Acessibilidade / Reportar erro

Avaliação do polimorfismo de grupos sanguíneos e fenótipo de hemoglobinas em um grupo de universitários de São José do Rio Preto, SP

Evaluation of the blood groups and hemoglobin phenotypes in a group of university students of São José do Rio Preto, SP, Brazil

Resumo

The studies of the phenotypes of the blood groups are important for blood transfusions, for obstetrics, neonatology and law medicine, apart from its application in anthropology where it can be used as genetic markers in population studies. Works with hemoglobin polymor-phisms as a genetic marker of populations has been increased over the last few years, particularly for different population groups of Brazil. In the investigation the hemoglobin polymorphisms of 200 university students from São José do Rio Preto, Brazil were studied to establish a possible relation between the different phenotypes. Statistical analysis of the phenotypes showed that the differences observed were not significant, without a relationship among the polymorphisms of blood groups and hemoglobins.


CARTA AO EDITOR / LETTER TO EDITOR

Avaliação do polimorfismo de grupos sanguíneos e fenótipo de hemoglobinas em um grupo de universitários de São José do Rio Preto, SP

Evaluation of the blood groups and hemoglobin phenotypes in a group of university students of São José do Rio Preto, SP, Brazil

Renata T. AlvesI; Luiz C. de MattosII; Fernando FerrariIII; Claudia R. Bonini-DomingosIV

IBióloga, IBILCE - UNESP

IIHemocentro de São José do Rio Preto, SP

IIIDepartamento de Computação e Estatística, IBILCE - UNESP

IVLHGDH - IBILCE - UNESP

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Claudia Regina Bonini-Domingos LHGDH - IBILCE - UNESP Rua Cristóvão Colombo, 2.265 - Jardim Nazareth 60436-160 - São José do Rio Preto-SP E-mail: bonini@bio.ibilce.unesp.br

ABSTRACT

The studies of the phenotypes of the blood groups are important for blood transfusions, for obstetrics, neonatology and law medicine, apart from its application in anthropology where it can be used as genetic markers in population studies. Works with hemoglobin polymor-phisms as a genetic marker of populations has been increased over the last few years, particularly for different population groups of Brazil. In the investigation the hemoglobin polymorphisms of 200 university students from São José do Rio Preto, Brazil were studied to establish a possible relation between the different phenotypes. Statistical analysis of the phenotypes showed that the differences observed were not significant, without a relationship among the polymorphisms of blood groups and hemoglobins.

Senhor Editor

Os sistemas de grupos sangüíneos humanos caracterizam-se pela expressão de antígenos proteicos e carboidratos na membrana eritrocitária, os quais são identificados por anti-soros específicos.1 Os grupos sangüíneos tem importância prática nas transfusões, na obstetrícia, na neonatologia e na medicina legal.2

Outra importante área de aplicação dos grupos sangüíneos é a antropologia a qual pode se valer dos antígenos eritrocitários como marcadores genéticos em estudos populacionais, de famílias e em análises de ligações devido à classificação imediata dos fenótipo distintos, seu modo de herança e suas freqüências variadas em diferentes populações.3

Na espécie humana foram encontrados vinte e sete sistemas independentes de grupos sangüíneos bem definidos, cada um constituído por aloantígenos que são codificados por um ou mais loci gênicos ligados ou não. Alguns aloantígenos são encontrados em praticamente todos os indivíduos sendo, por isso, denominados públicos enquanto outros, devido sua raridade, são designados privados.2 Dentre os aloantígenos públicos destacam-se aqueles dos grupos sangüíneos ABO, Rh, Lewis, Duffy e Kidd.

