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Sistema de cotas na RBO

A atualização é uma preocupação constante na edição de uma revista científica, mesmo que essa atualização não seja na área específica da edição. Analisando o momento social e acadêmico, não podemos desqualificar o sistema de cotas para a universidade como algo atual.

A ideia é facilitar o acesso às melhores universidades públicas a indivíduos que por fatores considerados socialmente excludentes, como raça e cor, teriam maior dificuldade a esse acesso. É difícil compreender por que a raça ou a cor desqualificam pessoas, pois hoje o homem mais poderoso do mundo é de uma raça considerada excluída; outro aspecto difícil de compreender é por que esse acesso seria mais difícil a esses indivíduos, pois até onde sabemos não há nenhum desnível intelectual entre esse grupo e o resto dos alunos que buscam vagas nas universidades de ponta.

Para dar continuidade ao nosso propósito, vamos aceitar esse raciocínio, que se origina de um partido político que hoje tem o domínio absoluto do poder no país.

Vamos tentar introduzir o sistema de cotas na RBO!!!

Os nossos critérios não podem ser por raça e cor, pois nem temos acesso a esses níveis de identificação dos nossos autores, pois isso não afeta em nada a qualidade do trabalho científico.

Talvez nível socioeconômico. Como o nível socioeconômico poderia interferir na produção de um trabalho científico? Como teríamos acesso ao nível socioeconômico dos autores? E dos coautores?

Não, esse critério é impossível de ser validado, pois não temos capacidade de identificá-lo e muito menos de julgá-lo, e esse item não afeta em nada a qualidade do trabalho científico.

Talvez a distribuição geográfica. Será que o fato de um autor produzir um trabalho no Norte do país torna o trabalho melhor ou pior do que aquele produzido no Sul?

Não, esse critério não se aplica, pois há serviços de ortopedia no Norte mais bem estruturados do que serviços do Sul do país, e vice-versa, portanto esse critério não afetará em nada a qualidade do trabalho.

A única forma de introduzirmos o sistema de cotas da RBO é aceitando trabalhos de menor qualidade, pois esse é o único critério que nos interessa.

Qual percentual que aceitaríamos, 20, 30 ou 50%, como se propõe para as universidades?

Se aceitarmos 50%, teríamos metade da revista de qualidade inferior, estaríamos jogando fora um longo trabalho para melhoria da qualidade e desestimularíamos a produção de trabalhos de boa qualidade.

Se aceitarmos 20 ou 30%, teríamos um quinto ou um terço da revista de pior qualidade. O nosso índice de rejeição atual é de 20%.

Inicialmente teria de pedir aos nossos editores e consultores certo grau de tolerância para esses trabalhos. Não sei como faria, pois os métodos usados para convencer pessoas a apoiar as suas ideias, que o partido que criou o sistema usou, acabaram dando cadeia para alguns dos convencedores. Como editor não preciso me preocupar, pois os responsáveis pelas ideias do partido em questão, no que se refere a convencer pessoas, nem foram citados no processo que levou os convencedores à cadeia.

Como iriamos informar os nossos leitores?

No sistema de cotas da universidade será fácil de identificar, pois os indivíduos terão o estigma da raça ou da cor, o que por sinal é uma enorme injustiça, pois indivíduos que não usaram o benefício do sistema de cotas e entraram nas universidades pela sua capacidade em uma disputa de igual para igual serão rotulados como beneficiados.

Precisamos identificar os trabalhos de má qualidade, senão seremos injustos com os autores dos trabalhos de boa qualidade. Identificaremos talvez com um subtítulo - Trabalho de qualidade inferior; ou com uma impressão diferente. Será que esses trabalhos assim identificados serão lidos ou citados?

Se não forem lidos ou citados, os autores não se estimularão a produzir mais e encerrarão a sua produção científica nesse trabalho publicado como de má qualidade; ou evitarão ter esse tipo de título que poderá desqualificar trabalhos futuros.

Os autores que tiverem de fazer correções em seus trabalhos de boa qualidade para conseguir a publicação se sentirão injustiçados ao vê-los na mesma revista em que estão trabalhos de qualidade inferior.

Talvez fazer uma edição só de trabalhos de qualidade inferior! Essa não deve ser uma boa ideia, pois senão teriam feito nas universidades cursos só para cotistas.

É difícil não usar o único critério de julgamento - a qualidade do trabalho, ou usá-lo parcialmente para estruturar uma revista científica. A criação de critérios paralelos, sejam geográficos, econômicos ou sociais, não é adequada quando se julga qualidade.

Acho melhor desistir da ideia de termos cotas na RBO. Nesse quesito vamos permanecer desatualizados, mas com qualidade.

Gilberto Luis CamanhoEditor-chefe, Revista Brasileira de Ortopedia

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Abr 2013
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