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Através do espelho: subjetividade em Minha formação, de Joaquim Nabuco

Through the mirror: subjectivity in My formation, by Joaquim Nabuco

À travers le miroir: subjectivité dans Ma formation, de Joaquim Nabuco

Resumos

Este trabalho tem a intenção de examinar os diferentes caminhos pelos quais Joaquim Nabuco modela a sua personalidade em Minha formação, elegendo-se o tema da viagem, em particular para a Europa, como o fio condutor desta investigação. Tendo sempre como referência a forma pela qual os valores políticos e literários se combinam na sua reflexão, o que se pretende aqui é sugerir que a subjetividade de Nabuco dá a impressão de ser elaborada em pelo menos dois níveis distintos, embora estreitamente articulados. O primeiro, corresponde à juventude do autor, marcada por uma melancólica curiosidade que implica, no limite, um contato rápido e superficial com os objetos que ele procura conhecer; o segundo envolve, antes de mais nada, uma relação com o plano das tradições, especialmente as inglesas, cuja permanência, extensão e variedade irão promover um clima de serenidade e liberdade que se converte em uma espécie de eixo em torno do qual Nabuco irá conceber a sua biografia.

Joaquim Nabuco; Melancolia; Subjetividade; Viagens à Europa


This paper aims at examining the different ways by which Joaquim Nabuco shapes his personality in My Formation, choosing the trip as theme, especially to Europe, as the conductor thread for the investigation. Having always by reference the way by which political and literary values match in his thoughtfulness, we intend to suggest that his subjectivity seems to be elaborated leastwise at two distinct levels, thou tightly articulated. The first one corresponds to the youth of the author, pronounced by a melancholic curiosity that implies, on the limit, a fast and superficial contact with the targets he aims at knowing; the second entails a relation with the tradition level, especially the British one, whose permanence, extension, and variety will promote an ambience of serenity and freedom that turns out to be one kind of axis around which Nabuco conceives his biography.

Joaquim Nabuco; Melancholy; Subjectivity; Trips to Europe


Ce travail analyse les différentes manières par lesquelles Joaquim Nabuco, dans son œuvre Ma formation, présente sa personnalité. Le thème du voyage, particulièrement en Europe, est employé comme fil conducteur de cette recherche. En nous appuyant sur les valeurs politiques et littéraires qui s'articulent dans sa réflexion, nous suggérons que la subjectivité de Nabuco semble avoir été conçue sur deux niveaux distincts, mais étroitement liés. Le premier correspond à la jeunesse de l'auteur, marquée par une curiosité mélancolique qui, à la limite, implique en un contact rapide et superficiel avec les objets qu'il découvre. Le second englobe, avant tout, une relation sur le plan des traditions, particulièrement les anglaises, dont la permanence, l'extension et la variété premeuvent un climat de sérénité et de liberté qui se convertit en une espèce d'axe autour duquel Nabuco conçoit sa biographie.

Joaquim Nabuco; Mélancolie; Subjectivité; Voyages en Europe


Através do espelho: subjetividade em Minha formação, de Joaquim Nabuco* * Trabalho apresentado no GT "Pensamento Social no Brasil", XXVII Encontro Anual da Anpocs, Caxambu, MG, 21-24 de outubro de 2003. Vários amigos e colegas estimularam a confecção deste texto. Na impossibilidade de agradecer a todos, não quero deixar de expressar minha gratidão a Maria Alice Rezende de Carvalho e Luiz Werneck Vianna, os quais, por rotas diferentes mas complementares, contribuíram de forma generosa e decisiva para que este trabalho pudesse ser concebido.

Through the mirror: subjectivity in My formation, by Joaquim Nabuco

À travers le miroir: subjectivité dans Ma formation, de Joaquim Nabuco

Ricardo Benzaquen de Araújo

RESUMOS

Este trabalho tem a intenção de examinar os diferentes caminhos pelos quais Joaquim Nabuco modela a sua personalidade em Minha formação, elegendo-se o tema da viagem, em particular para a Europa, como o fio condutor desta investigação. Tendo sempre como referência a forma pela qual os valores políticos e literários se combinam na sua reflexão, o que se pretende aqui é sugerir que a subjetividade de Nabuco dá a impressão de ser elaborada em pelo menos dois níveis distintos, embora estreitamente articulados. O primeiro, corresponde à juventude do autor, marcada por uma melancólica curiosidade que implica, no limite, um contato rápido e superficial com os objetos que ele procura conhecer; o segundo envolve, antes de mais nada, uma relação com o plano das tradições, especialmente as inglesas, cuja permanência, extensão e variedade irão promover um clima de serenidade e liberdade que se converte em uma espécie de eixo em torno do qual Nabuco irá conceber a sua biografia.

Palavras-chave: Joaquim Nabuco; Melancolia; Subjetividade; Viagens à Europa.

