Acessibilidade / Reportar erro

A tomografia de tórax e a bronquiolite obliterante pós-transplante de medula óssea

A bronquiolite obliterante (BO) é uma doença inflamatória das pequenas vias aéreas causada por dano ao trato respiratório inferior. A presença de inflamação e fibrose dos bronquíolos terminais e respiratórios resulta em diminuição e/ou completa obliteração do lúmen das vias aéreas, gerando obstrução crônica do fluxo aéreo(11 Zhang L, Silva FA. Bronchiolitis obliterans in children. J Pediatr (Rio J). 2000;73:185-92.,22 Fischer GB, Sarria EE, Mattiello R, et al. Post infectious bronchiolitis obliterans in children. Paediatr Respir Rev. 2010;11:233-9.). Histologicamente, caracteriza-se pela presença de tecido de granulação intraluminal nas vias aéreas e/ou fibrose peri-bronquiolar com estreitamento do lúmen, ocasionando processo cicatricial e obstrutivo(33 Colom AJ, Teper AM. Postinfectious bronchiolitis obliterans. Arch Argent Pediatr. 2009;107:160-7.). De incidência desconhecida na população pediátrica, a BO acomete preferencialmente lactentes do sexo masculino(44 Santos RV, Rosário NA, Ried CA. Postinfectious bronchiolitis obliterans: clinical aspects and complementary tests of 48 children. J Bras Pneumol. 2004;30:20-5.,55 Aguerre V, Castaños C, Pena HG, et al. Postinfectious bronchiolitis obliterans in children: clinical and pulmonary function findings. Pediatr Pulmonol. 2010;45:1180-5.). Como possíveis causas da BO são descritas inalação de substâncias tóxicas, síndromes aspirativas, alterações imunológicas, doenças do colágeno (artrite reumatoide e síndrome de Sjögren), pós-transplante, pós-síndrome de Stevens-Johnson e reação a fármacos. Atualmente, o diagnóstico de BO é baseado em critérios clinicotomográficos, residindo na tomografia o papel de excluir os diagnósticos diferenciais(22 Fischer GB, Sarria EE, Mattiello R, et al. Post infectious bronchiolitis obliterans in children. Paediatr Respir Rev. 2010;11:233-9.). A BO que complica o transplante de medula óssea (TMO) foi descrita pela primeira vez em 1982(66 Roca J, Grañeña A, Rodriguez-Rosin R, et al. Fatal airways disease in an adult with chronic graft-versus-host disease. Thorax. 1982;37:77-8.). Uma complicação semelhante é bem conhecida nos receptores de transplante pulmonar e coração-pulmão(77 Paradis I, Yousem S, Griffith B. Airway obstruction and bronchiolitis obliterans after lung transplantation. Clin Chest Med. 1993;14:751-63.). A BO aparece mais tarde do que outras complicações pulmonares, ocorrendo entre 3 e 12 meses após o TMO. A BO após o TMO é mais comum em pacientes com doença crônica de enxerto versus hospedeiro(88 Ralph DD, Springmeyer SC, Sullivan KM, et al. Rapidly progressive air-flow obstruction in marrow transplant recipients. Possible association between obliterative bronchiolitis and chronic graft-versus-host disease. Am Rev Respir Dis. 1984;129:641-4.), ocorrendo em 6-10% dos sobreviventes de longo prazo com doença do enxerto contra hospedeiro crônica e com taxa de mortalidade de mais de 50%(88 Ralph DD, Springmeyer SC, Sullivan KM, et al. Rapidly progressive air-flow obstruction in marrow transplant recipients. Possible association between obliterative bronchiolitis and chronic graft-versus-host disease. Am Rev Respir Dis. 1984;129:641-4.).

A tomografia computadorizada (TC) de tórax é o método mais utilizado para o estudo das doenças intersticiais e bronquiolares do tórax(99 Ribeiro BNF, Ribeiro RN, Zanetti G, et al. Hughes-Stovin syndrome: an unusual cause of pulmonary artery aneurysms. Radiol Bras. 2016;49:202-3.

10 Mogami R, Goldenberg T, Marca PGC, et al. Pulmonary infection caused by Mycobacterium kansasii: findings on computed tomography of the chest. Radiol Bras. 2016;49:209-13.

11 Koenigkam-Santos M, Cruvinel DL, Menezes MB, et al. Quantitative computed tomography analysis of the airways in patients with cystic fibrosis using automated software: correlation with spirometry in the evaluation of severity. Radiol Bras. 2016;49:351-7.

12 Francisco FAF, Rodrigues RS, Barreto MM, et al. Can chest high-resolution computed tomography findings diagnose pulmonary alveolar microlithiasis? Radiol Bras. 2015;48:205-10.

