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Effects of short-term isokinetic training with reciprocal knee extensors agonist and antagonist muscle actions: A controlled and randomized trial

Resumos

CONTEXTUALIZAÇÃO:

Estudos demonstraram que a pré-ativação de músculos antagonistas pode aumentar o desempenho neuromuscular agonista. Além disso, estudos sugerem que programas de exercício resistido (ER) de curta duração podem ser úteis para aumentar a força muscular e o desempenho.

OBJETIVOS:

Avaliar os efeitos de três sessões de ER por meio do método de ações recíprocas no desempenho muscular de homens sadios e comparar com um grupo de ER tradicional.

MÉTODO:

Trinta e três homens (21,1 ± 2,3 anos) foram randomicamente alocados em três grupos: Recíproco (REC: uma repetição de flexão do joelho imediatamente seguida por uma de extensão do joelho); Tradicional (TRA: exercício concêntrico de extensão do joelho) e Controle (CON: não realizaram exercício). O REC e o TRA realizaram quatro séries de dez repetições a 60º.s-1 com um minuto entre séries. As avaliações pré e pós-ER foram caracterizadas por duas séries de quatro repetições máximas a 60º.s-1 e 180º.s-1. Utilizou-se ANOVA 3x2, com post-hoc de Tukey para verificar diferenças no pico de torque (PT), taxa de desenvolvimento de aceleração (TDA) e tempo para atingir o PT (TEMPtorque).

RESULTADOS:

Houve um aumento do PT para o REC e o TRA (p<0.05) a 60º.s-1 e apenas para o REC a 180º.s-1 (p<0,05). Houve diminuição da TDA para o REC e o TRA (p<0,05) e, apenas no REC, o TEMPtorque apresentou quedas significantes. A análise intergrupos mostrou que o REC foi mais efetivo que o TRA para os ganhos de PT em ambas as velocidades (p<0,05).

CONCLUSÃO:

Sugere-se que a modalidade recíproca seja vantajosa para a prática de profissionais envolvidos no processo de reabilitação neuromuscular.

força muscular; reabilitação; joelho; treinamento resistido


BACKGROUND:

Previous studies have shown that preloading an antagonist muscle may increase the acute agonist neuromuscular performance. In addition, studies have suggested that very short-term resistance exercise (RE) programs may also be useful to increase strength and muscular performance.

OBJECTIVES:

To evaluate the effects of three days of RE using a reciprocal action method on the muscular performance of healthy men and to compare these effects with those of a traditional RE group.

METHOD:

Thirty-three men (21.1 ± 2.3 years) were randomly assigned to one of three groups: 1) reciprocal (REC; knee flexion immediately followed by a knee extension exercise); 2) traditional (TRA; non-preload; a concentric knee extension exercise); and 3) control (CON; no exercise). The REC and TRA subjects performed four sets of 10 repetitions at 60º/s with one minute of rest. The pre- and post-RE tests included two sets of four maximal concentric repetitions at 60º/s and 180º/s. A 3x2 ANOVA with Tukey post-hoc was used to analyze the differences in peak torque (PT), rating of acceleration development (RAD) and time to peak torque (TIMEtorque).

RESULTS:

A significant PT increase was found for REC and TRA (p<0.05) at 60º/s and for REC at 180º/s (p<0.05). There was a decrease in the RAD for REC and TRA (p<0.05), and TIMEtorque showed a significant decrease for REC. The inter-group analysis revealed that REC is more effective than TRA for PT gains at both velocities (p<0.05).

CONCLUSION:

It is recommended that REC offers benefits for the clinical practice of professionals involved in neuromuscular rehabilitation.

