-being. In Social Science Research Network. [Working Paper]. Retrieved from https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2261707
https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?...
).

Essa situação pode tornar-se ainda mais crítica pela situação financeira atual do país, em que os percentuais de endividamento e inadimplência em abril de 2019 totalizaram 62,7% (percentual de endividados), 23,9% (com contas em atraso) e 9,5% (não terão condições de pagar) (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, 2019Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (2019). Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) - abril 2019. Retrieved from http://cnc.org.br/sites/default/files/arquivos/analise_peic_abril_2019.pdf
http://cnc.org.br/sites/default/files/ar...
). E, com o aumento do desemprego, há um desestímulo à realização de poupança, o que pode levar à falta de recursos para, por exemplo, a manutenção do padrão de vida e o BEF futuro. Deve-se considerar também o fato de o BEF ser um aspecto amplo e inter-relacionado com outros aspectos da vida, sugerindo, portanto, a sua relação com o bem-estar geral, a felicidade, a satisfação, o relacionamento e a qualidade de vida (Gutter & Copur, 2011Gutter, M., & Copur, Z. (2011). Financial behaviors and financial well-being of college students: Evidence from a national survey. Journal of Family and Economic, 32(4), 699-714. doi:10.1007/s10834-011-9255-2
https://doi.org/10.1007/s10834-011-9255-...
).

Assim, este trabalho buscou mensurar o nível de BEF dos beneficiários do PMCMV e testar a hipótese de que a alfabetização financeira é um antecedente do BEF. Os resultados indicaram que a maioria dos beneficiários apresenta níveis médios de BEF, e a hipótese de que a alfabetização financeira é um antecedente do BEF foi confirmada, já que as três dimensões da alfabetização impactaram positivamente o BEF. O perfil típico para respondentes com maiores níveis de BEF são homens, jovens, casados, com maior escolaridade e com maior renda. Tais resultados indicam que o uso de estratégias nacionais que visem ampliar o nível de alfabetização financeira da população deve apresentar impacto direto no nível de BEF, ou seja, corrobora-se o argumento já defendido por alguns organismos internacionais, como a OECD e o CFPB, de que uma medida de sucesso da alfabetização financeira é o BEF. Ressalta-se ainda que, para que as estratégias sejam mais efetivas, elas precisam focar não apenas a ampliação do conhecimento financeiro, mas também utilizar metodologias e conteúdos que beneficiem mudanças de atitude e comportamentos financeiros.

Apesar das limitações inerentes ao estudo, como a escolha de um grupo amostral específico, entende-se que a escala do CFPB (2015b)Consumer Financial Protection Bureau (2015b). Measuring financial well-being: A guide to using the CFPB financial well-being scale. Washington, DC: CFPB. Retrieved from https://files.consumerfinance.gov/f/201512_cfpb_financial-well-being-user-guide-scale.pdf
https://files.consumerfinance.gov/f/2015...
se apresenta como uma potencial medida de avaliação do BEF para o contexto brasileiro. Entretanto, ainda há necessidade de diversos estudos para a sua validação, como a aplicação em diferentes grupos populacionais, a utilização da modelagem de equações estruturais para a validação das duas dimensões propostas pela escala, a aplicação da teoria da resposta ao item para avaliação do comportamento das questões dentro da escala e a aplicação com outros construtos comportamentais, com vistas a avaliar sua validade discriminante e/ou confirmar suas relações com outros fatores, como a habilidade com números, os traços de personalidade e o uso de outros instrumentos de dívida, como cartões de crédito.

