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Educação superior: avaliação da produçãocientífica

NOTAS DE LEITURA

Mara Rúbia Alves Marques

Doutora em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba. Professora da Universidade Federal de Uberlândia

PEIXOTO, Maria do Carmo de Lacerda (org.). Educação superior; avaliação da produçãocientífica. Belo Horizonte: Imprensa Universitária/UFMG, 2000, 293p.

A coletânea resulta de amplo projeto interinstitucional de pesquisa, que envolve uma rede acadêmica de pesquisadores filiados ao Grupo de Trabalho Política de Educação Superior, da ANPEd. Trata-se do projeto integrado A produção científica sobre educação superior no Brasil, 1968-1995: avaliação e perspectivas, apoiado do CNPq e que reúne pesquisadores e bolsistas de doze importantes universidades e centros de pesquisa do país. O livro é o segundo produto do projeto que vem a público. O primeiro, A Educação superior em periódicos nacionais, foi organizado por Marília Morosini e Valdemar Sguissardi e publicado pela Editora da UFES, em 1998.

O livro organizado por Maria do Carmo reúne os trabalhos apresentados no seminário "A produção científica sobre educação superior" , realizado na Faculdade de Educação da UFMG, em junho de 1998, com o apoio da FAPEMIG, orientado para a apresentação e análise da gênese e desenvolvimento de algumas temáticas específicas, encontradas na produção científica e inventariada na pesquisa matricial (p. 6), cujos dados foram identificados e registrados em CD-Rom, no banco de dados Universitas/BR (1968-1995).

A primeira parte da coletânea, intitulada "Universidade, políticas e produção do conhecimento", trata da configuração atual e das implicações das políticas públicas para o ensino superior na América Latina, com destaque para Argentina, Brasil, Chile, México e Uruguai. Em "Las políticas publicas de educación superior en America Latina a finales del siglo XX" , Nicólas Bentancur (URU) associa tais políticas à reestruturação administrativa do Estado. Contrapõe dois paradigmas de administração pública: o modelo weberiano tradicional e o novo modelo de gerenciamento público, para analisar o sentido da transferência da racionalidade da gestão estatal para as políticas que regem a universidade. Uma conseqüência identificada por Bentancur - a tensão entre autonomia e heteronomia institucional -, é o tema desenvolvido por Maria de Lourdes de A. Fávero (UFRJ), em "Autonomia universitária: uma conquista, não uma dádiva" , analisadoa partirda história das instituições universitárias brasileiras, afirmando "que a autonomia tem sido negada, com freqüência, por meio de dispositivos legais ou de mecanismos de controle e retenção" (p.39), e politizando o debate atual sobre o ensino superior, já que "a autonomia universitária não é um fim em si mesma, mas condição necessária para a concretização dos fins da universidade" (p. 54).

Considerando que ambos os estudos destacam a questão da universidade e de suas "questões nucleares" como objetos de investigação, destaca-se o texto "La universidad como objeto de estudio en Argentina" , em que Maria Catalina Nosiglia (UBA), por meio do balanço dos objetivos, da organização, dos atores e dos temas de dois encontros ocorridos na Universidade de Buenos Aires, em 1995 e 1997. A autora reflete sobre a necessidade de consolidação de um campo científico que proceda a reflexões sistemáticas sobre as condições institucionais e sistêmicas das práticas universitárias na Argentina, como garantia de defesa da autonomia institucional.

A segunda parte da coletânea, "Tendências da produção científica sobre educação superior" , compõe-se de sete textos que analisam as abordagens recebidas por alguns temas relativos à educação superior em periódicos nacionais. A revista Educação Brasileira (CRUB)foi analisada, no primeiro momento, por Marília C. Morosini e Maria Estela Dal Pai Franco (UFRGS), no texto intitulado "Educação superior e modernidade: o pensamento veiculado na revista Educação Brasileira, com destaque para o tratamento das categorias temáticas "avaliação da educação superior" e "pesquisa" , sob a luz da articulação entre modernidade, internacionalização e universidade (p. 85).No segundo momento, o mesmo periódico foi estudado por Arabela C. Oliven, no texto "Educação superior em revista: sistemas universitáriosinternacionais" , no qual a comparação de sistemas universitários internacionais possibilita evidenciar " a presença de um forte componente ideológico e político-partidário. condicionando os sistemas de educação superior em países da América Latina" (p.214).