muscle strength; rehabilitation; knee; resistance training


Introdução

Os ganhos de força muscular provenientes dos programas de exercício resistido (ER) são responsáveis por melhorar a velocidade e coordenação do movimento1,2, além de promover equilíbrio e funcionalidade 3 . Esses achados ressaltam a importância da aplicação do ER no contexto da saúde humana, sendo recomendado atualmente como parte dos programas de atividades física de adultos 4 , idosos 4 e cardiopatas4,5. Tradicionalmente, oito semanas de treinamento é o período necessário para que sejam observadas melhoras significativas na força e no desempenho muscular 6 , apesar de serem observados ganhos antes desse período 7 . Diversos estudos têm focado nos ganhos de força advindos do ER com curta duração, os quais variam de duas ou três sessões até duas semanas de duração 8-11 . Prevost et al. 8 encontraram um aumento no pico de torque (PT) com o treinamento de curta duração similar àqueles alcançados após um período de 6-10 semanas de treinamento. Surge então a perspectiva de associar a eficácia dos resultados proporcionados pelo ER a um menor número de sessões, sendo essa uma meta idealizada tanto para a melhora do desempenho atlético quanto para a reabilitação da função osteomioarticular. Tal fato pode representar um diferencial na disposição de indivíduos submetidos ao processo de reabilitação ou treinamento, principalmente se as metas traçadas inicialmente forem alcançadas em um número reduzido de visitas 11 .

Sabe-se que o ER realizado no dinamômetro isocinético apresenta vantagens importantes que podem ser úteis em diversas esferas do processo de avaliação e reabilitação. Na ação realizada no dinamômetro isocinético, a força exercida pelo sujeito é proporcionalmente devolvida em resistência pelo equipamento. Assim, o desempenho muscular máximo é exigido em toda a amplitude de movimento (ADM). Diferentemente, nas ações isoinerciais, a tensão máxima ocorre somente no ponto mecânico mais favorável da ADM 12 . Além disso, a análise da função muscular em diversas condições e as medidas com alta confiabilidade 13-15 fazem do dinamômetro isocinético uma ferramenta válida e amplamente utilizada na fisioterapia e na prática esportiva 16 .

A utilização de contrações musculares recíprocas entre antagonistas e agonistas é um dos métodos de ER que tem despertado cada vez mais interesse para a reabilitação,e consiste em realizar uma ação muscular concêntrica antagonista imediatamente antes de uma ação concêntrica agonista em cada repetição do exercício 17-22 . Estudos transversais demonstraram uma maior capacidade de trabalho advinda do uso do método de ações recíprocas18,20,23,24.

A comprovação dos ganhos de força e desempenho neuromuscular nas fases iniciais do ER, somada aos achados do método de ações recíprocas, pode auxiliar a prescrição do exercício por parte dos profissionais envolvidos na reabilitação e no desempenho físico6,11,16,25. Desse modo, o objetivo do presente estudo foi avaliar os efeitos de um programa de ER com curta duração (três sessões), utilizando-se o método de contração recíproca nas respostas neuromusculares de homens sadios jovens e comparar com um programa de ER de curta duração tradicional. Levanta-se a hipótese de que um programa de ER de curta duração realizado por meio de ações recíprocas seja mais eficiente para os ganhos de força e desempenho muscular que o treinamento de curta duração tradicional realizado somente por ações agonistas.

Método

Amostra

Trinta e três homens jovens, estudantes universitários, fisicamente ativos, mas que não praticavam ER há pelo menos seis meses foram recrutados. Os dados demográficos dos participantes são apresentados na Tabela 1. Os voluntários foram recrutados por meio de panfletos fixados em locais de grande visibilidade do campus universitário e do convite verbal realizado nas salas de aula. Foram adotados os seguintes critérios de inclusão no estudo: não possuir qualquer tipo de comprometimento cardiorrespiratório; não possuir qualquer tipo de lesão osteomioarticular; não possuir qualquer tipo de doença metabólica e não ter participado de qualquer tipo de programa de ER nos últimos seis meses precedentes ao início do experimento. Os participantes que atenderam os critérios responderam a um questionário sobre seu histórico de saúde. Em seguida, foram convidados a participar e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, informando sobre os objetivos e procedimentos dos métodos empregados no estudo, de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), devidamente aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Saúde, Universidade de Brasília (UnB), Brasília, DF, Brasil, protocolo n. 161/2008.

Tabela 1
Características demográficas dos participantes. Os dados são apresentados como média ± desvio-padrão.

Todos os procedimentos foram realizados no laboratório institucional climatizado no período compreendido entre os meses de fevereiro e maio de 2011. Os sujeitos selecionados para participar do presente estudo deram entrada sequencial e foram alocados aleatoriamente em três grupos: grupo controle (CON), grupo de exercício recíproco (REC) e grupo tradicional (TRA). Utilizou-se um envelope opaco lacrado contendo vários cartões com os nomes das intervenções (utilizaram-se os nomes Controle, Recíproco e Tradicional), tendo assim garantido o sigilo da alocação dos participantes. O procedimento foi realizado por um pesquisador que não sabia dos objetivos e propósitos do estudo. A análise estatística preliminar demonstrou haver um perfil antropométrico similar entre os participantes dos grupos experimentais (p> 0,05). Um desenho esquemático do estudo está apresentado na Figura 1.