Apêndice


Construtos, questões e escalas do instrumento

Questões e alternativas para o conhecimento financeiro

REFERENCES

  • Adam, A. M., Frimpong, S., & Boadu, M. O. (2017). Financial literacy and financial planning: Implication for financial well-being of retirees. Business and Economic Horizons, 13(2), 224-236. doi:10.15208/beh.2017.17
    » https://doi.org/10.15208/beh.2017.17
  • Aggarwal, S. (2014). Developing an index for measuring financial well-being in a geography. IFMR Finance Foundation. Retrieved from https://www.dvara.com/blog/2011/02/14/developing-an-index-for-measuring-financial-well-being-in-a-geography/
    » https://www.dvara.com/blog/2011/02/14/developing-an-index-for-measuring-financial-well-being-in-a-geography/
  • Alessie, R., Van Rooij, M., & Lusardi, A. (2011). Financial literacy and retirement preparation in the Netherlands. Journal of Pension Economics and Finance, 10(4), 527-545. doi:10.1017/S1474747211 000461
    » https://doi.org/10.1017/S1474747211 000461
  • Arber, S., Fenn, K., & Meadows, R. (2014). Subjective financial well-being, income and heal thin equalities in mid and later life in Britain. Social Science & Medicine, 100, 12-20. doi: 10.1016/j.socscimed.2013.10.016
    » https://doi.org/10.1016/j.socscimed.2013.10.016
  • Banco Central do Brasil (2017). Série Cidadania Financeira nº 5 - Competências em educação financeira. Retrieved from https://www.bcb.gov.br/nor/relincfin/serie_cidadania_financeira_pesquisa_infe_br_%200443_2017.pdf
    » https://www.bcb.gov.br/nor/relincfin/serie_cidadania_financeira_pesquisa_infe_br_%200443_2017.pdf
  • Brasil (2010). Decreto nº 7397, de 22 de dezembro de 2010. Retrieved from http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/decreto/d7397.htm
    » http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/decreto/d7397.htm
  • Brasil (2018). Base Nacional Comum Curricular: Educação é a base. Retrieved from http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wp-content/uploads/2018/04/BNCC_Ensino Medio_embaixa_site.pdf
    » http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wp-content/uploads/2018/04/BNCC_Ensino Medio_embaixa_site.pdf
  • Brüggen, E. C., Hogreve, J., Holmlund, M., Kabadayi, S., & Löfgren, M. (2017). Financial well-being: A conceptualization and research agenda. Journal of Business Research, 79, 228-237. doi:10.1016/j.jbusres.2017.03.013
    » https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2017.03.013
  • Caixa Econômica Federal (2015a). Manual do Programa Minha Casa Minha Vida - Entidades Recursos FDS. Retrieved from http://www.caixa.gov.br/Downloads/habitacao-minha-casa-minha-vida/MANUAL_MCMV_ENTIDADES.pdf
    » http://www.caixa.gov.br/Downloads/habitacao-minha-casa-minha-vida/MANUAL_MCMV_ENTIDADES.pdf
  • Caixa Econômica Federal (2015b). Carta de crédito FGTS imóvel na planta associativo. Retrieved from http://www.caixa.gov.br/Downloads/habitacao-documentos-gerais/Carta_de_Credito_FGTS_E_OUTROS.pdf
    » http://www.caixa.gov.br/Downloads/habitacao-documentos-gerais/Carta_de_Credito_FGTS_E_OUTROS.pdf
  • Campara, J. P., Vieira, K. M., & Potrich, A. C. G. (2017). Satisfação global de vida e bem-estar financeiro: Desvendando a percepção de beneficiários do Programa Bolsa Família. Revista de Administração Pública, 51(2), 182-200. doi:10.1590/0034-7612156168
    » https://doi.org/10.1590/0034-7612156168
  • Chan, K. Y. K., Chan, S. F., & Chau, A. W. L. (2012). Financial knowledge and aptitudes: Impacts on college students’ financial well-being. College Student Journal, 46(1), 114-133.
  • Chan, S., Omar, S., & Yong, W. (2018). Financial well-being among Malaysian manufacturing employees. Management Science Letters, 8(6), 691-698. doi:10.5267/j.msl.2018.4.020
    » https://doi.org/10.5267/j.msl.2018.4.020
  • Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (2019). Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) - abril 2019. Retrieved from http://cnc.org.br/sites/default/files/arquivos/analise_peic_abril_2019.pdf
    » http://cnc.org.br/sites/default/files/arquivos/analise_peic_abril_2019.pdf
  • Consumer Financial Protection Bureau (2015a). Financial well-being: The goal of financial education Washington, DC: CFPB. Retrieved from http://files.consumerfinance.gov/f/201501_cfpb_report_financial-well-being.pdf