ABSTRACT

This paper aims at examining the different ways by which Joaquim Nabuco shapes his personality in My Formation, choosing the trip as theme, especially to Europe, as the conductor thread for the investigation. Having always by reference the way by which political and literary values match in his thoughtfulness, we intend to suggest that his subjectivity seems to be elaborated leastwise at two distinct levels, thou tightly articulated. The first one corresponds to the youth of the author, pronounced by a melancholic curiosity that implies, on the limit, a fast and superficial contact with the targets he aims at knowing; the second entails a relation with the tradition level, especially the British one, whose permanence, extension, and variety will promote an ambience of serenity and freedom that turns out to be one kind of axis around which Nabuco conceives his biography.

Keywords: Joaquim Nabuco; Melancholy; Subjectivity; Trips to Europe.

RÉSUMÉS

Ce travail analyse les différentes manières par lesquelles Joaquim Nabuco, dans son œuvre Ma formation, présente sa personnalité. Le thème du voyage, particulièrement en Europe, est employé comme fil conducteur de cette recherche. En nous appuyant sur les valeurs politiques et littéraires qui s'articulent dans sa réflexion, nous suggérons que la subjectivité de Nabuco semble avoir été conçue sur deux niveaux distincts, mais étroitement liés. Le premier correspond à la jeunesse de l'auteur, marquée par une curiosité mélancolique qui, à la limite, implique en un contact rapide et superficiel avec les objets qu'il découvre. Le second englobe, avant tout, une relation sur le plan des traditions, particulièrement les anglaises, dont la permanence, l'extension et la variété premeuvent un climat de sérénité et de liberté qui se convertit en une espèce d'axe autour duquel Nabuco conçoit sa biographie.

Mots-clés: Joaquim Nabuco; Mélancolie; Subjectivité; Voyages en Europe.

Roma indica a cada um o seu lugar.

Feuerbach, citado por Simmel

Este artigo pretende investigar os diferentes caminhos pelos quais Joaquim Nabuco modelou a sua personalidade em Minha formação, que, publicado em 1900, embora reunindo textos elaborados desde pelo menos 1893, converte-se em uma das primeiras e mais relevantes obras de cunho autobiográfico na tradição do pensamento brasileiro. No entanto, antes de prosseguir, gostaria de deixar bem claro o caráter incompleto e absolutamente exploratório desta análise, pois, pelo próprio fato de que jamais lidei com os debates intelectuais do período em questão, posso considerá-la apenas como se fosse uma espécie de incursão em terreno desconhecido, incursão autorizada apenas pela qualidade de uma série de estudos recentes que tratam de Nabuco, tanto aqueles que se dedicam ao conjunto da sua reflexão, como os de Mello (2000), Salles (2002), Alencar (2002) e Costa Lima (2002), quanto aqueles, como por exemplo os de Jaguaribe (1994) e de Carvalho (2001), que se concentram de maneira mais específica no exame de Minha formação.

Contudo, apesar da já mencionada qualidade que caracteriza a maior parte das últimas contribuições sobre a produção intelectual de Nabuco, prefiro iniciar a discussão pelo destaque de uma antiga e bem conhecida avaliação feita acerca da sua subjetividade, aquela sugerida por Mário de Andrade (1982, p. 15) a Carlos Drummond na segunda carta da correspondência trocada entre eles, na qual, citando um texto anterior seu, ele vai dizer que: "O Dr. Chagas descobriu que grassava no país uma doença que foi chamada moléstia de Chagas. Eu descobri outra doença mais grave, de que todos estamos infeccionados: a moléstia de Nabuco".

Tal doença parecia atingir, na opinião de Mário, proporções epidêmicas, e implicava fundamentalmente o costume, supostamente partilhado por Nabuco e pelo jovem Drummond, de construir a sua identidade pessoal em um processo que, a um só tempo, desvaloriza inteiramente as tradições brasileiras e apóia-se na consolidação, na síntese, em uma palavra, na cópia de modelos europeus, sobretudo franceses.

Essa posição, retomada de várias maneiras na fortuna crítica de Nabuco (cf. Moriconi, 2001), baseia-se com freqüência no capítulo 4 de Minha formação, "Atração do mundo", particularmente em uma passagem, na qual ele afirma que: "As paisagens todas do Novo Mundo, a floresta amazônica ou os pampas argentinos, não valem para mim um trecho da Via Appia, uma volta da estrada de Salerno a Amalfi, um pedaço do cais do Sena à sombra do Louvre" (1999, p. 49). Trata-se de uma citação realmente significativa, até mesmo porque Nabuco reafirma os mesmos valores no parágrafo seguinte, salientando que "o espírito humano, que é um só, e terrivelmente centralista, está do outro lado do Atlântico; o Novo mundo, para tudo o que é imaginação estética ou histórica é uma verdadeira solidão" (Idem, p. 50). O que está em jogo, portanto, não é a conversão daquele comentário de Mário em uma espécie de "homem de palha", sublinhando-se a sua importância apenas para se conseguir melhor destruí-lo, mas a sua necessária qualificação, qualificação que deverá transformá-lo de uma – algo peremptória e moralista – conclusão no ponto de partida desta investigação.

