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Análise vetorial de bioimpedância e estado nutricional de idosas de acordo com o índice de massa corporal

Resumos

O objetivo do presente estudo foi comparar e discutir o estado nutricional de idosas, de acordo com diferentes categorias de IMC. Adicionalmente, objetivou-se introduzir a análise vetorial de bioimpedância (BIVA) como ferramenta na avaliação do estado nutricional. Trinta e duas mulheres (60 anos ou mais, fisicamente independentes e nível moderado de atividade física), foram distribuídas em três grupos de acordo com a classificação do IMC: G1 (IMC<23kg/m²); G2 (23<IMC<28Kg/m²); e G3 (IMC>28Kg/ m²). Foram analisados como indicadores do estado nutricional: massa corporal e estatura para cálculo do IMC, circunferência da cintura (CC), circunferência do quadril (CQ) e relação cintura quadril (RCQ); bioimpedância elétrica (por BIVA); - gasto energético de repouso (GER); variáveis plasmáticas indicadoras do estado nutricional (glicose, colesterol total e frações, IGF-1 e leptina). Os grupos foram comparados por ANOVA e pelo teste Hotelling’s T² para análise vetorial. Como principais resultados, o posicionamento do vetor na bioimpedância apontou menor reactância e maior resistência para G1. O G3 apresentou os maiores valores de CC e leptina, e também menor GER. Portanto, os maiores valores de IMC, ao mesmo tempo em que apontam melhor massa celular, apontam também maior risco de desenvolvimento de doenças crônicas. Por sua vez, os menores valores de IMC indicaram redução da massa corporal livre de gordura. Os resultados ratificam a busca por classificação específica do IMC para idosos e apontam a BIVA como uma alternativa viável na avaliação física e nutricional.

Composição corporal; Estado nutricional; IMC; Saúde do idoso


The objective of the present study was to compare and discuss the nutritional status of older women according to different categories of BMI. Additionally, the study was aimed at introducing the bioelectrical impedance vector analysis (BIVA) as a tool to assess the nutritional status. Thirty-two women (60 years or older, physically independent, and with moderate level of physical activity) were divided into three groups according to BMI classification: G1 (BMI<23 Kg/m²); G2 (23<BMI<28 Kg/m²); and G3 (BMI>28 Kg/m²). The following variables were analyzed as indicators of nutritional status: body mass and height to calculate BMI, waist circumference (WC), hip circumference (HC), waist-hip ratio (WHR), bioelectrical impedance (BIVA), resting energy expenditure (REE), biochemical markers of nutritional status (glucose, total cholesterol, and fractions, IGF-1, and leptin). The groups were compared using ANOVA and the Hotelling’s T ² test for vector analysis. The main findings based on vector displacement showed lower reactance and higher resistance in G1. G3 showed the highest values of CC and leptin, and also lower REE. Therefore, higher BMI suggested at the same time higher cell mass and higher risk of developing chronic diseases. In turn, lower BMI values suggested reduced fat-free body mass. These results confirm the search for specific classification of BMI for the elderly and suggest the BIVA as a viable alternative in physical and nutritional assessment.

BMI; Body composition; Elderly health; Nutritional status


ARTIGO ORIGINAL

Análise vetorial de bioimpedância e estado nutricional de idosas de acordo com o índice de massa corporal

Sandra Maria Lima RibeiroI,III; Marcia Val MiyamotoII; Camila Maria de MeloII; Joseph KehayiasIII

IUniversidade de São Paulo. Escola de Artes, Ciências e Humanidades. São Paulo, SP. Brasil

IIUniversidade São Judas Tadeu. São Paulo, SP. Brasil

IIIUnites States Department of Agriculture

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Sandra M L Ribeiro Universidade de São Paulo. Escola de Artes, Ciências e Humanidades Av. Arlindo Bettio 1000 CEP 03800-000 - São Paulo, SP Brasil E-mail: smlribeiro@usp.br