A revista Ciência e Cultura (SBPC) foi objeto de dois textos complementares. No primeiro, "Políticas para a educação superior e a SBPC (1968-1995)" , Deise Mancebo (UERJ) procede um estudo histórico das ciências no Brasil, expresso na trajetória de uma de suas principais associações científicas, no sentido de identificar em seu periódico "uma contribuição inestimável para um progressivo amadurecimento do pensamento científico brasileiro e para a crítica da educação superior, espaço por excelência, do desenvolvimento das pesquisas nacionais" (p.132). No segundo texto, "A relação pesquisa e ensino de graduação no contexto da revista Ciência e Cultura" , Stela Cecília D. Segenreich (USU) explora a temática "pesquisa e graduação" para mapear a contribuição do periódico para a articulação ensino/pesquisa na universidade brasileira, bem como para discutir a validade do próprio banco de dados da revista para o desenvolvimento de pesquisas sobre educação superior.

Em "Ênfases e questionamentos sobre a pesquisa em dois periódicos educacionais" , Maria do Carmo L. Peixoto (UFMG) faz uma análise comparativa dos periódicos Em Aberto INEP/MEC)e Fórum Educacional (IESAE/FGV), no sentido de traçar um paralelo entre o contexto da educação brasileira e a produção científica sobre a categoria temática "pesquisa" , de 1968 a 1995. Por seu turno, Maria das Graças M. Tavares (UFAL), em "A temática da universidade e sociedade na revista Educação & Sociedade: questionamentos e proposições" , considera a produção científica dessa revista do CEDES/UNICAMP, que emergiu na transição para os anos 80, no âmbito de uma "universidade emergente" e particularmente de uma nova abordagem de extensão universitária.

O Cadernos ANDES é analisado por Vera Lúcia J. Chaves, Luciene G. M. Medeiros e Helena C. Vasconcelos (UFP), no texto "Cadernos Andes: a produção científica dos militantes do movimento docente das universidade brasileiras" , a partir da perspectiva histórica que permite identificar as categorias recorrentes no tratamento da questão da educação superior no Brasil.

Na terceira parte da coletânea, "Outros olhares sobre a produção científica em educação superior" , são analisadas as tendências teóricas e/ou político-culturais presentes em dissertações e teses, bem como a forma como a relação trabalho/educação está configurada nas pesquisas sobre educação superior. No primeiro caso, Afrânio M. Catani e Ana Laura G. Lima (USP), em "Teses e dissertações sobre educação superior no Brasil, 1968-1995: uma análise a partir de bases de dados e catálogos" , apresentam as fontes de consulta utilizadas na sistematização das teses e dissertações e o processo de elaboração do banco de dados específico, destacando as características gerais identificadas na interseção dos materiais pesquisados, num "esforço [...] de descrever, agrupar e sistematizar todo esse conjunto complexo de informações" (p.234), a ser agregado ao projeto integrado de pesquisa. No segundo caso, Valdemar Sguissardi(UNIMEP), em "A temática trabalho-educação: presença-ausência e desafio nos estudos sobre educação superior no Brasil" ,após histórico do relacionamento da universidade com o mundo do trabalho, um de seus pilares como instituição moderna, situa a produção científica presente nas sessões do GT Política da Educação Superior, nas reuniões anuais da ANPEd realizadas de 1991 a 1997, bem como nas teses e dissertações, no período 1991 a 1996, a partir dos sumários publicados nos catálogos da própria ANPEd. Objetivou analisar como, e em que grau, os pesquisadores da educação superior estão sendo desafiados pela interface entre educação e trabalho, tanto conceitualmente como no âmbito das relações com o mundo da produção.

O lançamento da coletânea organizada por Maria do Carmo Peixoto é, sem dúvida, de grande relevância para os educadores/pesquisadores interessados na temática da educação superior. Não somente por contribuir para a compreensão da história da educação no Brasil, nas três últimas décadas, mas, também por constituir-se em referência teórico-metodológica para o desenvolvimento de novos projetos de pesquisas cuja natureza envolva história, memória e cultura, a partir da análise de produções científicas institucionalmente relevantes.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Dez 2012
  • Data do Fascículo
    Dez 2001
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