Os grupos sangüíneos podem estar associados a determinadas doenças. Para o sistema ABO estabeleceu-se uma relação entre os três alelos responsáveis pela manutenção do polimorfismo deste sistema e a suscetibilidade a certas doenças, como, por exemplo, um grande número de indivíduos do grupo A entre os doentes com câncer gástrico, tumores malignos e benignos de glândulas salivares, e uma correlação deste grupo sanguíneo com o diabetes melito e anemia perniciosa.4,5 Alguns estudos correlacionam ainda fenótipos de grupos sangüíneos e diferentes hemoglobinas variantes em grupos raciais específicos.6

Neste estudo avaliou-se a relação entre os polimorfismos dos grupos sanguíneos ABO, Rh, MNSs, Lewis, Kidd, Duffy, Kell e o perfil de hemoglobinas em estudantes universitários de São José do Rio Preto - SP. A cauística constou de amostras de sangue periférico coletado com anticoagulante (EDTA 5%) após consentimento informado, de 200 estudantes universitários provenientes da região de são José do Rio Preto, SP. Os métodos utilizados para triagem de hemoglobinas anormais foram separados em seletivos e específicos sendo: Resistência Osmótica em solução de Cloreto de Sódio a 0,36%;7 Eletroforese em pH alcalino em acetato de celulose8 e Análise da morfologia eritrocitária9 os testes seletivos.

As amostras que apresentaram alterações nestes testes foram submetidas aos testes especificos para caracterização de hemoglobinas como: Pesquisa de Corpos de Heinz e Agregados de Hemoglobina H;10 Eletroforese de Diferenciação em Ágar Fosfato, pH 6,2 (CELM);11 Eletroforese Quantitativa em Acetato de Celulose, pH 8,5 (CELM);8 Dosagem de Hemoglobina Fetal;12 Cromatografia Líquida de Alta Pressão com Sistema VARIANT de HPLC da BIO-RAD e kit de análise para beta talassemia heterozigota, seguindo os protocolos estabelecidos pelo fabricante.

Para a determinação dos grupos sanguíneos foram utilizadas reações padronizadas de hemaglutinação em tubo, utilizando anti-soros (Diamed) para os sistemas ABO e Rh e para os sistemas MNSs, Lewis, Duffy, Kidd e Kell o sistema em gel (Diamed).13

No período de 11 de agosto à 13 de dezembro de 2000 foram analisadas 200 amostras de sangue de alunos do IBILCE-UNESP e FAMERP de São José do Rio Preto - SP, onde 128 indivíduos eram do sexo feminino e 72 do sexo masculino, com idade variando entre 18 e 36 anos; 187 indivíduos apresentavam características caucasóides e 13 não caucasóides, descendentes de japoneses.

Na avaliação de hemoglobinas anormais foram encontrados 25 indivíduos portadores de alfa talassemia; 04 indivíduos com beta talassemia heterozigota e 02 indivíduos portadores de hemoglobinas AS. As hemoglobinas anormais foram caracterizadas pelo conjunto de procedimentos eletroforéticos, citológicos e cromatográficos descritos anteriormente.

As análises para o sistema ABO de grupos sangüíneos mostrou 78 indivíduos pertencentes ao grupo sanguíneo A; 15 indivíduos do grupo sanguíneo B; 05 indivíduos do grupo sanguíneo AB e 102 indivíduos pertencentes ao grupo sanguíneo O.

Em relação ao sistema Rh foram encontrou-se 180 indivíduos Rh positivo e 20 indivíduos Rh negativo. Para o grupo sanguíneo Duffy encontrou-se 55 indivíduos portadores do fenótipo Fy(a+b-); 72 Fy(a-b+); dois indivíduos Fy(a-b-) e 72 indivíduos portadores do fenótipo Fy(a+b+).

Em relação ao grupo sanguíneo Kidd encontrou-se 51 indivíduos que apresentavam o fenótipo Jk(a+b-); 46 Jk(a-b+); nenhum Jk(a-b-) e 99 indivíduos Jk(a+b+).

Do grupo sanguíneo Lewis, foram encontrados 41 indivíduos com o fenótipo Le(a+b-); 131 Le(a-b+); 30 Le(a-b-) e nenhum indivíduo portador do fenótipo Le(a+b+).

O sistema sanguíneo MNSs apresentou 12 indivíduos portadores do fenótipo MMSS; 40 MMSs; 35 MMss; 08 MNSS; 29 MNSs; 36 MNss; 04 NNSS; 10 NNSs e 25 indivíduos portadores do fenótipo NNss. Encontrou-se, em relação ao grupo sanguíneo Kell, 200 indivíduos portadores do fenótipo k+ (cellano); 200 Kp(a-b+) e nenhum indivíduo portador dos fenótipos Kp(a+b-); Kp(a-b-) e Kp(a+b+).