Essa qualificação precisa incorporar pelo menos dois novos argumentos para que o vínculo do nosso autor com a Europa possa começar a ser entendido de forma mais complexa e matizada. O primeiro deles diz respeito simplesmente ao fato de que o narrador de Minha Formação é o Nabuco da maturidade, que se dissocia explicitamente da sua mocidade, dissociação esta que, como será visto mais adiante, irá inclusive se converter em uma perspectiva, em um ponto de vista que terminará por orientar a própria confecção dessas suas memórias. Além disso, e talvez ainda mais relevante, é a lembrança de que, mesmo quando se refere especificamente à sua juventude, nosso autor nunca deixa de nuançar essa preferência pela cultura européia, contrabalançando-a com uma preocupação tão intensa com os destinos da "pátria" que ele efetivamente parece se associar, na formulação de Costa Lima (2002, p. 344), ao "drama existencial dos que se sentem comprometidos com o país, mas, ao mesmo tempo, nele não se integram". Para que este ponto fique suficientemente estabelecido, creio que valha a pena uma rápida vista d'olhos no mesmo parágrafo do qual foi retirada a última citação de Nabuco, antes e depois dela, quando ele nos diz que:

Estamos assim condenados à mais terrível das instabilidades [...]. A instabilidade a que me refiro provém de que na América falta à paisagem, à vida, ao horizonte, à arquitetura, a tudo o que nos cerca, o fundo histórico, a perspectiva humana; e que na Europa nos falta a pátria, isto é, a forma em que cada um de nós foi vazado ao nascer. De um lado do mar sente-se a ausência do mundo; do outro, a ausência do país. O sentimento em nós é brasileiro, a imaginação européia [...]. [Por conseguinte,] no meio do luxo dos teatros, da moda, da política, somos sempre squatters, como se estivéssemos ainda derribando a mata virgem ( Nabuco, 1999, p. 48).

Como se percebe, o modo pelo qual Nabuco dá conta da sua personalidade aos 24 anos – 1873, momento da sua primeira viagem à Europa –, acentua sobremaneira seu caráter eminentemente pendular e inconstante, apontando para uma espécie de oscilação permanente que, ampliando-se um pouco o escopo desta análise, transmite a sensação de estar fortemente articulada com um sentimento de curiosidade, senão vejamos:

Em 1873, porém, a minha ambição de conhecer homens célebres de toda ordem era sem limites; eu tê-los-ia ido procurar ao fim do mundo. Do mesmo modo, com os lugares. O que eu queria era ver todas as vistas do globo, tudo o que tem arrancado um grito de admiração a um viajante inteligente. Nessa qualidade de câmara fotográfica só lastimava não ter o dom da ubiqüidade" (Idem, p. 47, grifo do autor).

Cabe observar, a propósito, que esse tipo de curiosidade parece não importar somente em uma relação rápida e superficial com o que se está visitando: a obsessão de conhecer todos os homens célebres, de ver todas as vistas do globo, dá a impressão de situar todos em um mesmo plano - horizontal -, impedindo que se encontre um critério que fosse capaz de hierarquizá-los, de permitir que um deles fosse escolhido em detrimento dos outros, o que acaba por promover um surpreendente clima de indecisão.

Instabilidade, curiosidade, indecisão: tais características definem não só a personalidade como também a própria relação que, por volta dos seus 20 anos, Nabuco irá estabelecer com a política. Com efeito, em que pese a sua incipiente adesão à monarquia constitucional inglesa, sintetizada de forma brilhante no conhecido segundo capítulo de Minha formação, "Bagehot", ele torna evidente no capítulo seguinte, "Na reforma", que tal escolha de forma alguma se assentava em bases sólidas, demonstrando a mesma inconstância já examinada em passagens anteriores. Assim, comentando em 1871 aquela que seria a primeira viagem do Imperador à Europa, dois anos depois de ter lido A Constituição Inglesa, de Bagehot, Nabuco não se furta a aconselhá-lo a mudar de rota e visitar a América, pois lá,

[...] ao ver os Estados Unidos à frente do progresso industrial e moral, compreenderia que os reis podem ser uma hipótese, um luxo, uma superfetação [...]. Ao ver a vanguarda do progresso ocupada por uma república, o Imperador perderia o culto monárquico em que comungam os reis (Idem, p. 40).

Mas qual seria, afinal, a natureza da crítica que o Nabuco da maturidade dirige contra si mesmo aos vinte e poucos anos? Para responder a esta pergunta, faz-se necessário, antes de mais nada, retornar ao tema das viagens, por intermédio do qual ele vai refletir acerca da esterilidade a que toda aquela inconstância e curiosidade o teriam conduzido, lembrando que: "Em caso algum porém, pode-se sentir uma obra de arte de passagem, isto é, sem que ela produza em nós uma vibração correspondente ao esforço, à sensação do criador quando a compôs" (Idem, p. 55, grifo do autor).