    » http://files.consumerfinance.gov/f/201501_cfpb_report_financial-well-being.pdf
  • Consumer Financial Protection Bureau (2015b). Measuring financial well-being: A guide to using the CFPB financial well-being scale Washington, DC: CFPB. Retrieved from https://files.consumerfinance.gov/f/201512_cfpb_financial-well-being-user-guide-scale.pdf
    » https://files.consumerfinance.gov/f/201512_cfpb_financial-well-being-user-guide-scale.pdf
  • Delafrooz, N., & Paim, L. H. (2011). Determinants of financial wellness among Malaysia workers. African Journal of Business Management, 5(24), 10.092-10.100. doi: 10.5897/AJBM10.1267
    » https://doi.org/10.5897/AJBM10.1267
  • Delavande, A., Rohwedder, S., & Willis, R. J. (2008). Retirement planning and the role of financial literacy and cognition [Working Paper Nº 190]. Michigan Retirement Research Center Michigan.
  • Diniz, A. P. C., Vieira, K. M., Potrich, A. C. G., & Campara, J. P. (2014). Influência das variáveis socioeconômicas e demográficas no bem-estar financeiro: Um estudo do comportamento maranhense. Revista Uniabeu, 7(17), 218-234.
  • Diniz, A. P. C., Vieira, K. M., Potrich, A. C. G., & Campara, J. P. (2015). Bem-estar financeiro: Uma análise multifatorial do comportamento maranhense. Estudos do CEPE, 42, 186-202. doi:10.17058/cepe.v0i42.6317
    » https://doi.org/10.17058/cepe.v0i42.6317
  • Falahati, L., Sabri, M. F., & Paim, L. H. (2012). Assessment a model of financial satisfaction predictors: Examining the mediate effect of financial behaviour and financial strain. World Applied Sciences Journal, 20(2), 190-197. doi:10.5829/idosi.wasj.2012.20.02.1832
    » https://doi.org/10.5829/idosi.wasj.2012.20.02.1832
  • Fraga, L. S., Vieira, K. M., Ceretta, P. S., & Paraboni, A. L. (2016). Bem-estar financeiro: Uma análise sob a perspectiva da renda. Revista de Finanças Aplicadas, 7, 1-28.
  • Garman, E. T., Sorhaindo, B., Bailey, W., Kim, J., & Xiao, J. (2004). Financially distressed credit counseling clients and the incharge financial distress/financial well-being scale. Proceedings of the Eastern Regional Family Economics and Resource Management Association Conference Retrieved from https://pfeef.org/wp-content/uploads/2016/09/Financially-Distressed-Clients-and-the-Scale.pdf
    » https://pfeef.org/wp-content/uploads/2016/09/Financially-Distressed-Clients-and-the-Scale.pdf
  • Guo, L., Arnould, E. J., Gruen, T. W., & Tang, C. (2013). Socializing to co-produce: Pathways to consumers’ financial well-being. Journal of Service Research, 16(4), 549-563. doi:10.1177/1094670513483904
    » https://doi.org/10.1177/1094670513483904
  • Gutter, M., & Copur, Z. (2011). Financial behaviors and financial well-being of college students: Evidence from a national survey. Journal of Family and Economic, 32(4), 699-714. doi:10.1007/s10834-011-9255-2
    » https://doi.org/10.1007/s10834-011-9255-2
  • Hair, J. R., Black, W. C., Babin, B. J., & Anderson, R. E. (2010). Multivariate Data Analyses (7th ed.). New Jersey: Pearson.
  • Hira, T. K., & Mugenda, O. M. (1999). The relationships between self-worth and financial beliefs, behavior, and satisfaction. Journal of Family and Consumer Sciences, 91(4), 76-82.
  • Hooper, D., Coughlan, J., & Mullen, M. R. (2008). Structural equation modelling: Guidelines for determining model fit. The Electronic Journal of Business Research Methods, 6(1), 53-60.
  • Huston, S. J. (2010). Measuring financial literacy. The Journal of Consumer Affairs, 44(2), p. 296-316, 2010. doi:10.1111/j.1745-6606.2010.01170.x
    » https://doi.org/10.1111/j.1745-6606.2010.01170.x
  • Joo, S. (2008). Personal financial wellness. In J. J. Xiao (Ed.), Handbook of consumer finance research (pp. 21-34). New York: Springer.
  • Joo, S. H., & Grable, J. E. (2004). An exploratory framework of the determinants of financial satisfaction. Journal of Family and Economic Issues, 25(1), 25-50. doi: 10.1023/B:JEEI.0000016722.37994.9f
    » https://doi.org/10.1023/B:JEEI.0000016722.37994.9f
  • Kahneman, D., & Deaton, A. (2010). High income improves evaluation of life but not emotional well-being. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, 107(38), 16489-16493. doi:10.1073/pnas. 1011492107