Figura 1
Desenho experimental.

Dinamometria isocinética

O torque e o desempenho neuromuscular dos extensores do joelho foram obtidos no dinamômetro isocinético modelo Biodex System III (Biodex Medical, Inc., Shirley, NY). Os procedimentos de calibração e posicionamento seguiram as especificações do fabricante. Foi avaliado o membro inferior direito, uma vez que estudo prévio 26 não verificou diferença nas variáveis isocinéticas entre o membro inferior dominante e o membro não dominante em indivíduos não treinados. Durante os testes, os voluntários foram posicionados sentados na cadeira do equipamento de modo que o eixo de rotação do dinamômetro ficasse alinhado com o epicôndilo lateral do fêmur. O braço da alavanca foi ajustado e fixado 5 cm acima do calcâneo. Os ajustes da cadeira e do dinamômetro para cada indivíduo foram anotados para assegurar que o posicionamento fosse o mesmo entre os diferentes dias. Os indivíduos foram estabilizados no equipamento por meio de faixas nas coxas, pélvis e tronco para prevenir movimentos indesejados. A correção da gravidade foi obtida medindo-se o torque exercido pelo braço de resistência e a perna do sujeito (relaxada) na posição de extensão terminal. Na realização do teste, solicitou-se aos voluntários que mantivessem seus braços cruzados na altura do tórax 27 . Além disso, foi dado encorajamento verbal e feedback visual pelo monitor do computador do dinamômetro na tentativa de se alcançar o nível de esforço máximo. Os procedimentos foram realizados pelo mesmo investigador para todos os sujeitos.

Procedimentos de avaliação

Previamente à coleta dos dados, os sujeitos foram instruídos a não ingerir nenhum alimento ou bebida estimulante e a não realizar nenhum exercício extenuante durante o período do experimento. Após a leitura e compreensão dos procedimentos da pesquisa, todos os voluntários assistiram a um vídeo referente aos procedimentos dos testes e exercícios. Logo após, todos foram submetidos a um processo de familiarização 28 (Figura 1).

Os testes para avaliação do PT pré e pós-programa de ER foram caracterizados por duas séries de quatro repetições máximas de contração isocinética concêntrica de extensão do joelho nas velocidades de 60º.s-1 e 180º.s-1, com um intervalo de um minuto entre as séries e dois minutos entre cada velocidade 28 . A avaliação da taxa de desenvolvimento de aceleração (TDA) e do tempo para se atingir o PT (TEMPtorque) foi realizada somente na menor velocidade (60º.s-1). Utilizou-se uma ADM de flexoextensão de 80º (excursão entre 10º e 90º, considerando 0º a extensão completa do joelho). Todos as avaliações foram precedidas por uma série de aquecimento que consistiu em quatro repetições submáximas a 120º.s-1.

Treinamento isocinético

Os sujeitos que compuseram o grupo recíproco (REC, n=11) foram submetidos a um protocolo de três sessões de treinamento isocinético concêntrico recíproco de flexores e extensores do joelho. Os sujeitos do grupo tradicional (TRA, n=11) foram submetidos a um protocolo de três sessões de treinamento isocinético concêntrico dos extensores do joelho. Os sujeitos do grupo controle (CON, n=11) foram submetidos às avaliações somente no período pré e pós-treinamento.

Cada sessão do treinamento foi separada por um intervalo de 72 horas e foi composta por quatro séries de dez repetições isocinéticas concêntricas a 60º.s-1 com um minuto de intervalo entre as séries. O número de séries e repetições seguiu as recomendações do Colégio Americano de Medicina do Esporte para ganho de força muscular 4 , e a velocidade de 60º.s-1 foi selecionada por ser frequentemente utilizada em ações isocinéticas de jovens sadios 29 .