Todavia, ainda mais interessante do que esta citação é uma passagem que pode ser encontrada no parágrafo imediatamente posterior, no qual Nabuco, procurando dar uma idéia do clima que cercou a sua viagem de 1873 pela Europa, nos conta que:

Como é que em minutos poderia penetrar a impressão do artista, que levou anos para realizar seu pensamento, e morreu ainda agitado por ele? Eu olhei, por exemplo, para a catedral de Reims, com Rodolfo Dantas, em um dia que roubamos à Paris, linguagem do boulevard; passei para ver a catedral de Amiens; roubei outro dia a Paris para fazer a volta da catedral de Rouen [...] fiz uma vez a tournée dos castelos históricos do Loire: Chenoncaux, Amboise, Blois, Chambord. Horas para tudo isso! (Idem, p. 56, grifos do autor).

"Horas para tudo isso": comportando-se como se tivesse o dom da ubiqüidade, procurando ver o máximo possível em um mínimo de tempo, o jovem Nabuco passa velozmente, com o coração aos pulos, de uma cidade para a outra, de uma atração para a outra, terminando por converter o seu primeiro contato direto com alguns dos mais consagrados monumentos da cultura ocidental em uma infernal sucessão de impactos. Com efeito, a própria dicção empregada pelo nosso autor, 27 anos depois, para descrever o ritmo que pautou aquelas suas incursões pela França – olhei... passei... roubei –, torna evidente a atmosfera ansiosa, marcada pela descontinuidade e pela urgência que as havia caracterizado.

Retratando-se como alguém que se deslocava de maneira aparentemente errática, como se apenas vislumbrasse, ou melhor, esbarrasse nos lugares que pretendia visitar, Nabuco mostra-se, conseqüentemente, incapaz de esboçar um quadro mais nítido e sistemático das suas impressões de viagem. Assim, ele teria se aproximado perigosamente, naquele período, do chamado "homem das multidões", título de um conto de Edgar Allan Poe (1981, p. 392) e principal personagem de uma experiência que marcou profundamente o espírito de algumas das metrópoles do século XIX, experiência que, interpretada de acordo com as sugestões de Simmel, envolvia uma intensificação da vida emocional em função de uma contínua e rápida mudança de estímulos, e que costuma ser resumida pela expressão "vivência de choque".1 1 A discussão deste ponto é aprofundada no belo trabalho de Waizbort (2000).

Dominado pela inconstância e por aquela curiosidade, digamos, mórbida, anteriormente citadas, Nabuco aos vinte e poucos anos de idade partilhava com o "homem das multidões" inclusive o que poderíamos denominar de atitude blasé, atitude que, ainda citando Simmel:

Consiste [precisamente] no embotamento do poder de discriminar. Isto não significa que os objetos não sejam percebidos, como é o caso dos débeis mentais, mas antes que os significados e valores diferenciais das coisas, e daí as próprias coisas, são experimentados como destituídos de substância. Elas aparecem à pessoa blasé num tom uniformemente plano e fosco; objeto algum merece preferência sobre outro (Idem, p. 16).

Desse modo, tanto Paris, Rouen e o vale do Loire, como – lembremo-nos – a monarquia e a república, eram dispostos exatamente no mesmo plano, tornavam-se objeto de uma atenção fluida e distraída que, definida pela veleidade, não tinha a menor condição de compreender aquilo que a fascinava.

Esta convergência entre o jovem Nabuco e o "homem das multidões", contudo, ainda pode ser explorada de outra maneira, na medida mesmo em que alguns trabalhos recentes têm chamado a atenção para a possibilidade de que este último possa ser entendido como uma espécie de reatualização de um dos mais conhecidos personagens da filosofia e da medicina antigas, o melancólico. Para tanto, como argumenta Agamben (1993, caps. 1 e 2), haveria necessidade de que o reaparecimento da melancolia durante o Renascimento incorporasse a noção medieval de acedia = abatimento ou, de forma mais precisa, inércia do coração, e, com ela, todo o cortejo dos seus 'filhos", como por exemplo a pusillanimitas, a desperatio e em especial, no que toca a esta discussão, a evagatio mentis, que se manifesta por intermédio de figuras como a instabilidade e a curiosidade.2 2 Agamben (1942, p. 5) aproxima de forma explícita o personagem do melancólico da experiência da sociedade de massas em Heidegger, enquanto Deroche-Gurcel (1997, p. 212-241) retoma o mesmo argumento na sua discussão da obra de Simmel.