13 Guimaraes MD, Hochhegger B, Koenigkam-Santos M, et al. Magnetic resonance imaging of the chest in the evaluation of cancer patients: state of the art. Radiol Bras. 2015;48:33-42.
-1414 Batista MN, Barreto MM, Cavaguti RF, et al. Pulmonary artery sarcoma mimicking chronic pulmonary thromboembolism. Radiol Bras. 2015;48:333-4.), já que possui grande sensibilidade e especificidade e tem se tornado a ferramenta de primeira escolha. No entanto, deve ser realizada com muito critério, pois o paciente é exposto a uma dose elevada de radiação ionizante. A radiologia diagnóstica é considerada a principal fonte artificial de radiação a que o ser humano está exposto, sendo responsável por cerca de 14% do total da dose anual recebida decorrente de todas as fontes de radiação(1515 ICRP. 1990 Recommendations of the International Commission on Radiological Protection. ICRP Publication no. 60. Ann ICRP. 1991;21:1-201.). As radiações ionizantes têm a capacidade de alterar as características físico-químicas das moléculas de um determinado tecido biológico. As células com alta taxa de proliferação são mais sensíveis à radiação ionizante e são encontradas em tecidos de alta atividade mitótica ou tecidos denominados de resposta rápida. A radiossensibilidade é inversamente proporcional ao grau de diferenciação celular (quanto menos diferenciada é a célula, mais radiossensível ela é) e diretamente proporcional ao número de divisões celulares necessárias para que a célula alcance a sua forma “madura”. Com vistas a estes achados, atenção especial deve ser dada aos exames tomográficos em crianças, uma vez que estas são mais suscetíveis aos efeitos deletérios da radiação do que o restante da população(1616 United Nations Scientific Committee on the Effects of Atomic Radiation. Sources and effects of ionizing radiation. UNSCEAR 2000 Report to the General Assembly, with Scientific Annexes. New York: United Nations; 2000.).

Neste contexto, o estudo de Togni Filho et al.(1717 Togni Filho PH, Casagrande JLM, Lederman HM. Utility of the inspiratory phase in high-resolution computed tomography evaluations of pediatric patients with bronchiolitis obliterans after allogeneic bone marrow transplant: reducing patient radiation exposure. Radiol Bras. 2017;50:90-6.), publicado no número anterior da Radiologia Brasileira, ao demonstrar que a fase inspiratória pode ser excluída do protocolo de TC do tórax em crianças avaliadas para BO pós-TMO, reduzindo pela metade a exposição à radiação nessa população, é de fundamental importância e com aplicabilidade clínica imediata.

REFERENCES

  • 1
    Zhang L, Silva FA. Bronchiolitis obliterans in children. J Pediatr (Rio J). 2000;73:185-92.
  • 2
    Fischer GB, Sarria EE, Mattiello R, et al. Post infectious bronchiolitis obliterans in children. Paediatr Respir Rev. 2010;11:233-9.
  • 3
    Colom AJ, Teper AM. Postinfectious bronchiolitis obliterans. Arch Argent Pediatr. 2009;107:160-7.
  • 4
    Santos RV, Rosário NA, Ried CA. Postinfectious bronchiolitis obliterans: clinical aspects and complementary tests of 48 children. J Bras Pneumol. 2004;30:20-5.
  • 5
    Aguerre V, Castaños C, Pena HG, et al. Postinfectious bronchiolitis obliterans in children: clinical and pulmonary function findings. Pediatr Pulmonol. 2010;45:1180-5.
  • 6
    Roca J, Grañeña A, Rodriguez-Rosin R, et al. Fatal airways disease in an adult with chronic graft-versus-host disease. Thorax. 1982;37:77-8.
  • 7
    Paradis I, Yousem S, Griffith B. Airway obstruction and bronchiolitis obliterans after lung transplantation. Clin Chest Med. 1993;14:751-63.
  • 8
    Ralph DD, Springmeyer SC, Sullivan KM, et al. Rapidly progressive air-flow obstruction in marrow transplant recipients. Possible association between obliterative bronchiolitis and chronic graft-versus-host disease. Am Rev Respir Dis. 1984;129:641-4.
  • 9
    Ribeiro BNF, Ribeiro RN, Zanetti G, et al. Hughes-Stovin syndrome: an unusual cause of pulmonary artery aneurysms. Radiol Bras. 2016;49:202-3.
  • 10
    Mogami R, Goldenberg T, Marca PGC, et al. Pulmonary infection caused by Mycobacterium kansasii: findings on computed tomography of the chest. Radiol Bras. 2016;49:209-13.
  • 11
    Koenigkam-Santos M, Cruvinel DL, Menezes MB, et al. Quantitative computed tomography analysis of the airways in patients with cystic fibrosis using automated software: correlation with spirometry in the evaluation of severity. Radiol Bras. 2016;49:351-7.
  • 12
    Francisco FAF, Rodrigues RS, Barreto MM, et al. Can chest high-resolution computed tomography findings diagnose pulmonary alveolar microlithiasis? Radiol Bras. 2015;48:205-10.
  • 13
    Guimaraes MD, Hochhegger B, Koenigkam-Santos M, et al. Magnetic resonance imaging of the chest in the evaluation of cancer patients: state of the art. Radiol Bras. 2015;48:33-42.
  • 14
    Batista MN, Barreto MM, Cavaguti RF, et al. Pulmonary artery sarcoma mimicking chronic pulmonary thromboembolism. Radiol Bras. 2015;48:333-4.
  • 15
    ICRP. 1990 Recommendations of the International Commission on Radiological Protection. ICRP Publication no. 60. Ann ICRP. 1991;21:1-201.
  • 16
    United Nations Scientific Committee on the Effects of Atomic Radiation. Sources and effects of ionizing radiation. UNSCEAR 2000 Report to the General Assembly, with Scientific Annexes. New York: United Nations; 2000.
  • 17
    Togni Filho PH, Casagrande JLM, Lederman HM. Utility of the inspiratory phase in high-resolution computed tomography evaluations of pediatric patients with bronchiolitis obliterans after allogeneic bone marrow transplant: reducing patient radiation exposure. Radiol Bras. 2017;50:90-6.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    May-Jun 2017
Publicação do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem Av. Paulista, 37 - 7º andar - conjunto 71, 01311-902 - São Paulo - SP, Tel.: +55 11 3372-4541, Fax: 3285-1690, Fax: +55 11 3285-1690 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: radiologiabrasileira@cbr.org.br