Processamento dos sinais

O processamento dos dados isocinéticos foi realizado por meio de uma rotina do MatLab(r) (version 7.8 release 2009a, MathWorksInc, USA). No presente estudo, analisou-se apenas a repetição com maior PT. Os valores da TDA foram calculados com base na inclinação da curva velocidade x tempo, durante a fase inicial da contração isocinética concêntrica. Assim, a TDA representa o tempo gasto até se atingir a fase isocinética (fase na qual a velocidade de 60º.s-1 era atingida). A curva torque × tempo foi utilizada para o cálculo do TEMPtorque, definido como o tempo em segundos necessário para se atingir o maior valor de torque. Considerando que não houve diferença significante nas características antropométricas dos participantes do estudo, nenhum procedimento de normalização dos dados foi realizado 30 .

Análise dos dados

O cálculo da amostra foi realizado a partir do software G*Power (version 3.1.2; University of Trier, Trier, Germany), considerando o erro tipo um (α=0,05) e um erro tipo dois (β=0,20) de maneira a detectar efeito moderado (f2>0,5). Os cálculos indicaram uma amostra de 33 sujeitos.

Os dados são apresentados em relação à média ± desvio-padrão, tendo-se verificado a normalidade dos dados por meio do teste de Kolmogorov-Smirnov. As variáveis independentes são: grupos (REC, TRA e CON) e momentos (pré e pós-treinamento). As variáveis dependentes foram: TDA, PT e TEMPtorque. Utilizou-se a Análise de Variância (ANOVA) de modelos mistos 3 × 2 (protocolos × momentos) com o teste post-hoc de Tukey. O teste de esfericidade de Mauchly's W foi aplicado e, sempre que refutado, as análises basearam-se na correção de Greenhouse-Geisser. A significância adotada foi de 5% (p<0,05), e o programa utilizado foi o SPSS (Statistical Package for Social Sciences), versão 17.0.

Resultados

Um total de 33 sujeitos elegíveis participaram do estudo. No entanto, após a aleatorização, três sujeitos alocados no grupo CON faltaram à sessão de teste pós-treinamento, e um sujeito do grupo REC faltou à última sessão de treinamento. Todos os 29 sujeitos remanescentes receberam as intervenções as quais lhes foram originalmente atribuídas e foram incluídos nas análises subsequentes (Figura 2).

Figura 2
Fluxograma do estudo.

Os valores do PT mensurados nos momentos pré e pós-treinamento (três sessões) de ER estão ilustrados na Tabela 2. Não foram encontradas diferenças significativas (p<0,05) entre os grupos no momento pré-teste. No entanto, foram encontrados ganhos significativos no PT após o treinamento para os grupos REC e TRA (p<0,05) a 60º.s-1 e apenas para o grupo REC na velocidade de 180º.s-1 (p<0,001). Em ambas as velocidades avaliadas, a comparação entre os grupos demonstrou que os maiores ganhos no PT foram no grupo REC. Após o treinamento, o grupo REC demonstrou aumentos de 6,14% a 60º.s-1 e 9,56% a 180º.s-1, os quais foram significativamente (p<0,05) superiores aos ganhos apresentados pelo grupo TRA (4,47% para 60º.s-1 e 0,58% para 180º.s-1).

Tabela 2
Valores do pico de torque (PT) durante contração isocinética dos extensores do joelho obtidos nos momentos pré e pós-programa de ER, para os grupos recíproco (REC), tradicional (TRA) e controle (CON), nas velocidades de 60º.s-1 e 180º.s-1. Os valores estão apresentados em média ± desvio-padrão.

O comportamento da TDA nos momentos pré e pós-programa de ER estão ilustrados na Tabela 3. Houve diferença significante na TDA para os grupos REC e TRA (p=0,02) após as três sessões de ER, no sentido da diminuição da TDA. Por outro lado, o grupo CON apresentou um aumento da TDA no pós-teste. Na análise intergrupos, foi possível verificar que, comparados ao grupo CON, houve uma diminuição na TDA, a qual foi similar entre os grupos de treinamento (p<0,05).

Tabela 3
Taxa de desenvolvimento de aceleração (TDA) e tempo de duração para o pico de torque (TEMPtorque) dos extensores do joelho a 60º.s-1 nos momentos pré e pós-programa de exercício resistido. (valores apresentados em média ± desvio-padrão).

