Acessibilidade / Reportar erro

Agonistas <FONT FACE=Symbol>α</FONT>2 -adrenérgicos: perspectiva atual

EDITORIAL

Agonistas α2 -adrenérgicos: perspectiva atual

Os agonistas a2-adrenérgicos constituem uma classe de drogas com propriedades potencialmente úteis em anestesia e terapia intensiva, que incluem 1: efeito anti-hipertensivo, analgesia, sedação, diminuição da concentração alveolar mínima (CAM) dos anestésicos inalatórios, redução de tremores pós-operatórios.

O efeito anti-hipertensivo da clonidina, protótipo dos agonistas a2-adrenérgicos, é devido à simpatolise resultante da inibição do locus ceruleus (núcleo ligado à atividade noradrenérgica situado no tronco cerebral) bem como da inibição da liberação de noradrenalina no neuroefetor 2. Na realidade, a curva dose-resposta não é tão simples: enquanto a clonidina reduz a atividade noradrenérgica em baixas doses (que são as utilizadas no controle da hipertensão), ela potencializa esta atividade em altas doses, pela ativação de receptores a2B-adrenérgicos localizados nas células musculares lisas dos vasos de resistência. De qualquer modo, hipotensão arterial e bradicardia (ou diminuição da taquicardia) podem acompanhar o emprego da clonidina em anestesia e terapia intensiva.

A analgesia parece estar ligada ao efeito sobre o corno posterior da medula espinhal, onde a clonidina provoca aumento da liberação de acetilcolina 3; a administração concomitante de neostigmina potencializa o efeito analgésico dos agonistas a2-adrenérgicos 4.

A sedação decorre do efeito destas drogas sobre o locus ceruleus do tronco cerebral e possui uma característica interessante: embora aparente sedação profunda, comprovada pelo índice bispectral (BIS), o indivíduo pode ser completamente acordado através de um estímulo externo (auditivo, por exemplo) e não demonstrar nenhum comprometimento do desempenho psicomotor 5. Isto dificilmente se consegue com outros fármacos utilizados para sedação e pode constituir uma vantagem evidente, como por exemplo em pacientes sedados na Unidade de Terapia Intensiva que podem ser solicitados a colaborar com o fisioterapeuta, voltando a dormir quando deixados em silêncio após a sessão 6. É interessante salientar também que a dexmedetomidina, o mais recente agonista a2-adrenérgico liberado para uso clínico, diminui significativamente o consumo de propofol para obtenção de determinado nível de sedação, podendo o paciente ser facilmente acordado e retornar ao estado de sono conforme as necessidades 7.

O efeito da clonidina reduzindo a CAM de agentes inalatórios foi bem estudado e levanta a possibilidade de interações com depressores do Sistema Nervoso Central a nível supraespinhal 8, 9.

A clonidina administrada por via venosa elimina a ocorrência de tremores pós-operatórios em pacientes operados tanto sob anestesia geral como sob o efeito de bloqueio peridural 1,10,11. O mecanismo está por ser melhor esclarecido.

Em função dos efeitos acima descritos, em especial o analgésico e o sedativo, os agonistas a2-adrenérgicos estão incorporados ao arsenal terapêutico de anestesiologistas e intensivistas. A dexmedetomidina é altamente específica para o receptor a2, de tal modo que sua relação de especificidade a2/a1 é cerca de 7 vezes maior que a da clonidina; por outro lado, possui meia-vida de eliminação plasmática de aproximadamente 2 horas, bem menor que a da clonidina, que é superior a 8 horas 12,13. Estas propriedades, aliadas a um efeito redutor moderado e mais previsível sobre a pressão arterial e a freqüência cardíaca, fazem dela um agente promissor na busca da otimização dos cuidados com sedação e analgesia.

José Roberto Nociti, TSA

Rua Stélio Machado Loureiro, 21

Alto da Boa Vista

14025-470 Ribeirão Preto, SP

  • 01. Kamibayashi T, Maze M - Clinical uses of a2-adrenegic agonists. Anesthesiology, 2000; 93:1345-1349.
  • 02. McCallum JB, Boban N, Hogan Q et al - The mechanism of a2-adrenergic inhibition of sympathetic ganglionic transmission. Anesth Analg, 1998;87:503-510.
  • 03. Klimscha W, Tong C, Eisenach JC - Intrathecal a2-adrenergic agonists stimulate acetylcholine and norepinephrine release from the spinal cord dorsal horn in sheep. An in vivo microdialysis study. Anesthesiology, 1997; 87:110-116.
  • 04. Bouaziz H, Hewitt C, Eisenach JC - Subarachnoid neostigmine potentiation of alpha 2-adrenergic agonist analgesia. Dexmedetomidine versus clonidine. Reg Anesth, 1995;20:121-127.
  • 05. Hall JE, Uhrich TD, Ebert TJ - The sedative analgesic and cognitive effects of clonidine infusions in humans. Br J Anaesth, 2001;86:5-11.
  • 06. Jones MEP, Maze M - Can we characterize the central nervous system actions of a2-adrenergic agonists? Br J Anaesth, 2001;86:1-3.
  • 07. Hall JE, Uhrich TD, Barney JA et al - Sedative, amnesic, and analgesic properties of small-dose dexmedetomidine infusions. Anesth Analg, 2000;90:699-705.
  • 08. Bloor BC, Flack WE - Reduction in halothane anesthetic requirements by clonidine, an alpha-adrenergic agonist. Anest Analg, 1982;61:741-745.
  • 09. Ghignone M, Calvillo O, Quintin L - Anesthesia and hypertension: the effect of clonidine on perioperative hemodynamics and isoflurane requirements. Anesthesiology, 1987;67:3-10.
  • 10. Buggy D, Higgins P, ODonovan F - Clonidine at induction reduces shivering after general anaesthesia. Can J Anaesth, 1997;44:263-267.
  • 11. Horn EP, Standl T, Sessler DI et al - Physostigmine prevents postanesthetic shivering as does meperidine or clonidine. Anesthesiology, 1998;88:108-113.
  • 12. Dick JB , Shafer SL - Dexmedetomidine pharmacokinetics and pharmacodynamics. Anaesth Pharm Review, 1993;1:238-245.
  • 13. Hayashi Y, Maze M - Alpha 2-adrenoreceptor agonists and anaesthesia. Br J Anaesth, 1993;71:108-118.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Mar 2011
  • Data do Fascículo
    2001
Sociedade Brasileira de Anestesiologia R. Professor Alfredo Gomes, 36, 22251-080 Botafogo RJ Brasil, Tel: +55 21 2537-8100, Fax: +55 21 2537-8188 - Campinas - SP - Brazil
E-mail: bjan@sbahq.org