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EDITORIAL

EDITORIAL

O primeiro destaque a ser feito neste número é a publicação, no primeiro bloco, de quatro artigos sobre educação especial. Em meados de 2005, ao prepararmos a coletânea Educação como exercício da diversidade, publicada pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD) do Ministério da Educação com o apoio da UNESCO, composta por artigos de números anteriores da Revista, praticamente todos esgotados, nos demos conta que só havia um único texto sobre essa temática, publicado em 1998. Isto posto, resolvemos fazer uma concentração de artigos relativos à educação especial em um dos números de 2006. Tínhamos quatro textos em processo de análise e, após uma chamada feita durante a 28ª Reunião Anual, recebemos mais 22 textos. Para a seleção dos mesmos, foi montada uma minicomissão composta por quatro especialistas da área: Maura Corcini Lopes (UNISINOS), Júlio Romero (UNIMEP), Lodenir Becker Karnopp (UFRGS/ ULBRA) e Ida Mara Freire (UFSC).

Na indicação dos artigos a serem inseridos na Revista, foram adotados os seguintes critérios: privilegiar os textos mais gerais sobre política e gestão dessa subárea; valorizar os textos baseados em pesquisa; publicar apenas um texto de cada estado, desde que não comprometesse a qualidade do conjunto. Após a seleção, o resultado foi o seguinte: quatro artigos aprovados com prioridade 1; sete aprovados com prioridade 2; quinze com pareceres negativos. Como a intenção não era fazer um número especial sobre o tema, inclusive porque já tínhamos outros textos aprovados para este número, os quatro artigos aprovados com prioridade 1 compuseram o conjunto desejado. Por sua vez, por meio de acordo intermediado por Timothy Ireland e após concordância dos autores, os aprovados com prioridade 2 foram cedidos para uma coletânea a ser publicada pelo MEC/SECAD/UNESCO, que ainda será enriquecida com outros artigos. Antes da apresentação dos artigos inseridos neste número, vale um agradecimento especial aos colegas que nos assessoraram nesse trabalho.

O primeiro artigo, de Enicéia Gonçalves Mendes, "A radicalização do debate sobre inclusão escolar no Brasil", dirige-se a aspectos das políticas públicas em educação especial e inclusiva, recuperando a história recente da área no Brasil e as influências internacionais presentes nas reformas educacionais dos últimos anos. Aponta os problemas do acesso e da qualidade do ensino no atendimento de alunos com deficiência, questionando a linha de ação adotada pelo Ministério da Educação para promover a inclusão desses alunos.

Em segundo lugar, o artigo de Maria Helena Michels, "Gestão, formação docente e inclusão: eixos da reforma educacional brasileira que atribuem contornos à organização escolar", analisa esses temas na legislação e em outros documentos políticos, apontando os limites que os determinantes das reformas colocam para a construção de uma escola inclusiva.

Luciene M. da Silva, em "O estranhamento causado pela deficiência: preconceito e experiência", apoiando-se em autores da teoria crítica (Adorno e Horkheimer), discute a função do preconceito, como um mecanismo de negação social dirigido às pessoas com deficiência. Esse caráter de negação recusa a autodeterminação dessas pessoas, reduzindo suas possibilidades e visibilidade. Desse ponto de vista, mesmo as práticas educacionais ditas inclusivas não superaram o caráter assistencialista e a precariedade de participação dos sujeitos.

Por sua vez, Madalena Klein desenvolve o texto "Novos textos e novos atores na formação profissional para surdos: rupturas ou permanências?" apoiada em categorias de análise de inspiração foucaultiana, sobre as tecnologias para a normalização de sujeitos e instituições, desenvolve a análise documental de dois conjuntos de programas desenvolvidos no Brasil no final do século XIX e na década de 1990. Ao examinar as ações recomendadas e relatadas, mostra elementos comuns aos diferentes tempos/espaços e ressalta as marcas específicas dos novos tempos de flexibilidade e competitividade.

Os demais artigos compõem um mosaico de temas atuais na educação brasileira. Cecília Goulart, em "Letramento e modos de ser letrado", discute a base teórico-metodológica de seus estudos; Mairce da Silva Araújo e Carmen Lúcia Vidal Pérez, em "Um jogo de luz e de sombras", revelam lógicas de ação no cotidiano escolar; Wagner Rodrigues Silva aborda a exclusão escolar, subvertendo-a pela mediação de atividades de produção textual; Mauricio Rodrigues de Souza retoma a rica perspectiva da "educação antropológica", comparando as idéias de Bronislaw Malinowski e Paulo Freire; já no texto "Crianças e televisão", Rosália Duarte, Camila Leite e Rita Migliora revelam o que crianças pensam sobre e aprendem com a tevê; Marília Gouvea de Miranda e Anita C. Azevedo Resende retomam a nunca esgotada discussão sobre a pesquisa- ação no campo educacional, revelando as armadilhas do praticismo; Jane Paiva, analisando práticas atuais da educação de jovens e adultos, examina as concepções e os sentidos que garantem o direito à educação a esses jovens e adultos. Finalmente, Lílan do Valle, valendo-se sobretudo das contribuições de Castoriadis, analisa a importante e sempre atual relação dos movimentos instituintes com o processo de construção da democracia.

Como de hábito, este número completa-se com resenhas que apresentam aos leitores livros sobre educação e educadores recém-lançados por editoras brasileiras.

Osmar Fávero

Editor-chefe

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Jan 2007
  • Data do Fascículo
    Dez 2006
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