RESUMO

O objetivo do presente estudo foi comparar e discutir o estado nutricional de idosas, de acordo com diferentes categorias de IMC. Adicionalmente, objetivou-se introduzir a análise vetorial de bioimpedância (BIVA) como ferramenta na avaliação do estado nutricional. Trinta e duas mulheres (60 anos ou mais, fisicamente independentes e nível moderado de atividade física), foram distribuídas em três grupos de acordo com a classificação do IMC: G1 (IMC<23kg/m2); G2 (23<IMC<28Kg/m2); e G3 (IMC>28Kg/ m2). Foram analisados como indicadores do estado nutricional: massa corporal e estatura para cálculo do IMC, circunferência da cintura (CC), circunferência do quadril (CQ) e relação cintura quadril (RCQ); bioimpedância elétrica (por BIVA); - gasto energético de repouso (GER); variáveis plasmáticas indicadoras do estado nutricional (glicose, colesterol total e frações, IGF-1 e leptina). Os grupos foram comparados por ANOVA e pelo teste Hotelling's T2 para análise vetorial. Como principais resultados, o posicionamento do vetor na bioimpedância apontou menor reactância e maior resistência para G1. O G3 apresentou os maiores valores de CC e leptina, e também menor GER. Portanto, os maiores valores de IMC, ao mesmo tempo em que apontam melhor massa celular, apontam também maior risco de desenvolvimento de doenças crônicas. Por sua vez, os menores valores de IMC indicaram redução da massa corporal livre de gordura. Os resultados ratificam a busca por classificação específica do IMC para idosos e apontam a BIVA como uma alternativa viável na avaliação física e nutricional.

Palavras-chave: Composição corporal; Estado nutricional; IMC; Saúde do idoso.

INTRODUÇÃO

O fenômeno crescente do envelhecimento populacional demanda estudos sobre as condições de saúde e estado nutricional de idosos1. Entende-se como estado nutricional o equilíbrio entre ingestão de energia e nutrientes, e a utilização destes pelo corpo. A avaliação do estado nutricional inclui medidas antropométricas e de composição corporal, marcadores bioquímicos, avaliação da dieta e do gasto de energia. No intuito de tornar mais abrangente a interpretação do estado nutricional, atualmente, tem se procurado expandir as possibilidades de medidas, incluindo, por exemplo, testes funcionais, força muscular, metabolismo da glicose, capacidade de trabalho, avaliações moleculares e genéticas, entre outros2.

A avaliação do estado nutricional de idosos pode ser considerada um desafio, tendo em vista todas as alterações decorrentes do envelhecimento. Por exemplo, a massa livre de gordura é reduzida perifericamente, e a gordura corporal tende a aumentar na região abdominal. Vários estudos investigam essas mudanças, entretanto, as razões e os melhores métodos e técnicas para identificá-las ainda precisam ser compreendidos pelas pesquisas em composição corporal3,4.

Dentre os diferentes métodos e técnicas existentes para a análise da composição corporal, a bioimpedância elétrica (BIA) é considerada prática, não invasiva, e de fácil operação5. Contudo, em determinadas populações ou condições, a BIA apresenta limitações quanto ao desenvolvimento de equações específicas6. Procurando minimizar esse tipo de problema, foi proposta a análise vetorial da BIA (BIVA), na qual a interpretação dos dados é realizada simplesmente a partir do gráfico da resistência (R) e da reactância (Xc) [divididas pela estatura (H)], e do vetor resultante. Não há necessidade do uso de equações nesse tipo de interpretação7,8.

A análise por BIVA tem recebido atenção como uma ferramenta valiosa para analisar o estado de hidratação e a massa celular7,8, e tem demonstrado valor prognóstico em condições como pré-operatório, câncer, infecção por vírus de imunodeficiência ou na doença de Alzheimer9-11 . Como conceito fundamental para interpretação dos dados, considera-se Xc como o efeito resistivo produzido pelas interfaces dos tecidos e membranas celulares. Por sua vez, R é a oposição pura à corrente elétrica e o ângulo de fase (vetor resultante) reflete a capacitância. Buffa et al.12 sugerem que o uso de BIVA é capaz de avaliar mudanças típicas de compartimentos corporais no envelhecimento.

Na investigação de métodos e técnicas de composição corporal e envelhecimento, as medidas antropométricas e suas relações merecem, também, alguns comentários. O índice de massa corporal (IMC=massa corporal/estatura2) apresenta correlação significativa com a massa de gordura corporal e com o desenvolvimento de doenças crônicas. Valores elevados de IMC são relacionados, portanto, a maior morbidade e risco de mortalidade13. Por sua vez, alguns estudos têm apontado maiores taxas de sobrevida em maiores valores de IMC14-16 . Argumenta-se que as reservas de energia na velhice são importantes para enfrentar situações de estresse físico e psicológico14,15.

Um estudo transversal multicêntrico com idosos da América Latina (projeto Saúde e Bem Estar no Envelhecimento-SABE)17, planejado com a participação da Organização Panamericana da Saúde (OPAS), utilizou, na coleta e análise dos dados, os seguintes intervalos de IMC: baixo (≤23); normal (23> IMC<28); alto (28>IMC>30) e obesidade (≥30). Nota-se, portanto, que nesse estudo o intervalo classificado como "normalidade" é diferenciado, comparativamente aos conhecidos pontos de corte para adultos jovens (que é de 18,50 a 24,99Kg/m2)18.