Como não se trata de tentar resenhar, nos estreitos limites deste trabalho, um debate com este grau de complexidade, talvez valha a pena, simplesmente, recordar que esse vínculo entre abatimento e melancolia implica uma série de supostos e conseqüências que não podem, minimamente, deixar de ser mencionados. Assim, por um lado, é preciso assinalar que o pecado medieval da acídia não deve nunca ser confundido com a sua tradução moderna, que habitualmente o associa à idéia de indolência ou preguiça. E isto poderá ser evitado justamente pela ênfase em categorias como as recém mencionadas instabilidade e curiosidade, que lhe infundem movimento, embora um movimento horizontal, incapaz de redimi-lo, ou seja, de conduzi-lo para o alto, na direção da virtude. Por outro lado, a conexão entre esta acepção da noção de acedia e a idéia de melancolia não deixa de ter repercussões no significado desta última, nem que seja por ampliar e aprofundar uma sugestão já contida no Problema XXX de Aristóteles, um dos textos fundadores da teoria clássica dos humores, qual seja, a de que o melancólico, longe de ser definido apenas pela tristeza ou pelo desinteresse, caracterizava-se também pela inconstância.

Não é por outra razão, aliás, que o Problema XXX irá aproximar a bile negra, o líquido corporal associado à melancolia, ao vinho: ambos, como sugere Jackie Pigeaud (1998, p. 13), teriam condições de fazer com que cada homem experimentasse os mais variados estados de alma, só que em registros cronológicos inteiramente distintos. Dessa maneira, o melancólico, "essencialmente polimorfo" (Idem, ibidem), seria durante toda a vida prisioneiro da instabilidade típica da sua condição, enquanto o bêbado poderia ser definido como uma espécie de "melancólico de bolso", capaz de conhecer de forma concentrada, no intervalo de uma noite, por exemplo, toda a variada e instável gama de sensações produzidas pela bile negra.

Muito bem: avaliada desta perspectiva, acredito que a melancolia possa efetivamente ser utilizada para caracterizar o "homem das multidões", e, por intermédio dele, permitir que se alcance uma melhor compreensão da forma pela qual o Nabuco da maturidade julgava a sua mocidade. Agora, porém, creio que haja necessidade de que se dê um passo adiante, até mesmo porque, se o nosso autor apresenta a sua juventude "sob o signo de Saturno", isso só acontece, como já foi dito antes, porque ele não tem nenhuma dificuldade, nenhuma hesitação em se afastar decisivamente dela, afastamento vinculado ao cultivo de uma serenidade que ele vai encontrar na Inglaterra e, muito particularmente, em Londres. Vejamos, portanto, como ele descreve a sua chegada à capital inglesa no capítulo X de Minha formação, intitulado singela e justamente, "Londres":

Quando pela primeira vez desembarquei em Folkestone, entrando na Inglaterra, eu tinha passado meses em Paris, tinha atravessado a Itália, de Gênova a Nápoles, tinha parado longamente à margem do lago de Genebra, e não me podia esquecer da suave perspectiva, à beira do Tejo, de Oeiras a Belém, cuja tonalidade doce e risonha nunca outro horizonte me repetiu. Por toda a parte eu tinha passado como viajante, demorando-me às vezes o tempo preciso para receber a impressão dos lugares e dos monumentos, o molde íntimo da paisagem e das obras de arte, mas desprendido de tudo, na inconstância contínua da imaginação. Quando avistei porém, da janela do vagão, por uma tarde de verão, o tapete de relva que cobre o chão limpo e as colinas macias de Kent, e no dia seguinte, partindo do pequeno apartment que me tinham guardado perto de Grosvenor Gardens, fui descortinando uma a uma as fileiras de palácios do West End, atravessando os grandes parques, encontrando em St. James' Street, Pall Mall, Piccadilly, a maré cheia da season, essa multidão aristocrática que a pé, a cavalo, em carruagem descoberta, se dirige duas vezes por dia para o rendez-vouz de Hyde-Park, e, dias seguidos, penetrei em outras regiões da cidade sem fim, conhecendo a população, a fisionomia inglesa toda, raça, caráter, costumes, maneiras – posso dizer que senti minha imaginação excedida e vencida. A curiosidade de peregrinar estava satisfeita, trocada em desejo de parar ali para sempre (1999, pp. 84-85).

Lamento o tamanho da citação, mas tenho a impressão de que ela quase que se impõe, pois não apenas como que resume o que foi discutido até este ponto, mas também introduz a segunda parte deste trabalho, contrastando a melancólica inconstância do jovem Nabuco com a tranqüilidade da alma londrina. Isto posto, parece-me que o mais importante agora seria justamente indagar acerca da identidade dessas características peculiares que, conformando a conhecida fleugma dos ingleses, permitiriam ao nosso autor transitar de forma tão súbita para a maturidade.

É preciso notar, para se tentar dar conta dessa questão, que uma das primeiras imagens que Nabuco nos apresenta de Londres é a da capital de um enorme e poderoso império:

Londres foi para mim o que teria sido Roma, se eu vivesse entre o século II e o século IV e um dia, transportado da minha aldeia transalpina ou do fundo da África romana para o alto do Palatino, visse desenrolar-se aos meus pés o mar de ouro e bronze dos telhados das basílicas, circos, teatros, termas e palácios; isto é, para mim, provinciano do século XIX, foi, como Roma para os provincianos do tempo de Adriano ou de Severo: a Cidade. Essa impressão universal, da cidade que campeia acima de todas, senhora do mundo pelo milliarum aureum, o qual no século XIX tinha que ser marítimo; essa impressão soberana, tive-a tão distinta como se a humanidade estivesse ainda toda centralizada (Idem, p. 86).