    » https://doi.org/10.1073/pnas. 1011492107
  • Kim, J., Garman, E. T., & Sorhaindo, B. (2003) Relationships among credit counseling clients’ financial well-being, financial behaviors, financial stressor events, and health. Journal of Financial Counseling and Planning, 14(2), 75-87.
  • Klapper, L., Lusardi, A., & Panos, G. A. (2013). Financial literacy and its consequences: Evidence from Russia during the financial crisis. Journal of Banking & Finance, 37(10), 3904-3923. doi:10.1016/j.jbankfin.2013.07.014
    » https://doi.org/10.1016/j.jbankfin.2013.07.014
  • Kline, R. B. (2011). Principles and practice of structural equation modeling (3rd ed.). New York: The Guilford Press.
  • Kunkel, F. I. R. (2014). Causas e consequências da dívida no cartão de crédito: Uma análise multifatorial (Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil).
  • Kunkel, F. I. R., Vieira, K. M., & Potrich, A. C. G. (2015). Causas e consequên­cias da dívida no cartão de crédito: Uma análise multifatores. Revista de Administração, 50, 169-182. doi: 10.5700/rausp1192
    » https://doi.org/10.5700/rausp1192
  • Leach, L. J., Hayhoe, C. R., & Turner, P. R. (1999). Factors affecting perceived economic well-being of college students: A gender perspective. Journal of Financial Counseling and Planning, 10(2), 11-24.
  • Lown, J. M., & Ju, I. S. (1992). A model of credit use and financial satisfaction. Financial Counseling and Planning, 3, 105-125.
  • Malone, K., Stewart, S. D., Wilson, J., & Korsching, P. F. (2010). Perceptions of financial well-being among American women in diverse families. Journal of Family and Economic Issues, 31(1), 63-81. doi:10.1007/s10834-009-9176-5
    » https://doi.org/10.1007/s10834-009-9176-5
  • Mende, M., & Van Doorn, J. (2015). Coproduction of transformative services as a pathway to improved consumer well-being: Findings from a longitudinal study on financial counseling. Journal of Service Research, 18(3), 351-368. doi:10.1177/1094670514559001
    » https://doi.org/10.1177/1094670514559001
  • Mokhtar, N., & Husniyah, A. R. (2017). Determinants of financial well-being among public employees in Putrajaya, Malaysia. Pertanika Journal of Social Sciences & Humanities, 25(3), 1241-1260.
  • Mundy, S. (2011). Financial education programmes in schools: Analysis of selected current programmes and literature [Mimeo]. Paris: OECD.
  • National Financial Capability Study (2013). Financial capability in the United States - Report of Findings from the 2012 National Financial Capability Study. Financial Industry Regulatory Authority (FINRA) Investor Education Foundation. Retrieved from http://www.usfinancialcapability.org/downloads/NFCS_2012_Report_Natl_Findings.pdf
    » http://www.usfinancialcapability.org/downloads/NFCS_2012_Report_Natl_Findings.pdf
  • Norvilitis, J. M., Szablicki, P. B., & Wilson, S. D. (2003). Factors influencing levels of credit card debt in college students. Journal of Applied Social Psychology, 33(5), 935-947. doi: 10.1111/j.1559-1816.2003.tb01932.x
    » https://doi.org/10.1111/j.1559-1816.2003.tb01932.x
  • O’Neill, B., Sorhaindo, B., Xiao, J. J., & Garman, E. T. (2005). Financially distressed consumers: Their financial practices, financial well-being, and health. Financial Counseling and Planning, 16(1), 73-87.
  • O’Neill, B., & Xiao, J. (2012). Financial behaviors before and after the financial crisis: Evidence from an online survey. Financial Counseling and Planning, 23(1), 33-46.
  • Organisation for Economic Co-operation and Development (2013a). Financial literacy and inclusion: Results of OECD/Infe survey across countries and by gender Paris: OECD. Retrieved from http://www.oecd.org/daf/fin/financialeducation/TrustFund2013_OECD_INFE_Fin_Lit_and_Incl_SurveyResults_by_Country_and_Gender.pdf
    » http://www.oecd.org/daf/fin/financialeducation/TrustFund2013_OECD_INFE_Fin_Lit_and_Incl_SurveyResults_by_Country_and_Gender.pdf
  • Organisation for Economic Co-operation and Development (2013b). Women and financial education: Evidence, policy responses and guidance Paris: OECD. doi:10.1787/9 789264202733-en
    » https://doi.org/10.1787/9 789264202733-en