Sintetizando, alguns estudos sugerem que idosos com maiores valores de IMC apresentam maiores chances de sobrevida. A partir dessa afirmação, o presente estudo hipotetiza que maiores valores de IMC são relacionados a um melhor estado de saúde, o que pressupõe um melhor estado nutricional. Para confirmação de um melhor estado nutricional, o maior número de variáveis possível deve ser investigado.

Desta forma, o objetivo do presente estudo é comparar e discutir o estado nutricional de idosas, de acordo com diferentes categorias de IMC. Como objetivo adicional, pretende-se introduzir a análise por BIVA na avaliação do estado nutricional.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Participantes

O estudo foi realizado em um Centro de Convivência de Idosos na Zona Leste de São Paulo- SP-Brasil. O recrutamento de voluntários foi feito a partir de cartazes e palestras explicativas. Tratou-se, portanto, de uma amostra não probabilística e de conveniência. Foram incluídas apenas mulheres acima de 60 anos, com nível moderado de atividade física. Foram excluídas as mulheres que referiram o uso de medicamentos que pudessem modificar a taxa metabólica basal (por exemplo, medicamentos para emagrecimento ou hormônios da tireóide), ou ainda, que relatassem doenças agudas ou crônicas que pudessem interferir nas coletas de dados. Cabe destacar que não foram excluídas as idosas que referiram diabetes tipo II, hipertensão ou hipercolesterolemia, uma vez que essas doenças são altamente prevalentes na população idosa.

Todas as participantes assinaram um termo de consentimento esclarecido, e o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Judas Tadeu, protocolo número 048/2004.

Coleta dos dados

As participantes foram submetidas a uma análise ampla do estado nutricional, conforme variáveis descritas e justificadas a seguir.

Dados gerais

Doenças agudas e crônicas, assim como grandes variações de peso corporal podem ser indicadoras de desbalanços no estado nutricional2. Para obter essas informações, as participantes foram indagadas a respeito de variação de peso corporal nos últimos seis meses e histórico de doenças agudas e crônicas. Foram, também, questionados aspectos demográficos.

Nível de atividade física

O sedentarismo está associado a uma série de doenças crônicas e a um pior estado nutricional19. Portanto, com a finalidade de controlar algumas variáveis, foram incluídas mulheres com nível de atividade física moderado, classificado a partir do International Physical Activity QuestionnaireIPAQ20, versão curta.

Medidas antropométricas

A determinação do estado nutricional inclui, também, indicadores antropométricos2. A massa corporal (MC; Balança Filizola, 0,1 g de precisão) e a estatura (H; estadiômetro Secca, intervalo de 0,1 cm) foram avaliados para cálculo do índice de massa corporal (IMC, em Kg/m2). Foram medidas as circunferências da cintura (CC) e do quadril (CQ), e foi calculada a relação cintura quadril (RCQ)21. Todos os procedimentos para tomada das medidas antropométricas foram fundamentados em Lohman, Roche, Martorell22 e as medidas foram realizadas por um único avaliador.

Análise por bioimpedância elétrica com análise vetorial (BIA e BIVA)

Postulamos no presente estudo que a análise da integridade e hidratação celulares avaliados a partir da BIA pode constituir importante ferramenta na avaliação do estado nutricional. A análise por BIA foi realizada pela manhã, após uma noite de repouso e antes da ingestão de alimentos. As participantes chegaram ao laboratório entre 07h00min e 09h00min, e foram previamente orientadas a não realizarem exercício físico intenso e nem modificarem seu padrão alimentar no dia anterior, e a ingerirem água nas quantidades habituais. A análise (Biodynamics 450e®) foi realizada com as participantes na posição supinada, em uma superfície não condutora, com os eletrodos posicionados nas mãos e pés, sempre do lado direito. Todos os procedimentos para medida por bioimpedância foram realizados pelo mesmo avaliador. Os dados de resistência (R) e reactância (Xc) foram plotados em um gráfico R/H Xc/H, com software específico23.