Cidade universal e soberana, centro da humanidade, Londres vê o seu gigantismo refletido e confirmado nas próprias dimensões da sua arquitetura, que inclui:

[...] a larga faixa do Tãmisa, com as pontes colossais que o atravessam e os monumentos assentados à sua margem desde Chelsea até a Ponte de Londres, principalmente o maciço dos edifícios de Westminster, a extensa linha das casas do Parlamento, a mais grandiosa sombra que a construção civil projeta sobre a terra (Idem, p. 87, grifos meus).

Vale a pena recordar, a esta altura, que a interpretação que a tradição cultural do Ocidente moderno costuma oferecer para fenômenos definidos como gigantescos ou colossais vincula-os, com freqüência, a uma determinada idéia de movimento, um movimento que implica não só destruição e transgressão, mas também, como em Rabelais e E. Burke, fertilidade e fecundidade (cf. Stewart, 1993, cap. 3). Nada de similar, entretanto, pode ser encontrado na Londres de Nabuco, onde o que ele chama de "espírito inglês", "a norma tácita de conduta a que a Inglaterra toda parece obedecer, o centro de inspiração moral que governa todos os seus movimentos" (Nabuco, 1999, p. 104 ), parece destilar uma sensação de ordem que enquadra a monarquia, o império e todas as suas instituições no mesmo "mar de tranqüilidade".

Este espírito confunde-se inteiramente com a tradição, o que importa em que

A veneração imprim[a] aos precedentes uma autoridade quase sagrada, e tir[e], a tudo que tem caráter histórico ou função nacional, a feição individual [...]. A rainha Vitória é mais do que a augusta, cuja imagem cada família venera no seu lararium interior; é a realeza normanda, Plantageneta, Tudor. Como a rainha, a Constituição [...]. Nenhum grande legista a redigiu, nenhum homem de estado a ideou: formou-se espontaneamente, inconscientemente, como a língua inglesa, a arquitetura perpendicular, os cantos da nursery (Nabuco, 1999, p.105).

Assinale-se que o destaque concedido nesta passagem às idéias de ordem e de tradição, domesticando o que poderia haver de descontrolado no gigantismo inglês, está bem distante de estimular qualquer imobilidade ou estagnação. Muito ao contrário, trata-se aqui de enfatizar a importância de uma espécie de transformação permanente, mas uma transformação que opera segundo um roteiro até certo ponto muito bem definido, que se preocupa precisamente em aperfeiçoar, atualizar e portanto fortalecer a herança dos antepassados. Recomenda-se, conseqüentemente, ter certeza de que:

As reformas, as modificações serão governadas por algumas regras elementares. Uma destas será conservar do existente tudo o que não seja obstáculo invencível ao melhoramento indispensável [...] outra, substituir tanto quanto possível provisoriamente, deixando ao tempo a incumbência de experimentar o novo material ou a nova forma, para consagrá-lo ou rejeitá-lo [Assim:] dessas regras resulta o dever de demolir com o mesmo amor e cuidado com que outras épocas edificaram. Nenhum explosivo é legítimo, porque a ação não pode ser de antemão conhecida; é preciso demolir a nível e compasso, retirando pedra por pedra, como foram colocadas (Idem, p.106).3 3 Este aspecto da reflexão de Nabuco é muito bem discutido no texto de Carvalho (2001), em que retoma, em outra direção, argumentos inteligente e cuidadosamente examinados no seu livro sobre André Rebouças (cf. Carvalho, 1998).

Não se deve estranhar, por conseguinte, que essa atmosfera acabe por fazer com que o footing dos habitantes de Londres, mesmo com "bilhões de esterlinos" no bolso, seja feito em "ruas calçadas a madeira, para ainda mais amortecer o ruído" (Idem, p. 87), ou que a "ascendente imperial", da "metrópole" lhe seja dada pela

Sua massa gigantesca, as suas perspectivas infindas, a solidez eterna, egipcíaca, das construções, as imensas praças e os parques que se abrem de repente na embocadura das ruas, à sombra de velhas árvores, à beira de lagos que merecem pertencer ao relevo natural da terra. Este último é para mim, o traço dominante de Londres: o estrangeiro suporia ter entrado no campo, nos subúrbios, quando está no coração da cidade (Idem, pp. 86-87).