Os valores do TEMPtorque estão apresentados na Tabela 3. Foi possível observar que apenas o grupo REC atingiu o PT significativamente mais rápido (p=0,008), com uma diminuição no TEMPtorque de 21,8% após três sessões de ER. A análise intergrupos demonstrou que essa diminuição no TEMPtorque no momento pós é significativa quando comparada ao grupo CON (p=0,009); por outro lado, nesse mesmo momento, os grupos TRA e CON não apresentaram diferenças (p>0,05).

Discussão

O objetivo do presente estudo foi avaliar os efeitos de um programa de ER com curta duração (três sessões) utilizando-se o método de contrações recíprocas nas respostas neuromusculares de homens sadios jovens e comparar com um programa de ER de curta duração tradicional. Os resultados do estudo suportam parcialmente a hipótese proposta, uma vez que o grupo REC apresentou os maiores ganhos de força, especialmente na maior velocidade (180º.s-1) de teste. Salienta-se que ambos os grupos (REC e TRA) foram efetivos em melhorar a força e o desempenho muscular (TDA e TEMPtorque) na menor velocidade de teste (60º.s-1).

No presente estudo, três sessões de ER mostraram ganhos significantes na geração de força extensora, corroborando os estudos prévios8,10,11,16. Os grupos REC e TRA apresentaram ganhos significativos de 6% e 4% no PT a 60º.s-1 respectivamente. Além disso, o REC também apresentou uma transferência para a velocidade mais alta (180º.s-1), caracterizada pelo ganho de aproximadamente 9% na força extensora.

Coburn et al. 11 adotaram três sessões de ER com um protocolo idêntico ao TRA e com mesmo volume (quatro séries de dez repetições), no entanto, em velocidades diferentes (30º.s-1 e 270º.s-1). Os autores demonstraram que o grupo treinado a 30º.s-1 obteve ganhos de força tanto na velocidade de treinamento quanto na velocidade de 270º.s-1 (respectivamente, 24% e 11%), contrariando os nossos achados referentes ao grupo TRA, o qual não obteve ganhos na velocidade mais alta. Ainda no estudo de Coburn et al. 11 , o grupo treinado a 270º.s-1 aumentou a força em 40% apenas nessa velocidade. Os aumentos no PT relatados por Coburn et al. 11 demonstram uma discrepância que pode ter ocorrido devido às velocidades de treino adotadas (30º.s-1 e 270º.s-1), quando comparadas com a do presente estudo (60º.s-1). Além disso, os autores adotaram um intervalo de dois minutos entre as séries, o que pode ter determinado uma recuperação dos músculos extensores do joelho e favorecido os maiores índices de PT 31 , em comparação com o nosso estudo, que adotou um minuto de descanso.

Prevost et al. 8 também verificaram efeitos com duas sessões de ER isocinético na força muscular, em que os indivíduos treinaram nas velocidades de 30º.s-1 e 270º.s-1, em um protocolo de extensão do joelho caracterizado por três séries de dez repetições. Entretanto, demonstrou-se um ganho de 22% no PT na velocidade alta apenas para o grupo que treinou nessa velocidade. A magnitude dos ganhos apresentados por Prevost et al. 8 e Coburn et al. 11 divergem dos resultados do presente estudo, na medida em que o controle da fase de aceleração do movimento pode ter sido negligenciado pelos autores 10 . Segundo Brown e Whitehurst 10 , a falha no controle da fase de aceleração pode ser responsável por divergências na produção de força. No presente estudo, controlou-se esse parâmetro e verificou-se sua responsividade ao curto período de treinamento. Além disso, diferente do presente estudo, Prevost et al. 8 e Coburn et al. 11 não realizaram o procedimento de familiarização antes de iniciarem o treinamento. Outro aspecto que deve ser considerado é o fato de Prevost et al. 8 não terem relatado o tempo de descanso entre séries, o que também dificulta a compreensão das diferenças no ganho de força.