Gasto energético de repouso (GER)

Alguns estudos, como revisto por Manini24, descrevem redução no gasto energético de repouso (GER) com o envelhecimento, o que pode estar associado a alterações no estado nutricional. No presente estudo, o GER foi avaliado imediatamente após as análises por BIA, sempre pelo mesmo avaliador. Utilizou-se o analisador metabólico VO2000 (Inbrasport®). As mulheres repousaram em uma maca por 30 minutos antes do teste. Elas foram instruídas a permanecer relaxadas, porém acordadas, a evitar tossir, falar ou movimentar-se durante todo o período de medida. O registro das medidas de troca gasosa só foi iniciado após a aclimatação, definido como o período de cinco minutos consecutivos no qual o coeficiente de variação (CV) fosse de, no máximo, 10% para o consumo de oxigênio (VO2) e gás carbônico (VCO2) e 5% para o QR (quociente respiratório). Alcançando essa aclimatação, as medidas foram registradas por um período de 30 minutos. O gasto energético de repouso para 24h foi estimado de acordo com a equação de Jequier & Shultz25.

Análises bioquímicas

Indicadores bioquímicos são considerados sensíveis na avaliação do estado nutricional do estado nutricional, principalmente, por serem capazes de detectar desvios nutricionais em seus estados iniciais2. A análise bioquímica no presente estudo foi realizada a partir do plasma sanguíneo. As amostras de sangue foram coletadas no dia seguinte às análises de antropometria, BIA e GER. As coletas foram realizadas no período entre 08h00min e 10h00min, após um período de jejum de, no mínimo, 8 e no máximo 12 horas. As amostras foram analisadas para: glicose sanguínea, colesterol total, HDL e LDL [método enzimático (Doles® e Labtest®) e pela equação de Friedewald]. Foram ainda determinadas as concentrações dos hormônios: IGF-I [DSL (etanol ácido) IRMA 87/518 duplo anticorpo; com coeficiente de variação intra-análise (CV)= 6,3% e 4,9% para os controles mínimos e máximos respectivamente; e CV interanálise= 8,0 e 9,0% para os controles mínimo e máximo respectivamente]; leptina [por RIA, HL81 K Linco Research Inc®; CV entre análises de 1,2% e 3,0% para os controles mínimo e máximo respectivamente; CV entre análises de 8,6% e 4,2% para os controles mínimo e máximo respectivamente].

Grupos para análise dos dados

A partir dos resultados das medidas antropométricas, as mulheres foram distribuídas em três grupos, com base nas seguintes categorias de IMC: G1 (IMC<23kg/ m2); G2 (23<IMC<28Kg/m2) e G3 (IMC>28Kg/m2). Essa atribuição de categorias é uma modificação do documento da OPAS- Projeto SABE17,

Análise estatísticas

Os dados estão apresentados em forma de média ± desvio padrão (DP); os três grupos de IMC foram comparados por one way-ANOVA seguida pelo teste Bonferoni como post-hoc. As análises foram realizadas com o Software Statistica 7.0 (Statsoft, Inc.). As diferenças significativas entre os vetores dos grupos pelo teste Hotelling's T2 para análise vetorial, e a distância Mahalanobis (D), que é a distância entre dois grupos, foram analisadas com auxilio do software específico para BIVA23. O nível de significância aceitável foi de p< 0,05 para todas as análises.

RESULTADOS

Foram incluídas no estudo 37 mulheres. A idade não diferiu significativamente entre os grupos: G1=68,7±5,1 anos; G2=68,4±7,5 anos; G3=67,7±5,0 anos (p=0,90). Com relação às informações gerais prestadas pelas participantes, 56,8% referiram não ter havido mudança na massa corporal nos últimos seis meses, 35,4% informaram ter reduzido a massa corporal intencionalmente e 8,1% não souberam responder à questão. Somente 16,2% relataram não fazer uso de nenhum medicamento, enquanto os outros 83,9% consumiam habitualmente medicamentos para controle de diabetes, hipertensão e hipercolesterolemia, todos com supervisão médica.

As variáveis antropométricas e de BIA estão descritas na Tabela 1. Observa-se que G3 apresentou maiores valores de CC, CQ, RCQ e reactância, e menor valor para resistência.

A Figura 1 descreve o posicionamento vetorial dos três grupos e também da população de referência para a faixa etária. G1, G2 e G3 apresentaram posicionamento significativamente diferente entre si; G1 apresentou menor Xc, maior R e consequentemente, menor ângulo de fase. A diferença dos três grupos foi significativa em relação à população de referência, mas observa-se que G3 foi o grupo que apresentou a menor distância dessa população (valor D).


De acordo com a Tabela 2, G3 apresentou o menor consumo de oxigênio e consequentemente, o menor gasto energético de repouso. Na Tabela 3, observa-se que G1 apresentou os maiores valores para glicemia de jejum, mas todos os valores foram situados dentro dos limites de referência. G3 apresentou os maiores valores de leptina. As demais variáveis não apontaram diferença entre os grupos.