Transformada em um cenário bucólico, Londres converte-se em um espécie de Arcádia moderna, na qual a extensão espacial e a profundidade histórica – "solidez eterna, egipcíaca" – aliam-se ao silêncio e à tranqüilidade para compor esta imperturbável ordem que leva Nabuco a abandonar aquela errática caminhada que marcou a sua mocidade. Contudo, esta troca da melancolia pela fleugma, para continuarmos no terreno da teoria clássica dos humores, não chega a esgotar o ponto que está sendo aqui examinado, pois nosso autor insiste em que ele não encontra apenas tradição e serenidade na Inglaterra: "a ordem [,sem dúvida,] é a verdadeira arquitetura social", mas, "para o inglês [...] a liberdade é o grande atributo do homem [..] ele a sente como o desenvolvimento da personalidade" (Idem, p. 105).

Deve-se assinalar, na seqüência deste trecho, que algumas das mais consagradas avaliações acerca da reflexão ocidental sugerem que, desde pelo menos meados do século XVII, ela teria se estabilizado em função de um princípio que opunha as noções de ordem e liberdade, totalidade e fragmentação, como se da afirmação de qualquer sistema cultural mais sólido derivasse, imediata e automaticamente, o enfraquecimento da capacidade de ação individual. Ora, a imagem que Nabuco nos faz desse espírito inglês chama a atenção justamente para o contrário, isto é, para o fato de que, quanto maior for a autoridade da tradição, maior será o estímulo para que cada um possa expandir a sua personalidade.

Avaliada dessa maneira, a Londres descrita em Minha formação parece ser mais uma vez, embora em outra chave, comparável a Roma, pois, quase que em um desdobramento da simetria e do paralelismo entre as duas – anti? – metrópoles já indicado por Nabuco, Simmel (1989) vai assinalar que Roma, em função mesmo daquela sua natureza soberana e universal, termina por promover uma espécie de aprofundamento da individualidade daqueles que com ela entram em contato. Desse modo, em vez de esmagar os seus visitantes com o peso do seu gigantismo histórico e espiritual, Roma iria precisamente liberá-los dos seus constrangimentos cotidianos, das suas preocupações com os assuntos menores e comezinhos, permitindo que cada um, à vista do fundamental, condensado justamente na "Cidade Eterna", ganhasse condições para remodelar e aperfeiçoar a sua subjetividade, tornando-a mais rica e cheia de nuanças.

O universal, conseqüentemente, alia-se com o que há de mais singular: é como se, à frente do sublime, os homens tivessem a oportunidade de desenvolver precisamente aquilo que há de sublime em si mesmos, a sua vontade, o seu livre-arbítrio, ou seja, para lembrar o texto clássico em que Pico della Mirandola (1989), em pleno Renascimento, fixa uma das vertentes da subjetividade moderna, a sua própria dignidade.

A propósito, é exatamente por esta razão, quer dizer, pelo vínculo entre o "espírito inglês" e a sua liberdade interior, que Nabuco, apesar da notória influência que a cultura francesa sempre exerceu sobre ele, afirma de maneira categórica preferir Londres à Paris. Não se trata, diga-se logo, de que nesta última ele corresse o risco de reencontrar, como se fosse aquele "homem das multidões" de Poe, analisado por Benjamin (1989) na esteira de Simmel, aquelas vivências de choque que haviam assolado a sua juventude. Muito ao contrário, o que mais o incomoda é simplesmente o fato de que a vida aqui parece ser estilizada na direção oposta, convertendo-se em uma espécie de obra de arte, perfeita e acabada, rigidamente enquadrada pelas regras de etiqueta, e, por conseguinte, alojada em uma dimensão bem distante de qualquer espontaneidade, de qualquer naturalidade, enfim, de qualquer respeito pela autonomia da vontade e da dignidade humanas.

Não é que Nabuco não saiba que:

Para o artista que precisa inspirar-se exteriormente nas formas da edificação, viver no meio do belo realizado pelo gênio humano, Londres está para Paris como Khorsabad para Atenas [...]. Por aí não há que comparar [...] para o homem de espírito e de salão, Paris é a primeira das residências, porque é a que reúne à arte o prazer de viver em suas formas mais delicadas e elegantes. Não há nada em Londres que corresponda à aspiração francesa, hoje decadente e muito esvaecida, de fazer da vida toda uma arte, aspiração cuja obra-prima foi a polidez do século XVII e o espírito do século XVIII (Nabuco, 1999, p. 88).

Na verdade, contudo, embora "muito esvaecida", esta obsessão francesa em "fazer da vida toda uma obra de arte" dá realmente a impressão de ainda se constituir na maior dificuldade enfrentada por Nabuco, pois ele se demora em nos explicar que:

O que há em Londres, como prazer da vida, não é a arte, é o conforto; não é a regra, a medida, o tom das maneiras, é a liberdade, a individualidade; não é a decoração, é o espaço, a solidez. Paris é um teatro em que todos, de todas as profissões, de todos os países, vivem representando para a multidão de curiosos que os cercam; Londres é um convento, em forma de clube, em que os que se encontram no silêncio da grande biblioteca ou das salas de jantar não dão fé uns dos outros, e cada um se sente indiferente a todos. Em Paris a vida é uma limitação; em Londres uma expansão; em Paris um cativeiro, cativeiro da arte, do espírito, da etiqueta, da sociedade, cativeiro agradável como seja, mas sempre um cativeiro, exigindo uma vigilância constante do ator sobre si mesmo diante do público que repara em tudo, que nota tudo; em Londres é a independência, a naturalidade, a despreocupação. Ceci tuera cela (Idem, p. 89).