Os achados relativos ao tempo necessário para se atingir o PT demonstraram que sujeitos submetidos ao ER na modalidade recíproca conseguem atingir o PT 22% mais rápido após três sessões. De acordo com Widrick et al. 32 , as adaptações ao ER são complexas, pois envolvem mecanismos neurais e periféricos, além do fato de que a função muscular pode ser otimizada por meio do aumento da capacidade contrátil das fibras musculares (TEMPtorque). Ao que parece, a característica de "pré-alongamento" dos músculos extensores do joelho atribuída à flexão prévia em cada repetição na modalidade de ações recíprocas pode ter sido responsável pelos maiores ganhos de força e menores TEMPtorque 33 . Entre esses mecanismos, pode-se citar o armazenamento e reaproveitamento da energia elástica e a potenciação dos elementos contráteis do músculo. Os achados na velocidade de 180º.s-1 reforçam essa interpretação, considerando que apenas o grupo REC apresentou ganhos significantes do PT após o programa de ER.

Em relação à TDA, foram encontrados ganhos significantes tanto para o grupo REC quanto para o TRA. Brown e Whitehurst 10 demonstraram que um treinamento de duas sessões de ER a 60º.s-1 e 240º.s-1, composto por um volume de três séries com oito repetições, gerou incrementos na taxa de aceleração dos membros inferiores. Apesar do estudo de Brown e Whitehurst 10 não ter verificado ganhos de força, destacam que a TDA é uma variável funcional importante, assim como o TEMPtorque. Entretanto, em comparação ao TEMPtorque, a TDA tem o diferencial de representar apenas a capacidade de gerar velocidade e aceleração e pode indicar mudanças qualitativas como o aumento do recrutamento de motoneurônios e aumento da frequência de disparo 34 . Nesse sentido, Cormie et al. 35 demonstram que a relação força-velocidade musculoesquelética representa uma importante propriedade ao determinar a capacidade de produção de potência durante a contração muscular. Um dos fatores que determinam essa capacidade é a velocidade de encurtamento das fibras musculares que, por sua vez, pode ser potencializada pelo aumento da ativação neural. Os achados do presente estudo sugerem, portanto, que as adaptações neurais advindas de três sessões de ER geraram efeitos na TDA, mas que independem da ordem do exercício de músculos agonistas e antagonistas.

Uma limitação do presente estudo foi o uso somente da velocidade de 60º.s-1 nas análises da TDA e TEMPtorque. É possível que a análise de exercícios com alta velocidade tragam mais informações a respeito do desempenho neuromuscular. Outra limitação deve-se ao fato de as análises terem focado apenas a repetição com maior PT. Talvez a análise de outras variáveis, como o trabalho total ou o comportamento da força ao longo de toda a sessão de ER, proporcione maior representatividade acerca do desempenho humano.

O treinamento realizado a 60º.s-1 demonstrou que os ganhos podem ser transferidos para velocidades mais altas (180º.s-1), como demonstrado na modalidade REC. Esse aspecto pode representar um importante achado, no sentido de que ganhos de força associados a velocidades mais altas estejam relacionados com incrementos da capacidade funcional do ser humano 36 . Desse modo, é possível supor que o ER na modalidade recíproca possa gerar benefícios para a funcionalidade, tais como a melhora na agilidade, no equilíbrio e nas atividades de vida diária que demandem a ação de membros inferiores. Além disso, os resultados indicam que ganhos no desempenho muscular podem ser alcançados mesmo em curtos períodos de treinamento e que as contrações recíprocas trazem vantagens adicionais ao desempenho neuromuscular. Sugere-se que futuros estudos verifiquem os efeitos dessa modalidade de ER no desempenho de testes funcionais difundidos na prática clínica. Além disso, o estudo dos benefícios advindos do treinamento com ações excêntricas na modalidade recíproca seriam interessantes, considerando a importância da ação excêntrica dos flexores e extensores do joelho durante a execução de atividades diárias, como o sentar e descer escadas.

Conclusão

Ambos os métodos de treinamento foram efetivos em melhorar a força e o desempenho muscular na velocidade treinada (60º.s-1). Além disso, a modalidade recíproca foi responsável pelos maiores ganhos de força em velocidade mais alta de ação muscular (180º.s-1). Os resultados sugerem que a modalidade recíproca seja vantajosa para a prática de profissionais envolvidos com a reabilitação e com a prática esportiva. Novos estudos experimentais utilizando medidas de ativação e coativação muscular seriam importantes para melhor entender os benefícios dos exercícios de ações recíprocas na melhoria das respostas neuromusculares.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Abr 2013

Histórico

  • Recebido
    22 Maio 2012
  • Revisado
    19 Set 2012
  • Aceito
    19 Nov 2012
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