DISCUSSÃO

O presente estudo comparou o estado nutricional de idosas, de acordo com diferentes valores de IMC, utilizando-se, entre outros indicadores, o da análise vetorial de bioimpedância elétrica. Foi possível observar menor massa magra nos valores de IMC abaixo de 23 Kg/m2, e risco de desenvolvimento de doenças crônicas somado ao melhor estado celular nos valores de IMC acima de 28 Kg/m2.

O grupo com maior valor de IMC apresentou maiores medidas antropométricas indicativas de risco de doenças crônicas. Adicionalmente, esse grupo também apresentou o menor gasto energético de repouso, o que pode significar menor atividade metabólica, com consequente risco aumentado de desenvolvimento de doenças crônicas26. A maior concentração plasmática de leptina nesse grupo pode também, indiretamente, sinalizar uma possível resistência leptínica, como tipicamente ocorre em obesos27.

O eixo somatotrófico, avaliado no presente estudo pelo IGF-I, demonstrou uma tendência a menores valores em G1 (embora sem significância estatística). Menores valores de IGF-I podem indicar menor síntese protéica e consequentemente, uma possível relação com menor massa magra corporal28. Em adição, nesse grupo com menor IMC, o vetor bioelétrico mostrou o menor ângulo de fase, refletindo redução na massa celular. Dados experimentais têm demonstrado ângulo de fase reduzido, com comprimento igual ou maior que os valores de referência, em idosos sarcopênicos9,11. Esses resultados, portanto, podem ser indicadores de que G1, a despeito de ter apresentado melhores resultados relacionados à gordura corporal, apresentou menor massa corporal magra, o que pode significar um estado nutricional comprometido e um início do processo de sarcopenia.

Outros resultados no presente estudo podem reforçar a possibilidade de menor massa magra em G1, em comparação aos outros grupos. Os maiores valores de glicemia podem significar o desenvolvimento de processos de resistência insulínica. Dados na literatura demonstram associação entre sinalização insulínica e inflamação29, e entre inflamação e sarcopenia30. Em outras palavras, existe a possibilidade de que menores valores de IMC possam estar associados a um estado inflamatório crônico, maior resistência insulínica e como consequência, maior risco de redução de massa magra. Entretanto, essas informações são apenas especulativas, pois necessitariam de análises bioquímicas mais específicas.

Todas as informações obtidas nos dois grupos extremos- menores e maiores classificações de IMC, levam a supor, a partir dos resultados do presente estudo, um intervalo de normalidade no grupo intermediário (G2), com valores entre 23 e 28kg/m2. Esse intervalo corrobora publicações anteriores16,17.

Cabe, neste ponto, destacar as limitações do presente estudo. Só foram incluídas mulheres, e não se pode afirmar que os resultados são representativos da população de idosos do Brasil. Ademais, como já afirmado anteriormente, a utilização de marcadores bioquímicos plasmáticos (glicemia, leptina, IGF-I) não são suficientes para fundamentar alguns mecanismos moleculares discutidos. Com relação aos medicamentos ingeridos pelas participantes, existe a possibilidade destes terem gerado viéses de interpretação dos resultados. Finalmente, estudos com amostras probabilísticas e maiores, além da inclusão de outras variáveis de composição corporal como, por exemplo, o DEXA (raios-X de dupla energia, considerado padrão ouro), poderiam auxiliar na interpretação dos resultados.

CONCLUSÕES

O presente estudo mostrou diferenças no estado nutricional de acordo com o IMC em idosas, o que reforça a necessidade de pontos de corte específicos para esse grupo populacional. Adicionalmente, foi possível reconhecer a BIVA como uma análise coerente da composição corporal nesses indivíduos.

Agradecimentos

A A. Piccoli and G. Pastori (Departmento de Ciências Médicas e Cirúrgicas, Universidade de Pádua, Itália) pelo fornecimento do software para análise por BIVA.

Recebido em 06/05/11

Revisado em 18/07/11

Aprovado em 08/09/11

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  • Endereço para correspondência:
    Sandra M L Ribeiro
    Universidade de São Paulo.
    Escola de Artes, Ciências e Humanidades
    Av. Arlindo Bettio 1000
    CEP 03800-000 - São Paulo, SP Brasil
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      06 Dez 2011
    • Data do Fascículo
      Dez 2011

    Histórico

    • Revisado
      18 Jul 2011
    • Recebido
      06 Maio 2011
    • Aceito
      08 Set 2011
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