Como se vê, o relacionamento de Nabuco com Paris aponta para uma configuração, para um desenho muito diverso, oposto até, daquele que supostamente caracterizava a sua personalidade quando jovem, a qual, como foi discutido anteriormente, importava em um movimento permanente mas horizontal, em uma espécie de curiosidade cega, posto que, querendo tudo ver, não conseguia estabelecer critérios nem definir prioridades que orientassem de forma constante e segura a sua caminhada. Já a avaliação que ele nos fornece da "Capital do Século XIX" transmite, ao contrário, a sensação de implicar a mais absoluta imobilidade, transformando o cenário urbano em uma espécie de vitrine, onde os homens, irremediavelmente metamorfoseados em manequins, seguem uma linha de conduta que lhes foi imposta pelos códigos da etiqueta, do espírito e da polidez. Ambos, porém, parecem tornar os indivíduos cativos de determinações exteriores à sua personalidade, dependentes de experiências que atuam no sentido de diminuir o seu livre-arbítrio, quer por reduzi-los a erráticos expectadores das maravilhas do mundo, quer por fixá-los como meros personagens do teatro de costumes continuamente encenado em Paris.

Acredito, para encerrar, que talvez valha a pena esboçar uma última comparação, comparação que oponha agora os dois pólos mencionados e aproximados acima com à concepção de maturidade sustentada por Nabuco em Minha formação, nem que seja apenas para repisar que, na Inglaterra, ele não só incorpora a tranqüilidade à sua subjetividade, superando a sua melancólica mocidade, como também encontra condições para expandir e enriquecer a sua vida interior. É como se, entre aquela desorientada mobilidade horizontal e a "paralisia" francesa, ele tivesse desenvolvido uma espécie de assertividade individual, e de tal modo, que se tornasse capaz de imprimir ao seu movimento uma direção vertical,4 4 Este contraste entre uma mobilidade horizontal e outra vertical, no contexto do debate acerca da subjetividade renascentista, é sugerido no trabalho de Greene (1968) e desenvolvido no livro de Greenblat (1980). distinguindo com toda a nitidez aquilo que lhe parece certo do que seria errado, incluindo por fim uma orientação ética ao seu juízo, e, portanto, associando aquela sua concepção de maturidade tanto à fleugma como à sabedoria. Como se percebe, não se trata aqui de uma pura, simples e anacrônica retomada da teoria clássica dos humores, pois estamos aparentemente diante de um esforço de traduzi-la e conseqüentemente modificá-la com a incorporação do tema, tipicamente cristão e renascentista, da dignidade humana.

NOTAS

BIBLIOGRAFIA

Artigo recebido em abril/2004

Aprovado em agosto/2004

Ricardo Benzaquen de Araújo, doutor em antropologia social pelo Museu Nacional (MN/UFRJ), é professor da área de sociologia do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) e do Departamento de História da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Publicou Totalitarismo e revolução: o integralismo de Plínio Salgado (Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1988) e Guerra e paz: Casa-grande & senzala e a obra de Gilberto Freyre nos anos 30 (Rio de Janeiro, Editora 34, 1994). E-mail: rbenzaquen@iuperj.br.

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  • 1
    A discussão deste ponto é aprofundada no belo trabalho de Waizbort (2000).
  • 2
    Agamben (1942, p. 5) aproxima de forma explícita o personagem do melancólico da experiência da sociedade de massas em Heidegger, enquanto Deroche-Gurcel (1997, p. 212-241) retoma o mesmo argumento na sua discussão da obra de Simmel.
  • 3
    Este aspecto da reflexão de Nabuco é muito bem discutido no texto de Carvalho (2001), em que retoma, em outra direção, argumentos inteligente e cuidadosamente examinados no seu livro sobre André Rebouças (cf. Carvalho, 1998).
  • 4
    Este contraste entre uma mobilidade horizontal e outra vertical, no contexto do debate acerca da subjetividade renascentista, é sugerido no trabalho de Greene (1968) e desenvolvido no livro de Greenblat (1980).
  • *
    Trabalho apresentado no GT "Pensamento Social no Brasil", XXVII Encontro Anual da Anpocs, Caxambu, MG, 21-24 de outubro de 2003. Vários amigos e colegas estimularam a confecção deste texto. Na impossibilidade de agradecer a todos, não quero deixar de expressar minha gratidão a Maria Alice Rezende de Carvalho e Luiz Werneck Vianna, os quais, por rotas diferentes mas complementares, contribuíram de forma generosa e decisiva para que este trabalho pudesse ser concebido.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      24 Abr 2007
    • Data do Fascículo
      Out 2004

    Histórico

    • Aceito
      Ago 2004
    • Recebido
      Abr 2004
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