A tabela 1 relaciona as freqüências fenotípicas absolutas obtidas para os sistemas sangüíneos analisados com os fenótipos de hemoglobinas observados. As talassemias do tipo alfa foram as formas de hemoglobinas anormais mais freqüentes, corroborando dados anteriores para esta região,9 e o perfil de grupos sangüíneos mostrou concordância com estudos prévios na população de São José do Rio Preto.5

Na avaliação estatística observou-se para todos os cruzamentos entre grupos sangüíneos e hemoglobinas anormais, que as diferenças foram estatisticamente não significativas, concluindo-se que não há associabilidade entre os polimorfismos de grupos sangüíneos avaliados e perfil de hemoglobinas, no grupo populacional analisado.

Agradecimentos:

Bio-Oxford e Bio-Rad pelos kits de análises de hemoglobinas e DIAMED pelos kits de análises de grupos sangüíneos.

Recebido: 11/11/2002

Aceito: 05/02/2003

  • 1. Daniels, G. Human Blood Groups. 1995 Cambridge Ed. England
  • 2. Race, R. R.,& Sanger, R. Blood Groups in man. 1975, 6th ed., Blackwell Scientific Publications, Oxford
  • 3. Thompson, M. W., Mcinnes, R. R., Willard, H. F. Thompson & Thompson genética médica. Trad. M. M. Vasconcelos. 1993,5.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.
  • 4. Lima, C. P. Genética humana. 1996, 3.ed. Harbra , São Paulo.
  • 5. Mattos L.C. Correlações dos fenótipos ABO. Lewis, secretor e polimorfismo molecular do locus ABO em pacientes infectados e não-infectados pelo Helicobacter pylori 2000, Tese de doutorado em Genética , IBILCE-UNESP
  • 6. Merghoub, T., Sanchez-Mazas, A., Tamouza, R., Lucy, Bouzid, K., Ardjoun, F. Z., Labie, D., Lapoumeroulie, C. Elion, J. Hemoglobin D - Outled Rabah among the mozabites: a relevant variant trace the origin of Berber- speaking populations. Eur. J. Hum. Genet., 1997,5(6): 390-396.
  • 7. Silvestroni, E & Bianco, I. Screening for microcytemia in Italy: analysis of data collected in the past 30 years. Am. J. Human Genet., 1975,27:198.
  • 8. Marengo-Rowe, A. J. Rapid electrophoresis and quantiation of hemoglobin on cellulose acetate. J. Clin. Pathol., 1965,18:790-792.
  • 9. Bonini-Domingos, C. R. Prevenção das hemoglobinopatias no Brasil: diversidade genética e metodologia laboratorial. São José do Rio Preto, 1993. Tese de Doutorado em Ciências Biológicas-Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista.
  • 10. Papayannopoulos, R., Stamatayannopoulos, G. Stains for Inclusion Bodies. In: Standartization of laboratory reagents and methods for detection of haemoglobinopathies. 1974, Hew Plubications, Atlanta.
  • 11. Vella, F. Acid agar electrophoresis of human hemoglobin. Am. J. Clin. Pathol., 1968,49:440.
  • 12. Betke, K., Marti, N.R., Schlicht, I. Estimation of small percentages of phoetal hemoglobin. Nature, 1959,184 :1877.
  • 13. Walker, R. H. Technical manual. 1990, 10.ed. American Association of Blood Banks, Arlington.
  • Endereço para correspondência

    Claudia Regina Bonini-Domingos
    LHGDH - IBILCE - UNESP
    Rua Cristóvão Colombo, 2.265 - Jardim Nazareth
    60436-160 - São José do Rio Preto-SP
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      26 Nov 2003
    • Data do Fascículo
      Mar 2003

    Histórico

    • Aceito
      05 Fev 2003
    • Recebido
      11 Nov 2002
    Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia e Terapia Celular R. Dr. Diogo de Faria, 775 cj 114, 04037-002 São Paulo/SP/Brasil, Tel. (55 11) 2369-7767/2338-6764 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: secretaria@rbhh.org