  • Organisation for Economic Co-operation and Development (2015). OECD/Infe toolkit for measuring financial literacy and financial inclusion Paris: OECD. Retrieved from http://www.oecd.org/daf/fin/financial-education/2015_OECD_INFE_Toolkit_Measuring_Financial_Literacy.pdf
    » http://www.oecd.org/daf/fin/financial-education/2015_OECD_INFE_Toolkit_Measuring_Financial_Literacy.pdf
  • Organisation for Economic Co-operation and Development (2018). PISA 2015: Results in focus Paris: OECD. Retrieved from http://www.oecd.org/pisa/pisa-2015-results-in-focus.pdf
    » http://www.oecd.org/pisa/pisa-2015-results-in-focus.pdf
  • Penn, D. A. (2007). Financial well-being in an urban area: An application of multiple imputation [Working Paper]. Department of Economics and Finance, Paris.
  • Plagnol, A. C. (2011). Financial satisfaction over the life course: The influence of assets and liabilities. Journal of Economic Psychology, 32(1), 45-64. doi:10.1016/j.joep.2010.10.006
    » https://doi.org/10.1016/j.joep.2010.10.006
  • Prawitz, A., Garman, E. T., Sorhaindo, B., O’Neill, B., Kim, J., & Drentea, P. (2006). Incharge financial distress/financial well-being scale: Development, administration, and score interpretation Journal of Financial Counseling and Planning, 17(1), 34-50. doi:10.1037/t60365-000
    » https://doi.org/10.1037/t60365-000
  • Robb, C. A., & Woodyard, A. S. (2011). Financial knowledge and best practice behavior. Journal of Financial Counselling and Planning, 22(1), 60-70.
  • Santos, D. B., Mendes-Da-Silva, W., Flores, E., & Norvilitis, J. (2016). Predictors of credit card use and perceived financial well-being in female college students: a Brazil-United States comparative study. International Journal of Consumer Studies, 40(2), 133-142. doi: 10.1111/ijcs.12234
    » https://doi.org/10.1111/ijcs.12234
  • Schmeiser, M., & Hogarth, J. (2013). Good advice, good outcomes? How financial advice-seeking relates to self-perceived financial well-being. In Social Science Research Network. [Working Paper]. Retrieved from https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2261707
    » https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2261707
  • Shim, S., Xiao, J. J., Barber, B. L., & Lyons, A. C. (2009). Pathways to life success: A conceptual model of financial well-being for young adults. Journal of Applied Developmental Psychology, 30, 708-723. doi:10.1016/j.appdev.2009.02.003
    » https://doi.org/10.1016/j.appdev.2009.02.003
  • Shockey, S. S. (2002). Low-wealth adults financial literacy, money management behavior and associates factors, including critical thinking (Doctoral thesis, Ohio State University, Utah, USA).
  • Sumarwan, U. (1990). A managerial system approach to factors influencing satisfaction with households’ financial status (Doctoral thesis, Iowa State University, Ames, Iowa, USA).
  • Vlaev, I., & Elliott, A.(2014). Financial well-being components. Social Indicators Research, 118(3), 1103-1123. doi:10.1007/s11205-013-0462-0
    » https://doi.org/10.1007/s11205-013-0462-0
  • Vosloo, W., Fouche, J., & Barnard, J.(2014). The relationship between financial efficacy, satisfaction with remuneration and personal financial well-being. International Business and Economics Research Journal, 13(6), 1455-1470. doi:10.19030/iber.v13i6.8934
    » https://doi.org/10.19030/iber.v13i6.8934
  • Xiao, J. J., Sorhaindo, B., & Garman, E. T. (2006). Financial behaviors of consumers in credit counseling. International Journal of Consumer Studies, 30(2), 108-121. doi:10.1111/j.1470-6431.2005.00455.x
    » https://doi.org/10.1111/j.1470-6431.2005.00455.x
  • Xiao, J. J., Tang, C., Serido, J., & Shim, S. (2011). Antecedents and consequences of risky credit behavior among college students: Application and extension of the theory of planned behavior. Journal of Public Policy & Marketing, 30(2), 239-258. doi:10.1509/jppm.30.2.239
    » https://doi.org/10.1509/jppm.30.2.239

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Mar 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    06 Jun 2019
  • Aceito
    14 Abr 2020
Editora Mackenzie; Universidade Presbiteriana Mackenzie Rua da Consolação, 896, Edifício Rev. Modesto Carvalhosa, Térreo - Coordenação da RAM, Consolação - São Paulo - SP - Brasil - cep 01302-907 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista.adm@mackenzie.br