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Desenvolvimento humano e saúde no Brasil

EDITORIAL EDITORIAL

Desenvolvimento humano e saúde no Brasil

Malaquias Batista Filho; Josimere Borba

Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira. Rua dos Coelhos, 300. Boa Vista. Recife, PE, Brasil. CEP: 50.070-550. E-mail: mbatista@imip.org.br

É muito gratificante a constatação de que uma nova perspectiva está sendo progressivamente consolidada no Brasil e no mundo, em termos de descrição e sobretudo de análise dos problemas coletivos: a ótica do desenvolvimento humano. Assim, vai sendo superado o primado da economia política, que privilegiava o crescimento da riqueza como o critério dominante e até exclusivista de avaliar o progresso de um país, de tal forma que o produto interno bruto (PIB) e seus índices secundários, como a renda "per capita" retratariam, por si mesmo, a medida do desenvolvimento de um país, região e comunidade. Assim, se a economia vai bem em princípio tudo caminha bem, como se tratasse de uma forma de energia interconversível em outras formas de rendimentos: sociais, políticos, culturais e até éticos.

Historicamente, nunca o mundo cresceu tanto. No entanto, como efeito colateral de um processo intrínseco de exclusão, nunca o mundo foi tão desigual. As distâncias econômicas entre países, regiões geográficas, blocos geopolíticos, estratos sociais, etnias, gêneros e assim por diante se acentuaram, produzindo separações, assimetrias, enclaves, de tal forma que a crença apriorística de que o progresso econômico deveria se expandir horizontalmente como uma matéria semiliquida, ocupando e nivelando todos os espaços de desigualdades, se revelou como uma falácia conceitual e pragmática.

Ainda bem que a crença unilateral na magia econômica arrefeceu, impondose agora a doutrina de que o desenvolvimento tem várias medidas que, mesmo distintas como indicadores específicos, se integram como processos conjugados e interdependentes. A economia, a cultura, a política, as estruturas e funções sociais, o território e seus recursos, a ecologia, a ética, a coparticipação, a subjetividade e a sustentabilidade como uma condição comum a todos os outros atributos atuam como corequisitos do desenvolvimento humano.

A história econômica e social do Brasil no último século vale como um exemplo mais que pedagógico, paradigmático mesmo, dos aspectos alternativos desta abordagem. Vivendo diferentes ciclos de sua economia extrativista, agrária e industrial, o país tornouse um marcante paradoxo ao alcançar um produto interno bruto ranquiado entre as sete maiores economias do mundo e, ao mesmo tempo, fazer parte dos países mais desiguais de todo o planeta, ao lado de Botswana, África do Sul, Serra Leoa e outras nações estigmatizadas pela geografia da exclusão do progresso e do bem estar. Em tempo: progresso econômico sem bem estar coletivo é uma falácia. E foi sob seu signo que o Brasil e muitos países periféricos viveram dois séculos, espelhandose na "Riqueza das Nações" de Adam Smith, cultivando a imagem fugidia de cenários que sempre se desfaziam, como a miragem de água na travessia dos desertos.

Felizmente o desenvolvimento humano vem sendo consagrado como um referencial de diretrizes para o enfrentamento dos problemas atuais. E sob as perspectivas deste referencial é animador constatar as grandes mudanças que demarcam o itinerário do processo saúde/doença no Brasil, em comunhão com os avanços da economia e com os progressos da educação, compondo, numa imagem simplificada, a tríade do desenvolvimento humano. Os resultados recentemente divulgados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) deixam a convicção de que o país está alcançado avanços impressionantes. Assim saímos da condição desfavorável de um índice de desenvolvimento humano (IDH) muito baixo (0,493) em 1991 para o status de alto grau de desenvolvimento humano, com o valor de 0,727 alcançado em 2010. Neste particular, o indicador de longevidade, que retrata a expectativa de uma vida longa como proxi de boa saúde, atingiu o grau de "desenvolvimento muito alto", chegando ao índice de 0,816. É uma revelação muito importante, já que um dos contrastes que mais deformavam a imagem do Brasil era, justamente o paradoxo de uma economia tendendo para o Primeiro Mundo com uma saúde estacionada em patamares da África Austral ou da Ásia Meridional.

O capítulo de educação ainda representa o item mais atrasado do IDH no Brasil. Mas, em termos relativos, foi o requesito que mais avançou, deslocandose de um valor inicial de 0,279 para a contagem atualizada de 0.637, o que representa uma evolução de 128%. Em resumo: para o período avaliado de 20 anos, a economia, que já era o setor mais avançado, cresceu 14%, a longevidade, como indicador de saúde, elevouse em 23%, enquanto que a educação, o setor mais atrasado, aumentou 128%. São ritmos bem diferentes, partindo de bases também diferentes, mas combinandose, afinal, num valor unificado que confere ao Brasil um lugar privilegiado em direção à meta de desenvolvimento humano. Ademais, a disparidade Norte/Sul, que configura a imagem alegórica de dois países distintos (a Índia e a Bélgica), compondo um país de contrates aberrantes, atenuouse de forma surpreendente. Este panorama otimista fica mais ilustrado com a observação de que, há vinte anos, a grande maioria dos municípios brasileiros (85%) se encontrava na categoria de baixo índice de desenvolvimento humano, o que hoje acontece com apenas 0,57%, ou seja, 32 das 5.565 cidades estudadas pelo PNUD.

Como conclusão, nada melhor do que resumir as declarações do representante do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Jorge Chediek: "O Brasil tem mostrado um progresso extraordinário em termos de saúde, educação e distribuição de renda. Isso mostra que é possível em pouco tempo, mudar as condições de um país".

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Out 2013
  • Data do Fascículo
    Set 2013
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