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Educação médica continuada, um agradável problema

O diploma de médico hoje confere ao formando apenas uma licença para continuar estudando e se aperfeiçoando, pois é impossível nos seis anos de curso apresentar aos estudan-tes a vasta quantidade de matérias que compõe as diversas especialidades médicas.

Essa complementação é feita de diversas formas e por diversas instituições. Inicialmente temos a residência, que, na nossa especialidade, está bem estruturada e controlada, porém é de acesso a um número cada vez mais insuficiente de formandos em medicina. Depois dessa fase o aperfeiçoamento do médico é proposto por diversas instituições.

A diversidade e a importância dessas instituições é o que nos preocupa.

O médico brasileiro prefere a atualização em aulas e exposições àquela feita pela leitura. Os congressos, pela reunião e pela agilidade da informação, atingem mais dire-tamente o médico brasileiro, que trabalha muito e tem boas opções de lazer, propiciadas pelo nosso clima, agradável na maioria do país. Sobram poucas horas para a leitura.

A universidade, que tem como premissa ensinar e con-tinuar ensinando, é ainda a principal fonte de cursos de aperfeiçoamento, proporcionados de maneira formal nos cur-sos de pós-graduação ou de maneira informal nos cursos de extensão. O aspecto limitado da informação vinda da universi-dade é a dificuldade representada pela formalidade excessiva.

As sociedades médicas oferecem cursos e congressos aces-síveis e em diversos locais nos quais a educação médica continuada é a tônica principal.

Esses cursos são, na sua maioria, uma das poucas opor-tunidades de um médico se aprimorar. Portanto, devem ser organizados com a máxima seriedade, pois o que for dito será considerado como lei por vários dos participantes por um longo tempo.

Não raramente observamos convites a professores que atendem a aspectos políticos, que expõem esses convidados à apresentação de temas sem qualquer experiência ou vivên-cia no assunto, por serem eles indivíduos de importância política, segundo qualquer ótica que a importância política possa ter.

Os colegas que atingiram o nível de ter importância polí-tica são, em geral, grandes especialistas que se destacaram na sua área de atuação. Podem atuar como coordenadores ou mesmo como auxiliares na organização do temário do curso ou congresso, mas não como conferencistas de temas para os quais haja novos estudiosos. O concurso dos mais experien-tes pode ocorrer de várias maneiras, não necessariamente na exposição de temas. Torna-se necessário criar uma hierarquia de participação nos cursos, que irá gerar importância e res-peito para todos os níveis de atuação. Observamos esse fato nos congressos internacionais, quando vemos jovens exposi-tores e experientes comentadores.

Atualmente, os grandes hospitais têm centros de ensino e pesquisa, pois entenderam que a pesquisa e o ensino médico são uma importante diferença para as instituições. Esses hos-pitais têm se dedicado a programar cursos de atualização e aperfeiçoamento, que têm como viés importante o prestígio excessivo concedido aos médicos do corpo clínico. Pertencer ao corpo clínico de um hospital não significa poder ensinar, pois os critérios de inclusão são baseados em princípios diferentes.

Uma novidade da área da educação médica continuada tem sido as empresas de venda de material cirúrgico, que até hoje tornaram possível todo um programa de congressos e cursos por meio de seus patrocínios. Atualmente, sentindo que a educação médica continuada é um grande atrativo para médicos, estão começando a programar cursos e programas de atualização com material próprio.

A essas empresas devemos um agradecimento, pois sem a sua participação nunca teríamos evoluído nos nossos cur-sos e congressos, além de terem tornado possível o acesso a materiais cirúrgicos atuais. Mas temos de estar atentos a seus cursos, para evitar distorções com tendências exclusivamente mercadológicas. Como exercer essa atenção? Participando de seus cursos e impondo o padrão ético que elas sempre tiveram no relacionamento com os médicos quando patrocinam a organização de congressos.

As revistas e agora o acesso à internet para a pesquisa bibli-ográfica são uma fonte cada vez mais ampla de atualização, que talvez devessem também se modernizar e oferecer resumos bem estruturados além dos textos completos, aca-demicamente necessários, que facilitariam a consulta. Um problema que atinge as revistas é a demora na publicação dos trabalhos, que às vezes torna um assunto atualíssimo algo ultrapassado. Hoje a RBO já permite o acesso aos tra-balhos aprovados para a publicação antes de saírem na versão impressa. Eles são publicados no ScienceDirect -http://www.sciencedirect.com/science/journal/aip/01023616. Com essa ferramenta nossos autores têm seus trabalhos disponíveis logo após a aprovação pelo corpo editorial e nossos leitores acesso aos assuntos em muito menos tempo.

A quantidade de programas de educação médica talvez exija um melhor controle da SBOT, que classificaria os cursos com valores, como se faz com a qualificação de hotéis ou hos-pitais. Essa pontuação poderia servir para o médico provar seu grau de atualização, quando fosse necessário.

Ter várias fontes de educação médica continuada é um agradável problema para administrarmos, mas que precisa ter uma atenção especial.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Oct 2014
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